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DESCRIÇÃO A elaboração de editais, com enfoque no regime previsto na nova Lei de Licitações e Contratos – Lei nº 14.133/2021, adentrando aspectos relacionados aos tipos e às modalidades de licitação. PROPÓSITO Conhecer o conteúdo obrigatório e facultativo do edital de licitação, por meio dos dispositivos pertinentes (Lei 14.133/2021, arts. 25 e ss.), além de analisar os editais de chamamento público de instrumentos auxiliares à licitação (Capítulo X da Lei 14.133/2021). PREPARAÇÃO Antes de iniciar o conteúdo, tenha em mãos a Lei nº 14.133/2021, para que haja a devida compreensão do texto. OBJETIVOS MÓDULO 1 Descrever os conceitos e elementos próprios aos editais de licitações dos contratos administrativos MÓDULO 2 Identificar o papel do registro de preços e a essência da elaboração do edital de chamamento público INTRODUÇÃO Falaremos sobre a elaboração dos editais de licitação e de procedimentos auxiliares, sob as luzes da nova Lei de Licitações e Contratos (Lei nº 14.133/2021). A nova lei estabelece normas gerais sobre licitação e contratos administrativos aplicáveis aos Três Poderes, a toda Administração Pública direta, autárquica e fundacional de todos os entes da Federação, incluindo os Fundos Especiais e as Entidades Controladas. Porém, as empresas públicas e sociedades de economia mista continuarão organizando suas licitações pela Lei nº 13.303/2016, uma vez que adotam o regime híbrido. Serão aplicáveis às estatais apenas as disposições penais trazidas pelo novo marco legal. Podemos inferir, ainda, que os novos princípios também serão aplicáveis às estatais, uma vez que estes não interferem no regime híbrido. Na mesma linha, a nova Lei de Licitações não se aplica ao terceiro setor, inclusive aos Serviços Sociais Autônomos, podendo, contudo, estender-lhes princípios gerais, no tocante à impessoalidade e moralidade quando do repasse de recursos públicos. Abordaremos o tema da elaboração de editais, com alusão pontual à Lei nº 8.666/93, dando enfoque ao regime licitatório previsto na Lei 14.133/2021. De início, nosso estudo versará sobre o conteúdo de um edital licitatório, a ser replicado na minuta do contrato firmado, tais como o critério de julgamento e a modalidade de licitação, pelo que remontamos aos dispositivos pertinentes ao tema (Lei 14.133/2021, arts. 25 e ss.). Em seguida, abordaremos assuntos ligados à função regulatória da licitação, demonstrando a existência de elementos facultativos, a serem objeto do edital. Por fim, faremos uma análise acerca dos editais de chamamento público, estudando instrumentos auxiliares à licitação (Capítulo X da Lei 14.133/2021). São eles: o credenciamento, a pré-qualificação, o registro cadastral, o procedimento de manifestação de interesse (PMI) e, ainda, o sistema de registro de preços ― o chamado SRP, ao qual daremos especial relevância. MÓDULO 1 Descrever os conceitos e elementos próprios aos editais de licitações dos contratos administrativos O CONTEÚDO INTEGRANTE DO EDITAL LICITATÓRIO - LEI Nº 14.133/2021 O edital será elaborado na fase preparatória da licitação e deverá especificar o objeto da licitação, além de trazer as regras relativas à convocação, ao julgamento, à habilitação, aos recursos e às penalidades da licitação, à fiscalização e à gestão do contrato, à entrega do objeto e às condições de pagamento (art. 25), sendo certo que todo contrato deverá prever “a vinculação ao edital de licitação e à proposta do licitante vencedor ou ao ato que tiver autorizado a contratação direta e à respectiva proposta” (art. 92, II). FASE PREPARATÓRIA DA LICITAÇÃO A lei dedicou um capítulo próprio para a fase preparatória da licitação (arts. 18 a 27), antiga fase interna. Ela é caracterizada pelo planejamento. Nela, compreende-se a elaboração do edital de licitação, além da estimativa da composição dos preços utilizados para a formação do orçamento, que deve ser feita pela Administração Pública (art. 18, inciso IV). A primeira fase do planejamento consistirá no estudo técnico preliminar. Tal estudo motiva a necessidade da licitação, e também baseará o anteprojeto, o termo de referência e/ou projeto básico. Também deixa claro que problema a Administração visa sanar, bem como a melhor solução para tal, permitindo a avaliação da viabilidade técnica e econômica da contratação (art. 6º, XX). Entenda os três pontos em que o estudo técnico preliminar de uma licitação será baseado: Imagem: Shutterstock.com ANTEPROJETO Elaborado pela Administração pública quando o regime de execução indireta de obras e serviços de engenharia for o de contratação integrada. Trata-se de uma peça técnica, onde estão fixados os parâmetros e as informações necessárias para a confecção dos projetos básico e executivo, que ficarão a cargo do vencedor da disputa, tais como demanda do público-alvo, condições de solidez, de segurança e de durabilidade, prazo de entrega, estética do projeto arquitetônico entre outras (art. 6º, XXIV). Imagem: Shutterstock.com TERMO DE REFERÊNCIA É o documento necessário para a contratação de bens e serviços, que deve conter parâmetros e elementos descritivos tais como definição do objeto, incluídos sua natureza, os quantitativos, o prazo do contrato e, se for o caso, a possibilidade de sua prorrogação, fundamentação da contratação, descrição da solução como um todo, forma e critérios de seleção do fornecedor etc. (art. 6º, XXIII). Imagem: Shutterstock.com PROJETO BÁSICO Conjunto de elementos necessários e suficientes, com nível de precisão adequado para definir e dimensionar a obra ou o serviço, ou o complexo de obras ou de serviços objeto da licitação, elaborado com base nas indicações dos estudos técnicos preliminares, que assegure a viabilidade técnica e o adequado tratamento do impacto ambiental do empreendimento e que possibilite a avaliação do custo da obra e a definição dos métodos e do prazo de execução, devendo conter elementos tais como levantamentos topográficos e cadastrais, soluções técnicas globais e localizadas, identificação dos tipos de serviços a executar e dos materiais e equipamentos a incorporar à obra, bem como das suas especificações, orçamento detalhado do custo global da obra (art. 6º, XXV, c/c art. 46, §§ 2º, 3º e 5º). Todos os elementos do edital, incluídos minuta de contrato, termos de referência, anteprojeto, projetos e outros anexos, serão divulgados em meio eletrônico na mesma data de divulgação do edital, sem necessidade de registro ou de identificação para acesso. A regra continua sendo da publicidade, mas há uma exceção, quando o sigilo