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Morte Encefálica

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BRASÍLIA 
FACULDADE DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO E SAÚDE 
GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM 
 
 
 
 
 
 
 
MORTE ENCEFÁLICA E TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS 
 
 
 
 
 
 
Alunos: Amanda Fernandes, Beatriz 
Pereira, Igor dos Santos e Marianne Lins. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BRASÍLIA 
2020 
 
 
 
SUMÁRIO 
INTRODUÇÃO…………………………………………………………………….......3 
DESENVOLVIMENTO…………………………………………………………..…….
5 
 1.1 MORTE ENCEFÁLICA​……………………………………………………... 5 
1.2 Diagnóstico de ME …………………………………………………………….. 6 
1.2.1 Autorização familiar​ ………………………………………………………..13 
1.3 Alterações fisiológicas no potencial doador……………………………...14 
1.4 Manutenção do potencial doador …………………………………………..19 
1.5 Logística para captação e distribuição…………………………………….22 
1.6 Extração e manutenção dos órgãos……………………………………….23 
1.7 Alocação ………………………………………………………………………...34 
1.8 Transplantes de órgãos 
……………………………………………………....34 
1.9 Acompanhamento ……………………………………………………………..41 
2. Aspectos éticos e legais ……………………………………………………….41 
3. Caso clínico …………………………………………………………………….. 45 
CONCLUSÃO………………………………………………………………………...50 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS……..…………......................................... 51 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
A morte encefálica (ME) se define como a perda completa e 
irreversível de todas as funções do encéfalo incluindo o tronco encefálico, ou 
seja, representa a morte clínica do paciente. Devido a uma severa lesão cerebral 
a circulação corporal que supre o cérebro é bloqueada e o tecido cerebral morre. 
O cliente apresenta sinais vitais como frequência cardíaca e pressão arterial, no 
entanto, esses são mantidos de forma mecânica e não de forma fisiológica, pois, 
a função cerebral cessou (BRUNNER, STUDDARTH, 2015). 
Algumas condições como o acidente vascular encefálico (AVE), o 
trauma cranioencefálico, os tumores e infecções do sistema nervoso central e a 
encefalopatia anóxica pós parada cardíaca, podem causar a cessação da 
circulação cerebral, logo, a morte encefálica (SOUZA et al, 2015). 
No coma, ou estado vegetativo persistente há recuperação neurológica 
em menor ou maior grau. Sendo assim, é de extrema importância a 
diferenciação desses quadros para a morte encefálica pois no coma o indivíduo 
está vivo e pode respirar quando o ventilador é removido e/ou ter atividade 
cerebral e fluxo sanguíneo no cérebro, já na ME não (GARCIA, ​et al​, 2017). 
Para se ter certeza da irreversibilidade da doença, a causa de ME 
precisa ser conhecida e bem documentada por exame de imagem ou exames 
laboratoriais pois caso não tenha uma gravidade compatível com os achados 
clínicos ou o quadro neurológico for de origem desconhecida, não se deve seguir 
o protocolo de diagnóstico de ME (GARCIA, ​et al​, 2017). 
Os três principais sinais de morte encefálica no exame clínico são o 
coma, a ausência de reflexos do tronco encefálico e a apneia persistente, e para 
a obtenção do diagnóstico conclusivo é necessário um exame clínico, juntamente 
com exames complementares de imagens. Somente após a realização do 
protocolo de ME completo é que a equipe responsável poderá fornecer 
informações adequadas às famílias sobre o óbito e assinar o atestado de óbito. 
(BRUNNER, STUDDARTH, 2015; GOMES ​et al, 2020​). 
Se o paciente for um potencial doador de órgãos, os cuidados 
de manutenção devem permanecer até a entrevista familiar, e se for doador 
efetivo, até a retirada dos órgãos, caso o paciente tenha sido avaliado pela 
3 
 
 
Central Estadual de Transplantes e haja alguma contraindicação para doação, o 
suporte avançado de vida é suspenso (GOMES ​et al, 2020​). 
Logo após o diagnóstico da morte encefálica, deve-se notificar a 
Central de Transplantes, porém a decisão da doação de órgãos é da família, 
sendo cônjuge, parentes de primeiro ou segundo grau na presença de duas 
testemunhas. É de fundamental importância oferecer as informações 
necessárias e o devido suporte para que a família possa colaborar com o 
processo de doação e transplante se essa for a sua vontade (GARCIA, ​et al​, 
2017). 
O transplante e a doação de órgãos são medidas que visam manter a 
vida de um grande número de pessoas. Trata-se de uma modalidade terapêutica 
para aqueles que são portadores de doenças com prognóstico de falência de um 
determinado órgão e possivelmente virão à óbito. No entanto, aos que sofrerem 
morte encefálica podem evoluir para o status de possível doador de órgão (DE 
FARIA LIMA, 2012). 
No Brasil, para que ocorra o processo de doação de órgãos de um 
indivíduo diagnosticado com ME, é preciso da autorização da família, além disso, 
é de extrema importância o treinamento da equipe quanto ao esclarecimento e o 
acompanhamento dos familiares. Estudos mostram que a falta de esclarecimento 
à família contribui para o número alto de recusas para doação de um potencial 
doador (MORAES, 2014). 
Dessa forma, vê-se que os enfermeiros da unidade de terapia 
intensiva apresentam um papel importante na manutenção das funções vitais do 
potencial doador, nas relações com a família de pacientes em morte encefálica e 
em todo o processo de doação e transplante​. Logo, para que isso ocorra de 
maneira efetiva, é preciso um conhecimento científico e técnico a respeito de 
todos os aspectos da morte encefálica e da doação de órgãos, a fim de obter 
melhor qualidade no atendimento (COSTA, COSTA, 2016). 
 
 
 
 
 
4 
 
 
1. MORTE ENCEFÁLICA 
A morte encefálica (ME) é definida como a completa e irreversível 
perda das funções cerebrais e do tronco encefálico. Trata-se da morte do 
indivíduo, e, em função disso, torna-se de extrema importância diferenciá-la do 
coma, ou estado vegetativo persistente, no qual pode haver recuperação 
neurológica em menor ou maior grau, o que definitivamente não ocorre na ME 
(GARCIA, ​et al​, 2017). 
Ao contrário da morte encefálica, no estado vegetativo persistente 
pode haver um estado mínimo de consciência. Além disso, há atividade completa 
ou parcial do tronco cerebral, manutenção da respiração e circulação de forma, 
atividade completa ou parcial das funções do hipotálamo e ciclos de sono-vigília 
(GARCIA, ​et al​, 2017). 
Dessa forma, a morte encefálica é caracterizada pela inconsciência, 
ausência de atividade do tronco cerebral, não há manutenção da respiração e 
circulação de forma autônoma, há perda parcial das funções do hipotálamo e 
não há ciclos de sono-vigília (GARCIA, ​et al​, 2017). 
As principais causas da morte encefálica são: traumatismo crânio 
encefálico (TCE), acidente vascular encefálico (AVE), encefalopatia anóxica 
pós-parada cardíaca, tumores e infecções do SNC. Essas doenças podem atuar 
de várias formas na gênese da ME, seja através do aumento da pressão 
intracraniana, da perda significativa de massa encefálica e/ou da interrupção do 
fluxo sanguíneo encefálico (GARCIA, ​et al​, 2017). 
Contudo, vê-se que é imprescindível que a causa da ME seja 
conhecida e bem documentada por exame de imagem ou exames laboratoriais, 
pois somente desse modo é possível garantir a irreversibilidade da doença. Ao 
tratar-se de um quadro neurológico de origem não identificada, ou de gravidade 
não compatível com os achados clínicos, o protocolo paradiagnóstico de ME 
não deve ser iniciado (GARCIA, ​et al​, 2017). 
 
 
 
 
 
5 
 
 
 
1.2 Diagnóstico de morte encefálica 
 
A resolução 2.173 de 2017 do Conselho Federal de Medicina explana 
a metodologia de diagnóstico de ME, que será descrita abaixo. Muitos exames e 
um tempo adequado de observação do paciente são necessários, pois, o 
diagnóstico da ME precisa ter 100% especificidade e jamais pode haver um falso 
diagnóstico. 
Inicialmente, na suspeita de ME a família é comunicada e a equipe de 
saúde capacita e explica os processos de determinação e constatação da ME. 
Enquanto o processo acontece, os familiares são atualizados com novas 
informações a cada nova etapa. Além disso, a Central Estadual de Transplantes 
precisa ser notificada que a determinação de ME foi iniciada (WESTPHAL et al, 
2019). 
O processo de determinação da ME iniciará quando houver coma não 
perceptivo (profundo), a ausência de reflexos do tronco encefálico/supraespinhal 
e apneia persistente. A escala de Glasgow deve marcar 3 pontos. O paciente 
considerado em ME deve apresentar alguns pré-requisitos clínicos: 
primeiramente, a presença definida de uma lesão encefálica de causa 
conhecida, irreversível e capaz de causar morte encefálica; além disso, 
ausência de fatores tratáveis; deve estar em tratamento e observação em 
hospital pelo período mínimo de seis horas, exceto quando a causa da 
lesão for encefalopatia hipóxico-isquêmica, assim o período de tratamento e 
observação deverá ser de, no mínimo, 24 horas; sinais vitais apresentando 
temperatura corporal, avaliada pelas vias esofagiana, vesical ou retal, superior a 
35°C, saturação arterial de oxigênio acima de 94% e pressão arterial sistólica 
(PAS) maior ou igual a 100 mmHg ou pressão arterial média (PAM) maior ou 
igual a 65 mmHg para adultos. Para crianças, há uma variação na pressão 
arterial quanto a idade, sendo, até 5 meses incompletos PAS 60 e PAM 43, de 5 
meses a 2 anos incompletos PAS 80 e PAM 60, se 2 anos a 7 anos incompletos 
PAS 85 e PAM 62, de 7 a 15 anos PAS 90 e PAM 65 (CFM, 2017). 
A avaliação clínica deve revelar, sem dúvidas, a existência do coma 
profundo e ausência total de reatividade supraespinhal manifestada pela 
6 
 
