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Romantismo e burguesia são considerados sinônimos porque esta se reflete e se identifica naquele; e aquele surge e se sustenta em função desta. A classe burguesa, na Europa, principalmente a partir da segunda metade do século XVIII, passa a influir poderosamente na economia, na política, nos costumes e nas ideias da sociedade de então. Além do poder do dinheiro, a força do pensamento liberal do burguês modifica a maneira de pensar e de agir das pessoas, principalmente por meio da imprensa e do teatro. O apogeu dessa influência do liberalismo foi a Revolução Francesa, que coincidiu também com o apogeu do Romantismo na França. É a burguesia, fortalecida pela industrialização e pela República, que se torna causa e objeto do Romantismo. Embora o Romantismo, tenha surgido primeiro na Inglaterra e na Alemanha, foi da França que ele se espalhou por outros países da Europa e do Mundo. No Brasil, o liberalismo vai-se afirmar apenas a partir da proclamação da independência em 1822. Só então haveria ambiente para se introduzir aqui o Romantismo, o que viria a acontecer em 1836, com a divulgação do livro “Suspiros poéticos e saudades”, de Gonçalves de Magalhães. A burguesia brasileira, que vai sustentar e inspirar o nosso Romantismo, é formada quase que unicamente pela sociedade monárquica. Muito do nosso Romantismo, portanto, ainda será influenciado pelo Romantismo europeu. ASPECTOS CENTRAIS DA ESTÉTICA ROMÂNTICA SUBJETIVISMO – INDIVIDUALISMO – EGOCENTRISMO O liberalismo defende a liberdade sob todos os pontos de vista. A liberdade de criação e de expressão torna a arte uma atividade essencialmente pessoal, produto da inspiração, da emoção e da individualidade do artista. O escritor apresenta a realidade conforme seu ponto de vista e de acordo com sua interpretação. EMOÇÃO – PAIXÃO – SONHO Como decorrência da subjetividade, no Romantismo a emoção é mais forte que a razão; a paixão e o sonho suplantam a coerência e a materialidade. O mundo pessoal do artista é valorizado. A intuição e a fantasia são inseparáveis da imaginação criadora. É o sentimento que mostra o caminho a seguir. O escritor romântico enxerga o mundo pela ótica dos sentimentos, sendo o coração a medida mais exata da existência. ANTICLASSICISMO A liberdade de pensamento e de criação fazem do romântico um opositor natural do Neoclassicismo. O artista procura se desvencilhar das normas rígidas da arte clássica. Na poesia, há novas formas e novos temas, inclusive o emprego de versos brancos e livres. Surge o romance ou prosa de ficção, principalmente histórica, como conhecemos hoje. O público leitor aumenta. IDEALIZAÇÃO A subjetividade do artista romântico, como vimos, faz com que ele enxergue tudo a partir de seu mundo pessoal e isso, muitas vezes, causa insatisfação, porque as coisas nem sempre são como ele gostaria que fossem.Resultado: ou ele se rebela, protesta, prega reformas sociais, luta por liberdade e justiça;ou, então, sentindo- se deslocado e marginalizado, fecha-se em si mesmo, viaja nas fantasias e cria um mundo ideal, onde tudo é como ele acha que deveria ser. A fuga da realidade vai-se manifestar pela criação de um mundo ideal: cenários maravilhosos, luxuosos, exóticos e encantadores. AGRADO AO PÚBLICO Como a grande maioria dos leitores era da classe alta, as obras românticas procuravam corresponder aos anseios de luxo, conforto, aventura, exotismo, convívio social e a realização plena de todos os sonhos da burguesia, mormente dos jovens dessa classe. Por conta dessa preocupação, a linguagem era acessível; os temas, populares; os enredos, fáceis; e as soluções, óbvias e ingênuas, para que nada perturbasse a emoção nem impedisse os suspiros e fantasias dos leitores. O moralismo e a religiosidade também faziam parte dos ideais burgueses e por isso eram essenciais: o casamento religioso, a virgindade, a nobreza de caráter, a vitória do bem. E NO BRASIL? A proclamação da Independência política, em 1822, deu sustentação aos anseios nacionais de independência cultural. O grito de liberdade, sufocado pela frustração da Inconfidência Mineira, 33 anos antes, irrompe muito mais forte e vai se expressar pelo nacionalismo. Ao mesmo tempo nasce na sociedade e, em consequência, nas artes um forte sentimento de ufanismo (orgulho patriótico). Este sentimento valoriza os aspectos autenticamente nacionais: nossas várzeas têm mais flores, nossos