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1 SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL 1 Sumário INTRODUÇÃO ......................................................................................... 4 SISTEMA FINANCEIRO .......................................................................... 5 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS INSTRUMENTOS NORMATIVOS DO SFN .................................................................................................................... 5 ESCASSEZ – PROBLEMAS FUNDAMENTAIS ECONÔMICOS ............ 7 RENDA, INVESTIMENTO E POUPANÇA ............................................... 8 PRODUTO INTERNO E PRODUTO NACIONAL .................................. 10 CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO ..................... 11 CONCEITOS E FUNÇÕES DA MOEDA ................................................ 12 SISTEMA FINANCEIRO ........................................................................ 14 CONHECENDO O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL ...................... 15 SUBSISTEMA NORMATIVO ................................................................. 17 CONSELHO MONETÁRIO NACIONAL (CMN) ..................................... 17 BANCO CENTRAL DO BRASIL (BC OU BACEN) ................................ 18 COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS (CVM) ................................ 18 O SISTEMA MONETÁRIO NO BRASIL ................................................. 19 OBJETIVOS FUNDAMENTAIS DA CVM ............................................... 19 SUPERINTENDÊNCIA DE SEGUROS PRIVADOS (SUSEP) .............. 19 SECRETARIA DE PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR (SPC) ............... 20 BANCO DO BRASIL (BB) ...................................................................... 21 BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL (BNDES)........................................................................................................... 21 CAIXA ECONÔMICA FEDERAL (CEF) ................................................. 21 SUBSISTEMA OPERATIVO OU INTERMEDIAÇÃO FINANCEIRA ...... 22 SISTEMA FINANCEIRO: FATORES FAVORÁVEIS À EFICIÊNCIA ALOCATIVA ..................................................................................................... 25 2 FUNÇÕES DO SISTEMA FINANCEIRO ............................................... 29 DESENVOLVIMENTO FINANCEIRO E CRESCIMENTO ECONÔMICO: EVIDÊNCIAS EMPÍRICAS ............................................................................... 32 EVOLUÇÃO RECENTE DO SETOR BANCÁRIO ................................. 35 REFERÊNCIAS ..................................................................................... 51 3 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 4 INTRODUÇÃO Em finanças, denomina-se Sistema Financeiro um grupo de instituições que se dedicam ao trabalho de favorecer condições satisfatórias para a manutenção de um fluxo de recursos entre poupadores e investidores. Você está iniciando o estudo da disciplina Sistema Financeiro, dentro do curso de Administração, voltada para explicar as estruturas e operações do mercado financeiro. Para entendê-las, é importante rever alguns assuntos econômicos considerados fundamentais para a compreensão do estudo proposto. Esta primeira aula irá introduzir o conteúdo básico de economia com repercussões sobre os mercados financeiros. Para sua melhor compreensão, o seu conteúdo foi organizado em sete tópicos. O primeiro abordará o problema da escassez dos fatores de produção que nos remete ao estudo dos problemas fundamentais econômicos; ao ler você entenderá o “porquê” desta relação. No tópico dois, o estudo discorrerá para a compreensão e análise da curva de possibilidade de produção. Após, será apresentado o estudo do ponto de equilíbrio de mercado e sua relação com a formação do preço de um produto. Em seguida, serão abarcados os tipos de renda, os conceitos de investimento e poupança e as relações existentes entre esses itens. Nos tópicos cinco e seis serão apresentadas algumas variáveis macroeconômicas – PIB, PIL, PNB e PNL – e suas influências na avaliação do crescimento e do desenvolvimento econômico. E por fim, o tópico sete apresentará os conceitos e as funções da moeda. Assim, concluiremos a primeira aula que tem como meta abordar os fundamentos econômicos, assunto essencial para um melhor entendimento das funções e funcionamento do sistema financeiro. 5 SISTEMA FINANCEIRO Um sistema é um conjunto de elementos organizados. Esses elementos podem ser concretos – como coisas, pessoas e empresas – ou abstratos – como conceitos, regras e princípios. Dentro de um sistema, esses elementos se organizam a parar de determinada estrutura, a um de cumprir uma função específica. Por isso, para entender o funcionamento do sistema financeiro brasileiro, é necessário compreender quais funções ele exerce na sociedade brasileira, além de por meio de qual estrutura e quais elementos isso é feito. Dentre as principais funções do SFN, destacam-se duas: (i) a prestação de serviços de gerenciamento de recursos e (ii) a intermediação financeira. A função de prestação de serviços de gerenciamento de recursos comporta uma série de facilidades que estão à disposição dos cidadãos e do governo graças à atuação das entidades que compõem o SFN. Dessas facilidades, podemos destacar: A existência de um sistema de pagamentos para transferência de recursos e arrecadação de tributos. O serviço de custódia (guarda) de valores, bens e títulos. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS INSTRUMENTOS NORMATIVOS DO SFN Em 1964, com o advento da Lei 4.595, a qual dispõe sobre o Sistema Financeiro Nacional - SFN, foi criado o Conselho Monetário Nacional – CMN e o Banco Central do Brasil – BACEN. Esta mesma normativa prevê as normas operacionais e rotinas de funcionamento das entidades que fazem parte desse sistema. Até então, os responsáveis pela gestão da política monetária, de crédito e finanças públicas era o Ministério da Fazenda, Banco do Brasil – BB e a Superintendência da Moeda e do Crédito – SUMOC. Em 1965, foi publicada a Lei 4.728, a qual disciplina sobre o Mercado de Capitais. Segundo Assaf Neto (2001, p. 111), Mercado de Capitais [...] é o grande municiador de recursos 6 permanentes para a economia, em virtude da ligação que efetua entre os que têm capacidade de poupança, ou seja, os investidores, e aqueles carentes de recursos de longo prazo, ou seja, apresentam 10 déficits de investimento. Em 1976, foi criada a Comissão de Valores Mobiliários - CVM, por meio da Lei 6.385, com a finalidade de transferir do BACEN a responsabilidade de regulamentar e fiscalizar as atividades relacionadas ao mercado de valores mobiliários (ações, debêntures, entre outros). Neste mesmo ano, foi editada a Lei 6.404/76,que dispõe sobre as Sociedades Anônimas, com a finalidade de criar procedimentos para constituição das mesmas, como também a composição acionária, demonstrações financeiras, obrigações societárias, direitos e obrigações acionárias, enfim, melhorar, substancialmente, a legislação inerente às sociedades anônimas brasileiras, especialmente quanto à composição acionária. Em 2001, ocorreu alteração da Lei 6.404/76 por meio do instrumento legal denominado Lei 10.303. Aconteceu um melhoramento para os acionistas minoritários, causando maior segurança para o mercado financeiro, uma vez que os critérios, até então, não correspondiam aos padrões internacionais. Em 2007, ocorreu alteração substancial, com a publicação da Lei 11.638/2007 que teve por finalidade adequar aos padrões internacionais. E em seguida foi publicada a Lei 11.941/2009, com o mesmo objetivo, ou seja, adequar aos padrões internacionais. Para finalizar o histórico das principais leis que envolvem as instituições do SFN, foram demonstrados apenas os principais instrumentos legais que servem de base elementar para conhecimento do Sistema Financeiro Nacional. A nossa pretensão não é esgotar o assunto e sim subsidiar o estudo, por meio dos principais elementos normativos. Assim, não poderíamos deixar de mencionar, resumidamente, a Resolução do CMN n. 3.040/02, que dispõe sobre requisitos e procedimentos para constituição, autorização para funcionamento, transferência de controle societário e reorganização societária. 