 
ausência dos reflexos fotomotor, córneo-palpebral, oculocefálico, 
vestíbulo-calórico e de tosse. Se houver alterações morfológicas ou orgânicas, 
congênitas ou adquiridas, que impossibilitam a avaliação bilateral dos 
reflexos, será possível realizar o exame em um dos lados, e, assim que 
constatada ausência de reflexos do lado sem alterações morfológicas, orgânicas, 
congênitas ou adquiridas, continuará o processo das demais etapas para 
determinação de morte encefálica. Dois exames clínicos precisam ser feitos no 
processo de diagnóstico de ME, feitos por médicos diferentes capacitado para 
realizá-lo, não necessariamente sendo especialista em neurologia, porém, um 
dos profissionais preferencialmente deve ser especialista em medicina intensiva, 
medicina intensiva pediátrica, neurologia, neurologia pediátrica, neurocirurgia 
ou medicina de emergência. O exame clínico estabelece o diagnóstico de ME 
e exames complementares de neuroimagem confirmam a condição. O segundo 
exame clínico, feito por outro médico, deve ter intervalo de uma hora nos 
pacientes com idade igual ou maior a dois anos de idade (CFM, 2017). 
Ainda na avaliação clínica, deve-se observar atentamente o paciente, 
na unidade de tratamento intensivo, a fim de que algumas condições não 
agravarem ou causem o estado comatoso e enviesar a determinação da ME. 
Analisar a presença de distúrbio hidroeletrolítico, ácido-básico/endócrino e 
intoxicação exógena grave e se essas situações são capazes de causar ou 
agravar o quadro clínico, a consequência da ME ou somática. A 
temperatura corporal também precisa ser mensurada e avaliada, pois a 
hipotermia é fator que pode confundir a determinação de ME, pois reflexos de 
tronco encefálico podem desaparecer quando a temperatura corporal central é 
menor ou igual a 32 °C. Para tanto, é necessário que a hipotermia seja corrigida 
até alcançar 35° (por vias esofagiana, vesical ou retal) antes do diagnóstico e 
ME. A última circunstância que deve ser analisada antes de determinar ME é o 
uso contínuo de fármacos com ação depressora do Sistema Nervoso 
Central (FDSNC) e bloqueadores neuromusculares (BNM), especialmente nos 
pacientes com função renal e hepática normais e que não foram 
submetidos à hipotermia terapêutica, é necessário esperar intervalo mínimo de 
quatro a cinco meias-vidas após a suspensão dos fármacos para começar a 
avaliação de ME (CFM, 2017). 
7 
 
 
Obrigatoriamente, para diagnosticar a ME, realiza-se alguns 
procedimentos para confirmar a lesão cerebral e a cessação do fluxo sanguíneo 
cerebral (CFM, 2017). 
Na realização dos dois exames clínicos procura estimular alguns 
reflexos do tronco encefálico a fim de confirmar ausência da função (CFM, 
2017). 
a) Ao exame clínico, observa-se o coma não perceptivo, ou seja, 
o estado de inconsciência permanente com ausência de 
qualquer resposta motora supraespinhal a qualquer 
estimulação, particularmente dolorosa intensa em região 
supraorbitária, trapézio e leito ungueal dos quatro membros. 
Se houver reflexos tendinosos profundos, movimentos de 
membros, atitude em opistótono ou flexão do tronco, 
adução/elevação de ombros, sudorese, rubor ou 
taquicardia, de forma espontânea ou durante a estimulação 
não invalida a determinação de ME, pois, indicam apenas a 
persistência de atividade medular. 
Além disso, é necessário avaliar a ausência de reflexos do 
tronco cerebral. 
b) No reflexo fotomotor, as pupilas deverão estar fixas e sem 
resposta à estimulação luminosa intensa (lanterna), podendo 
ter contorno irregular, diâmetros variáveis ou assimétricos 
para confirmar ausência de estímulo. 
c) Ao reflexo córneo-palpebral é confirmado a ausência de 
resposta de piscamento à estimulação direta do canto 
lateral inferior da córnea com gotejamento de soro 
fisiológico gelado ou algodão embebido em soro fisiológico ou 
água destilada. 
A ausência de desvio do(s) olho(s) durante a movimentação 
rápida da cabeça no sentido lateral e vertical confirma a 
ausência do reflexo oculocefálico. Não é recomendada a 
realização em pacientes com lesão de coluna cervical 
suspeitada ou confirmada. 
8 
 
 
d) Para analisar o reflexo vestíbulo-calórico posiciona a cabeça do 
cliente em posição supina e a 30°, irriga o conduto auditivo 
externo com 50 a 100 ml de água fria (± 5 °C) e observa 
durante um minuto. A ausência do reflexo é confirmada pela 
ausência de desvio do(s) olho(s) durante esse um minuto de 
observação. O intervalo mínimo do exame entre ambos os 
lados deve ser de três minutos. 
e) No reflexo de tosse há uma estimulação traqueal com uma 
cânula de aspiração e a ausência é confirmada quando não há 
tosse ou bradicardia reflexa. 
 
Um teste de apneia é feito para confirmar a ausência de 
movimentos respiratórios após estimulação máxima dos centros respiratórios. 
Deverá ser apenasuma vez por um dos médicos responsáveis pelo exame 
clínico e deverá comprovar ausência de movimentos respiratórios na presença 
de hipercapnia (PaCO2 superior a 55 mmHg), ou seja, a situação de apneia 
(CFM, 2017). 
Altos níveis de gás carbônico estimulam o centro respiratório que está 
no bulbo, portanto, é verificado o estímulo do centro respiratório à situação de 
hipercapnia (BRASIL, 2016). O teste é obrigatório no diagnóstico de ME e o 
método precisa ser seguro para permitir a obtenção dessa estimulação 
máxima, prevenindo a ocorrência de hipóxia concomitante e minimizando o 
risco de intercorrências. Lembrando que, o paciente necessita de SSVS 
clinicamente estáveis como temperatura corporal (esofagiana, vesical ou 
retal) superior a 35°C, saturação arterial de oxigênio acima de 94% e pressão 
arterial sistólica maior ou igual a 100 mmHg ou pressão arterial média maior 
ou igual a 65 mmHg para adultos. A técnica consiste em, primeiramente, 
ventilar o cliente com FiO2 de 100% por, no mínimo, 10 minutos para 
atingir idealmente PaO2 igual ou maior a 200 mmHg e PaCO2 entre 35 e 45 
mmHg. Em seguida, instalar oxímetro digital e colher gasometria arterial inicial 
recomendação por cateterismo arterial. Logo após, desconectar ventilação 
mecânica, e, estabelecer fluxo contínuo de O2 por um cateter intratraqueal 
ao nível da carina (6 L/min), ou tubo T (12 L/min) ou CPAP (até 12 L/min + até 
9 
 
 
10 cm H2O). Após cessar ventilação, observar a presença de qualquer 
movimento respiratório por oito a dez minutos. Nesse meio tempo, prever a 
elevação da PaCO2 de 3 mmHg/min em adultos e de 5 mmHg/min em crianças 
para estimar o tempo de desconexão necessário. Na finalização do teste, deve 
ser colhido gasometria arterial final e em seguida reconectar ventilação mecânica 
(CFM, 2017). 
O resultado do teste pode ser positivo, inconclusivo ou negativo. É 
positivo quando há PaCO2 final superior a 55 mmHg, sem movimentos 
respiratórios, mesmo que o teste tenha sido interrompido antes dos dez 
minutos previstos. É considerado inconclusivo se PaCO2 final menor que 55 
mmHg e ausência de movimentos respiratórios. O resultado é negativo se 
houver presença de movimentos respiratórios, mesmo débeis, com qualquer 
valor de PaCO2. O profissional precisa estar atento para o fato de que em 
pacientes magros ou crianças os batimentos cardíacos podem mimetizar 
movimentos respiratórios débeis (CFM, 2017). 
Os pacientes que não suportam a desconexão do ventilador por 
alguma condição respiratória que não permite obter uma persistente elevação 
da PaCO2, sem hipóxia concomitante precisam ser introduzidos a outra 
metodologia. Nesse caso, é necessário conectar ao tubo orotraqueal uma “peça 
em T” acoplada a uma válvula de pressão positiva contínua em vias aéreas 
(Continuous Positive Airway Pressure - CPAP) com 10cmH2O e fluxo de 
oxigênio a 12 L/minuto. Então, o teste de apneia é realizado em equipamento 
específico para ventilação não invasiva, que permita conexão com fluxo de 
oxigênio suplementar. O teste de apneia não deve ser realizado em 
ventiladores que não garantam fluxo de oxigênio no modo CPAP, o que 
resulta em hipoxemia (CFM, 2017). 
Os critérios para interrupção do teste são: hipotensão (PA sistólica < 
100 mmHg ou PA média < que 65 mmHg), hipoxemia significativa ou 
arritmia cardíaca, e, portanto, deverá ser colhida uma gasometria arterial e 
reconectado o respirador, interrompendo-se o teste. Se o PaCO2 final for inferior 
a 56 mmHg, após a melhora da instabilidade hemodinâmica, deve-se refazer o 
teste (CFM, 2017). 
10 
 
