Buscar

Enfermagem em Doação e Transplante de Órgãos

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 122 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 122 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 122 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

DOCÊNCIA EM 
SAÚDE 
 
 
 
 
 
 
ENFERMAGEM EM DOAÇÃO E 
TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS 
 
 
1 
 
Copyright © Portal Educação 
2012 – Portal Educação 
Todos os direitos reservados 
 
R: Sete de setembro, 1686 – Centro – CEP: 79002-130 
Telematrículas e Teleatendimento: 0800 707 4520 
Internacional: +55 (67) 3303-4520 
atendimento@portaleducacao.com.br – Campo Grande-MS 
Endereço Internet: http://www.portaleducacao.com.br 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - Brasil 
 Triagem Organização LTDA ME 
 Bibliotecário responsável: Rodrigo Pereira CRB 1/2167 
 Portal Educação 
P842e Enfermagem em doação e transplante de órgãos / Portal Educação. - 
Campo Grande: Portal Educação, 2012. 
 122p. : il. 
 
 Inclui bibliografia 
 ISBN 978-85-8241-265-7 
 1. Enfermagem - Transplante. 2. Doação de órgãos. I. Portal Educação. II. 
Título. 
 CDD 610.736 
 
 
2 
 
SUMÁRIO 
 
 
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 4 
2 HISTÓRIA DOS TRANSPLANTES ............................................................................................ 5 
3 ASPECTOS LEGAIS DOS TRANSPLANTES NO BRASIL ...................................................... 9 
4 POLÍTICAS PÚBLICAS EM TRANSPLANTES ........................................................................ 21 
5 O DOADOR DE ÓRGÃOS - ASPECTOS GERAIS DOS TRANSPLANTES ........................... 28 
5.1 O Doador de Órgãos ................................................................................................................ 28 
5.2 A Família do Doador de Órgãos ............................................................................................. 41 
5.3 Imunologia em transplante ..................................................................................................... 43 
5.4 Imunossupressão .................................................................................................................... 47 
5.5 Infecções no Paciente Transplantado ................................................................................... 50 
6 AS DIFERENTES MODALIDADES DE TRANSPLANTE ......................................................... 54 
6.1 Transplante Hepático ................................................................................................................. 54 
6.2 Transplante Renal ...................................................................................................................... 56 
6.3 Transplante Cardíaco ................................................................................................................ 58 
6.4 Transplante de Pâncreas ........................................................................................................... 60 
 
 
3 
 
6.5 Transplante de Pulmão .............................................................................................................. 62 
6.6 Transplante de Intestino ............................................................................................................ 64 
6.7 Transplante de Pele ................................................................................................................... 67 
6.8 Transplante de Ossos ................................................................................................................ 71 
6.9 Transplante de Córnea .............................................................................................................. 73 
6.10 Xenotransplantes ....................................................................................................................... 75 
7 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM DIFERENTES MODALIDADES DE 
TRANSPLANTES ................................................................................................................................ 79 
7.1 Assistência de Enfermagem em Transplantes ...................................................................... 79 
7.2 Transplante Hepático .............................................................................................................. 80 
7.3 Transplante Renal................................................................................................................... 101 
7.4 Transplante Cardíaco ............................................................................................................. 111 
8 A EXPERIÊNCIA DO PACIENTE E DA FAMÍLIA DIANTE DO TRANSPLANTE ................... 116 
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 119 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
 
O transplante de órgãos há tempos já não é mais considerado como um procedimento 
experimental, mas sim como uma intervenção cirúrgica amplamente aceita e recomendada para 
o tratamento de doenças degenerativas de órgãos vitais. Graças ao advento de técnicas 
cirúrgicas e de medicações cada vez mais eficazes no combate à rejeição, os avanços na 
Medicina dos transplantes têm crescido paulatinamente e aumentado de modo significativo a 
sobrevida dos pacientes transplantados. 
Os transplantes podem ser realizados a partir de doadores vivos (denominados 
transplantes intervivos) ou doadores falecidos. Dentre os transplantes intervivos podem-se 
realizar transplantes de fígado, rim, pulmão e também os de medula óssea, mais ligados ao 
ramo da oncologia. Já os transplantes oriundos de doadores falecidos – os mais comumente 
realizados – se subdividem em duas categorias: transplantes de doadores falecidos e com 
coração parado, em que se doam os tecidos; e de doadores em morte encefálica, conceito que 
discutiremos no decorrer do curso, a partir do qual se podem transplantar os órgãos vitais, como 
coração, intestino, fígado, rins, etc. 
A carência de doadores de órgãos é ainda um grande obstáculo para a efetivação de 
transplantes no Brasil. Mesmo nos casos em que o órgão pode ser obtido de um doador vivo, a 
quantidade de transplantes é pequena diante da demanda de pacientes que esperam pela 
cirurgia. A falta de informação e o preconceito também acabam limitando o número de doações 
obtidas de pacientes com morte encefálica. Com a conscientização efetiva da população, o 
número de doações pode aumentar de forma significativa. A seguir, veremos um pouco da 
história dos transplantes, como começaram e quais avanços foram os alicerces para o 
desenvolvimento desta área da Medicina. 
 
 
 
 
 
 
5 
 
2 HISTÓRIA DOS TRANSPLANTES 
 
 
Desde o início dos tempos, várias lendas e relatos sensacionalistas povoam o 
imaginário da população em geral a respeito do transplante. Na Ilíada, de Homero, é descrito o 
primeiro transplante de tecidos geneticamente diferentes, uma quimera criada pelos deuses. A 
lenda de São Cosme e Damião diz que, após a amputação da perna de um velho, 
transplantaram nele a perna de um soldado que havia falecido naquele mesmo dia. O termo 
transplante foi utilizado pela primeira vez por John Hunter, em 1778, ao descrever seus 
experimentos com enxertos ovarianos e testiculares em animais não relacionados. 
Em 1902, Ullmann, da Escola de Medicina de Viena, realizou o primeiro 
autotransplante de rim nos vasos do pescoço de um cão. Em 1906, Jaboulay, na França, fez 
dois xenotransplantes (transplantes entre espécies diferentes), a partir de rins de porco e de 
cabra, nos vasos do braço e da coxa de seres humanos, os quais funcionaram por uma hora. Em 
1909, Unger, em Berlim, transplantou um rim de macaco para uma criançaque sofria de 
insuficiência renal aguda. Até este momento, embora demonstrassem que os transplantes de 
órgãos sólidos eram possíveis, os diversos pesquisadores observavam que os órgãos muitas 
vezes morriam. Tal questionamento ficou aparentemente sem solução até que Guthrier inferiu, 
algum tempo mais tarde, que talvez estes fracassos pudessem estar relacionados com algum 
tipo de resposta imunológica. 
O primeiro alotransplante (transplante entre indivíduos da mesma espécie) renal no 
homem foi realizado em 1933 por um cirurgião ucraniano, para tratar uma insuficiência renal 
aguda causada por envenenamento por mercúrio. Infelizmente, o rim não funcionou, já que foi 
retirado do doador seis horas após a parada cardíaca, e o receptor morreu 48 horas depois. No 
início da década de 50, várias séries de transplantes renais em humanos foram realizadas em 
Paris e Boston, mas nenhuma droga imunossupressora era utilizada para prevenir a rejeição, e 
somente um paciente sobreviveu, por aproximadamente seis meses. 
Em 1952, em Paris, Dausset descobriu os antígenos de histocompatibilidade, e em 
1954, uma equipe em Boston iniciou o programa de transplante renal com gêmeos HLA 
(complexo de histocompatibilidade) idênticos, com bastante sucesso. A partir daí, os avanços na 
 
 
6 
 
terapia imunossupressora começaram, culminando com a descoberta da azatioprina como 
medicamento imunossupressor importante. Com a azatioprina o transplante renal tornou-se 
gradualmente uma opção terapêutica aceitável para casos cuidadosamente selecionados. Com a 
adição de esteroides à azatioprina em 1963, foi estabelecido um protocolo padrão de 
imunossupressão, que permaneceu assim por quase 20 anos. 
Durante este tempo, o aumento crescente da sobrevida dos pacientes transplantados 
deveu-se principalmente aos seguintes fatores: aprimoramento da técnica cirúrgica; a 
constatação de que baixas doses de esteroides são eficazes e mais seguras do que as 
administradas anteriormente; e a descoberta de que a transfusão de sangue pré-transplante 
reduz as possibilidades de rejeição. A partir daí, os avanços aceleraram gradativamente. 
Em 1967, Barnard realizou o primeiro transplante cardíaco ortotópico (em que o 
enxerto é colocado no mesmo lugar do órgão que é retirado) no homem, levando a um grande 
número de transplantes, realizados geralmente em centros mal equipados para lidar com os 
fenômenos da rejeição e cuidados pós-transplante. Consequentemente, os baixos índices de 
sobrevida serviram para justificar os argumentos daqueles que se opunham a todos os 
transplantes de órgãos. 
Os resultados iniciais com os transplantes de fígado também foram desencorajadores. 
Starzl e sua equipe, em 1960, desenvolveram técnicas para o transplante de fígado em cães, 
mas o primeiro só foi realizado em 1963. Os índices de sobrevivência foram baixos nos primeiros 
casos até que, em 1967, uma criança de 18 meses de idade viveu por mais 13 meses antes de 
falecer por metástases de seu hepatoma original. No entanto, os resultados eram tão precários 
que apenas dois centros persistiram com o transplante de fígado, e tais centros observavam que 
os resultados com a imunossupressão utilizada ainda eram inferiores aos de transplantes renais 
e cardíacos. 
No Brasil, o primeiro transplante foi feito em 1985, no Hospital das Clínicas, em São 
Paulo, por Raia e sua equipe, que também realizaram o primeiro transplante intervivos, em 1988. 
O transplante de partes do pâncreas para o tratamento de pacientes diabéticos foi sugerido no 
início de 1924, mas somente após o uso de uma imunossupressão efetiva é que se investiram 
grandes esforços no sentido de tratar o diabetes mellitus por meio do transplante total de 
pâncreas. Em 1966, Kelly e equipe fizeram um alotransplante de rim e pâncreas em um paciente 
 