7 ESCASSEZ – PROBLEMAS FUNDAMENTAIS ECONÔMICOS É por meio do conhecimento fundamental econômico que se cria uma percepção crítica do funcionamento do sistema financeiro, o que facilita o entendimento de diversas questões que envolvem investimentos, avaliação, riscos, retorno, entre outros itens. A economia estuda como o indivíduo e a sociedade devem empregar recursos produtivos limitados na produção de bens e serviços, de modo a distribuí-los entre os vários grupos da sociedade, para atender às necessidades humanas, que são ilimitadas. Toda sociedade econômica apresenta os chamados problemas econômicos fundamentais que são determinados pela lei da escassez. Eles são: o quê e quanto produzir, como produzir e para quem produzir. Em função da escassez dos FATORES D E PRODUÇÃO, a sociedade deverá decidir os produtos que serão produzidos e definir as respectivas quantidades. A sociedade deverá escolher os recursos que serão empregados para a produção. Os produtores escolherão métodos eficientes ao menor custo possível. A sociedade terá de definir como os seus membros participarão da distribuição de bens produzidos. Neste momento, você pode estar se perguntando por que escolher com tanto cuidado o quê, quanto, como e para quem produzir. A necessidade da escolha se deve pela limitação de recursos. Caso a natureza oferecesse recursos em abundância e se a economia pudesse distribuir de forma ilimitada seus bens produzidos, os problemas fundamentais descritos não existiriam, as necessidades humanas estariam atendidas e não fariam qualquer diferença em relação à curva de oferta de qualquer produto; haveria eficiência na produção e distribuição dos bens e serviços aos vários indivíduos. Entretanto, os padrões de vida são regulados pelos chamados bens econômicos, que apresentam algum nível de escassez e valor na economia. Por meio desses bens, os indivíduos e a sociedade decidem sobre os produtos a serem consumidos. Quanto mais dinheiro se consome em vestuário, menos se gasta com moradia. Quanto mais os governos aplicam em estradas, menos recursos restarão para a saúde e a educação. Quanto mais o indivíduo e a sociedade consumirem hoje, menores serão suas capacidades de poupar, produzir e gerar riqueza. Logo, toda sociedade econômica deve decidir também 8 como os recursos devem ser alocados para a produção. Ou seja, ao optar pela produção de um determinado bem, há a renúncia natural pela produção de outro, o que caracteriza a LEI DA SUBSTITUIÇÃO. RENDA, INVESTIMENTO E POUPANÇA A renda é representada pelo somatório de todas as remunerações de um agente que participa do processo produtivo de uma determinada economia. Apresenta-se sob diversos tipos: renda interna, renda nacional, renda líquida do exterior e renda pessoal. A renda interna corresponde ao produto interno da economia. Representa o total das rendas geradas no interior do país a partir de salários, juros, aluguéis, lucros e outras remunerações que são auferidas pelos agentes econômicos em determinado período de tempo em função da participação no processo produtivo interno. A renda nacional é o somatório das rendas recebidas pelos indivíduos de uma nação. É determinada pelas transações produtivas externas e internas. A renda nacional pertence ao país, é igual ao produto nacional. Exemplificando, os lucros recebidos do exterior pertencem ao país recebedor, sendo assim considerados renda nacional. O contrário, lucros enviados para outras economias, são receitas geradas internamente, porém de propriedade de outros países, não sendo considerados renda nacional, e sim renda interna. A renda líquida do exterior é representada pela diferença entre os valores enviados e recebidos do exterior. Quando negativa, indica uma renda líquida enviada ao exterior, quando positiva representa um fluxo financeiro positivo proveniente do exterior. Renda total da sociedade A renda total da sociedade chama-se produto, de onde vêm os conceitos de Produto Interno Bruto e Produto Nacional Bruto. Remuneração São exemplos de remuneração: • Salários • Juros sobre capital 9 • Aluguéis de imóveis • Lucros sobre capital investido A renda pessoal, conforme Assaf Neto (2006), é a renda efetivamente transferida às pessoas, e é calculada deduzindo-se, da renda nacional, as contribuições e benefícios previdenciários, Imposto de Renda sobre as pessoas jurídicas, os lucros retidos pelas empresas etc. O investimento, na economia, refere-se à aplicação de capital em alternativas que irão promover aumento da capacidade de produção de uma nação, possibilitando a geração de maiores riquezas. O investimento pode ser em BENS D E CAPITAL e em estoques. A poupança é a parcela da renda que não foi consumida na aquisição de bens e serviços, ou seja, parte da renda economizada pelos agentes econômicos. A poupança realimenta todo o processo produtivo por meio dos diversos instrumentos de intermediação do mercado de capitais. Os intermediários financeiros captam a poupança disponível e a reconduzem ao sistema produtivo da economia mediante diversas formas de créditos, contribuindo para a expansão do nível de investimento e oferta de bens e serviços. Noções gerais de economia limitam o crescimento da economia. São direcionados, nessa situação, menos recursos para investimentos produtivos, inibindo o crescimento do mercado. Nesses casos, os países recorrem normalmente à poupança externa como forma de financiar seu crescimento. É interessante acrescentar que a formação da poupança pela simples redução do consumo não promove, necessariamente, o crescimento da economia. É preciso que esses recursos sejam viabilizados, por meio de instrumentos financeiros adequados para o financiamento dos investimentos produtivos. Se a poupança não for direcionada pelo sistema financeiro aos agentes deficitários de capital para investimento, não se verificará geração de riqueza na economia, somente redução de consumo e da renda nacional (ASSAF NETO, 2006, p. 20) 10 PRODUTO INTERNO E PRODUTO NACIONAL Uma economia é avaliada por meio de variáveis macroeconômicas, identificadas, principalmente, na renda, no produto e no gasto de uma nação. O Produto Interno Bruto (PIB) de uma economia considera os produtos finais realizados dentro dos limites territoriais de um país.Representa o valor – a preço de mercado – desses produtos em determinado período de tempo. O PIB também pode ser entendido como os valores adicionados pelas organizações produtivas. É repartido no segmento produtivo sob a forma de impostos, juros, salários etc. Logo, uma parte desse produto transforma-se em renda nacional. O Produto Interno Líquido (PIL) é definido pela subtração da DEPRECIAÇÃO dos ativos fixos do PIB (PIL = PIB – depreciação do capital fixo). O aumento do PIB de uma nação caracteriza a elevação de sua capacidade produtiva, melhorando a qualidade de vida dos indivíduos. O produto nacional bruto (PNB) representa a renda que pertence efetivamente aos nacionais, conforme Vasconcellos (2006). O PNB é o somatório do PIB e a renda líquida dos fatores externos. Cabe ressaltar que a renda é representada pela soma de todas as remunerações de um agente econômico. Poupança é a parte da renda não consumida e investimento é o recurso (capital) canalizado para a geração de riquezas. Representa o consumo do estoque de capital físico em determinado período (VASCONCELLOS, 2006, p. 421). É motivada pelo desgaste nos ativos fixos. CEDERJ Sistema Financeiro | Noções gerais de economia subtraímos a depreciação do PNB, encontramos o produto nacional líquido (PNL). O produto nacional contribui efetivamente para a avaliação do crescimento econômico de um país 11 CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Crescimento econômico refere-se ao aumento quantitativo da capacidade produtiva de uma nação ao longo dos anos. Portanto, envolve a expansão da produção de bens e serviços de determinado país ou área econômica. É determinado pelo índice de crescimento anual do Produto Nacional Bruto per capita e é indicado ainda pelo grau tecnológico, pelo índice de aumento da força de trabalho e pela proporção da receita nacional poupada e investida. O conceito de desenvolvimento econômico vai além da definição de crescimento econômico, pois considera outras variáveis. Abarca as condições de vida da população de um país, abrangendo indicadores socioeconômicos de renda, educação, saúde, entre outros. Podemos notar que crescimento e desenvolvimento econômico possuem conceitos diferentes apesar de muitas vezes serem confundidos. Os países, a fi m de promoverem o crescimento e desenvolvimento econômico, ressaltaram a relevância do sistema financeiro, por meio, principalmente, de seu aporte de liquidez ao mercado e oferta diversificada de recursos para financiamento. Foram criados novos instrumentos financeiros e uma rede mais qualificada de intermediários. Surgiram mais alternativas de prazos nas operações e um controle de risco mais eficiente para os credores de capital. A movimentação dos recursos da economia acontece no mercado, na maioria das vezes, por intermediários financeiros, que trabalham voltados para entrosar expectativas e interesses de agentes econômicos com capacidade de poupança com os tomadores de recursos. Essas intermediações se processam pela colocação de títulos e valores econômicos no mercado por meio de instituições, como caixas econômicas, bancos, fundos de pensão etc. Conforme Assaf Neto (2006, p. 22), quando ocorre uma procura por recursos para investimento maior que a poupança disponível, justifica- se a criação da atividade de intermediação e de seus instrumentos financeiros. O agente econômico com déficit de caixa recorre a empréstimos que são viabilizados por UNIDADES SUPERAVITÁRIAS – poupadores, mediante lançamento de diferentes ativos financeiros, como debêntures, bonds, ações, 12 CDB para o caso de bancos, entre outros. O mercado financeiro cumpre sua finalidade quando permite eficiente interação entre poupadores e tomadores de recursos, promovendo investimento e crescimento da economia. A intermediação financeira nesse mercado deve permitir a aproximação entre os vários agentes econômicos, promovendo transferências de poupanças a um custo mínimo e a um nível reduzido de risco (ASSAF NETO, 2006, p. 22). UNIDADES SUPERAVITÁRIAS São unidades que apresentam saldo positivo. Opera com ativos financeiros de diversos poupadores e age com maior grau de divisibilidade na administração dos recursos, favorecendo a negociação de montantes variados com o mercado. Oferece melhores condições de empréstimos aos tomadores de recursos. Permite oferecer operações financeiras mais sofisticadas a todos os agentes econômicos, inclusive àqueles menos familiarizados com a dinâmica de mercado. CONCEITOS E FUNÇÕES DA MOEDA A moeda é um símbolo de valor que, no âmbito da economia, designa o único bem