 
Alguns exames complementares, tais como estudos de fluxo 
sanguíneo cerebral, eletroencefalograma (EEG), doppler transcraniano e 
potencial evocado auditivo do tronco encefálico, são frequentemente usados 
para confirmar a ausência de atividade encefálica. Deve comprovar de forma 
inequívoca uma das condições de ausência de perfusão sanguínea encefálica, 
ausência de atividade metabólica encefálica ou ausência de atividade elétrica 
encefálica. A escolha de qual exame levará em consideração a disponibilidade 
do local e a situação clínica do paciente. E, o laudo do exame complementar 
deverá ser elaborado e assinado por médico especialista no método em 
situações de morte encefálica (CFM, 2017). 
Os exames que serão realizados, de forma obrigatória, para 
complementar o diagnóstico são: 
1. a angiografia cerebral usada para mostrar a ausência de fluxo 
intracraniano. Injeta-se um contraste nas artérias carótidas e 
vertebrais. É desvantajoso, pois, há necessidade de transporte 
do paciente para a sala cirúrgica e o uso de contraste, que pode 
interferir na função renal do paciente; 
2. uma outra opção, é o eletroencefalograma que constata 
inatividade elétrica, ou, o silêncio elétrico do cérebro, definido 
pela Sociedade Brasileira de de Neurofisiologia Clínica como 
ausência de atividade elétrica cerebral com potencial superior a 
2 μV. É vantajoso pois pode ser feito a beira do leito, porém, o 
resultado pode ser alterado devido a interferência com outros 
dispositivos eletrônicos; 
3. o Doppler Transcraniano é um método não invasivo para avaliar 
o fluxo sanguíneo cerebral através das janelas ósseas. Na ME 
revela a ausência de fluxo sanguíneo intracraniano pela 
presença de fluxo diastólico reverberante e pequenos picos 
sistólicos na fase inicial da sístole. É vantajoso, pois, é um 
exame portátil, feito ao lado do leito do paciente. No entanto, 
pode apresentar falsos negativos, revelando fluxo sanguíneo 
cerebral mesmo em casos de ME, nos pacientes submetidos à 
craniectomia descompressiva ou válvula de derivação 
11 
 
 
ventricular, neonatos com fontanela aberta e uso de balão 
intra-aórtico; 
4. e, a última indicação de exame complementar é a cintilografia 
(SPECT Cerebral), na qual, injeta-se um radioisótopo tecnécio 
99m para avaliar a circulação. É desvantajoso porque também 
requer a remoção do paciente até o local adequado para 
realização do exame. O exame positivo confirma a ausência de 
perfusão ou metabolismo encefálico. 
(BRASIL, 2016; CFM, 2017). 
Alguns exames, como a angiografia cerebral e o doppler 
transcraniano, não são afetados pelo uso de drogas depressoras do sistema 
nervoso central ou distúrbios metabólicos, e, por isso, são os mais indicados 
quando nessas situações. Se houver, pequena, presença de perfusão 
sanguínea cerebral e pequena atividade elétrica significa a existência de 
atividade cerebral focal residual, se o exame for repetido em alguns dias 
revelará, de forma implacável, o desaparecimento dessa atividade (CFM, 2017). 
A determinação do diagnóstico de ME é concluída quando todas as 
etapas e exames foram realizados. Dessa forma, o paciente é considerado 
morto. O termo de declaração de morte encefálica (TDME) deve ser preenchido, 
com todas as assinaturas, exames e laudos por médico especialista e enviado 
para a central estadual de transplantes (CET) (BRASIL, 2016). 
O diagnóstico de ME é obrigatório e a notificação compulsória para a 
Central de Notificação,Captação e Distribuição de órgãos (CNCDO), 
independente da possibilidade de doação ou não de órgãos e/ou tecidos 
segundo a Lei 9434/1997 (BRASIL, 1997). 
 
 
1.2.1 Autorização familiar 
Após notificação à Central de Transplantes, a declaração de óbito é 
preenchida, em seguida, os familiares são comunicados quanto ao óbito. É 
válido ressaltar, que de forma ética, a menção de doação de órgãos somente 
deverá ser mencionada após a comunicação da morte. Caso, a doação seja 
inviável, pela condição do paciente, o suporte vital deverá ser desligado após 
12 
 
 
comunicação com familiares. Todo o processo de determinação de ME é um ato 
legal e deve ser obrigatoriamente documentado pelo médico no Termo de 
Declaração de ME (TDME), no prontuário e na Declaração de Óbito (DO) e deve 
ser preenchido pela equipe médica responsável pela determinação do 
diagnóstico (WESTPHAL et al, 2019). 
Na entrevista familiar, o profissional de saúde deve comunicar-se de 
forma eficiente e fazer com que a família entenda completamente do diagnóstico 
de ME, e que a família precisa receber a oportunidade de tornar-se uma família 
doadora. Os profissionais de saúde precisam ser treinados para promover escuta 
ativa e qualificada, prestar amparo à família em óbito e promover influência no 
processo de doação de órgãos. A entrevista precisa acontecer em local tranquilo 
e protegido, e, o profissional precisa usar linguagem simples e ter sensibilidade 
e empatia (BRASIL, 2019). 
Comunicar a família do doador elegível é um processo muito 
complicado que exige muita sensibilidade, clareza e habilidade do profissional 
para que a família compreenda que a morte encefálica é morte e que o processo 
de aceitação do óbito precisa iniciar-se. Após o diagnóstico de ME, é necessário 
realizar a entrevista familiar do potencial doador, esclarecer as dúvidas e dar 
autonomia da escolha do processo aos familiares, a fim de possibilitar o 
consentimento da família do doador falecido. No Brasil, a autorização da doação 
de órgãos e tecidos é responsabilidade da família. O falecido, de acordo com o 
decreto 9.175/2017, consente, em vida, de forma livre e esclarecida a 
manifestação a doação. O cônjuge, companheiro ou algum familiar de parente 
sanguíneo maior de idade e juridicamente capaz, na linha reta ou colateral, até o 
segundo grau, formaliza em documento subscrito por duas testemunhas a 
verificação da morte. A conversa deve ser realizada em local privativo e 
apropriado longe da presença do doador e com todo o conforto possível, onde a 
família sinta-se segura e acolhida (VELASCO et al, 2020). 
Após a comunicação de óbito, pela equipe médica, a família do 
paciente potencial doador, será entrevistada por uma equipe diferente, composta 
pelos membros da CIHDOTT (Comissão Intra Hospitalar de Doação de Órgãos e 
Tecidos para Transplantes), quanto à possibilidade de doação. Se for aprovada, 
o suporte ao potencial doador de órgãos deve ser mantido até o momento da 
13 
 
 
captação e extração dos órgãos. O CET gera a seleção dos receptores e agenda 
a retirada. Depois da extração, o corpo é devolvido à família ou encaminhado ao 
IML, em casos de morte violenta, junto com documentação necessária, ou seja, 
autorização familiar, relatório de retirada e TDME (BRASIL, 2016). 
 
1.3 ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS NO POTENCIAL DOADOR 
 
A morte encefálica é um processo complexo que altera de forma 
dramática a fisiologia e a bioquímica celulares de todos os sistemas orgânicos. A 
síndrome clínica da morte encefálica produz mudanças bruscas na pressão 
arterial, hipoxemia, hipotermia, coagulopatia, distúrbios eletrolítico e hormonal. É 
um estado inflamatório que leva a perturbações celulares e moleculares, 
capazes de afetar a função dos órgãos potencialmente disponíveis para 
transplante (TUTTLE N et al, 2003). 
Tendo em vista que a ME ocasiona efeitos deletérios sobre os 
Potenciais Doadores (PDs), vê-se que as principais alterações fisiológicas 
decorrentes desse evento são a ​hipotensão arterial, prevalente em 81% dos 
casos, seguida do diabetes insipidus (DI), que surge em 78%, e coagulação 
intravascular disseminada,​ presente em 28% dos PDs ( RECH E FILHO, 2007). 
Essas alterações, quando não tratadas adequadamente, são as 
principais causas da não efetivação do transplante de órgãos e tecidos. Para 
evitar esse problema, torna-se necessário o conhecimento dos profissionais 
intensivistas quanto ao reconhecimento precoce e à consequente manutenção 
deste organismo a fim de preservar os órgãos antes que ocorra a parada 
cardíaca (GUIMARÃES et al, 2009). 
A morte encefálica representa o processo final de progressão da 
isquemia cerebral que evolui no sentido rostrocaudal até envolver regiões do 
mesencéfalo, ponte e medula, culminando com a herniação cerebral através do 
forâmen magno (RECH E FILHO, 2007). 
O momento que precede a herniação cerebral é marcado por extremas 
elevações da pressão intracraniana, acompanhada da tríade de Cushing 
(hipertensão arterial, bradicardia e bradipnéia), que representa o esforço final do 
organismo na tentativa de manter a perfusão cerebral (RECH E FILHO, 2007) 
14 
 
 
A falência desse mecanismo promove a progressão da isquemia que, 
ao atingir a medula, interrompe a atividade vagal, levando a resposta autonômica 
simpática maciça, chamada de “tempestade autonômica”. Essa estimulação 
simpática desenfreada tem curta duração e caracteriza-se por taquicardia, 
hipertensão, hipertermia e aumento acentuado do débito cardíaco (HEVESI ZG 
et al, 2006). 
A gravidade dessas alterações está associada com a velocidade de 
instalação da hipertensão intracraniana e da herniação cerebral. 
Subseqüentemente, a tempestade autonômica cessa e o resultado é a perda do 
tônus simpático, com profunda vasodilatação e depressão da função cardíaca, 
que, se não tratadas, devem progredir para assistolia em torno de 72 horas 
(JIANG E DOWNING, 2008). 
 
