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A EMPRESA E A IMPORTÂNCIA DA SUA GOVERNANÇA CORPORATIVA Professores: Dr. Oscar Ivan Prux Me. Mariane Helena Lopes DIREÇÃO Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Diretoria de Design Educacional Débora Leite Diretoria de Pós-graduação e Graduação Kátia Coelho Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho Head de Pós-graduação e Extensão Fellipe de Assis Zaremba Gerência de Produção de Conteúdos Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo Projeto Gráfico Thayla Guimarães Designer Educacional Lilian Vespa e Rossana Costa Giani Editoração Arthur Murilo Heicheberg e Ellen Jeane da SIlva Qualidade Textual Meyre Barbosa da Silva NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação - Cep 87050-900 Maringá - Paraná | unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; PRUX, Oscar Ivan; LOPES, Mariane Helena. Direito Empresarial, Governança Corporativa e Responsabilidade Social. Oscar Ivan Prux; Mariane Helena Lopes. Maringá-Pr.: UniCesumar, 2018. 62 p. “Pós-graduação Universo - EaD”. 1. Direito. 2. Social. 3. EaD. I. Título. CDD - 22 ed. 347 CIP - NBR 12899 - AACR/2 01 02 03 sumário 06| DIREITO DE EMPRESA 32| GOVERNANÇA CORPORATIVA, RESPONSABILIDADE E FUNÇÃO SOCIAL DA EMPRESA 12| PRINCÍPIOS DO DIREITO COMERCIAL OU EMPRESARIAL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Conhecimento das características da área empresarial. • Estudo e aprofundamento a respeito da teoria de empresa, suas caracte- rísticas e elementos. • Apresentar o conteúdo do que é e representa a governança corporativa empresarial e sua importância para o cumprimento dos princípios consti- tucionais, a responsabilidade social e função social da empresa. PLANO DE ESTUDO A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Direito de empresa • Princípios do direito empresarial ou comercial • Governança corporativa, responsabilidade e função social da empresa A EMPRESA E A IMPORTÂNCIA DA SUA GOVERNANÇA CORPORATIVA INTRODUÇÃO introdução Na última unidade desta disciplina, o objetivo é analisar os princípios específicos de direito empresarial e apresentar a importância das estruturas de governan- ça corporativa das empresas para que consigam cumprir sua função social. A matéria de Direito Empresarial é imensa, como será possível perceber ao longo do curso, quando dos estudos nas disciplinas específicas. Dessa forma, tratando-se de disciplina introdutória, é fundamental o estudo dos princípios de Direito Empresarial e de conteúdos relacionados com a boa governança cor- porativa, sobre a qual se pode afirmar que, até bem pouco tempo, não recebia maior importância no cenário nacional, seja por quem laborava com a econo- mia, seja por quem se dedicava ao direito. Entretanto a evolução do mercado mostrou a importância do cumprimento dos princípios constitucionais, e isso só pode ser viabilizado havendo uma estrutura de governança corporativa empresarial de alto nível, algo que não é simples e precisa ser bem planeja- do e executado. Passou o tempo em que, nas atividades empresariais, tudo se resumia a buscar o lucro de qualquer forma. Atualmente, existe farta legisla- ção para ser cumprida e, em caso de desrespeito, se as estruturas estatais não punem, os mecanismos informais existentes no mercado encarregam-se de penalizar a empresa que não adota governança corporativa condizente para o cumprimento da ética empresarial e da sua função social. Dessa forma, com o exame dos princípios de Direito Empresarial, permea- dos de exemplos encontrados na realidade cotidiana das empresas e com os elementos da governança corporativa, completa-se o círculo iniciado com o estudo do Direito ao Desenvolvimento em seu sentido mais verdadeiro. E com esse instrumento concluirá-se essa disciplina disposta para aproximar e passar a introduzir os conteúdos das disciplinas específicas do curso. DIREITO DE EMPRESA Pós-Universo 7 Em termos de Direito Empresarial, a história demonstra que, inicialmente, eram pessoas físicas que negociavam mercadorias. Posteriormente, com o aumento do número desses negócios, fez-se necessária a utilização de mais de uma pessoa para conjugar esforços na realização das atividades de intermediação entre produtor e consumidor (comércio), realizados com intuito de lucro, até que se chegou ao sur- gimento das sociedades comerciais que, posteriormente, tiveram sua personalidade jurídica reconhecida. Foi nesse contexto que emergiu a necessidade de um tipo de organização que reunisse o capital e o trabalho para transformar os insumos ou os esforços em um produto ou serviço para destinatário final, surgindo a empresa comercial, organismo formado por uma ou várias pessoas com a finalidade de exer- citar atos de manufatura ou circulação de bens ou, ainda, de prestação de serviços (MARTINS, 2014). Na sequência, a revolução industrial aumentou, incrivelmente, a produção de bens e fez surgir a sociedade do consumo. Diante desta realidade, muitas organiza- ções empresariais alcançaram grande porte, considerando-se apenas as de menor porte quando somadas, uma vez que o conjunto delas também é, socialmente, muito representativo. O fato é que a existência de grandes empresas, em se tratando de multinacionais ou transnacionais, provocou, ao longo do tempo, um significativo des- locamento de poder, que migrou do Estado nacional para grandes corporações (ou para setores empresariais). Ora, deslocamentos de poder não acontecem sem haver a demonstração, explícita ou tácita, de expressiva importância econômica e social daquele cujo poderio recebe acréscimo. Então, é natural que estes fatos econômicos e sociais trouxessem consequências em relação ao Direito. E isso se pode observar a partir da lei posto que, na esfera in- fraconstitucional, em referência direta, o Código Civil Brasileiro dedica todo seu Livro II (Artigos 966 a 1.195) para o “Direito de Empresa”, tudo sem contar as referências in- diretas em considerável número dos artigos estabelecidos para reger o direito das coisas, o direito das obrigações e dos contratos, que também se relacionam com as empresas e suas atividades. É importante notar que o Brasil passa por uma situação peculiar em que houve a unificação do Direito Privado pela qual o Direito Empresarial passou a estar inserto no Código Civil (Lei nº 10.406/2002). Mas, pelo Art. 2.045 do referido códex, apenas a parte primeira do Código Comercial (Lei nº 556/1.850) foi expressamente revogada. Pós-Universo 8 E mais, no Congresso Nacional, avançam as discussões no sentido de ser elaborado um novo Código Comercial específico para reger as questões de ordem empresa- rial. A falta de estabilidade na legislação brasileira (sua inconstância/instabilidade), com mudanças sucessivas que provocam não somente efeitos quanto à seguran- ça jurídica (afinal, a atividade empresarial demanda planejamento, principalmente, em médio e longo prazo, quando em grande escala) e em deplorável processo de acumulação de um número cada vez maior de normas tornam o sistema comple- xo e disfuncional. Trata-se de um traço típico da cultura nacional, e somente o tempo mostrará se o país terá, ou não, um novo Código Comercial que, se vier a entrar em vigência, revo- gará boa parte do contido no Código Civil de 2.002, no Código Comercial de 1.850 e em farta legislação correlacionada (referente às sociedades em espécie, à recupera- ção judicial e à falência etc.). E, apesar da circunstânciade que a completa unificação do Direito Privado pelo Código Civil nem mesmo foi integralmente concretizada (parte do Código Comercial de 1.850 ainda vige), já se cogitam mudanças antes de concluir os propósitos iniciais (perceba-se não ter havido na legislação, sequer uma unificação de nomenclatura que ora utiliza das denominações “empresarial” ou “em- presária”, ora se vale do termo “comercial”). O fato é que, apesar da adesão ao modelo italiano, centrado na teoria da empresa (distanciando-se do sistema francês, baseado nos atos de comércio), até na doutri- na e jurisprudência pode-se encontrar esse ramo do direito sendo denominado, ora empresarial ora comercial. Veja-se o comentário de Coelho (2012, p. 43): “ Direito comercial é a designação tradicional do ramo jurídico que tem por objeto os meios socialmente estruturados de superação dos conflitos de interesse entre os exercentes de atividades econômicas de produção ou cir- culação de bens ou serviços de que necessitamos todos para viver. Note-se que não apenas as atividades especificamente comerciais (intermediação de mercadorias, no atacado ou varejo), mas também as industriais, bancárias, securitárias, de prestação de serviços e outras, estão sujeitas aos parâmetros (doutrinários, jurisprudenciais e legais) de superação de conflitos estudados pelo direito comercial. Talvez seu nome mais adequado, hoje em dia, fosse direito empresarial. Qualquer que seja a denominação, o direito comercial (mercantil, de empresa ou de negócios) é uma área especializada do conhe- cimento jurídico de atuação. Pós-Universo 9 Nessa seara, embora ainda “convivam” normas de épocas distantes no tempo, a lógica indica que a nomenclatura mais recente foi concebida para prevalecer e, como o Código Civil refere a Direito de Empresa, recomenda-se presumir ter sido esta in- tenção do legislador (“mens legislatoris”) para que, com o transcorrer do tempo, esta expressão consolide-se, pacificamente, como a adotada para esse ramo do Direito. Independentemente deste detalhe terminológico, remanescem outras questões técnicas que são muito debatidas na doutrina, como a diferença entre empresário, empresa e estabelecimento. Inclusive, é tradicional a teoria dos perfis, elaborada pelo jurista italiano Alberto Asquini, a qual identifica a empresa como um fenômeno po- liédrico, que