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Direito empresarial

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DIREITO EMPRESARIAL 
1 
 
 
 
DIREITO EMPRESARIAL 
2 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1. EMPRESÁRIO ...................................................................................................................... 04 
2. SOCIEDADE ......................................................................................................................... 15 
3. ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL .................................................................................... 86 
4. INSTITUTOS COMPLEMENTARES ....................................................................................... 96 
5. EIRELI ................................................................................................................................ 101 
6. FALÊNCIA E RECUPERAÇÃO ............................................................................................. 104 
7. PROPRIEDADE INTELECTUAL ........................................................................................... 140 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DIREITO EMPRESARIAL 
3 
 
 
 
 
 
DIREITO EMPRESARIAL 
4 
 
 
 
 
 
EMPRESÁRIO 
 
 
O empresário pode ser pessoa física (empresário individual) ou jurídica (EIRELI ou sociedades 
empresárias). O conceito de empresário encontra-se no art. 966, CC1. 
 
Considere-se empresário quem exerce, profissionalmente, atividade econômica e organizada 
para a produção ou circulação de bens e serviços. Passemos à análise dos requisitos: 
a) Profissionalismo: significa que a atividade deve ser exercida de forma habitual, e não de 
forma esporádica. 
 
b) Atividade econômica: a criação de riquezas. A atividade a ser exercida deve ter a finali-
dade lucrativa. As atividades sem fins lucrativas, como de associações e fundações, não são 
consideradas empresarias. 
 
c) Organização: é a reunião dos fatores de produção, como matéria prima, mão de obra, 
tecnologia, capital. Ausentes os fatores de produção, não será a atividade considerada co-
mo empresária. 
 
d) Produção ou circulação de bens ou serviços: a atividade a ser desenvolvida pode ser pa-
ra produção de bens (fábrica de automóveis), produção de serviços (banco Itaú), circulação 
de bens (concessionária de automóveis) ou circulação de serviços (agência de viagens). 
 
Esses pressupostos previstos no art. 966, CC são cumulativos. Faltando qualquer dos requisi-
tos, a atividade será considerada de natureza simples, ou seja, não empresária. 
 
 EXCLUÍDOS DO CONCEITO DE EMPRESÁRIO 
Entre o rol das atividades econômicas e organizadas existentes, é necessário tratarmos daque-
las excluídas do conceito de empresário, independente do seu objeto. 
 
 PROFISSIONAL INTELECTUAL 
O art. 966, parágrafo único, CC, excluí do conceito de empresário o profissional intelectual de 
natureza artística, científica e literária, ainda que com concurso de auxiliares ou com a ajuda de 
colaboradores. Ou seja, o exercício das atividades exclusivamente intelectual estará excluído do con-
ceito de empresário. 
 
O legislador decidiu excluir as profissões intelectuais, sejam elas de natureza artística (pintor, 
músico, fotógrafo), científica (médico, advogado) ou literária (escritor), do conceito de empresário 
quando a profissão for fator principal da atividade desenvolvida. Sendo assim, dois médicos que re-
solvem abrir um consultório, por exemplo, exercem atividade de natureza simples (não empresária), 
ainda que contratem uma secretária e uma copeira, independente da sua estrutura organizacional. 
 
1 Enunciado 54 do CJF: “É caracterizador do elemento de empresa a declaração da atividade fim, assim como a pratica dos atos empresari-
as”. 
DIREITO EMPRESARIAL 
5 
 
 
Notem que um consultório médico pode preencher todos os requisitos do art. 966, CC (profissiona-
lismo, atividade econômica, organização e produção de serviço) e, ainda assim, não ser empresária a 
atividade pelo fato de exercerem exclusivamente a profissão intelectual. 
 
A exclusão prevista no dispositivo ocorre por conta da essência personalíssima da atividade, 
afastando os profissionais intelectuais do âmbito mercantil, mesmo que preencha todos os pressu-
postos da empresa. 
 
Ocorre que o legislador, na parte final do art. 966, parágrafo único, CC, traz uma ressalva de 
que atividade intelectual poderá ser considerada empresária. Isso ocorrerá quando o exercício da 
profissão intelectual constituir ELEMENTO DE EMPRESA2, isto é, quando a profissão se tornar com-
ponente da atividade, deixando de ser fator principal, ou seja, quando a atividade for absorvida pelos 
fatores de produção. 
 
Os profissionais liberais somente seriam considerados empresários se a organização dos fato-
res de produção fosse mais importante que a atividade desenvolvida (Enunciado nº 194, II JDC). 
 
Sendo assim, imaginem que dois veterinários (profissionais intelectuais) decidam montar uma 
sociedade - Pet Shop, e que oferecessem, dentre os serviços de tosa, venda de produtos para animais 
e hospedagem, também o atendimento veterinário. Se observarmos as atividades que são desenvol-
vidas conseguimos verificar que a profissão intelectual é absorvida pelos outros fatores de produção, 
então essa atividade seria considerada empresária. Notem que a atividade intelectual seria um ele-
mento de empresa, por ser mais um componente do objeto, mais uma atividade dentre outras que 
são desenvolvidas no Pet Shop3. 
 
Nos termos do art. 15, Lei nº 8.906/94, a atividade jurídica exercida pelos advogados será 
sempre de natureza simples, nunca será considerada empresária. É vedado que a advocacia seja e-
xercida em caráter de mercancia. A sociedade de advogados é considerada como sociedade civil 
(terminologia utilizada antes do advento do CC/02, hoje tratada como sociedade simples). O registro 
dos atos constitutivos da sociedade de advogados, sociedade unipessoal de advogados, é realizado 
na Ordem dos Advogados do Brasil perante o Conselho Seccional. 
 
 EMPRESÁRIO RURAL OU SOCIEDADE RURAL 
A atividade rural é aquela que explora as atividades agrícolas, pecuárias, extrativismo, a extra-
ção e a exploração vegetal e animal, a transformação de produtos agrícolas ou pecuários realizadas 
pelo agricultor (desde que não alteradas sua característica in natura ou sua composição), ou seja, 
aquelas em que seu fator de produção principal é a terra. 
 
A Constituição Federal prevê no art. 170, IX, o tratamento diferenciado para as empresas de 
pequeno porte. O legislador teve a preocupação de dar um tratamento especial ao exercício da ativi-
dade econômica rural e ao pequeno empresário. Na redação do art. 970, CC, definiu-se que a lei de-
verá assegurar tratamento jurídico favorecido, simplificado e diferenciado ao empresário rural e ao 
pequeno empresário no tocante à inscrição e aos efeitos que dela decorrem, sendo assim excluídos 
da condição formal de empresário. 
 
 
2 Enunciado n° 195, II, JDC - Art. 966: A expressão “elemento de empresa” demanda interpretação econômica, devendo ser analisada sob a 
égide da absorção da atividade intelectual, de natureza científica, literária ou artística, como um dos fatores da organização empresarial. 
3 Se os dois veterinários resolverem criar uma sociedade que tenha como objeto um consultório apenas para exercício da profissão intelec-
tual (atendimento veterinário), nesse caso a atividade será considerada de natureza simples, ou seja, não será empresária. 
DIREITO EMPRESARIAL 
6 
 
 
O empresário cuja atividade rural seja a sua principal profissão poderá efetuar sua inscrição no 
Registro Público de Empresa Mercantil (RPEM4) da respectiva sede, hipótese em que será equiparado 
ao empresário (art. 971, CC). O legislador facultou ao rural efetuar o seu registro. É a única hipótese 
em que o registro será facultativo. 
 
Para ser considerado empresário, para fins legais, deverá efetuaro seu registro (observadas as 
disposições do art. 968, CC) e reunir os pressupostos para o exercício da atividade empresarial (pro-
fissionalismo, atividade econômica, organização e produção de bens ou circulação de bens). Quando 
o rural se inscrever no Registro Público de Empresa Mercantil será equiparado ao empresário, sujei-
tando-se ao regime falimentar e de recuperação. 
 
O mesmo tratamento será oferecido às sociedades empresárias que tenham por objeto ativi-
dade própria de empresário rural e seja constituída ou transformada de acordo com um dos tipos de 
sociedade empresária, cumpridas as formalidades do art. 968, CC. A sociedade poderá efetuar o seu 
registro no Registro Público de Empresa Mercantil (Junta Comercial) da respectiva sede, hipótese em 
que será 5equiparada às sociedades empresárias (art. 984, CC). 
 
É possível ainda que o produtor rural que atenda as condições mencionadas no art. 971, CC, 
possa constituir uma Empresa Individual de Responsabilidade Limitada - EIRELI. Nas hipóteses em 
que o Rural efetuar o seu registro no RPEM e consequentemente for equiparado ao empresário, so-
ciedade empresária ou EIRELI empresária, poderá se valer da Lei n. 11.101/05 e consequentemente 
ter a sua falência decretada ou pedir recuperação judicial. 
 
Um outro aspecto que deve ser abordado é quanto à natureza jurídica desse registro para o 
empresário ou sociedade cuja a principal atividade seja a rural. O registro tem natureza constitutiva6, 
pois somente a inscrição no Registro Público de Empresa Mercantil será capaz de equipará-lo ao em-
presário ou sociedade empresária7, uma vez que a atividade do rural não é empresária, exceto se 
efetuar sua inscrição na Junta comercial, hipótese em que será equiparado. 
 
 COOPERATIVA 
A sociedade cooperativa é uma sociedade de pessoas, com forma e natureza jurídica próprias, 
de natureza civil, não sujeitas à falência, constituídas para prestar serviços aos associados. Encontra-
se regulada no Código Civil (arts. 1.093 a 1.096) e na Lei n. 5.764/71. 
 
A sociedade cooperativa é criada por pessoas que, reciprocamente, se obrigam a contribuir 
com bens ou serviços para o exercício de uma atividade econômica, de proveito comum, sem objeti-
vo de lucro, podendo o seu objeto versar sobre qualquer gênero de serviço, operação ou atividade. 
 
As sociedades cooperativas, por força do disposto no art. 982, parágrafo único, CC, não são 
consideradas empresárias, sendo sempre de natureza simples, independentemente do seu objeto. 
 