ALTERAÇÕES CARDIOVASCULARES 
Várias alterações eletrocardiográficas podem ser vistas: depressão ou 
elevação do segmento ST, ondas T invertidas, alargamento dos complexos QRS 
e prolongamento do intervalo QT (RECH E FILHO, 2007). Isso acontece devido à 
intensa liberação de catecolaminas durante a descarga autonômica a qual 
produz grande vasoconstrição, que acarreta hipertensão arterial, taquicardia e 
aumento da demanda de oxigênio do miocárdio, podendo causar isquemia e 
necrose miocárdica, além de disritmias cardíacas. 
A morte encefálica associa-se às disfunções sistólica e diastólica do 
coração. A maciça liberação de catecolaminas na circulação periférica, após uma 
catástrofe neurológica, ocasiona uma resposta hiperdinâmica que mimetiza as 
crises hipertensivas do feocromocitoma. Lesão subendocárdica é muito 
freqüente. Ao exame ecocardiográfico, até 43% dos corações de doadores com 
morte encefálica revelam algum grau de disfunção (RECH E FILHO, 2007) 
Após cessar a tempestade autonômica, o resultado é a perda do tônus 
simpático, com profunda vasodilatação e hipotensão arterial grave, sendo esta a 
alteração fisiológica mais grave da ME, gerando disfunçãocardíaca e 
instabilidade hemodinâmica, que, se não tratadas, devem progredir para 
assistolia em torno de 72 horas (FREIRE et al, 2012) 
15 
 
 
Szabó (2004) sugeriu que as alterações cardíacas do doador são 
reflexos das condições da pré e pós-carga ventricular e da perfusão coronariana, 
não de lesão cardíaca irreversível em virtude da reação de Cushing inicial e 
depleção hormonal. A morte encefálica leva a profundas alterações de pós-carga 
em decorrência da vasodilatação extrema, que repercute na pré-carga, diminuída 
de formas relativa e absoluta; causando hipoperfusão coronariana. 
A hipotensão arterial é a alteração fisiológica mais freqüente da morte 
encefálica. A vasodilatação produz grande aumento da capacitância do sistema 
vascular, produzindo hipovolemia relativa. A hipovolemia absoluta é 
conseqüência das perdas sangüíneas pelo trauma, da reanimação inadequada 
do doador, do uso de tratamento osmótico para hipertensão intracraniana, da 
diabete insipidus, além da diurese osmótica causada pela hiperglicemia e dos 
efeitos da hipotermia sobre a diurese (RECH E FILHO, 2007). 
No entanto, o colapso circulatório resultante desse mecanismo é 
reversível, e a otimização da pré e pós-carga no doador resulta na melhora da 
contratilidade miocárdica, tornando viáveis para transplante, corações 
inicialmente considerados marginais (RECH E FILHO, 2007). 
ALTERAÇÕES PULMONARES 
Durante o período de intensa descarga adrenérgica o sangue é 
redistribuído e ocorre um aumento do retorno venoso ao ventrículo direito o qual 
aumenta rapidamente seu débito, aumentando o fluxo pulmonar. 
Simultaneamente a pressão de átrio esquerdo está elevada devido a 
vasoconstrição periférica intensa de tal forma que a pressão hidrostática capilar 
é muito aumentada promovendo ruptura de capilares com edema intersticial e 
hemorragia alveolar. Tais alterações manifestam-se com o desequilíbrio 
ventilação perfusão e hipoxemia (GUETTI e MARQUES, 2008). 
O aumento da permeabilidade vascular ocorre também no território 
pulmonar, como resposta às alterações inflamatórias que cursam com a morte 
encefálica. Pacientes em coma podem ter lesão pulmonar por trauma, 
pneumonite de aspiração e embolia gordurosa (RECH E FILHO, 2007). 
 
ALTERAÇÕES ENDÓCRINAS 
16 
 
 
A morte encefálica evolui para uma falência progressiva do eixo 
hipotalâmico-hipofisário. Com isso, há um declínio gradual e inexorável das 
concentrações hormonais, principalmente do hormônio antidiurético (ADH) 
(RECH E FILHO, 2007). 
O principal efeito fisiológico do ADH consiste na conservação de água 
no organismo, através da formação de urina hipertônica. Logo, a falta desse 
hormônio, que ocorre em 80% dos casos, leva ao quadro de Diabetes ​insipidus​, 
a qual caracteriza-se por grandes volumes de diurese hiposmolar, com 
hipovolemia secundária, hipernatremia e hiperosmolaridade sérica (RECH E 
FILHO, 2007 ; WESTPHAL et al, 2011). 
Quando o diabetes ​insipidus resulta de uma deficiência de 
vasopressina, nesse caso, o ADH, recebe o nome de diabetes ​insipidus ​central; 
e ainda, pode ser parcial (quantidade insuficiente de vasopressina) ou total 
(ausência da vasopressina); primário (decorre de anormalidades genéticas do 
gene da vasopressina) ou secundário (adquirido) (CHAPMAN, 2019). 
Logo, na morte encefálica, a DI acaba sendo uma importante causa de 
hipotensão e hipoperfusão tecidual, produzindo inúmeros distúrbios eletrolíticos 
além da hipernatremia, que contribuem para o desenvolvimento de disritmias 
cardíacas e depressão miocárdica (RECH E FILHO, 2007). 
Além dessa alteração, vê-se que logo após a morte encefálica, são 
constatadas diminuições bruscas nos níveis de tri-iodotironina (T3) e tiroxina 
(T4); sendo estes, os melhores indicadores de disfunção do eixo 
tireoidiano-hipofisário. Quando isso acontece, há uma implicação direta na 
redução da contratilidade cardíaca, com depleção de fosfatos de alta energia e 
mudança do metabolismo aeróbico para anaeróbico, contribuindo para a piora 
da acidose metabólica e da perfusão tecidual dos órgãos do doador (RECH E 
FILHO, 2007). 
Todas essas alterações acontecem pois os hormônios tireoidianos 
exercem diversos efeitos por todo o corpo, como: aumento da taxa metabólica 
basal, efeito calorigênico, estimulação da síntese de proteínas e aumentam o 
uso de glicose e ácidos graxos para produção de ATP; intensificam ações de 
algumas catecolaminas, como noepinefrina e epinefrina; e junto com o hormônio 
de crescimento e insulina, aceleram o crescimento corporal (TORTORA, 2014). 
17 
 
 
A secreção de insulina também está comprometida, podendo produzir 
hiperglicemia. 
 
 
ALTERAÇÕES HEPÁTICAS E DA COAGULAÇÃO 
No fígado ocorre depleção dos estoques de glicogênio e redução da 
perfusão sinusoidal hepática. Alterações das transaminases e das bilirrubinas 
são incomuns (RECH E FILHO, 2007). 
A coagulopatia é bastante freqüente. A lesão do tecido cerebral libera 
tromboplastina tecidual e outros substratos ricos em plasminogênio. Esses 
fatores, somados à hemorragia, transfusões, diluição dos fatores de coagulação, 
acidose e hipotermia, favorecem o desenvolvimento de coagulação intravascular 
disseminada (POWNER et al, 2000). 
 
ALTERAÇÕES DA TEMPERATURA 
A regulação hipotalâmica da temperatura é perdida com a morte 
encefálica. A vasodilatação extrema típica da síndrome, associada à inabilidade 
de tremer para produzir calor, além da infusão de grandes volumes de fluidos 
não aquecidos, resulta em diminuição da temperatura de forma muito rápida. A 
hipotermia induz a diversos efeitos deletérios, como disfunção cardíaca, 
disritmias, coagulopatia, desvio da curva de dissociação da hemoglobina para a 
esquerda e diurese induzida pelo frio (POWNER et al, 2000). 
 
ALTERAÇÕES IMUNOLÓGICAS 
A síndrome da morte encefálica é um estado inflamatório. A ativação 
de mediadores inflamatórios como complemento, tromboxanos e fatores 
leucocitários têm papel central nos eventos que permeiam a morte encefálica. À 
medida que o tempo passa, ocorre contínua infiltração inflamatória nos tecidos, o 
que aumenta a imunogenicidade dos enxertos (RECH E FILHO, 2007) 
Detectam-se altos níveis de citocinas pró-inflamatórias em diversos 
órgãos, que desencadeiam e amplificam a resposta imunológica aguda no 
receptor. Watss et al (2013), faz uma comparação entre resultados de órgãos 
transplantados que mostram que os episódios de rejeição aguda são mais 
18 
 
 
comuns e mais graves em órgãos captados de doadores com morte encefálica 
do que naqueles de doadores vivos. 
 
RECH e FILHO (2007), apresentam em seu estudo uma tabela 
referente a incidência de alterações fisiológicas após a Morte Encefálica. Com 
ela, vê-se que há maior prevalência de Hipotensão arterial (81%), seguido de 
Diabetes ​insipidus ​(78%), Coagulação intravascular disseminada (28%), 
Disritmias cardíacas (25%), Edema pulmonar (18%) e Acidose metabólica (11%). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1.4. MANUTENÇÃO DO POTENCIAL DOADOR 
 
MANUTENÇÃO VOLÊMICA E VASCULAR 
Tendo em vista a hipotensão grave, que ocorre após tempestade 
autonômica (ou sináptica) pela perda do tônus vascular, juntamente ao relevante 
perda de volume pela ausência de ADH,faz-se necessário o uso de 
desmopressina (escolha primária), fármaco análogo a vasopressina (escolha 
secundária), de 0,25 – 1,0 mcg EV 6/6 h OU 0,5 mcg/h EV contínuo até diurese 
< 4 ml/kg/h, que é capaz de reduzir a produção de urina. Pode ser utilizado 
também, vasoconstritores, como adrenalina, para melhorar tônus vascular. 
Onde, juntamente a reposição hídrica (20 ml/kg de cristalóide aquecido), mantém 
o volume adequado para a manutenção do organismo (TANNOUS ​et al​, 2018). 
A reposição por transfusão sanguínea (hemoglobinas ou plaquetas) 
também podem ser realizada. Porém, deve ser realizada se ​Hb < 10 g/dl em 
potenciais doadores quando houver instabilidade hemodinâmica associada à não 
obtenção das metas de ressuscitação; ou transfusão de plaquetas se houver 
19 
 
 
sangramento ativo significativo associado à plaquetopenia ​(WESTPHAL ​et al​, 
2011). 
 