for imprescindível à segurança da sociedade e do Estado. A nova lei traz também as situações em que a publicidade é diferida, ou seja, a publicidade só ocorrerá após um certo marco. As situações são as seguintes: Imagem: Shutterstock.com QUANTO AO CONTEÚDO DAS PROPOSTAS, ATÉ A RESPECTIVA ABERTURA O conteúdo das propostas só é divulgado após a abertura da sessão, para manter o caráter competitivo da licitação. A Lei 8.666/93 chama essa situação de sigilo das propostas. Imagem: Shutterstock.com QUANTO AO ORÇAMENTO DA ADMINISTRAÇÃO, DESDE QUE JUSTIFICADO O sigilo do orçamento é exceção, só pode ocorrer quando houver uma justificativa. O sigilo do orçamento não é permanente, ele deve ser divulgado na abertura da sessão. A publicidade do edital de licitação, obrigatoriamente, será realizada mediante divulgação e manutenção do inteiro teor do ato convocatório e de seus anexos no Portal Nacional de Contratações Públicas (PNCP). Será facultativa, por sua vez, a divulgação no sítio eletrônico oficial do ente federativo do órgão responsável pela licitação ou, no caso de consórcio público, do ente de maior nível entre eles. PORTAL NACIONAL DE CONTRATAÇÕES PÚBLICAS A regra para todos os procedimentos de contratação passa a ser a contratação eletrônica, possível em todas as modalidades de licitação. Nos termos do § 2º do art. 17, “as licitações serão realizadas preferencialmente sob a formaeletrônica”. O uso da forma presencial será possível quando o Poder Público apresentar essa opção de forma motivada e desde que registre a sessão pública em ata e grave o referido ato com a utilização de recursos tecnológicos de áudio e vídeo (art. 17, § 2º e § 5º). A criação do Portal Nacional de Contratações Públicas assegurou a transparência nas contratações em toda a Administração, de todos os entes da Federação. Ele concentrará todas as licitações dos órgãos e das entidades da Administração direta, autárquica e fundacional da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios. O PL pretende que o Portal seja uma plataforma para os procedimentos licitatórios e a realização das licitações, cuja adesão será facultativa (art. 174). ATENÇÃO A divulgação no Portal Nacional de Contratações Públicas (PNCP) é condição indispensável para a eficácia do contrato e de seus aditamentos, nos termos do §2º do art. 94. Os contratos e seus aditamentos devem ser divulgados no PNCP, a contar da data da assinatura, nos seguintes prazos: A) No caso de licitação: Em 20 dias úteis. B) No caso de contratação direta: Em 10 dias úteis. VEJAMOS A REDAÇÃO DO REFERIDO DISPOSITIVO LEGAL Art. 94. A divulgação no Portal Nacional de Contratações Públicas (PNCP) é condição indispensável para a eficácia do contrato e de seus aditamentos e deverá ocorrer nos seguintes prazos, contados da data de sua assinatura: I - 20 (vinte) dias úteis, no caso de licitação; II - 10 (dez) dias úteis, no caso de contratação direta. § 1º Os contratos celebrados em caso de urgência terão eficácia a partir de sua assinatura e deverão ser publicados nos prazos previstos nos incisos I e II do caput deste artigo, sob pena de nulidade. § 2º A divulgação de que trata o caput deste artigo, quando referente à contratação de profissional do setor artístico por inexigibilidade, deverá identificar os custos do cachê do artista, dos músicos ou da banda, quando houver, do transporte, da hospedagem, da infraestrutura, da logística do evento e das demais despesas específicas. § 3º No caso de obras, a Administração divulgará em sítio eletrônico oficial, em até 25 (vinte e cinco) dias úteis após a assinatura do contrato, os quantitativos e os preços unitários e totais que contratar e, em até 45 (quarenta e cinco) dias úteis após a conclusão do contrato, os quantitativos executados e os preços praticados. PROJETO EXECUTIVO O projeto executivo para obra deve ser completo, trazendo os elementos necessários e suficientes à execução completa da obra, com o detalhamento das soluções previstas no projeto básico, a identificação de serviços, de materiais e de equipamentos a serem incorporados à obra, bem como suas especificações técnicas, de acordo com as normas técnicas pertinentes, para a definição de preços, entre outros. REGRA Não é possível a realização de obras e serviços de engenharia sem projeto executivo. EXCEÇÃO É permitida a realização de obras e serviços de engenharia sem o projeto executivo na hipótese do §3º do art. 18, “Em se tratando de estudo técnico preliminar para contratação de obras e serviços comuns de engenharia, se demonstrada a inexistência de prejuízo para a aferição dos padrões de desempenho e qualidade almejados, a especificação do objeto poderá ser realizada apenas em termo de referência ou em projeto básico, dispensada a elaboração de projetos”. EDITAL E OUTROS INSTRUMENTOS DA LICITAÇÃO No vídeo a seguir, a professora Fernanda Morgan trata do conteúdo do edital e explica os demais instrumentos correlatos (termo de referência, anteprojeto, projeto básico e projeto executivo). MODALIDADES DE LICITAÇÃO A nova lei extingue as modalidades convite e tomada de preço. Permanecem a concorrência, pregão, concurso e leilão. Em contrapartida, surge uma nova modalidade: o diálogo competitivo, que, de certa forma, substitui o Regime Diferenciado de Contratações (RDC), que também deixa de existir. ATENÇÃO Uma mudança significativa: se hoje o que define a modalidade da licitação é o valor do contrato ou a natureza do objeto, usaremos apenas a natureza do objeto (art. 28). É proibida a criação de outras modalidades além daquelas previstas na Lei, assim como a combinação das modalidades existentes (art. 28, § 2º). PREGÃO (ART. 6º, XLI, C/C ART. 29) Torna-se obrigatório para bens e serviços comuns (com padrões de desempenho e qualidade objetivamente definidos por especificações usuais do mercado). Não poderá ser utilizado para licitar obras e serviços de engenharia. Usa os critérios de menor preço e maior desconto. CONCORRÊNCIA (ART. 6º, XXXVIII, C/C ART. 29) Contratação de serviços técnicos especializados de natureza predominantemente intelectual e obras e serviços de engenharia e arquitetura; de bens e demais serviços considerados especiais. Pode utilizar todos os critérios de julgamento, exceto maior lance. CONCURSO (ART. 6º, XXXIX, C/C ART. 30) Tal como na Lei nº 8.666/93, será utilizado para a escolha de trabalho técnico, científico ou artístico. Usa o critério de melhor técnica ou conteúdo artístico (art. 5º, XXXIX). LEILÃO (ART. 5º, XL, C/C ART. 31) Também sem grandes diferenças. Pode ser utilizado para a alienação de qualquer bem móvel e