econômico de troca com aceitação geral. É um meio de pagamento legalmente utilizado para realizar transações com bens e serviços. Tem aceitação garantida por lei, portanto, apresenta CURSO LEGAL FORÇADO e PODER LIBERATÓRIO. Conforme Assaf Neto (2006, p. 23), o uso da moeda viabiliza o funcionamento de toda a economia, indicando os bens e serviços a serem produzidos de maneira a satisfazer os desejos de demanda dos vários agentes. A moeda possui, no sistema econômico, três funções fundamentais: Instrumento ou meio de troca – Promove o intercâmbio de bens e serviços por outros bens e serviços. Quando não existia moeda, as relações comerciais eram efetuadas por trocas diretas por meio do escambo, exigindo a coincidência de necessidades entre vendedores e compradores com relação às mercadorias negociadas. Na época, havia grande dificuldade nas operações comerciais porque algumas mercadorias não fracionavam. A vantagem da moeda, como instrumento de troca, é História da moeda. No início não havia moeda. Sua 13 existência é fruto de uma longa evolução. Tudo começou com o escambo. Os indivíduos trocavam o excesso de mercadorias por mercadorias escassas. Trocava-se arroz por frango, e assim por diante. Não era atribuído um preço a cada mercadoria trocada, e elas geralmente apresentavam-se em estado natural. Pela sua utilidade, certas mercadorias eram mais procuradas do que outras. Essas mercadorias, tais como o gado e o sal, tornaram-se moeda- mercadoria. Esta é a origem de palavras como pecúlio – dinheiro acumulado, vem de pecus, gado em latim; pecúnia – dinheiro, mesmo radical; capital – vem de capita, cabeça em latim; salário – vem de sal. Com o passar do tempo, as mercadorias se tornaram inconvenientes às operações comerciais, devido às oscilações de valor, à não divisibilidade (algumas) e por serem perecíveis (também algumas), não permitindo o acúmulo de riquezas. Com a descoberta do metal, o problema de ser perecível estava resolvido. O metal podia ser entesourado, era raro, divisível, de fácil transporte e beleza. Inicialmente, era utilizado em seu estado natural, mas, com o tempo, passou a ser utilizado em barras e, ainda, sob a forma de objetos, como joias. Para evitar a aferição de peso e avaliação de seu nível de pureza a cada troca, o metal ganhou forma definida e peso determinado, recebendo marca indicando o valor e o responsável pela sua emissão. As primeiras moedas surgiram no século VII a.C. e foram cunhadas na Grécia em prata e, na Lídia, em eletro (liga de ouro e prata). De um modo geral, as moedas até hoje refletem a mentalidade de um povo e de sua época. Nelas, podem ser observados aspectos políticos, econômicos, culturais e tecnológicos. A cunhagem de moedas em ouro e prata manteve-se durante muitos séculos, sendo as peças garantidas pelo valor comercial do metal utilizado na confecção, ou valor intrínseco. Diferentemente de como era antigamente, a moeda como conhecemos hoje vale por seu valor extrínseco, que é o valor gravado em sua face, independentemente do metal nela contido. Na atualidade, a moeda ficou restrita a valores menores, necessários para troco. A durabilidade deu lugar à qualidade. Utilizam-se ligas modernas, que buscamresistência para suportar a alta rotatividade do numerário de troco. O papel moeda tem origem nos recibos 14 entregues pelos ourives, que o serviam como garantia quando seus clientes depositavam valores. No Brasil, os primeiros bilhetes de banco, precursores das cédulas atuais, foram lançados pelo Banco do Brasil, em 1810, e seus valores eram preenchidos a mão. Com o passar dos anos, o dinheiro cada vez mais se desmaterializa, assumindo formas abstratas, tais como cheque e cartão. A sofisticação vem assumindo tal envergadura que muitas operações, hoje em dia, já são realizadas sem a utilização de formas concretas como cheque ou dinheiro. Cada vez mais o sistema financeiro busca maneiras eletrônicas de transferência de recursos. Não existem dúvidas de que a forma eletrônica de pagamento proporciona maior segurança do que outros meios, o que veio se confirmar com a nova configuração do Sistema de Pagamentos Brasileiro, adotado a partir de abril de 2002 (GALLAGHER, 2004, p. 4-5). SISTEMA FINANCEIRO Noções gerais de economia sua divisibilidade, que permite transações de partes dos bens e serviços. As características presentes no uso da moeda proporcionam maior agilidade nas operações de mercado, dinamizando toda a atividade econômica. Denominador comum monetário ou unidade de conta – Permite que sejam expressos em unidades monetárias os valores de todos os bens e serviços, e possibilita comparações de valores. A moeda é um modelo de medida, um parâmetro de valor. Reserva de valor – Possibilita que os agentes econômicos guardem seus patrimônios para uso futuro. A posse da moeda indica liquidez imediata, possibilitando sua conversão em qualquer outro ativo financeiro ou real. Essa característica é prejudicada em ambiente inflacionário que corrói o poder de compra da moeda. 15 CONHECENDO O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL De acordo com Fortuna (2002, p.15), um conceito bastante abrangente de Sistema Financeiro pode ser o de um conjunto de instituições que se dedicam, de alguma forma, ao trabalho de propiciar condições satisfatórias para a manutenção do movimento de recursos entre poupadores e investidores. O processo de crescimento de uma economia precisa da participação de recursos financeiros, que são identificados por meio da poupança disponível em poder dos AGENTES ECONÔMICOS superavitários e canalizados para os segmentos produtivos deficitários de capitais por meio de intermediários mediante instrumentos financeiros, como por exemplo, títulos negociáveis. Esse processo caracteriza a função social e econômica do sistema financeiro. O Sistema Financeiro Nacional, expõe Assaf Neto (2006, p. 45), foi regulado e estruturado pela Lei de Reforma Bancária, em 1964, pela Lei do Mercado de Capitais, em 1965, e, mais recentemente, pela Lei de Criação dos Bancos Múltiplos, de 1988. É formado por todas as instituições financeiras, públicas ou privadas do país. As instituições financeiras podem ser classificadas em dois tipos, a saber: intermediários financeiros e instituições auxiliares. Os intermediários financeiros captam poupança diretamente do público por iniciativa e responsabilidade própria e aplicam esses recursos em empresas, por intermédio de empréstimos e financiamentos. São considerados intermediários financeiros os bancos comerciais, de desenvolvimento, de investimento, a Caixa Econômica, bancos múltiplos, sociedades de crédito de financiamento e investimento etc. Diferentes dos intermediários financeiros, as instituições auxiliares se dispõem a colocar em contato poupador e investidor. Segundo Fortuna (2002, p. 15), a bolsa de valores é um exemplo de instituição auxiliar porque propicia liquidez aos títulos emitidos pelas empresas pela institucionalização do mercado secundário. Esse processo viabiliza as condições básicas para aceitação das colocações primárias das empresas. Na mesma situação, encontram-se as sociedades corretoras e distribuidoras que se estabelecem como elemento de aproximação entre 16 poupadores e investidores, atuando no lançamento de títulos e ações junto ao público. Além das classificações citadas, as instituições financeiras são caracterizadas sob a ótica da capacidade de criar ou não MOEDA ESCRITURAL. As instituições financeiras que criam moeda escritural são conhecidas como bancárias ou monetárias. Permitem a criação de moeda por meio do recebimento de depósitos à vista movimentáveis por cheques, e operam com ativos financeiros monetários que representam os meios de pagamento da economia. São representadas pelos bancos comerciais, múltiplos com carteira comercial, caixas econômicas e cooperativas de MOEDA ESCRITURAL Segundo Tostes (1999, p. 55), representa ordem de pagamento que surgiu da generalização do uso do papel-moeda. A abertura de uma conta corrente mediante depósito em dinheiro permite a qualquer pessoa movimentar esses recursos depositados no banco por meio de cheque (moeda escritural mais utilizada atualmente). Expõe que as instituições não bancárias, ao contrário das monetárias, não estão legalmente autorizadas a receber depósitos à vista, não existindo então a possibilidade de criação de moeda. Essas instituições financeiras trabalham basicamente com ativos não monetários, como DEBÊNTURES, ações, letras de câmbio, certificados de depósitos bancários etc. e são representadas pelas sociedades corretoras, bancos de investimento, sociedades financeiras, sociedades de arrendamento mercantil etc. O Sistema Financeiro Nacional é estruturado em dois grupos ou subsistemas: normativo e intermediação financeira. O subsistema normativo é constituído pelas autoridades monetárias e instituições especiais. É responsável pelo perfeito funcionamento do mercado financeiro e de suas instituições. O subsistema de intermediação financeira, também definido por operativo, é formado pelas instituições que atuam em transações de intermediação financeira. 