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1 Mercado Financeiro e de Capitais Globalizados Unidade I Prof. Cláudio Ditticio DITTICIO, Claudio Mercado Financeiro e de Capitais Globalizado (livro-texto) / Cláudio Ditticio. São Paulo: São Paulo: Pós-Graduação Lato Sensu UNIP, 2019. 125 p. : il. 1. Economia. 2. Mercado de capitais. 3. Mercado financeiro. I. DITTICIO, Claudio. II. Pós-Graduação Lato Sensu UNIP. III. Título. APRESENTAÇÃO DO PROFESSOR-AUTOR Claudio Ditticio é graduado em Economia pela Universidade de São Paulo e Mestre em Economia Política pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Participou de cursos de especialização em métodos quantitativos, banking, marketing, processos administrativos e operacionais, derivativos, avaliação de empresas e Tecnologia da Informação. Possui larga experiência profissional como administrador e diretor de instituições financeiras. Também atuou em consultoria de economia e de análise política. Foi professor e pesquisador da Escola de Contas do Tribunal de Contas do Município de São Paulo (TCM). Atua na Educação a Distância na UNIP como professor e coordenador do curso de Tecnologia em Gestão Pública, produzindo textos e ministrando aulas nos cursos de Gestão Pública, Gestão Financeira e Gestão de Agronegócios, nessa modalidade de ensino. É professor em Graduação e Pós-Graduação da UNIP nos cursos presenciais de Administração, Ciências Econômicas, Ciências Contábeis, Propaganda e Marketing, Engenharias Elétrica, da Computação, Mecatrônica e Mecânica, Gestão Financeira e Gestão de Comércio Exterior. SUMÁRIO 1. CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ECONOMIA...................................................................... 10 A escassez de recursos para o atendimento das necessidades ilimitadas dos agentes econômicos ................................................................................................................................................. 12 Fenômenos reais e fenômenos monetários .............................................................................. 12 O conceito de mercadorias ........................................................................................................ 14 Formação dos preços dos bens, serviços e fatores de produção numa economia baseada no livre funcionamento dos mercados ............................................................................................................. 14 Políticas macroeconômicas ....................................................................................................... 17 2. A MOEDA NO CONJUNTO DA ECONOMIA ............................................................................ 18 O que é a moeda? ..................................................................................................................... 18 As trocas sem moeda ................................................................................................................ 19 O lastro da moeda ..................................................................................................................... 20 As funções da moeda ................................................................................................................ 20 A oferta de moeda na economia ............................................................................................... 22 Meios de pagamentos ............................................................................................................... 23 Quase moedas .......................................................................................................................... 23 Títulos públicos ......................................................................................................................... 24 3. ORGANISMOS INTERNACIONAIS E CENTROS FINANCEIROS GLOBAIS .......................... 26 4. CARACTERÍSTICAS DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL (SFN) ..................................... 32 Breve história do SFN ............................................................................................................... 33 A intermediação financeira ........................................................................................................ 36 Estrutura do subsistema normativo do Sistema Financeiro Nacional ........................................ 37 Especificidades do subsistema normativo ................................................................................. 38 Conselho Monetário Nacional (CMN) ........................................................................................ 40 Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) ..................................................................... 41 Conselho Nacional de Previdência Complementar (CNPC) ...................................................... 42 Entidades supervisoras do SFN ................................................................................................ 42 Banco Central do Brasil (Bacen ou BCB) .................................................................................. 42 Comissão de Valores Mobiliários (CVM) ................................................................................... 44 Superintendência de Seguros Privados (Susep) ....................................................................... 45 Superintendência Nacional de Previdência Complementar (PREVIC) ...................................... 45 Banco do Brasil (BB) ................................................................................................................. 46 Caixa Econômica Federal (CEF) ............................................................................................... 47 Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ........................................ 47 Bancos de desenvolvimento regionais – Amazônia e Nordeste ................................................ 50 Secretaria do Tesouro Nacional (STN) ...................................................................................... 51 Subsistema recursal .................................................................................................................. 52 UNIDADE II ................................................................................................................................................. 56 5. SUBSISTEMA OPERATIVO ..................................................................................................... 56 Classificação dos mercados financeiros .................................................................................... 56 Mercado monetário.................................................................................................................... 57 Instituições bancárias e instituições não bancárias ................................................................... 58 Operações ativas e passivas ..................................................................................................... 61 Bancos comerciais e múltiplos .................................................................................................. 61 Depósitos à vista ou a prazo ..................................................................................................... 63 Intermediação com títulos públicos ........................................................................................... 64 Principais títulos da dívida interna ............................................................................................. 64 Principais títulos da dívida externa ............................................................................................ 66 Operações com a taxa CDI .......................................................................................................66 Negociações com precatórios ................................................................................................... 67 Mercado de crédito .................................................................................................................... 67 Créditos livres ou direcionados ................................................................................................. 68 Desconto de duplicatas e títulos ................................................................................................ 68 Contas garantidas ..................................................................................................................... 69 Créditos rotativos ...................................................................................................................... 70 Linhas de crédito com garantias de recebíveis ......................................................................... 70 Financiamento de tributos e tarifas públicas ............................................................................. 70 Empréstimos para capital de giro .............................................................................................. 71 Hot money ................................................................................................................................. 71 Vendor ....................................................................................................................................... 71 Compror .................................................................................................................................... 71 Export notes .............................................................................................................................. 71 Operações de intermediação financeira .................................................................................... 