imóvel, independentemente do valor. Não há mais o limite máximo de valor para a realização do leilão, nem restrição sobre quais bens móveis e imóveis são sujeitos ao leilão. Agora, qualquer bem da Administração, móvel ou imóvel, poderá ser leiloado. Usa o critério de maior lance. DIÁLOGO COMPETITIVO (ART. 6º, XLII, C/C ART. 32) Esta é a nova modalidade trazida pela Lei, para a contratação de obras, serviços e compras, com escopo complexo. Os diálogos visam exatamente permitir que o mercado colabore com o Poder Público para que juntos elaborem alternativas capazes de atender à necessidade pública, bem como definam as regras do contrato. A Administração Pública realizará diálogos com licitantes, previamente selecionados mediante critérios objetivos, com o intuito de desenvolver uma ou mais alternativas capazes de atender às suas necessidades, devendo os licitantes apresentar suas propostas finais após o encerramento dos diálogos. Assim, só deverão ser utilizados objetos com alta para complexidade técnica, jurídica ou financeira. Por exemplo, a necessidade de desenvolvimento de um software ou de um aplicativo. Flávio Amaral Garcia e Egon Bockmann Moreira (2019, p. 26) esclarecem que “o diálogo competitivo foi concebido para conferir maior flexibilidade nas licitações públicas, nomeadamente naqueles contratos complexos que não comportam, a priori, soluções herméticas. A essência do diálogo competitivo é viabilizar, no curso do próprio procedimento licitatório, a construção da solução mais satisfatória para objetos demasiadamente complexos, seja pelas características técnicas, financeiras ou mesmo jurídicas. Como notório, existem determinados objetos que se notabilizam pelo elevado desnível informacional entre a Administração Pública e os operadores econômicos”. AS TRÊS FASES DO DIÁLOGO COMPETITIVO O diálogo competitivo se desdobra em três fases. Na primeira, haverá a qualificação técnica e econômico-financeira (similar à habilitação técnica e econômico-financeira da Lei nº 8.666/93) dos potenciais licitantes que pretendem apresentar suas sugestões de solução. A Lei 14.133/2021 adotou o conceito de formalismo moderado, inclusive dispondo que o desatendimento de exigências meramente formais que não comprometam a aferição da qualificação do licitante ou a compreensão do conteúdo de sua proposta não importará seu afastamento da licitação ou a invalidação do processo (art. 12, III). Assim, apenas poderão ser desclassificadas as propostas com vícios insanáveis (art. 59, inc. I e V). Posteriormente, ocorrerá o diálogo propriamente dito (fase dinâmica), em que a Administração debaterá com os licitantes as melhores propostas para seu projeto, bem como as adaptações indispensáveis ― em que cada um deles apresentará, individualmente,possíveis soluções e alternativas para o projeto da Administração. Na terceira e última fase (fase competitiva), será divulgado edital contendo a especificação da solução que atenda às suas necessidades e os critérios objetivos a serem utilizados para seleção da proposta mais vantajosa. Abre-se o prazo de no mínimo 60 (sessenta) dias úteis para que todos os licitantes pré-selecionados apresentem suas propostas, que deverão conter os elementos necessários para a realização do projeto ― ou seja, mesmo que apenas uma solução tenha agradado ao Poder Público na segunda etapa, o particular que a apresentou ainda não está contratado; ele deverá competir com os demais licitantes, tal como ocorre nas demais modalidades de licitação. Na última fase, a Administração poderá solicitar esclarecimentos ou ajustes às propostas apresentadas, desde que não impliquem discriminação nem distorçam a concorrência entre as propostas, e definirá a proposta vencedora de acordo com critérios divulgados no início da fase competitiva, assegurada a contratação mais vantajosa como resultado. Em razão de suas peculiaridades, o diálogo competitivo não será utilizado para qualquer situação. Apenas quando o objeto a ser contratado envolva inovação tecnológica ou técnica, impossibilidade de o órgão ou a entidade ter sua necessidade satisfeita sem a adaptação de soluções disponíveis no mercado e impossibilidade de as especificações técnicas serem definidas com precisão suficiente pela Administração. Foto: Shutterstock.com Na fase competitiva, a Administração fará o julgamento das propostas apresentadas pelos licitantes, usando um dos critérios previstos na Lei de Licitações (menor preço; maior desconto; melhor técnica ou conteúdo artístico; técnica e preço; maior retorno econômico). CRITÉRIOS DE JULGAMENTO A Lei de Licitações chama o critério de julgamento de “tipo de licitação”. A nova lei utiliza o termo critério de julgamento. Imagem: Shutterstock.com Os critérios de julgamento que já existiam e permanecerão existindo, de acordo com nova lei, são os seguintes: Menor preço; Técnica e preço; Maior lance, no caso de leilão (não é mais possível para a concorrência); As novidades, por sua vez, são: Imagem: Shutterstock.com MAIOR DESCONTO Este critério não está previsto na Lei 8.666/93, mas já era previsto na Lei do Pregão. Imagem: Shutterstock.com MELHOR TÉCNICA OU CONTEÚDO ARTÍSTICO Este critério é utilizado, via de regra, para o concurso, que na lei atual não possui critério de julgamento. Esse critério também poderá ser utilizado na concorrência, em casos específicos. Imagem: Shutterstock.com MAIOR RETORNO ECONÔMICO São os chamados contratos de eficiência, nos quais se contrata o serviço que vai gerar a maior economia para a Administração e o pagamento ocorre de acordo com um percentual economizado. A remuneração é variável de acordo com a eficiência do contrato. Em se tratando do critério de maior retorno econômico, o edital de licitação deverá prever parâmetros objetivos de mensuração da economia gerada com a execução do contrato, que servirá de base de cálculo para a remuneração devida ao contratado (art. 39, § 2º). O julgamento por maior retorno econômico deve ser utilizado exclusivamente para a celebração de contrato de eficiência, na modalidade concorrência, considerada a maior economia para a Administração, hipótese em que os licitantes apresentarão, necessariamente, proposta de trabalho e proposta de preço (§1º do art. 39). Já no julgamento por menor preço, maior desconto ou por técnica e preço será considerado o menor dispêndio para a Administração, atendidos os parâmetros mínimos de qualidade definidos no edital de licitação (art. 34). O julgamento por menor preço ou maior desconto considerará o menor dispêndio para a Administração, sendo que os custos indiretos, relacionados