tal como é descrito por Ramos (2012), tem sua composição segundo a referida teoria, integrada por perfis, tais como: a. Perfil subjetivo: no caso com a empresa sendo percebida como a pessoa (jurídica, podendo no caso brasileiro ser também ligada à pessoa física, pois esta modalidade existe, por exemplo, quanto à empresa individual de res- ponsabilidade limitada - EIRELI), ou seja, o empresário. b. Perfil funcional: a empresa seria uma “particular força em movimento que é a atividade empresarial dirigida a um determinado escopo produti- vo” (ASQUINI,1996 apud RAMOS, 2012) ou seja, uma atividade econômica organizada. c. Perfil objetivo (ou patrimonial): integrado pelo estabelecimento co- mercial/empresarial, ou seja, a totalidade de bens pertencentes à empresa e utilizados para as atividades (empresariais) desempenhadas por ela. d. Perfil corporativo: reconhece a empresa como uma comunidade laboral, enquanto vista como uma instituição que reúne: o empresário, seus auxi- liares e colaboradores ou, mais precisamente, como o conjunto de pessoas que se reúnem, de forma organizada, para a consecução dos fins econômi- cos comuns (de natureza empresarial). Estas distinções são bastante úteis para o reconhecimento das diversas facetas reve- ladas com relação ao que seja “empresa” e a matéria do Direito Empresarial. Entretanto a interação prática da empresa enquanto organização econômica, com o Direito, tem elevada importância para definir aspectos, como a organização mínima estabeleci- da pela lei para a empresa, a legitimidade para a pessoa jurídica estar em Juízo (e sua Pós-Universo 10 representação), a questão dos gestores, sócios ou acionistas poderem, ou não, atuar, representando somente o capital, e não todo o rol de pessoas e a gama de interes- ses envolvidos numa empresa etc. O certo é que a maioria dos autores diferencia o conceito de empresário (en- contrável no Art. 966, do Código Civil), do que é atribuído à empresa que pode ser considerada como sendo a organização (que reúne capital, trabalho, insumos, tecnologia etc.) direcionada às atividades com fins econômicos que são clas- sificados (enquadrados legalmente) como empresariais. Objetivamente, sua característica mais marcante é a atividade direcionada à obtenção de lucro decor- rente do oferecimento de bens e serviços para o mercado. O Direito de Empresa ou Direito Empresarial pode ser entendido como sendo o ramo jurídico que engloba o conjunto de normas direcionadas a regrar as atividades das empresas e dos empresários quando consistente na produ- ção e circulação de bens e serviços direcionados para o mercado. Autores, como Franco (2012), Bertoldi (2013) identificam interessantes caracte- rísticas atinentes a esse ramo do Direito, as quais podem ser combinadas para que sejam apontadas, em específico: a. sua condição cosmopolita e até de uma busca de universalidade, por en- volver relacionamentos entre os diversos povos e, dessa forma, intercambiar e propagar usos e costumes que até vão além dos negócios comerciais e influem em hábitos e práticas sociais, práticas estas que, com o processo de globalização têm provocado um movimento no sentido de unificar merca- dos e legislações, assemelhando-as ou lhes dando caráter supranacional. b. a onerosidade intrínseca à atividade empresarial, que é, eminentemente, econômica, direcionada à obtenção de lucros. c. o informalismo e a simplicidade, que, para tornar mais fácil e rápida a realiza- ção dos negócios, procura afastar a complexidade e os fatores (por exemplo, burocráticos) que elevam os custos das transações. d. a maleabilidade, posto que o direito comercial não pode, dentro da viabili- dade possível, prescindir de se adaptar com celeridade às mudanças trazidas pelos agentes econômicos em suas atividades empresariais. Pós-Universo 11 e. a boa-fé, que deve funcionar como princípio informador de condutas e comportamentos empresariais, tanto nos cenários em que o direito positivo já regule, quanto naqueles ainda não previstos em normas positivadas na legislação, pois essas transformações sucessivas são caracterizadas, muitas vezes, pelo despojamento de formalismos. f. e, por derradeiro, o fragmentarismo, decorrente da circunstância do Direito Empresarial inter-relacionar-se com várias outras áreas do Direito, como a dos contratos, das obrigações, da personalidade etc. Em suma, trata-se de um ramo do Direito com especificidades que, nitidamente, o distingue de outros. E mesmo que se valha de fontes primárias e subsidiárias tra- dicionais para o Direito Privado, como a lei, a doutrina, a jurisprudência, os usos e costumes, a analogia e os princípios gerais do Direito, assim como de outras que, ta- citamente, vieram ser acrescidas ao longo do tempo, a exemplo da equidade e da boa-fé (conforme o previsto na legislação, destacando-se: Decreto-Lei nº 4.657 de 1942 - Lei de Introdução ao Código Civil (BRASIL, 1942, on-line) e a Lei nº 8.078 de 1990 - Código de Proteção e Defesa do Consumidor (BRASIL, 1990, on-line). E, nesse aspecto, o destaque especial é para o papel dos usos e costumes como fonte do Direito Empresarial, pois a realidade da vida em sociedade, principalmente na área dos negócios, de regra, transforma-se antes do Direito Positivo, que segue atrás para se adequar aos fatos que precisa reger. Como exemplo, pode-se citar: o uso que se tornou rotineiro no meio social de praticar-se crédito, dando e aceitando cheques pós-datados, emitidos sem considerar o contido na legislação (que prescreve que todo cheque é pagamento a vista); - e dos primeiroscontratos firmados à distân- cia pela via eletrônica (internet) sem que houvesse qualquer regulamentação. Ou seja, os fatos novos surgiram, e o direito não pode se omitir – inclusive, para dirimir eventuais conflitos -, além de que, aos poucos, precisou providenciar as necessárias mudanças na legislação. PRINCÍPIOS DO DIREITO COMERCIAL OU EMPRESARIAL Pós-Universo 13 Quanto aos princípios do Direito Comercial ou Empresarial, eles apresentam diversas coincidências com os princípios estabelecidos como fundamentos da República, assim como com os pertencentes à ordem econômica. Nesse contexto, considerando que princípios, muitas vezes, são positivados expressamente, mas em outras situações são intuídos do sistema, tem-se um rol que pode variar na doutrina emitida por diversos doutrinadores, destacando-se como substanciosa e merecedora de aproveitamen- to (inclusive pela amplitude), o rol apresentado por Coelho (2012), em que constam: a. Princípio da Liberdade de Iniciativa Este princípio tem raiz na liberdade fundamental (CF, Art. 1º, IV) (BRASIL, 1988, on-line) e mais diretamente advém do constante na ordem econômica (CF, Art. 170, caput) (BRASIL, 1988, on-line) sendo que já foi objeto de análise anterior neste estudo, de modo que as considerações postadas a seguir apenas pretendem um rápido enfoque mais específico. A liberdade de iniciativa (incluindo em seu todo, o empreender) é indispensá- vel em um sistema capitalista, principalmente aquele que valoriza a produção e o consumo em massa. Mesmo que se possa perceber um papel destacado do Estado, a superação de dificuldades no cenário econômico (crises) precisa contar com as ini- ciativas dos agentes econômicos privados. Rememore-se que as principais invenções que tanto beneficiam a humanidade, surgiram da iniciativa de criar e empreender praticadas por agentes privados, mesmo que tenham contado com alguma contri- buição estatal. Observe-se que a livre iniciativa tem em si uma face limitadora da ação do Estado, e outra que, ao incentivar o empresário a empreender, a par de lhe dar ânimo para a tarefa, antepõe-lhe regras para que sua ação não inviabilize a saudável concorrência com empresas de seu segmento e a condição de outros agentes eco- nômicos também seguirem no mercado com possibilidades idênticas de empreender e crescer (sem olvidar as restrições dispostas para a proteção do consumidor). O inc. XIII, do Art. 5º, da Constituição Federal (BRASIL, 1988, on-line) diz que “é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações pro- fissionais que a lei estabelecer”. Com as devidas adaptações, isso se repete quanto à atividade empresarial em que existe um direito à liberdade de iniciativa, salvo em situações em que a lei disponha de modo diverso, vetando ou prescrevendo requi- sitos que o empresário não cumpra ou preencha. Pós-Universo 14 Para o campo empresarial, Coelho (2012, p. 71) assim caracteriza: “ Quatro desdobramentos podem ser extraídos do princípio da liberdade de iniciativa: (a) imprescindibilidade, no capitalismo, da empresa privada para o atendimento das necessidades de cada um e de todos; (b) reconhecimento do lucro como principal fator de motivação da iniciativa privada; (c) im- portância, para toda a sociedade, da proteção jurídica do investimento; (d) importância da empresa na geração de postos de trabalho e tributos, bem como no fomento da riqueza local, regional, nacional e global. A livre iniciativa é o primeiro sinal de resposta às demandas por produtos e serviços. Vale lembrar que consumo é satisfação de necessidades e que o processo que acaba por redundar nessa satisfação principia com a livre iniciativa daquele empreendedor que percebe esta carência ou oportunidade e direciona seus esforços para prover o que o mercado demanda. Em processos bem concebidos e executados, segundo os melhores princípios empresariais, muitos interesses são satisfeitos, beneficamen- te, com o surgimento de uma empresa e as iniciativas dela. A instalação desta organização empresarial pode transformar uma região, pro- vocar o surgimento de novas cadeias produtivas, melhorar a arrecadação pública de modo a possibilitar reflexos positivos nos serviços públicos e alterar para melhor a vida de muitas