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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO REGIONAL GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA BACHAREL NICOLY DA SILVA CARVALHO RELATÓRIO DE HISTÓRIA DO BRASIL COLONIAL CAMPOS DOS GOYTACAZES 22 de julho de 2021 CONSTRUÇÃO E A DIVERSIDADE DA ECONOMIA 2 Resumo. Este relatório consiste em uma análise do artigo “Práticas agrícolas nas propriedades dos participantes da Inconfidência Mineira (Minas Gerais, comarca do Rio das Mortes, segunda metade do século XVIII)” da autoria de Rodrigues, A. F. e Aguiar, J. O. Do livro “A idade do Ouro do Brasil” escrito por Boxer, C.R. Do livro “Dicionário do Brasil Colonial: mineração” da autoria de Vainfas, et al. Esse trabalho tem como objetivo examinar as concordâncias e divergências sobre o tema “Construção e diversidade da economia em Minas Gerais no Brasil colonial”, na historiografia apresentada pelos autores, além de identificar o objeto de discussão de cada um dos textos e identificar as fontes de pesquisa utilizadas pelos autores. 1. INTRODUÇÃO O perfil econômico da capitania de Minas Gerais no século XVIII baseava-se em agricultura e mineração. A mineração só se tornou um negócio efetivo nas primeiras décadas do século XVIII. Característica básica dessas economias minerais é a presença de grande progresso tecnológico nas minas, que são de propriedade estrangeira, no setor rural, as práticas agrícolas que mais se destacam são as produções de arroz, mandioca, feijão e milho. A agricultura durante todo o século XVIII sempre foi uma atividade presente, porém para as autoridades fiscais portuguesas, a agricultura não era a mais importante das lidas produtivas do vasto complexo econômico ali instalado. 2. ANÁLISE DOS PRINCIPAIS ARGUMENTOS DESENVOLVIDOS PELOS AUTORES 2.1. Livro “Dicionário do Brasil Colonial: mineração” O Autor Ronaldo Vainfas é doutor em história social, professor, escritor e pesquisador. Sua pesquisa é dedicada à orientações em história ibero-americana e luso-brasileira entre os séculos XVI e XVIII. Em seu livro “Dicionário do Brasil: Mineração” o tema da pesquisa é a história do Brasil no século XVIII , e o seu objeto de pesquisa consiste em abordar a questão da mineração em Minas Gerais (seu apogeu e declínio) com participação das atividades agrícolas. Na elaboração do livro, Ronaldo Vainfas utilizou de estudos já realizados de historiadores. 2.1.1. Agricultura Segundo o autor, Celso Furtado (1959) atribuiu uma grande diferença entre a atividade mineradora e a açucareira, não só em termos de investimento de capital, como no tipo de mão de obra utilizada. Reconhecendo que o escravo era a principal mão de obra do ouro naquela época, afirma-se que ele jamais constituiu a maioria da população da Capitania. (citado por Vainfas, 2000) De acordo com Furtado (1959) a diferença entre Minas e o nordeste açucareiro seria ainda maior no tocante a estratificação social, visto que nas regiões de açúcar os que não fossem senhores de engenho teriam pouca chance de ascensão, e em Minas os simples faiscadores poderiam, com sorte enriquecer. A mineração estimulou bastante no aumento dos preços dos gêneros, consequentemente, a fome, mas também trouxe saldo positivo para outras regiões coloniais, fomentando o abastecimento de áreas abastecedoras. Com isso, a criação de gado no sul e nordeste foi estimulada. É afirmado por Furtado e outros a inexistência de setores agrícolas nas regiões mineradoras que concorrem com a extração mineradora na utilização de escravos. Mas ainda assim a agricultura se expandiu em Minas em face da inoperância da administração portuguesa. 2.1.2. Ouro De acordo com o que foi lido, a atividade mineradora do século XVIII resultou em uma forma específica de colonização que era diferente do resto do Brasil. Colonização introduzida em contraste com a ocupação litorânea dos primeiros séculos, baseada em uma sociedade urbana, em grau nunca visto na colônia. Graças às constantes remessas de ouro, diamante para Portugal, proporcionou o surgimento do estado português e de seu erário. Segundo o autor, a data e o local exato da descoberta do ouro são incertos, mas sabe-se que a descoberta dos veios auríferos foi resultado das expedições paulistas, que se transformaram em figuras de interesse e de reprovação por parte da