MANUTENÇÃO DA VENTILAÇÃO 
Sabendo que, os prejuízos respiratórios na situação de morte 
encefálica interfere na ventilação espontânea e oxigenação corporal, utiliza-se 
então, o ventilador mecânico no modo volume ou pressão controlada, volume 
corrente 6 a 8ml/kg de peso ideal, ajustar FiO2 para obter PaO2 ≥ 90 mm Hg, 
PEEP 5 a 10, Pplatô < 30 cmH2O, para manter o organismo. Porém, quando há 
lesão pulmonar aguda ou síndrome do desconforto respiratório agudo, gerando 
uma dificuldade de oxigenação, VC 5 a 8 ml/kg de peso ideal, ajustar FiO2 para 
obter PaO2 ≥ 60 mm Hg e/ou SatO2 na gasometria arterial > 90, Pplatô < 30 
cmH2O (TANNOUS ​et al​, 2018​; WESTPHAL ​et al​, 2011)​. 
 
MANUTENÇÃO ENDÓCRINA E METABÓLICA 
Após a tempestade sináptica, há uma drástica diminuição do gasto 
energético total, fazendo com que o indivíduo gaste em torno de 15% a 30% 
menos calorias de seu gasto energético basal. Essa queda é provocada devido a 
ausência da contratilidade espontânea da musculatura, juntamente a inatividade 
de todo encéfalo, que é responsável por uma grande demanda de energia. 
Portanto, a dieta enteral ou parenteral deve ser administrada, ofertando de 70 a 
85% do gasto energético basal do paciente, para suprir suas necessidades 
nessa situação. Todavia, a dieta deverá ser suspensa caso haja grandes 
infusões de drogas vasoativas (WESTPHAL ​et al​, 2011). 
A glicemia desse indivíduo também deve ser monitorada, pois após a 
tempestade sináptica, há uma maior resistência à insulina nos tecidos periféricos 
e a diminuição da liberação de insulina secretada pelo pâncreas. Resultando 
assim, em um estado de hiperglicemia, que deve ser monitorado com o objetivo 
de manter glicemia menor que 180 mg/dl. A infusão de insulina pode ser uma 
escolha para esse controle, caso o nível glicêmico apresenta-se maior que 180 
mg/dl ​ (TANNOUS ​et al​, 2018)​. 
 
 
20 
 
 
MANUTENÇÃO ELETROLÍTICA E DO PH 
​Em decorrência da Diabetes Insipidus, o aumento da concentração de 
sódio sérico pode levar a hipernatremia, apontada como pior prognóstico para 
função do enxerto no estudo de Westphal ​et al ​(2011). Portanto, recomenda-se 
nesses casos, a correção da hipernatremia administrando água livre IV na forma 
de solução glicosada a 5% ou com solução salina a 0,45%, mantendo infusão de 
cristalóide (caso haja instabilidade hemodinâmica). Mantendo assim, sódio sérico 
entre 130-150 mEq/L e o débito urinário entre 0,5-4ml/kg/h (WESTPHAL ​et al​, 
2011)​. 
Os níveis de ​Mg​++​, PO​4​-​, Ca​++​, e K​+ podem se apresentar em taxas 
reduzidas a níveis séricos pelo mesmo motivo de fatores hemodinâmicos. 
Portando pode ser necessário corrigir níveis de magnésio, fósforo, cálcio e 
potássio caso o indivíduo apresente descompensação dos mesmos (WESTPHAL 
et al​, 2011). 
O pH pode encontrar-se alterado nessas condições pela hipoperfusão 
(aumentando a respiração anaeróbicas e suas consequências), pela poliúria, ou 
hiper ou hipoventilação do ventilador mecânico (VM). Assim, torna-se necessário 
monitorar e controlar o pH, de preferência por meio do VM (pois o uso de 
bicarbonato de sódio pode ser deletério), mantendo-o entre 7,35 e 7,45 
(WESTPHAL ​et al​, 2011). ‘ 
 
CONTROLE DA INFLAMAÇÃO 
De acordo com Westphal ​et al ​(2011), a terapia de reposição 
hormonal, por meio de corticosteróides, pode resultar em maior número de 
órgãos obtidos e uma maior qualidade na função pós-transplantes de alguns 
desses órgãos. Pois os corticoides possuem ação anti inflamatória e pode 
reduzir disfunção do enxerto pós transplante. Por isso, pode ser utilizado 
metilprednisolona na dose de 15 mg/kg a cada 24 horas para controle de 
inflamação (WESTPHAL ​et al​, 2011). 
 
MANUTENÇÃO DA TEMPERATURA 
Tendo em vista o quadro de hipotermia, advinda da perda da regulação 
hipotalâmica da temperatura, são necessárias medidas de cuidado para reverter 
21 
 
 
esse quadro. Portanto, o ambiente deve se manter aquecido, sem uso de 
arcondicionados que possam fazer com que, o corpo, perca ainda mais calor 
para o ambiente. Utiliza-se também, manta térmica e líquidos infundidos 
aquecidos, para realizar esse controle. Objetiva-se por esses meios, manter a 
temperatura entre 36 e 37°C para evitar agravos. ​(CARUSO, FRANKE, 2017) 
 
1.5 LOGÍSTICA PARA CAPTAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO 
Após protocolo de Morte Encefálica concluído e a doação de órgãos 
e/ou tecidos para transplantes autorizada pela família, é realizada a organização 
da logística para proceder à captação dos órgãos e tecidos. Esta etapa exige 
agilidade e organização para que o mais rápido possível, possa ser iniciada a 
cirurgia de remoção dos órgãos e a posterior entrega do corpo à família ou 
liberação para o Instituto Médico-Legal (IML) (MANUAL E O MANUAL VERDE). 
A CET organiza junto às Organizações de Procura de Órgãos, 
Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes 
(OPOs/CIHDOTTs) e às equipes de captação/transplantadoras toda logística de 
extração dos órgãos e tecidos. Os potenciais receptores têm seus dados de 
identificação, clínicos e imunológicos registrados no sistema informatizado do 
Sistema Nacional de Transplantes (SNT) no momento da inscrição. 
As informações dos doadores também são inseridas no sistema 
informatizado do Sistema Nacional de Transplantes. Os dados do doador são 
“cruzados” com os dados dos receptores, e o sistema informatizado do Sistema 
Nacional de Transplantes emite a lista dos receptores compatíveis, baseada em 
critérios previamente estabelecidos, e seguindo rigorosamente a listagem dos 
receptores é realizada a distribuição dos órgãos. 
Após emitir a lista de receptores para cada órgão doado, a equipe do 
plantão 24 horas da CET entra em contato com as equipes de transplante 
responsáveis pela inscrição do paciente no sistema informatizado do Sistema 
Nacional de Transplantes, transmitindo detalhadamente, por e-mail, as 
informações referente ao doador, as quais foram repassadas pela 
OPO/CIHDOTT. 
A equipe de transplante tem um prazo máximo de 01 hora estabelecido 
de acordo com a Portaria 2600/2009, para responder o aceite ou a recusa do 
22 
 
 
órgão. Nos casos de recusa, a equipe deve informar o motivo pelo qual nãohouve aceite do órgão. Na sequência, o plantão técnico passa a consultar a 
equipe de transplante subsequente, e, assim, sucessivamente, até que uma 
determinada equipe aceite o órgão ofertado. 
A cirurgia de extração de órgãos e tecidos é feita no hospital 
notificante. Este deve ser informado quanto ao horário de início da cirurgia, 
órgãos e tecidos que serão retirados e as equipes cirúrgicas que participarão do 
procedimento. 
A organização da logística para locomoção da equipe de captação é 
complexa, envolve várias pessoas, principalmente quando ocorre a necessidade 
de utilização de logística aérea. Em geral, a distância de até 200 km, utiliza-se 
transporte terrestre; e distâncias de mais de 200 km, utiliza-se vias aéreas. 
Muitas vezes não há disponibilidade imediata de aeronave, vôos 
comerciais com horários não compatíveis de ida e volta ou indisponibilidade de 
vôo para a cidade onde encontra-se o doador, condições meteorológicas não 
favoráveis, dentre outros fatores que interferem na logística aérea. 
Nos casos de doação por Coração Parado, no qual é realizada a 
captação apenas de tecidos, a logística é simplificada, pois são acionados os 
bancos de tecidos locais, os quais devido ao tempo limite para captação se 
deslocam de imediato ao hospital onde encontra-se o doador. 
 