pessoas. Então, é dever estatal conceder apoio à livre iniciativa, de forma a contribuir para gerar ações com potencial de incentivar o surgimento e a evolução das empresas, com aumento da produtividade, implementação de ganhos de eficiência e avanços na competitividade. Em síntese: ajudar a empresa a construir esta cadeia de boas ações tendentes a contribuir para o cumprimento dos deside- ratos preconizados pelos princípios da ordem econômica. b. Princípio da Liberdade de Concorrência A livre concorrência tem um caráter horizontal, em razão de que abrange a conduta da empresa em relação aos seus “seus pares” (concorrentes). Independentemente disso, os problemas decorrentes das infrações à livre concorrência podem acabar, afetan- do aos consumidores e ao próprio Estado, mas possuem sempre um envolvimento entre empresas concorrentes. E isso, no mínimo, em nível de concorrência desleal, pode também ser uma infração à ordem econômica, ou ocorrer de haver uma(s) em- presa(s) infratora(s) e uma(s) empresa(s) prejudicada(s). Igualmente, essas infrações Pós-Universo 15 podem estar em nível de concorrência desleal envolvendo concorrentes em casos de pequena monta, ou até se constituírem situação de dimensão mais grave para a ordem econômica (valendo referir que a infração, por menor que seja, sempre infrin- ge a ordem econômica, mesmo que os danos sejam de pequena monta). A liberdade de concorrer pode ser tida, em parte, como liberdade de iniciati- va, sendo possível identificar, em muitos casos, que determinadas infrações à livre concorrência também implica cerceamento desta última (liberdade de iniciativa); em específico, quando uma empresa não consegue se instalar, ou desaparece do mercado, devido à concorrência desleal de outra. Mas a coincidência não é total entre ambas (livre iniciativa e liberdade de con- corrência). A livre iniciativa é poder empreender e estar presente no mercado em condições justas. Já a livre concorrência funciona como um poderoso incentivo para que a empresa aprimore seus processos produtivos e busque evoluir a ponto de ganhar maiores fatias de mercado (market share), crescendo pelo mérito decorren- te do aprimoramento na qualidade de seus produtos e/ou serviços e da melhora de suas práticas empresariais (em sentido amplo). O princípio da livre concorrência visa assegurar, portanto, e deve funcionar também como uma espécie de garantia de ambiente ético para atuar de modo que o even- tual crescimento no mercado decorra da competência, e não de estratégias espúrias. Um exemplo interessante para o estudo desse tema pode ser apontado em situações nas quais ocorre publicidade enganosa, coibida pelo Código de Proteção e Defesa do Consumidor. Ora, não é apenas ao consumidor que uma publicidade enganosa lesa. Quando uma empresa, mediante este expediente ilegal, atrai um consumidor e consegue contratar com ele, o concorrente que atua licitamente perde um cliente e tem prejudicado seu direito de trabalhar/atuar. E muitos outros exemplos podem ser citados, todos a demonstrar a importância do princípio da livre concorrência. Fonte: os autores. saiba mais Nesta área do Direito e da Economia, as palavras competição e competência são ex- pressões muito assemelhadas, e isso não é mera coincidência. Havendo concorrência Pós-Universo 16 sadia, a qualidade dos produtos e serviços melhora, e os preços deles diminuem, beneficiando o cumprimento do direito de acesso para o consumidor. Como dito anteriormente, ninguém se iluda na questão de que o desejo maior de qualquer empresa é o monopólio ou o monopsônio, mas haver concorrência leal no mercadoé de interesse social, prevalecente ao que seja individual. O direito empresarial e a legislação específica dessa área devem estar em consonância com o objetivo de as- segurar as melhores práticas relacionadas à garantia da livre concorrência (e ética concorrencial). Então, aquele empresário que assume o risco de estar no mercado e age eticamen- te em relação à concorrência, precisa ter o caminho aberto para colher os resultados de seus esforços, enquanto aquele que recorrer a estratagemas ilícitos para fraudar a livre concorrência merece receber a devida penalização, forma de evitar que aufira lucros como resultado de sua prática ilícita, tudo em prol de haver um mercado “sadio” para benefício da sociedade. c. Princípio da Função Social da Empresa Quanto a este princípio, reiteramos as considerações que foram emitidas em tópico específico postado em outro ponto deste estudo. d. Princípio da Liberdade de Associação A soma de esforços conjugados pode contribuir para resultados melhores. Então, em consonância com o previsto nos incisos XVII e XX, do Artigo 5º da Constituição Federal (BRASIL, 1988, on-line), associar-se (que tem muita relação com a liberdade de iniciativa) deve ser permitido em regime capitalista, salvo quando infrinja outros os princípios que preponderam (como a livre concorrência, a função social da empresa e da propriedade, dentre outros). A sociedade empresarial começa com uma união de pessoas mesmo que seja apenas para reunir seus capitais em sociedade com essa característica (note-se, ainda, que há situações em que o sócio participa da sociedade apenas com seu trabalho, mas esse não é o caso mais frequente). Em contraposição, mencione-se que nenhuma pessoa física ou jurídica pode ser obrigada a se asso- ciar ou manter-se associada. Então, cabe haver liberdade de associação em casos em que esteja presente o interesse, assim como a liberdade de deixar de ser associado, sendo que o Direito Empresarial estabelece as formas de retirada estipuladas como Pós-Universo 17 justas para com os interesses do retirante e igualmente adequadas para a empresa e os sócios que se mantêm na sociedade. O direito de retirada tem suas formas legais, e o exercício desse direito não pode ser obstado pelos demais sócios. Afinal, a manutenção impositiva é e deve ser exceção, que apenas pode ser justificada quando, mais importante, acabar sendo a aplicação do princípio da manutenção da empresa, e o fato de que o exercício desta faculda- de (de retirada) deve respeitar os direitos de terceiros (em especial credores) e dos outros sócios afetados/compelidos pelas consequências desta vontade autônoma. Um exemplo de restrição (mas não impedimento) diz respeito à questão da devolução do capital do sócio que se retira, o que, previamente, deve ser fixado nos documen- tos constitutivos da empresa de modo a propiciar uma solução equilibrada para a questão; nem comprometendo a continuidade da empresa, nem privando de seu capital aquele que se retira (que pode ser um herdeiro que ingressou na sociedade devido ao falecimento do titular, sendo que não tem afinidade com a empresa nem interesse em permanecer nela). Vale notar que, igualmente, não cabe protelação injustificada para a devolução do capital daquele que se retira. E, mais, também existe legalmente a possibilidade de ser instituído o direito dos demais sócios excluírem aquele sócio que esteja pre- judicando a sociedade, bastando que se cumpra rigidamente ao que a legislação prescreve, conforme os Artigos 1.029 a 1.032, do Código Civil (BRASIL, 2002, on-line). O Princípio da Liberdade de Associação também infere o direito de contratar, permitindo que sejam arquitetados contratos coligados e redes contratuais que, in- diretamente, formem vinculação em nível societário, incluindo o estabelecimento de grupos econômicos, consórcios de empresas, sociedades coligadas, conforme Artigos 1.097 a 1.101, do Código civil) (BRASIL, 2002, on-line), além do direito de pessoa jurídica ser sócia de outra empresa (como controladora ou não). Este princí- pio, de regra, deve ser pleno, conforme o estabelecido na Constituição Federal, e as eventuais limitações a esse direito devem estar fundamentadas em dispositivos es- pecíficos inscritos na legislação (como a que coíbe abusos contra a concorrência, aos direitos dos consumidores etc.). e. Princípio da Preservação da Empresa A Constituição Federal ressalta a valorização do trabalho humano, o que somente pode acontecer incluindo a proteção da empresa enquanto agente da atividade Pós-Universo 18 econômica. A empresa gera empregos, aumenta a arrecadação, ajuda a transformar a realidade da comunidade em que está inserida e tem potencial para incentivar o surgimento de novos empreendimentos e novas cadeias produtivas. Então, enquan- to os benefícios de sua existência superarem os efeitos negativos que ela cause, deve haver o esforço em sua manutenção, sem que isso signifique um salvo conduto para qualquer desrespeito a direito individual, coletivo ou, ainda, para prática de dano a quem quer que seja (o qual deve ser reparado pelos meios próprios previstos na le- gislação). Essa é a razão maior para a existência do instituto da recuperação judicial e para que, em caso de falência, ainda assim, exista a possibilidade de que a empresa possa se recuperar. Trata-se de princípio muito utilizado pela jurisprudência, tais como, nos casos dos que aceitam pedidos de recuperação judicial, moderam situações de penhora de rendimentos, receitas ou valores da empresa depositados em bancos (que a Justiça procura adequar, de modo a não comprometer a empresa a ponto de propiciar es- gotamento que leve a seu desaparecimento) etc. Nos casos em que isso acontece, mira-se nos benefícios sociais da existência da empresa, em especial, considerando que o desaparecimento dela pode prejudicar aqueles que lhe forneciam insumos e suprimir postos de trabalho, impactando não apenas aquela pessoa diretamente atingida, mas podendo se transformar em um problema social. E acrescente-se, outra não é razão pela qual o Código Civil dedicou os Artigos 1.033 a 1.038 para as hipóteses de dissolução das sociedades – o que, em muitos