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Revista Panorama - Goiânia, v 11, n 1, p 26-33, janjun 2021

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026 PANORAMA Goiânia, v. 11, n. 1, p. 26-33, jan/jun. 2021 . ISSN 2237-1087
Este artigo está licenciado com uma Licença Creative Commons.
Atribuição Sem Derivações 4.0 CC BY-NC-ND.
FM AMÉRICA DE AQUIDAUANA:
UMA HISTÓRIA INTRÍNSECA À 
TRAJETÓRIA DO FUNDADOR1
Hélder Samuel dos Santos Lima2
Nélia Rodrigues Del Bianco3
Resumo
neste artigo se tem como objetivo resgatar a trajetória histórica da radiodifusão sonora 
em Frequência Modulada (FM) no município de Aquidauana, Mato Grosso do Sul, a 
partir do pioneirismo da Rádio América. Com abrangência territorial significativa, pro-
piciada pelas características técnicas, a emissora se tornou protagonista no cenário da 
radiodifusão em FM na região pantaneira ao longo dos últimos anos. Esta pesquisa de 
natureza qualitativa está alicerçada no método da história oral, a partir de relatos de vi-
vências e memórias históricas de locutores que atuaram por mais de 20 anos na estação 
de rádio; e em fontes documentais a partir de publicações em jornais impressos e em 
sites de notícia do município. Como conclusões, reconhece-se a importância da trajetó-
ria da emissora para o contexto local e entende-se que a história do veículo se confunde 
e possui relação intrínseca com a do sócio-proprietário, comunicador, político e em-
presário Raul Martinez Freixes. Observou-se também, a partir do resgate histórico, as 
relações estabelecidas entre a política e a emissora de rádio que perpassa pela outorga 
até a eleição para mandatos eletivos do fundador e sócio-proprietário da América FM.
Palavras-Chave: história da mídia sonora; Rádio América FM; Aquidauana; Mato 
Grosso do Sul.
Abstract
the article has to objective rescue the historical trajectory of radio broadcasting in 
Modulated Frequency (FM) in the municipality of Aquidauana, in Mato Grosso do 
Sul, from the pioneering spirit of Rádio América. With significant territorial coverage, 
provided by its technical characteristics, the station has become a protagonist in the 
FM radio broadcasting scenario in the Pantanal region over the last few years. This 
qualitative research is based on the oral history method, based on reports of experien-
ces and historical memories of announcers who worked for more than twenty years in 
the radio station; and in documental sources from publications in printed newspapers 
in the municipality and on municipal news sites. As conclusions, the article recognizes 
the importance of the station’s trajectory for the local context and understands that 
the vehicle’s history is intertwined and has an intrinsic relationship with that of the 
partner-owner, communicator, political and businessman Raul Martinez Freixes. It was 
also observed, from the historical review, the relations established between politics 
and the radio station, which goes through the granting to the election for elective 
mandates of the founder and partner-owner of América FM.
Keywords: history of sound media; Radio América FM; Aquidauana; Mato Grosso do Sul.
FM AMÉRICA OF AQUIDAUANA: 
A STORY INTRINSIC TO THE FOUNDER’S TRAJECTORY
Autor Correspondente 1: helder_jorn@hotmail.com
Autor Correspondente 2 : nbianco@uol.com.br 
Recebido: 09/06/2021. Aprovado: 04/07/2021. Publicado:30/07/2021
INTRODUÇÃO
O rádio representou, e ainda representa, 
para municípios situados em contextos inte-
rioranos, um dos meios de comunicação de 
maior proximidade, por vezes, provinciano. 
Historicamente, o veículo ocupou a centrali-
dade no cotidiano da população por meio da 
prestação de serviços, como instrumento de 
informação local ou mesmo na promoção de 
entretenimento com programas de auditório, 
radionovelas e transmissão de rodas de vio-
la, dentre outras iniciativas.
Especificamente em Aquidauana (MS), o 
meio encontrou terreno fértil para se desen-
volver. No período compreendido entre sua 
fundação em 1892 e o ano 1945 era dota-
do de uma rede estruturada de serviços e 
se firmava como centro regional no antigo 
Mato Grosso Uno4. 
Pereira (2013) registra que o ano de 1903 de-
marca a implantação do serviço telegráfico 
do município e que em 1914 foi inaugurada a 
estrada de ferro pela Noroeste do Brasil. Em 
1928 a cidade passou a ter acesso à distri-
buição de energia elétrica e, no ano de 1939, 
foi criada a Associação Aquidauanense de 
Assistência Hospitalar, responsável pelo atu-
al Hospital Regional “Dr. Estácio Muniz”. O 
pesquisador destaca também a instalação do 
Banco do Brasil (1940); a fundação da pri-
meira Loja Maçônica (1941) e da Associação 
Comercial (1944). 