72 Intermediação das sociedades de crédito, financiamento e investimento (financeiras) ............ 72 Crédito pessoal ......................................................................................................................... 72 Crédito direto ao consumidor (CDC, CDCI e crédito diretíssimo) .............................................. 73 Operações de penhor ................................................................................................................ 74 Microcrédito ............................................................................................................................... 74 Empréstimos em consignação .................................................................................................. 74 Cessão de créditos .................................................................................................................... 75 Leasing (arrendamento mercantil) ............................................................................................. 75 Aval e fiança bancária ............................................................................................................... 77 6. MERCADOS DE CAPITAIS E DE DERIVATIVOS .................................................................... 78 Estrutura do mercado de capitais .............................................................................................. 80 Fundos de investimento ............................................................................................................ 82 Ações e bolsas de valores ......................................................................................................... 83 Valor de uma ação .................................................................................................................... 85 Ganhos, além dos dividendos ................................................................................................... 85 Colocação de ações no exterior ................................................................................................ 86 Mercado de debêntures ............................................................................................................. 86 Análise de ações ....................................................................................................................... 87 O underwriting ........................................................................................................................... 88 Mercado secundário (bolsas de valores e commodities) ........................................................... 90 Índices de bolsas (Brasil e exterior)........................................................................................... 91 O que são derivativos? .............................................................................................................. 92 Mercado de ouro ....................................................................................................................... 93 Mercado de câmbio ................................................................................................................... 94 Mercado a termo ....................................................................................................................... 96 Mercado de opções ................................................................................................................... 97 Formação dos preços das opções ............................................................................................ 99 A disponibilização das opções no mercado ............................................................................... 99 Posições no mercado de opções ............................................................................................ 100 Oferecimento de opções como benefícios para executivos e empregados de empresas ....... 102 Efeitos dos dividendos e bonificações durante a vigência da opção ....................................... 102 Cotações das opções em jornais e na mídia especializada .................................................... 103 O market maker ....................................................................................................................... 103 Estratégias com opções .......................................................................................................... 104 Compras e vendas de opções a descoberto ........................................................................... 105 Contratos de mercado futuro ................................................................................................... 105 Como são negociados os contratos de mercados futuros ....................................................... 106 Liquidação de contrato futuro .................................................................................................. 108 Comportamento dos preços no mercado futuro ...................................................................... 108 Mercados de swaps................................................................................................................. 109 7. TÓPICOS COMPLEMENTARES ............................................................................................ 111 Governança Corporativa, Acordo de Basileia e as regras prudenciais ................................... 111 Novo Mercado da Bolsa Brasileira .......................................................................................... 111 Mercado de Seguros e Previdência......................................................................................... 112 Fundos de pensão ................................................................................................................... 114 Mercado de financiamento rural .............................................................................................. 114 Título de capitalização .............................................................................................................117 Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB) ............................................................................... 117 Fundo Garantidor de Crédito (FGC) ........................................................................................ 118 REFERÊNCIAS ........................................................................................................................................ 120 INTRODUÇÃO Olá, aluno(a), Conhecer e atuar nos mercados financeiros é algo cada vez mais importante para todos que almejam o sucesso pessoal e profissional. Genericamente, classificamos como agente econômico todos os que participam da realidade econômica de uma região ou país: empresas que visam lucros em suas operações; famílias e indivíduos; organizações e entidades, ainda que sem finalidades lucrativas; unidades de governo; quem atua no relacionamento com os agentes externos, em tarefas como importação e exportação de bens e serviços. As transações entre esses agentes são intermediadas através dos mercados financeiros, representando troca entre moeda e títulos ou outros ativos. É praticamente impossível conceber um ambiente extenso e complexo de transações, como os das nossas sociedades atuais, sem a presença do intermediário financeiro e, naturalmente, da moeda. Como poderiam ser feitas as trocas entre eles dos diferentes tipos de bens e ativos? É dessa intermediação que trataremos neste livro-texto, considerando seu dinamismo e crescimento. Trata-se de entendermos o que precisamos conhecer e praticar para obter resultados no sistema econômico em que estamos inseridos. E, claro, procurarmos meios que permitam um desenvolvimento sustentável, sem inviabilizar as futuras gerações. Preservar o meio ambiente é algo que está no topo de nossas preocupações. Assim, as escolhas que temos de fazer devem levar em conta um conjunto imenso de fatores, e não somente lucros ou vantagens financeiras. Iniciaremos nosso livro tratando de conceitos fundamentais da economia e, que, obviamente, afetam o desenvolvimento dos mercados financeiros. Em que a introdução da moeda alterou o panorama de oportunidades oferecido por esses mercados e sua miríade de produtos e serviços? Abordaremos os vários tipos de mercados, com suas especificações, oportunidades e riscos. Ao definirmos a estrutura do Sistema Financeiro Nacional (SFN), veremos o quanto é diversificado e quais são as oportunidades de nele nos inserir. Trataremos de forma global e conceitual o sistema e os mercados, o que nos leva a considerar, também, as instituições, os centros financeiros internacionais. As informações relacionadas com detalhes de produtos e serviços (prazos, taxas, restrições etc.) são disponibilizadas em literatura especializada e nos sites das instituições financeiras, como é o caso da B3, no que tange ao mercado de capitais, principalmente de ações e debêntures. No primeiro capítulo, abordaremos os conceitos básicos de economia, que conduzem ao melhor entendimento dos mercados. Destacaremos, de maneira resumida, as políticas macroeconômicas, com maior ênfase para a monetária, utilizadas pelo governo para o controle das variáveis que afetam a economia do País. Abordaremos, também, as instituições e os centros financeiros globais. O segundo capítulo será reservado aos aspectos relacionados à influência e à evolução da moeda nas transações realizadas pelos agentes econômicos. Para que a moeda é necessária? O que ela afeta em termos de outras importantes variáveis, como o produto do País, a taxa de juros etc.? No terceiro capítulo, trataremos das instituições e centros financeiros globais. O quarto capítulo deste volume apresenta as características do SFN e as instituições e funções primordiais