com as despesas de manutenção, utilização, reposição, depreciação e impacto ambiental do objeto licitado, podem ser considerados para fins de definição do menor dispêndio. O julgamento por maior desconto terá como referência o preço global fixado no edital de licitação, e o desconto será estendido aos eventuais termos aditivos (art. 34, § 2º). SEQUÊNCIA DE FASES NO PROCEDIMENTO LICITATÓRIO A lei fixa como regra a apresentação de propostas e lances antecedendo a fase de habilitação, em todas as modalidades licitatórias. Para todas as modalidades de licitação, a ordem das fases passa a ser a seguinte: preparatória; divulgação do edital de licitação; apresentação de propostas e lances, nos casos em que há lances; julgamento; habilitação; recursal; homologação (art. 17), somente se admitindo inversão de fases mediante justificativa e previsão no edital. O licitante vencedor será convocado para assinar o termo de contrato, para aceitar ou retirar o documento equivalente, dentro do prazo e nas condições previstas no edital de licitação. Caso não compareça, a Administração poderá convocar os licitantes remanescentes, na ordem de classificação, para a celebração do contrato nas condições propostas pelo licitante vencedor. Imagem: Shutterstock.com Consoante previsão do §2º do art. 90, duas observações são importantíssimas acerca do tema: 1. A Administração tem a faculdade de convocar os licitantes remanescentes ou não. 2. Os licitantes remanescentes, para celebração do contrato, deverão submeter-se às condições que foram propostas pelo licitante vencedor que não compareceu. Se no transcurso do prazo de convocação, o licitante requerer (devidamente justificado) e a Administração aceitar a justificativa, o prazo de convocação poderá ser prorrogado 1 (uma) vez, por igual período. De acordo com o §1º do art. 90, o licitante vencedor poderá solicitar a prorrogação do prazo apenas durante o transcurso do prazo originalmente concedido pela Administração, logo, findo o prazo originário, decairá o seu direito, sem prejuízo das demais sanções previstas na Lei. Já o licitante vencedor que não for convocado para a celebração do contrato durante o prazo de validade da proposta indicada no edital ficará liberado dos compromissos assumidos. PRAZO MÍNIMO PARA APRESENTAÇÃO DE PROPOSTAS E LANCES Regime / Modalidade Critérios de julgamento Prazos Aquisição de bens Menor preço ou de maior desconto (alínea “a”, do inciso I, do art. 55). Prazo mínimo para apresentação de propostas e lances, contados a partir da data de divulgação do edital de licitação, é de 8 (oito) dias úteis Aquisição de bens Caso o critério não seja o de menor preço ou de maior desconto 15 (quinze) dias úteis Serviços comuns e de obras e serviços comuns de engenharia Menor preço ou maior desconto 10 (dez) dias úteis Serviços especiais e de obras e serviços especiais de engenharia Menor preço ou de maior desconto 25 dias úteis Regime de execução de contratação X 60 dias úteis integrada Regime de execução de contratação semi-integrada X 35 dias úteis X Maior lance (leilão) 15 dias úteis X Técnica, preço, ou conteúdo artístico 35 dias úteis Modalidade do diálogo competitivo X Para manifestação de interesse, 25 dias úteis (previsto no art. 32, §1º, inciso I). X Para apresentação das propostas, 60 dias úteis (previsto no art. 32, §1º, inciso VIII). Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal MODOS DE DISPUTA DAS LICITAÇÕES De acordo com a Lei nº 14.133/2021, os modos de disputa das licitações são dois: o aberto e o fechado, os quais podem ser adotados isolada ou conjuntamente (art. 56). Imagem: Shutterstock.com ABERTO Os licitantes apresentam suas propostas por meio de lances públicos e sucessivos, crescentes ou decrescentes. Imagem: Shutterstock.com FECHADO As propostas permanecem em sigilo até a data e hora designadas para divulgação. É vedado o modo de disputa aberto quando for adotado o critério de julgamento técnica e preço, nos termos do §2º do art. 56. Cuidado para não confundir: As modalidades de licitação estão listadas no art.28. Em contrapartida, os modos de disputa estão no art. 56. Entenda a diferença: Modalidades de licitação Pregão, concorrência, concurso, leilão e diálogo competitivo. Modos de disputa das licitações Aberto e fechado. OUTROS ELEMENTOS OBRIGATÓRIOS DO EDITAL Nas contratações de obras, serviços e fornecimentos de grande vulto, o edital deverá prever a obrigatoriedade de implantação de programa de integridade pelo licitante vencedor, no prazo de 6 (seis) meses, contado da celebração do contrato (§ 4º do art. 25). Na licitação de serviços de manutenção e assistência técnica, o edital deve definir o local de realização dos serviços, podendo fazer exigência de deslocamento de técnico ao local da repartição, e pode exigir que o contratado tenha unidade de prestação de serviços em distância compatível com as necessidades da Administração (§2º do art. 47). Foto: Shutterstock.com ELEMENTOS FACULTATIVOS DO EDITAL O edital poderá prever a responsabilidade do contratado pela obtenção do licenciamento ambiental e realização da desapropriação autorizada pelo poder público (art. 25, § 5º). Similarmente, o edital poderá exigir que o percentual mínimo da mão de obra responsável pela execução do objeto da contratação seja constituído por mulheres vítimas de violência doméstica e pessoas egressas do sistema prisional (art. 25, § 9º). O USO DO BIM O art. 19, §3º, da nova lei, estabelece o uso preferencial do BIM (Building Information Modelling ou, em português, Modelagem da Informação da Construção) nos editais de licitações de obras e serviços de engenharia e arquitetura, sempre que adequada ao objeto da licitação. O Decreto Federal nº 10.306/2020 já estabelecia o uso do BIM na execução direta ou indireta de obras e serviços de engenharia realizados pelos órgãos e pelas entidades da administração pública federal, no âmbito da Estratégia Nacional de Disseminação do Building Information Modelling – Estratégia BIM BR. ATENÇÃO Também pode-se falar no princípio da cooperação, especificamente sobre a preferência de tramitação do licenciamento ambiental, em órgãos do SISNAMA, de obras e serviços de engenharia licitados e contratados. O BIM visa desenvolver um modelo virtual do empreendimento que será construído, que pode ser alimentado não só com parâmetros geométricos, técnicos e de escala, mas também com os valores dos materiais, maquinário e mão de obra necessários, gerando um protótipo/maquete virtual da obra, inclusive com o uso de tecnologia 3D. Assim, as construtoras podem apresentar uma estimativa de