coroa. Conforme o texto, a exploração do ouro aluvial se mostrou muito lucrativa. Criou- se o Regimento dos Superintendentes, Guardas-Mores e Oficiais Deputados para as Minas de Ouro em 1702, substituindo as cartas régias e conservando os princípios gerais do livre comércio e o da reserva de 1/5 de ouro extraído para o erário régio. A inovação principal do regimento de 1702, foi a criação da Intendência das Minas em todas as capitanias que houvesse a extração do ouro, que tinha a função sobre as ordens fiscais e de punir o contrabando. O autor disserta que havia 2 tipos de extrações auríferas, a da Lavra e os faiscadores. Ele diz também que a mineração geograficamente se expandiu entre a Serra da Mantiqueira, na capitania de Minas Gerais e a região de Mato Grosso e Goiás, mas que nenhum deles superou o de Minas Gerais. Sendo ali foi criado o maior número de registros, postos fiscais incumbidos de receber o direito de entrada dos produtos que passavam as Minas, fossem originários do reino de outras capitanias. Estradas específicas foram criadas para a região, como Caminho de Currais do Sertão para Bahia, o Caminho Velho, que ligava o Rio das Mortes e o arraial de Vila Rica aos portos de Santos ou Parati, passando pelo interior de São Paulo, e o Caminho Novo para o Rio de Janeiro. A mineração diferente de outras atividades, foi gerida com disciplina férrea pela coroa, as Intendências estavam sujeitas a metrópole e não as autoridades coloniais. Adiante vinha as Casas de Fundição, onde recolhia se o ouro e os fundiam em barras e quintavam (retiravam o quinto da coroa) o ouro extraído, diante disso o ouro podia circular normalmente. Com a alta migração para o Brasil na idade do ouro, as autoridades portuguesas começaram a ficar receosas com o despovoamento do Reino. A população colonial de origem europeia duplicou no período do ouro e segundo Sérgio Buarque, Minas era a região mais povoada no século XVIII. O motivo de tamanha movimentação estava ligado ao ouro aluvial no Brasil, já que os investimentos para a sua extração eram mínimos 2.2. Livro “A idade do Ouro do Brasil: O ouro das Minas Gerais''. Charles Boxer (1904-2000) foi um historiador britânico notável conhecedor da história colonial portuguesa e holandesa. Possui grande destaque com as obras dedicadas à América portuguesa e ao Atlântico Sul nos séculos XVII e XVIII. A obra aborda em detalhe a história social e econômica do Brasil nos séculos XVII e XVIII. De acordo com o livro, desde que chegaram os primeiros colonos a Minas Gerais houve intensas queimadas de árvores e vegetações a fim de limpar a Terra, para mineração ou para agricultura. 2.2.1 Agricultura Segundo o autor, com a corrida do ouro, o governo começou a adotar medidas de restrições para limitar o tráfico para as Minas. Com a construção de uma estrada de mais fácil acesso aos Campos auríferos que se iniciou em 1700 e fechada 2 anos depois, por ordem da coroa considerando que houvesse menos passagem para as Minas para melhor serem vigiadas. Com a tentativa de fechamento da estrada Rio São Francisco, os mineiros foram ainda mais afetados pois não podiam viver sem carne que recebiam através daquela passagem. Os paulistas que ficavam encarregados das confiscações de gado que entravam em Minas Gerais, vinda do norte, colaboraram com os fazendeiros, quase obrigando os proprietários a enviar suprimentos. Além do mais escravos, sal, farinha, ferramentas e outras coisas de necessidadeficavam mais baratas se importadas da Bahia do que de São Paulo e Rio de Janeiro, não só pela acessibilidade das viagens pela entrada do Rio como por produzirem as capitania do sul apenas o necessário a sua própria subsistência. Os fazendeiros e comerciantes foram espertos, ignorando as proibições já que os preços obtidos pelo seu gado em Minas Gerais era muito maior do que nas regiões litorâneas. Já que o gado trazido do sertão afastado da costa passava às vezes 2 anos em caminho enquanto os rebanhos da região média de São Francisco podiam chegar a Minas Gerais dentro de 1 mês ou 6 semanas. Um decreto de 1711 ordenava que os negros ocupados em trabalhos agrícolas não fosse vendidos para os serviços das Minas. O primeiro pioneiro com sua pressa delirante de explorar as Minas existentes e encontrar novas, descuidaram-se de plantar mandioca e milho suficientes