bosques têm mais vida, nossa vida mais amores; nossas terras são as mais férteis do mundo, nosso subsolo é o mais rico, nosso povo é o mais nobre, inteligente, ordeiro e feliz da face da terra. O patriotismo ardente leva ainda à valorização das origens da Pátria, do nosso folclore e de nossas lendas, enquanto os autores românticos se afirmam como arautos dos novos tempos, profetas das glórias futuras e modeladores da alma nacional. Esse sentimento ufanista se manifesta por meio de duas facetas importantes: CULTO À NATUREZA A natureza brasileira, exótica e exuberante, vai ser assunto constante nas obras românticas. Ela é fonte de inspiração, motivo de orgulho, refúgio onde o poeta busca conforto e identidade, espelho que reflete o estado de alma do artista. A todos esses sentimentos alia-se à religiosidade, que vê a natureza como expressão da força divina. INDIANISMO Na Europa, o Romantismo realiza a tendência nacionalista por meio dos romances históricos em que surgem os heróis da pátria: cavaleiros andantes, cruzados, conquistadores, guerreiros, etc. No Brasil, sem personagens históricos para transformar em heróis, os românticos encontram no indígena a figura do herói nacional: valoroso, nobre, cortês, defensor e servidor da mulher amada. Essa idealização do índio torna-o um personagem legendário, irreal, mítico, com características de herói medieval. AS TRÊS GERAÇÕES DA POESIA ROMÂNTICA A diversidade de tendências e de maneiras de expressar levou a crítica literária (por uma questão didática) a dividir a poesia romântica, basicamente, em três gerações, indicadas a seguir: 1ª. GERAÇÃO – NACIONALISTA-INDIANISTA A primeira fase romântica corresponde ao período de implantação (1836-1850), em que se manifesta a influência de Jean-Jacques Rousseau (mito do bem selvagem). São características desta fase: * predomínio do nacionalismo e do patriotismo: “descoberta” de aspectos característicos da paisagem local ou nacional, onde se realça o exótico e a beleza natural. Evidentemente essas alusões aos elementos tipicamente nacionais serão exaltadas e ampliadas pelo prisma da idealização; daí o sentimento de ufanismo; * indianismo: já que nascia uma nova canção, era necessária a criação de um símbolo, de um herói que a representasse. O indígena será retratado como tal: tomado como lenda e mito do passado colonial ou anterior à descoberta, é encarado como elemento genuinamente brasileiro e promovido à categoria de herói nacional; * forte religiosidade: identifica a poesia romântica com o sentimento cristão, em oposição ao “paganismo” da poesia neoclássica ligada à tradição greco-latina; * poesia amorosa, idealizante e fortemente sentimental:marcada por certa influência da lírica portuguesa. PRINCIPAIS AUTORES E OBRAS: GONÇALVES DE MAGALHÃES - o fundador do Romantismo no Brasil, com a obra “Suspiros poéticos e saudades”, em 1836; autor de importância mais histórica do que artística. GONÇALVES DIAS – um dos principais poetas brasileiros de todos os tempos; principais temas desenvolvidos em sua poesia: frustração amorosa ( amor impossível); saudosismo-nacionalismo; indianismo. 2ª. GERAÇÃO – ULTRA ROMANTISMO Descrentes dos valores apregoados pela Revolução Francesa e da possibilidade de um futuro melhor, os poetas dessa geração se lançam a uma vida desregrada, marcada pela boemia e pela leitura de poetaseuropeus, como Lord Byron (daí também o outro nome para esta geração: Byroniana) e outros, buscando adotar o mesmo estilo de vida deles. Portanto, são características marcantes dessa fase: subjetivismo exacerbado, centrando-se numa temática emotiva de amor e morte, dúvida e ironia, entusiasmo e tédio; forte tendência para o devaneio, o erotismo difuso ou obsessivo, a melancolia e o spleen(=tédio, pessimismo, sarcasmo); obsessão pela imagem da morte,depressão constante e auto-ironia um tanto masoquista. Também vale ressaltar que quase todos os poetas da 2ª. Geração tiveram uma vida muito breve, muitos nem chegando aos 25 anos! Motivo? Morte por tuberculose, por acidentes ou outros motivos trágicos. Enfim, o tom trágico de seus poemas se refletiu em suas próprias vidas, e vice-versa. PRINCIPAIS AUTORES E OBRAS: ÁLVARES DE AZEVEDO - o principal nome da 2ª. Geração. Deixou-nos duas obras representativas: Lira dos vinte anos (poesia) e Noite na taverna (contos macabros); CASIMIRO DE ABREU JUNQUEIRA FREIRE FAGUNDES VARELA 3ª. GERAÇÃO – CONDOREIRA- LIBERAL-SOCIAL