orçamento mais precisa, bem como uma previsão dos possíveis riscos. A tecnologia pode ser utilizada em todas as etapas de uma obra, inclusive após a ocupação do prédio, prevendo, inclusive, como a obra reagirá aos efeitos do tempo, quais reformas serão necessárias e como deverão ser feitas. O modelo computacional também permite a partilha de informações entre engenheiros, arquitetos, economistas e administradores, permitindo a redução de custos, melhor atendimento às expectativas da sociedade e, consequentemente, redução da edição de aditivos contratuais. Imagem: Shutterstock.com FUNÇÃO REGULATÓRIA DA LICITAÇÃO A função regulatória ou extraeconômica já era defendida por Marcos Juruena Villela Souto (2005) e, certamente, influenciou o conceito de licitações sustentáveis, já adotado pela antiga Lei nº 8.666/93 e mantido pela nova como princípio. Também foi reconhecida pelo STF na ADI 1923. Sendo o Poder Público detentor de parcela significativa do PIB e um dos maiores compradores, suas decisões de aquisição de bens e serviços (sempre em considerável volume) podem influenciar as atitudes do empresariado e da sociedade. As compras públicas se transformam em instrumento para a indução de comportamentos desejáveis, um sistema de fomento que equilibra, de forma pouco invasiva, a liberdade do particular com o atendimento de anseios da Administração e da sociedade, visando à promoção de políticas públicas. Assim a Administração poderá considerar como proposta mais vantajosa não só a que possui menor preço, mas a que também atende a valores constitucionais e à dignidade da pessoa humana. E o particular que não seguir o marco regulatório imposto pela licitação será excluído como potencial fornecedor. Como denotativo da função regulatória da licitação, a lei permite que o edital exija que o percentual mínimo da mão de obra responsável pela execução do objeto da contratação seja constituído por egressos do sistema prisional e por mulheres vítimas de violência doméstica (art. 25, § 9º). Há também uma preocupação com o combate da corrupção, por meio da adoção de medidas de compliance: o art. 25, § 4º, impõe que nas contratações de obras, serviços e fornecimentos de grande vulto, o edital deverá prever a obrigatoriedade de implantação de programa de integridade pelo licitante vencedor, no prazo de 6 (seis) meses, contado da celebração do contrato, conforme regulamento que disporá sobre as medidas a serem adotadas, a forma de comprovação e as penalidades pelo seu descumprimento. Foto: Shutterstock.com VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. RELATIVAMENTE AO CONTEÚDO DO EDITAL DAS LICITAÇÕES PÚBLICAS E DA FUNÇÃO REGULATÓRIA DA LICITAÇÃO, MARQUE A ALTERNATIVA CORRETA A SEGUIR: A) A função regulatória da licitação não pode ser explicitada em cláusulas de editais, por falta de autorizativo legal, segundo entendimento esposado pelo STF. B) O edital de uma licitação poderá exigir que o percentual mínimo da mão de obra responsável pela execução do objeto da contratação seja constituído por mulheres vítimas de violência doméstica. C) Fica a Administração impedida de considerar, como proposta mais vantajosa, aquela que atende a valores constitucionais e à dignidade da pessoa humana. D) O particular que não seguir o marco regulatório imposto pelas cláusulas do edital de uma licitação, ainda assim, será admitido como potencial fornecedor. E) O edital licitatório nunca deverá prever a obrigatoriedade de implantação de programa de integridade pelo licitante vencedor. 2. A MODALIDADE DE LICITAÇÃO É CONTEÚDO OBRIGATÓRIO DO EDITAL. ACERCA DESSA TEMÁTICA, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA A SEGUIR: A) A modalidade de licitação do pregão deixa de existir com a nova lei. B) As modalidades de licitação da concorrência e do leilão foram substituídas pelo diálogo competitivo. C) São duas as modalidades de licitação: aberta ou fechada. D) A única modalidade de licitação permitida para o leilão é a modalidade fechada, segundo a qual as propostas permanecem em sigilo até a data e hora designadas para divulgação. E) A modalidade do diálogo competitivo tem três fases. GABARITO 1. Relativamente ao conteúdo do edital das licitações públicas e da função regulatória da licitação, marque a alternativa correta a seguir: A alternativa "B " está correta. A função regulatória ou extraeconômica influenciou o conceito de licitações sustentáveis, adotado pela lei como princípio. A lei permite que o edital exija que o percentual mínimo da mão de obra responsável pela execução do objeto da contratação seja constituído por egressos do sistema prisional e por mulheres vítimas de violência doméstica (art. 25, § 9º). Ademais, pela função regulatória, a Administração poderá considerar como proposta mais vantajosa não só a que possui menor preço, mas a que também atende a valores constitucionais e à dignidade da pessoa humana. E o particular que não seguir o marco regulatório imposto pela licitação será excluído como potencial fornecedor. 2. A modalidade de licitação é conteúdo obrigatório do edital. Acerca dessa temática, assinale a alternativa correta a seguir: A alternativa "E " está correta. As modalidades de licitação estão listadas no art. 28, quais sejam: pregão, concorrência, concurso, leilão e diálogo competitivo (este último tem três fases; portanto, está correta a alternativa E). Em contrapartida, note-se que os modos de disputa estão dispostos no art. 56 da novalei, e são dois: A) aberto: licitantes apresentam suas propostas por meio de lances públicos e sucessivos, crescentes ou decrescentes. B) fechado: as propostas permanecem em sigilo até a data e hora designadas para divulgação. MÓDULO 2 Identificar o papel do registro de preços e a essência da elaboração do edital de chamamento público REGISTRO DE PREÇOS O sistema de registro de preços, ao que pressupõe edital de chamamento público, é procedimento AUXILIAR À LICITAÇÃO. Tais procedimentos, de modo geral, são ferramentas que ajudam a conferir racionalidade e eficiência às licitações, trazendo para os processos licitatórios maior racionalidade, celeridade e eficiência. Isso é muito interessante, já que vivemos um momento de direito administrativo moderno, de uma administração pública que busca concretizar resultados; não apenas uma administração pública burocrática; então, as licitações seguem tendência de diminuir a burocratização, que, infelizmente, é uma marca dos processos licitatórios. Inclusive, era uma crítica muito forte feita pela doutrina, em relação ao regime anterior, e à Lei nº 8.666/93, em especial, por ser uma lei