17 SUBSISTEMA NORMATIVO A divisão normativa é formada por instituições que estabelecem diretrizes de atuação das instituições financeiras operativas e controle do mercado. Exerce função de extrema importância para todo o sistema financeiro. Os órgãos normativos são estruturados de modo a promover o desenvolvimento equilibrado do país e atender ao objetivo da coletividade. Apresentam características comuns relativas ao controle hierárquico, estabilidade no cargo de direção, competência para regulamentação e fiscalização. O subsistema normativo é constituído pelo Conselho Monetário Nacional, Banco Central do Brasil, Comissão de Valores Imobiliários, Superintendência de Seguros Privados e Secretaria de Previdência Complementar. Também participam do subsistema normativo as instituições especiais: Banco do Brasil, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Caixa Econômica Federal. CONSELHO MONETÁRIO NACIONAL (CMN) O Conselho Monetário Nacional é a entidade superior do sistema financeiro. Tem funções normativas não lhe cabendo funções executivas. É o responsável pela fixação das diretrizes da política monetária, de crédito e cambial. Pelo envolvimento destas políticas no cenário econômico nacional, o Conselho Monetário Nacional acaba se transformando em um conselho de política econômica. É constituído pelo ministro da Fazenda, que atua como presidente do órgão, pelo ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão e pelo presidente do Banco Central. O CMN repassa as funções executivas para o Banco Central do Brasil, para a Comissão de Valores Imobiliários, para a Superintendência de Seguros Privados e para a Secretaria de Previdência Complementar. Principais atribuições do CMN: • autorizar a emissão de moeda; • fixar diretrizes e normas da política cambial; 18 • disciplinar o crédito; • determinartaxas de compulsório; • regulamentar operações de redesconto; • estabelecer normas para as transações com títulos públicos; • regular a constituição, o funcionamento e a fiscalização de todas as instituições financeiras que operam no país. BANCO CENTRAL DO BRASIL (BC OU BACEN) O Bacen, além de ser responsável pela política monetária do país, é a entidade criada para atuar como órgão executivo central do Sistema Financeiro Nacional (SFN). Tem a responsabilidade de cumprir e fazer cumprir as disposições que regulam o funcionamento do sistema e as normas expedidas pelo Conselho Monetário Nacional. O Bacen está sediado em Brasília e tem representações regionais em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Fortaleza, Belo Horizonte e Belém. COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS (CVM) É um órgão normativo do Sistema Financeiro Nacional voltado, especificamente, para o desenvolvimento, a disciplina e a fiscalização do mercado de valores mobiliários. É representado por ações, debêntures, COMMERCIAL PAPERS e outros títulos emitidos pelas sociedades anônimas e autorizados pelo Conselho Monetário Nacional. Controle do fluxo de capital estrangeiro e emissão de moeda. Logo, podemos concluir que o Bacen pode ser considerado: • banco dos bancos; • gestor do Sistema Financeiro Nacional; • executor da Política Monetária; • banco emissor; 19 • banqueiro do governo. O SISTEMA MONETÁRIO NO BRASIL Quando os portugueses chegaram ao Brasil, a moeda era o pau-brasil que os índios trocavam por espelhos, miçangas e outras mercadorias. No início da colonização, as moedas portuguesas foram introduzidas no país. Com a vinda de D. João VI, em 1808, nasceu o primeiro Banco do Brasil com o objetivo de facilitar acordos comerciais com a Europa. Só no 2º Império, surgiu o 1º sistema monetário próprio, com o real, mais conhecido por mil-réis. Esta foi a moeda oficial até 1942. OBJETIVOS FUNDAMENTAIS DA CVM • estimular a aplicação de poupança no mercado acionário; • assegurar o funcionamento eficiente e regular das bolsas de valores e instituições auxiliares que operem neste mercado; • proteger os titulares de valores mobiliários contra emissões irregulares e outros tipos de atos ilegais que manipulem preços de valores mobiliários nos mercados primários e secundários de ações; • fiscalizar a emissão, o registro, a distribuição e a negociação de títulos emitidos pelas Sociedades anônimas de capital aberto. A CVM é uma entidade de apoio, autárquica, autônoma e descentralizada, mas vinculada ao governo. Tem como objetivo central fortalecer o mercado de ações. SUPERINTENDÊNCIA DE SEGUROS PRIVADOS (SUSEP) Órgão normativo do sistema financeiro especificamente voltado para o desenvolvimento, a disciplina e a fiscalização do mercado de seguros privados, previdência privada aberta e capitalização. É uma entidade autárquica responsável pela execução da política definida pelo Conselho Nacional de 20 Seguros Privados e pelo cumprimento das normas estabelecidas pelas seguradoras e corretores. SECRETARIA DE PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR (SPC) É o órgão normativo do sistema financeiro responsável pelo controle e fiscalização dos planos e benefícios do mercado de previdência complementar (aposentadoria), como os fundos de pensão. As INSTITUIÇÕES DE PREVIDÊNCIA PRIVADA FECHADA são consideradas complementares do sistema oficial da previdência e assistência social, enquadram suas atividades no segmento de competência do Ministério da Previdência e Assistência Social e não podem ter fins lucrativos. Atribuições da SPC • processar os pedidos de autorização para formação, funcionamento, fusão, incorporação, grupamento, transferência de controle e reforma dos estatutos das entidades fechadas; • determinar instruções e expedir circulares para implementação das normas estabelecidas; • fiscalizar a execução das normas contábeis, atuárias e estatísticas fixadas pelo Conselho de Previdência Complementar (CPC), como também da política de investimentos determinadas pelo Conselho Monetário Nacional; • fiscalizar as atividades das entidades fechadas e aplicar as penalidades cabíveis; • proceder à liquidação das entidades fechadas que tiverem a permissão de funcionamento cassada ou das que deixarem de ter condições para funcionar; • prover os serviços da Secretaria do Conselho de Previdência Complementar. 21 BANCO DO BRASIL (BB) O Banco do Brasil é uma sociedade anônima de capital misto e opera como agente financeiro do Governo Federal. É o principal executor da política oficial de crédito rural. BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL (BNDES) O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social representa a instituição financeira de fomento do Brasil. É uma empresa pública que está vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. É a entidade responsável pela política de investimentos de longo prazo do Governo Federal. CAIXA ECONÔMICA FEDERAL (CEF) A Caixa Econômica Federal é uma instituição financeira pública que atua de forma autônoma e apresenta objetivo social. É responsável pela operacionalização das políticas do Governo Federal para moradia popular e saneamento básico. Concede empréstimos e financiamentos a programas nas áreas de educação, saúde, assistência social, esporte, habitação etc. Pode atuar nas áreas de atividades voltadas a bancos comerciais, sociedade de crédito imobiliário, de saneamento e infraestrutura urbana. • captar recursos em cadernetas de poupança e em depósitos judiciais e aplicar, substancialmente, em empréstimos vinculados à habitação (os recursos obtidos junto ao Fundo de Garantia por Tempo de Serviço são normalmente direcionados a áreas de saneamento básico e de infraestrutura urbana); • exercer a gestão de loterias, de fundos e de programas, entre os quais destacam-se o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço – FGTS, o Fundo de Compensação de Variações Salariais – FCVS, o Programa de Integração Social – PIS, o Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Social – FAS e o Fundo de Desenvolvimento Social – FDS. 22 SUBSISTEMA OPERATIVO OU INTERMEDIAÇÃO FINANCEIRA A divisão operativa é constituída pelos intermediários financeiros e outras entidades que, de alguma forma, contribuem com o funcionamento do sistema financeiro. A seguir são apresentadas as divisões conforme dispõe o Banco Central do Brasil. Instituições Financeiras Captadoras de Depósitos à Vista: • Bancos Múltiplos com Carteira Comercial – possuem carteira comercial, de investimento, de crédito imobiliário, de desenvolvimento e leasing e têm como órgão fiscalizador o Bacen. • Bancos Comerciais – representam a base do sistema monetário, financiam a curto e médio prazos pessoas físicas e jurídicas e têm como órgão fiscalizador o Bacen. • Caixas Econômicas – administram o FGTS, fazem parte do sistema brasileiro de poupança e empréstimo e do sistema financeiro de habitação e têm como órgão fiscalizador o Bacen. Demais instituições financeiras: • Bancos Múltiplos sem Carteira Comercial – possuem carteira de investimento, de crédito imobiliário, de desenvolvimento e leasing e têm como órgão fiscalizador o Bacen. • Bancos de Investimento – intermedeiam recursos de médio e longo prazos para financiamento de capital de giro ou fixo das empresas e têm como órgão fiscalizador o Bacen e a CVM. • Bancos de Desenvolvimento – visam promover o desenvolvimento econômico e social da região que atuam e têm como órgão fiscalizador o Bacen. • Sociedades de Crédito, Financiamento e Investimento – financiam bens de consumo duráveis por meio de crédito direto ao consumidor, são fiscalizadas pelo Bacen. 