do Subsistema Normativo. O capítulo 5 tratará dos mercados monetários, reservando-se o 6 para os mercados de crédito. Reservamos o capítulo 7 para os mercados de capitais e de derivativos. Também nesse momento, discutiremos aspectos relacionados com mercados de câmbio, ouro e financiamentos rurais. Verificaremos a importância dos derivativos para a mitigação de riscos e proteção às atividades de importantes setores econômicos, como os do agronegócio (produção de alimentos e energia). Sandroni (1999, p. 532-533) define riscos como: Situação em que, partindo-se de determinado conjunto de ações, vários resultados são possíveis e as probabilidades de cada um acontecer são conhecidas. Quando tais probabilidades são desconhecidas, a situação denomina-se incerteza. Em sentido mais concreto, é a condição de um investidor, ante as possibilidades de perder ou ganhar dinheiro. Os juros ou o lucro são explicados como recompensas recebidas pelo investidor por assumir determinado risco de incerteza econômica, relativa a eventualidades como modificações nas taxas de câmbio, recusa do produto pelo consumidor ou investimento numa atividade cujos resultados sejam negativos, isto é, revelem prejuízo (SANDRONI ,1999, p. 532-533). O último capítulo – 8 – abordará tópicos importantes, relacionados com os mercados de forma geral, como as questões de governança corporativa e prudenciais. É bastante extensa a bibliografia disponível sobre mercados financeiros e em língua portuguesa. Consulte-as, sempre que possível, para atualizar o conhecimento dos mercados e seus diversificados instrumentos. Traremos, também, sugestões de leitura ao longo deste livro-texto, que proporcionam muitos convites a essa pesquisa. É importante considerar a enorme interação desta disciplina com outras, como a própria Economia, a Administração Geral e Financeira e o Direito. Afinal, notícias relacionadas com o status e as perspectivas dos variados mercados estão constantemente presentes no nosso cotidiano, através da mídia imprensa, rádio, TV e, cada vez mais, sites na Internet. A globalização dos mercados e os recursos tecnológicos permitem que hoje se opere nos mercados (notadamente aos de ações) de outros países, praticamente durante as 24 horas do dia. 10 1. CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE ECONOMIA A intensificação dos processos de globalização tem afetado de forma muito significativa o porte e as características do Sistema Financeiro Nacional. Nas décadas de 1960 a 1980 (mais precisamente de 1964 a 1985), quando vigorava o regime militar, foram promulgadas leis fundamentais para a constituição das instituições e a operação dos mercados, com destaque para: Lei n.º 4.595 do Sistema Financeiro Nacional, em 31 de dezembro de 1964; Lei n.º 4.728 do Mercado de Capitais, de 14 de julho de 1965; Lei n.º 6.404 das Sociedades Anônimas (SAs), de 15 de dezembro de 1976. Com igual nível de importância e como componente significativa do esforço de modernização e de maior responsabilização fiscal e financeira do País, foi criada em 4 de maio de 2000 a Lei Complementar 101 (Lei de Responsabilidade Fiscal). Ela pode ser entendida como um código de conduta para a atuação dos administradores públicos em todo o País, com o estabelecimento de normas e limites de responsabilidades financeiras e a prática da accountability no setor público. Compreender e participar dessa evolução é crucial para a nossa própria participação na economia e na sociedade e, obviamente, para nosso sucesso profissional e pessoal. Ademais, há certo consenso de que a pujança da economia de um país guarda relação direta com o seu sistema financeiro. Os mercados financeiros – mercados de dinheiro – podem ser reconhecidos como a área geográfica ou eventual (econômica) em que ocorrem as transferências de bens, serviços ou recursos financeiros via negociações conduzidas por intermediários/instituições financeiras, chegando a preços que determinam sua escassez e disponibilidade relativa. Os mercados financeiros fazem a “ponte” entre os agentes deficitários (que precisam de recursos financeiros para suportarsuas operações, sejam de produção, consumo ou investimento) e os superavitários (que deles dispõem em necessidade superior às suas necessidades). Quando se trata de mercados financeiros, logo surgem as lembranças de crises de crédito, bancárias, que afetam não só a economia do país como de outros. Recordamo-nos da crise de 2008/2009, surgida a partir das operações realizadas na bolsa de valores de Nova York (Wall Street), tendo como “pano de fundo” as dificuldades verificadas no mercado imobiliário dos Estados Unidos. Os bancos americanos tinham descoberto como plantar dinheiro. O sistema bancário em si, já é lucrativo o bastante: nenhum negócio tem tanto potencial de lucro quanto emprestar dinheiro que não é seu e cobrar juros por isso. Só que o risco de calote é sempre razoável. E tomar calote depois de ter emprestado dinheiro dos outros é indigesto, até para Bancos. Mas e se alguém descobrisse um jeito de continuar lucrando no mercado de empréstimos sem correr esse risco? (VERSIGNASSI, 2011). http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/lcp/Lcp101.htm 11 É assim que Farhi e Cintra (2009, p. 274) iniciam a análise sobre a arquitetura do sistema financeiro internacional contemporâneo: A crise financeira iniciada nos Estados Unidos, em meados de 2007, em decorrência da forte elevação da inadimplência e da desvalorização dos ativos associados com hipotecas de alto risco (subprime), tem renovado os questionamentos sobre a arquitetura contemporânea do sistema financeiro americano e internacional, seus potenciais riscos sistêmicos e seus mecanismos de supervisão e regulação. Essa arquitetura específica transformou uma crise de crédito clássica em uma crise financeira e bancária de grandes proporções (FARHI e CINTRA, 2009, p. 274). Várias outras crises “agitaram” o mundo financeiro, partindo-se, por exemplo, da famosa Febre das Tulipas na Holanda do século XVII. De forma bem resumida, no mundo mais recente podemos classificar, além de 2008, as crises de 1929 (a maior de todas, que determinou mudanças significativas na própria política econômica) e, também, a de 1870, em plena evolução do Capitalismo Industrial. A solução apontada para tais crises conduz à implantação de novos regulamentos e controles sobre os instrumentos financeiros, para reduzir a liberdade de atuação dos mercados. Mas, amparadas pelo avanço extraordinário da tecnologia da informação e comunicação (TIC), as inovações continuam em marcha acelerada na composição dos mercados e dos produtos financeiros. Neste final da segunda década do século XXI, comenta-se a respeito do crescimento exponencial da utilização de moedas virtuais (bitcoin e outras) ou as fintechs, empresas virtuais que permitem a realização de serviços financeiros via computador, tablets, celulares. Saiba mais O filme Trabalho Interno retrata a crise econômica mundial que custou as economias, os empregos e as residências de dezenas de milhares de pessoas em 2008. Premiado com o Oscar de melhor documentário de 2001. TRABALHO interno. Direção: Charles H. Ferguson. EUA. 2010. 108 minutos. 12 A escassez de recursos para o atendimento das necessidades ilimitadas dos agentes econômicos Esse conflito permeia o mundo em que vivemos, não só atual, mas em todo o passado e, provavelmente, no futuro, nos levando a escolher entre alternativas que melhor atendam a essas necessidades. Daí, por exemplo, a miríade de opções existentes nos mercados financeiros. Quanto mais conhecermos tais alternativas, melhor será a nossa capacidade de julgamento e da(s) escolha(s) que oferece(m) melhor atendimento às necessidades. Sandroni (1999, p. 153) define custo de oportunidade como: Conceito de custos utilizado por Marshall. Segundo esse conceito, os custos não devem ser considerados absolutos, mas iguais a uma segunda melhor oportunidade de benefícios não aproveitada. Ou seja, quando a decisão para as possibilidades de utilização de A exclui a escolha de um melhor B, podem- se considerar os benefícios não aproveitados decorrentes de B como opportunity costs, custos de oportunidade (SANDRONI, 1999, p. 153). Fenômenos reais e fenômenos monetários Um dos modelos mais estudados em economia é o do fluxo circular da renda, que representa a união tanto das movimentações reais (com bens físicos) quanto das financeiras, a partir das transações dos agentes econômicos nos mercados de bens e serviços e de fatores (ou recursos) de produção. Sua versão simplificada mostra as transações que ocorrem entre as famílias (indivíduos) e empresas. Estas encarregam-se da produção dos variados bens e serviços, cabendo às primeiras o seu consumo, pela ótica do mercado de bens e serviços. Esses dois agentes atuam, todavia, de forma inversa quando a análise é feita sob a ótica do mercado de fatores de produção. Neste caso, quem os oferece são os indivíduos/famílias que detêm a sua posse, enquanto o consumo fica a cargo das empresas, visando à produção dos bens e serviços transacionados na economia. Sandroni (1999, p. 235) define fatores de produção como: Elementos indispensáveis ao processo produtivo de bens materiais. Tradicionalmente, desde Say [economista da Escola Clássica], são considerados fatores de produção a terra (terras cultiváveis, florestas, minas), o homem (trabalho) e o capital (máquinas, equipamentos, instalações, matérias-primas). Atualmente, costuma-se incluir mais dois fatores: organização empresarial e o conjunto ciência/técnica (pesquisa). Há ainda os que consideram cada insumo um tipo particular de fator de produção. De modo geral, os fatores de produção são limitados e, por isso, eles se combinam de forma diferente conforme o local