casos, redunda em encerramento das atividades de uma empresa – e as formas de sua liquidação. A conservação da empresa, portanto, é de interesse de seus sócios, assim como contempla objetivos sociais que não podem ser desmerecidos. f. Princípio da Autonomia Patrimonial da Sociedade Empresária Não é pertinente confundir a pessoa física do sócio com a empresa pessoa jurídi- ca. As personalidades jurídicas são distintas entre elas. Sócio e empresa, cada qual possui patrimônio próprio, que, normalmente, responde pelas suas respectivas obri- gações. Trata-se de uma questão que envolve o risco empresarial. De regra, em se tratando de dívida da pessoa jurídica, o sócio arrisca apenas o que empregou em sua participação no capital social, e a empresa responde com seu patrimônio por suas obrigações, sendo a desconsideração da personalidade jurídica uma exceção que demanda haver dispositivo legal específico (como na questão de inadimplemento Pós-Universo 19 de tributos) ou consistente fundamentação jurídica para ser aplicada. Entretanto, no meio empresarial, esta realidade tem sido diferente, principalmente quando a lide é na Justiça do Trabalho. São inúmeras as situações de desconsideração da persona- lidade jurídica da empresa para atingir o patrimônio particular dos sócios e, dessa forma, de haver o adimplemento de obrigações que a pessoa jurídica deixou de cumprir com seu trabalhador. No caso de obrigação de sócio, quem é credor busca o adimplemento mediante o atingimento do capital que o proprietário de cotas ou ações possui na socieda- de, sendo raríssimas as situações em que se vai além para considerar haver outros devedores solidários. Já quando se trata de dívidainadimplida pela pessoa jurídica, desde que existam sinais (na Justiça do Trabalho, às vezes, provas, às vezes, indícios) de que a empresa não cumprirá a obrigação, a regra (e não mais a exceção) passou a ser, desde logo, a desconsideração da personalidade jurídica para que o patrimô- nio dos sócios venha a responder. A principal razão apontada pelos julgadores desse tipo de causa está na vulnerabilidade do empregado, fator que justifica uma forma mais incisiva de proteção. Consigne-se, neste momento, ser inapropriado, no presente estudo, ampliar este debate para examinar os fundamentos que integram esta conjuntura, mas sim mencionar que as relações contratuais das empresas não se resumem aos vínculos trabalhistas, sendo compostas de um elenco enorme de outros tipos de contratos, principalmente, com outras empresas. Nesses casos, então, a regra deve permane- cer e ser reafirmada no sentido da autonomia patrimonial da sociedade empresária como forma de dar segurança jurídica e estabilidade nessas relações. Objetivamente: é o patrimônio da empresa que responde pelas obrigações dela, e ele não se con- funde com o de qualquer de seus sócios. g. Princípio da Subsidiariedade da Responsabilidade dos Sócios pelas Obrigações Sociais Em complemento ao dissertado no item anterior, mencione-se que a personalidade jurídica da empresa não se confunde com a personalidade das pessoas físicas sócias dela, de modo que os bens da empresa é que devem responder pelas obrigações desta. De regra, somente depois de excutidos todos os bens da empresa é que se pode cogitar e abrir a possibilidade de os bens dos sócios poderem responder pelas obrigações contraídas pela pessoa jurídica. Concepção em contrário levaria à errônea Pós-Universo 20 ideia de que pessoa jurídica e pessoa física do sócio não são distintas e se confundi- riam, o que é juridicamente inapropriado. Embora existam várias circunstâncias em que o patrimônio do sócio deva responder pelo cumprimento das obrigações da empresa, o que pode acontecer conforme o tipo societário adotado, reside, no prin- cípio da subsidiariedade, a reafirmação de que entre o sócio e a empresa, de regra, ocorre uma distinção e independência de personalidade jurídica e de patrimônio. h. Princípio da Limitação da Responsabilidade dos Sócios pelas Obrigações Sociais O risco é inerente a qualquer atividade empresarial. Entretanto poder dimensioná-lo é fundamental para incentivar o interesse em empreender. A atividade empresarial tem risco inerente, mas não pode se constituir em uma aventura com custo comple- tamente incerto que possa superar as forças econômicas daquele que nela ingressa, senão este fator acaba desincentivando o interessado em empreender. Por óbvio, a questão se resume, basicamente, em dimensionar o risco, muito antes de pretender que ele não exista; e o parâmetro é o previsto na legislação para cada tipo de socieda- de. Ou seja, aquele que compra ações de uma empresa constituída como sociedade anônima sabe ser esse (valor das ações) o seu capital sujeito aos riscos empresariais. Já aquele que ingressa em sociedade em nome coletivo, assume riscos mais amplos, conforme o previsto no Art. 1.039, do Código Civil (BRASIL, 2002, on-line), que diz: “somente pessoas físicas podem tomar parte na sociedade em nome coletivo, res- pondendo todos os sócios, solidária e ilimitadamente, pelas obrigações sociais”. Já, numa sociedade limitada, a responsabilidade do sócio é restrita até o limite corres- pondente à integralização de seu capital social, conforme Código Civil, em seu Art. 1.052 (BRASIL, 2002, on-line). Isso não afasta, entretanto, a possibilidade já enfatizada, de haver a desconsideração da personalidade jurídica da sociedade nos casos previs- tos em lei (em exceção fundamentada), elemento que deve depender da conduta da empresa, e não de fatores aleatórios. O princípio da limitação da responsabilidade dos sócios pelas obrigações sociais, portanto, trata-se não de uma isenção do sócio nem mesmo de uma prévia quantificação exata das obrigações pelas quais poderá o seu patrimônio responder, mas tão somente do direito de ele ter noção prévia de quais são os tipos de riscos que está assumindo ao ingressar e se manter na socie- dade, dimensionamento que se revela um elemento de segurança importantíssimo Pós-Universo 21 para haver interesse em participar da atividade empresarial. i. Princípio Majoritário nas Deliberações Sociais As principais deliberações sociais devem ser tomadas pelos sócios da empresa (nas mais simples, os administradores costumam ter poderes para decidir), valendo a vontade da maioria. Entretanto não se confunda o sentido de maioria atinente à seara política (cada pessoa um voto) com a maioria em matéria empresarial. Em uma empresa, aquele que investiu mais capital (ajudou mais a empresa e assumiu maior risco) deve ter direito a que sua vontade tenha maior peso nas decisões. Pode haver acordo de cotistas ou acionistas pelo qual aquele(s) que possui(em) mais capital(is) investido(s) decide(m) entregar para outro administrador (sócio ou acionista com menor volume de capital), o direito de tomar decisões sociais, conforme Art. 1.061 do Código Civil) (BRASIL, 2002, on-line), mas, em regra, para a constituição de maioria deve haver uma proporcionalidade entre a quantidade de capital do sócio (cotas ou ações com direito a voto) e o poder que lhe é conferido para decidir. Quem tem mais, tem maior peso. Exemplificando: numa sociedade limitada à quantidade de votos, é proporcional ao número de cotas que cada sócio possui e, assim, se forma a maioria. Já, numa sociedade anônima, isso também acontece envolvendo quem tem ações com direito ao voto e se manifesta na assembleia. A legislação fornece os parâmetros, a exemplo do que acontece nas sociedades anônimas cujas prescrições a esse respei- to se encontram nos Artigos 110 a 116, da Lei nº 6.404/1.976(BRASIL, 1976, on-line). Dessa forma, nada impede que exista um sócio majoritário ou um acionista con- trolador da sociedade, conforme o tipo desta. O contrapeso está em que aquele que é detentor de maior poder (por ter mais capital na empresa) jamais poderá decidir em contrário aos interesses da sociedade (praticar ato ultra vires societatis) ou em abuso de poder que prejudique, injustificadamente, os demais sócios ou associados minoritários. j. Princípio da Proteção do Sócio Minoritário Este princípio é fundamental para encorajar aqueles que desejam participar de uma sociedade empresarial, mas, por ausência de grande interesse em investir capital de maior monta, ou por não possuírem recursos suficientes, optam por ingressar na con- dição de sócio ou acionista minoritário da empresa. Para uma sociedade anônima, por exemplo, atrair pequenos capitais, que somados são muito relevantes, pode ser Pós-Universo 22 até mais interessante do que conseguir um único grande investidor, seja pelo volume conseguido com os menores ser superior, seja pelo ingresso de um novo acionista com investimento maior, o que pode gerar transformações em relação ao controle da sociedade. Então, a par desse interesse da empresa em conseguir angariar o in- vestimento de pequenos capitais, cabe notar que também está em jogo o interesse particular daqueles que já integram o quadro societário e da própria empresa que não deseje ser controlada por quem vem com interesses diferentes dos já estabelecidos. Para quem tem pouco capital, o investimento em ações funciona como espécie de poupança (em vez de gastar, a pessoa investe) com o objetivo de que renda bons frutos futuros para ele (caso o valor das ações suba, ou exista alguma forma de retorno baseada nos lucros auferidos pela empresa). E, para a empresa, este expe- diente funciona como poderoso instrumento no sentido de angariar capital sem ter de recorrer ao sistema bancário ou financeiro, naturalmente, o mais oneroso. Masna prática, para tudo isso é preciso assegurar proteção aos interesses dos sócios ou acionistas minoritários, e a governança corporativa instituída na empresa deve ser suficiente e eficiente para garantir transparência nas informações