extremamente formalista e que se baseou num paradigma maximalista, pretendendo tratar de uma forma quase que exauriente de todos os pormenores de uma licitação. A doutrina já vinha pugnando por uma lei que trouxesse diretrizes para o administrador público, que aumentasse a liberdade do administrador público para que ele na prática pudesse resolver problemas do cotidiano com uma autonomia técnico-decisional maior. Mas não foi isso que aconteceu. A nova lei é até mais extensa do que a anterior. Ela não só reproduz a estrutura anterior, mas também faz compilação da Lei do Pregão e do RDC. Então, ela não só manteve, como também reforçou o paradigma maximalista. Os procedimentos auxiliares, contudo, são um ponto alto da nova lei. Eles estão previstos no art. 78, e são eles: o credenciamento, a pré- qualificação, o sistema cadastral, o PMI e o sistema de registro de preços, no qual enfocaremos a seguir. CREDENCIAMENTO Processo administrativo de chamamento público em que a Administração Pública convoca interessados em prestar serviços ou fornecer bens para que, preenchidos os requisitos necessários, se credenciem no órgão ou na entidade para executar o objeto quando convocados, visando otimizar as contratações diretas por inexigibilidade (art. 78). Caberá ao Poder Público fixar o preço e realizar a publicidade por instrumento de chamamento público para inclusão de novos interessados. Consoante o inciso I, parágrafo único, do art. 79, a Administração deverá divulgar e manter à disposição do público (e não somente dos previamente cadastrados), em sítio eletrônico oficial, o edital de chamamento de interessados, de modo a permitir o cadastramento permanente (e não temporário) de novos interessados. Imagem: Shutterstock.com PRÉ-QUALIFICAÇÃO Visa antecipar a apreciação dos documentos necessários à qualificação do licitante e/ou do seu produto. É realizada antes da licitação e poderá ser utilizada para qualquer uma das modalidades (art. 79). Nos termos do §3º do art. 80 da Lei, “quanto ao procedimento de pré-qualificação, constarão do edital: I - as informações mínimas necessárias para definição do objeto; II - a modalidade, a forma da futura licitação e os critérios de julgamento”. Veja-se que a licitação posterior ao procedimento da pré-qualificação poderá ser restrita a licitantes ou bens pré-qualificados (§10 do art. 80), sendo o prazo de validade da pré-qualificação de, no máximo, um ano, sujeito à atualização a qualquer tempo; contanto que não seja superior ao prazo de validade dos documentos apresentados pelos interessados. EXEMPLO Se os documentos apresentados tiverem validade de seis meses, o prazo da pré-qualificação não poderá ser de um ano, mas, sim, de seis meses. REGISTRO CADASTRAL O Poder Público mantém um registro do histórico de performance e de reputação dos particulares que já contratou, possibilitando, inclusive, conferir incentivos aos com bom desempenho (art. 86). O chamamento público, realizado pela internet, no mínimo anualmente, tem como objetivo a atualização dos registros existentes e o ingresso de novos interessados. ATENÇÃO Como se vê, nos termos do caput do art. 87, o cadastro unificado de licitantes é realizado por intermédio do “sistema de registro cadastral unificado disponível no Portal Nacional de Contratações Públicas (PNCP)”. Poderá ser alterado, suspenso e até mesmo cancelado, a qualquer tempo, caso deixe de satisfazer exigências determinadas pela lei ou por regulamento (§5º do art. 88). Observe-se que, de acordo com o §3º do art. 87, a Administração pode realizar licitação restrita a fornecedores cadastrados, desde que atendidos os critérios, as condições e os limites estabelecidos em regulamento, bem como seja conferida ampla publicidade aos procedimentos para o cadastramento. PROCEDIMENTO DE MANIFESTAÇÃO DE INTERESSE (PMI) O PMI se inicia com o edital de chamamento público, que inicia o PMI. É útil especialmente para a avaliação de projetos que envolvam novas tecnologias e que serão desenvolvidos em entes federativos que não possuem corpo técnico especializado para a sua avaliação. A Administração poderá solicitar que empresas privadas interessadas realizem os estudos necessários e façam os projetos para obras ou concorrências. Estas serão remuneradas pelos vencedores da licitação, que pagarão pelo projeto após o término da disputa. A própria empresa que elaborou o PMI poderá participar da licitação para a obra/concorrência (art. 80). Imagem: Shutterstock.com O Procedimento de Manifestação de Interesse – PMI – poderá ser restrito a startups, assim considerados os microempreendedores individuais, as microempresas e as empresas de pequeno porte, de natureza emergente e com grande potencial, que se dediquem à pesquisa, ao desenvolvimento e à implementação de novos produtos ou serviços baseados em soluções tecnológicas inovadoras que possam causar alto impacto, exigida, na seleção definitiva da inovação, validação prévia fundamentada em métricas objetivas, de modo a demonstrar o atendimento das necessidades da Administração (art. 81, § 4º). Foto: Shutterstock.com A realização de PMI: A. Não atribui ao realizador o direito de preferência na licitação futura; B. Não obriga o poder público a realizar a licitação; C. Por si só, não implica direito a ressarcimento de valores envolvidos em sua elaboração; D. Será remunerado pelo vencedor da licitação, vedada, em qualquer hipótese, a cobrança de valores do poder público. SISTEMA DE REGISTRO DE PREÇOS (SRP) É um procedimento que visa registrar preços em ata, mediante edital de chamamento público. Ele efetiva princípios da eficiência e da economicidade, aproximando a Administração Pública do paradigma da busca por resultados, em detrimento da burocratização. No SRP, faz- se planejamento prévio, como forma de ganho de tempo e de economia de escala, evitando que a Administração Pública tenha de abrir diversas licitações para contratar a mesma obra ou serviço, o que provoca economia de escala. EXEMPLO Se em vez de 100 canetas, o Poder Público estimar a contratação de 100.000 canetas, haverá economia de escala, porque com aumento da produção, o custo médio de cada item é reduzido proporcionalmente à diluição dos seus custos fixos. REGRAS DO SISTEMA DE REGISTRO DE PREÇO (SRP) Nos termos do art. 82, o edital de registro de preços observará as regras gerais e deverá conter cláusulas versando sobre a quantidade mínima a ser cotada de unidades de bens ou, no caso de serviços, de unidades de medida. Excepcionalmente, é permitido registro de preços com indicação limitada a unidades de contratação, sendo