São características das sociedades cooperativas: variabilidade, ou dispensa do capital social; 
concurso de sócios em número mínimo necessário a compor a administração da sociedade, sem limi-
 
4 O RPEM é composto pelas Juntas Comerciais de cada Estado, e supervisionadas pelo Departamento de Registro Empresarial e Integração 
(DREI – substituiu o DNRC). 
5 Enunciado nº: 62, II Jornada de Direito Comercial. 
6 Enunciado nº: 202, II, JDC – Arts. 971 e 984: o registro do empresário ou sociedade rural na Junta Comercial é facultativo e de natureza 
constitutiva, sujeitando-se ao regime jurídico empresarial. É inaplicável esse regime ao empresário ou sociedade empresária que não 
exerça tal opção. 
7 Esse tema não está pacificado na doutrina. Sérgio Campinho sustenta ser a natureza jurídica do registro declaratória e não constitutiva. O 
direito de Empresa, 13ª Edição, 2014, P. 29-31. 
DIREITO EMPRESARIAL 
7 
 
 
tação de número máximo; limitação do valor da soma de quotas do capital social que cada sócio po-
derá tomar; intransferibilidade das quotas do capital a terceiros estranhos à sociedade, ainda que 
por herança; quorum, para a assembleia geral funcionar e deliberar, fundado no número de sócios 
presentes à reunião, e não no capital social representado; direito de cada sócio a um só voto nas 
deliberações, tenha ou não capital a sociedade, e qualquer que seja o valor de sua participação; dis-
tribuição dos resultados, proporcionalmente ao valor das operações efetuadas pelo sócio com a so-
ciedade, podendo ser atribuídos juros fixos ao capital realizado; indivisibilidade do fundo de reserva 
entre os sócios, ainda que em caso de dissolução da sociedade. 
 
As sociedades cooperativas deverão arquivar o seu estatuto social na Junta Comercial do Esta-
do (RPEM8), onde a entidade estiver sediada – momento no qual ela irá adquirir personalidade jurídi-
ca (art. 18, Lei n. 5.764/71, e art. 32, II, a, Lei n. 8.934/94) – e deverão adotar como nome empresari-
al uma denominação, seguida da expressão “cooperativa”. 
 
A responsabilidade dos cooperados pode ser limitada (somente responderá pelo valor de suas 
cotas e pelos prejuízos verificados nas operações sociais) ou ilimitada (responderá ilimitadamente e 
solidariamente pelas obrigações sociais). 
 
As sociedades cooperativas serão de responsabilidade limitada, quando a responsabilidade do 
associado pelos compromissos da sociedade se limitar ao valor do capital por ele subscrito, e ilimita-
da quando a responsabilidade do associado pelos compromissos da sociedade for pessoal, solidária e 
não tiver limite (arts. 11 e 12, Lei n. 5.764/71). 
 
Sua administração será exercida por uma Diretoria ou Conselho de Administração, composto 
exclusivamente de associados eleitos pela Assembleia Geral. O mandato, em hipótese alguma, pode-
rá ser superior a 4 anos, sendo obrigatória a renovação de, no mínimo, 1/3 do Conselho de Adminis-
tração. 
 
Nas omissões do capítulo da sociedade cooperativa e não havendo regulamentação na legisla-
ção especial, aplicamos às cooperativas as disposições relativas às sociedades simples. 
 
 EMPRESÁRIO INDIVIDUAL 
O Empresário Individual é a pessoa física que exerce empresa em nome próprio, suportando os 
riscos decorrentes da sua atividade. O que irá definir se atividade é ou não empresária é a analise dos 
pressupostos para sua caracterização. 
 
 De acordo com o Código Civil, em seu art. 966, empresário é todo aquele que exerce profis-
sionalmente “atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou serviços”. 
 
Sua inscrição deverá conter, obrigatoriamente: 
Art. 968. (...) 
I - o seu nome, nacionalidade, domicílio, estado civil e, se casado, o regime de bens; 
II - a firma, com a respectiva assinatura autógrafa que poderá ser substituída pela assina-
tura autenticada com certificação digital ou meio equivalente que comprove a sua auten-
ticidade, ressalvado o disposto no inciso I do § 1º do art. 4
o
 da Lei Complementar nº 123, 
de 14 de dezembro de 2006; 
III - o capital; 
 
8 O tema é divergente. Alguns doutrinadores sustentam que o seu registro deveria ocorrer no Registro Civil de Pessoa Jurídica, por ser 
simples a natureza da sociedade. 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LCP/Lcp123.htm#art4%C2%A71i
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LCP/Lcp123.htm#art4%C2%A71i
DIREITO EMPRESARIAL 
8 
 
 
IV - o objeto e a sede da empresa. 
 
 PRESSUPOSTOS E CAPACIDADE PARA SER EMPRESÁRIO 
Os pressupostos para caracterização do empresário estão elencados no art. 966, CC. O empre-
sário deve exercer a atividade econômica (criação de riquezas com a finalidade de obtenção de lucro) 
com profissionalismo (não seja exercida de forma esporádica e sim habitual), e organização (reunião 
dos fatores de produção – (mão de obra, tecnologia, insumo e capital), para a produção ou a circula-
ção de bens ou serviços. 
 
Mas, não obstante os pressupostos acima elencados para sua caracterização como empresá-
rio, o legislador estabelece a capacidade plena para o exercício da atividade como empresário indivi-
dual. Somente poderão exercer atividade como empresário individual aqueles que estiverem em 
pleno gozo da sua capacidade civil e não tiverem impedimento legal (art. 972, CC). 
 
Toda pessoa é capaz de ter direitos e deveres na ordem civil, mas a capacidade civil paraà pra-
tica de todos os atos somente se inicia aos 18 anos completos. Sendo assim, os absolutamente inca-
pazes (os menores de 16 anos) e os relativamente incapazes (maiores de 16 anos e menores de 18 
anos, os ébrios habituais e viciados em tóxicos, os pródigos e aqueles que, por causa transitória ou 
permanente, não puderem exprimir a sua vontade) não podem iniciar uma atividade como empre-
sário individual. 
 
A incapacidade para os menores poderá cessar através da emancipação, que poderá ser con-
cedida nas seguintes hipóteses: 
Art. 5º/CC. (...) 
Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade: 
I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento públi-
co, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, 
se o menor tiver dezesseis anos completos; 
II - pelo casamento; 
III - pelo exercício de emprego público efetivo; 
IV - pela colação de grau em curso de ensino superior; 
V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, 
desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia 
própria. 
 
A prova da emancipação deverá ser arquivada no registro público de empresa mercantil. 
 
O incapaz não pode iniciar uma atividade como empresário, mas, em razão do princípio da 
preservação da empresa, nos termos do art. 974, CC, poderá o incapaz, por meio de seu representan-
te ou devidamente assistido, continuar o exercício da atividade empresarial antes exercida por ele 
enquanto capaz (incapacidade superveniente) por seus pais ou pelo autor da herança (sucessão por 
morte). 
 
O incapaz nunca poderá iniciar uma atividade como empresário individual enquanto não for 
plenamente capaz, mas, excepcionalmente, o legislador permite, por conta do princípio da preserva-
ção da empresa, que ele possa continuar o exercício da atividade empresarial em duas hipóteses: 
incapacidade superveniente e sucessão por morte. 
 
O incapaz poderá então continuar o exercício da empresa desde que esteja assistido (relati-
vamente incapaz) ou representado (absolutamente incapaz) nos casos de incapacidade supervenien-
DIREITO EMPRESARIAL 
9 
 
 
te ou sucessão por morte. Todavia, somente poderá fazê-lo através de autorização judicial, após 
análise dos riscos e conveniência em continuá-la, não estando sujeitos ao resultado da empresa os 
bens particulares (pessoais, estranhos ao acervo da empresa) que o incapaz já possuía ao tempo da 
sucessão ou interdição. Tais bens deverão ser listados no alvará de autorização concedido pelo juiz 
(art. 974, §§ 1º e 2º). 
 
O objetivo é a proteção do incapaz, uma vez que os atos praticados serão exercidos por seus 
representantes ou assistentes, havendo uma limitação da sua responsabilidade aos bens que inte-
gram o estabelecimento. Por isso, torna-se indispensável o arquivamento, na Junta Comercial, da 
autorização com o respectivo Alvará, listando os bens pessoais do incapaz para que se torne pública 
a limitação da sua responsabilidade. 
 
Essa autorização concedida tem caráter precário, podendo o juiz revogá-la a qualquer tempo, 
depois de ouvidos os pais, tutores, ou representantes legais do menor ou do interdito, sem prejuízos 
dos direitos adquiridos por terceiros (art. 974, § 1º, CC). A autorização, bem como a sua eventual 
revogação deverão ser arquivadas no Registro Público de Empresa Mercantil da respectiva sede, para 
que terceiros tenham conhecimento do marco inicial em que o incapaz será autorizado a continuar a 
atividade. 
 
Na hipótese do representante ou assistente do incapaz ter impedimento legal para o exercício 
da atividade empresarial, dever-se-á nomear, com a aprovação do juiz, um ou mais gerentes, da 
mesma forma como poderá fazê-lo em todas as hipóteses em que o juiz achar conveniente. Mas, a 
eventual nomeação de gerente não exime a responsabilidade do representante ou assistente, que 
continua tendo o dever de zelar e responder pelos atos praticados pelos gerentes que tenham sido 
nomeados, devendo comunicar ao juiz todas as irregularidades, fraudes, imprudências que forem 
detectadas, solicitando a sua revogação ou substituição. 
 
O uso da nova firma, quando concedida a autorização para continuação do exercício da ativi-
dade empresarial, por sucessão (antes exercida por seus pais ou pelo autor da herança), caberá, con-
forme o caso, ao gerente ou ao representante ou assistente do incapaz ou o próprio incapaz quan-
do houver autorização do juiz (ex. legitimidade ativa para o pedido de recuperação; legitimidade 
passiva no processo de falência). Não aplicamos a hipótese de nova firma quando a autorização é 
concedida em virtude da incapacidade superveniente, pois, nesse caso, não há alteração do titular da 
empresa. Inclusive, eventual falência da empresa deverá ser dirigida ao incapaz (titular da empresa). 
 