quanto à gestão da pessoa jurídica e a situação dela, assim como, assegurar medidas destinadas para que os demais interesses do sócio minoritário não sejam simplesmente desconside- rados por arbitrárias decisões emanadas pela vontade do controlador (majoritário ou minoritário instituído controlador mediante acordo). Inclui-se, nesse contexto, não apenas o asseguramento da participação na sociedade, mas também haver um sistema justo para o exercício do direito de retirada do sócio minoritário discordan- te das decisões tomadas pela maioria. Por estas e outras razões, são muito importantes os instrumentos legais de prote- ção aos interesses e direitos dos sócios ou acionistas minoritários, pois, muitas vezes, é o capital deles que dá boas condições econômico-financeiras para a empresa, permitindo investimentos e condições adequadas de funcionamento, de modo a obter competitividade e poder remunerar com seu lucro àqueles que participam do empreendimento. k. Princípio da Autonomia da Vontade A autonomia da vontade liga-se, umbilicalmente, à livre iniciativa e ao direito de con- tratar, escolher com quem contratar e dispor a respeito do conteúdo do contrato, tudo dentro dos limites legais previstos na legislação. A atividade empresarial envolve Pós-Universo 23 capitais e riscos, de modo que a autonomia da vontade funciona como espécie de direito à liberdade de escolher como atuar na área empresarial. Muito se tem doutri- nado (e a jurisprudência acatado) no tocante à nova visão dada para a interpretação dos contratos, principalmente, os de adesão, caracteristicamente esmaecendo o valor da autonomia da vontade e fazendo prevalecer outros princípios estabelecidos em nome do respeito à ética, à socialidade e à boa-fé. Estas situações, entretanto, são específicas e bem justificadas e elas não consti- tuem a totalidade de contratos firmados no meio empresarial. Os casos mais comuns envolvem empresas e trabalhadores (no contrato de trabalho), ou consumidores (nos contratos de adesão, principalmente, em se tratando de consumos essenciais), que são vulneráveis na medida em que, no momento da contratação, a força contratual destes últimos resta condicionada e restrita pelas necessidades ou condições espe- cíficas que enfrentam. Em regra, todavia, isso não ocorre nas atividades e contratos entre empresas que, em princípio, são contratos entre iguais. É fato que os pequenos empresários quando se envolvem em contratos com companhias de grande porte, igualmente, enfren- tam os problemas desta disparidade de forças, mas estas condições anômalas não podem ser consideradas as únicas nas contratações entre agentes econômicos. Ao empreendedor deve ser dado o direito de fazer escolhas, já que o capital que emprega é resultado de seu esforço. Assim, nos contratos entre empresários, a autonomia da vontade deve prevalecer como regra e princípio que conduz para o cumprimento dos contratos, o que representa elemento imprescindível para a segurança jurídica nas atividades empresariais. A incerteza não conduz para resultados que contem- plem bem a todos os objetivos da ordem econômica. l. Princípio da Vinculação dos Contratantes ao Contrato Como o afirmado anteriormente, quando o agente econômico exerce sua autonomia da vontade, desde que firme contrato respeitando todos os preceitos estabelecidos no sistema jurídico, naturalmente, ele se vincula, adquirindo direitos e, precipuamen- te, tendo de cumprir todas as suas obrigações contratuais. Para a área empresarial, o pacta sunt servanda, que vem sendo tão abomina- do no meio jurídico, ainda é inafastável para boas relações sociais. Mesmo que, em tempos modernos ou pós-modernos, entenda-se que não são adequadas e estejam em desuso concepções representadas por frases clássicas, como “o contrato faz lei Pós-Universo 24 entre as partes” ou “nenhuma obrigação sem contrato”, o certo é que em prol da or- ganização social não deve ser permitido que quem contrata possa descumprir o avençado sem que, para isso, tenha justificativas juridicamente amparadas e muito relevantes, como o contrato ser nulo ou ter conteúdo anulado (total ou parcialmente). A revisão judicial dos contratos deve estar reservada apenas para as situações que, criteriosamente, se enquadrem nas hipóteses cominadas na legislação. Desse modo, o contrato bem constituído deve gerar confiável expectativa de cumprimen- to, caso contrário, a insegurança jurídica irá laborar em prejuízo não apenas do(s) contratante(s), mas contra o intento de realização de contratos e em prejuízo do in- teresse social. Contratar é liberalidade que se transforma em vínculo, cumprir o contratado re- presenta obrigação e tal como o edifício projeta sua sombra, o descumprimento faz gerar responsabilidade. Nos contratos empresariais, deve-se partir da premissa de que cada parte tem condições de exercer sua autonomia para contratar, ou não contratar, assim como, para defender seus interesses, assumindo, ou não assumin- do obrigações contratuais. As soluções para os casos de situações de casos fortuitos ou força maior podem ser previstas no próprio contrato, e as situações de nulidade, abusividade ou desequilíbrio contratual entre as partes devem seguir os preceitos estabelecidos na legislação (CDC, CLT etc.) direcionada para propiciar que haja justiça contratual. O respeito ao princípio da vinculação dos contratantes ao estabelecido no con- trato, portanto, interessa não apenas às partes que contratam, mas também para a sociedade em geral que é beneficiária da confiança de que contratos existem para serem cumpridos. m. Princípio da Proteção do Contratante Mais Fraco Por esse princípio, busca-se o equilíbrio na contratação. Há situações em que as forças dos contratantes para defenderem seus interesses são, aproximadamente, equiva- lentes, como entre as empresas cujas ações são cotadas e comercializadas na Bolsa de Valores. Em paralelo, na seara empresarial, ocorrem outras contratações em que na disparidade de forças revela-se uma característica marcante. É o caso dos contra- tos das empresas (principalmente das de grande porte) com seus empregados ou delas com os consumidores de seus produtos ou serviços, contratações nas quais o poderio econômico-financeiro da empresa se faz sentir em detrimento do outro Pós-Universo 25 contratante, visivelmente mais fraco, impondo legislação específica tendente a pro- mover o equilíbrio no contrato. E há que se assinalar que desequilíbrios de forças nos contratos também acon- tecem entre empresas, por exemplo, quando uma grande montadora de veículos contrata com uma concessionária que vende seus produtos, ou, então, quando uma multinacional que produz produtos agrícolas contrata com uma pequena revenda vinculada por contrato de exclusividade. Ou seja, quando se constata paridade de forças entre as partes, a tendência é de contratos mais equilibrados e com ambas conseguindo condições de defender, adequadamente, seus interesses. De outro modo, em situações nas quais existe relevante assimetria de forças, essa diferença tende a gerar contratos em que a parte mais poderosa apresenta maiores condições de impor seus interesses frente a outra que pode restar indevidamente fra- gilizada e, portanto, prejudicada. Assim, o princípio da proteção do contratante mais fraco deve ser aplicado sempre que a vulnerabilidade de uma das partes requerer medidas tendentes a equilibrar essa relação, única forma de haver justiça contratual. n. Princípio da Eficácia dos Usos e Costumes Desde que o ser humano conseguiu excedente econômico e iniciou o sistema de trocas para depois passar ao comércio, os usos e costumes sempretiveram impor- tância indiscutível, e isso continua ocorrendo. Há situações em que uma nova norma legal induz comportamentos no campo empresarial, mas, tradicionalmente, o mais comum, tem sido o direito empresarial procurar regrar aquilo que, no meio social, surgiu e se popularizou na área negocial. Como já referido anteriormente, foi assim, por exemplo, com a concessão de crédito mediante a entrega de cheques pré-da- tados ou pós-datados, que, enquanto a legislação previa que tal tipo de documento era pagamento à vista e podia ser depositado a qualquer momento, a jurisprudência, aos poucos, foi pacificando a decisão no sentido de que uma vez que o documento tenha sido aceito pelo comerciante, a este último cabe respeitar os prazos combina- dos. Ou casos em que, em determinadas regiões do Brasil, a Justiça acatou cobranças de valor superior a dez salários mínimos sem que exista documento escrito, algo que difere com o previsto na legislação. Pós-Universo 26 É de suma importância que você analise quais normas prescrevem o valor a partir do qual deve ser exigido documento escrito para a cobrança de dívida e qual região e tipo de negócio que, por usos e costumes inscritos na Junta Comercial, é judicialmente permitido cobrar além desse limite e quais as razões. reflita Portanto, os usos e costumes, em geral (principalmente inscritos na Junta Comercial ou assimilados pela jurisprudência), representam importante fonte de direito co- mercial, assim como, a eficácia das práticas locais que costumam receber respeito e consideração no direito, salvo quando infringem a ordem pública e/ou ao interesse social. o. Princípios decorrentes do direito cambiário Há muitos séculos a ciência econômica reconheceu a importância do crédito para o desenvolvimento. A troca de um bem presente por um bem futuro (crédito), quando utilizada de maneira responsável, incentiva iniciativas de produção, comercializa- ção e/ou consumo, e contribui para a multiplicação da riqueza. E é nesse contexto que se inserem os títulos de crédito que, lentamente, vão se transformando/adap- tando às situações do século XXI (não se está mais no tempo em que o