e a situação histórica. Por exemplo, o emprego de máquinas [até drones] na agricultura moderna diminui o peso específico do trabalho e mesmo da terra como fatores de produção, enquanto aumenta o peso do capital; já na agricultura escravista 13 ou extensiva, o peso maior encontra-se na terra e no trabalho, pois [nela] o emprego de instrumentos de produção (máquinas) e adubos é significativamente inferior ao dos dois primeiros fatores. Do mesmo modo, no período manufatureiro, a ênfase maior estava no trabalho, pois os meios de produção empregados eram ainda artesanais, ao contrário do que ocorre com o uso de tecnologia moderna, que minimiza o papel do trabalho no processo produtivo e enfatiza o do capital. A forma como estão distribuídos os fatores de produção tem particular importância na teoria dos preços dos fatores e na teoria dos custos de produção, sendo, portanto, fundamental na produtividade e rentabilidade da empresa. Por isso, a atenção do empresário deve recair num dimensionamento correto dos fatores fixos (máquinas, instalações) [e] dos fatores variáveis (matérias- primas e mão de obra) (SANDRONI, 1999, p. 235). Figura 1 – Fluxo circular da renda/riqueza em uma economia Essa figura mostra a interação de dois tipos de fluxos fundamentais, reais e monetários. O fluxo mais interno, no sentido anti-horário, exemplifica as trocas físicas entre bens e produtos versus fatores de produção. O mais externo (sentido horário) revela a transferência de valores monetários (de dinheiro) entre os agentes. No fluxo real, determinada família requer diversos itens para sua sobrevivência (como alimentos, vestuário e serviços em geral: água, gás, energia etc.), oferecidos pelas empresas no mercado de bens e serviços. 14 Observação Há uma boa literatura a respeito do que se conceitua como necessidades humanas e suas características. Maslow, um dos estudiosos atentos a essa questão, procurou hierarquizá-las, revelando desde as que considerava mais básicas e fundamentais, como as fisiológicas, até outras, relacionadas com segurança, de participação na sociedade. A satisfação dessas necessidades depende da obtenção de bens livres ou econômicos. Na primeira categoria,podemos enquadrar os bens disponíveis naturalmente, como a luz do sol. Os econômicos, de outra parte, são regulados pelo sistema de preços, vigente na economia. As empresas demandam o emprego de adquirir fatores de produção (terra, trabalho e capital), para poderem produzir os variados bens e serviços. A troca de determinado bem ou serviço ou de fator de produção requer o uso de moeda (dinheiro), o que ocorre com as interações reveladas pelos fluxos monetários. O conceito de mercadorias Os bens – e serviços – econômicos são classificados em diferentes tipos e categorias, conforme sua natureza, função, duração, podendo ser genericamente considerados como: de consumo, direcionados à satisfação das necessidades dos agentes econômicos; de capital, que auxiliam a produção de outros bens, finais, como é o caso dos diferentes tipos de insumos e matérias-primas, suprimento de energia etc. Genericamente, os bens e serviços, incluídos os que servem, basicamente, como moeda, denominam-se mercadorias, comercializadas no conjunto da economia. A moeda é uma mercadoria especial, com peculiaridades distintas dos outros bens de serviço, desempenhando funções fundamentais na economia. Formação dos preços dos bens, serviços e fatores de produção numa economia baseada no livre funcionamento dos mercados Isso é tarefa coberta pela atuação das forças da demanda e da oferta que sintetiza a intenção de compra e de venda, respectivamente, dos bens e serviços. 15 Figura 2 – Gráfico: curva de demanda de bens e serviços Para a teoria neoclássica, que é a principal corrente teórica econômica, notadamente quando se procura entender o funcionamento da economia e da sociedade sob a ótica do sistema capitalista, a curva de demanda indica as quantidades procuradas (isto é, aquilo que se deseja consumir) pelos agentes econômicos, dos respectivos bens e serviços. Tal relação é inversa, já que, de forma global, quanto maiores forem os preços desses bens, menor será a quantidade demandada. A curva de oferta, por outro lado, mostra as quantidades que os agentes econômicos desejam oferecer/produzir, dos respectivos bens e serviços. Neste caso, o relacionamento é direto, uma vez que quanto maiores forem os preços em vigor no mercado, maiores também serão as quantidades ofertadas (ou seja, aquilo que se deseja produzir/vender), como representado no gráfico, a seguir: 16 Figura 3 – Gráfico: curva de oferta de bens e serviços É exatamente no cruzamento dessas duas curvas que ocorrerá o equilíbrio (preço e quantidade negociada) para o bem ou conjunto de bens e serviços: Figura 4 – Formação do preço conforme os comportamentos das curvas de demanda e oferta dos variados bens e serviços disponíveis na economia É nesse ponto de equilíbrio que são efetivamente realizadas as transações, de compra e de venda, dos agentes econômicos. Em outros pontos desse gráfico, haverá movimentações de preços, para cima ou para baixo, até que o equilíbrio seja restabelecido. Isso ocorre, também, para o caso da moeda, nacional ou estrangeira, e para cada um dos variados instrumentos (títulos) negociados nos diferentes mercados financeiros. 17 Políticas macroeconômicas No conjunto das políticas públicas, a cargo das diferentes instâncias governamentais (União, estados e municípios), destacam-se as macroeconômicas do governo que visam orientar e estabelecer diretrizes globais para o funcionamento dos mercados, como: Política fiscal: concebida e executada a partir das decisões sobre o volume e o tipo da arrecadação (cobrança de tributos, principalmente) e dos gastos do governo, seja em bens de consumo, seja de investimento. Política monetária: focada nas decisões sobre o volume de moeda necessário para a atuação dos agentes na economia e do comportamento e nível de outros fatores, indicadores de grande importância, como a taxa de juros, o crédito etc. Política cambial e comercial: materializadas pela atuação do governo para a obtenção de um nível adequado da taxa de câmbio (da relação entre a moeda nacional e a externa) e a adoção de medidas para desenvolver de forma harmônica o comércio externo do País com outros países. Tais medidas são de ordem monetária, fiscal ou qualitativa, como a imposição de tarifas, taxas ou controles e barreiras a determinadas importações. Política de rendas: interfere na formação dos preços e salários, visando ao desenvolvimento econômico; entre elas, destacam-se as direcionadas a cobrir necessidades de natureza social, como é o caso do Bolsa Família. 18 2. A MOEDA NO CONJUNTO DA ECONOMIA Este livro-texto aborda os mercados e as questões financeiras e, assim, nada mais natural do que nos determos, mais de perto, no estudo das funções desempenhadas pela moeda na economia. A moeda propicia o processo de intermediação financeira entre os agentes econômicos. Substitui o escambo, que é um processo de troca direta de bens e serviços e que apresenta enormes dificuldades para operação, notadamente num mundo cada vez mais dinâmico e com grande número de participantes/agentes. A evolução da moeda, ao longo do tempo, pode ser desdobrada no que poderíamos denominar de Eras: da troca de mercadorias; da intermediação com a mercadoria moeda; do uso da moeda metálica; da disseminação da moeda papel; da utilização da moeda escritural. O que é a moeda? A moeda é, na verdade, uma mercadoria como qualquer outra, no conjunto da economia de um país e, para ela, valem todos os conceitos econômicos estudados para os variados tipos de bens e serviços. Seu preço, assim, é determinado pela conjunção das forças da sua oferta e demanda. Quando se estuda a moeda do próprio país (no nosso caso, o Real), constata-se que o seu preço é medido pela taxa de juros em vigor na economia. Pagam-se juros para se obter moeda (através, por exemplo, de um empréstimo feito em instituição financeira). E, recebe-se juros quando se obtém o crédito pela devolução desse empréstimo. Se a moeda é externa, como é o caso do dólar norte-americano, o seu preço é definido pela taxa de câmbio. Observações No Brasil, a taxa de câmbio quantifica quanto, em reais, precisam ser despendidos para a aquisição de uma unidade de moeda estrangeira, isto é: $ _ 1 $) R Taxa câmbio US Se essa taxa for 3,90 R$/US$, serão necessários 3 reais e 90 centavos para se adquirir, no nosso mercado financeiro, um dólar norte-americano. 19 Naturalmente, valem para a moeda as mesmas considerações quanto à escassez. Ela faz o papel de intermediária de todas as transações numa economia. Seria algo como um equivalente geral, para os demais bens e serviços. Para se adquirir determinado bem ou serviço, deve-se, desta forma, entregar uma quantidade equivalente em moeda. E, quando se vende determinado bem ou serviço, espera-se receber uma quantidade equivalente em moeda. Como indica Assaf Neto (2011, p. 9): “O uso da moeda viabiliza o funcionamento de toda a economia […] os bens e serviços a serem produzidos de maneira a satisfazer aos desejos de demanda de vários agentes”. Saiba mais O conjunto de livros a seguir apresenta um panorama da evolução do mundo e das finanças desde os tempos antigos até a crise de 2007/8, mostrando como o dinheiro moldou o caminho do desenvolvimento humano, como nosso complexo intermediário atual evoluiu através dos séculos e como a mecânica desse sistema econômico global trabalha para criar riquezas aparentemente sem limites – ou perdas catastróficas. Para se aprofundar sobre como chegamos ao estágio atual da moeda, recomendamos: FERGUNSON, N. A ascensão do dinheiro: a história financeira do mundo. 