 IMPEDIMENTO PARA SER EMPRESÁRIO INDIVIDUAL 
O Código Civil dispõe, em seu art. 972, que podem exercer atividade como empresários aque-
les que estiverem em pleno gozo da capacidade civil e não forem impedidos, mas, não elenca aque-
les que têm impedimento legal. No Código Comercial de 1850, o legislador, no art. 2º, trazia o rol dos 
proibidos de exercerem comércio. 
 
Temos diversas leis especiais em nosso ordenamento que contemplam o impedimento para o 
exercício da atividade própria de empresário a determinadas pessoas, em razão da profissão ou de 
circunstâncias especiais. Podemos destacar como impedidos de serem empresários: 
a) os deputados federais e senadores (art. 54, II, a, da CRFB); 
b) funcionários públicos, sejam estaduais, municipais ou federais (art. 117, X, Lei n. 
8.112/90); 
c) Magistrados (art. 36, I e II, LOMAN – Lei Orgânica da Magistratura Nacional); 
DIREITO EMPRESARIAL 
10 
 
 
d) corretores de seguros (Lei n. 4.594/64); 
e) militares na ativa (três Armas) (art. 29, Lei n. 6.880/1980); 
f) Membros do Ministério Público (art. 128, §5º, CF); 
g) Deputados estaduais e vereadores (art. 29, IX, CF); 
h) falidos, inclusive os sócios de responsabilidade ilimitada que ainda não estiverem reabili-
tados (art. 102, Lei n. 11.101/05); 
i) condenados por qualquer crime previsto na Lei n. 11.101/05 (art. 101); 
j) médicos para o exercício da simultâneo da farmácia, e os farmacêuticos, para o exercício 
simultâneo da medicina; 
k) despachantes aduaneiros, dentre outros que podem estar previstos em lei especial (art. 
735, II, e, Decreto n. 6.759/09); 
l) estrangeiros com visto provisório (art. 98, Lei n. 6.815/80). 
 
Os impedimentos elencados acima são para o exercício de atividade como empresário indivi-
dual, via de regra, não há impedimento para que sejam sócios cotistas ou acionistas (salvo as exce-
ções previstas na legislação especial), desde que não exerçam a função de administradores, como é o 
caso, por exemplo, dos magistrados e militares na ativa. É necessário que se faça uma analise especi-
fica quanto a legislação de cada um para verificar os impedimentos não só para empresário como 
para exercer o cargo de administração ou poder constituir uma sociedade. 
 
O impedimento para o exercício da atividade não significa a incapacidade; o agente é capaz, 
mas, por proibição da lei, não poderá ser empresário. No entanto, sabemos que o impedimento não 
gera óbice para o exercício da atividade. Mesmo com a vedação legal, podemos encontrar pessoas 
impedidas exercendo atividade própria de empresário individual. Sendo assim, os atos por ele prati-
cados são válidos e surtem efeitos no mundo jurídico, não podendo o impedido, posteriormente, 
alegar o impedimento para o não cumprimento de suas obrigações. 
 
Por conta do impedimento, a situação será de irregularidade, não sendo estendidas as prerro-
gativas próprias de empresário ou sociedade empresária, como, por exemplo, pedir recuperação 
judicial. Sendo assim, aquele que tem impedimento e, ainda assim, exerce atividade como empresá-
rio responderá por todas as obrigações contraídas,podendo, inclusive, ser declarado falido, respon-
dendo como empresário irregular. Ou seja, sua responsabilidade será ilimitada e o impedido pode ser 
condenado criminalmente pela prática do ato de exercício irregular. O militar, por exemplo, pode ser 
condenado à pena privativa de liberdade (art. 204, DL n°1.101/1969). 
 
 RESPONSABILIDADE E PATRIMÔNIO 
A responsabilidade do empresário individual será ilimitada. Ou seja, ele responderá perante os 
seus credores com todo o seu patrimônio pessoal. 
 
O seu patrimônio pessoal ficará sujeito ao resultado da atividade, respondendo com todo seu 
patrimônio pelas obrigações contraídas. Não há uma separação patrimonial do seu patrimônio em-
presarial (decorrente da atividade que ele exerce) e seu patrimônio particular (pessoal). Porém, 
quanto às obrigações decorrentes de sua atividade, responderá primeiramente perante os credores 
com os bens vinculados a sua atividade econômica, e se esses bens não forem suficientes com o seu 
patrimônio pessoal. 
 
DIREITO EMPRESARIAL 
11 
 
 
 ENQUADRAMENTO COMO ME OU EPP 
O intuito da LC n. 123/06 é a simplificação do processo de abertura e fechamento das ME’s e 
EPP’s. A Lei Complementar n. 123/06 surge com o intuito de estabelecer normas gerais relativas ao 
tratamento diferenciado e favorecido a ser dispensado às microempresas e empresas de pequeno 
porte, no âmbito dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, especial-
mente no que se refere: 
a) à apuração e recolhimento dos impostos e contribuições da União, dos Estados, do Dis-
trito Federal e dos Municípios, mediante regime único de arrecadação, inclusive obrigações 
acessórias; 
b) ao cumprimento de obrigações trabalhistas e previdenciárias, inclusive obrigações aces-
sórias; 
c) ao acesso a crédito e ao mercado, inclusive quanto à preferência nas aquisições de bens 
e serviços pelos Poderes Públicos, à tecnologia, ao associativismo e às regras de inclusão; 
d) ao cadastro nacional único de contribuintes a que se refere o inciso IV do parágrafo úni-
co do art. 146, in fine, da Constituição Federal. Sendo vedado se enquadrar como ME ou 
EPP aquelas elencadas no art. 3º, §4º, c/c art. 12, LC n. 123/06. 
 
Art. 3º. Para os efeitos desta Lei Complementar, consideram-se microempresas ou empre-
sas de pequeno porte, a sociedade empresária, a sociedade simples, a empresa individual 
de responsabilidade limitada e o empresário a que se refere o art. 966 da Lei nº 10.406, de 
10 de janeiro de 2002 (Código Civil), devidamente registrados no Registro de Empresas 
Mercantis ou no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, conforme o caso, desde que: 
I - no caso da microempresa, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta igual ou inferi-
or a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais); e 
II - no caso de empresa de pequeno porte, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta 
superior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais) e igual ou inferior a R$ 
4.800.000,00 (quatro milhões e oitocentos mil reais). 
 
A utilização das expressões ME ou EPP é exclusiva daqueles que estão enquadrados por lei, 
devendo constar ao final do nome empresarial a expressão ME ou EPP, em obediência ao princípio 
da veracidade. 
 
Ao se enquadrar como ME ou EPP o empresário, a sociedade empresária ou a EIRELI adquire 
diversas vantagens como, por exemplo: acesso ao crédito; benefícios na fiscalização, benefícios em 
licitações, legislação trabalhista e fiscal; escrituração, dentre outros. 
 
 MICROEMPREENDEDOR INDIVIDUAL E PEQUENO EMPRESÁRIO 
O conceito do pequeno empresário, MEI, ME (microempresa) e EPP (empresa de pequeno por-
te) estão definidos na Lei Complementar n. 123/06. 
 
O Microempreendedor Individual (MEI) é a pessoa que trabalha por conta própria e que se le-
galiza através do portal do empreendedor, mas não poderá ter participação em outra empresa como 
sócio ou titular. 
 
O art. 18-A, §1º, LC n. 123/06, conceitua o MEI como o empresário individual (art. 966, CC), 
que tenha auferido receita bruta, no ano-calendário anterior, de até R$ 81.000,00, optante pelo Sim-
ples Nacional e que não esteja impedido de optar pela sistemática prevista neste artigo, observado o 
DIREITO EMPRESARIAL 
12 
 
 
limite de R$ 6.750,00, multiplicados pelo número de meses compreendido entre o início da atividade 
e o final do respectivo ano-calendário, consideradas as frações de meses como um mês inteiro. 
 
A LC n. 128/08 criou condições especiais para os trabalhadores conhecidos como informais 
(autônomos) para se tornar um MEI legalizado (como por exemplo: cabeleireiro, manicure, artesão, 
chaveiro, motoboy, humorista e contador de história, depilador, digitador, fotógrafo, etc.). Não obs-
tante, o legislador tratar o MEI como empresário individual previsto no art. 966, CC, algumas consi-
derações devem ser realizadas. 
 
O Código Civil dispõe, em seu art. 968, § 4º, que o processo de abertura, registro, alteração e 
baixa do microempreendedor individual de que trata o art. 18-A, LC n. 123/06, bem como qualquer 
exigência para o início de seu funcionamento, deverá ter trâmite especial e simplificado, preferenci-
almente eletrônico, opcional para o empreendedor, na forma a ser disciplinada pelo Comitê para 
Gestão da Rede Nacional para a Simplificação do Registro e da Legalização de Empresas e Negócios – 
CGSIM. 
 
Ao MEI poderão ser dispensados: o uso da firma, com a respectiva assinatura autografa, o ca-
pital, requerimentos, demais assinaturas, informações relativas à nacionalidade, estado civil e regime 
de bens, bem como remessa de documentos, na forma estabelecida pelo CGSIM. 
 
O MEI faz o seu cadastro direito no portal do empreendedor sem nenhum custo, sendo dis-
pensada a remessa dos documentos para a junta comercial, o uso da firma com assinatura autografa, 
capital, obrigatoriedade dos livros empresariais, dentre outros. 
 
Ou seja, o MEI não preenche os requisitos do art. 966, CC, pois, em decorrência das atividades 
que ele exerce, muitas vezes ele não terá o pressuposto da organização (a reunião para os fatores de 
produção, quais sejam: a) profissionalismo; b) atividade econômica; c) organização e produção ou 
circulação de bens ou serviços), pois, na maioria dos casos, ele mesmo irá desempenhar as ativida-
des, não sendo necessária sequer a impessoalidade no exercício da atividade, tampouco o capital 
(manicure, fotógrafo, dublador, etc.), sendo o seu procedimento de registro completamente distinto 
da figura do empresário individual, que deverá obedecer aos requisitos do art. 966, CC. 
 