e o resultado foi sofrer carência aguda nos anos 1697 a 1701. Em maio de 1698 o governo do Rio informou a coroa, que a carência de mantimentos era tão crítica que muitos mineiros tiveram que ser obrigados a abandonar sua jazida de ouro e estavam pelos matos com seus escravos à procura de caça peixes ou frutas, a fim de se alimentarem. Depois que a crise surgida na curva do século foi se superando, a situação melhorou consideravelmente, pequenas granjas e fazendas logo foram se instalando através das estradas, e mais atenção se deu ao plantio de hortaliças, milho e a criação de rebanhos nas vizinhanças dos principais campos auríferos que iam lentamente transformando-se em vilas. Muitas pessoas admitiram ser mais lucrativo plantar a fim de fornecer alimento aos mineiros, do que ela própria a mineração, já que os preços continuavam altos, resultado da procura ser maior do que a quantidade disponível. Milho, abóbora, feijão e às vezes batatas foram os principais alimentos plantados pelos primeiros colonos. Logo em 1703 já estavam criando uma certa quantidade de porcos e galinha. Posto isso, uma onda de imigração surgiu nos primeiros anos do século 18, os procedimentos agrícolas eram simples e eram definidos como de fogo e inchada. Peças desconhecidas eram aradas, as principais ferramentas empregadas eram facas e enxadas. O primeiro passo para as terras agrícolas era a derrubada de árvores e vegetações rasteiras até onde o proprietário da terra e seus escravos pudessem fazê-lo. A vegetação tombada, era deixada durante algumas semanas ali, para secar e depois atear fogo. O resultado das colheitas dependiam das queimadas, pois se tudo virasse cinzas, uma boa safra estava em expectativa mas se por causa do tempo, as árvores queimadas queimassem pela metade a previsão era ruim. Quando o chão ficava livre os escravos com suas enxadas semeavam milho, feijão e outras plantas alimentícias. Depois quando a terra ficava cansada nova derrubada e queimada eram feitas em outro lugar. O circo consistia em abater, queimar, limpar, semear e colher Já que as comodidades sanitárias consistiam em vários noturnos, os animais domésticos dos primeiros colonos ficaram limitados a porcos de galinhas, já que eles exerciam funções de limpadoras do local. Naqueles dias de corrida de ouro muitas fortunas foram feitas, as pessoas que se afortunar não foram apenas com a mineração, mas com uma combinação de mineração, lavouras e comércio de escravos e mercadorias, quando a coroa e seu conselheiro compreenderam a importância da corrida do ouro em Minas Gerais, eles tiveram sua principal preocupação em controlar o movimento de gente que se dirigia para aquela região visando impedir o declínio das lavouras de fumo e açúcar. 2.2.2. Ouro Charles Boxer no livro a idade do ouro do Brasil: o ouro das Minas Gerais, descreve em seu livro que a coroa portuguesa explorava os paulistas diante das ordens para as buscas das Minas de ouro e prata, induzindo-os há promessas que segundo eles seriam feitos cavaleiros e homens feitos-gentis da casa real. Não se sabe ao certo a data e lugar exato da primeira descoberta do ouro, juntando relatos contraditórios, parece que o ouro foi encontrado coincidentemente em diversas regiões que hoje é Minas Gerais, por diferentes pessoas e grupos paulistas entre 1693 e 1695. O ouro aluvial foi encontrado no leito dos rios e riachos, pelos prospectores paulistas que fizeram o trabalho pioneiro em Minas Gerais. Faiscadores era como se chamavam os depósitos de ouro, porque as faíscas maiores faiscavam ao sol. O método inicial para extração do ouro era lavar e peneirar. Bateia (uma bacia grande e rasa, cônica, feita de madeira ou de metal) que era o único instrumento necessário que o mineiro segurava com as mãos. Sobre a bateia com água suficiente para cobrir, colocava-se o subsolo arenoso misturado ao cascalho que tinha pepitas de ouro. Cuidadosamente então, em movimentos circulares, o mineiro inclinava a bateia para deitar um pouco fora da água e do cascalho, com cuidado para que o ouro ficasse no fundo até que ficasse visível. Havia apenas 2 locais/caminhos praticáveis para se alcançar as Minas de ouro de Minas Gerais, que eram o Caminho Geral de Sertão, no qual anos depois, ano de 1700, uma estrada de ligação para esse caminho foi feito. a estrada passou a se