 
7 
 
portador de uma nefropatia diabética em fase terminal. Desde então, centenas de transplantes 
têm sido realizados com o pâncreas total, parcial ou com ilhotas pancreáticas. 
Os problemas relacionados com a rejeição e as dificuldades cirúrgicas, particularmente 
em assegurar uma drenagem efetiva das secreções exócrinas, têm desestimulado muitas 
equipes em perseverar com o transplante pancreático, após uma má experiência inicial. 
Ultimamente, o interesse tem aumentado em função dos melhores resultados obtidos e com o 
advento de técnicas promissoras de transplante de ilhotas. 
Os primeiros experimentos sobre transplante de pulmão foram relatados por Carrel em 
1907, mas somente em 1950 foi publicado um trabalho, por Métras, descrevendo uma técnica 
cirúrgica desenvolvida com cães. Apesar de vários grupos terem realizado alotransplantes 
pulmonares, o sucesso era limitado pela imunossupressão inadequada. O primeiro quadro 
clínico foi descrito por Hardy e equipe, em 1963, mas o paciente morreu 18 dias após. Antes de 
1980, somente 38 pacientes receberam transplantes de pulmão, e a sobrevivência mais longa foi 
de 10 meses. Além da rejeição, os principais problemas em transplantes de pulmão são 
principalmente a seleção de doador adequado e a conservação do órgão. 
Até 1978, o transplante renal tinha progredido para um estágio em que era evidente a 
sua contribuição para o tratamento da insuficiência renal, mas havia dúvidas consideráveis sobre 
o futuro dos transplantes de outros órgãos. Felizmente, naquele ano, surge uma nova droga 
imunossupressora, a ciclosporina, que se revelou um agente imunossupressor tão potente no 
homem quanto já havia sido demonstrado em animais. A ciclosporina revolucionou os 
transplantes clínicos em todo o mundo, não somente em termos de aumentar o número de 
transplantes e o índice de sobrevida, mas também ao encorajar a comunidade em relação aos 
transplantes. 
Na década de 80, as retiradas de múltiplos órgãos foram padronizadas, surgiram novos 
imunossupressores, tais como os anticorpos monoclonais e o FK-506, e foi desenvolvida, por 
Belzer, uma nova solução de conservação de órgãos, levando os resultados de rim, coração, 
pulmão e fígado a atingirem uma sobrevida de 80% em dois anos. Esses resultados, já 
excepcionais em se tratando de pacientes na maioria das vezes sem outra opção terapêutica, 
tendem a melhorar na medida em que os fenômenos imunológicos forem desvendados e 
controlados. 
 
 
8 
 
Atualmente, no entanto, já podemos dizer que o transplante de órgãos é considerado 
uma terapêutica amplamente aceita e recomendada para o tratamento de doenças 
degenerativas de órgãos vitais, graças aos avanços anteriormente descritos e aos contínuos 
esforços de aprimorar a técnica cirúrgica e a terapia medicamentosa de controle. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
3 ASPECTOS LEGAIS DOS TRANSPLANTES NO BRASIL 
 
 
O primeiro transplante de coração no Brasil, realizado pelo professor Zerbini, resultou 
na elaboração de um suporte legal para a realização dos futuros transplantes de órgãos no país. 
Os objetivos básicos dessa legislação eram de resguardar os direitos das pessoas envolvidas, 
principalmente do doador, tanto falecido quanto vivo, bem como de garantir a gratuidade da 
doação, procurando evitar que órgãos e tecidos fossem vendidos ou que populações vulneráveis 
ficassem expostas ao risco de serem coagidas a optar pela decisão de doar, baseadas em 
algum benefício financeiro ou material. 
Longas análises e reflexões discorreram sobre doadores, receptores e, principalmente, 
quanto à definição do diagnóstico da realidade da morte, tendo como pilares resguardar os 
direitos do doador e garantir a gratuidade do ato. Considerando que os múltiplos transplantes de 
órgãos exigem a vitalidade dos tecidos transplantados, o primeiro grande desafio ético e legal, 
apresentado na terapêutica dos transplantes de doadores falecidos, foi a definição do 
diagnóstico de morte, uma vez que não mais se poderia firmar unicamente no critério de parada 
irreversíveldos batimentos cardíacos. Um novo conceito firmou-se: o de morte encefálica, do 
qual trataremos em maiores detalhes adiante. 
Em 1992, surge a Lei 8.489, de 18 de novembro de 1992, legislação vigente até 04 de 
fevereiro de 1997 que, quando revogada, foi substituída pela lei 9.434, posteriormente atualizada 
no ano de 2001, resultando na LEI N° 10.211, de 23 de março de 2001, em vigor atualmente. A 
principal modificação foi referente à doação, que passou de presumida para consentida. As 
alterações estão destacadas no decorrer do texto. Apresentaremos ambas a seguir. A leitura da 
legislação em transplantes é de suma importância para compreensão de todo o processo que 
envolve a doação de órgãos e tecidos no Brasil. 
 
 
 
 
 
10 
 
LEI 9.434, DE 04 DE FEVEREIRO DE 1997 
Remoção de Órgãos, Tecidos e Partes do Corpo Humano para fins de Transplante e 
Tratamento 
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA faz saber que o Congresso Nacional decreta e eu 
sanciono a seguinte Lei: 
CAPÍTULO I - DAS DISPOSIÇÕES GERAIS 
Artigo 1 - A disposição gratuita de tecidos, órgãos e partes do corpo humano, em vida 
ou post mortem, para fins de transplante e tratamento, é permitida na forma desta Lei. 
Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, não estão compreendidos entre os tecidos a 
que se refere este artigo o sangue, o esperma e o óvulo. 
Artigo 2 - A realização de transplantes ou enxertos de tecidos, órgãos ou partes do 
corpo humano só poderá ser realizada por estabelecimento de saúde, público ou privado, e por 
equipes médico-cirúrgicas de remoção e transplante previamente autorizados pelo órgão de 
gestão nacional do Sistema Único de Saúde. 
Parágrafo único. A realização de transplantes ou enxertos de tecidos, órgãos ou partes do corpo 
humano só poderá ser autorizada após a realização, no doador, de todos os testes de triagem 
para diagnóstico de infecção e infestação exigidos para a triagem de sangue para doação, 
segundo dispõem a Lei n° 7.649, de 25 de janeiro de 1988, e regulamentos do Poder Executivo. 
CAPÍTULO II - DA DISPOSIÇÃO POST MORTEM DE TECIDOS, ÓRGÃOS E 
PARTES DO CORPO HUMANO PARA FINS DE TRANSPLANTE 
Artigo 3 - A retirada post mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano 
destinados a transplante ou tratamento deverá ser precedida de diagnóstico de morte encefálica, 
constatada e registrada por dois médicos não participantes das equipes de remoção e 
transplante, mediante a utilização de critérios clínicos e tecnológicos definidos por resolução do 
Conselho Federal de Medicina. 
 
 
 
11 
 
1. Os prontuários médicos, contendo os resultados ou os laudos dos 
exames referentes aos diagnósticos de morte encefálica e cópias dos documentos de 
que tratam os artigos 2, parágrafo único; 4 e seus parágrafos; 5; 7; 9, 2, 4, 6 e 8; e 10, 
quando couber, e detalhando os atos cirúrgicos relativos aos transplantes e enxertos, 
serão mantidos nos arquivos das instituições referidas no artigo 2 por um período de, no 
mínimo, cinco (5) anos. 
2. As instituições referidas no artigo 2 enviarão anualmente um relatório contendo os 
nomes dos pacientes receptores ao órgão gestor estadual do SUS. 
3. Será admitida a presença de médico de confiança da família do falecido no ato da 
comprovação e atestação da morte encefálica. 
Artigo 4 - Salvo manifestação de vontade em contrário, nos termos desta Lei, 
presume-se autorizada a doação de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano, para 
finalidade de transplantes ou terapêutica post mortem -DOAÇÃO PRESUMIDA 
1. A expressão “não-doador de órgãos e tecidos” deverá ser gravada, de forma 
indelével e inviolável, na Carteira de Identidade Civil e na Carteira Nacional de Habilitação 
da pessoa que optar por essa condição. 
2. A gravação de que trata este artigo será obrigatória em todo o território 
nacional a todos os órgãos de identificação civil e departamentos de trânsito, decorridos 
trinta dias da publicação desta Lei. 
3. O portador de Carteira de Identidade Civil ou de Carteira Nacional de 
Habilitação emitidas até a data a que se refere o parágrafo anterior poderá manifestar sua 
vontade de não doar tecidos, órgãos ou partes do corpo após a morte, comparecendo ao 
órgão oficial de identificação civil ou departamento de trânsito e procedendo à gravação 
da expressão “não-doador de órgãos e tecidos”. 
4. A manifestação de vontade feita na Carteira de Identidade Civil ou na Carteira 
Nacional de Habilitação poderá ser reformulada a qualquer momento, registrando-se, no 
documento, a nova declaração de vontade. 
 
 
 
12 
 
5. No caso de dois ou mais documentos legalmente válidos com opções 
diferentes, quanto à condição de doador ou não, do morto, prevalecerá aquele cuja 
emissão for mais recente. 
6. Na ausência de manifestação de vontade do potencial doador, o pai, a mãe, o 
filho ou o cônjuge poderá manifestar-se contrariamente à doação, o que será 
obrigatoriamente acatado pelas equipes de transplante e remoção. (incluído pela Medida 
Provisória 1.718, de 06 de outubro de 1998) 
Artigo 5 - A remoção post mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo de pessoa 
juridicamente incapaz poderá ser feita desde que permitida expressamente por ambos os pais ou 
por seus responsáveis legais. 
Artigo 6 - É vedada a remoção post mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo de 
pessoas não identificadas. 
Artigo 7 – Vetado 
Parágrafo único - No caso de morte sem assistência médica, de óbito em decorrência 
de causa mal definida ou de outras situações nas quais houver indicação de verificação da 
causa médica da morte, a remoção de tecidos, órgão ou partes de cadáver para fins de 
transplante ou terapêutica somente poderá ser realizada após a autorização do patologista do 
serviço de verificação de óbito responsável pela investigação e citada em relatório de necrópsia. 
Artigo 8 - Após a retirada de partes do corpo, o cadáver será condignamente 
recomposto e entregue aos parentes do morto ou seus responsáveis legais para sepultamento. 
CAPÍTULO III - DA DISPOSIÇÃO DE TECIDOS, ÓRGÃOS E PARTES DO CORPO 
HUMANO VIVO PARA FINS DE TRANSPLANTE OU TRATAMENTO 
Artigo 9 - É permitida à pessoa juridicamente capaz dispor gratuitamente de tecidos, 
órgãos ou partes do próprio corpo vivo para fins de transplante ou terapêuticos. 
 