Entre as vantagens que são oferecidas pela lei está o registro no Cadastro Nacional de Pessoas 
Jurídicas (CNPJ), o que facilita a abertura de conta bancária, o pedido de empréstimos e a emissão de 
notas fiscais. O MEI não é Pessoa Jurídica; o seu cadastro no RCPJ é realizado para fins de recolhi-
mento de tributo e encargos previdenciários, sendo facultada ao MEI a contratação de um emprega-
do que receba o salário mínimo ou o piso da sua categoria. 
 
Além disso, o MEI será enquadrado no Simples Nacional e ficará isento dos tributos federais 
(Imposto de Renda, PIS, Cofins, IPI e CSLL). Assim, pagará apenas o valor fixo mensal de R$ 5,00 de 
ISS, se a atividade for serviço e R$ 1,00 de ICMS se for comércio ou indústria, em ambos os casos 
acrescido de 5% do salário mínimo para o INSS. Com essas contribuições, o Microempreendedor 
Individual tem acesso a benefícios como auxílio maternidade, auxílio doença, aposentadoria, entre 
outros. 
 
Não poderá optar pela sistemática de recolhimento prevista no caput deste artigo o MEI cuja 
atividade seja tributada na forma dos Anexos V ou VI da LC n. 123/06, salvo autorização relativa a 
exercício de atividade isolada, na forma regulamentada pelo CGSN, que possua mais de um estabele-
cimento, que participe de outra empresa como titular, sócio ou administrador, ou que contrate em-
pregado. 
 
DIREITO EMPRESARIAL 
13 
 
 
O MEI e o pequenoempresário são figuras distintas. O primeiro deverá efetuar sua inscrição 
no portal do empreendedor, enquanto este efetuará seu registro na Junta Comercial do Estado da 
respectiva sede da empresa. 
 
O art. 970, CC dispõe que a Lei deverá assegurará tratamento favorecido, diferenciado e sim-
plificado ao pequeno empresário quanto à inscrição e aos efeitos daí decorrentes. 
 
O conceito de pequeno empresário encontra-se previsto no art. 68 da LC n. 123/06: “Conside-
re-se pequeno empresário, para aplicação nos arts. 970 e 1.1799 da Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 
2002 (código civil), o empresário individual caracterizado como microempresa na forma da Lei Com-
plementar que aufira receita bruta anual até o limite previsto no §1º do art. 18-A”. Porém, para ser 
considerado pequeno empresário, não aplicamos a vedação prevista para o MEI no art. 18-A, §4º, da 
referida lei. 
 
Para ser considerado pequeno empresário, a lei estabelece que o empresário deve estar devi-
damente registrado na Junta Comercial e enquadrado como ME, mas a sua receita bruta não pode 
ser superior a R$ 81.000,00. O pequeno empresário é uma subespécie da Microempresa (ME), sendo 
vedado a sua transformação em sociedade empresária ou EIRELI uma vez que a Lei limitou esse tra-
tamento apenas ao empresário individual (cuja a receita bruta anual não pode ser superior a R$ 
81.000,00). 
 
Ao pequeno empresário é dispensável a exigência de escrituração uniforme de seus livros, le-
vantamento anual de balanço patrimonial e de resultados econômicos, benefícios que não são es-
tendidos as ME e EPP, nos termos do art. 1.179, §2º, CC. 
 
Não podemos confundir a figura do pequeno empresário com o MEI (microempreendedor in-
dividual). 
 
 TRANSFORMAÇÃO DO REGISTRO DO EMPRESÁRIO EM SOCIEDA-
DE EMPRESÁRIA 
O empresário individual poderá a qualquer tempo solicitar no Registro Público de Empresa 
Mercantil a sua transformação de empresário individual para EIRELI ou sociedade empresária, quan-
do quiser admitir um ou mais sócios para o exercício da sociedade a ser constituída pela sua trans-
formação. 
 
A transformação é o ato pelo qual o empresário transforma o seu tipo, deixando de ser empre-
sário individual e tornando-se uma sociedade empresária (pode ser uma sociedade em nome coleti-
vo; sociedades em comandita simples ou limitada), ou uma EIRELI, sem que haja a sua liquidação ou 
dissolução, devendo obedecer aos preceitos reguladores da EIRELI ou do tipo societário que for esco-
lhido. 
 
Ocorre, todavia, que, dentre os tipos societários para transformação, não poderá o empresário 
se transformar em uma sociedade anônima (constituição distinta prevista em lei especial), cooperati-
va (por não ser empresária) e sociedade simples (não exerce empresa). 
 
 
9 Enunciado 235, III, JDC – o pequeno empresário, dispensado da escrituração é aquele previsto na Lei 9.841/99. 
DIREITO EMPRESARIAL 
14 
 
 
 INCAPAZ SER SÓCIO 
O incapaz não pode iniciar uma atividade como empresário individual, mas, nada impede que 
ele seja sócio de uma sociedade, desde que cumpra cumulativamente os seguintes requisitos: 
a) não ser administrador; 
b) o capital social estar integralizado; 
c) o sócio relativamente incapaz deve ser assistido e o sócio absolutamente incapaz repre-
sentado. 
 
A impossibilidade de o incapaz não poder exercer o cargo de administrador ocorre como forma 
de proteção ao seu patrimônio, uma vez que os administradores podem ser responsabilizados pesso-
almente pela prática de seus atos quando agirem com dolo ou culpa no desempenho de suas atribui-
ções; quando excederem os limites impostos no contrato social; ou ainda atuarem em desacordo 
com a lei. 
 
A exigência da integralização do capital social somente será aplicada às sociedades limitadas, 
uma vez que os sócios respondem solidariamente pela integralização do capital social (art. 1.052, 
CC). Nos tipos societários em que os sócios respondem de forma ilimitada ou nas sociedades anôni-
mas, tal exigência não será aplicada, pois nesses tipos societários a integralização não influencia a 
proteção do incapaz (Enunciado nº 467, V, JDC). 
 
 EMPRESÁRIO INDIVIDUAL CASADO 
O Código Civil dispõe, em seu art. 978, que o empresário casado pode alienar ou gravar em 
ônus reais os bens que pertençam ao patrimônio da empresa, independente do regime de bens do 
casamento. A intenção do legislador é, sem dúvidas, conferir maior autonomia ao empresário, no 
tocante aos bens que pertençam ao patrimônio da empresa. 
 
Para aplicação no disposto no art. 978, CC, é necessário que exista prévia averbação de autori-
zação conjugal a conferencia do imóvel ao patrimônio empresarial no cartório de registro de imóveis, 
com a consequente averbação do ato a margem de sua inscrição no Registro Público de Empresa 
Mercantis. 
 
O mesmo não ocorrerá com os bens pessoais do casal não afetados pelo exercício da atividade 
empresarial, hipótese em que aplicaremos o disposto no art. 1.647, I, CC, em que nenhum dos cônju-
ges poderá, sem a autorização do outro – exceto no regime de separação absoluta – alienar ou gra-
var em ônus reais os bens imóveis. Tal proibição não se estende às sociedades empresárias, pois os 
bens constituem patrimônio da empresa, o que gera à sociedade autonomia patrimonial. 
 
O Código Civil dispõe em seu art. 979 que, além de serem registrados no Registro Civil, os pac-
tos e declarações antenupciais, o título de doação, herança ou legado de bens clausulados de inco-
municabilidade ou inalienabilidade devem ser registrados e averbados nas Juntas Comerciais, sob 
pena de não poder o empresário individual opô-los a terceiros credores, salvo se houver a compro-
vação de que o credor possuía conhecimento do ato. O legislador se preocupou com a publicidade 
em benefício dos credores que celebrarem negócio jurídico com o empresário. Sendo assim, cumpri-
das todas as formalidades impostas por lei, no tocante ao registro dos atos na Junta Comercial, não 
poderá o terceiro alegar ignorância, sendo a ele o ato oponível. 
 
DIREITO EMPRESARIAL 
15 
 
 
Igualmente em seu artigo 980, CC, o legislador impõe ao empresário que arquive e averbe no 
Registro Público de Empresa Mercantil a sentença que decretar ou homologar a separação judicial do 
empresário, bem como seu ato de reconciliação. A intenção do legislador é conferir publicidade ao 
ato para que o credor seja informado das mudanças no patrimônio do empresário, seja pelo fim ou 
restabelecimento da sociedade conjugal. Importante frisar que, não obstante o legislador não ter 
informado a que regimes tal dispositivo se aplica, podemos afirmar que estão afastados da aplicação 
os empresários casados no regime de separação obrigatória ou separação total de bens (tendo em 
vista que nesses regimes os bens do casal não se comunicam). 
 
 
 
 
SOCIEDADE 
 
 
 CONCEITO E ELEMENTOS DA SOCIEDADE 
O art. 44, CC, dispõe que são pessoas jurídicas de direito privado as: 
a) associações; 
b) sociedades; 
c) fundações; 
d) organizações religiosas; 
e) partidos políticos; 
f) EIRELI. 
 
O conceito de sociedade encontra-se expresso no art. 981, CC, que dispõe que 
Art. 981. Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a 
contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, en-
tre si, dos resultados. 
 
O contrato da sociedade é instrumentalizado através do contrato social, possuindo como natu-
reza jurídica ser um contrato plurilateral. 
 
Da redação do dispositivo, temos os elementos do contrato de sociedade: 
a) Pluralidade de sócios: dois ou mais sócios. A constituição da sociedade necessita da plura-
lidade de sócios. Os sócios podem ser pessoas naturais ou jurídicas. 
 
 Não obstante a pluralidade de sócios ser elemento essencial para constituição da sociedade, 
devemos destacar as exceções em que a sociedade será unipessoal temporária ou permanente;ori-
ginária ou derivada. 
 
I) Sociedade Unipessoal originária e permanente: temos duas sociedades classificadas co-
mo originárias e permanentes. a) Sociedade subsidiária integral, prevista no art. 251 da Lei 
das Sociedades por Ações (LSA). É aquela constituída por escritura pública, tendo como úni-
co acionista uma sociedade brasileira. Exemplo: TRANSPETRO (subsidiária integral da Pe-
DIREITO EMPRESARIAL 
16 
 
 
trobrás); e b) Empresa Pública – quando o capital pertencer a uma única pessoa de direito 
público. 
 