23 Caixas Econômicas Atualmente, está funcionando apenas a Caixa Econômica Federal (CEF)uma vez que a Caixa Econômica do Estado de São Paulo se transformou em banco múltiplo em 6 de março de 1990, com a denominação Nossa Caixa. Sistema Financeiro Nacional • Sociedades de Crédito Imobiliário – operam financiamento imobiliário e têm como órgão fiscalizador o Bacen • Companhias Hipotecárias – instituições que destinam financiamento para a produção, reforma ou comercialização de imóveis. São fiscalizadas pelo Bacen. • Associações de Poupança e Empréstimo – destinam-se a construção ou aquisição da casa própria e não têm fins lucrativos e são fiscalizadas pelo Bacen. • Agências de Fomento – concedem financiamento de capital de giro e fixo associados a projetos e têm como órgão fiscalizador o Bacen. • Sociedades de Crédito ao Microempreendedor – têm como objetivo prover financiamento a indivíduos que não têm acesso ao sistema bancário e são fiscalizadas pelo Bacen. Outros intermediários ou auxiliares financeiros: • Bolsas de Mercadorias e de Futuros – mercado organizado para proporcionar facilidades na realização de compra e venda de COMMODITIES e operações com liquidação futura e têm como órgão fiscalizador o Bacen e a CVM. • Bolsas de Valores – instituições onde são negociadas ações e outros títulos de organizações de capital aberto, são constituídas pelas corretoras de valores e têm como órgão fiscalizador a CVM. COMMODITIES Mercadorias. Designa produtos primários como café, minérios, petróleo etc. • Sociedades Corretoras de Títulos e Valores Mobiliários – realizam a intermediação financeira nas bolsas de valores e são fiscalizadas pelo Bacen e pela CVM. 24 • Sociedades Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários – têm por objetivo principal comprar, vender e distribuir títulos e valores mobiliários. São diferentes das sociedades corretoras por não terem acesso às bolsas de valores. São também fiscalizadas pelo Bacen e pela CVM. • Sociedades de Arrendamento Mercantil – têm como finalidade conceder LEASING e têm como órgão fiscalizador o Bacen. • Sociedades Corretoras de Câmbio – transacionam intermediações de câmbio, fiscalizadas pelo Bacen .• Representações de Instituições Financeiras Estrangeiras – representam instituições financeiras no país e têm como órgão fiscalizador o Bacen. • Agentes Autônomos de Investimento – pessoa jurídica ou física. Fazem a distribuição e a mediação de títulos e valores mobiliários e são fiscalizados pelo Bacen e pela CVM. Entidades Ligadas aos Sistemas de Previdência e Seguros • Entidades Fechadas de Previdência Privada – administram planos de previdência complementar para uma empresa, não possuem fins lucrativos e são fiscalizadas pela SPC. L EASING Arrendamento mercantil. Sistema Financeiro | Sistema Financeiro Nacional • Entidades Abertas de Previdência Privada – destinadas a complementar aposentadoria de qualquer indivíduo, têm como órgão fiscalizador a SUSEP; • Sociedades Seguradoras – concedem seguros para as pessoas jurídicas e físicas e têm como órgão fiscalizador a SUSEP. • Sociedades de Capitalização – oferecem compra programada de títulos que geram renda e proporcionam sorteios e são fiscalizadas pela SUSEP. • Sociedades Administradoras de Seguro-Saúde – negociam com o público geral. São fiscalizadas pela SUSEP. Administração de Recursos de Terceiros: 25 • Fundos Mútuos – representados por um conjunto de pessoas jurídicas ou físicas que têm por fim investir recursos, têm como órgão fiscalizador a CVM. • Clubes de Investimentos – formado por um conjunto de pessoas que apresentam objetivos comuns de investimentos, fiscalizados pela CVM. • Carteiras de Investidores Estrangeiros – carteira formada por investidores que não são residentes no país, fiscalizadas pelo Bacen e CVM. • Administradoras de Consórcio – têm como objetivo administrar consórcios e são fiscalizadas pelo Bacen. Sistemas de Liquidação e Custódia: • Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (SELIC) – sistema utilizado por corretoras e bancos para o registro de operações com títulos públicos. As instituições financeiras credenciadas são conectadas ao computador central do SELIC via uma rede de terminais. Está sob a responsabilidade do Bacen e ANDIMA – Associação Nacional das Instituições do MERCADO ABERTO. • Central de Custódia e de Liquidação Financeira de Títulos (CETIP) – mercado de balcão organizado para custódia, liquidação, e registro de títulos privados e alguns títulos estaduais e municipais. A CETIP é normatizada pelo Bacen e administrada pela ANDIMA. • Caixas de Liquidação e Custódia – atendem às atividades voltadas para a compensação, custódia, liquidação e controle de risco para o mercado financeiro e são fiscalizadas pela CVM. SISTEMA FINANCEIRO: FATORES FAVORÁVEIS À EFICIÊNCIA ALOCATIVA O sistema financeiro é composto de vários intermediários, em que fazem parte o Banco Central, além de bancos comerciais e de investimentos, corretoras de valores, fundos de investimentos, fundos de pensão, bolsas de valores e companhias de seguro. Contudo, a literatura da área apresenta uma certa tendência a colocar os bancos como sendo os representantes legítimos do sistema financeiro. Uma possível justificativa pode está relacionada ao fato de 26 os bancos serem responsáveis por mais de 60% da fonte de fundos externos de empresas não-financeiras. A existência do sistema financeiro está condicionada a imperfeições de mercado, tais como falhas no canal de transmissão de informação entre os agentes econômicos e distanciamento do mercado competitivo (poder de mercado). As trocas entre os agentes tornam-se mais onerosas quanto mais graves são as falhas de mercado, podendo, como caso limite, inviabilizá-las. A intermediação financeira surge, então, como um mecanismo para minimizar tais imperfeições, facilitando (intermediando) a alocação dos recursos entre poupadores e tomadores de empréstimos e, dessa forma, transmitindo aos investimentos produtivos os recursos necessários. Na Figura 1 pode-se visualizar que o ato de poupar é disjunto do ato de investir, isto é, o indivíduo que poupa, em sua grande maioria, não é o mesmo que realiza os investimentos produtivos. Assim, quando a economia se afasta do ambiente competitivo, há perda de recursos para o setor produtivo, pois os custos de transação e os custos de informação envolvidos em uma transação podem somar quantias que inviabilizem as transações. Portanto, a eficiência propiciada pelo sistema financeiro reside exatamente na redução dos custos de transação e custos de informação no momento em que o contrato financeiro é firmado. Os custos de transação referem-se aos gastos envolvidos na transação financeira, tais como o processo de reuniões entre os interessados, o pagamento https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-80502006000300007&lang=pt#fig01 27 advocatício para redação de contrato, entre outros. Os custos de transação podem ser reduzidos, substancialmente, com a introdução dos intermediários financeiros (bancos), pois estes desenvolveram uma especialização (expertise) nessa atividade, obtendo, assim, vantagens relativas a ganhos de escala, isto é, a redução do custo à medida que o número de transações é aumentado. Segundo Mishkin (2000), os baixos custos de transação de um intermediário financeiro significam que ele pode fornecer a seus clientes serviços de liquidez, que permitam agilidade para os clientes ao realizar as transações. Custos de informação, por sua vez, dizem respeito aos custos provenientes da assimetria de informação entre o agente e o principal, ou seja, uma das partes do contrato está mais informada do que a outra. Quando há assimetria de informação, conflitos de interesses tendem a ocorrer. Há dois tipos de problemas vindos da assimetria de informação: seleção adversa e risco moral.O primeiro ocorre antes que a transação ocorra. Seleção adversa torna- se um problema no mercado financeiro devido ao fato de que é mais provável que tomadores com riscos de crédito elevados demandem crédito, aumentando, assim, a probabilidade que estes sejam selecionados. Sabendo de antemão dessa relação, os emprestadores podem decidir não conceder empréstimos, pois não conseguem distinguir os bons dos maus tomadores de crédito.6 O segundo ocorre depois que a transação é efetuada. O risco moral se refere ao risco de os tomadores de crédito se engajarem em atividades indesejáveis do ponto de vista do emprestador, pois tais atividades reduzem a probabilidade de que o empréstimo seja pago. Da mesma forma que a seleção adversa, o risco moral pode ocasionar o fim da concessão de crédito como uma forma de proteção ao risco do emprestador. Como os problemas provocados pela informação assimétrica podem colapsar o mercado de crédito, torna-se fundamental a presença de intermediários financeiros para amenizar esses problemas, uma vez que esses são mais bem equipados do que agentes individuais para distinguir os riscos de créditos ruins dos bons, bem como criar um aparato para monitorar as ações dos tomadores de crédito. Assim, intermediários financeiros tendem a melhorar o https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-80502006000300007&lang=pt#nt06 28 bom funcionamento do mercado financeiro, facilitando a transferência de poupança entre emprestador e tomador de crédito, o que tende a gerar, como resultado final, aumento de recursos para o setor produtivo, ocasionando crescimento econômico. Segundo Becsi e Wang (1997), o canal de transmissão ou de conexão entre o crescimento econômico e sistema financeiro reside no fato que esse último pode aumentar tanto a quantidade quanto a qualidade do investimento agregado. O processo de intermediação amplia a probabilidade da realização de investimentos mais lucrativos. O aumento da quantidade dos investimentos se deve às economias de escala, visto que o sistema financeiro reduz os custos envolvidos em uma transação financeira e, dessa forma, consegue captar mais recursos que podem ser utilizados em investimentos no setor privado. A qualidade dos investimentos é ampliada com a intermediação financeira porque o intermediário está mais disposto a financiar