1. (VETADO) 
 
 
13 
 
 
2. (VETADO) 
 
 3. Só é permitida a doação referida neste artigo quando se tratar de órgãos duplos, de 
partes de órgãos, tecidos ou partes do corpo cuja retirada não impeça o organismo do doador de 
continuar vivendo sem risco para a sua integridade e não represente grave comprometimento de 
suas aptidões vitais e saúde mental e não cause mutilação ou deformação inaceitável, e 
corresponda a uma necessidade terapêutica comprovadamente indispensável à pessoa 
receptora. 
4. O doador deverá autorizar, preferencialmente por escrito e diante de testemunhas, 
especificamente o tecido, órgão ou parte do corpo objeto da retirada. 
5. A doação poderá ser revogada pelo doador ou pelos responsáveis legais a qualquer 
momento antes de sua concretização. 
6. O indivíduo juridicamente incapaz, com compatibilidade imunológica comprovada, 
poderá fazer doação nos casos de transplante de medula óssea, desde que haja consentimento 
de ambos os pais ou seus responsáveis legais e autorização judicial e o ato não oferecer risco 
para a sua saúde. 
7. É vedado à gestante dispor de tecidos, órgãos ou partes de seu corpo vivo, exceto 
quando se tratar de doação de tecidos para ser utilizado em transplante de medula óssea e o ato 
não oferecer risco à saúde ou ao feto. 
8. O autotransplante depende apenas do consentimento do próprio indivíduo, 
registrado em seu prontuário médico ou, se ele for juridicamente incapaz, de um de seus pais ou 
responsáveis legais. 
CAPÍTULO IV - DAS DISPOSIÇÕES COMPLEMENTARES 
Artigo 10 - O transplante ou enxerto só se fará com o consentimento expresso do 
receptor, após aconselhamentosobre a excepcionalidade e os riscos do procedimento. 
 
 
 
14 
 
Parágrafo único - Nos casos em que o receptor seja juridicamente incapaz ou cujas 
condições de saúde impeçam ou comprometam a manifestação válida de sua vontade, o 
consentimento de que trata este artigo será dado por um de seus pais ou responsáveis legais. 
Artigo 11 - É proibida a veiculação, através de qualquer meio de comunicação social, 
de anúncio que configure: 
a) publicidade de estabelecimentos autorizados a realizar transplantes e enxertos, 
relativa a estas atividades; 
b) apelo público no sentido da doação de tecido, órgão ou parte do corpo humano para 
pessoa determinada, identificada ou não, ressalvado o disposto no parágrafo único; 
c) apelo público para a arrecadação de fundos para o financiamento de transplante ou 
enxerto em benefício de particulares. 
Parágrafo único - os órgãos de gestão nacional, regional e local do Sistema Único de 
Saúde realizarão periodicamente, através dos meios adequados de comunicação social, 
campanhas de esclarecimento público dos benefícios esperados a partir da vigência desta Lei e 
de estímulo à doação de órgãos. 
Artigo 12 - (VETADO) 
Artigo 13 - É obrigatório, para todos os estabelecimentos de saúde, notificar, às 
centrais de notificação, captação e distribuição de órgãos da unidade federada onde ocorrer, o 
diagnóstico de morte encefálica feito em pacientes por eles atendidos. 
CAPÍTULO V - DAS SANÇÕES PENAIS E ADMINISTRATIVAS 
Seção I - Dos Crimes 
Artigo 14 - Remover tecidos, órgãos ou partes do corpo de pessoa ou cadáver, em 
desacordo com as disposições desta Lei: 
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa, de 100 a 360 dias-multa. 
 
 
 
15 
 
 1. Se o crime é cometido mediante paga ou promessa de recompensa ou por outro 
motivo torpe: 
 
Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa, de 100 a 150 dias-multa. 
2. Se o crime é praticado em pessoa viva, e resulta para o ofendido: 
 
I - incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias; 
II - perigo de vida; 
III - debilidade permanente de membro, sentido ou função; 
IV - aceleração de parto: 
 
Pena - reclusão, de três a dez anos, e multa, de 100 a 200 dias-multa. 
 
3. Se o crime é praticado em pessoa viva, e resulta para o ofendido: 
 
I - incapacidade permanente para o trabalho; 
II - enfermidade incurável; 
III - perda ou inutilização de membro, sentido ou função; 
IV - deformidade permanente; 
V – aborto; 
 
 Pena - reclusão, de quatro a doze anos, e multa, de 150 a 300 dias-multa. 
 
4. Se o crime é praticado em pessoa viva e resulta morte: 
 
Pena - reclusão, de oito a vinte anos, e multa de 200 a 360 dias-multa. 
Artigo 15 - Comprar ou vender tecidos, órgãos ou partes do corpo humano: 
 
 
16 
 
Pena - reclusão de três a oito anos, e multa, de 200 a 360 dias-multa. 
 
 Parágrafo único - Incorre na mesma pena quem promove, intermedeia, facilita ou 
aufere qualquer vantagem com a transação. 
Artigo 16 - Realizar transplante ou enxerto utilizando tecidos, órgãos ou partes do 
corpo humano de que se tem ciência terem sido obtidos em desacordo com os dispositivos desta 
Lei: 
Pena - reclusão, de um a seis anos, e multa, de 150 a 300 dias-multa. 
Artigo 17 - Recolher, transportar, guardar ou distribuir partes do corpo humano de que 
se tem ciência terem sido obtidos em desacordo com os dispositivos desta Lei: 
Pena - reclusão, de seis meses a dois anos, e multa de 100 a 250 dias-multa. 
Artigo 18 - Realizar transplante ou enxerto em desacordo com o disposto no art. 10 
desta Lei e seu parágrafo único: 
 
Pena - detenção, de seis meses a dois anos. 
 
Artigo 19 - Deixar de recompor cadáver, devolvendo-lhe aspecto condigno, para 
sepultamento ou deixar de entregar ou retardar sua entrega aos familiares ou interessados: 
 
Pena - detenção, de seis meses a dois anos. 
Artigo 20 - Publicar anúncio ou apelo público em desacordo com o disposto no artigo 
11: 
Pena - multa, de 100 a 200 dias-multa. 
 
Seção II - Das Sanções Administrativas 
 
 
17 
 
Artigo 21 - No caso dos crimes previstos nos artigos 14, 15, 16 e 17, o 
estabelecimento de saúde e as equipes médico-cirúrgicas envolvidas poderão ser 
desautorizadas temporária ou permanentemente pelas autoridades competentes. 
 
1. Se a instituição é particular, a autoridade competente poderá multá-la em 200 a 360 dias-
multa e, em caso de reincidência, poderá ter suas atividades suspensas temporária ou 
definitivamente, sem direito a qualquer indenização ou compensação por investimentos 
realizados. 
2. Se a instituição é particular, é proibida de estabelecer contratos ou convênios com 
entidades públicas, bem como se beneficiar de créditos oriundos de instituições governamentais 
ou daquelas em que o Estado é acionista, pelo prazo de cinco anos. 
Artigo 22 - As instituições que deixarem de manter em arquivo relatórios dos 
transplantes realizados, conforme o disposto no artigo 3, 1., ou que não enviarem os relatórios 
mencionados no artigo 3, 2., ao órgão de gestão estadual do Sistema Único de Saúde, estão 
sujeitas a multa, de 100 a 200 dias-multa. 
 
 1. Incorre na mesma pena o estabelecimento de saúde que deixar de fazer as 
notificações previstas no art. 13. 
2. Em caso de reincidência, além de multa, o órgão de gestão estadual do Sistema 
Único de Saúde poderá determinar a desautorização temporária ou permanente da instituição. 
Artigo 23 - Sujeita-se às penas do artigo 59 da Lei n° 4.117, de 27 de agosto de 1962, 
a empresa de comunicação social que veicular anúncio em desacordo com o disposto no artigo 
11. 
CAPÍTULO VI - DAS DISPOSIÇÕES FINAIS 
Artigo 24 - (VETADO) 
Artigo 25 - Revogam-se as disposições em contrário, particularmente a Lei n° 8.489, 
de 18 de novembro de 1992, e o Decreto n° 879, de 22 de julho de 1993. 
 