II) Sociedade Unipessoal temporária e derivada: inicialmente, são constituídas com plura-
lidade de sócios, mas, no curso da sua vida societária, perdem a pluralidade, restando ape-
nas um sócio. Ocorre nas hipóteses do art. 1.033, IV, Código Civil, e no art. 206, I, d, LSA. 
São chamadas de temporária pois não podem permanecer unipessoais, devendo recompor 
o quadro societário no prazo estipulado em lei. 
 
b) Contribuição dos sócios: obrigam-se os sócios a contribuir para a formação do capital soci-
al. 
 
O capital é a cifra contábil que corresponde aos valores que os sócios contribuíram para a 
formação do capital. O capital social representa a garantia dos credores. Podemos destacar como 
princípios norteadores do capital social: a) unidade (capital único); b) fixidez (capital fixo, não pode 
ser variável – exceção cooperativa); c) intangibilidade (capital não pode ser utilizado para os outros 
fins que não sejam o objeto da sociedade); d) realidade (capital deve ser real, sob pena de responsa-
bilização dos sócios). 
 
A integralização do capital social pode ser realizada com dinheiro, bens ou cessão de crédito. 
Existe ainda a possibilidade de integralização do capital social com serviço, mas, essa modalidade de 
integralização somente será aplicada nas sociedades simples puras e cooperativas (arts. 1.094, I, e 
983, CC). Nesse sentido, podemos destacar o Enunciado n°206, da II Jornada Direito Civil – Conselho 
da Justiça Federal (CJF). 
 
c) Partilha dos resultados: em regra, os sócios devem repartir os lucros (resultado positivo) e 
as perdas (resultado negativo). 
 
É vedada em nosso ordenamento a cláusula leonina, que impede o sócio de participar dos lu-
cros da sociedade (art. 1.008, CC). 
 
A participação nas perdas não será aplicada às sociedades limitadas e às sociedades anônimas, 
pois, nessas duas modalidades societárias, a responsabilidade dos sócios é limitada. 
 
d) Affectio societatis (implícito): Previsto no art. 5, XX, CF. Representa a afinidade, a vontade 
que os sócios possuem de estarem unidos em busca de resultados comuns. 
 
Segundo Sergio Campinho, a affectio societatis “se traduz pela vontade dos sócios de se unirem 
por um vínculo societário, realizando colaborações voluntárias, conscientes e ativas para a consecu-
ção de propósitos comuns”10. 
 
Em regra, as sociedades anônimas, por serem sociedades de capital, não têm a presença da af-
fectio societatis. Porém, existe uma exceção manifestada pelo STJ nos Informativos n°357 e n°487, de 
que, nas hipóteses de S.A de capital fechado e cunho familiar (integradas por entes de uma mesma 
família), é possível a existência da affectio societatis. Nesses casos, a quebra da affectio societatis é 
consequência derivada dos deveres dos sócios, permitindo o exercício do direito de retirada ou a 
exclusão do sócio. 
 
 
10 Ob. Cit. P.39 
DIREITO EMPRESARIAL 
17 
 
 
 CLASSIFICAÇÕES DAS SOCIEDADES EMPRESARIAIS 
1. Quanto ao objeto das sociedades: simples ou empresária. 
As sociedades podem ser simples ou empresárias, em razão do seu objeto ou tipo societário. 
Nos termos do art. 982, CC, considera-se empresária a sociedade que tem por objeto o exercício de 
atividade própria de empresário sujeito a registro (art. 967, CC) e simples as demais). Podemos des-
tacar como exemplo de sociedades simples: cooperativas; sociedades formadas para o exercício da 
profissão intelectual (cujo exercício da profissão não constitua elemento de empresa); as sociedades 
rurais, salvo se inscreverem seus atos constitutivos no registro público de empresa mercantil, hipóte-
se em que serão equiparadas as sociedades empresárias. 
 
Por força do art. 982, parágrafo único, CC, as sociedades por ações e sociedades anônimas, in-
dependentemente do objeto, são sempre empresárias (não em razão do objeto, mas do tipo que 
adotaram). 
 
2. Quanto ao tipo societário: 
Tendo em vista o princípio da tipicidade, as sociedades adotarão um dos tipos societários pre-
vistos em lei. 
 
EMPRESÁRIA (REGISTRO RPEM) SIMPLES (REGISTRO RCPJ) 
Sociedade em nome coletivo (arts. 1.039 a 1.044, 
CC) 
Sociedade em nome coletivo (arts. 1.039 a 1.044, 
CC) 
Sociedade em comandita simples (arts. 1.045 a 
1.051, CC) 
Sociedade em comandita simples (arts. 1.045 a 
1.051, CC) 
Sociedade limitada (arts. 1.052 a 1.087, CC) Sociedade limitada (arts. 1.052 a 1.087, CC) 
Sociedade anônima (arts. 1.088 a 1.089) Sociedade simples pura (arts. 977 a 1.038, CC) 
Sociedades em comandita por ações (arts. 1.090 a 
1.092, CC) 
Sociedade cooperativa (arts. 1.093 a 1.096, CC) 
 
Se for empresária, poderá adotar como tipos societários aqueles previstos nos arts. 1.039 a 
1.092, CC. 
 
Sendo simples, podem constituir-se segundo um desses tipos: Sociedade em Nome Coletivo, 
Sociedade em Comandita Simples ou Sociedade Limitada; mas se adotar como forma societária uma 
Sociedade Anônima ou Sociedade em Comandita por Ações, será considerada empresária. 
 
Ainda que as sociedades de natureza simples adotem um dos tipos previstos para sociedades 
empresárias (limitada, nome coletivo ou comandita simples), elas continuam sendo de natureza sim-
ples e o seu registro deve ser realizado no RCPJ11, salvo se a forma for uma das sociedades por ações 
previstas em nosso ordenamento. 
 
3. Quanto à personalidade jurídica das sociedades: Sociedades personificadas e sociedades 
não personificadas. 
 
 
11 Enunciado 57, I, JDC – a opção pelo tipo empresarial não afasta a natureza simples da sociedade. 
DIREITO EMPRESARIAL 
18 
 
 
A personalidade jurídica da sociedade se inicia com a inscrição no registro próprio e na forma 
da lei e dos seus atos constitutivos. São sociedades personificadas: a sociedade simples, sociedade 
em nome coletivo, sociedade em comandita simples, sociedade limitada, sociedade em comandita 
por ações, sociedade anônima e as cooperativas. 
 
São sociedades não personificadas (despersonificadas) aquelas que não têm personalidade ju-
rídica. São duas as espécies de sociedade despersonificada: sociedade comum e sociedade em conta 
de participação. 
 
4. Quanto ao ato constitutivo: contratuais ou institucionais. 
O ato constitutivo de uma sociedade pode ser um contrato ou estatuto. As sociedades contra-
tuais são reguladas por um contrato social, prevalecendo o acordo de vontade entre os sócios. Todos 
os tipos societários regulados pelo Código Civil são contratuais. Nas sociedades contratuais, o contra-
to é plurilateral e o capital é dividido em cotas. 
 
Já as sociedades institucionais são regidas por um estatuto e devem ser observados requisitos 
preliminares e providências complementares que não são exigidas nas sociedades contratuais. As 
sociedades por ações (S.A e Sociedade em comandita por ações) são sociedades regidas por um esta-
tuto social, não prevalecendo a vontade dos acionistas já que não há muito espeço para autonomia 
da vontade (arts. 83 e 116, LSA) e a formação das sociedades institucionais é mais complexa. As soci-
edades institucionais dividem seu capital em ações. 
 
5. Quanto ao vínculo: pessoa ou capital. 
a) Sociedade de pessoas: existe um vínculo que une os sócios que é pessoal (intuito perso-
nae). Leva-se em consideração as características pessoais de cada sócio, bem como a confi-
ança depositada um no outro. Podemos destacar como sociedadesde pessoas as socieda-
des simples, em nome coletivo, comandita simples. 
 
b) Sociedades de capital: não existe um vínculo afetivo, pouco importando a figura do só-
cio. O elemento preponderante é a intuitu pecuniae, prevalecendo o elemento capitalista. 
Ex. Sociedade Anônima. 
 
6. Quanto à responsabilidade dos sócios: limitada, ilimitada ou mista. 
a) Sociedades cujos sócios respondem de forma ilimitada: sociedade em nome coletivo e 
sociedades irregulares. 
 
b) Sociedades em que os sócios respondem de forma limitada: sociedade anônima (a res-
ponsabilidade dos sócios é limitada ao preço de emissão de suas ações) e sociedade limita-
da (a responsabilidade de sócios é limitada ao valor de suas cotas, mas, todos os sócios são 
solidariamente responsáveis pela integralização do capital social). 
 
c) Sociedades em que a responsabilidade será mista: sócios que respondem de forma ilimi-
tada e outros que respondem de maneira limitada: a) Sociedade em comandita simples (só-
cio comanditado – responde de forma ilimitada; e sócio comanditário – responde de forma 
limitada); b) Sociedade em comandita por ações (sócio gerente – responde de forma ilimi-
tada; e, demais sócios, de forma limitada); 
 
7. Quanto à nacionalidade: Sociedade Brasileira e Estrangeira. 
DIREITO EMPRESARIAL 
19 
 
 
a) Sociedade nacional: são aquelas reguladas e constituídas de acordo com as regras brasi-
leiras e mantêm sua sede e administração no Brasil (art. 1.126, CC). 
 
b) Sociedade estrangeira: sua sede fica no exterior, necessitando de autorização do Chefe 
do Poder Executivo para funcionar no Brasil (art. 1.134, CC)12. 
 
 REGISTRO E PERSONALIDADE JURÍDICA 
A inscrição do ato constitutivo (contrato social) no órgão competente é obrigatória. A socieda-
de que não efetuar o seu registro no prazo previsto na lei será regida pelas normas de sociedade em 
comum (arts. 986 a 990, CC). 
 