De acordo com Oliveira Neto e Carvalho 
(2010, p. 199), as condições propiciadas por 
sucessivas gestões de governos estaduais, 
fez como que Aquidauana se consolidasse 
como centro regional. Segundo os autores, 
“[...] as instituições públicas estatais de edu-
cação, saúde, arrecadação e segurança im-
puseram Aquidauana como centro-político 
para a região sul do oeste do antigo Estado 
de Mato Grosso”.
Por conta desta posição histórica de centra-
lidade, o município também acompanhou o 
desenvolvimento de meios massivos como o 
rádio, com a implantação da Rádio Difusora, 
em 16 de março 1952, operando em Ondas 
Médias (OM) e Tropicais (OT); da Rádio In-
dependente, a partir de 1º de maio de 1962 
(LIMA; OTA, 2018, 2019), e, por fim, da FM 
América, no final da década de 1980.
No Brasil a primeira estação em FM foi a Rá-
dio Imprensa do Rio de Janeiro, em 1955. No 
início a emissora possuía dois canais, sendo 
um comercial e outro não comercial, no qual 
a programação era destinada a lojas e escri-
tórios (MOREIRA, 1991). Posteriormente sur-
giram a Rádio Eldorado de São Paulo, cuja 
programação era uma réplica do que já era 
transmitido pela estação em Amplitude Mo-
dulada (AM), e a Rádio Tropical de Manaus. 
Ferraretto (2001), por sua vez, afirma que a 
Difusora FM, dos Diários e Emissoras Asso-
ciados, fundada em 2 de dezembro de 1970, 
foi a primeira emissora exclusiva a transmitir 
em FM no País. 
No Mato Grosso do Sul o pioneirismo da 
Frequência Modulada (FM) coube à Mega 
94, de Campo Grande, inaugurada como FM 
Canarinho em 11 de outubro de 1978 (FER-
NANDES, 2011). A partir da década de 1980 
a FM começou a se expandir em municípios 
de maior importância, como é o caso de 
Aquidauana, na época com pouco mais 40 
mil habitantes (BRASIL, 1992).
Para o desenvolvimento desta pesquisa de 
natureza qualitativa que visa resgatar a tra-
jetória da FM América de Aquidauana, re-
correu-se a fontes documentais em jornais 
impressos do município, portais on-line e ao 
método da história oral, ancorada nos depoi-
mentos a partir de memórias dos radialistas 
Alex Ercílio Cabreira de Mello e Leonel Ra-
mos, que por mais de 20 anos atuaram na 
PANORAMA Goiânia, v. 11, n. 1, p. 26-33, jan/jun. 2021 . ISSN 2237-1087027
emissora e acompanharam o percurso desde 
os primeiros anos pós-fundação.
NO PORTAL DO PANTANAL, O PIONEIRIS-
MO DA AMÉRICA FM
A FM América de Aquidauana teve a ou-
torga publicada no Diário Oficial da União 
através da Portaria nº 204, de 9 de agosto 
de 1988, com quadro societário formado por 
Elciria Rita Brandes Garcia5 e Raul Marti-
nes Freixes. Além dos sócios, a fundação da 
emissora teve como protagonista a produto-
ra Suely Melo Albuquerque, cônjuge de Raul 
Freixes na época e que atuava como diretora 
administrativa da emissora. 
A rádio iniciou as transmissões em caráter 
experimental em 25 de fevereiro de 1989 
e entrou em caráter definitivo no dia 4 de 
março daquele ano. A inauguração oficial se 
deu no dia 24 de setembro de 1989 com o 
descerramento da placa com a presença de 
diversas autoridades políticas (Figura 1). 
Figura 1 – Placa registra inauguração da FM 
América em Aquidauana
Mato Grosso do Sul na cerimônia com o tí-
tulo: ‘Governador Marcelo Miranda na festa 
da radiodifusão’, o que evidencia as relações 
existentes entre os meios massivos e o poder 
político constituído.
Neste sentido, faz se necessário observar 
que a outorga da América FM foi concedida 
em um período demarcado como a auge dasconcessões de rádio e TV do governo do pre-
sidente José Sarney. O número de conces-
sões no governo pós ditadura militar coin-
cidiu com a campanha deflagrada em 1987, 
pelo presidente Sarney, junto ao Congresso 
Nacional, propondo Emenda Constitucional 
(EC) no intuito de ampliar de quatro para 
cinco anos o próprio mandato presidencial. 