 
18 
 
Brasília, 4 de fevereiro de 1997; 176° da Independência e 109° da República. 
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO 
Nelson A. Jobim 
Carlos César de Albuquerque 
 
LEI N° 10.211, DE 23 de março de 2001 
Altera dispositivos da Lei nº 9.434, de 4 de fevereiro de 1997, que "dispõe sobre a 
remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento". 
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA 
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: 
CAPÍTULO I 
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS 
"Art. 1º Os dispositivos adiante indicados, da Lei nº 9.434, de 4 de fevereiro de 1997, 
passam a vigorar com a seguinte redação: 
"Art. 2º ...................................................................... 
"Parágrafo único. A realização de transplantes ou enxertos de tecidos, órgãos e 
partes do corpo humano só poderá ser autorizada após a realização, no doador, de todos 
os testes de triagem para diagnóstico de infecção e infestação exigidos em normas 
regulamentares expedidas pelo Ministério da Saúde." (NR) 
"Art. 4º A retirada de tecidos, órgãos e partes do corpo de pessoas falecidas para 
transplantes ou outra finalidade terapêutica, dependerá da autorização do cônjuge ou 
parente, maior de idade, obedecida a linha sucessória, reta ou colateral, até o segundo 
 
 
19 
 
grau inclusive, firmada em documento subscrito por duas testemunhas presentes à 
verificação da morte”. (NR) - DOAÇÃO CONSENTIDA 
"Parágrafo único. (VETADO)" 
"Art. 8º Após a retirada de tecidos, órgãos e partes, o cadáver será imediatamente 
necropsiado, se verificada a hipótese do parágrafo único do art. 7º, e, em qualquer caso, 
condignamente recomposto para ser entregue, em seguida, aos parentes do morto ou seus 
responsáveis legais para sepultamento." (NR) 
"Art. 9º É permitida à pessoa juridicamente capaz dispor gratuitamente de tecidos, 
órgãos e partes do próprio corpo vivo, para fins terapêuticos ou para transplantes em cônjuge ou 
parentes consanguíneos até o quarto grau, inclusive, na forma do §4º deste artigo, ou em 
qualquer outrapessoa, mediante autorização judicial, dispensada esta em relação à medula 
óssea. 
........................................................................." (NR) 
"Art. 10. O transplante ou enxerto só se fará com o consentimento expresso do 
receptor, assim inscrito em lista única de espera, após aconselhamento sobre a 
excepcionalidade e os riscos do procedimento." (NR) 
"§ 1º Nos casos em que o receptor seja juridicamente incapaz ou cujas condições de 
saúde impeçam ou comprometam a manifestação válida da sua vontade, o consentimento de 
que trata este artigo será dado por um de seus pais ou responsáveis legais." (NR) 
"§ 2º A inscrição em lista única de espera não confere ao pretenso receptor ou à sua 
família direito subjetivo a indenização, se o transplante não se realizar em decorrência de 
alteração do estado de órgãos, tecidos e partes, que lhe seriam destinados, provocado por 
acidente ou incidente em seu transporte." (NR) 
Art. 2º As manifestações de vontade relativas à retirada "post mortem" de tecidos, 
órgãos e partes, constantes da Carteira de Identidade Civil e da Carteira Nacional de Habilitação, 
perdem sua validade a partir de 22 de dezembro de 2000. 
 
 
20 
 
Art. 3º Ficam convalidados os atos praticados com base na Medida Provisória nº 
2.083-32, de 22 de fevereiro de 2001. 
Art. 4º Ficam revogados os §§ 1º a 5º do art. 4º da Lei nº 9.434, de 4 de fevereiro de 
1997. 
Art. 5º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. 
Brasília, 23 de março de 2001; 180º da Independência e 113º da República. 
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO 
José Gregori 
José Serra 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
21 
 
4 POLÍTICAS PÚBLICAS DE TRANSPLANTES 
 
 
Para o desenvolvimento da Medicina de Transplantes no Brasil foi criado o Sistema 
Nacional de Transplantes (SNT), que tem como objetivos organizar o processo de captação e 
distribuição de tecidos, órgãos e partes retiradas do corpo humano para finalidades terapêuticas. 
Seu funcionamento foi estabelecido por meio do Decreto Nº 2.268, de 30 de junho de 1997 - 
DOU 123, de 01.07.97, que regulamenta a Lei n° 9.434, de 4 de fevereiro de 1997, que dispõe 
sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e 
tratamento, já vista anteriormente. 
Integram o SNT o Ministério da Saúde, as Secretarias de Saúde dos Estados e do 
Distrito Federal ou órgãos equivalentes, as Secretarias de Saúde dos Municípios ou órgãos 
equivalentes, os estabelecimentos hospitalares autorizados, e a rede de serviços auxiliares 
necessários à realização de transplantes. 
Quanto às atribuições do SNT, são elas: 
 Coordenar as atividades previstas pelo decreto anteriormente 
mencionado; 
 Expedir normas e regulamentos técnicos para disciplinar os 
procedimentos estabelecidos e para assegurar o funcionamento ordenado e harmônico 
do SNT e o controle, inclusive social, das atividades que desenvolve; 
 Gerenciar a lista única nacional de receptores, com todas as indicações 
necessárias à busca, em todo o território nacional, de tecidos, órgãos e partes 
compatíveis com as suas condições orgânicas; 
 Autorizar estabelecimentos de saúde e equipes especializadas a 
promover retiradas, transplantes ou enxertos de tecidos, órgãos e partes; 
 Avaliar o desempenho do SNT, mediante análise de relatórios recebidos 
dos órgãos estaduais e municipais que o integram; 
 Articular-se com todos os integrantes do SNT para a identificação e 
correção de falhas verificadas no seu funcionamento; 
 
 
22 
 
 Difundir informações e iniciativas bem sucedidas, no âmbito do SNT, e 
promover intercâmbio com o exterior sobre atividades de transplantes; 
 Credenciar centrais de notificação, captação e distribuição de órgãos 
nos diferentes Estados do país. 
As Secretarias de Saúde dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios ou órgãos 
equivalentes, para que se integrem ao SNT, devem instituir, na respectiva estrutura 
organizacional, as chamadas Centrais de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos 
(CNCDOs). As CNCDOs são as unidades executivas das atividades do SNT. Suas incumbências 
são: 
 Coordenar as atividades de transplantes no âmbito estadual; 
 Promover a inscrição de potenciais receptores, com todas as indicações 
necessárias à sua rápida localização e à verificação de compatibilidade do respectivo 
organismo para o transplante ou enxerto de tecidos, órgãos e partes disponíveis, de que 
necessite; 
 Classificar os receptores e agrupá-los, em ordem estabelecida pela data 
de inscrição, fornecendo-lhes o necessário comprovante; 
 Comunicar ao órgão central do SNT as inscrições que efetuar para a 
organização da lista nacional de receptores; 
 Receber notificações de morte encefálica ou outra que enseje a retirada 
de tecidos, órgãos e partes para transplante, ocorrida em sua área de atuação; 
 Determinar o encaminhamento e providenciar o transporte de tecidos, 
órgãos e partes retirados ao estabelecimento de saúde autorizado, em que se encontrar 
o receptor ideal; 
 Notificar o órgão central do SNT de tecidos, órgãos e partes não 
aproveitáveis entre os receptores inscritos em seus registros, para utilização dentre os 
relacionados na lista nacional; 
 Encaminhar relatórios anuais ao órgão central do SNT sobre o 
desenvolvimento das atividades de transplante em sua área de atuação; 
 Exercer controle e fiscalização sobre as atividades de transplantes em 
sua área de atuação. 
 
 
23 
 
A política de transplante no Brasil defende que a retirada de tecidos, órgãos e partes e 
o seu transplante ou enxerto só podem ser realizados por equipes especializadas e em 
estabelecimentos de saúde, públicos ou privados, prévia e expressamente autorizados pelo 
Ministério da Saúde. Para isso, os estabelecimentos de saúde devem contar com serviços e 
instalações adequados à execução de retirada, transplante ou enxerto de tecidos, órgãos ou 
partes, atendidas, no mínimo, as seguintes exigências, comprovadas no requerimento de 
autorização: 
 Atos constitutivos, com indicação da representação da instituição, em 
juízo ou fora dele; 
 Ato de designação e posse da diretoria; 
 Equipes especializadas de retirada, transplante ou enxerto, com vínculo 
sob qualquer modalidade contratual ou funcional, autorizadas conforme disposições 
apresentadas no Decreto; 
 Disponibilidade de pessoal qualificado e em número suficiente para 
desempenho de outras atividades indispensáveis à realização dos procedimentos; 
 Condições necessárias de ambientação e de infraestrutura operacional; 
 Capacidade para a realização de exames e análises laboratoriais 
necessários aos procedimentos de transplantes; 
 Instrumental e equipamento indispensáveis ao desenvolvimento da 
atividade a que se proponha. 
A composição das equipes especializadas deve ser determinada em função do 
procedimento, mediante integração de profissionais autorizados; é exigido, no caso de 
transplante, a definição, em número e habilitação, de profissionais necessários à realização do 
procedimento, não podendo a equipe funcionar na falta de algum deles. Além da necessária 
habilitação profissional, os médicos devem instruir o pedido de autorização com certificado de 
pós-graduação, em nível, no mínimo, de residência médica ou título de especialista reconhecido 
no País, e certidão negativa de infração ética, passada pelo órgão de classe em que forem 
inscritos. 
Como funcionam as Centrais de Transplantes: 
 
 
24 
 
1. O receptor preenche uma ficha e faz exames para determinar suas características 
sanguíneas, da estatura física e antigênicas (no caso dos rins); 
2. Os dados são organizados em um programa de computador. A ordem cronológica é 
usada principalmente como critério de desempate; 
3. Quando aparece um órgão, ele é submetido a exames e os resultados são enviados 
para o computador; 
4. O programa faz o cruzamento entre os dados de doadore receptor e apresenta dez 
opções mais compatíveis com o órgão; 
5. Os dez pacientes não são identificados pelo nome para evitar favorecimento. Só 
suas iniciais e números são mostrados. Nesta etapa, todos os profissionais da central têm 
acesso ao cadastro; 
6. O laboratório refaz vários exames e realiza outros novos com material armazenado 
desse receptor. Nesse momento, o receptor ainda não é comunicado; 
7. A nova bateria de exames aponta o receptor mais compatível. Nessa etapa, o 
acesso ao cadastro fica restrito à chefia da central; 
8. O médico do receptor é contatado para responder sobre o estado de saúde do 
receptor. Se não estiver apto para receber o transplante, o processo recomeça; 
9. O receptor é contatado e decide se deseja o transplante e em que hospital fará a 
cirurgia. 
 