projetos que são mais arriscados7 (possuem uma rentabilidade esperada mais elevada) do que um poupador individual, pois este último possui o perfil de ser avesso ao risco. O intermediário financeiro se beneficia de sua escala de produção (especialização), visto que essa lhe permite diversificar sua carteira de investimentos, diluindo o risco a níveis razoáveis. Outro canal pelo qual o sistema financeiro pode promover o crescimento é proporcionando às famílias menos abastadas recursos para acumulação de capital humano, pois, de outra forma, essas famílias não teriam acesso à educação, por ser a educação um bem caro. Assim, tanto por reduzir a necessidade de liquidez das firmas como por resolver o problema de indivisibilidade de alguns investimentos, quanto por facilitar a acumulação de capital (físico e humano), o sistema financeiro contribui para criar um ambiente mais propenso ao crescimento econômico. Dada a importância de um sistema financeiro no estímulo ao processo produtivo de uma economia, é relevante listar algumas das principais funções desse setor. A próxima seção aborda este tema. https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-80502006000300007&lang=pt#nt07 29 FUNÇÕES DO SISTEMA FINANCEIRO A seção anterior expôs o cenário econômico no qual o sistema financeiro está incluído. Percebe-se que o mundo real é caracterizado pela presença de assimetria de informação e poder de mercado, o que dificulta a alocação eficiente dos recursos financeiros, caso não haja um intermediário financeiro entre poupador e investidor. Listam-se, a seguir, algumas funções do sistema financeiro que lhe conferem a capacidade para promover a eficiência alocativa dos recursos financeiros. São elas: a) mobilização de recursos; b) alocação dos recursos no espaço e no tempo; c) administração do risco; d) seleção e monitoração de empresas; e e) produção e divulgação de informação. Abaixo, descreve-se cada uma dessas funções: a) Mobilização de recursos Compreende a função de agregação de poupanças individuais. Com esta função, o sistema financeiro permite aos investidores individuais o financiamento completo de seus projetos. Não havendo intermediação por parte de bancos ou outros participantes do sistema financeiro, o investidor estaria restrito a um projeto passível de implementação somente com seus recursos próprios. Assim, investimentos que necessitassem de grandes volumes de recursos só poderiam ser implementados por pouquíssimas famílias abastadas, ou seja, reduziria muito a probabilidade do investimento ser efetivado, pois nem todas as famílias ricas possuem interesse em produzir ou mesmo possuem o espírito empreendedor. Segundo Carvalho (2002), para que as firmas alcancem escalas economicamente eficientes é essencial que tenham acesso à 30 poupança de vários indivíduos, situação perfeitamente compatível com a intermediação financeira. b) Alocação dos recursos no espaço e no tempo Refere-se à importante função de fornecer recursos a projetos de longa duração. Os indivíduos que poupam possuem um horizonte de curto prazo, o que lhes confere um perfil de concessão de empréstimos de alta liquidez, isto é, eles podem desejar converter seus empréstimos em moeda em um período pequeno de tempo. No entanto, investimentos que criam maiores retornos necessitam de um período maior de maturação. Forma-se, deste modo, um conflito de interesses. O sistema financeiro atua no sentido de intermediar essas transações, pois ele capta o depósito do poupador, garantindo-lhe o direito a liquidez, e empresta ao investidor a prazo mais elástico. Esse sistema torna-se mais eficiente quanto maior o número de transações realizadas pelo intermediário financeiro. c) Administração do risco Os intermediários financeiros figuram como os agentes mais preparados para minimizar os riscos que envolvem as transações financeiras. Isto ocorre devido à diversificação da carteira de concessão de crédito aos diferentes tipos de riscos envolvidos em cada atividade produtiva. Dito em outras palavras, o sistema financeiro busca se proteger dos riscos emprestando a diferentes firmas e setores, pois alguns projetos fracassarão e outros serão bem-sucedidos, mas, na média, o resultado será positivo. Segundo Bebczuk (2003), os agentes enfrentam dois tipos de riscos: risco idiossincrático e risco sistemático. O primeiro pode ser entendido como inerente à natureza do projeto, o qual pode ser mensurado pela incerteza quanto ao retorno desse projeto após a maturação do investimento. A melhor maneira de minimizar os problemas decorrentes deste tipo de risco é via diversificação de investimentos, pois esta funciona como redutor de custos idiossincráticos, porque, na agregação dos investimentos, o retorno esperado é preservado positivo. O segundo refere-se a 31 situações adversas que podem ocorrer com ambos os tipos de investimentos, sendo a probabilidade de ocorrência igual para todos. Assim, uma forma de minimizar esse risco é garantir maior liquidez aos investimentos, para que haja recursos para eventuais necessidades. d) Seleção e monitoração de empresas O sistema financeiro possui a importante função de selecionar e monitorar as empresas que possuem as melhores propostas de investimento produtivo. Esta função é exercida, primordialmente, pelos intermediários financeiros, uma vez que estes estão mais bem equipados do que agentes individuais, pois estes últimos não têm o conhecimentotécnico necessário, bem como a escala ótima que lhes permitiria selecionar e monitorar as empresas ou investidores a um custo economicamente suportável. Portanto, por causa das economias de escala, o sistema financeiro pode coletar um grande número de informação, adquirir especialização e criar condições críveis para monitorar as ações dos tomadores de crédito, com o intuito de garantir que o principal e os juros sejam pagos. e) Produção e divulgação de informação A informação é um bem extremamente importante quando se consolida uma transação, seja ela financeira ou não. A presença de informação assimétrica causa desvantagens para a parte que estiver menos informada, pois a parte mais informada pode utilizar a informação que possui a mais para seu próprio proveito, e isto pode gerar ineficiência econômica. A assimetria de informação, como visto anteriormente, pode ocasionar problemas de seleção adversa e de risco moral, problemas que podem até mesmo colapsar o mercado de crédito. Com a atuação do sistema financeiro, esses problemas são minimizados, permitindo o funcionamento a contento do mercado de crédito. Entretanto, a informação gerada pelo setor financeiro tende a transcender os problemas de seleção adversa e risco moral pertencentes às duas partes da transação financeira (poupador e tomador de empréstimo), pois o mercado como um todo se beneficia. Por exemplo, quando um banco concede um empréstimo para uma determinada empresa, ele não só está fornecendo liquidez para a firma (a qual 32 investirá na ampliação da capacidade produtiva) como também está sinalizando, indiretamente, para o mercado que esta firma está "saudável" economicamente, uma vez que o banco analisou seu projeto e concedeu empréstimo. Neste sentido, o sistema financeiro poderia ser pensado como um indicador de qualidade de firmas. DESENVOLVIMENTO FINANCEIRO E CRESCIMENTO ECONÔMICO: EVIDÊNCIAS EMPÍRICAS As seções anteriores mostraram, de forma esquemática, os insights teóricos sobre a relevância do sistema financeiro no processo de alocação dos recursos para a acumulação de capital físico e humano, os quais são variáveis importantes para a determinação do crescimento econômico. O objetivo neste trabalho é exatamente testar as predições da teoria que associa desenvolvimento financeiro ao crescimento econômico. Para tal propósito, utiliza-se a técnica de Regressão Quantílica, a qual permite analisar a associação contemporânea entre a variável resposta (medidas de crescimento econômico) com as variáveis explicativas (medidas de desenvolvimento financeiro) nos diversos quantis da distribuição condicional. Assim, obtém-se um mapeamento mais completo do impacto do desenvolvimento financeiro sobre o crescimento econômico, pois se consegue investigar como cada quantil responde, em vez de se ter somente uma reta de regressão para o caso da média. Algumas vantagens inerentes à regressão quantílica sobre os MQO podem ser listadas da seguinte forma (Koenker e Bassett, 1978): A técnica de regressão quantílica permite caracterizar toda distribuição condicional de uma variável resposta a partir de um conjunto de regressores; Regressão quantílica pode ser usada quando a distribuição não é gaussiana; 33 Regressão quantílica usa a totalidade dos dados para estimar os coeficientes angulares dos quantis, ou seja, não há subamostras do conjunto de dados; Regressão quantílica é robusta a outliers; Por utilizar a distribuição condicional da variável resposta, podem ser estimados os intervalos de confiança dos parâmetros e do regressando diretamente dos quantis condicionais desejados; Como os erros não possuem uma distribuição normal, os estimadores provenientes da regressão quantílica podem ser mais eficientes que os estimadores por meio de MQO; A regressão quantílica pode ser representada como um modelo de programação linear, o que facilita a estimação dos parâmetros. Muitos pacotes econométricos já possuem comandos próprios para esta finalidade, tais como S-PLUS, Stata, SHAZAM, entre outros. BASE DE DADOS E RESULTADOS O objetivo empírico deste trabalho é analisar se há uma relação positiva entre desenvolvimento financeiro e crescimento