destaque era a lettera di cambi, mas sim da utilização do boleto eletrônico). A prática da apli- cação dos princípios de Direito Cambiário pelo Direito Empresarial justifica-se pelo fato de que o primeiro está tão sedimentado que apenas com certas adaptações os seus princípios têm se mantido secularmente, apesar das transformações havidas no meio empresarial e social. São esses os princípios do direito cambiário cuja aplicação justifica o aproveitamento deles como princípios de direito empresarial: a cartula- ridade, a literalidade, a autonomia, a abstração e a independência. A cartularidade indica que o título de crédito deve estar representado por um documento escrito (cártula). Trata-se de princípio importante, evitando as confusões e os conflitos que poderiam surgir caso fosse aceita a forma oral. Sua importân- cia, então, segue mantida neste novo milênio, apenas que adaptações pertinentes, como nos casos em que essa representação nem sempre requisita um documento em papel, permitindo a emissão em meio virtual, desde que exista a segurança de Pós-Universo 27 realmente representar um título de crédito. Percebe-se que a cartularidade sempre facilitou a circulação do título de crédito e, com o surgimento do meio virtual, isso ficou mais nítido ainda; e não se perdeu a característica de que ela sirva precipua- mente ao credor, no sentido desse poder reclamar o pagamento (quem negociou o título não pode cobrá-lo, e quem emite, indevidamente, por exemplo, uma duplica- ta, sem que exista negócio que lhe dê origem regular, comete ilícito civil e criminal). O princípio da literalidade, por sua vez, atribui valor apenas ao que consta (está expressamente escrito) no título, ou seja, somente ao que nele esteja inscrito produ- zirá efeitos jurídicos (mesmo que o crédito/dívida exista, o que não consta no título, ou não será acatado, ou necessitará ser provado de outros meios, como um contra- to ou outro título para dar-lhe algum valor jurídico). A autonomia faz com que o título possa circular sem que o devedor possa opor para o credor que o detém quaisquer exceções pessoais que dele (título) não constam. Em um título de crédito, há um emitente/devedor, pode haver avalista(s) e endossante(s), cada um com suas obrigações pertinentes. Desse modo, o credor que detenha a cártula quando do vencimento, não poderá ficar sujeito a ter de respei- tar as questões que cada um desses partícipes tenha dentro do contrato, até porque o credor pode ser alguém que até desconhece o negócio inicial (apenas fez o des- conto do título, adiantando o numerário para depois vir a receber no vencimento), como é comum acontecer. Quando o título é emitido, o devedor pode impedir a circulação dele basta que inscreva no referido documento que não poderá ser endossado. Entretanto o devedor não o fazendo, e o documento de crédito sendo negociado com terceiro (circulan- do), o devedor não poderá se abster de pagar para o detentor da cártula, alegando exceção pessoal que conste de contrato ou outro documento do qual esse deten- tor atual não participou. Assim, estabelece-se a segurança necessária para incentivar a negociação de títulos de crédito, pois o novo credor que adquiriu o documento por negociação com transferência advinda do antigo credor terá a garantia jurídica indispensável para fazer valer o seu crédito, o que torna viável a realização de negó- cios deste tipo. Pelo princípio da abstração, o título de crédito desvincula-se do negócio ju- rídico e, por isso, pode ser cobrado e deve ser pago, independentemente, do que conste do negócio jurídico que deu origem ao crédito e emissão da cártula. Por esse princípio, somente se considera o título, e não o conteúdo do negócio que lhe Pós-Universo 28 deu origem. A cártula incorpora o direito (de crédito e da obrigação a ser adimpli- da) e, de forma abstrata, vale por si mesmo, já que está desvinculado do negócio que a originou. Trata-se de princípio que protege a boa-fé daquele que, por endosso, recebe o título e, ao adquirir a condição de credor, precisa ter seu direito reconheci- do e amparado. Somente em casos nos quais o novo credor conseguiu o título por meio espúrio, participou do negócio original, ou ainda, tinha (ou possuía obriga- ção de ter) conhecimento dos vícios, é que não poderá alegar boa-fé. Mas, estando a boa-fé presumida ou provada, seus direitos devem ser assegurados, com base no princípio da abstração. Por derradeiro, o princípio da independência indica que o título vale por si só, independentemente de complementação de qualquer outro documento para representar o direito nele incorporado. Então, para o exercício do direito, basta a apresentação do título (cheque, nota promissória ou outro) sem necessidade de vir acompanhado de qualquer documento, comprovação ou demonstração do crédito (por título ou outra prova). Assim, tem-se que a prática dos princípios de direito cambiário foi adotada pelo direito comercial e, nele, estes permanecem incorporados. p. Princípio da Inerência do Risco O planejamento e a previsão empresarial são elementos importantes para o sucesso da empresa. Apesar disso, nunca se conseguirá afastar todos os riscos das atividades empresariais, principalmente considerando as circunstâncias em que a empresa se insere (local, fatores como mão de obra, carência de insumos, tributação etc.), ações dos Governos Federal, Estadual e Municipal, pela conduta dos demais concorrentes e pela aceitação ou não de seus produtos ou serviços por parte de outras empresas e dos consumidores. As alterações na conjuntura do mercado podem transformar a realidade de uma empresa do dia para noite, de próspera para estado falimentar ou de inadimplente para pujante economicamente. O lucro, então, é acompensação essencial para recompensar a soma dos esforços e do risco enfrentado, razão pela qual há um direito de auferir dele quando legitimamente obtido. Há que se salientar que as empresas procuram minimizar seus riscos, seja contra- tando seguros específicos, seja acrescendo aos preços de seus produtos ou serviços, um diferencial que funciona como reserva para cobrir eventuais perdas. Entretanto não é legítimo que transfiram para terceiro(s) riscos típicos da sua atividade empresarial, Pós-Universo 29 como ocorre, por exemplo: - quando o estacionamento (principalmente em super- mercados ou shoppings) colocam placas dizendo que não se responsabilizam por objetos deixados em veículos que sejam arrombados; - quando o transportador diz não se responsabilizar pelo desaparecimento do bem objeto do contrato de trans- porte, alegando que o consumidor deveria ter feito um seguro; - ou quando o banco insiste que o consumidor deve fazer seguro para cobrir a utilização indevida de seu cartão de crédito em caso de perda (saques ou compras sem que o consumidor tenha feito ação ou omissão que colabore para o terceiro acessar e utilizar a senha do cartão). Portanto, há limites tanto para o risco, como para a isenção dele. Mesmo sendo aleatório, o empresário deve se planejar para tentar eliminá-lo, ou minorar os efeitos dele. E, no meio empresarial, a jurisprudência têm considerado normal que uma parte assuma pela outra certos riscos envolvidos na contratação (citam-se casos, como o de contrato de adiantamento de câmbio para exportação em que, normal- mente, consta que o banco obteve os recursos em país estrangeiro e os repassou para a empresa produzir, a fim de que, posteriormente, realizasse a exportação de seus produtos, de modo que esta última deverá suportar os custos de uma variação cambial no outro país). O Princípio da Inerência ao Risco estabelece a realidade do empresário que se dedica a empreender, ainda mais que a existência deste fator (risco) não exime ou atenua o dever de o empresário cumprir suas obrigações, apenas justifica, em grande medida, a apropriação do seu lucro (razão maior de incentivo para empreender) como recompensa pelo esforço empresarial e pelos riscos suportados. q. Princípio do Impacto Social da Crise da Empresa Não há dúvida de que ocorre um impacto social havendo crise na empresa ou nas empresas de um determinado setor, principalmente, envolvendo organização(ões) de grande porte, conjuntura que costuma afetar até as empresas de menor tamanho. Assim, com relação ao princípio do impacto social da empresa, reportamo-nos e rei- teramos às considerações exaradas em outros tópicos deste estudo. Pós-Universo 30 r. Princípio da Transparência nos Processos Falimentares A recuperação judicial e a falência são processos críticos para a empresa, para seus funcionários, para credores e terceiros afetados. São inevitáveis os prejuízos para esses envolvidos. A gestão desse processo deve ser impregnada pela transparência, de modo que sejam reveladas para os prejudicados já referidos todas as informações de interesse deles, salvo aquelas que comprometam a competitividade da empresa, a possibilidade de recuperação dela e/ou o ressarcimento de todos os prejudicados. A transparência condiz com a ética empresarial e tende a evitar desvirtuamentos nos processos falimentares que visam ressarcir os credores e, essencialmente, manter aberta a possibilidade de a empresa se recuperar, proporcionando novamente os postos de trabalho que antes ela mantinha, além de oportunidades de negócios, o que pode, inclusive, beneficiar ao segmento e à coletividade. s. Princípio do Tratamento Paritário dos Credores O Princípio de Tratamento Paritário dos Credores é importante e atende a uma questão de lógica e de justiça contratual. Diante da possibilidade iminente de pre- juízo, o mínimo que se deve assegurar é um tratamento equânime para os credores. Entretanto o referido princípio convém que seja aplicado consoante a visão de uma igualdade para credores iguais e com diferenciação, no caso, desigualdade, para