2. ed. São Paulo: Planeta, 2007. FERGUNSON, N. Civilização: Ocidente × Oriente. 2. ed. São Paulo: Planeta, 2007. FERGUNSON, N. Império: como os britânicos fizeram o mundo moderno.2. ed. São Paulo: Planeta, 2007. As trocas sem moeda Anteriormente à existência da moeda, as trocas de bens entre os agentes econômicos eram diretas (uns pelos outros). Havia a obrigatoriedade de coincidência de desejos, quanto ao que se queria negociar/trocar com relação aos variados bens e serviços. Se eu tivesse, por exemplo, a propriedade de um bem X e quisesse trocar por um outro, Y, teria, antes de mais nada, que encontrar alguém que pretendesse o contrário. Resolvido esse primeiro impasse, haveria a questão da divisibilidade dos bens. Mesmo que houvesse uma concordância quanto à proporção entre esses dois bens, como poderia ser feita a troca? Essas questões são inimagináveis no mundo atual, quando se compara a miríade de bens e serviços e de agentes transacionando nos mercados, ainda que locais. A moeda surgiu, pois, como uma mercadoria que, aceita de forma geral, poderia realizar essa transação. As trocas, portanto, são indiretas. Quem quiser adquirir um bem X, paga o dinheiro que ele vale no mercado. E vende o bem Y por quanto este vale, em moedas. Determinada mercadoria somente poderia ser classificada como moeda se tivesse aceitação pela comunidade. Ao longo do tempo, várias mercadorias 20 desempenharam o papel de moeda na economia, como, por exemplo, o sal, que originou o termo salário, utilizado para expressar o valor periódico do trabalho humano (mais especificamente, os dos soldados romanos). A evolução foi grande, até chegarmos aos metais preciosos, notadamente ouro e prata, de maior resistência, escassez e divisibilidade. O lastro da moeda Originalmente, a moeda possuía um lastro em metais, principalmente em ouro, e somente seria emitida se pudesse ser amparada pelo equivalente no metal como reserva, permitindo, assim, sua total conversibilidade. Nos dias atuais, esse requerimento não mais existe, sendo substituído pela chamada moeda legal, assim definida por Sandroni (1999, p. 408): “moeda emitida pelas autoridades monetárias de um país e que circula nesse país com curso forçado, isto é, por força de lei, e não pode ser recusada para efetuar pagamentos”. Verifica-se, então, que a evolução do sistema financeiro, em todo o mundo, está transformando o ouro em alternativa de investimento em mercadoria. Salienta Assaf Neto (2015, p. 10): […] o metal ouro não se apresenta como a melhor opção de investimento, sendo sua demanda prevista mais centrada no fascínio de seu brilho, determinado pelas indústrias de joias…as pessoas podem adquirir longa série de diferentes ativos como formas atraentes de investimentos, tais como títulos de renda fixa, ações, os sofisticados derivativos, moedas estrangeiras, entre outros. O investimento em ouro no mundo globalizado e de livre mercado somente se justifica se todo o sistema financeiro desmoronar, tornando o metal o único refúgio do colapso da economia (ASSAF NETO, 2015, p. 10). As funções da moeda Junto a sua condição de equivalente universal dos variados bens e serviços, podemos identificar outros motivos básicos para a manutenção de moeda: ser uma reserva de valor, para operações futuras; ser utilizada como unidade de conta. O primeiro motivo visa possibilitar a aquisição de bens e serviços, no futuro e, naturalmente, seu valor precisará ser estável. 21 Observação A estabilidade do valor da moeda guarda relação direta com a não ocorrência de inflação, cujo fenômeno é entendido como o crescimento continuado e generalizado dos preços das mercadorias transacionadas na economia, entre diferentes períodos. E, como reserva de valor, a moeda serve como proteção dos agentes econômicos quanto a eventuais ocorrências ou problemas futuros. E, igualmente, objetivam a materialização de planejamentos anteriores a respeito de gastos previstos para o futuro. Como salienta Assaf Neto (2011, p. 9): Outra função da moeda é que serve como reserva de valor, permitindo que os agentes econômicos mantenham seus patrimônios para uso posterior. Essa função atribui à moeda liquidez absoluta, possibilitando sua conversibilidade imediata em qualquer outro ativo (financeiro ou real). Essa característica, no entanto, é prejudicada em ambiente de inflação, que corrói o poder de compra da moeda pela elevação dos preços dos bens e serviços (ASSAF NETO, 2011, p. 9). Podemos identificar as ocorrências e excessos de liquidez na economia, como: excesso: disponibilidade de moeda é maior do que o crescimento real, podendo gerar inflação; carência: dificuldades para a realização das transações, com queda do PIB do país. A função de unidade de conta revela a possibilidade de medição de bens e serviços com características e tipos diversos, com relação a tamanho, por exemplo, e diferentes medidas. Assim, com a moeda, é possível a comparação de um conjunto de valores das mercadorias. Será possível somar a riqueza representada pelos tipos mais diferentes de bens, como casas, carros, dinheiro etc., somando-se os seus equivalentes em moeda. É o que ocorre quando apuramos, por exemplo, o PIB de uma economia. Observações O Produto Interno Bruto (PIB) mede os valores totais, em determinado período (normalmente, um ano) dos bens e serviços produzidos por agentes econômicos, nacionais ou estrangeiros, no respectivo país. 22 Tratamos das razões que nos fazem demandar/procurar moeda. Mas o que dizer de sua oferta? Quem é responsável por isso? A oferta de moeda na economia Antes de discutirmos esse assunto, apresentamos outra classificação adotada para a moeda, que a admite como física ou escritural. A moeda física é a composta por cédulas de papel ou moedas metálicas. O monopólio de sua produção é do Banco Central, através da Casa da Moeda. Temos, também, a moeda escritural, constituída por registros contábeis e financeiros, escriturados em computadores normalmente, como é o caso do total de depósitos em conta-corrente aberta em banco. Sua multiplicação na economia é feita a partir dos próprios bancos, à medida que emprestam os valores confiados a sua guarda pelos clientes, configurando o efeito do chamado multiplicador bancário. A uma reserva voluntária/de segurança, o Banco deve acrescentar o correspondente a outro total, determinado pelas autoridades monetárias do país (por exemplo, o Banco Central), denominado depósito compulsório, e que equivalha, também, a 10% do que for depositado pelos clientes (R$ 100,00, em cada caso). Respeitadas essas reservas, mantidas por decisão das entidades governamentais ou das direções dos próprios bancos, parte dos valores depositados nestas instituições transforma-se em empréstimos, aumentando, assim, a disponibilidade de dinheiro, para uso dos agentes econômicos. É certo que nem todas as instituições financeiras poderão realizar essa “criação” de moeda, já que precisarão estar autorizadas a realizar empréstimos com base em depósitos anteriormente recebidos de seus clientes. Veremos isso, em mais detalhes, quando abordarmos as funções e atividades das instituições financeiras, classificadas como bancárias. A constituição de reservas obrigatórias pelos bancos, que os impede de utilizá- las na concessão de empréstimos, constitui o Depósito Compulsório, uma medida cujo objetivo é, também, regular a quantidade de moeda à disposição dos agentes econômicos para realizar suas transações. Tenta prevenir a ocorrência de inflação e, num outro sentido, pretende incentivar a correção de movimentos depressivos na economia. Com esse objetivo, o Banco Central, se aumentar a taxa dessa reserva, irá dificultar a concessão de empréstimos pelos bancos e, consequentemente, a maior multiplicação de moeda. No sentido contrário, com a diminuição da taxa, será possível a existência de maior volume de empréstimos e, consequentemente, maior criação de moeda na economia, à disposição dos agentes econômicos. Essa função de política monetáriaé independente da que visa garantir maior segurança das transações na economia, evitando-se problemas de falta de liquidez pelos bancos participantes do sistema. Afinal, cabe a eles honrar os depósitos 23 efetuados pelos seus clientes, resgatando-os quando estes forem fazer saques nos bancos. Sandroni (1999, p. 350) define liquidez como: Disponibilidade em moeda corrente, meios de pagamento, ou posse de títulos, ou valores conversíveis rapidamente em dinheiro. Dependendo do tipo de aplicação financeira, a liquidez pode ser maior ou menor, sendo inversamente proporcional aos prazos em que as aplicações financeiras forem feitas: por exemplo, aplicações de longo prazo têm menor liquidez do que aplicações de curto prazo. A liquidez absoluta, no entanto, só é possuída pelo papel-moeda e a moeda metálica numa economia. Entre títulos ou aplicações com o mesmo prazo de vencimento, terão maior liquidez aqueles títulos que possam ser vendidos mais facilmente no mercado. Para uma empresa, a liquidez é representada pelo disponível (dinheiro em caixa mais títulos de mercado) e pelo realizável a curto prazo (mercadorias vendidas a prazos inferiores a seis meses, duplicatas e promissórias) (SANDRONI, 1999, p. 350). Meios de pagamentos É importante, pois, que a moeda seja disponibilizada aos usuários conforme as necessidades verificadas em cada momento na economia. Mas nem toda moeda emitida se encontra em circulação e, usualmente, uma parcela dela fica retida no próprio Banco Central. Com isso, se deduzirmos do total do que foi emitido, o saldo que ficou retido no caixa dos bancos e autoridades monetárias, chegaremos ao total da moeda em circulação (o chamado meio circulante). De forma a administrar e implementar políticas monetárias que influenciem no desenvolvimento da economia, as