prescindível a indicação do total a ser adquirido. REGRA O edital para registro de preço deve indicar o total a ser adquirido. EXCEÇÃO Em três situações é possível a indicação limitada a unidades de contratação,sem indicar o total a ser adquirido. Quando for a primeira licitação para o objeto e o órgão não tiver registro de demandas anteriores; No caso de alimento perecível; No caso em que o serviço estiver integrado ao fornecimento de bens. Obs.: nesses casos, é imprescindível a indicação do valor máximo da despesa, bem como é vedada a participação de outro órgão ou entidade na ata. O prazo de vigência da ata de registro de preço será de um ano e pode ser prorrogado por mais um ano, desde que o preço seja vantajoso, sendo certo que o órgão gerenciador da ata de registro de preços, na fase preparatória do processo licitatório, deverá realizar procedimento público, pelo prazo mínimo de 8 (oito) dias úteis, para possibilitar a participação de outros órgãos ou entidades da Administração Pública. O órgão ou a entidade não participante poderá, posteriormente, aderir à ata de registro de preços, desde que: justifique a vantagem em aderir à ata; demonstre que os valores registrados estão compatíveis com os valores de mercado; haja aceitação do órgão ou da entidade gerenciadora e também do fornecedor. Imagem: Shutterstock.com OBSERVAÇÃO 1 Cumpre mencionar que a possibilidade de adesão na condição de não participante limita-se a órgãos ou entidades da Administração Pública federal, estadual ou municipal (previsão do §3º do art. 86). Imagem: Shutterstock.com OBSERVAÇÃO 2 Contudo, é vedado aos órgãos e às entidades da Administração Pública federal a adesão à ata de registro de preços gerenciada por órgão ou entidade estadual, distrital ou municipal (previsão do §8º do art. 86). O SRP não é pressuposto nem obriga à formalização do contrato. A Administração Pública pode realizar o SRP e deixar de adquirir os produtos precificados caso ausente a necessidade de aquisição. Nesse caso, vale ressaltar que a mera realização do SRP, por si, prescinde de reserva orçamentária, pelo que se torna dispensável a indicação de fonte de custeio. COMENTÁRIO A Administração precisa garantir apenas reserva orçamentária quando efetivamente abre processo licitatório, para contratar, demonstrando que tem recursos para a pretendida aquisição de bem ou execução de obras; esse não é o caso do SRP. Diferentemente do art. 83 da nova lei, “a existência de preços registrados implicará compromisso de fornecimento nas condições estabelecidas, mas não obrigará a Administração a contratar, facultada a realização de licitação específica para a aquisição pretendida, desde que devidamente motivada”, a parte final da Lei nº 8.666/93 previa direito de preferência em igualdade de condições para aquele concorrente que se sagrou vencedor no registro de preços (art. 15, § 3º, da Lei nº 8.666/93). Essa parte não foi reproduzida pela nova lei. O art. 83, supra, dá liberdade para que o gestor público possa realizar licitação específica para bem, serviço ou obra, mesmo já tendo realizado o procedimento do SRP. ATENÇÃO Quando se afirma que o gestor público pode realizar licitação, deixando de utilizar o SRP, é preciso lembrar que a noção de discricionariedade não é completamente desvinculada. Na atualidade, a divisão entre atos vinculados e atos discricionários foi substituída por diferentes graus de vinculação ao ordenamento jurídico, em cujo epicentro axiológico está a CF/88. Logo, se existir uma ata de SRP e, evidentemente, a decisão mais eficiente que gerará melhores resultados, culminando em contratação com melhores preços, não há discricionaridade para o gestor realizar licitação nova, mais custosa e mais demorada. Nesse sentido, embora a lei permita uma vinculação mais fraca do gestor público à ata de preços, ele está vinculado à eficiência, devendo justificar a sua escolha. Se o gestor tem liberdade para licitar ou, por outro lado, optar pela ata de registro de preço que o órgão que ele integra já realizou, a discricionariedade de escolha deve ser balizada e a escolha concreta deve ser feita à luz da vinculação à eficiência, à busca de melhores resultados e à economia de escala. OBJETO DO REGISTRO DE PREÇOS A Lei nº 8666/93, em sua literalidade, só permitia o registro de preços na hipótese relacionada às compras públicas (aquisição de bens). A doutrina e o TCU, contudo, já admitiam a utilização do SRP para a contratação de serviços, além da aquisição de bens, pois já se considerava que o SRP era procedimento racional e eficiente para as licitações, não havendo razão para impedir a sua realização no caso de serviços frequentes, padronizados ou relacionados a um projeto específico. O Decreto Federal 7893/13 também permitia o SRP para serviços. Em relação às obras, havia resistência na aceitação do RPS, porque o objeto licitado não podia ser descrito de forma tão clara, na medida em que as soluções para obras de engenharia envolvem soluções técnicas diversas, de acordo com as peculiaridades do caso concreto. Foto: Shutterstock.com Por conta disso, o TCU acabou tendo entendimento contrário ao RPS para obras. Acórdão n. 980/2018: “o sistema de registro de preços não é aplicado à contratação de obras, pelo fato de o objeto não se enquadrar em nenhuma das hipóteses previstas no art. 2º do Decreto n. 7.892/2013 e também porque, na contratação de obras, não há demanda por itens isolados, pois os serviços não podem ser dissociados uns dos outros”. Contudo, de forma inédita, a nova lei prevê que o SRP poderá ser usado para obras (art. 81, § 5º), com vigência da ata por até dois anos (art. 83). Também pode ser usado para contratação direta (art. 81, § 6º). SISTEMA DE REGISTRO DE PREÇOS No vídeo a seguir, a professora Fernanda Morgan trata do objeto do registro de preços e de suas principais características. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. NO QUE TANGE AO SISTEMA DE REGISTRO DE PREÇOS, MARQUE A ALTERNATIVA CORRETA A SEGUIR, CONFORME PREVÊ A LEI Nº 14.133/2021: A) Em nenhuma hipótese, é permitido registro de preços com indicação limitada a unidades de contratação, sendo imprescindível a indicação do total a ser adquirido. B) É vedado aos órgãos ou às entidades da Administração Pública estadual, distrital ou municipal a adesão à ata de registro de preços gerenciada por órgão ou entidade estadual, distrital ou municipal. C) O órgão gerenciador, na fase preparatória do processo licitatório, deverá realizar procedimento público de intenção de registro de preços para possibilitar, pelo prazo máximo de 15 dias, a participação de outros órgãos ou entidades na respectiva ata e determinar a estimativa total de quantidades da contratação. D) O SRP poderá ser usado para obras, com vigência da ata por até quatro anos. E) É possível que a Administração faça uso do sistema de registro de preços para contratar a execução de obras e serviços de engenharia, contanto que exista projeto padronizado, sem complexidade técnica e operacional, bem como haja a necessidade permanente ou frequente de obra ou serviço a ser contratado. 