1.6 EXTRAÇÃO E MANUTENÇÃO DOS ÓRGÃOS 
 
Esse processo inicia-se com a identificação do potencial doador até a 
sua conversão em doador efetivo, sendo de responsabilidade das coordenações 
hospitalares ou das Organizações de Procura de Órgãos (OPOs). E quanto as 
regras seguidas pelas equipes em relação ao tempo de resposta de aceitação 
dos órgãos, sua retirada e o horário de início do procedimento, já é de 
responsabilidade da Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos 
(CNCDOs) (BRASIL, 2009). 
Depois de serem informados quais os órgãos serão retirados e o 
horário de início do procedimento, as equipes devem se atentar à pontualidade 
pois o retardo no início da cirurgia do doador está diretamente relacionado com a 
23 
 
 
piora no resultado do transplante. Além disso, os membros das equipes devem 
checar alguns documentos para dar procedência à retirada, sendo eles, as 
provas documentais de morte encefálica, o termo de doação assinado pela 
família, o tipo sanguíneo, os parâmetros clínicos e os exames mínimos 
necessários para avaliação de potencial doador (ABTO, 2009). 
Após o paciente ser encaminhado para o centro cirúrgico, as equipes 
específicas que ficam responsável pela retirada de cada órgão, vão seguir uma 
ordem, que é determinada pelo tempo de isquemia dos órgãos, ou seja, tempo 
em que o órgão é conservado em solução de preservação (ABTO, 2009). 
A sequência de retirada dos órgãos é iniciada pelo coração e 
pulmões, depois segue para o fígado, pâncreas, intestino delgado, rins, enxertos 
vasculares (artérias e veias), córnea, pele e outros tecidos. Esta ordem é 
determinada pelo tempo de isquemia dos órgãos, ou seja, o tempo necessário 
entre a retirada do órgão e o transplante do mesmo ao receptor, representado 
pelo máximo de tempo que o órgão pode ser preservado fora do corpo ficando 
conservado em solução de preservação (LACERDA et al, 2020). 
O tempo de isquemia consiste no tempo entre a parada circulatória do 
doador até a reperfusão do enxerto no receptor, sendo o esfriamento de um 
órgão ou tecido durante a diminuição ou ausência de perfusão sanguínea. O 
tempo de isquemia inicial, inicia-se no clampeamento e vai até a retirada do 
enxerto do gelo, já o tempo de isquemia fria vai do início da infusão da solução 
de preservação até a retirada do órgão da embalagem, e o tempo de isquemia 
quente final inicia-se na retirada do enxerto do gelo até a reperfusão do órgão 
(ABTO, 2009;​ ​GARCIA, ​et al ​, 2017). 
 
 TEMPO DE ISQUEMIA FRIA IDEAL RELATIVO A CADA ÓRGÃO 
24 
 
 
 
Fonte: Diretrizes Básicas para Captação e Retirada de Múltiplos Órgão 
e Tecidos (2009). 
 
Existem alguns tipos de soluções de preservação e elas estão de 
acordo com cada órgão, sendo preciso manter essas soluções resfriadas a 4°C e 
também precisam ser infundidas nesta temperatura (ABTO, 2009). 
O trabalho sincronizado das equipes de retirada de órgãos é muito 
importante. Sendo assim, a primeira equipe a atuar é a de anestesia, que fica 
responsável pelo controle das condições clínicas hemodinâmicas e relaxamento 
muscular do doador, em seguida, a equipe de cirurgia cardíaca e pulmonar entra 
em ação, fazendo esternotomia e inspeção dos órgãos intratorácicos, 
posteriormente a equipe de fígado, pâncreas, intestino e rim faz a abertura da 
parede abdominal e inspeção dos órgãos intra-abdominais, depois as equipes de 
coração e pulmão iniciam a dissecção dos órgãos intratorácicos, as equipes de 
fígado e pâncreas completam as respectivas dissecções e as equipe de rim 
atuam após a retirada dos outros órgãos intra-abdominais (ABTO, 2009). 
Existe um procedimento padrão de retirada de múltiplos órgãos, onde o 
doador é preparado desde o mento até a região do joelho, com assepsia da face 
anterior e lateral do tronco, pescoço e abdome e membros inferiores e depois 
são colocados campos operatórios fixados à pele (ABTO, 2009). 
 
RETIRADA DO CORAÇÃO 
O tempo de isquemia do coração não pode ultrapassar as 4 horas, 
pelo maior risco de disfunção do enxerto e óbito, portanto, as equipes devem ter 
25 
 
 
conhecimento sobre as diferentes etapas para que possam realizar um trabalho 
sincronizado e efetivo (ABTO, 2009). 
É recomendado o uso de bisturi elétrico levando em consideração a 
extensão das dissecções e o agravamento da instabilidade hemodinâmica. Por 
isso, é importante os cuidados com os sangramentos (ABTO, 2009). 
Para realizar a retirada do órgão é feito um procedimento de proteção 
do miocárdio que permite um tempo seguro de 4h de isquemia, sendo realizada 
em quatro etapas: parada cardíaca induzida; preservação durante o transporte e 
o transplante; tempo total de isquemia e reperfusão. O tempo de isquemia do 
coração é curto pois ele precisa readquirir as suas funções imediatamente após 
o término do procedimento e além disso ele tem pouca tolerância a depleção de 
adenosina trifosfato (ATP), o que pode resultar em disfunção ventricular (ABTO, 
2009). 
Para a preservação do miocárdio são utilizadas estratégias como, a 
hipotermia tópica que age fazendo a redução do metabolismo e as soluções 
cardioplégicas gelada a 4°C que induzem a parada eletromecânica, que, 
associada à hipotermia tópica, confere proteção até 4 horas (ABTO, 2009). 
As soluções cardioplégicas mais utilizadas são: solução com 
composição semelhante ao extracelular, como: Saint Thomas 1, Saint Thomas 2 
(Plegisol) e Solução de Wisconsin e Celsior® e solução com composição 
semelhante ao intracelular, como: solução de Bretschneider – Custodiol®HTK 
(Histamina,Triptofano e Cetoglutarato) (ABTO, 2009). 
Após a retirada do coração, o órgão é colocado em um recipiente com 
soro fisiológico a 4°C e transportado para a sala operatória do receptor quando o 
transplante acontece lado a lado. Para o acondicionamentoe armazenamento do 
coração em situações de transplante à distância, o coração é colocado em um 
saco plástico estéril com soro fisiológico a 4°C até ficar totalmente imerso, 
amarrando com fita cardíaca a abertura do mesmo, depois ele é colocado em um 
segundo saco plástico, da mesma forma. Todo o conjunto é colocado num 
terceiro saco plástico e lacrado, colocando um cartão com o horário da 
cardioplegia. O transporte deste órgão é feito em recipientes térmicos de 
tamanho adequado, e precisam conter gelo em blocos de forma que cubra-o por 
completo (ABTO, 2009). 
26 
 
 
 
RETIRADA DO PULMÃO 
Na retirada do pulmão, faz-se uma abertura ampla das cavidades 
pleurais possibilitando uma inspeção visual e manual dos pulmões, e essa 
inspeção manual tem um papel importante na decisão final para utilizar os 
pulmões. Essa técnica possibilita a retirada conjunta do coração e dos pulmões 
ligados a uma porção de átrio esquerdo para ambos os enxertos, o que torna 
viável a utilização de cada órgão em receptores diferentes ou os dois em um 
mesmo receptor (ABTO, 2009). 
É feito uma seletividade para a retirada do órgão quanto algumas 
particularidades em relação ao doador, como idade inferior a 60 anos, ausência 
de doença pulmonar significativa, tempo de ventilação mecânica recomendável 
menor que uma semana, radiografia de tórax normal, gasometria arterial com 
PaO2 > 300 mmHg colhida com FiO2 de 100%, PEEP de 5cmH2O e volume 
corrente de 10 ml/kg e broncoscopia sem sinal de infecção (ABTO, 2009). 
O tempo de isquemia dos pulmões não pode ultrapassar das 6h, sendo 
o tempo de preservação máxima de 4h a 6h. Sendo assim, após a retirada dos 
pulmões, eles são colocados em um saco plástico estéril contendo 3 litros de 
soro fisiológico gelado a 4°C que é completamente fechado e envolvido em 
outros dois sacos estéreis. É mantido em geladeira térmica e encaminhado ao 
centro de transplante (ABTO, 2009). 
 
RETIRADA DO FÍGADO 
Durante o procedimento de retirada do fígado, faz-se além da 
manutenção da hemodinâmica, a curarização do doador para evitar maior 
dificuldade durante a operação pois os músculos abdominais podem estar 
tensionados devido aos reflexos medulares.Também é administrado antibiótico, 
como cefazolina e um corticoide como metilprednisolona (ABTO, 2009). 
Existem alguns critérios para não realizar a retirada do fígado, caso o 
doador apresente sepse não controlada, neoplasia maligna intra ou extra 
abdominal e sorologia positiva para HIV, HTLV I e HTLV II (ABTO, 2009). 
27 
 
 
Depois da retirada, o fígado é colocado sobre saco plástico estéril em 
um recipiente contendo gelo, evitando o contato do órgão com o gelo, e pode ser 
perfundido conforme tabela abaixo (ABTO, 2009). 
 
Fonte: Diretrizes Básicas para Captação e Retirada de Múltiplos Órgão 
e Tecidos (2009). 
 
O acondicionamento do fígado é realizado da seguinte forma, o fígado 
é colocado no saco plástico estéril, imerso na solução de conservação a 4°C, e 
um segundo saco estéril adicional contendo gelo estéril picado, sendo ambos os 
sacos vedados com fita cardíaca, e é o mesmo procedimento dor outros órgãos 
para ser feito o transporte (ABTO, 2009). 
 