Como funciona o sistema de captação de órgãos 
 
1) Identificação do potencial doador: 
Um doador em potencial é um paciente com morte encefálica, internado em hospital 
sob cuidados intensivos. Nesse período, é informada à família a possibilidade de doação dos 
órgãos. Caso a família concorde com a doação, viabiliza-se a remoção dos órgãos depois que o 
diagnóstico de morte encefálica se confirmar. A notificação deste diagnóstico é OBRIGATÓRIA 
POR LEI. O diagnóstico de morte encefálica passa por algumas etapas, que serão descritas em 
 
 
25 
 
detalhe no próximo módulo. Cabe ressaltar que nenhum dos médicos responsáveis pelo 
diagnóstico de morte encefálica pode fazer parte de equipe transplantadora. 
2) Notificação 
O hospital notifica a Central de Transplantes sobre um paciente com suspeita de morte 
encefálica (potencial doador). No Estado de São Paulo, a captação se faz de forma regionalizada 
– a Central de Transplantes repassa a notificação para uma OPO (Organização de Procura de 
Órgão) que cobre a região do hospital notificador. Nos demais Estados, tal função cabe à 
CNCDO correspondente. 
3) Avaliação 
A OPO ou a Central de Transplantes se dirige ao Hospital e avalia o doador com base 
na sua história clínica, antecedentes médicos e exames laboratoriais. Avalia-se a viabilidade dos 
órgãos, bem como a sorologia para afastar doenças infecciosas e teste de compatibilidade com 
prováveis receptores. A família é abordada sobre a doação e também pode autorizar a remoção 
do paciente para o hospital da OPO, que muitas vezes tem mais condições para uma melhor 
manutenção. 
4) Informação do doador efetivo 
A OPO informa a Central de Transplantes quando o doador já tem toda a sua avaliação 
completa e o mesmo é viável. São passadas todas as informações colhidas, resultados de 
exames, peso, altura, medicações em uso, condições hemodinâmicas atuais, bem como local e 
hora marcada para a extração dos órgãos. 
 
5) Seleção dos receptores 
Todo paciente que precisa de transplante é inscrito na Lista Única de Receptores do 
Sistema Nacional de Transplantes do Ministério da Saúde (cuja ordem é seguida com rigor, sob 
supervisão do Ministério Público), por uma equipe responsável pelo procedimento do 
transplante. A partir desse cadastro, a Central de Transplantes emite uma lista de receptores 
inscritos, compatíveis para o doador; no caso dos rins deve-se fazer ainda uma nova seleção por 
compatibilidade imunológica ou histológica. 
 
 
26 
 
6) Identificação das equipes transplantadoras 
A Central de Transplantes informa a equipe de transplante sobre a existência do 
doador e qual paciente receptor foi nomeado. Cabe à equipe decidir sobre a utilização ou não 
deste órgão, uma vez que é o médico o conhecedor do estado atual e condições clínicas de seu 
paciente. 
7) Os órgãos 
As equipes fazem a extração no hospital onde se encontra o doador, em centro 
cirúrgico, respeitando todas as técnicas de assepsia e preservação dos órgãos. Terminado o 
procedimento, as equipes se dirigem para seus hospitais de origem para procederem ao 
transplante. 
8) Liberação do corpo 
O corpo é entregue à família condignamente recomposto, sendo fornecida toda 
orientação necessária. 
 
 
 
 
 
 
27 
 
DESCRIÇÃO DAS ETAPAS: 
1- Hospital notifica a Central de Transplantes sobre um paciente com morte 
encefálica (doador); 
2 - Central de Transplantes repassa a notificação para a OPO (Organização de 
Procura de Órgão); 
3 - OPO contata o Hospital e viabiliza o doador; 
4 - OPO informa a Central de Transplantes se o doador é viável; 
5 - Central de Transplantes emite a lista de receptores e encaminha para o 
Laboratório de Imunogenética (apenas para o Rim); 
6 - Laboratório de Imunogenética realiza "crossmatch" e informa para a Central de 
Transplantes; 
7 - Central de Transplantes com a lista definitiva dos receptores para cada órgão, 
informa as Equipes de Transplante; 
8 - Equipes de Transplante realizam os transplantes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
28 
 
5 O DOADOR DE ÓRGÃOS - ASPECTOS GERAIS DOS TRANSPLANTES 
 
 
5.1 O Doador de Órgãos 
 
 
 O doador 
 
Os doadores de órgãos podem pertencer a uma das seguintes categorias: 
 Doadores com coração “batendo”: doador com morte encefálica, doador 
vivo relacionado, doador vivo não-relacionado, doador anencefálico. 
 Doadores com coração “parado”. 
 Animais. 
 
Atualmente, como vemos constantemente divulgado nos meios de comunicação, o 
mais importante doador de órgãos para transplante tem sido o portador de morte encefálica. A 
falha no reconhecimento ou o reconhecimento tardio do portador de morte encefálica pode levar 
à perda de órgãos devido à parada cardiorrespiratória inesperada, instabilidade hemodinâmica 
ou infecção. 
A grande maioria dos portadores de morte encefálica é constituída por pacientes 
vítimas de problemas cerebrais: traumatismo cranioencefálico, hemorragia subaracnoide, 
neoplasias cerebrais não-metastatizantes ou isquemia cerebral. A decisão de interromper o 
tratamento do paciente portador de lesão cerebral grave e iniciar o suporte para doador potencial 
de órgãos é difícil, tanto do ponto de vista conceitual quanto do ponto de vista ético. Apesar 
dessas dificuldades, deve ser considerado doador potencial de órgãos todo paciente cuja 
terapêutica orientada para o cérebro foi avaliada como ineficaz ou a morte encefálica já ocorreu. 
 
 
29 
 
Critérios Gerais e Específicos para a Doação de Órgãos 
 
A seguir, apresento dois quadros com os critérios de exclusão de doador de órgãos e 
critérios para doação de órgãos específicos. 
 
Critérios de exclusão do doador Exemplos 
Infecção Sepse bacteriana ou fúngica 
Hepatite ou encefalite viróticas 
AIDS 
Infecção ativa por citomegalovírus ou infecção 
hepática sistêmica 
Tuberculose ativa 
Sífilis 
Doença de Chagas 
Uso habitual de drogas endovenosas 
Malignidade Exceto tumores primários do SNC ou carcinomas de 
pele ou cervical localizados, sem metástase 
Traumatismo direto do órgão 
 
 
Órgão a ser doado Critérios 
Córneas Idade: 1-65 anos 
História pregressa negativa para cirurgia ou doença 
 
 
30 
intraocular 
Retirada ideal até seis horas após parada circulatória 
Rins Idade: 1 mês a 75 anos 
História negativa para doença renal 
Perfusão renal adequada 
Débito urinário adequado 
Fígado Idade: menor ou igual a 75 anos 
Peso e altura do doador satisfatórios 
Provas de função hepática normais 
Ausência de etilismo 
Coração Idade: menor ou igual a 60 anos 
Altura e peso do doador satisfatórios 
RX de tórax e ECG normais 
Parada cardíaca não prolongada 
Doses baixas de agentes inotrópicos positivos 
Coração/Pulmão Mesmos critérios para o coração, somando: 
Trauma ou infecção pulmonar ausentes 
Ventilação artificial menor do que 24 horas, se 
possível 
Diâmetro torácico do receptor adequado 
Ausência de tabagismo 
Pâncreas Idade menor ou igual a 65 anos 
Amilase plasmática normal 
 
 
31 
História familiar negativa para diabetes mellitus 
 
Os prováveis doadores de órgãos devem ser submetidos a uma avaliação laboratorial,resumida a seguir: 
 Sorologias: VDRL, HBsAG, Anti-HCV, citomegalovírus, doença de 
Chagas, HLA. 
 Bioquímica: Sódio, cloro, potássio, cálcio, fósforo, glicose, creatinina, 
provas de função hepática. 
 Hematologia: hemograma, tempo de protrombina, tempo de 
tromboplastina parcial, contagem de plaquetas, grupo sanguíneo ABO. 
 Bacteriologia: Gram e cultura de escarro, urocultura, hemoculturas. 
 
 Morte Encefálica 
 
Durante as últimas três décadas, os avanços tecnológicos, como equipamentos 
sofisticados mantenedores da atividade respiratória, ressuscitadores cardíacos e a alimentação 
parenteral em UTI, possibilitaram o prolongamento da vida por tempo indeterminado, criando-se, 
assim, possibilidades de uma nova situação, antes completamente impensada: “Um encéfalo 
morto e um coração vivo.” 
O crescente sucesso dos programas de transplantes de órgãos e tecidos levou a 
Comunidade Científica Mundial a discutir e adotar o princípio de que a morte da pessoa ocorre 
quando o encéfalo falha irreversivelmente em suas funções, e atualmente o conceito de morte 
encefálica é aceito no Brasil e na maioria dos países como sendo a morte do indivíduo, visto que 
a função de todo encéfalo representa mais exatamente a vida do que a função cardiovascular 
persistente sem nenhuma função encefálica. 
 
Conceituação 
 
 
 
 
32 
 
De acordo com a Comissão para os Estudos dos Problemas Éticos na Pesquisa 
Comportamental Médica e Biomédica, Morte Encefálica (ME) é um quadro clínico num paciente 
portador de doença estrutural ou metabólica conhecida, de caráter completa e indubitavelmente 
irreversível, expressando falência total de todas as funções de todo o encéfalo, inclusive do 
tronco encefálico, quadro clínico este que persiste de maneira invariável por um período mínimo 
de seis horas. Portanto, a morte encefálica consiste na parada total e irreversível das 
atividades do encéfalo. 
É importante diferenciar a morte encefálica da morte cerebral; nesta, partes ou todo o 
tronco encefálico (mesencéfalo, ponte e bulbo) e ainda o cerebelo podem funcionar, sendo 
chamada esta condição de estado vegetativo persistente, ou morte neocortical. 
 
Diagnóstico 
 
É necessário que se comunique à família o início do procedimento de diagnóstico, e 
deve-se permitir a presença do médico da família na realização do procedimento. 
 
1. Critérios Clínicos 
 
O diagnóstico de morte encefálica (ME) é baseado em dados obtidos através da 
anamnese, exame clínico e exames laboratoriais: 
 Paciente com doença estrutural ou metabólica conhecida e irreversível, 
na ausência de intoxicação exógena recente, uso de depressores do SNC, bloqueio 
neuromuscular e/ou hipotermia primária, na certeza de que todas as medidas de proteção 
encefálica já tenham sido realizadas (metabólicas, hemodinâmicas, etc). 
 