credo- res que são desiguais, tendo como base a natureza e a medida de suas desigualdades. Então, por sua condição específica, por exemplo, credores, tais como os trabalha- dores e detentores de créditos alimentares devem ter preferência no recebimento. E, mesmo entre os credores comerciais pode haver aqueles cujos créditos pertençam a classes que tenham preferência para que aconteça o recebimento antes de outras, assim como os credores retardatários que somente podem participar do rateio de pagamentos a partir do momento em que tenham conseguido a habilitação de seu crédito. Estas peculiaridades, entretanto, não retiram a importância do princípio de tratamento paritário entre os credores, que deve ser a regra, somente excepcionada em casos especiais, como os já citados. Para concluir, com relação aos Princípios do Direito Empresarial, vale repetir que essa relação tem vários deles intuídos do sistema, não se excluindo a possibilidade de a doutrina manifestar-se não aceitando algum deles (por discordância quanto à existência ou validade) ou a eventual inserção de outro considerado adequado, con- soante as posições (doutrinárias) que se adote. Pós-Universo 31 Assim, a título de rememoração, fazendo-se um resgate sucinto, transcreve-se que o Art. 966, do Código Civil, diz: “considera-se empresário quem exerce profissio- nalmente atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou de serviços” (BRASIL, 1976, on-line). E a respeito do conceito de sociedade, segundo o Art. 981 do mesmo códex tem-se que: “celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens e serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados” (BRASIL, 1976, on-line). Esta caracterização de empresário e de sociedade sujeita estes agentes econô- micos ao previsto no Art. 2.037, da mesma lei, o qual prescreve: “salvo disposição em contrário, aplicam-se aos empresários e sociedades empresárias as disposições de lei não revogadas por este Código, referentes a comerciantes, ou a sociedades comer- ciais, bem como, a atividades mercantis” (BRASIL, 1976, on-line). Por evidente, essas concepções (de empresário e de sociedade) foram estabele- cidas com sentido de generalidade, objetivando abarcar tanto as atividades daqueles que exercem individualmente atuação modesta, assim como as grandes corpora- ções (que, em sua maioria, são sociedades anônimas, de modo que, para reger suas especificidades, contam com as prescrições da Lei nº 6.404/76). Ou seja, o Código Civil foi disposto para regular desde a sociedade simples até os mais complexos tipos de sociedades empresárias, incluindo a denominada firma in- dividual, a empresa individual de responsabilidade limitada, as sociedades em nome coletivo, as sociedades limitadas propriamente ditas, as sociedades em comandita por ações, as sociedades anônimas e as sociedades cooperativas, tudo em reconhe- cimento de que esses tipos de empresas e de sociedades, independentemente de seu tamanho, têm suas peculiaridades e são importantes, inclusive, pela relevante função social que lhes cabe. Apenas à guisa de explicação, no presente estudo, existe a necessidade de fazer a delimitação em tema tão amplo, de modo que nos interessa mais a disciplina das empresas de grande porte, na medida em que, por conta do seu potencial econô- mico e por reunirem, naturalmente, um elenco enorme de interesses relacionados às suas atividades, apresentam relevância mais destacada para o contexto econô- mico e social. Pós-Universo 32 GOVERNANÇA CORPORATIVA, RESPONSABILIDADE E FUNÇÃO SOCIAL DA EMPRESA Pós-Universo 33 Assentada a existência de um Direito ao Desenvolvimento, que possui intensa relação com o Direito Empresarial, adentra-se na análise da função socialda empresa e seu cumprimento, algo que somente é viável mediante governança corporativa pautada na responsabilidade (social) da pessoa jurídica empresária. É natural que, normalmente, a empresa apresente custos sociais decorrentes das suas atividades. Entretanto o que não pode ser entendido como natural é que a empresa os considere como externalidades que representam um mero preço a pagar pelo progresso. A maior prova desses custos é a constatação de que advém em matéria ambiental, das atividades das empresas (mas não somente delas, pois também há queimadas e outros fatores que geram poluição), razão maior do aque- cimento global que vem gerando tantos problemas climáticos e tristes catástrofes, sendo que as organizações empresariais precisam compreender seu papel neste cenário. Então, por pressuposto, além de uma empresa dedicar-se à atividade lícita, as vantagens da sua existência e atuação têm de compensar os custos sociais que ela traz; trata-se de uma questão de avaliação do custo/benefício que resulta da atuação dela. Naturalmente, a balança deve pender para as vantagens, consideravelmente, mais substanciais do que os efeitos negativos, sendo que estes últimos devem ser evita- dos ou mitigados ao máximo por apresentarem problemas ao contexto das pessoas envolvidas, para a comunidade na qual a empresa está inserida e para quem mais seja atingido. E, em caso de conflito ou colisão de interesses, opondo, de um lado, a busca pela lucratividade e, de outro, a preservação de valores ambientais importan- tes para as pessoas envolvidas e para o contexto social, naturalmente, há que se fazer uma ponderação entre a relevância dos direitos envolvidos. Nesse sentido, inclusi- ve, deve-se considerar a possibilidade de conclusão que aponte para a tomada de medidas que determinem alterações na atuação da empresa ou na sua retirada do mercado. A lucratividade e a função social formam um sistema de pesos e contrape- sos. A empresa que seja predadora não pode subsistir, na medida em que jamais se deverá aceitar que o custo social das atividades dela seja elemento destrutivo para a possibilidade do cumprimento de sua função social. Ao analisar-se o que constitui a função social da empresa, desde logo se percebe haver intrínseca ligação desta com a função social da propriedade. Embora não se trate de conceito exatamente igual, há evidente constatação de que a primeira pode ser classificada como sendo uma extensão desta última. E repetimos a observação, Pós-Universo 34 anteriormente enfatizada, de que ao se falar de propriedade, a referência inclui bens materiais e imateriais (corpóreos e incorpóreos) componentes do patrimônio da empresa, todos integrados para a função social constitucionalmente estabelecida. Sob o ponto de vista histórico, considerando o direito positivo constitucional, a função social da empresa surgiu no Art. 147, da Carta Magna de 1946 (BRASIL, 1946, on-line), que já prescrevia que a propriedade devia estar condicionada ao bem-estar social. Seguiu presente no Art. 157, da Constituição Federal de 1967 (já mencionando a função social da propriedade como constante da ordem econômica disposta para realizar a justiça social) (BRASIL, 1967, on-line) e na Emenda Constitucional 1/1.969 (Art. 160) (BRASIL, 1969, on-line), até alcançar a conformação atual no Art. 170, da Constituição Federal (VERÇOSA, 2014). Não se deve considerar como mera coincidência o fato desse período de evo- lução do conceito e sua aceitação no direito (e, mesmo pela sociedade brasileira), coincidir com a fase em que se manifestou o desenvolvimento industrial em nosso país, dando a perceber que se estava superando, definitivamente, a fase das capi- tanias hereditárias e o tempo em que ser dono de latifúndio conferia status social, fosse ele produtivo, ou não. O sentido passou a ser de propriedade produtiva, e não propriedade de consumo ou especulação. Ou seja, o pós Segunda Guerra trouxe evolução no sentido de entender-se que havia necessidade de atribuir, como obri- gação, que a propriedade e as empresas devessem cumprir função social, dada a quantidade de interesses e direitos relacionados com as atividades delas e tendo em vista seu potencial para afetar, direta ou indiretamente, um número significativo de pessoas. A livre iniciativa não foi suprimida, mas colocada sob condição de ser meio para realização dos objetivos maiores representados pelo desenvolvimento nacio- nal e a justiça social. Segundo Forgioni (2012, p. 76), ao tratar da evolução da concepção da função social da empresa, identificou nela traços marcantes relacionados a uma construção da jurisprudência e, assim, se pronunciou: A chave da questão parece residir nos seguintes movimentos jurisprudenciais: (i) construção do instituto da dissolução parcial; (ii) delineamento das hipóteses de exclusão de sócios; e (iii) preservação do ente produtivo que se encontra em dificuldades econômicas. Pós-Universo 35 Esta construção jurisprudencial, como se pode entender, foi, primordialmente, rela- cionada à questão de privilegiar a preservação/conservação da empresa, considerada a importância dela para os sócios e, principalmente, para seus funcionários. Nesta perspectiva, a proteção da empresa centra-se como elemento funcional em prol, prin- cipalmente, dos interesses dos empresários, mas pode atuar ao revés e, tal como já antes se descreveu neste estudo, inclusive, justificar a intervenção na empresa, sua falência e, até, que os proprietários sejam privados da propriedade dela. Naturalmente, isso ocorre porque na função social da propriedade estão integra- dos também a proteção da comunidade, do universo formado por trabalhadores, dos interesses dos fornecedores e demais pessoas que tenham relação com a or- ganização empresarial, ou possam ser atingidas por consequências decorrentes da atuação dela. Ou seja, na concepção atual, deve-se ir além, compreendendo-se que a função social da empresa não se resume à geração de riqueza e à preservação dela, na medida em que inclui também o comportamento pautado na ética