Século XIX, anos 60 em diante: passara a empolgação inicial com o Brasil independente. Os brasileiros começam a perceber que nossa pátria possuía problemas muito mais complexos do que se imaginava, que não podiam ser resolvidos de uma hora para outra. A Literatura vai acompanhar essa mudança de mentalidade que se processa em nossa sociedade. O poeta romântico abandona a preocupação exclusiva e egocêntrica com seu mundo interior e se volta para os problemas humanos e universais ao seu redor. Surge a terceira Geração Romântica, que terá como características mais representativas: * Inspiração no tom grandiloquente do poeta francês Victor Hugo. * Também conhecida como Geração Condoreira ou Condoreirismo: este nome vem do pássaro condor, que habita a Cordilheira dos Andes, que é um símbolo de grandiosidade e liberdade, justamente as características da poesia dessa geração: poesia de estilo grandioso, retórico e de participação nas questões sociais de seu tempo. É a poesia social e libertária do Romantismo. PRINCIPAIS AUTORES E OBRAS: CASTRO ALVES – “Navio Negreiro” TOBIAS BARRETO SOUSÂNDRADE A PROSA NO ROMANTISMO - O ROMANCE ROMÂNTICO A divisão entre poesia e ficção românticas é essencialmente didática, pois ambos os segmentos ocorreram durante a mesma época. Os romances românticos brasileiros tiveram grande aceitação pelo público burguês da época. Uma série de fatores contribuiu para tal sucesso, entre os quais podemos citar: * A urbanização da cidade do Rio de janeiro, transformada em corte e com um público leitor formado por aristocratas rurais, profissionais liberais, jovens estudantes e moças de “boa família”; * O jornalismo vivia seu primeiro grande impulso no Brasil, o que facilitou bastante a publicação das obras. Convém ressaltar que muitos livros românticos foram impressos originalmente sob forma de folhetim, ou seja, em partes, publicadas periodicamente nos jornais. As histórias iam sendo lidas aos poucos, o que gerava mais interesse por parte do público; * O sentimento nacionalista fez com que surgisse uma literatura com a cor local, pois já não bastava uma mera tradução de romances europeus. O primeiro romance romântico publicado no Brasil foi “O filho do pescador”, de Teixeira e Souza, em 1843; no entanto, pelo seu prestígio junto ao público leitor, assinala-se didaticamente como obra inaugural o romance “ A moreninha” , de Joaquim Manuel de Macedo, publicada em 1844. CARACTERÍSTICAS Os sentimentos nobres e os caracteres elevados se opõem à covardia e a maldade com o triunfo do Bem sobre o Mal. Apresentação de uma realidade idealizada, que proporciona a ilusão de que o acontecido é real e verdadeiro. Valorização do passado histórico e medieval, investigação das raízes da nacionalidade. A literatura passa a exercer papel moralizante, influindo nas ideias e nos comportamentos. Atenção do leitor mais para o emaranhado de situações do que para as ideias. A narrativa gira em torno de um enredo linear em ritmo acelerado. O que vale é a imaginação e não a verossimilhança. O objetivo é distrair, não transmitir cultura. Podemos dividir os romances românticos em: URBANOS (CITADINOS OU DE COSTUMES) A ação se passa na corte (cidade do Rio de janeiro) ou adjacências. REGIONALISTAS A ação se passa no campo, no interior. INDIANISTAS O indígena é o protagonista HISTÓRICOS A ação se ambienta num passado remoto. PRINCIPAIS AUTORES E OBRAS: JOAQUIM MANUEL DE MACEDO – sua obra intitulada “A moreninha” foi a primeira a conquistar grande prestígio junto ao público. JOSÉ DE ALENCAR - o principal nome do romance romântico brasileiro. Suas obras mais representativas foram: “O guarani”, “Iracema”(romances indianistas), “Senhora” e “Lucíola”( romances urbanos). MANUEL ANTONIO DE ALMEIDA – autor de uma única obra: “Memórias de um sargento de milícias”, que destoa do Romantismo convencional. BERNARDO GUIMARÃES – regionalista romântico, autor de obras como “A escrava Isaura” e “ O seminarista”. VISCONDE DE TAUNAY – também regionalista romântico, autor de “Inocência”. CONTEXTUALIZANDO 1768 1836 1881 PANORAMA MUNDIAL PANORAMA NACIONAL ROMANTISMO * Guerras napoleônicas * A vinda da família Real portuguesa ao Brasil(1808) * O legado da 1ª. Revolução Industrial * O período Joanino (1808-1821) * desdobramento da Revolução Francesa * A Independência (1822) *O liberalismo burguês * Desenvolvimento da imprensa.
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