RETIRADA DO PÂNCREAS 
O transplante de pâncreas (TP) consolidou-se como procedimento 
terapêutico eficaz no manejo do paciente diabético tipo 1 de alto risco, 
especialmente aqueles com insuficiência renal crônica. A maior parte desses 
transplantes são em associação ao renal (transplantes de pâncreas e rim 
simultâneos) (ABTO, 2009). 
Para realização desse tipo de transplante, é feito uma seleção dos 
doadores. Com isso, algumas particularidades são destacadas, como: limite de 
idade, idealmente até os 50 anos; estabilidade hemodinâmica e manutenção de 
níveis adequados de glicemia durante o período de manutenção do doador. Além 
disso, o potencial doador deve possuir histórico ausente de alcoolismo crônico, 
antecedentes pessoais de DM e sem histórico de pancreatite (ABTO, 2009). 
Quando o pâncreas for aproveitado, deve ser feito reposição volêmica, 
preferencialmente com colóides, visando minimizar o edema pancreático que, 
28 
 
 
por vezes, e se em grau importante, representa critério de contraindicação ao 
aproveitamento do órgão. Deve-se também monitorizar a glicemia capilar desses 
doadores ao menos a cada duas horas e corrigir os níveis com insulina 
intravenosa para valores entre 70 e 150 mg/dl (ABTO, 2009). 
O aproveitamento do pâncreas é atualmente factível em praticamente 
todos os doadores de órgãos, independentemente de variações anatômicas. O 
enxerto pancreático é removido com dois pedículos arteriais, a artéria 
mesentérica superior e a artéria esplênica, que são posteriormente reconstruídas 
em cirurgia de mesa (ABTO, 2009). 
Habitualmente, a técnica de retirada do pâncreas é feita em 
associação ao fígado, e seu acondicionamento e armazenamento é realizado da 
seguinte maneira, é colocado separadamente no interior de um saco plástico 
estéril contendo 1 litro de solução de UW (4°C) e lacrado com fita cardíaca. Este 
saco será mantido no interior de outro saco plástico estéril contendo gelo moído 
e novamente lacrado com fita cardíaca. É deixado na geladeira térmica, coberto 
com gelo não estéril até a utilização do enxerto (ABTO, 2009). 
 
RETIRADA DO INTESTINO DELGADO 
É considerado os mesmos critérios do doador de fígado para a seleção 
do doador de intestino delgado, porém deve-se dar uma atenção às alterações 
hemodinâmicas e à sorologia para citomegalovírus, sendo assim, o doador 
recebendo altas doses de fármaco vasoativas e/ou um doador com sorologia 
positiva para citomegalovírus quando o receptor for negativo, deve ser 
descartado (ABTO, 2009). 
A retirada do órgão deve ser dividida em três fases: preparação do 
doador, cirurgia “in situ” com dissecção pré e pós-perfusão, dissecção “ex situ”. 
Na preparação do doador, deverá ser feito a antibioticoterapia profilática com 
cefotaxima e ampicilina nas doses habituais. A cirurgia “in situ” tem o objetivo de 
minimizar a dissecção pré-perfusão, diminuindo o período de lesão do intestino 
antes da infusão da solução de preservação e a dissecção “ex situ” tem o 
objetivo de garantir que os enxertos vasculares estarão disponíveis para a 
reconstrução na cirurgia no receptor (ABTO, 2009). 
29 
 
 
O seu acondicionamento e armazenamento deve ser realizado da 
mesma maneira que o do fígado, obtendo uma atenção especial ao resfriamento 
apropriado do intestino, pois este é um órgão oco e o seu conteúdo pode 
dificultar o resfriamento adequado. Também é preciso mobilizar o intestino para 
garantir uma perfusão homogênea durante a infusão da solução de preservação 
(ABTO, 2009). 
 
RETIRADA DOS RINS 
A contraindicação para a doação dos rins é semelhante aos outros 
órgãos, sendo considerado a idade ideal entre 5 e 55 anos, doença prévia 
(arteriosclerose, hipertensão arterial, diabetes mellitus e doença renal), a. 
instabilidade hemodinâmica grave (choque, anúria e creatinina terminal elevada: 
> 3 mg/%), doadores sem batimentos cardíacos e o tempo de isquemia fria 
prolongado(> 36 horas). Também deve ser levado em consideração o risco 
elevado de transmissão de infecção e a transmissão de neoplasias (ABTO, 
2009). 
A retirada dos rins é feita em monobloco junto com a aorta e a cava 
inferior, sempre que possível, depois da extração dos rins, realiza-se a “cirurgia 
de banco” para separação dos rins e identificação dos pedículos. O limite de 
peso do doador aceito para o transplante de rim separado é acima de 15 Kg, 
doadores com menos de 3 anos de idade ou rins menores do que 6 cm têm 
indicação de transplante em bloco (ABTO, 2009). 
Os rins, previamente separados deverão ser acondicionados e 
mantidos a 4°C, dentro de sacos plásticos estéreis, contendo 500 ml de solução 
de UW ou 500 ml da solução de Euro-Collins a 4°C. O primeiro saco deve ser 
lacrado com fita cardíaca e um novo saco plástico estéril deverá envolvê-lo 
contendo gelo moído no interior. A seguir, devem ser armazenados no interior de 
geladeira térmica com gelo não estéril a 4°C (ABTO, 2009). 
 
RETIRADA DE ÓRGÃOS COM O CORAÇÃO PARADO 
A utilização de órgãos de doadores sem batimento cardíaco representa 
ainda, uma pequena parcela no total de doadores, sendo assim, as instituições 
30 
 
 
que possuem esse tipo de procedimento aumenta a oferta de rim em 12-20% 
(ABTO, 2009). 
O doador em coração parado é definido como aquele indivíduo em 
parada cardiorrespiratória irreversível, associado à parada irreversível da 
atividade cerebral. Sendo a parada cardiorrespiratória, a ausência de atividade 
elétrica cardíaca efetiva há pelo menos 30 minutos de manobras efetivas de 
reanimação cardiorrespiratória, na ausência de drogas depressoras ou 
hipotermia induzida (AMERICAN ASSOCIATION OF TISSUE BANKS, 2002; 
ABTO, 2009). 
Só deve dar início aos procedimentos de preservação dos órgãos e 
suspender as manobras de ressuscitação quando tiver a declaração de morte do 
doador, e além disso, as equipes precisam ser distintas e independentes 
(ABTO, 2009). 
Obedecendo aos princípios éticos e da legislação vigente, para 
utilização de órgãos e tecidos de pacientes com coração parado deve-se seguir 
critérios rígidos na seleção do doador como ter idade entre 18-55 anos, e os 
mesmos critérios de um doador em morte encefálica (ABTO, 2009). 
O procedimento de retirada de órgãos com coração parado inicia-se 
após o diagnóstico de morte encefálica por parte da equipe responsável pelo 
paciente, e em cujo caso o cadáver é considerado um potencial doador, e para 
que isso ocorra de modo efetivo, é preciso avaliar o tempo de isquemia quente, 
devendo ser inferior a 30 minutos (a contar do início das manobras de 
ressuscitação efetivas) e até 6 horas para doador de tecidos, e o tempo 
transcorrido desde o início das manobras até o início da perfusão fria (ABTO, 
2009). 
Os métodos utilizados para resfriamento são divididos em perfusão in 
situ (cateter femoral, cateter duplo balonete, tripla luz). Com ou sem resfriamento 
peritoneal e resfriamento corporal total (“bypass” cardiopulmonar), ainda, para a 
preservação dos órgãos, alguns estudos recentes têm introduzido a utilização de 
máquinas de perfusão pulsátil (ABTO, 2009). 
 
RETIRADA DE TECIDOS 
31 
 
 
Os tecidos humanos utilizados para transplante são córnea, esclera, 
osso, cartilagem, tendão, menisco, fáscia, valva, pele, vasos e membrana 
amniótica. Para obtenção de qualidade no aproveitamento desses tecidos é 
preciso excelência na técnica de retirada, no processamento, na distribuição e no 
rastreamento dos tecidos, sendo de extrema importância seguir os critérios 
estabelecidos. Ademais, é possível a estocagem em bancos, diferentemente do 
transplante de órgãos (ABTO, 2009). 
Os bancos são responsáveis por aceitar ou recusar os tecidos do 
potencial doador e pela decisão final na disponibilização de seus tecidos para 
transplante, então é feito uma avaliação de parâmetros gerais dos dados 
constantes contidos no prontuário do doador demonstrado na tabela a seguir 
(ABTO, 2009). 
 
Fonte: Diretrizes Básicas para Captação e Retirada de Múltiplos Órgão 
e Tecidos (2009). 
 
Existem contraindicações absolutas como infecções sistêmicas, 
tatuagens, sinais de uso de adereços corporais e/ou maquilagem definitiva, cuja 
data de execução ou retoque não possam ser determinados, ou que ocorreram 
32 
 
 
num prazo inferior a 12 meses, cicatrizes traumáticas ou cirúrgicas de origem 
desconhecida anteriores à retirada, lesões e secreções sugestivas de doenças 
sexualmente transmissíveis na genitália ou região perianal, lesões puntiformes 
causadas por agulhas sugestivas ao uso de produtos químicos ilícitos, icterícia, 
hepatomegalia, linfadenopatia difusa, lesões cutâneas violáceas sugestivas de 
sarcoma de Kaposi, transfusão de sangue ou hemocomponentes para tecidos 
musculoesqueléticos e pele (ABTO, 2009). 
Também existem outras contraindicações, que são relativas e devem 
ser decisão do banco de tecidos. Na pele, infecção cutânea disseminada, 
queimaduras e abrasões em áreas extensas, nos ossos, presença de fratura 
exposta, traumatismos abertos, na valva cardíaca, cicatriz de toracotomia, 
ferimento cardíaco perfurante e na córnea, opacidade ou perda de transparência 
corneana por má oclusão (ABTO, 2009). 
O ambiente de retirada deve ocorrer preferencialmente em ambientes 
cirúrgicos, exceto as córneas. A técnica utilizada é asséptica e a equipe sendo 
composta por técnicos na área da saúde e a priori deverá contar com a presença 
de profissional médico como responsável. A ordem de retirada de tecidos deve 
obedecer a fatores técnicos relacionados à qualidade e tempo máximo para o 
início do processamento. Primeiramente os tecidos intratorácicos (valvas, 
pericárdio, cartilagem e arco costal), depois pele e tecidos musculoesqueléticos 
(vasos, tecido osteofasciocondral). Já a córnea pode ser retirada concomitante 
ou não aos outros tecidos (ABTO, 2009). 
 