empresarial e na responsabilidade social. Inclui, inclusive, os aspectos relacionados à boa governança corporativa no sentido de assegurar respeito aos direitos dos sócios, dos trabalhado- res com os fornecedores, os concorrentes e os consumidores. Como exemplo, tem-se a responsabilidade pós-consumo, estatuída mediante o dever legal de atuar na logís- tica reversa, demonstrando esta ampliação dos elementos que compõem a função social da empresa que nunca pode ser tida como meramente provocar acréscimo de riqueza, gerar empregos e lucros. Sob o ponto de vista do Direito Positivo Brasileiro, Verçosa (2014, p. 185) expressa que a função social das empresas, enquanto comando constitucional, não se trata de um poder de agir, mas de um dever de agir para o cumprimento da norma (dar-lhe cogência), em obediência aos parâmetros da Lei Maior, e isso independentemente das dificuldades que explicita quando refere: “ No entanto, surgirão dificuldades técnico-jurídicas visando à responsabilidade do empresário, em vista da desobediência à função social da propriedade, na falta de lei específica sancionadora de tal conduta. Adiante-se que o desvio ou o descumprimento da função social da propriedade poderão gerar, ao menos, responsabilidade no plano cível na presença de dano, conjugando- -se, no Direito Brasileiro, o preceito constitucional como art. 159 do CC/1916, correspondente ao art. 927 do CC/2002. Pós-Universo 36 “ O Código Civil de 2002 não trouxe normas a respeito da função social da empresa nem no capítulo específico, nem nos demais. É por isto que Fernando Boiteux bem observou tratar-se de relação de complementaridade legislati- va.116 Desta maneira, sua expressão dar-se-á pelas disposições constitucionais e outras presentes na legislação extravagante. Quando a empresa é exercida sob a forma de sociedadepor ações, por exemplo, a Lei 6.404/1976 deter- mina a responsabilidade do controlador pelo descumprimento do dever de fazer a companhia exercer sua função social (art. 116, parágrafo único). O fato de existirem dificuldades não é atenuante para afastar ou isentar a empresa das obrigações relacionadas à sua função social, pois não se trata de recomenda- ção, mas sim, de um princípio jurídico a ser cumprido, afinal, o Judiciário o levará em consideração caso qualquer questão com essa problemática lhe seja submetida. E se pode afirmar que ações praticadas na empresa que sejam em contrário à conse- cução da sua função social, caracterizam atos ultra vires societatis do administrador, que, além apresentarem danos para as pessoas direta ou indiretamente atingidas, não condizem com os objetivos da empresa e poderão lhe trazer prejuízos (muitas vezes, tendo como consequência até a responsabilização do administrador). Com saber técnico muito adequado, Mamede e Mamede (2014, p. 48-49) afirmam: “ O princípio da função social da empresa é metanorma que tem essa matriz, demandando seja considerado o interesse da sociedade, organizada em Estado, sobre todas as atividades econômicas, mesmo sendo privadas e, destarte, submetidas ao regime jurídico privado. Embora tenha finalidade imediata de remunerar o capital nela investido, atendendo ao interesse de seu titular ou dos sócios do ente (sociedade) que a titulariza, a atividade ne- gocial atende igualmente ao restante da sociedade. Suas atividades e seus resultados desenvolvem a economia e, destarte, acrescentam tanto aos es- forços de desenvolvimento nacional, um dos objetivos fundamentais da República, segundo o artigo 3e, II, da Constituição. Segundo Stanley Frasão, há um regime integrado, em situação analógica à dos círculos concêntricos, a traduzir, no núcleo, os interesses do empresá- rio ou dos sócios da sociedade empresária; no aro posterior se concentram interesses - e por vezes direitos - difusos, relativos a seus empregados, forne- cedores, consumidores investidores etc., seguidos, no plano seguinte, pelo Pós-Universo 37 interesse do próprio Estado (regulador, arrecadador, administrador etc.) e, no círculo mais externo, de toda a sociedade, igualmente beneficiária da atuação empresarial. O princípio da função social da empresa conduz ao enfoque da livre iniciativa não por sua expressão egoísta, como trabalho de um ser humano em benefício de suas próprias metas, mas como iniciativa que, não obstante individual, cumpre um papel na sociedade. Há, portanto, como dever, uma indubitável função social para a empresa, e resta patente haver uma interligação de conteúdo que acresce aos interesses do empre- sário e a quem trabalha na empresa, também obrigações com a sociedade. Por isso, com uma visão marcadamente contemporânea, que inclui os valores protetivos do ser humano e que se revela mais consentânea com os princípios constitucionais, os autores (MAMEDE; MAMEDE, 2014, p. 49-50), complementam apontando significati- va porção deste núcleo que integra a função social da empresa e afirma: “ É fundamental distinguir empresa de dois conceitos vizinhos: (1) empresá- rio e/ou sociedade empresária e (2) estabelecimento. O estabelecimento é o complexo organizado de bens para o exercício da empresa (artigo 1.142 do Código Civil). Assim, a função social da empresa não se limita à função social da propriedade dos organizados que compõem o estabelecimento. Por outro lado, os interesses do empresário ou sociedade empresária, titular do estabelecimento (conjunto organizado de bens) e da empresa (estabele- cimento, atividades produtivas, identidade mercadológica, capital intelectual etc.), não se confundem com o interesse da empresa em si. Valoriza-se a empresa como célula econômica da sociedade organizada em Estado, sendo um vetor para o desenvolvimento nacional, a erradicação da pobreza e da marginalização, a redução das desigualdades sociais e regio- nais, permitindo a promoção do bem de todos (artigo 3e da Constituição da República). A empresa é também um vetor eficaz para a dignidade humana (art. 1º, I a III, da Constituição), bastando observar os benefícios materiais e imateriais que resultam das suas atividades. Se a empresa não assumir este papel, não cumprirá integralmente a sua função social. Perceba-se o equívoco em se entender a responsabilidade social da empresa, con- fundindo-a com a mera doação de bens ou dinheiro para ser aplicado em alguma atividade benemérita (filantrópica ou não). Fazer doações pode integrar parte do Pós-Universo 38 exercício da função social, mas está longe de ser tudo. Afinal, a empresa deve estar impregnada pelo comprometimento de incorporar uma cultura corporativa interna que transcenda a lei, e de adotar: - corretas e construtivas relações com seus colabo- radores (trabalhadores); - providências para a proteção ao meio ambiente; - respeito aos direitos dos consumidores de seus produtos ou serviços; - e integração benéfi- ca e construtiva em sua comunidade, dentre outras situações. Necessário que se construam processos virtuosos que, contando com a parti- cipação ativa do Direito, de forma benfazeja para o desenvolvimento, encorpam os melhores valores para serem aplicados à empresa em seu ambiente corporativo e em todas as suas relações externas, tudo em sentido do cumprimento da função social atribuída para ela pelas ordens jurídica e econômica. Estabelecidas as concepções quanto à responsabilidade social da empresa e sua função (social), ressalta-se a importância de uma adequada governança corporativa, conforme se demonstrará nas análises e estudos postados logo a seguir. Desde o século passado, foi se assentando a concepção de que uma boa go- vernança corporativa provoca impactos positivos nas empresas, principalmente, nas grandes corporações constituídas em companhias de capital aberto, nas quais aquele que adquire ações espera uma boa gestão por parte dos que tomam as de- cisões e as administram. Ao tratar do tema, historicamente, é citado o pioneiro trabalho de Berle e Means (de 1932), como o primeiro estudo relevante a respeito das grandes corporações, em especial, quanto à separação entre controle e gestão (SILVA, 2014). No entanto o destaque para a importância deste instrumento de gestão foi lento e, em parte, es- timulado por lições deixadas por crises econômicas, como a do ano de 1929, que afetou, especialmente, a economia dos Estados Unidos. E há que se considerar que este envolvimento com a governança corporativa foi retardado por conflitos, como a 2ª Guerra Mundial, e somente quando houve paz entre os países mais desenvolvi- dos é que a área empresarial começou a se organizar melhor tanto para tentar evitar e se preparar para enfrentar as crises quanto para, em tempos de normalidade, en- contrar estratégias e fórmulas de melhor desenvolvimento nas grandes corporações. Pós-Universo 39 Saiba mais a respeito das diferentes escolas surgidas ao longo do tempo, nas explicações de Edson Cordeiro da Silva em: Governança corporativa nas empresas: guia prático de orientação para acionistas, investidores, conse- lheiros de administração e fiscal, auditores, executivos, gestores, analistas de mercado e pesquisadores. 3. ed. São Paulo: Editora Atlas, 2012, apontando que foi nos anos de 1950 que, segundo uma ótica de pensamento estraté- gico centrado no planejamento financeiro, se acentuou a preocupação de haver na companhia um orçamento anual e algumas metas, tendo como personagem essencial o principal executivo considerado como o grande estrategista para este cumprimento (do orçamento e das metas). Fonte: os autores. saiba mais Consigne-se que havia uma certa inibição para a capacidade empreendedora, quando ela não estivesse compreendida dentro do que havia sido previamente traçado. A década de 1960 destacou a ideia de que, tendo como base as experiências anterio- res (curva de experiência,
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