autoridades monetárias recorrem às variadas medições desse meio circulante. Os meios de pagamento representam, por exemplo, os haveres com liquidez imediata em poder do público, com exceção do que está depositado nos bancos onde mantém suas contas. De forma a administrar essa política, há vários níveis de medição desses meios de pagamentos à disposição dos agentes econômicos. Quase moedas Recebem essa designação os títulos de emissão do governo federal, ou ainda por instituições financeiras e empresas públicas, que sejam negociados no mercado por um valor menor do que o da sua emissão. Esse deságio está relacionado à longa maturidade do resgate ou até à inadimplência do emitente. Maturidade, de forma geral, refere-se à data de pagamento de uma obrigação financeira. Por outro lado, deságio é a diferença negativa entre o preço negociado de um título em relação ao seu valor nominal ou valor de face. 24 Assaf Neto (2011, p. 11), comentando acerca da utilização de “quase moedas” no Brasil, indica: Estes títulos podem ser utilizados para pagamentos de determinadas dívidas junto ao Governo Federal. Os “quase-moedas” foram também adquiridos por investidores estrangeiros interessados em participar das privatizações das companhias estatais brasileiras, ocorridas nas décadas de 1980 e 1990 […] como parte de pagamento. No caso brasileiro, podem ser classificados como “quase moedas” os títulos da dívida externa [brasileira}, títulos da dívida agrária (TDA), debêntures da Siderbrás (antiga holding estatal do setor siderúrgico, entre outros ativos não monetários (ASSAF NETO, 2011, p. 11). Muitos adotam o conceito de “quase moedas” para designar os ativos financeiros que pagam algum rendimento, são dotados de alto grau de liquidez e carregam um risco pequeno, sendo, usualmente, representados pelos títulos públicos, como os emitidos pelo Tesouro Nacional, os depósitos de poupança e outros. Títulos públicos O governo emite títulos para suprir suas necessidades de recursos para custeio e investimento, que suportam a política fiscal, anteriormente descrita neste livro-texto e que se constituem em alternativa de investimento financeiro para os agentes econômicos. Tais títulos permitem a execução da dívida pública via política fiscal do governo, financiando déficits estatais. As vendas de títulos públicos podem ser feitas em: Leilões de oferta pública. - No leilão formal, a negociação é feita no mercado primário. - O leilão informal ocorre quando há intervenção do Banco Central no mercado, visando ao atendimento às questões de política monetária. - O Banco Central intervém no mercado através dos dealers. Observação O dealer é um profissional ou empresa que atua no negócio de compra e venda de ações e outros papéis de investimentos por sua própria conta. Venda direta pelo governo. - Enquadra-se, neste caso, a alternativa de negociação via internet, notadamente com investidores pessoas físicas, denominada Tesouro Direto. - Emissões voltadas a atendimento a necessidades específicas previstas na legislação. 25 A atuação do Banco Central no mercado aberto é feita de forma definitiva ou em operações compromissadas (que contêm cláusulas que propiciem as recompras). É no mercado aberto (open market) que se concretiza o controle da liquidez monetária da economia, notadamente com base nas compras e vendas de títulos públicos. Com a venda de títulos públicos, o governo “enxuga” dinheiro em poder dos agentes econômicos, ocorrendo o contrário com as compras, permitindo, ainda que de forma indireta, que seja estabelecida a oferta de moeda na economia. No open market (mercado secundário, que abordaremos posteriormente neste livro-texto, quando tratarmos do mercado de capitais), operado exclusivamente pelas instituições financeiras, podem-se transferir os títulos adquiridos no leilão primário. Assaf Neto (2011, p. 63) esclarece: Quando o financiamento das instituições financeiras no mercado secundário se realiza por somente um dia – a instituição repassa os títulos públicos subscritos aos investidores com o compromisso de recomprá-los no dia seguinte –, a operação é conhecida por overnight (ASSAF NETO, 2011, p. 63). 26 3. ORGANISMOS INTERNACIONAIS E CENTROS FINANCEIROS GLOBAIS As primeiras organizações internacionais originaram-se das necessidades do mundo internacional durante o século XIX. Eram restritas a uma cooperação no domínio administrativo. Também conhecidas como organizações intergovernamentais, são criadas por países (estados soberanos), regidas por tratados, e buscam através da cooperação, a melhoria das condições econômicas, políticas e sociais dos associados. Atuam em conjunto, de forma cooperativa, para alcançar avanços econômicos, sociais e políticos para os países membros. Buscam soluções para a solução de conflitos de interesses entre os estados membros, estabelecem políticas de cooperação técnica, normas e parâmetros comuns e traçam estratégias para resolução de problemas como, por exemplo, guerras e conflitos militares. Fiscalizam, com base em órgãos específicos, o cumprimento das regras dos acordos. Organizam reuniões para a troca de experiências, definições de novas políticas ou determinação de objetivos. No conjunto dessas organizações, podem ser mencionadas: Organização das Nações Unidas (ONU) Visa, notadamente, à manutenção da paz mundial, respeito aos direitos humanos e o progresso social da humanidade. Organização dos Estados Americanos (OEA) Conta com a participação de 35 nações do continente americano e tem como objetivos principais a integração econômica, a segurança (combate ao terrorismo, tráfico de drogas e armas), combate à corrupção e o fortalecimento da democracia no continente. Organização Mundial do Comércio (OMC) Responsável pela legislação e acompanhamento das transações econômicas e comerciais realizadas entre diferentes países. Seu principal objetivo é promover a liberalização mundial do comércio, combatendo o protecionismo alfandegário, em que uma nação impõe elevadastarifas para produtos estrangeiros para favorecer a indústria local. Quando algum país tem algum tipo de problema ou entrave com outro, recorre à OMC como instância máxima para avaliar e julgar a questão/pendência. Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) 27 Tratado ou pacto militar que, inicialmente, congregava os principais países capitalistas e objetivava combater o socialismo, que também tinha o seu tratado militar (o Pacto de Varsóvia). Desde o final da Guerra Fria, seus objetivos se alteraram, tornando-se um instrumento militar das grandes potências a fim de intervir em conflitos armados em qualquer parte do mundo para assegurar direitos internacionais ou combater possíveis “ameaças” ao atual sistema internacional. Fundo Monetário Internacional (FMI) Responsável pela garantia da estabilidade econômica internacional, criada em 1944 na Conferência de Bretton Woods. Seu funcionamento se dá através do gerenciamento e concessão de empréstimo os aqueles países que o solicitam. Normalmente, o funding do FMI é fornecido pelos próprios países-membros e aqueles que mais contribuem são os que mais possuem poder de decisão. Para adquirir empréstimos, o país em questão deve atender a uma série de exigências, transformando suas economias internas e, geralmente, abrindo sua economia para o mercado estrangeiro. Banco Mundial (BIRD) Criado em 1945 na Conferência de Bretton Woods juntamente ao FMI, é uma organização financeira ligada à ONU, mas com autonomia própria. Seu objetivo original era conceder empréstimos aos países europeus afetados pela Segunda Guerra Mundial. Posteriormente, passou a ser conceder empréstimos a países carentes, da Ásia, África e Américas. Organização Internacional do Trabalho (OIT) Responsável por regulamentar, fiscalizar, estudar e avaliar as relações de trabalho em todo o mundo. É formada pelos governos de 182 países, além de representantes de empresas empregadoras e trabalhistas ou sindicais. Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) Seu objetivo é fomentar e incentivar ações de desenvolvimento econômico de seus países-membros, além de medidas que visem à ampliação de metas para o equilíbrio econômico mundial e melhorem as condições de vida e os índices de renda e emprego. O Brasil não é um membro dessa organização. 28 As organizações internacionais ganharam maior relevância, tanto em termos numéricos como no que se refere a sua atuação nas diversas áreas temáticas no cenário internacional. Certamente, com o recrudescimetno da globalização, notadamente a partir das duas últimas décadas do século passado, há que se considerar, também, a existência de oportunidades de aplicação de recursos financeiros fora do país, por exemplo, em cidades/locais especializados na prestação de serviços financeiros internacionais, a partir dos mercados e instituições lá presentes. Menciona Pinheiro (2007, p. 39): As instituições financeiras concentram-se em determinados centros devido aos poderosos fatores de atração que afetam a atividade de serviços financeiros, que resultam em uma concentração de prestadores de serviços financeiros (PINHEIRO, 2007, p. 39). Entre os centros financeiros globais, menciona-se: Londres (Reino Unido); Nova York (Estados Unidos da América); Tóquio (Japão); Singapura (Singapura); Xangai (China); São Paulo (Brasil). Em seguida, na hierarquia, estão os centros financeiros regionais internacionais, entre os quais destacam-se: Na Europa: - Amsterdã; - Frankfurt; - Luxemburgo; - Milão; - Paris; - Zurique. Na Ásia/Pacífico: - Hong Kong; - Singapura; 29 - Sydney; - Manila; - Seul; - Xangai; - Taipei. Na América do Norte: - Chicago; - Boston; - Los Angeles; - Toronto. Offshore: - Ilhas Cayman; - Bahamas; - Antilhas Holandesas. No conjunto dos locais com