econômico nos diversos quantis da distribuição condicional da variável resposta. Para tal, utilizam-se duas medidas para representar a variável independente (desenvolvimento financeiro) e duas medidas para indicar a variável dependente (crescimento econômico). As medidas são: a) Desenvolvimento financeiro a.1) Medida de intensidade financeira (IF), financial depth, a qual pode ser entendida como o tamanho do setor de intermediação financeira formal. Esta variável é medida a partir dos exigíveis de curto prazo do sistema financeiro como uma fração do PIB. Se o sistema financeiro desempenha as funções descritas neste trabalho, então se espera que a relação desta variável com as medidas de crescimento econômico seja positiva. A intuição de se utilizar a variável intensidade financeira reside no fato de os intermediários financeiros captarem recursos de curto prazo, convertendo-os em empréstimos de longo prazo, beneficiando o crescimento econômico, pois assim permitem às firmas 34 um horizonte de investimento mais longo, além de garantir a liquidez dos depositantes; a.2) Participação do crédito dos bancos comerciais em relação ao total de crédito doméstico (BANCO), este último entendido como a soma do crédito provido pelo banco central e demais bancos. Aqui se supõe que os bancos comerciais são mais eficientes na alocação dos recursos financeiros do que o banco central. Neste sentido, quanto maior o volume de crédito dos bancos comerciais em relação ao total de crédito doméstico, mais eficiente o mercado de crédito se torna, tendendo a aumentar a capacidade produtiva da economia. Portanto, a relação é positiva com o crescimento econômico. b) Crescimento econômico Ambas as medidas de crescimento econômico são correspondentes aos 77 países que compõem a amostra deste trabalho. Estas são referentes ao período de 1980 a 1992 e foram obtidas a partir do banco de dados da Summers-Heston. b.1) Taxa de crescimento real média do PIB per capita (PIB). Esta foi calculada como a taxa de crescimento geométrica; b.2) Taxa de crescimento real média do capital per capita (CAPITAL). Esta foi calculada como coeficiente de regressão por mínimos quadrados ordinários. Além das variáveis listadas acima, também utilizou-se um conjunto de variáveis para controlar características individuais de cada uma das 77 nações, pois outros fatores podem ter efeito sobre a variável crescimento econômico. Entre estas variáveis estão: a) PIB real per capita em 1980, usando dados de Summers-Heston; b) taxa de inflação, definida em logaritmo natural; c) comércio internacional médio para o período de 1980 a 1995, definido como a proporção das importações mais as exportações sobre o PIB; e 35 d) crescimento da escolaridade, medido como a diferença (em log) dos anos de estudo da década de 1990 para a década de 1980, para um indivíduo de 25 anos de idade. A escolha desse conjunto de variáveis de controle se justifica por serem estas amplamente utilizadas em trabalhos empíricos. Somente para citar alguns trabalhos que foram utilizados no processo de seleção das variáveis, temos: Baumol et al. (1994); Barro (1991); Mankiw et al. (1992), Bebczuk (2001), Levine et al. (2002), Barreto et al. (2004), entre outros. Cabe salientar ainda que todos os dados foram obtidos da mesma base de dados (Summers-Heston), garantindo, assim, uniformidade metodológica. A estimação dos resultados neste trabalho se dá em duas etapas. A primeira não utiliza as variáveis de controle (PIB inicial, taxa de inflação, comércio internacional e escolaridade). Na segunda etapa, tais variáveissão incluídas, com o intuito de verificar quão sensíveis são as variáveis de interesse (medidas do desenvolvimento financeiro) quando são controladas características individuais dos países. EVOLUÇÃO RECENTE DO SETOR BANCÁRIO As instituições financeiras brasileiras são extremamente sólidas e competitivas. De fato, os bancos estrangeiros que se instalaram no país na década de 1990, em geral, não foram capazes de conquistar espaços significativos no mercado doméstico. Por outro lado, a funcionalidade do SFB é muito baixa, especialmente em termos macroeconômicos. A relação crédito privado/PIB, por exemplo, continua muito abaixo da média internacional. Há uma percepção generalizada de que as instituições financeiras do país são incapazes de alocar eficientemente recursos para investimentos produtivos, direcionando- os, preferencialmente, para títulos públicos e para operações interfinanceiras. Ademais, as linhas de crédito direcionadas para consumidores e investidores privados são extremamente caras e escassas, principalmente as de longo prazo. 36 A preferência pelos empréstimos de curto prazo pode ser explicada pela captação de recursos, feita, principalmente, pela emissão de passivos de curto prazo, como depósitos à vista ou a prazo. A utilização desses recursos no financiamento de longo prazo provocaria o descasamento de prazos nos balanços dos bancos, aumentando a vulnerabilidade dessas instituições perante qualquer choque de juros. Essa preferência pelo curto prazo também é resultado da incerteza provocada pela longa convivência com a alta inflação (Carvalho, 2004). Entretanto, do ponto de vista microeconômico, as instituições financeiras que operam no país não podem ser consideradas ineficientes, uma vez que uma instituição é considerada eficiente se é capaz de maximizar seus lucros com o menor risco possível, aproveitando as oportunidades de ganho que o mercado oferece. Na segunda metade da década de 1990, as melhores oportunidades de ganho foram oferecidas pelo governo federal, ao colocar quantidades crescentes de títulos públicos com alta rentabilidade e liquidez, além de baixo risco. Portanto, do ponto de vista microeconômico, as instituições brasileiras podem ser consideradas eficientes. Por outro lado, uma instituição pode ser considerada eficiente, porém disfuncional, se não contribui para o alcance de certos objetivos definidos como desejáveis pela sociedade. No caso específico do Brasil, o mercado de capitais tem uma participação restrita no financiamento privado, e o crédito bancário desempenha um papel fundamental na viabilização de projetos de investimento e no apoio ao crescimento econômico. Nesse sentido, o sistema financeiro brasileiro é comumente considerado disfuncional ou de baixa eficiência macroeconômica. Essa disfuncionalidade, entretanto, é resultado mais da combinação perversa de incentivos existente, tanto do lado do ativo quanto do passivo, do que de alguma ineficiência intrínseca. Pelo lado do ativo, os bancos são estimulados a concentrar suas aplicações na aquisição de títulos públicos, ao passo que, pelo lado do passivo, o estímulo é para a captação de recursos junto aos grupos de renda média e alta (Carvalho, 2005a). 37 Carvalho (2004) argumenta que as características do setor que causam essa disfuncionalidade, impedindo o alcance da eficiência macroeconômica, são: a) a atuação dos bancos como intermediários financeiros, sendo que os mercados de títulos têm papel quase irrelevante no financiamento à atividade privada; b) o alto grau de concentração existente no setor bancário; c) a estrutura do setor bancário, que incentiva a emergência de uma forma de competição oligopólica, na qual os bancos líderes fixam os preços básicos de serviços financeiros e competem entre si por meio da diferenciação de serviços, mais do que por preços; d) a atuação dos bancos não líderes em nichos não atraentes para os bancos líderes, devido às poucas condições para que esses primeiros exerçam pressões competitivas mais efetivas sobre os segundos nos mercados mais atraentes; e e) a situação permanente de instabilidade econômica e de déficits fiscais, que levou sucessivos governos a oferecer grande volume de títulos públicos, em condições extremamente favoráveis de retorno e liquidez. A tese de que as instituições financeiras brasileiras seriam ineficientes em relação às instituições estrangeiras foi utilizada como principal justificativa à proposta de abertura do setor aos bancos estrangeiros. Entretanto, como visto nos itens anteriores, as instituições financeiras que entraram no Brasil, a partir de 1995, adotaram padrões de comportamento similares e até inferiores aos padrões das instituições nacionais. Esses bancos se adaptaram às condições de operação do mercado brasileiro, não representando uma ameaça competitiva aos líderes estabelecidos. Também contrariando as expectativas, o custo do capital, que é determinado, entre outros fatores, pela taxa básica de juros, a taxa Selic, e pelo spread fixado pelos bancos, manteve-se excessivamente elevado. 