chamar Caminho Velho para se distinguir do Caminho Novo. As notícias das primeiras descobertas começaram em meados de 1697 e uma grande corrente migratória começou a ocorrer em Minas Gerais, com isso começou a causar graves preocupações na colônia. O perigo principal era que os aventureiros que agora estavam nas regiões mineiras transformassem o distrito em um refúgio para criminosos e colocassem perigo no Brasil. Refletiu-se na expansão do tráfico de escravos com a Guiné, os altos preços que os mineiros de ouro, mercadorias e moradores pagavam pelos escravos em Minas Gerais. Muito desse contrabando de ouro e escravo era feito por ingleses e holandeses da Costa da Guiné, embora os navios negreiros brasileiros sejam atacados pelo holandês. Os campos auríferos eram naturais improvisados, depois começaram a tomar forma de vilas. As moradias eram simples, parede de pau a pique, telhados de folhas de Palmeira, sapé ou palha. À medida que a povoação foi se desenvolvendo e estabilizando foram surgindo os melhores tipos de casas coloniais. Com muita rapidez, a região mineira foi explorada, ocupada e colonizada. Os campos principais que se tornaram, no fim do século, povoações prósperas foram Ribeirão de Carmo, Ouro Preto e Sabará. O alto preço exageradamente se deu por causa da corrida do ouro em Minas Gerais, que desequilibrou as estrutura de preços do império atlântico de Portugal. Preços que eram pagos tanto pelo gênero de necessidade, como artigos de luxo, nos repelidos campos auríferos e nas vilas, que significava que mercadorias, escravos, mantimentos tinham que girar para ali. Resultando na escassez das mercadorias em seus mercados com alta elevação de preços. O homem que ficasse com o ouro em pó, que era usado para as compras diárias, era responsável pelo pagamento dos quintos na fundição ou numa Casa Da Moeda. 2.3. Artigo “Práticas agrícolas nas propriedades dos participantes da Inconfidência Mineira (Minas Gerais, comarca do Rio das Mortes, segunda metade do século XVIII)” André Figueiredo Rodrigues é graduado, mestre e doutor em história social, atua na área da História com especial interesse em História do Brasil Colônia. José Otávio Aguiar autor e co- autor do artigo tem diversos livros e artigos, possui graduação em história e doutorado em cultura política. O objeto de pesquisa foi baseado na análise econômica das principais culturas cultivadas nas propriedades dos participantes da inconfidência mineira e em destaque as produções de arroz, feijão e milho encontradas naquelas fazendas, revelando o abastecimento alimentar e os dados da produção local. Os métodos de pesquisa utilizadospelos autores basearam-se na análise de fontes históricas escritas e impressas. 2.3.1. Agricultura Segundo os autores, a agricultura durante todo o século XVIII, foi uma atividade presente em Minas Gerais, mesmo não sendo a mais importante das vidas produtivas vasto complexo econômico ali instalado, aos olhos das autoridades portuguesas. Agricultura exerceu forte atração, a partir da primeira metade dos 700, nas áreas ocupadas no interior de Minas Gerais em virtude da mineração, gerando mercado servindo como um pau de redistribuição de produtos. Pinto (1979) diz que quando a extração mineral entrou em retração, as atividades dependentes do ouro sofreram diminuição, como por exemplo a entrada de novos produtos levando a queda no rendimento dos contratos de entradas. Segundo Zemella (1990) o Rio de Janeiro assumiu o papel de mantenedora, encurtando a distância entre a região mineradora e o litoral, com a construção do caminho novo. Ela lembra que após a construção da estrada, nenhuma outra região pode disputar com o Rio de Janeiro o desempenho do papel “boca de minas”. O trajeto encurtado em relação a outras rotas fez com que os maiores lucros passassem no Rio de Janeiro. A partir disso, começaram a surgir ao longo do caminho várias povoações, roças e logradouros para suprir de bens os viajantes que deslocavam para aquele local, as plantações que se destacavam para alimentar a multidão que para lá se encaminharam era mandioca, milho, feijão. A mandioca é uma planta proveniente da América do Sul, era a refeição da dieta indígena, foi associada ao pão sendo chamada de pão da Terra ou pão dos trópicos, pelos primeiros cronistas dos primeiros séculos da colonização. ALGRANTI (2013) lembra que isso se deu por se tratar do sustento básico das populações primitivas e devido à forma como os nativos processavam a mandioca, transformando-a em farinha com a qual os colonos faziam bolos, pães, biscoitos e cuscuz. CÓDICE (1999) aponta que há 3 castas de mandioca, a brava que é que mais se usa nas Minas, e 2 outras sendo chamadas de aipim, sendo uma vermelha e outra branca, que se pode comer assadas ou cozidos. São classificadas como mansas e delas também se fazem farinha, mingau, etc. De acordo com Costa, depois de colhida a farinha de mandioca era peneirada e torrada. (CÓDICE, 1999. Na região norte da Capitania de Minas Gerais a comida se sobressai devido às diferenças do solo. SAINT- HILAIRE (1975) diz que a produção de mandioca não precisava de grandes preparos para limpar o solo, por conta disso, via-se crescer o cultivo e o consumo de mandioca naqueles Sertões. MENEZES (2000) constata que na segunda metade do século XVIII a mandioca não competia com a produção de milho e muitas vezes, chegou a semear junto o milho e o feijão. O milho, de acordo com artigo lido, também se destaca no cenário agrário setecentista. Holanda (1995) observou o hábito e preferência dos habitantes do planalto de Piratininga pela produção de milho e sua farinha. Romeiro (2008) argumentou que o milho sobressaia-se sobre feijão e à mandioca. A preferência dada ao milho sobre a mandioca, há de relacionar-se com a própria mobilidade que, por longo tempo, distinguiu a gente do planalto. Nas primitivas expedições ao sertão bruto seria de todo impossível o transporte das ramas de mandioca necessárias ao plantio nos arraiais situados onde já não existissem tribos de lavradores. Primeiramente porque, além de serem de condução difícil, pois ocupariam demasiado espaço nas bagagens, é notório que essas ramas perdem muito rapidamente o poder germinativo. E depois, porque, feito com bom êxito o plantio, seria preciso esperar, no mínimo, um ano, geralmente muito mais, para a obtenção de colheita satisfatória (Holanda, 1995). Holanda (1995) prossegue que o milho além de ser transportado a distâncias consideráveis, tomava um pouco espaço no transporte e oferecia vontade de já começar a produzir a 5, 6 meses ou menos depois da sementeira. Há informações em documentos reunidos pelo ouvidor Caetano da Costa Matoso sobre a notícia dos primeiros descobridores das minas de ouro (Furtado, s.d) de que aos sertões mineiros os paulistas primeiro plantavam suas roças, povoando e esperando até que os mantimentos pudessem ser colhidos (CÓDICE, 1999). Só depois que os trabalhadores iniciaram a mineração. Segundo Frieiro (1966), o alimento básico da população achava-se no milho e mandioca, Além da culinária brasileira, o milho era também o alimento das aves, porcos e animais de cargas e com isso era cultivado perto de pousos e caminhos. Era a partir dele que se fazia o fubá, principal alimento dos homens livres pobres e escravos. O milho caracteriza- se especialmente no ambiente Paulista e mineiro. 3. ANÁLISE DAS CONCORDÂNCIAS E DIVERGÊNCIAS SOBRE O TEMA NA HISTORIOGRAFIA APRESENTADA PELOS AUTORES Analisando os fatos das convergências dos autores, Ronaldo Vainfas e Charles Boxer concordam sobre a hora e o local da descoberta do ouro serem incertos. Assim como a descoberta ter sido resultado de expedições paulistas, que naquela época mandavam bandos (conhecidos como Bandeirantes) para dentro dos Sertões à procura de ameríndios para se escravizar em lavouras, além de procurarem também ouro, prata e esmeraldas, como diz Charles em seu livro, bem como a Coroa ter passado a ter grande interesse nos paulistas, atraindo promessas que segundo eles seriam feitos cavaleiros e homens feitos gentis da casa real. O autor Vainfas falou que existia dois tipos de extração aurífera, a lavra, que eram organizadas por jazidas em grande escala e com aparelho para a lavagem do ouro, e os faiscadores (mais comum na mineração, composto por homens livres e pobres) que usavam somente a bateia, catumbê e ferramentas toscas. Boxer cita apenas um tipo de extração, os faiscadores, que era como se chamavam os depósitos de ouro, por causa das faíscas maiores faiscavam ao sol. Analisando esses autores percebe-se que as ideias concordam entre si e se completam. No livro Dicionário do Brasil Colonial: Mineração o autor fala das específicas estradas criadas para a região de Minas Gerais, tal como Caminhos de Currais do Sertão para Bahia, o Caminho Velho que ligava o Rio das Mortes e Arraial de Vila Rica aos portos de Santos ou Parati, passando pelo interior de São Paulo e o Caminho Novo para Rio de Janeiro. Já na obra de Boxer, ele diz que havia apenas duas rotas praticáveis para se alcançar as minas de ouro, que era o Caminho Geral do Sertão que seguia o Rio Paraíba, através da Serra da Mantiqueira para a região norte do Rio Grande onde se bifurcava para o Rio das Velhas e para o Rio Doce. Poucos anos depois, uma estrada de ligação para esse caminho foi feita, vindo do porto de Parati, a alguns dias de navegação abaixo do Rio de Janeiro e a estrada passou a se chamar de Caminho Velho para distinguir-se do Caminho Novo que era mais direto. Dito isso, nota-se que eles discordam de algumas informações. André Figueiredo e José Otávio argumentam em seu artigo que a agricultura durante todo o século XVIII foi uma atividade presente, mesmo não sendo a mais importante das lidas produtivas em Minas Gerais. Mas que teve um alto desempenho na primeira metade dos Setecentos, por conta da mineração do ouro e diamante, gerando mercado, servindo como polos de distribuição de produtos. No texto de Vainfas, ele cita que Furtado (1959) e outros afirmam a ausência de setores agrícolas que concorrem com a extração mineradora na utilização de escravos. Entretanto, a agricultura se fortaleceu em Minas em face da inoperância da administração portuguesa. E em a Idade de Ouro do Brasil: O ouros das Minas Gerais o autor descreve que o pioneirismo em sua pressa de explorar as Minas, não plantaram mandioca e milho o suficiente e sofrem carência aguda, a situação foi tão crítica que muitos mineirosjunto com seus escravos tiveram que abandonar jazidas de ouro, para procurarem comida para se alimentarem. 4. ANÁLISE DAS CONCLUSÕES DOS AUTORES Em seu trabalho Vainfas conclui que o ouro teve um crescimento muito positivo na primeira metade do século XVIII, alcançando seu apogeu em torno de 1760, contudo a sua queda foi relativamente rápida em 1780. O que teria como fato inicial, seria o ouro facilmente extraído que acabou sendo a causa da decadência, pois se esgotava rápido. No artigo as "Práticas agrícolas nas propriedades dos participantes da Inconfidência Mineira (Minas Gerais, comarca do Rio das Mortes, segunda metade do século XVIII)" os autores observam as possibilidades de riquezas e poder advindos dos sertões e que os números da produção agrícola ali apresentado, confirmam que o milho, o arroz e o feijão constituíam- se no triunvirato alimentar da comarca do Rio das Mortes, na segunda metade do século XVIII. Em suma, por meio das análises realizadas, torna-se evidente que o ouro foi muito importante para a economia Mineira, assim como a produção agrícola que teve uma ótima atuação na segunda metade do século XVIII. Mas o ouro teve um crescimento muito positivo na 1° metade do século XVIII, porém, por ser um produto facilmente extraído acabou tendo uma queda relativamente rápida por não ser um recurso renovável. REFERÊNCIAS ALGRANTI, Leila Mezan. A arte da cozinha e as plantas do Brasil, séculos XVI-XIX. In: KURY, Lorelai (Org.). 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Informações sobre Charles Boxer. Disponível em: https://www.companhiadasletras.com.br/autor.php?codigo=01817 CNPQ. Currículo de sistema do Currículos Lattes. Informações sobre José Otávio Aguiar. Disponível em: http://lattes.cnpq.br/7106694267459903 CNPQ. Currículo de sistema do Currículos Lattes. Informações sobre Ronaldo Vainfas. Disponível em: http://lattes.cnpq.br/2893624319383287 FARIA, S. C. Mineração. In: VAINFAS, R. (Org.). Dicionário do Brasil Colonial (1500- 1808). Rio de Janeiro: Objetiva, p. 397-399, 2000. FURTADO, Júnia Ferreira. Homens de negócio: a interiorização da metrópole e do comércio nas Minas setecentistas. São Paulo: Hucitec, 1999. FRIEIRO, E. Feijão, angu e couve: ensaio sobre a comida dos mineiros. BeloHorizonte: Centro de Estudos Mineiros, 1966. MENEZES, José Newton Coelho. O continente rústico: abastecimento alimentar nas Minas Gerais setecentistas. Diamantina: Maria Fumaça, 2000. RODRIGUES, A. F.; AGUIAR, J. O. 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