intensa movimentação financeira, situam-se, também, os chamados paraísos fiscais, isto é, os países ou regiões que adotam uma política “frouxa” no que tange à cobrança de impostos – com alíquotas baixas ou até inexistentes – para o capital que seja depositado em suas instituições financeiras. Além da abstenção fiscal, tais localidades costumam garantir o anonimato aos donos do dinheiro e, no caso de pessoas jurídicas, o sigilo da composição acionária das empresas. Usualmente, tais práticas ocorrem em microestados soberanos (muitas vezes, existentes apenas em caráter formal) ou dependências estrangeiras, como é o caso da América Latina, em pequenas ilhas do Caribe. A lista de territórios classificados como paraísos fiscais, no Caribe e América Central, apresenta exemplos em: Anguilla; Aruba; Bahamas; Barbados; Belize; Bermudas; Costa Rica; http://latinoamericana.wiki.br/verbetes/a/anguila http://latinoamericana.wiki.br/verbetes/a/aruba http://latinoamericana.wiki.br/verbetes/b/bahamas http://latinoamericana.wiki.br/verbetes/b/barbados http://latinoamericana.wiki.br/verbetes/b/belize http://latinoamericana.wiki.br/verbetes/b/bermudas http://latinoamericana.wiki.br/verbetes/c/costa-rica 30 Cayman; Panamá etc. A lista é bastante ampliada se incluirmos centros europeus e de outros continentes, mesmo de maior porte, que muitos autores também classificam como paraísos fiscais, como: Suíça; Mônaco; Luxemburgo; Hong Kong; Líbano; Alemanha; Emirados Árabes Unidos. Os paraísos fiscais funcionam como refúgio seguro para indivíduos e empresas que tentam burlar os fiscos nacionais. Muitas vezes, as empresas se instalam nessas zonas livres por meio da criação de uma companhia offshore, cujo processo de constituição costuma ser muito simples, visando apenas atrair o capital, sem a exigência de quaisquer outras garantias acerca de sua origem. Os paraísos fiscais são também espaços ideais para “alavancagem” de dinheiro obtido com atividades ilícitas, como o tráfico de drogas e armas, a corrupção política e o contrabando. A ampla garantia de sigilo profissional, comercial e bancário e o não questionamento acerca das origens do dinheiro depositado atraem toda a sorte de recursos ilegais. Não apenas os proprietários de dinheiro “sujo”, entretanto, buscam realizar operações financeiras nesses territórios. Grandes bancos e empresas multinacionais também neles atuam e as empresas ou bancos abrem subsidiárias para encobrir práticas comerciais ilegais ou fugir à tributação sobre os lucros – ocultando os reais cifras com base em complicadas manobras contábeis – nos seus respectivos países-sede. Quase sempre, apesar do objetivo desonesto básico – ludibriar o fisco nacional –, as operações têm caráter legal e são amparadas por brechas na legislação internacional. Infelizmente, os negócios ilícitos, além de serem tolerados, são, muitas vezes, estimulados pelos organismos supranacionais e governos das nações, que transformaram alguns de seus territórios coloniais em paraísos fiscais, identificando- os como modelos do capitalismo financeiro e associando-os às duas maiores praças internacionais, a de Londres e a de Nova York. O envolvimento dos serviços prestados pelos paraísos fiscais com o coração do sistema financeiro internacional, aliado a interesses poderosos de grandes empresas e pessoas físicas, explica por que esses estados não sofrem sanções mais duras da “comunidade internacional”. http://latinoamericana.wiki.br/verbetes/c/cayman-ilhas http://latinoamericana.wiki.br/verbetes/p/panama 31 Tratando-se ou não de paraísos fiscais, cumpre ressaltar que os mercados financeiros se concentram em centros especializados dadas as economias de escala e de aglomeração por eles oferecidas. Pinheiro (2007, p. 40) esclarece: Economias de escala ocorrem quando existe uma relação positiva enrte eficiência e tamanho do segmento de atividade em que as instituiçõesoperam, proporcionando maior eficiência, liquidez e menores custos de transação, além de menores falhas de mercado. As economias de aglomeração ocorrem em consequência da concentração de atividades complementares nos centros financeiros, aumentando a competitividade das instituições financeiras e tornando mais atraente a localização em dado centro. Quanto maior o centro, mais ampla e mais variada a concentração de atividades complementares (PINHEIRO, 2007, p. 40). Nova York supera em muito os demais centros, embora lá a maioria das transações seja de origem doméstica, e não internacional. O distrito financeiro de Nova York, Wall Street, foi criado em 1865, com o fim da Guerra Civil Americana, projetando-se, a partir da Primeira Guerra Mundial, como o principal mercado de capitais internacional. Depois da Segunda Guerra Mundial, o dólar norte-americano tornou-se a principal moeda internacional e Nova York se firmou como o principal local de transações internacionais, com, por exemplo, ações, hipotecas e títulos do tesouro norte-americano e de empresas privadas. As atividades da City iniciaram de maneira informal no século XVI e, na atualidade, lideram as transações bancárias internacionais, tanto em gestão de fundos quanto em termos de câmbio e empréstimos externos quanto no número de bancos estrangeiros lá situados. Comenta Pinheiro (2007, p. 43): “Apesar de ter sua posição de liderança abalada, após a Segunda Guerra Mundial, por New York, a City registrou uma notável recuperação com o início da década de [19]50, quando se tornou um centro de eurodólares”. Na década de 1970, o Japão iniciou o processo de liberalização financeira, e esse centro mundial foi incentivado pelas altas reservas financeiras do país e as baixas taxas de juros, que atraíram os estrangeiros. A partir de 1990, o centro foi afetado pela recessão da economia japonesa. 32 4. CARACTERÍSTICAS DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL (SFN) A partir deste tópico, iniciamos a abordagem das características e da estrutura do Sistema Financeiro Nacional (SFN), comentando, de início, sobre sua história recente e as instituições e operações. Vários autores dividem o SFN em dois subsistemas: normativo e operativo. Focaremos, primeiro, as entidades responsáveis pelo controle e a regulação dos diferentes mercados (monetário, de crédito, cambial e de capitais). Apresentaremos as características de cada mercado e de suas específicas entidades normativas. Do lado operativo, a tendência à concentração fez com que surgissem conglomerados financeiros, atuando em diferentes segmentos dos mercados financeiros, o que tende a reduzir bastante a participação das entidades menores, independentes. Considerando que há entidades que atuam tanto no segmento normativo quanto no operativo e dada a estreita inter-relação dos assuntos, mesmo nesta unidade, já serão mostrados tipos de operações a cargo das entidades. O objetivo global do SFN é a transferência de recursos financeiros dos agentes econômicos superavitários (aqueles que têm sobra de recursos financeiros) para os deficitários (a quem faltam recursos financeiros). Por seu intermédio, formula-se também e se executa a política de moeda e do crédito, visando ao progresso econômico e social do País. Cita Assaf Neto (p. 38): Todo o processo do desenvolvimento de uma economia exige a participação crescente de capitais, que são identificados por meio da poupança disponível em poder dos agentes econômicos e direcionados para os setores produtivos, carentes de recursos, mediante intermediários e instrumentos financeiros. E é em função desse processo de distribuição de recursos no mercado que se evidencia a função econômica e social do sistema financeiro (ASSAF NETO, p. 38). Vê-se na Lei de Reforma Bancária (em 1964) e na Lei do Mercado de Capitais (em 1965) a gestação do atual formato do SFN, tanto de capital público quanto privado. Seu órgão de maior autoridade é o Conselho Monetário Nacional (CMN), que rege todas as outras unidades do sistema. Nos últimos anos, porém, tem ocorrido a entrada nos mercados de empresas de menor porte, em início de atividades, quase sempre apoiadas maciçamente pelos novos avanços nas tecnologias da informação e comunicação. Menores custos, mais informalidade e muitas vezes relaxamento das exigências observadas em instituições “oficiais” são elementos que têm sido observados em instituições de qualquer segmento do mercado. 33 Uma grande preocupação com essas experiências reside nas possibilidades de inadimplência dos clientes. E, em muitos casos, após conseguirem ser bem entendidas, interessa às autoridades efetuar sobre elas algum tipo de regulamentação e controle sobre suas atuações. Breve história do SFN O início do nosso relato se dá com a criação, em 1808, do primeiro Banco do Brasil, coincidindo com a chegada da família real portuguesa ao Brasil, fugindo das tropas napoleônicas. Pinheiro (2007, p. 44) indica: “Como única instituição do gênero no País, ele [Banco do Brasil] passou a acumular, a partir de 1809, as funções de banco de depósitos, descontos e emissão [de moeda], gozando ainda do prestígio da venda dos produtos comercializados pela coroa”. Em 1831, foi constituída a primeira Caixa Econômica. Em 1833, foi criado o segundo Banco do Brasil, após o retorno de D. João VI a Portugal, levando ativos depositados na instituição. Em 1836, foi estabelecido o primeiro banco comercial privado no País: Banco do Ceará. Durante o Império, foram criados outros bancos comerciais e o terceiro Banco do Brasil em 1852. Em 1861, houve a fundação da Caixa Econômica da Corte Real (a atual Caixa Econômica Federal), por decreto assinado por D. Pedro II. Em 1863, surgiram os primeiros bancos estrangeiros: o London & Brazilian Bank e o The Brazilian and Portuguese Bank, sediados no Rio de Janeiro. Em 1906, ocorreu a fusão do Banco do Brasil com o Banco da República do Brasil, originando o atual Banco do Brasil. O Encilhamento, processo iniciado em 1889 que durou até 1891, determinou grave surto inflacionário. Começou em 1892 e perdurou até 1906, a contrarreforma, a qual, nos três primeiros anos, implementou um esforço de estabilização, relaxado nos dois anos seguintes. Saiba mais O Encilhamento Em 1920, é criada a Inspetoria Geral dos Bancos, para fiscalizar as instituições casas bancárias, e originou a criação, posteriormente, da Superintendência da Moeda e do Crédito (Sumoc). Em 1942, assiste-se à inauguração do Banco de Crédito da Borracha, hoje Banco da Amazônia S.A. (Basa), para o apoio financeiro da política do Governo Federal voltado ao desenvolvimento da Amazônia Legal. Também nesse ano, a Caixa de Mobilização e Fiscalização Bancária substituiu a Inspetoria Geral dos Bancos. 