 
 
 
33 
 
A causa do coma deve ser estabelecida desde o início. A ME ocorre quando o encéfalo 
se lesa por intermédio de agentes físicos ou químicos, porém os resultados finais de agressão 
são os mesmos: anoxia tecidual bloqueando a produção de energia cerebral nas mitocôndrias. 
 
 Perda da função de todo o encéfalo, inclusive do tronco encefálico, 
levando a um estado permanente de inconsciência. O paciente em ME apresenta-se em coma 
profundo, aperceptivo, com arreatividade comportamental e/ou reflexa a estímulos nociceptivos 
aplicados em níveis acima do forame magno. 
 
 A Escala de Coma de Glasgow-Liege = 3, ou seja: não abre os olhos 
nem apresenta resposta verbal, mesmo aos estímulos dolorosos intensos, nem apresenta 
resposta motora, a não ser através dos reflexos medulares; não apresenta nenhuma resposta 
integrada no tronco encefálico. O paciente não apresenta reflexo corneano, de vômito, faríngeo, 
ou de resposta reflexa à estimulação brônquica por cateter de aspiração introduzido até a 
traqueia; a função do nervo vago também pode ser testada mediante observação de frequência 
cardíaca após a aplicação de uma injeção endovenosa de 0,04 mg/kg de sulfato de atropina; a 
inatividade do núcleo dorsal do vago é inferida, caso não se observe alteração alguma da 
frequência que, no indivíduo sadio, causaria uma bradicardia. 
 
 Positividade ao teste da apneia: o teste da apneia deve ser efetuado 
após todos os reflexos dos nervos cranianos terem sido verificados e estavam ausentes, pois os 
valores elevados de PaCO2 podem aumentar a pressão intracraniana, comprometendo uma 
função encefálica residual. Quando o paciente é desconectado do respirador por tempo 
suficiente para que a tensão arterial de dióxido de carbono se eleve acima do limiar de 
estimulação respiratória, não devem ocorrer movimentos respiratórios; uma oxigenação 
adequada deve ser mantida durante o teste se o paciente for ventilado em 100% de 02 por cinco 
minutos, antes da realização do mesmo, e um fluxo de 2 de 4 a 6 l/mm for distribuído através do 
tubo endotraqueal, enquanto o ventilador estiver desligado. Isto é particularmente importante nos 
doadores de órgãos. 
 
2. Exames Laboratoriais 
 
 
34 
 
Embora na opinião da maioria dos autores a ME possa ser diagnosticada unicamente 
através de critérios clínicos, recomenda-se a confirmação dos achados clínicos por um exame 
complementar que evidencie a ausência de fluxo sanguíneo e/ou de eletrogênese encefálicos. 
Tais exames podem ser: 
 
 Angiografia cerebral; 
 Mapeamento cerebral por radionuclídeo, que consiste na injeção 
endovenosa de 99mTc, que passa através da circulação cervical para dentro do crânio; 
a ausência de circulação intracraniana é confirmatória de ME; 
 Eletroencefalograma (EEG), que é o exame mais prático e o mais 
difundido; 
 Estudo dos potenciais evocados do tronco encefálico. 
 
Princípios a Serem Observados no Diagnóstico de Morte Encefálica 
 
Quanto à realização dos testes devem estar presentes 2 médicos no mínimo, sendo 
um deles necessariamente especialista em Neurologia. É proibida a participação dos médicos 
integrantes da equipe especializada em captação de órgãos e transplante em qualquer etapa do 
diagnóstico de ME. 
 
Período de observação 
 
Se no final da avaliação há evidências de ME, deve-se aguardar um período mínimo de 
observação para uma segunda avaliação (exame clínico e, se necessário, complementar) para 
se fazer o atestado, de acordo com as seguintes faixas etárias: 
 
 
 
 
35 
 
 De 7 dias a 2 meses incompletos - 48 horas; 
 De 2 meses a 1 ano incompleto - 24 horas; 
 De 1 ano a 2 anos incompletos - 12 horas; 
 Acima de 2 anos - 06 horas. 
 
Os exames complementares a serem observados para constatação de ME deverão 
demonstrar, de forma inequívoca: 
 
 Ausência de atividade elétrica cerebral ou, 
 Ausência de atividade metabólica cerebral ou 
 Ausência de perfusão sanguínea cerebral. 
 
O atestado também deve ser feito por dois médicos capacitados e que não estejam 
envolvidos em equipes de transplantes. A terapia contínua após a expedição de um atestado de 
ME só se justifica na preservação de órgãos para transplantes ou quando se tratar de uma 
paciente grávida com um feto viável. O atestado de ME equivale a um atestado de óbito e a data 
documentada por esse atestado é considerada a data do óbito a ser usada para todos os 
procedimentos médicos e legais. 
 
 Assistência de Enfermagem ao Potencial Doador Falecido 
 
O reconhecimento e a manutenção dos potenciais doadores estão entre os grandes 
desafios enfrentados pelas equipes que atuam em terapia intensiva. Neles estão implicadas 
questões de cunho ético e legal, questões afetivas que envolvem a família e a equipe numa 
situação extremamente delicada e desgastante e ainda questões técnicas relativas à adequada 
condução desses potenciais doadores, vivos ou falecidos. 
Em caso de doadores em morte encefálica, os doadores chamados falecidos, o 
objetivo da assistência de enfermagem é minimizar a perda de órgãos transplantáveisdecorrente 
 
 
36 
 
da parada cardíaca e morte, da instabilidade hemodinâmica, de infecções nosocomiais ou 
complicações relacionadas com a terapia intensiva. 
Inicialmente o potencial doador é extensivamente avaliado do ponto de vista clínico e 
laboratorial bem como em relação à determinação do grupo sanguíneo, peso, altura, idade, 
doença de base e história clínica pregressa, informações indispensáveis inclusive para as 
equipes de captação de órgãos. 
Após a constatação da morte encefálica (através de exames clínicos e 
complementares, já anteriormente discutidos) e obtido consentimento para doação, o objetivo do 
tratamento passa a ser direcionado para a preservação da função dos órgãos e a otimização da 
oferta de oxigênio para os tecidos. Nesta fase, novos exames possibilitarão a detecção de 
condições que eventualmente possam contraindicar a doação. 
A manutenção da estabilidade hemodinâmica do doador na UTI é fundamental, uma 
vez que o sucesso do transplante é também baseado primariamente na recuperação segura de 
enxertos de alta qualidade. Rigorosas medidas de suporte ao doador devem ser instituídas com 
a finalidade de favorecer adequada perfusão dos tecidos até a retirada dos órgãos. As alterações 
fisiopatológicas que acompanham o quadro de morte encefálica isoladamente ou em associação 
a lesões induzidas pelo fator etiológico deste evento são expressas nas inúmeras complicações 
detectadas no doador. Assim, na abordagem deste paciente, avaliações e intervenções 
dinâmicas da enfermagem devem estar direcionadas para estas manifestações. 
As principais medidas de avaliação e intervenção de enfermagem dirigidas ao doador 
falecido são apresentadas no quadro a seguir. 
 
 
37 
 
INTERVENÇÃO DE ENFERMAGEM JUSTIFICATIVA 
Realizar mudanças de decúbito a intervalos 
regulares 
Prevenção de úlceras de pressão e 
atelectasias. 
* A restrição relativa a este cuidado se aplica 
às situações de extrema labilidade 
hemodinâmica do doador. 
Instalar sonda gástrica Favorecer a descompressão gástrica e 
prevenir aspirações. 
Instalar cateter vesical de demora A mensuração e a monitoração do débito 
urinário horário permitem a avaliação da 
função renal. Um débito urinário entre 1-2 
ml/kg/h refletem adequada perfusão renal. 
Obtenção de acesso venoso central Possibilita a monitorização da PVC, 
indispensável como um guia para a adequada 
reposição volêmica. Os valores da PVC devem 
ser mantidos entre 8 a 10 mmHg. 
Obtenção de acesso arterial Permite a monitorização da Pressão Arterial 
Média (PAM) e coleta de amostras sanguíneas. 
Obtenção de outros acessos venosos Além do acesso venoso central, é desejável a 
presença de pelo menos um acesso venoso 
periférico, para reposição volêmica, 
administração de drogas vasoativas, 
hemoderivadas e medicamentos, evitando 
inclusive a administração simultânea de 
soluções incompatíveis. 
Monitorização eletrocardiográfica Indispensável na detecção e no diagnóstico de 
arritmias cardíacas. As alterações do ritmo 
cardíaco na ME podem ser atribuídas a 
 
 
38 
múltiplos fatores: distúrbios eletrolíticos, 
hipovolemia, hipotensão, hipotermia e 
hipoxemia entre outros. 
* Na parada cardíaca, ocorrência presente em 
aproximadamente 25% dos doadores em ME, 
estão indicadas as manobras avançadas de 
reanimacão. Deve ser reforçada para toda a 
equipe a importância do diagnóstico precoce 
da condição de parada cardíaca e a instituição 
imediata da ventilação e das compressões 
torácicas, com o intuito de manter os órgãos 
perfundidos e prevenir os efeitos adversos da 
acidose. 
Monitorização e avaliação de parâmetros vitais 
e hemodinâmicos a intervalos regulares. 
Pulso, saturação de oxigênio, PA, PVC, PAP e 
PCP. A manutenção de uma PA sistólica entre 
100-120 mmHg é considerado suficiente para 
manter a adequada perfusão dos tecidos. 
Reposição rigorosa das perdas volêmicas. Manter a PVC no nível considerado ideal. Na 
persistência da hipotensão, drogas vasoativas 
estão indicadas e sua administração deverá 
ser rigorosamente controlada, seus efeitos 
detectados e comunicados. 
Detecção de alterações sugestivas de diabetes 
insipidus 
Esta condição patológica, presente em 
aproximadamente 80% dos pacientes em ME, 
exibe sinais clínicos que devem ser 
prontamente detectados e comunicados: 
poliúria, baixa densidade urinária. A reposição 
do débito urinário horário e a correção dos 
distúrbios metabólicos e eletrolíticos são 
habitualmente necessárias. 
Pesquisa da glicosúria e da glicemia capilar a Auxilia na detecção rápida da hiperglicemia e 
 