Os documentos necessários ao registro deverão ser apresentados no prazo de 30 dias, conta-
dos da lavratura dos atos respectivos, hipótese em que os efeitos do registro retroagem à data de 
constituição da sociedade (efeito ex tunc). Porém, se o registro for efetuado após o prazo fixado no 
art. 1.151, §1º, CC (30 dias), os efeitos serão ex nunc e, durante o período que permanecer sem o 
registro, será considerada sociedade comum (arts. 986 a 990, CC). 
 
Nos termos dos art. 985, CC, a sociedade adquire personalidade jurídica com a inscrição dos 
seus atos constitutivos, levados a registro no órgão competente. Enquanto o empresário e as socie-
dades de natureza empresária efetuam suas inscrições no Registro Público de Empresa Mercantil 
(RPEM), as sociedades de natureza simples efetuam seu registro no Registro Civil de Pessoa Jurídica 
(RCPJ). A EIRELI poderá efetuar o seu registro no RPEM (se for empresária) ou no RCPJ (se for sim-
ples). 
 
Com a aquisição da personalidade jurídica, a sociedade passa a assumir direitos e obrigações, 
adquirindo: 
a) Patrimônio próprio: o patrimônio social não se confunde com o patrimônio particular 
dos sócios. A responsabilidade da sociedade perante os credores é ilimitada, uma vez que 
ela responde com todo o seu patrimônio. 
b) Nome próprio: a sociedade passa a ter nome próprio distinto dos seus membros. O no-
me pode ser uma firma ou uma denominação. 
c) Nacionalidade própria: nacionalidade distinta dos seus membros. 
d) Domicílio próprio: sede social (domicílio) distinto dos seus membros. 
 
 DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA 
Um dos efeitos da aquisição da personalidade jurídica é a aquisição de patrimônio próprio. 
Com a aquisição da personalidade jurídica, o patrimônio da sociedade não se confunde com o patri-
mônio particular dos sócios. 
 
Não obstante a separação patrimonial da sociedade e de seus respectivos sócios, com intuito 
de coibir a utilização da personalidade jurídica para prática de atos fraudulentos, nasceu o instituto 
da desconsideração da personalidade jurídica (disregard doctrine). Esse instituto tem como finalida-
de atingir os bens particulares dos administradores ou sócios, nas hipóteses de abuso da personali-
dade. 
 
12 Enunciado 486, V, JDC – A sociedade estrangeira pode, independentemente de autorização do Poder Executivo, ser sócia em sociedade 
de outros tipos além das anônimas. 
DIREITO EMPRESARIAL 
20 
 
 
 
A desconsideração da personalidade jurídica surgiu na Inglaterra em 1897, com o caso Sala-
mon vs. Saloman & Co. Ltd., tratando-se de situação excepcional, somente sendo utilizada quando 
restar comprovado o abuso da personalidade jurídica da sociedade. 
 
A desconsideração não se confunde com a despersonificação. Esta acarreta a dissolução da 
sociedade e, consequentemente, a perda da personalidade jurídica. Já na desconsideração, há um 
afastamento momentâneo dos efeitos da autonomia da personalidade jurídica, fazendo com que a 
responsabilidade recaia sobre os bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica. 
 
Podemos destacar as seguintes hipóteses de desconsideração: 
a) Art. 50, CC13: essa teoria é adotada quando há configuração do abuso da personalidade 
jurídica, causada pelo desvio de finalidade (os poderes de administração são utilizados para 
interesse pessoal e não da sociedade) ou confusão patrimonial (o patrimônio do sócio e da 
pessoa jurídica se confundem). Para aplicação dessa teoria, é necessário o requerimento 
da parte ou do Ministério Público, não podendo ser aplicada de ofício pelo juiz14. 
 
b) Art. 28, caput, Lei n. 8.078/90: O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da 
sociedade quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de po-
der, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A des-
consideração também será efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encer-
ramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração. 
 
c) Art. 28, § 5º, Lei n. 8.078/9: será aplicada sempre que sua personalidade for, de alguma 
forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores (quando confi-
gurado dano ao consumidor). É necessária apenas a insolvência da sociedade, não sendo 
necessária a comprovação do abuso ou fraude da personalidade. 
 
d) Art. 4º, Lei n. 9.605/98: aplicação da desconsideração sempre que sua personalidade for 
obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente (quando 
configurado dano ambiental). 
 
e) Art. 35, Lei n. 12.529/11: tal dispositivo contempla a possibilidade da desconsideração 
quando: a) a personalidade jurídica do responsável pela infração da ordem econômica po-
derá ser desconsiderada quando houver, por parte deste, abuso de direito, excesso de po-
der, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou do contrato social; ou b) 
quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa ju-
rídica provocados por má administração. 
 
f) Art. 133, § 2º, CPC: Teoria inversa – essa modalidade de desconsideração é utilizada pa-
ra impedir que a pessoa jurídica seja utilizada para burlar o regime de bens ou terceiros, a-
tingindo o patrimônio da sociedade por obrigação particular do sócio até o limite do valor 
das suas cotas. Enunciado n. 283, CJF: “Art. 50. É cabível a desconsideração da personalida-
de jurídica denominada “inversa” para alcançar bens de sócio que se valeu da pessoa jurídi-
ca para ocultar ou desviar bens pessoais, com prejuízo a terceiros”. 
 
 
13 Enunciado 282, IV, JDC – O encerramento irregular das atividades da pessoa jurídica, por si só, não basta para caracterizar abuso da 
personalidade jurídica. 
14 Enunciado 281, IV, JDC – A aplicação da desconsideração, prevista no art. 50, CC prescindi da demonstração de insolvência da pessoa 
jurídica. Nesse sentindo, podemos afirmar que a desconsideraçãoda personalidade jurídica pode ser aplicada ainda que não seja configu-
rada a insolvência patrimonial, desde que caracterizado o abuso da personalidade jurídica, seja por desvio de finalidade ou confusão pa-
trimonial. Esse é o entendimento que vem sendo aplicado pelo STJ (REsp. 1.729.554). 
DIREITO EMPRESARIAL 
21 
 
 
g) Relações trabalhistas: adota a aplicação da teoria menor, sendo necessária apenas a in-
solvência da sociedade para sua aplicação. 
 
Nos termos do art. 134, CPC, o incidente de desconsideração da personalidade jurídica é cabí-
vel em todas as fases do processo de conhecimento, no cumprimento de sentença e na execução 
fundada em título executivo extrajudicial. 
 
Ressalta-se que a desconsideração da personalidade jurídica não será aplicada nas hipóteses 
de imputação direta de responsabilidade do sócio ou administrador. Nesses casos, a lei autoriza a 
responsabilização direta do sócio ou administrador (imputação direta de responsabilidade) pelas 
prática dos atos previstos nos dispositivos: 
a) Art. 1.080, CC – deliberações infringentes da lei ou contrato; 
b) Art. 1.116, CC – quando agirem com culpa no desempenho de suas atribuições; 
c) Art. 158, Lei n. 6.404/76 – quando agir com culpa ou dolo, ou quando agir com violação à 
lei ou contrariamente ao estatuto; 
d) Art. 135, III, CTN – pelos atos praticados com excesso de poderes ou infração de lei, con-
trato social ou estatuto. 
 
 SOCIEDADES NÃO PERSONIFICADAS 
São sociedades que não possuem personalidade jurídica, são despersonificadas. Por serem 
despersonificadas, não possuem nacionalidade, patrimônio, domicílio e nome próprio. São socieda-
des despersonificadas: a) sociedade comum e; b) sociedade em conta de participação. 
 
 SOCIEDADE COMUM 
O contrato social dessa espécie segue as indicações do art. 997, CC, e aplicam-se, subsidiaria-
mente, as regras da sociedade simples naquilo que for compatível, inclusive no que diz respeito a sua 
dissolução. 
 
A sociedade em comum é um tipo de sociedade despersonificada. E, nessa condição, irá per-
manecer até que efetue o seu registro no órgão competente. 
 
É mister ressaltar que as diferenças existentes entre as sociedades de fato, irregular e comum 
não mais persistiram em nosso ordenamento. Hoje, tratamos as sociedades de fato (não têm sequer 
contrato) e irregulares (registro em órgão incompetente) como comuns (não levaram seus atos cons-
titutivos a registro) aplicando-lhes as normas referentes às sociedades comuns. 
 
Uma vez inscrito seu ato constitutivo no órgão competente, a sociedade deixa de ser regulada 
pelo disposto nos arts. 986 a 990, CC, passando a ser regulada pelas normas referentes ao tipo socie-
tário adotado. 
 
 CONCEITO 
O conceito encontra-se estampado no art. 996, CC, que considera comum a sociedade en-
quanto não inscritos seus atos constitutivos no Registro competente. Nesse caso, serão regidas 
pelas normas dos arts. 996 a 990, CC, e, subsidiariamente, em suas omissões, pelo capítulo de socie-
dade simples. A exceção a essa regra são as sociedades por ações em organização. A sociedade será 
DIREITO EMPRESARIAL 
22 
 
 
comum nas seguintes hipóteses: a) não tem contrato; b) tem contrato, mas, não foi levado a registro; 
c) tem contrato levado a registro, mas, em órgão incompetente. 
 
Destaca-se que, nos termos do Enunciado n. 383, IV Jornada, CJF: 
A falta de registro do contrato social (irregularidade originária – art. 998) ou de alteração 
contratual versando sobre matéria referida no art. 997 (irregularidade superveniente – art. 
999, parágrafo único) conduzem à aplicação das regras da sociedade em comum (art. 
986). 
 
Como a sociedade não adquire personalidade jurídica, não terá capacidade e legitimação pró-
pria para o exercício de direitos. 
 
 PROVA DA EXISTÊNCIA DA SOCIEDADE 
Como esse tipo societário não tem seu ato constitutivo levado a registro, a prova da existência 
da sociedade comum por terceiros pode ser provada de qualquer modo (documental, testemunhal, 
etc.), enquanto os sócios, nas suas relações ou com terceiros, somente podem provar a existência da 
sociedade por escrito. 
 
 PATRIMÔNIO E RESPONSABILIDADE 
A responsabilidade dos sócios, enquanto não inscrito o ato constitutivo da sociedade no órgão 
competente, é ilimitada e solidária. 
 