2. A LEI Nº 8666/93, NA SUA LITERALIDADE, SÓ PERMITIA O REGISTRO DE PREÇOS NA HIPÓTESE RELACIONADA ÀS COMPRAS PÚBLICAS (AQUISIÇÃO DE BENS). DIANTE DA LITERALIDADE DA LEI Nº 8.666/93, O TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO (TCU) JÁ HAVIA ASSENTADO ENTENDIMENTO A RESPEITO. MAIS RECENTEMENTE, A LEI Nº 14.133/2021 TRAÇOU NOVAS COMPREENSÕES ACERCA DO USO DO SISTEMA DE REGISTRO DE PREÇOS (SRP). DITO ISSO, E CONSIDERANDO TODO O ARCABOUÇO JURÍDICO SUPRACITADO, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA DENTRE AS OPÇÕES A SEGUIR: A) O TCU não admitia a utilização do registro de preços para a contratação de serviços. B) O TCU admitia a utilização do registro de preços somente para a aquisição de bens. C) O TCU considerava que o SRP era procedimento ineficiente para as licitações, inadmitindo a realização do registro de preços no caso de serviços frequentes, padronizados ou relacionados a um projeto específico. D) A nova lei prevê que o SRP poderá ser usado para obras e nos casos de contratação direta. E) Segundo entendimento consignado pelo TCU em momento anterior à vigência da Lei nº 14.133/2021,o sistema de registro de preços deveria ser aplicado à contratação de obras. GABARITO 1. No que tange ao sistema de registro de preços, marque a alternativa correta a seguir, conforme prevê a Lei nº 14.133/2021: A alternativa "E " está correta. O sistema de registro de preços poderá ser usado para contratação de bens e serviços, inclusive para obras e serviços de engenharia, devendo tal procedimento ter prazo de vigência de um ano, permitida a prorrogação por mais um ano, desde que o preço seja vantajoso (art. 84 c/c os incisos do §5º do art. 82). Do mesmo modo, será possível a utilização do sistema de registro de preços nas hipóteses de inexigibilidade e de dispensa de licitação. O edital de licitação para registro de preços DEVERÁ dispor sobre a quantidade mínima a ser cotada de unidades de bens ou, no caso de serviços, de unidades de medida. Mas, excepcionalmente, permite-se a indicação limitada a unidades de contratação. Ademais, cabe salientar que o órgão gerenciador, na fase preparatória da licitação, deverá realizar procedimento público de intenção de registro de preços para possibilitar, pelo prazo máximo de oito dias úteis, a participação de outros órgãos ou entidades na respectiva ata. É permitida aos órgãos ou às entidades da Administração Pública estadual, distrital ou municipal a adesão à ata de registro de preços gerenciada por órgão ou entidade estadual, distrital ou municipal. 2. A Lei nº 8666/93, na sua literalidade, só permitia o registro de preços na hipótese relacionada às compras públicas (aquisição de bens). Diante da literalidade da Lei nº 8.666/93, o Tribunal de Contas da União (TCU) já havia assentado entendimento a respeito. Mais recentemente, a Lei nº 14.133/2021 traçou novas compreensões acerca do uso do sistema de registro de preços (SRP). Dito isso, e considerando todo o arcabouço jurídico supracitado, assinale a alternativa correta dentre as opções a seguir: A alternativa "D " está correta. A Lei nº 8666/93, em sua literalidade, só permitia o registro de preços na hipótese relacionada às compras públicas (aquisição de bens). A doutrina e o TCU, contudo, já admitiam a utilização do SRP para a contratação de serviços, além da aquisição de bens, pois o SRP era tido como procedimento racional e eficiente para as licitações, não havendo razão para impedir a sua realização no caso de serviços frequentes, padronizados ou relacionados a um projeto específico. Em relação às obras, havia resistência na aceitação do SRP, porque as soluções para obras de engenharia envolvem soluções técnicas diversas, de acordo com as peculiaridades do caso concreto. Por conta disso, o TCU acabou tendo entendimento contrário ao SRP para obras. Acórdão n. 980/2018: “o sistema de registro de preços não é aplicado à contratação de obras, pelo fato de o objeto não se enquadrar em nenhuma das hipóteses previstas no art. 2º do Decreto n. 7.892/2013 e também porque, na contratação de obras, não há demanda por itens isolados, pois os serviços não podem ser dissociados uns dos outros.” Contudo, de forma inédita, a nova lei prevê que o SRP poderá ser usado para obras (art. 81, § 5º), com vigência da ata por até dois anos (art. 83). Também pode ser usado para contratação direta (art. 81, § 6º). CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Abordamos o tema da elaboração de editais, com alusão pontual à Lei nº 8.666/93, dando enfoque ao regime licitatório previsto na nova Lei de Licitações e Contratos – Lei nº 14.133/2021. De início, nosso estudo versou sobre os conteúdos de um edital licitatório, tais como o critério de julgamento e a modalidade de licitação, pelo que remontamos aos dispositivos pertinentes ao tema (Lei 14.133/2021, arts. 25 e ss.). Em seguida, estudamos assuntos ligados à função regulatória da licitação, demonstrando a existência de elementos facultativos, a serem objeto do edital. Por fim, fizemos uma análise acerca do sistema de registro de preço, que é um procedimento auxiliar à licitação. Tal procedimento, como vimos, de modo geral, é uma ferramenta que ajuda a conferir racionalidade e eficiência às licitações, trazendo para os processos licitatórios maior racionalidade, celeridade e eficiência. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS GARCIA, F. A.; MOREIRA, E. B. O projeto da nova lei de licitações brasileira e alguns de seus desafios. Revista de Contratos Públicos, nº 21, set. 2019. NOHARA, I. P. D. Nova lei de licitações e contratos comparada. Editora RT – Revista dos Tribunais. 2021. OLIVEIRA, R. C. Nova lei de licitações e contratos administrativos. Rezende: Forense. 2021. SOUTO, M. J. V. Direito administrativo regulatório. 2. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005. EXPLORE+ TORRES, R. C. L. de. Leis de licitações públicas comentadas. Salvador: Juspodivm, 2021. CONTEUDISTA Fernanda Morgan Pimentel de Oliveira CURRÍCULO LATTES javascript:void(0);
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