 
39 
intervalos regulares seu controle é fundamental na prevenção da 
cetoacidose e diurese osmótica, situações que 
podem dificultar o manuseio dos doadores. 
Manutenção da oxigenação e da ventilação Promover adequada oxigenação de todos os 
órgãos. A intubação traqueal e a ventilação 
mecânica favorecem adequada ventilação 
alveolar e facilitam a higiene broncopulmonar, 
possibilitando uma efetiva troca gasosa. Os 
cuidados respiratórios devem estar cercados 
das medidas usuais de assepsia. A Pressão 
Positiva Expiratória (PEEP) é útil para 
promover a re-expansão de unidades 
alveolares colapsadas e na prevenção de 
microatelectasias. Outros parâmetros 
ventilatórios devem ser objeto de avaliação e 
vigilância constante pela equipe de 
Enfermagem. 
Manutenção da temperatura corporal A mensuração a intervalos regulares da 
temperatura corporal (axilar, via sensores de 
temperatura esofágicos, retais ou através do 
cateter de Swan-Ganz) deve ser realizada 
como cuidado de enfermagem de rotina nos 
potenciais doadores. É desejável a 
manutenção da temperatura corporal acima de 
35 graus, sendo inclusive este limite inferior de 
temperatura uma das condições exigidas para 
realização dos exames neurológicos para o 
diagnóstico de morte encefálica. 
* Os efeitos deletérios da hipotermia como 
exacerbação da acidose metabólica, 
depressão miocárdica, aumento do consumo 
de oxigênio, disfunção renal, indução de 
 
 
40 
arritmias, coagulopatias, devem ser evitados 
pelas consequências indesejáveis na 
preservação dos órgãos do doador. Medidas 
de aquecimento artificiais devem ser 
empregadas: colchão térmico, aquecimento 
dos gases inspirados e aquecimento das 
soluções parenterais. 
Detecção precoce de distúrbios de coagulação 
e sangramento 
Reposição imediata de hemoderivados, 
quando necessário. 
Manutenção de medidas de assepsia Evita a exposição do doador a infecções 
nosocomiais. Procedimentos invasivos devem 
ser realizados sob condições de rigorosa 
assepsia. Vigilância e cuidados meticulosos em 
relação aos cateteres vasculares e arteriais, 
sonda vesical de demora e linhas de 
monitorização devem ser reforçados. Cateteres 
e sondas inseridos em situações de 
emergência devem ser substituídos em 
condições adequadas e eletivas. 
Aplicar colírio em região ocular regularmente e 
ocluir olhos com gaze 
Evitar ressecamento das córneas e formação 
de úlceras. 
 
 
Para a cirurgia de extração dos órgãos, o doador é transportado e recebido no Centro 
Cirúrgico pela equipe de Enfermagem, encaminhado para a sala de operações e transferido da 
maca para a mesa cirúrgica. É então colocado em decúbito dorsal, evitando movimentos 
bruscos, pois podem comprometer os órgãos a serem doados. O anestesista verifica as vias de 
acesso venoso do paciente, instala a monitorização eletrocardiográfica do paciente, bem como a 
de determinação da saturação de oxigênio no sangue. É importante que o paciente esteja com 
sonda vesical de demora instalada, para coleta de material para urocultura, avaliação do débito 
urinário e verificação da função renal. 
 
 
41 
 
Na sala de operações, uma grande mesa é montada com os instrumentos cirúrgicos. 
Em seguida, é realizada a antissepsia das regiões torácica, abdominal e inguinais direita e 
esquerda, utilizandosoluções de PVPI degermante e logo após PVPI tópico ou clorexidina. 
Inicia-se o ato cirúrgico com incisão longitudinal, que vai do manúbrio esternal à sínfise pubiana, 
e faz-se primeiro a retirada do coração, seguido por fígado, rins e córneas. Efetuada a remoção, 
o corpo do doador deverá ser condignamente recomposto, de modo a recuperar, tanto quanto 
possível, sua aparência anterior, com cobertura das regiões com ausência de pele e enchimento, 
com material adequado, das cavidades resultantes da ablação. 
 
 
 5.2 A família do doador de órgãos 
 
 
O panorama da captação de órgãos para transplantes, apesar das grandes diferenças 
culturais e econômicas pelo mundo, mostra aspectos semelhantes nas mais diversas regiões. 
Existem algumas questões que se mostram “universais” nos estudos a respeito, em relação ao 
comportamento das populações à doação de órgãos: a negativa da família em consentir na 
doação de órgão é citada como o principal entrave na efetivação de transplantes de órgãos; os 
comportamentos dos familiares estão condicionados a questões culturais e psicológicas; há a 
tendência de os familiares consentirem na doação desde que estejam orientados a respeito do 
conceito de morte encefálica e da finalidade humanística de doar; o sucesso na captação de 
órgãos depende das habilidades comunicativas dos profissionais de saúde ao relacionarem-se 
com os familiares de doadores. 
Estudos mostram que os familiares certamente desempenham um papel de suma 
importância no processo de doação. A família emerge como um elemento central nesse 
processo; de um lado, ela é vista como o principal obstáculo à efetivação de transplantes, mas, 
de outro, ela é percebida também como vítima em todo o processo, se considerarmos a dor da 
perda brusca e traumática e, somando-se a isso, o grande estresse que representa a decisão de 
doar os órgãos em meio a esta turbulência. 
 
 
42 
 
Diante disso, é importante conhecermos a experiência do familiar do doador de órgãos, 
para que se possa identificar eventuais falhas da nossa assistência, para então pensarmos em 
novas formas de abordar os familiares diante dessa difícil decisão. É preciso que haja 
comunicação e interação com esses familiares, como parte integrante da assistência de 
Enfermagem. Muito mais do que apenas informar sobre o estado do doador, ou sobre o 
processo de doação de órgãos, é essencial que os profissionais de saúde, especialmente os da 
enfermagem, estejam disponíveis e abertos para perceber as necessidades dos familiares. 
Não apenas informá-los sobre a condição real do doador, mas ajudá-los a 
compreender a realidade como ela se apresenta. Esse processo tem algumas etapas: perceber 
os momentos que a família vivencia, as ansiedades e inseguranças, e atuar passo a passo, 
ajudando a inteirar-se do que acontece. Muitas famílias se queixam do abandono que sentem 
logo após consentirem a doação, como se todo o suporte e atenção de que dispunham antes da 
doação não fossem mais vistos como necessários pela equipe de saúde. É preciso que 
estejamos atentos a isso a fim de fornecer toda a assistência indispensável, em todas as etapas 
do processo. 
Algumas orientações, encontradas em estudos de renomados autores da área, são 
importantes: não forçar nada, dar tempo para que os familiares percebam e aceitem a morte do 
seu familiar. Apenas depois lidar com a questão do diagnóstico de morte encefálica. O pedido de 
doação deverá ser posterior, e desvinculado das informações a respeito do estado do doador. E 
então é o momento de estabelecer diálogo com a família para que esta tenha espaço e tempo, 
mesmo diante da urgência do tempo no processo da captação de órgãos, para que possa 
decidir-se por si e conscientemente se aceita ou não a doação. Nesse processo, cabe ao 
profissional informar, apoiar, esclarecer, acompanhar, estar próximo e, principalmente, 
disponível, não apenas antes, mas também depois da doação, e pelo tempo que se fizer 
necessário. 
Não se pode esquecer que, diante da morte traumática e inesperada de um ente 
querido, a família terá que passar pela angústia, negação da realidade, dor da perda, por 
conflitos pessoais e pela insegurança para decidir-se, e após a decisão. É possível, porém, 
estimulá-la, em todo este processo, a expressar-se permitindo-se ser ajudada; e estimulá-la a 
escolher livremente, como uma possibilidade para transcender o sofrimento e acreditar em 
 
 
43 
 
perspectivas para além daquele momento. É importantíssimo que a família não se sinta de forma 
alguma coagida ou pressionada a optar pela doação. 
 
Aspectos Gerais dos Transplantes 
 
Antes de prosseguirmos no curso, falando sobre as diversas modalidades de 
transplantes e suas indicações, vamos abordar os aspectos gerais do tema. Independente da 
modalidade realizada, o paciente transplantado é especialmente exposto a dois riscos: o de 
rejeição e o da infecção. A rejeição é combatida pelo uso contínuo dos chamados medicamentos 
imunossupressores, que podem, por sua vez, desencadear o surgimento de infecções, devido à 
queda de resistência do organismo a fatores patogênicos. 
Por serem características gerais das diversas modalidades, trataremos sobre elas de 
forma geral, para que depois possamos prosseguir abordando cada modalidade separadamente. 
O objetivo desta parte do módulo é apresentar os aspectos principais da imunologia e rejeição 
no paciente transplantado, bem como os cuidados com os medicamentos imunossupressores e 
as infecções no paciente transplantado. 
 