Como não possui personalidade jurídica, ela não tem nome e patrimônio próprio, constituindo 
patrimônio especial15 os bens e dívidas sociais, dos quais todos os sócios serão titulares em comum. 
 
Dispõe o art. 989, CC, que os bens sociais respondem pelos atos de gestão praticados por 
qualquer dos sócios, salvo pacto expresso limitativo de poderes, que somente terá eficácia contra o 
terceiro que o conheça ou deva conhecer16. 
 
Quando o patrimônio especial for esgotado, os sócios responderão subsidiariamente com seu 
patrimônio pessoal, uma vez que a responsabilidade do sócio é solidária e ilimitada. Aplica-se à soci-
edade em comum a figura do benefício de ordem prevista no art. 1.024, CC17. 
 
O benefício de ordem prevê que primeiro devem ser exauridos os bens da sociedade (patri-
mônio especial) para, posteriormente, ser atacado o patrimônio pessoal de cada sócio, excluído des-
se benefício aquele que contrata pela sociedade (art. 996, CC). 
 
 EFEITOS NEGATIVOS DA IRREGULARIDADE 
Podemos destacar como efeitos negativos da ausência de registro no órgão competente: 
a) não pode pedir recuperação (art. 48, LRF); 
 
15 Enunciado 210, III, JDC – O patrimônio especial a que se refere o art. 988 é aquele afetado ao exercício da atividade, garantidor de tercei-
ros, e de titularidade dos sócios em comum, em face da ausência de personalidade jurídica. 
16 Enunciado 211, III, JDC – Presume-se disjuntiva a administração dos sócios a que se refere o art. 989, CC. 
17 Enunciado 212, III, JDC – Embora a sociedade comum não tenha seus bens constritos por dívida contraída em favor da sociedade, e não 
participou do ato por meio do qual foi contraída a obrigação, tem o direito de indicar bens afetados às atividades empresariais para substi-
tuir a constrição. 
DIREITO EMPRESARIAL 
23 
 
 
b) não pode pedir a falência do seu devedor (art. 97, §1º, LRF), mas pode ter sua falência 
decretada (art. 105, IV, LRF); 
c) não tem proteção de marca (art. 128, LPI); 
d) não tem proteção de nome empresarial; 
e) não pode participar de licitação; 
f) não pode pedir recuperação extrajudicial (art. 161, LRF); 
g) não pode se enquadrar como ME ou EPP (art. 3º, LC123/06); 
h) livros de escrituração servem de prova contra os sócios (art. 226, CC). 
 
 SOCIEDADE EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO 
A sociedade em conta de participação é uma modalidade de sociedade despersonificada. Esse 
tipo societário é diferente da sociedade em comum, tendo em vista que nesta, após inscritos os atos 
constitutivos, a sociedade deixa de ser despersonificada, passando a adotar um dos tipos societá-
rios que escolheu. Já aquela, ainda que inscrito seu ato constitutivo no órgão competente, permane-
ce despersonificada. Por esta razão muitos doutrinadores sustentam que a sociedade em conta de 
participação não seria uma espécie de sociedade, mas sim um contrato de participação entre os só-
cios participantes e ostensivos. 
 
 CONCEITO 
A sociedade em conta de participação é regulada pelos arts. 991 a 996, CC. Muitos doutrinado-
res criticam essa modalidade de sociedade, tanto pela ausência de personalidade jurídica como tam-
bém por não ter patrimônio próprio, domicílio, nome, características presentes nos demais tipos 
societários, tratando esse tipo societário como um contrato de participação. Esse tipo societário não 
possui firma ou denominação (nome empresarial). Quem negocia perante terceiros é o sócio osten-
sivo, sob seu nome. 
 
Apesar das críticas existentes, trataremos a sociedade em conta de participação como um tipo 
societário despersonificado, não como um contrato deinvestimento. Esse tipo societário tem como 
finalidade a captação de recursos para realização de empreendimentos, muito comum em construto-
ras por exemplo. 
 
A sociedade em conta de participação dispensa todas as formalidades de constituição de uma 
sociedade, decorrendo de um contrato, que não precisa ser levado a registro. Ou seja, é um tipo 
societário que independe de qualquer formalidade para sua constituição, podendo inclusive ser reali-
zado de forma verbal. 
 
No tocante à sua natureza jurídica, o tema é controvertido. Uma parte da doutrina sustenta 
que seria um contrato de participação/associação, por não manter relações com terceiros, enquanto 
outros sustentam ser uma sociedade, ainda que não tenha personalidade jurídica, pois apresenta 
elementos da sociedade e tem previsão expressa no Código Civil. 
 
O doutrinador Sergio Campinho conceitua a sociedade em conta de participação como 
“um contrato associativo ou de participação, pelo qual duas ou mais pessoas, físicas ou ju-
rídicas, se obrigam a explorar uma ou mais atividades econômicas, em proveito comum, 
visando à partilha de seus resultados, mas sob nome e responsabilidade individual daquele 
DIREITO EMPRESARIAL 
24 
 
 
que praticar operações, obrigando-se perante terceiros para realização do objeto do con-
trato”
18
. 
 
 MODALIDADES DE SÓCIOS E SUAS RESPONSABILIDADES 
Na sociedade em conta de participação temos duas modalidades de sócios: 
a) Sócio ostensivo: aquele que exerce unicamente em seu nome individual e sob sua exclusiva 
responsabilidade o objeto social, obrigando-se diretamente perante terceiros. Possui responsabilida-
de ilimitada. Não precisa ser empresário ou sociedade empresária. 
 
Não existe restrição quanto à pluralidade de sócios ostensivos, e havendo pluralidade de só-
cios o contrato deverá determinar a participação e atuação de cada um deles. Nesse caso, cada um 
atuará em seu nome, respondendo pelos atos que forem praticados, e as respectivas contas serão 
prestadas e julgadas no mesmo processo. Não há entre os sócios ostensivos a solidariedade perante 
terceiros. 
 
Caso o sócio ostensivo queira admitir outros sócios, será necessário o consentimento expresso 
dos demais, salvo cláusula contratual dispondo de forma diversa. 
 
Quando terceiro contrata com o sócio ostensivo, ele não sabe da existência da sociedade em 
conta de participação. 
 
b) Sócio participante/oculto: pode ser pessoa física ou jurídica, que investe dinheiro ou for-
nece recursos à sociedade, participando dos lucros ou prejuízos consequentes. Tem responsabilidade 
limitada ao valor do investimento, não assumindo riscos pelo insucesso da atividade perante tercei-
ros com quem o sócio ostensivo contratou. 
 
Os sócios participantes/ocultos podem fiscalizar a gestão dos negócios sociais, porém, sem po-
der tomar parte nas relações do sócio ostensivo com terceiros, sob pena de responder solidariamen-
te com este pelas obrigações em que intervier. Terceiros não poderão demandar em face do sócio 
oculto, exceto quando este tomar parte nas relações diretamente (hipótese em que deixa de ser 
oculto, passando a responder solidariamente com o ostensivo pelas obrigações em que intervir). 
 
 CONSTITUIÇÃO E CONTRATO SOCIAL 
A constituição da sociedade em conta de participação independe de qualquer formalidade, 
podendo ser firmada de forma verbal ou por escrito. A ausência de um contrato não impede a sua 
constituição, podendo a sua existência ser provada de qualquer forma, por todos os meios admitidos 
em direito. 
 
Não obstante, contudo, a ausência de formalidade quanto à sua constituição, é importante 
que os sócios celebrem contrato por escrito para delimitar as obrigações e deveres de cada um, evi-
tando futuramente serem os sócios participantes confundidos com os sócios de sociedade em co-
mum, evitando riscos. 
 
Embora não seja obrigatório o registro, havendo contrato social, este produzirá efeito somente 
entre os sócios e a eventual inscrição de seu instrumento em qualquer registro não confere persona-
lidade jurídica à sociedade. 
 
 
18 Ob. Cit., p. 88. 
DIREITO EMPRESARIAL 
25 
 
 
 PATRIMÔNIO 
Como a sociedade em conta de participação não tem personalidade jurídica, ela também não 
terá nacionalidade, domicílio, nome ou patrimônio próprio. Mas, gozará de capacidade processual, 
cabendo ao sócio ostensivo a representação em juízo, ativa e passivamente (art. 75, IX, CPC). Os bens 
vertidos à consecução do objeto são chamados de patrimônio especial, objeto da conta de participa-
ção relativa aos negócios sociais. 
 
Nos termos do art. 994, § 1º, CC, a “especialização patrimonial somente produz efeitos em re-
lação aos sócios”. 
 
 FALÊNCIA 
Na hipótese de falência é necessário observar qual sócio está falindo, se é o ostensivo ou parti-
cipante/oculto. Quando a falência for do sócio ostensivo, acarretará a dissolução da sociedade e a 
liquidação da respectiva conta, cujo saldo constituirá crédito quirografário. Ou seja, os sócios partici-
pantes terão que habilitar os seus créditos no processo de falência do sócio ostensivo para receber 
os valores que têm direito, por conta da sociedade. 
 
Já na falência do sócio participante, o contrato social fica sujeito às normas que regulam os e-
feitos da falência nos contratos bilaterais do falido. 
 
Se o sócio ostensivo não for empresário, não há que se falar em falência, mas em insolvência 
civil, regulada pelo Código de Processo Civil. 
 
Dispõe o artigo 996, CC, que “aplica-se à sociedade em conta de participação, subsidiariamen-
te e no que com ela for compatível, o disposto para a sociedade simples” (arts. 997 a 1.038, CC). 
 
 SOCIEDADES PERSONIFICADAS 
As sociedades personificas são aquelas que adquirem personalidade jurídica com a inscrição 
do seu ato constitutivo no órgão competente. Encontram-se previstas nos arts. 997 a 1.093, CC. São 
sociedades personificadas: a) sociedade simples; b) sociedade em nome coletivo; c) sociedade em 
comandita simples; d) sociedade em comandita por ações; e) sociedade limitada e f) sociedade anô-
nima. 
 