38 Concorrência bancária A maioria dos trabalhos sobre concorrência bancária utiliza conceitos de organização industrial, considerando o setor bancário como uma indústria e os bancos como firmas. Esses trabalhos, entretanto, não consideram as especificidades dos bancos, bem como a natureza dos serviços que produzem. Dentre essas especificidades, Freitas (1997) cita a instabilidade do setor bancário, que tem origem em sua própria atividade. Além disso, não há limitações físicas – como custos tangíveis e limites de capacidade – para que ofereçam seu “produto” principal, moeda e crédito. Por isso, tendem, em momentos de expansão econômica, a conceder mais crédito do que seria prudente. A autora também relaciona a criação de novos instrumentos financeiros, já que os bancos não incorrem em grandes despesas no desenvolvimento de inovações. Como também não existe registro de patente, os demais concorrentes podem imitar o inovador rapidamente. Dessa forma, os ganhos resultantes de inovações são temporários, apesar de contribuírem para a busca de novos produtos e serviços. Por último, a natureza dos lucros bancários também é diferente da dos lucros das empresas industriais, já que os bancos determinam as condições de liquidez da economia, regulando a taxa de juros. Assim, como não existem limites naturais para a taxa de juros, os bancos podem dificultar ou facilitar o funcionamento do processo produtivo que demanda recursos financeiros. Freitas (1997) busca contribuir para uma visão alternativa, que considera o caráter dinâmico e desestabilizador dos bancos. Ao mesmo tempo em que estão submetidos à lógica da valorização da riqueza, também ocupam papel central no processo de criação monetária na economia capitalista moderna, atuando, simultaneamente, como criadores de moeda e intermediários financeiros. Considerando essa posição diferenciada que os bancos ocupam no sistema monetário e de crédito, suas atividades devem ser estritamente 39 reguladas. Quando a regulamentação bancária é mais rigorosa, as oportunidades de criação de vantagens competitivas pelos bancos são reduzidas, apesar de sempre existirem possibilidades de busca pela diferenciação. Por outro lado, a ausência de uma regulamentação eficaz pode fazer com que a concorrência assuma formas destruidoras e ameace a estabilidade do sistema de crédito (Freitas, 1997). Portanto, a atividade bancária é marcada por um permanente conflito entre os objetivos de estabilidade do sistema e busca pela valorização do capital. Assim, a concorrência bancária se circunscreve, no geral, nos limites fixados pela regulamentação, que variam conforme a estrutura institucional e jurídica existente em cada país. Porém, por meioda inovação, os bancos buscam escapar desses controles, criando uma tensão dinâmica entre o processo competitivo inovador e a necessidade de aperfeiçoamento contínuo da regulamentação (Freitas, 1997). A concorrência no setor bancário pode ocorrer de várias formas. Freitas (1997) cita: construção de uma imagem de experiência, tradição e solidez; técnicas de marketing; qualidade de suas equipes operacionais; informações privilegiadas obtidas no relacionamento com seus clientes; desenvolvimento de novos instrumentos e práticas financeiras etc. A cooperação ou a formação de alianças também é uma estratégia concorrencial muito utilizada pelos bancos. Por meio dos correspondentes bancários, por exemplo, um banco pode ampliar sua área de atuação, sem a necessidade de incorrer em custos para a abertura de novas agências. Há vários trabalhos aplicados que buscaram mensurar o grau de competição no sistema bancário brasileiro. Grande parte desses testes concluiu que a estrutura de mercado é imperfeita, com um grau razoável de concorrência (Rocha, 2007). Assim, os altos spreads verificados poderiam ser explicados por algumas especificidades do setor, sendo que as principais são informação assimétrica, fidelização de clientes, custos de transferência (switching costs), rendas informacionais, risco moral e seleção adversa (Nakane, 2005). 40 As assimetrias informacionais, devido à heterogeneidade dos clientes, criam nichos de atuação, que permitem que os bancos se protejam da concorrência e pratiquem políticas de preços distintas (Ferreira e Farina, 2005). Essa assimetria de informações também eleva os custos de transferência para os clientes, criando efeitos lock-in1 e possibilitando a obtenção de rendas informacionais (Nakane, 2005). Apesar de alguns avanços realizados no Brasil para minimizar esses efeitos, alguns entraves ainda permanecem, como a limitação da portabilidade de cadastro, as altas tarifas de encerramento de conta e outros fatores que ainda contribuem para aumentar o custo de saída (Martinez, 2008). Dessa forma, medidas como portabilidade de informações, cadastro positivo e a criação da conta-salário são importantes para reduzir os efeitos dos custos de transferência e de seleção adversa. Evolução do sistema financeiro brasileiro. Esta seção buscará delinear a evolução do sistema financeiro brasileiro, desde o período colonial até as relevantes alterações ocorridas na década de 90. Do período colonial até a criação do primeiro banco no Brasil, houve baixa entrada de capital estrangeiro e escassez monetária. Nesse período, havia grande dificuldade de transformar a riqueza em moeda, devido à sua escassez, predominando o escambo. Dessa forma, o sistema monetário brasileiro nesse período era composto, principalmente, de açúcar e escravos, em substituição à moeda metálica. O período de 1808 até 1914 pode ser caracterizado como de abertura financeira e de grande endividamento externo, sendo marcado pela criação, em 12 de outubro de 1808, do primeiro banco do país. O 1 Devido aos altos custos em que incorrem os clientes para trocar de banco. Banco do Brasil foi viabilizado pela vinda de D. João VI e da família real, que promoveram a abertura dos portos e acordos comerciais com a Europa e as colônias. As atividades do banco foram iniciadas em 1809; entretanto, a instituição foi fechada em 1829, devido ao prejuízo obtido com as exportações e à volta de D. João VI a Portugal, levando grande parte do lastro metálico depositado. 41 O segundo Banco do Brasil foi criado em 1833, mas não conseguiu integralizar o capital para a sua instalação. Em 1836, foi criado o primeiro banco comercial privado, o Banco do Ceará, que encerrou suas atividades em 1839. Em 1851, foi fundado o terceiro Banco do Brasil, de controle privado, o qual, em 1853, uniu-se com o Banco Comercial do Rio de Janeiro, instituição criada em 1838. Essa fusão, a primeira do país, originou o quarto Banco do Brasil.2 Em 1863, foram instalados no país os primeiros bancos estrangeiros: o London & Brazilian Bank e o The Brazilian and Portuguese Bank, ambos sediados no Rio de Janeiro. Nesse período, o sistema bancário ainda não estava plenamente constituído, contando com a presença de bancos isolados. Estavam ausentes no sistema bancário brasileiro uma rede de agências bancárias integradas, uma câmara de compensação que permitisse a expansão da emissão de cheques, bem como uma carteira de redesconto para amenizar as situações de crise de liquidez. Dessa forma, a criação endógena de moeda bancária pelas forças de mercado estava prejudicada. Os bancos estrangeiros eram predominantes, estando voltados principalmente para os empréstimos comerciais – com preferência pela manutenção de altos níveis de ativos de curto prazo – e para as operações cambiais – por meio do financiamento ao comércio exterior, da especulação cambial e da atuação desses bancos como agentes de empréstimos externos na emissão de dívida pública no mercado internacional. O Banco do Brasil atual foi originado em 1906, resultado da fusão do Banco do Brasil de 1853 ao Banco da República do Brasil (Decreto no 1.455, de 30/12/1905). Pela maior lucratividade e segurança dos empréstimos comerciais e das operações cambiais, em relação às demais operações existentes na economia nesse período. Para o mercado interno ou para a agricultura, pouco capital era alocado, já que a rentabilidade era menor e o risco era muito maior. As operações domésticas eram realizadas, principalmente, pelos bancos nacionais, públicos e privados (Rocha, 2002). O encerramento dessa fase é caracterizado pelo fechamento da economia em âmbito internacional, devido à Primeira Guerra Mundial, e pela fuga das reservas em ouro. A partir da década de 20, inicia-se um processo de nacionalização e fortalecimento do sistema bancário, que se estende até 1964. 42 Esse período é caracterizado por uma queda nos empréstimos externos (exceto na década de 1920), por progressos importantes em relação ao desenvolvimento de mecanismos de financiamento interno e pelo estabelecimento de um sistema bancário efetivamente nacional. No início desse período, havia uma relevante participação dos bancos estrangeiros, que eram responsáveis por cerca de 45% dos empréstimos e depósitos do sistema bancário, controlando, como vimos, o financiamento de curto prazo do comércio exterior e o mercado de câmbio. O crédito às atividades econômicas internas, entretanto, era relativamente baixo, dadas as condições favoráveis do crédito em nível internacional. No âmbito do processo de nacionalização do sistema bancário, a Lei Bancária de 1921 criou a Inspetoria Geral dos Bancos e limitou as atividades dos bancos estrangeiros, cuja participação em depósitos e empréstimos decresceu ao longo do período 1920-1945, representando, em 1945, 7% e 5% respectivamente (Costa e De Deos, 2002). Naquele mesmo ano foi aprovado o regulamento para a fiscalização dos bancos e das casas bancárias e, em 1934, foram criadas as Caixas Econômicas Federais. A expansão da rede bancária doméstica e dos depósitos bancários, ocorrida no período, permitiu o retorno dos recursos emprestados ao sistema bancário. As Constituições de 1934 e de 1937 determinaram a nacionalização dos bancos estrangeiros e proibiram a posse de bancos no Brasil por não residentes. A Constituição de 1946, por sua vez, permitiu o livre acesso dos bancos estrangeiros ao sistema financeiro nacional, não fazendo distinção entre bancos nacionais e bancos estrangeiros. A participação estrangeira, entretanto, ficou muito reduzida até os anos 60. Efetivamente, no período 1946-60, apenas sete bancos estrangeiros ingressaram no país (Corazza, 2001). Em 1945, foi criada a Superintendência da Moeda e do Crédito (Sumoc), que passou a ser responsável pelo controle do mercado
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