 
5.3 Imunologia em Transplantes 
 
 
A imunologia de transplantes estuda a compatibilidade imunogenética entre doadores-
receptores ao transplante de órgãos ou de tecidos. O complexo maior de histocompatibilidade 
(MHC), denominado no homem de Sistema HLA (Human Leukocyte Antigen) está envolvido nos 
mecanismos de reconhecimento celular, visando proteger o organismo de agressões externas e 
da regulação da resposta imunológica. A rejeição é a expressão de complicados mecanismos da 
 
 
44 
 
resposta imunológica envolvendo, na maioria das vezes, os antígenos HLA do órgão 
transplantado. 
A resposta imunológica acontece pela intervenção dos elementos de defesa, com o 
envolvimento de anticorpos, de numerosos mecanismos de regulação e de fatores 
amplificadores celulares. A semelhança genética entre doador e receptor contribuirá para o 
sucesso e a sobrevida do órgão transplantado. Pode-se dizer que os transplantes de órgãos ou 
tecidos são classificados em: 
 
 A: autotransplante: transplante de órgãos, tecidos ou células do mesmo 
indivíduo; 
 B: isotransplante: transplante entre indivíduos de mesma constituição 
genética (gemelares); 
 C: alotransplante: transplantes feitos com órgãos de indivíduos da 
mesma espécie (são os mais comuns); 
 D: xenotransplante: entre indivíduos de espécies diferentes (ainda em 
caráter experimental). 
PORCO
IRMÃO 
GÊMEO
IRMÃO
MACACO IRMÃO 
GÊMEO
D
D
A
C
B
 
A rejeição de transplantes contribuiu enormemente para a imunologia, pois através de 
seus estudos foi possível a identificação dos antígenos de histocompatibilidade e uma melhor 
compreensão da fisiologia das células T, as principais responsáveis pela rejeição. O transplante 
de órgãos é atualmente aceito como uma opção terapêutica efetiva para doenças crônicas 
terminais e seu objetivo principal é o sucesso sem a ocorrência de rejeição. A prevenção da 
 
 
45 
 
rejeição pode ser feita através de testes prévios comparando os antígenos de 
histocompatibilidade do doador com os do receptor (“provas de reação cruzada”), através da 
terapia imunossupressora ou ambos. 
A rejeição do órgão transplantado (enxerto) ocorre quando o receptor reconhece o 
tecido enxertado como estranho. Esse reconhecimento se faz através dos antígenos 
pertencentes ao sistema de histocompatibilidade principal, designados no homem como 
antígenos leucocitários humanos(HLA), presentes nas células do enxerto. A reação é muito 
complexa e envolve a imunidade celular e anticorpos circulantes. A participação desses dois 
mecanismos varia entre os enxertos, podendo participar um ou outro mecanismo, às vezes os 
dois. Estudos em humanos e em animais de experimentação demonstraram que as células T 
são as grandes responsáveis pelas reações de rejeição de transplantes. 
 
Tipos de rejeição 
 
Segundo os aspectos morfológicos e os mecanismos envolvidos, as rejeições são 
classificadas em: hiperaguda, aguda e crônica. 
 
TIPO TEMPO MECANISMO 
Hiperaguda Minutos a algumas horas Anticorpos pré-formados 
Aguda celular Dias a semanas Ativação de células T 
Aguda humoral Dias a semanas Anticorpos 
Crônica Meses a anos Ativação de células T e 
anticorpos 
 
Rejeição Hiperaguda 
 
 
46 
 
Mediada por anticorpos, ocorre minutos a poucas horas após o transplante em 
pessoas previamente sensibilizadas. A sensibilização prévia ocorre após transfusões 
sanguíneas, gestações múltiplas ou transplantes anteriores. Um dos exemplos mais dramáticos 
é verificado quando órgãos, geralmente rins ou coração, de doadores de grupos sanguíneos A e 
B são transplantados para receptores do grupo O, que normalmente possuem isoemaglutininas 
pré-formadas contra os antígenos A e B. 
As lesões básicas na rejeição hiperaguda são arterite e arteriolite agudas 
disseminadas, trombose vascular e necrose isquêmica. Com a prática das provas de reação 
cruzada, que detectam a presença de anticorpos do receptor contra os linfócitos do doador, a 
rejeição hiperaguda pode ser evitada. 
 
Rejeição aguda 
 
Ocorre dentro de alguns dias em receptores não tratados com imunossupressores ou, 
então, meses a anos após a interrupção da imunoterapia. Nesse tipo de rejeição, pode haver 
participação tanto da imunidade celular (rejeição aguda celular), como da humoral (rejeição 
aguda humoral), predominando um ou outro mecanismo. A rejeição aguda celular ocorre nos 
primeiros meses pós-transplante, com início súbito e é detectada pela deterioração clínica das 
funções do órgão. É muito importante o diagnóstico de rejeição celular, pois ela responde 
prontamente à terapia imunossupressora. 
A rejeição aguda humoral ou vascular (vasculite) ocorre geralmente nos primeiros 
meses pós-transplante ou tardiamente, quando a terapia imunossupressora é descontinuada. 
Em quase todos os pacientes há também evidências de rejeição aguda celular. 
 
Rejeição crônica 
 
 
 
 
47 
 
Usualmente evolui de forma insidiosa e não é passível de reversão com a terapêutica 
instituída. Esse tipo “crônico” pode surgir dentro de poucas semanas após o transplante, e é 
mais bem observado nos transplantes renais. Por se tratar de um processo inespecífico, é difícil 
identificar os mecanismos patogenéticos que levam a ela. 
 
 
5.4 Imunossupressão 
 
 
Concomitantemente aos transplantes, e servindo de base para seu desenvolvimento, 
conforme vimos anteriormente, surgiu a moderna imunossupressão. Com a introdução da 
ciclosporina, inaugurou-se um novo e moderno estágio da terapia imunossupressora, 
caracterizado por maior seletividade e menor incidência de efeitos colaterais. Os benefícios das 
drogas imunossupressoras são: diminuição das chances de rejeição aguda do transplante, bem 
como das chances de rejeição crônica, e aumento da sobrevida do órgão (enxerto) 
transplantado. 
A imunossupressão tem evoluído da estratégia de citotoxicidade, com alta morbidade, 
para estratégias que procuram alterar a regulação da resposta imune, a fim de reduzir 
seletivamente as respostas contrárias ao órgão transplantado, almejando o estado ideal, que é a 
tolerância imunológica. Nos últimos anos várias drogas imunossupressoras, com função 
imunomoduladora conhecida, têm sido introduzidas na clínica ou nas pesquisas experimentais, e 
este fato tem permitido uma ampla variação nos esquemas de imunossupressão. 
A seguir, apresentamos os principais medicamentos imunossupressores utilizados 
atualmente. 
 
- Prednisona: corticosteroide usado como imunossupressor e também como reversor 
de rejeição estabelecida. Diminui a produção de anticorpos e inibe a formação do complexo 
 
 
48 
 
antígeno-anticorpo; deprime a maturação das células T. A principal vantagem deste em relação 
aos outros imunossupressores consiste no fato de que este não é tóxico ao órgão. Efeitos 
colaterais: aumento de peso, aumento do apetite, retenção de líquidos (edema), hipertensão 
arterial, acne, alteração de humor, insônia, alterações do nível de açúcar no sangue. 
- Ciclosporina: é um importante imunossupressor, inibe a produção e a liberação das 
linfocinas (fator de crescimento das células T); a dose é calculada por peso; nível da droga é 
dosado no sangue (coleta em jejum); efeitos colaterais: tremores, hipertensão, hirsutismo, 
cansaço, hipercalemia, náuseas e vômitos, desconforto gástrico, nefrotoxicidade. 
- Micofenolato Mofetil: imunossupressor que atua inibindo a proliferação de linfócitos; a 
dosagem varia de acordo com o órgão transplantado. Efeitos colaterais: diarreia, náuseas e 
vômitos, anemia, leucopenia, neutropenia, dor abdominal, gastrites, hipertensão, tonturas e 
vertigens, distúrbios do sono. 
- FK506: age na inativação das células T; dose calculada de acordo com o peso; nível 
da droga é dosado no sangue, em jejum e 1h antes da próxima dose; quando usado, substitui a 
ciclosporina. Efeitos colaterais: diarreia, náuseas e vômitos. 
- Azatioprina: age interferindo na multiplicação de células T; usado em combinação 
com outros imunossupressores. Efeitos colaterais: dores articulares, alopecia, etc. 
 
Cuidados de Enfermagem na Imunossupressão: 
 
Cuidados durante a administração: 
 
 Administrar os imunossupressores sempre no mesmo horário, de acordo 
com a prescrição médica; 
 Verificar a necessidade de coleta de exames antes da administração 
dos medicamentos ou duas horas após a administração, conforme protocolo hospitalar (Ex: 
coleta de dosagem de imunossupressor sérica); 
 
 
49 
 
 Verificar se existe a necessidade de material especial para a 
administração do imunossupressor. (Ex: ciclosporina líquida em copo de vidro); 
 Verificar aprendizagem e aderência do paciente e/ou cuidador em 
relação às medicações. 
 
Monitorização dos efeitos colaterais: 
 
 Avaliar volume de diurese, devido ao efeito nefrotóxico; 
 Observar episódios de convulsão/ tonturas e vertigens, associado 
frequentemente à dose de imunossupressor; 
 Observar e avaliar alterações no padrão de sono, pois o paciente pode 
apresentar insônia; 
 Observar alterações de comportamento do paciente; 
 Observar episódios de cefaleia; 
 Observar queda de cabelo, hipertricose, hipertrofia gengival, tremores 
de extremidades; 
 Avaliar hábito intestinal, pois podem ocorrer episódios de diarreia; 
 Observar episódios de náuseas, vômitos, flatulência; 
 Investigar aceitação alimentar; 
 Observar queixa de dor abdominal, que pode estar relacionado com a 
ocorrência de gastrite; 
 Observar episódios de hipertensão ou hipotensão: dependendo do 
imunossupressor utilizado – principalmente OKT3 e ATG; 
 Observar episódios de taquicardia; 
 Observar episódios de febre: principalmente durante imunossupressão 
com OKT3 e ATG, além poder indicar presença de infecção (decorrente da imunossupressão); 
 Observar presença de flebite em local de administração de ATG; 
 Avaliar glicemia capilar, devido ao efeito hiperglicemiante das drogas 
imunossupressoras; 
 Observar sinais e sintomas de hiperglicemia. 
 
 
 
50 
 
5.5 Infecções no Paciente Transplantado 
 
 
Apesar de todos os avanços na prática médica na ciência dos transplantes, a rejeição 
do enxerto e as infecções persistem como problemas críticos entre os transplantados. A grande 
maioria dos receptores de transplantes (70 a 80%) apresenta pelo menos um episódio de 
infecção no pós-transplante.

Continue navegando