ACONDICIONAMENTO E ARMAZENAMENTO DOS TECIDOS 
Os enxertos vasculares (artérias e veias) devem ser armazenados em 
frascos estéreis com solução de preservação à 4°C. A córnea, após enucleação, 
deve ser colocado em câmara úmida, em frasco forrado com gaze umedecida 
em solução salina. O globo ocular é irrigado com solução salina e antibiótico 
(cloranfenicol) e conservado em geladeira a 4°C. Já os demais tecidos devem 
ser acondicionados em embalagens estéreis, duplas ou triplas (osso), que 
previnam contaminação dos conteúdos durante o transporte até o banco, sendo 
mantidos em caixas térmicas que assegurem a temperatura de 4°C. Deve-se 
33 
 
 
levar em consideração que é proibido adicionar gelo moído estéril ao saco 
contendo solução de conservação e enxerto (ABTO, 2009). 
 
FECHAMENTO DO DOADOR 
Após a realização da cirurgia de retirada dos órgãos e tecidos e a 
reconstituição apropriada do corpo, é feita a liberação do corpo de acordo com o 
protocolo da instituição. No caso de morte por causas externas, o corpo deve ser 
encaminhado para o Instituto Médico Legal (IML), que emitirá o atestado de óbito 
e nos casos de morte natural, a declaração de óbito é emitida pela equipemédica do hospital onde ocorreu o diagnóstico de morte encefálica e entregue 
aos familiares conforme a rotina do hospital (MOURA, 2014). 
A família é informada quanto a possibilidade de atrasos, sobre o tempo 
de cirurgia necessário para a extração dos órgãos e sobre o encaminhamento do 
corpo ao Instituto Médico Legal (IML), nos casos de morte traumática. A 
sensação de impotência, diante da única perspectiva “esperar” pela liberação do 
corpo, causa estresse na família, por isso é preciso que alguém acompanhe a 
família prestando todas as informações em relação às etapas da doação e 
além do apoio familiar (SANTOS, MASSAROLLO, 2005). 
 
1.7 ALOCAÇÃO 
A alocação dos órgãos e tecidos é de responsabilidade da Central de 
Transplantes do Estado, onde estão armazenadas as listas de espera. Os 
critérios para a alocação são determinados pelo Sistema Nacional de 
Transplante, através de portarias ministeriais. Os critérios para a alocação são 
específicos para cada órgão ou tecidos, e baseiam-se principalmente na 
gravidade, na compatibilidade imunológica e no tempo de espera. São também 
importantes as compatibilidades de peso (alocação de coração) e de diâmetro da 
caixa torácica (alocação de coração) (GARCIA, ​et al​, 2017) 
 
1.8 TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS 
O Brasil é referência mundial na área de transplantes e possui o maior 
sistema público de transplantes do mundo. Atualmente, cerca de 96% dos 
procedimentos de todo o País são financiados pelo Sistema Único de Saúde 
34 
 
 
(SUS). Em números absolutos, o Brasil é o 2º maior transplantador do mundo, 
atrás apenas dos EUA. Os pacientes recebem assistência integral e gratuita, 
incluindo exames preparatórios, cirurgia, acompanhamento e medicamentos 
pós-transplante, pela rede pública de saúde (BRASIL, 2019) 
Dados mostram que desde 2012, no Brasil, há um crescimento da 
evolução anual dos doadores efetivos por milhão de população (pmp). Vê-se que 
em 2019 essa taxa de doadores efetivos cresceu 6,5% no ano, atingindo 18,1 
pmp. Esse acréscimo foi decorrente do aumento de 5,2% na taxa de potenciais 
doadores em morte encefálica. Um fato positivo foi o aumento de 7,1% na taxa 
de autorização familiar, que, pela primeira vez, atingiu 60%. Outro aspecto 
interessante de ser salientado, é que nos últimos cinco anos, a taxa de doadores 
falecidos com idade > 65 anos passou de 8% para 13% (aumento de 62,5%) e a 
de doadores pediátricos passou de 8% para 6% (diminuição de 25%) (ABTO, 
2019). 
Em contrapartida, 2020, por conta da pandemia, tem sido um ano 
difícil, mas de janeiro a setembro vem apresentando uma recuperação gradual. 
Dados mostram que a taxa de doadores efetivos, que foi de 18,4 pmp no 
primeiro trimestre, caiu para 13,3 pmp no segundo trimestre, fechando o 
semestre com 15,8 pmp e, até setembro, havia sido de 14,6 pmp, obtendo, 
nesses três trimestres, 15,5 pmp o que nos leva a prever uma taxa, neste ano, 
um pouco abaixo de 16,5 pmp, em torno de 10% abaixo da taxa de 2019. A taxa 
de notificação de potenciais doadores (49,1 pmp) diminuiu 10%, enquanto que 
houve melhora de 8% na taxa de não autorização familiar, que passou de 40% 
para 37% (ABTO,2020). 
O transplante é um procedimento cirúrgico que consiste na reposição 
de um órgão (coração, pulmão, rim, pâncreas, fígado) ou tecido (medula óssea, 
ossos, córneas) de uma pessoa doente (receptor), por outro órgão ou tecido 
normal de um doador vivo ou morto (GARCIA, ​et al​, 2017) 
O doador vivo pode ser qualquer pessoa que concorde com a doação, 
desde que não prejudique sua própria saúde. De acordo com a Lei 9.434/97, 
qualquer pessoa é juridicamente capaz de ​dispor gratuitamente de tecidos, 
órgãos e partes do próprio corpo vivo, para fins terapêuticos ou para transplantes 
em cônjuge ou parentes consangüíneos até o quarto grau. Não parentes podem 
35 
 
 
fazer a doação, porém, mediante autorização judicial. Dessa forma, o doador 
vivo pode doar um dos rins, parte do fígado, parte da medula óssea ou parte do 
pulmão ​(GARCIA, ​et al​, 2017) 
Por sua vez, há dois tipos de doadores falecidos. Há aqueles que 
faleceram após morte cerebral constatada raramente, tecidos de uma espécie 
diferente, como um de porcos segundo critérios da legislação e que não tenha 
sofrido parada cardiorrespiratória. Nessa condição, o doador pode doar coração, 
pulmões, fígado, rins, pâncreas, intestino, córnea, vasos, pele, ossos e tendões. 
No entanto, quando se tem um doador falecido por parada cardiorrespiratória, 
ele pode doar apenas tecidos para transplante (córneas, vasos, pele, ossos e 
tendões) (BRASIL, 2019) 
Além disso, os transplantes podem consistir de serem tecidos da 
própria pessoa (autotransplante); tecidos de um gêmeo idêntico cujos genes são 
extremamentes iguais aos da pessoa (isotransplante); tecidos de alguém cujos 
genes não são exatamentes iguais aos da pessoa (alotransplante) e, 
(xenotransplante) (HERTL, 2018). 
Em relação ao doador morto, vê-se que o processo doação-transplante 
é um procedimento médico composto por uma série de passos ordenados de 
forma precisa, que transforma os órgãos de uma pessoa falecida em órgãos 
suscetíveis de serem transplantados. Inicia-se com a identificação de um 
potencial doador e finaliza com o transplante ou armazenamento dos diferentes 
órgãos ou tecidos removidos (GARCIA, ​et al​, 2017). 
Dessa forma, quando a família autoriza a doação, a Organização de 
Procura de Órgãos e Tecidos (OPO) informa a viabilidade do doador à Central 
de Notificação Captação e Distribuição de Órgãos e Tecidos (CNCDO), que 
realiza a distribuição dos órgãos, indicando a equipe transplantadora 
responsável pela retirada e implante do órgão ou tecido. A OPO tem o papel de 
coordenação supra-hospitalar, responsável por organizar e apoiar, no âmbito de 
sua atuação, as atividades relacionadas ao processo de doação de órgãos e 
tecidos, a manutenção de possível doador, a identificação e a busca de soluções 
para as fragilidades do processo, a construção de parcerias, o desenvolvimento 
de atividades de trabalho e a capacitação para identificação e efetivação da 
doação de órgãos ou tecidos (BRASIL, 2019) 
36 
 
 
A OPO tem como objetivo exercer atividades de identificação, 
manutenção e captação de potenciais doadores para fins de transplantes de 
órgãos e tecidos no âmbito de sua atuação. O profissional da OPO realiza 
avaliação das condições clínicas do possível doador, da viabilidade dos órgãos a 
serem extraídos e faz entrevista para solicitar o consentimento familiar da 
doação dos órgãos e tecidos (BRASIL, 2019). 
O hospital notifica a Central de Transplantes sobre um indivíduo em 
morte encefálica (potencial doador). A central pede a confirmação do diagnóstico 
da morte encefálica. Uma vez confirmada, é feita avaliação clínica e laboratorial 
do potencial doador. 
A avaliação clínica refere-se a realização do exame físico. E este deve 
contar com medidas antropométricas, como peso e altura, para todos os 
potenciais doadores, assim como a medida da circunferência torácica a nível do 
mamilo, especialmente

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