 SOCIEDADE SIMPLES (NÃO EMPRESÁRIA) 
Não podemos confundir a natureza jurídica das sociedades (simples ou empresária) com o tipo 
societário (simples, limitada, anônima, etc.). Neste tópico, trataremos exclusivamente da modalidade 
de sociedade simples (chamada pela doutrina de “sociedade simples pura” ou “sociedade simples 
stricto sensu” para diferenciar de natureza jurídica). Esse tipo societário (stricto sensu) foi criado ex-
clusivamente para as sociedades de natureza simples. 
 
Ocorre que, não obstante termos um tipo societário exclusivamente utilizado para as socieda-
des simples (aquelas que não exercem empresa), o art. 983, CC, dispõe que as sociedades simples 
além de poderem adotar o tipo societário “simples pura”, poderão utilizar um dos tipos regulados 
nos arts. 1.039 a 1.092, CC, exceto as sociedades por ações, sociedade anônima e sociedade em co-
mandita por ações. Pois adotando como tipo societário uma sociedade por ações, o tipo prevalecerá 
sobre o objeto, e ela será considerada de natureza empresária, por força do art. 982, parágrafo único 
do CC. 
DIREITO EMPRESARIAL 
26 
 
 
 
 CONCEITO 
O tipo societário “sociedade simples pura” é destinado àquelas atividades que estão excluídos 
do conceito de empresário, uma vez que não exercem empresa (como, por exemplo, sociedade para 
exercício exclusivo da profissão intelectual, atividade rural, e atividades não organizacionais). Esse 
tipo societário regulamenta as antigas sociedades civis sem fins econômicos, que ganharam a roupa-
gem de sociedade simples. 
 
 ATO CONSTITUTIVO 
A sociedade simples pura tem natureza contratual, sendo o seu ato constitutivo um contrato 
social que deve ser realizado de forma escrita, por instrumento público ou particular. A inscrição da 
sociedade deve ser realizada no prazo máximo de30 dias após a sua constituição no Registro Civil de 
Pessoa Jurídica do local de sua sede. 
 
Além das cláusulas que podem ser inseridas pelos sócios, obrigatoriamente, o contrato men-
cionará: 
Art. 997/CC. (...) 
I - nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência dos sócios, se pessoas naturais, 
e a firma ou a denominação, nacionalidade e sede dos sócios, se jurídicas; 
II - denominação, objeto, sede e prazo da sociedade
19
; 
III - capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo compreender qualquer 
espécie de bens, suscetíveis de avaliação pecuniária; 
IV - a quota de cada sócio no capital social, e o modo de realizá-la; 
V - as prestações a que se obriga o sócio, cuja contribuição consista em serviços; 
VI - as pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, e seus poderes e atri-
buições; 
VII - a participação de cada sócio nos lucros e nas perdas; 
VIII - se os sócios respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais. 
 
As modificações do contrato social que tenham por objeto matérias indicadas acima, previstas 
no art. 997, CC, dependem do consentimento de todos os sócios (art. 999, CC); as demais poderão 
ser decididas por maioria absoluta de votos (sócios que representem a maioria do capital social), se o 
contrato não determinar a necessidade de deliberação unânime (art. 1.010, parágrafo único, CC). 
 
Todas as modificações e alterações, ou instituições de sucursal, filial ou agências, devem ser 
averbadas no Registro Civil de Pessoa Jurídica. 
 
 A FIGURA DO SÓCIO E SUA RESPONSABILIDADE 
Os sócios podem ser pessoas físicas ou jurídicas. 
 
No tocante à responsabilidade dos sócios, o tema é controvertido na doutrina. O art. 997, VIII, 
CC, estipula que “o contrato social irá determinar se os sócios respondem ou não, subsidiariamente, 
pelas obrigações sociais”; enquanto o art. 1.023, CC, estipula que “se os bens da sociedade não lhe 
cobrirem as dívidas, respondem os sócios pelo saldo, na proporção em que participem das perdas 
sociais, salvo cláusula de responsabilidade solidária”. 
 
 
19 c/c o art.1.055, parágrafo único, CC 
DIREITO EMPRESARIAL 
27 
 
 
A primeira corrente, defendida pelo STJ no Informativo n. 468, Resp. 895.792-RJ, sustenta que 
a responsabilidade dos sócios na sociedade simples pura é ilimitada. 
 
Os doutrinadores Sergio Campinho20 e Tavares Borba21 divergem do STJ ao afirmarem que os 
sócios poderão determinar no contrato social se querem responder ou não, subsidiariamente e ilimi-
tadamente (art. 997, VIII) pelas dívidas sociais. E, não havendo responsabilidade subsidiária, os sócios 
responderiam na proporção de suas cotas. Afirmam ainda que a aplicação da responsabilidade soli-
dária dos sócios, prevista no art. 1.023, CC, também depende de cláusula contratual. Corroborando 
com essa segunda corrente, pode-se destacar os Enunciados n. 479 da V Jornada de Direito Civil do 
CJF e Enunciado n. 10 da I Jornada de Direito Comercial. 
 
O seja, quando os bens da sociedade não lhe cobrirem as dívidas, respondem os sócios pelo 
saldo, na proporção em que participem das perdas sociais, salvo cláusula de responsabilidade solidá-
ria. 
 
Se o contrato previr cláusula de responsabilidade solidária, o credor da sociedade poderá exi-
gir de um ou de todos os sócios o valor da dívida inteira quando à sociedade não restarem bens sufi-
cientes para pagamento do credor. Do contrário, cada sócio responderá na proporção de suas cotas. 
 
Ainda que haja a cláusula expressa de responsabilidade solidária dos sócios, por conta da figu-
ra do benéfico de ordem, os bens particulares dos sócios não podem ser executados por dívidas da 
sociedade senão depois de executados os bens sociais (art. 1.024, CC). 
 
Se o sócio da sociedade possui dívidas particulares e não há outros bens para saldar seu débi-
to junto ao credor particular (somente as cotas que ele possui na sociedade), este poderá fazer recair 
a execução sobre o que ao sócio (devedor) couber nos lucros da sociedade, ou na parte que lhe tocar 
em liquidação (se a sociedade já estiver sendo dissolvida)22. 
 
Se a sociedade não estiver dissolvida, pode o credor requerer a liquidação da quota do deve-
dor, cujo valor, apurado na forma do art. 1.031 (apuração de haveres), será depositado em dinheiro, 
no juízo da execução, até noventa dias após aquela liquidação (art. 1.026, parágrafo único, CC), hipó-
tese em que a sociedade excluirá de pleno direito o sócio que teve suas cotas liquidadas. Na apura-
ção dos haveres do sócio, por consequência da liquidação de suas quotas na sociedade para paga-
mento ao seu credor (art. 1.026, parágrafo único, CC), não devem ser consideradas eventuais dispo-
sições contratuais restritivas à determinação de seu valor. 
 
Os herdeiros do cônjuge de sócio, ou o cônjuge que se separou judicialmente (casado em re-
gime de comunhão universal), não podem exigir desde logo a parte que lhes couber na quota social 
(apuração de haveres), mas concorrem à divisão periódica dos lucros até que se liquide a sociedade, 
em atendimento à preservação da empresa (art. 1.027, CC). 
 
Isso ocorre porque o cônjuge do sócio não adquire o direito de ser sócio, assim como os her-
deiros também não. Os herdeiros do cônjuge de sócio ou o cônjuge que se separou judicialmente 
adquirem o valor das cotas do de cujos (sócio falecido). Eles não fazem parte do quadro societário, 
mas, participam dos lucros. 
 
 CONTRIBUIÇÃO E INTEGRALIZAÇÃO DO CAPITAL SOCIAL 
 
20 Ob. Cit. Pág. 121 e 122 
21 BORBA, José Edwaldo Tavares. Direito Societário. 14ª Ed. São Paulo: Atlas, 2015.P. 94 e 95 
22 Enunciados: 386, 387, 388, IV JDC do CJF 
DIREITO EMPRESARIAL 
28 
 
 
As obrigações dos sócios se iniciam com a assinatura do contrato (se este não fixar outra data), 
e terminam com a liquidação da sociedade. 
 
Uma das obrigações dos sócios que devemos destacar é a integralização do capital social que 
foi por ele subscrito. Os sócios são obrigados, na forma e prazo previstos, às contribuições estabele-
cidas no contrato social. A subscrição do capital social significa o valor que aquele sócio irá realizar 
(pagar) até que o capital social esteja completamente integralizado (quando todos os sócios efetuam 
o pagamento de todas as suas cotas). O sócio que subscreve (se compromete no contrato social) e 
não integraliza é chamado de sócio remisso. 
 
Dispõe o caput do art. 1.004, CC, que o sócio que deixar de integralizar o capital social será no-
tificado para efetuar o pagamento em trinta dias após a notificação. Não ocorrendo o pagamento, o 
sócio remisso responderá perante a sociedade pelo dano emergente da mora. 
 
Uma vez, verificada a mora, poderá a maioria dos demais sócios preferir: a) a indenização; b) a 
exclusão do sócio remisso; c) ou reduzir-lhe a quota ao montante já realizado (aplicando-se, em am-
bos os casos, o disposto no § 1º do art. 1.031, CC). 
 
As formas de integralização do capital social poderão ser: a) dinheiro; b) bens (sócio que 
transferir domínio, posse ou uso responderá pela evicção); c) cessão de crédito (responderá pela 
solvência do devedor o sócio que ceder o crédito) ou d) serviço (o sócio não pode, salvo convenção 
em contrário, empregar-se em atividade estranha à sociedade, sob pena de ser privado de seus lu-
cros e dela excluído), sendo vedada a cláusula leonina que exclua qualquer sócio de participar dos 
lucros e das perdas. 
 
Destaca-se que, nos termos do art. 1.009, CC, “a distribuição de lucros ilícitos ou fictícios acar-
reta responsabilidade solidária dos administradores que a realizarem e dos sócios que os receberem, 
conhecendo ou devendo conhecer-lhes a ilegitimidade”. Os lucros não se confundem com o pró-
labore (valor devido ao sócio pela administração/trabalho que ele desempenha na sociedade). 
 
 CESSÃO DE COTAS 
Os sócios não podem ser substituídos

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