34 Surge, em 1945, a Superintendência da Moeda e do Crédito (Sumoc), visando o “controle do mercado monetário”, que recebeu do Banco do Brasil as funções da Carteira de Redesconto e da Carteira de Mobilização e Fiscalização Bancária. Em 1952, foi criado o BNDE, hoje BNDES, para financiar a longo prazo os empreendimentos que contribuam para o desenvolvimento do País. Ainda naquele ano, surgiu o Banco do Nordeste do Brasil (BNB), voltado ao desenvolvimento da região, a fim de combater os efeitos das constantes secas. No período entre 1959 e 1961, houve uma expansão dos bancos comerciais, fazendo com que ficasse cada vez mais complexo o controle das operações. Em 1964, foi oficializada a criação do Sistema Financeiro da Habitação (SFH) e do Banco Nacional da Habitação (BNH). O Conselho Monetário Nacional (CMN) assumiu a função normativa, cabendo ao novo Banco Central do Brasil substituir funções da Sumoc. Em 1969, surgiu o Sistema Integrado Regional de Compensação (SIRC), integrando praças localizadas em uma mesma região. Nos anos 1970, surgiu a Compensação de Recebimentos. Em 1983, a Compensação Nacional interligou todoo País. Em 1988, foi instituída a compensação eletrônica. Daí até o início da década de 1990 foram criadas diferentes instituições, como os chamados bancos múltiplos, englobando atividades antes segmentadas em instituições financeiras. A CEF tornou-se uma empresa pública e surgiram as caixas de liquidação Selic (para títulos públicos) e CETIP (para instrumentos privados). Pinheiro (2007, p. 44) comenta que as décadas de 1970 e 1980 são marcadas pela reserva de mercado, com a proibição de cartas patentes (1970), que controlavam as aberturas de novas agências. A partir dos anos 1980, verifica-se a intensificação do papel dos bancos privados como agentes financeiros do setor público (para todos os níveis da Federação), o que foi possível também pela redução da demanda por empréstimos dos demais agentes econômicos. No início dos anos 1990, constatava-se um grande número de instituições financeiras, tendo em vista o uso do floating, possibilitando altíssimos lucros com a chamada “ciranda financeira”. Nessa época, quanto maior a inflação, mais os depositantes transferiam o dinheiro nas agências bancárias, com o fito de se apropriar de ao menos parte da desvalorização dos recursos financeiros coberta pelos rendimentos em fundos de investimentos. Os bancos lucravam com a aplicação desses recursos, dada a diferença entre os juros recebidos e os que pagavam aos correntistas pelas suas aplicações. Em 1995 é autorizada a criação do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), na esteira das liquidações de alguns bancos de grande porte, procurando salvaguardar os recursos financeiros aplicados pelos agentes financeiros. Em 1996, foi criado o Comitê de Política Monetária (COPOM), para estabelecer diretrizes da política monetária e definir a meta da taxa SELIC e seu eventual viés e analisar o relatório de inflação. O Decreto n.º 3.088, de 21 de junho de 1999, introduziu a sistemática de “Metas para a Inflação” como diretriz para a fixação do regime de política monetária. 35 O ano de 2002 viu surgir o novo Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB), trazendo, entre outros, como novidade, a Transferência Eletrônica Disponível (TED), instrumento voltado à realização de transferência eletrônica de fundos entre os bancos, com liquidação sempre no mesmo dia. A partir de 2008, ressalta-se a criação da BM&F Bovespa e, depois, a junção dessa nova instituição com a CETIP, formando a B3. Com a estabilização macroeconômica, ocorreram várias mudanças no Sistema Financeiro Nacional. Era a hora de os bancos se acostumarem à nova era, inclusive pela eliminação dos ganhos com o float. Observação O float bancário caracteriza os ganhos dos bancos com a aplicação dos recursos financeiros livres, sem remuneração. Uma das inviabilidades passa a ser o número de agências por instituição, privilegiando-se cada vez mais a qualidade dos serviços prestados pelo banco. Vai diminuindo também, de forma crescente, o deslocamento dos clientes às agências, apoiados pelas novas tecnologias, como os caixas automáticos e a modalidade internet banking, que permitem a realização da maioria das operações, ao menos as mais comuns, de forma independente do contato pessoal com os profissionais/gerentes do banco. Tudo isso caracteriza um forte movimento pela redução dos custos dos bancos e diminuição do número de agências. De forma a socorrer as instituições, afetadas pela redução da inflação a partir do Plano Real, em 1994, e a estabilização da economia, o governo criou o Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional (Proer), com medidas como: criação de incentivos fiscais para a incorporação de instituições financeiras; geração de dificuldades para a constituição de novas instituições financeiras; incentivos para processos de fusão, incorporação e transferência de controle acionário nas instituições financeiras. No bojo do Proer, foi implementado um conjunto de procedimentos para a fiscalização e a regulamentação do setor bancário, como, por exemplo: aumento do poder de intervenção do Bacen; estabelecimento de responsabilidade penal dos controladores, ainda que não atuassem diretamente na administração das instituições financeiras; designação das responsabilidades das empresas de auditoria independente, em situações de anomalias observadas nas operações das instituições financeiras; alterações da legislação, propiciando a abertura de dependências no exterior. 36 O Proes acompanhou o Proer, mas com alcance junto às instituições financeiras do setor público. Desde a segunda metade dos anos 1990, ocorreram novas entradas de bancos estrangeiros no País. Pinheiro (2007, p. 46) comenta: A participação estrangeira nos ativos dos 20 maiores bancos privados nacionais apresentou um aumento de quase 50% só de 1997 para 1998. Toda essa movimentação levou a maior concentração do sistema, com a formação de grandes grupos, nacionais e estrangeiros (PINHEIRO, 2007, p. 46). A intermediação financeira A intermediação financeira, que é o grande mote do SFN, pressupõe a existência de agentes econômicos dispostos a trocar ativos monetários por financeiros, dados os riscos e retornos possíveis. Essa transferência contribui para que possam existir as condições adequadas à produção e ao consumo de bens e serviços. As instituições financeiras procuram contornar problemas como: falta de garantia nas operações; volume de necessidades de capital; prazo das operações; vários desejos e circunstâncias específicas dos poupadores e investidores. Os agentes possuem interesses diferentes quanto a prazos, taxas, volumes etc., o que dificulta o fechamento direto da transação entre eles. É preciso que seja constituído um agente intermediário que sirva de ponte entre eles, cujo papel é desempenhado pelos mercados, financeiro e de capitais. Os intermediários financeiros promovem a liquidez do mercado, ao viabilizarem captações e aplicações financeiras. Os principais benefícios trazidos pelas funções desempenhadas por estes são: intermediação dos interesses dos agentes econômicos; redução do risco de não pagamento pelo devedor; redução do risco, devido à especialização; definição mais clara do preço do dinheiro. 37 Estrutura do subsistema normativo do Sistema Financeiro Nacional Abreu & Silva (2017) apresentam uma classificação que subdivide os conjuntos normativo e operativo, possibilitando a identificação do segmento primordial de cada instituição. No subsistema normativo, além do órgão máximo – o Conselho Monetário Nacional (CMN) –, as entidades distribuem-se em: Órgãos controladores e supervisores – Bacen, CVM, SUSEP e PREVIC. Órgãos recursais – com os Conselhos de Recursos do SFN e do Sistema Nacional de Seguros Privados, Previdência Aberta e Capitalização (CRSNS) e Previdência Complementar (CRPC). Agentes especiais – Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Por outro lado, o subsistema Operativo é dividido em: Agentes especiais – Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, que também atuam no lado normativo do SFN. Instituições monetárias – Caixa Econômica Federal, bancos comerciais e múltiplos, cooperativas de crédito e bancos cooperativos. Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) – Caixa Econômica Federal, bancos múltiplos com carteira de crédito imobiliário, sociedades de crédito imobiliário (SCI) e associações de poupança e empréstimos (APE). Ainda Abreu e Silva (2017, p. 13) esclarecem: O Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) é composto pelas instituições financeiras que captam, entre outros meios, através de cadernetas de poupança e possuem destinação básica desses recursos para financiamentos habitacionais, bem como as operações de financiamento
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