Em 1988 diversos políticos e parlamentares 
foram contemplados com canais de rádio e 
TV em troca de apoio à EC. O apadrinhamen-
to para se conseguir uma concessão de rá-
dio ou TV era comum no período. De acordo 
com Moreira (1998), entre março de 1985 e o 
fim do mandato, em 1989, o governo Sarney 
havia distribuído mais de mil concessões de 
rádio e televisão em todas as regiões do País. 
No caso da FM América, rumores apontam 
que o então governador Marcelo Miranda te-
ria apadrinhado a emissora. Na década de 
1980 Raul Freixes realizava gravações de 
comerciais para o setor publicitário a partir 
de sofisticado estúdio instalado na capital, 
Campo Grande. De acordo com Rosa (2019), 
o trânsito do comunicador pelo cenário polí-
tico estadual favoreceu a conquista da outor-
ga da FM em Aquidauana.
A ex-diretora administrativa Suely Melo Al-
buquerque, que participou ativamente da 
fundação da emissora, nega influência polí-
tica no processo de concessão. Segundo ela, 
a direção da América seguiu os trâmites pre-
vistos na legislação durante o processo lici-
tatório para conquistar a outorga. Albuquer-
que (2020) confirma que a New Tape Studios, 
produtora cuja propriedade dividia com Raul 
Freixes, fez toda a campanha de Marcelo Mi-
randa, em 1986, então candidato a governa-
dor, e, por este motivo, o dirigente político 
havia sido convidado para a inauguração.
Figura 2 – Jornal O Pantaneiro repercutindo 
inauguração da FM América em 1989
Conforme o jornal O Pantaneiro (EDITO-
RIAL..., 1989), na inauguração o governador 
foi representado pelo secretário de Comuni-
cação de Mato Grosso do Sul, Nilson Araú-
jo de Souza. Mesmo diante da ausência do 
governador Marcelo Miranda, o periódico 
destacou a presença do ex-presidente do 
Congresso Nacional e ex-senador por Mato 
Grosso e Mato Grosso do Sul, José Manuel 
Fontanillas Fragelli na solenidade, o que re-
força o prestígio dos sócios da emissora no 
contexto político regional.
Esta relação política com os meios de comu-
nicação de massa em Aquidauana é histórica. 
Um dos impressos pioneiros da cidade, o Jor-
nal do Sul, e a Rádio Difusora, de proprieda-
de de Elídio Teles de Oliveira, seguiam linha 
editorial favorável à União Democrática Na-
cional (UDN). De acordo com Pereira (2013), 
há rumores de que a emissora não pertencia 
ao empresário, e sim ao Coronel Zelito ou ao 
seu filho, Fernando Luiz Alves Ribeiro, que 
posterirormente se tornou uma das principais 
lideranças políticas de Aquidauana.
O radialista Leonel Ramos6 que atuou entre 
1990 e 2009 na América FM, conta que em 
1991 a sede da emissora foi transferida para 
o prédio próprio, na Rua Marechal Mallet, 
1406, onde se encontra até a atualidade. Em 
1994 o Ministério das Comunicações autori-
zou a alteração das características técnicas 
da estação, possibilitando que o transmissor 
fosse instalado no Morro do Paxixi, o que 
resultou em um raio de cobertura superior.
O Raul teve a ideia de mudar a classe 
da emissora para uma classe especial, 
aumentando a potência e instalando 
a antena em cima do morro na Serra. 
A partir de então, a América que só 
pegava aqui com transmissor de um 
quilowatt, teve aumento da potência, 
passou a transmitir para toda a região. 
Em todas as cidades que nós íamos, 
estavam ouvindo a rádio porque não 
havia outra FM, e a América era uma 
rádio genuinamente regional, era nos-
sa, que falava nossa língua. (MELLO, 
2020, informação verbal)7.
Fonte: Elaborada pelo autor (2021).
De acordo com editorial do jornal O Panta-
neiro (EDITORIAL..., 1989, p. 3), a emissora 
trouxe “[...] a modernização computadoriza-
da buscando assimilação nesta cidade onde 
ainda se ouve o som grave e cansado do ber-
rante, se vê o canoeiro e o peixe, e as tardes 
são sonolentas e belas como é próprio da 
pacatez da vida interiorana”.
A primeira sede da emissora foi no terceiro 
andar do Edifício Mármora, situado na Rua 
Estêvão Alves Corrêa, esquina com a Rua 
Sete de Setembro, no centro da cidade. A 
primeira faixa de frequência da emissora foi 
102,3 MHz, com transmissor de 1 quilowatt 
de potência, instalado no terraço do edifício, 
o que restringia a abrangência da emissora 
para o âmbito local. 
Com um potencial eletrônico admirá-
vel, equipada com os mais modernos 
recursos da atualidade, essa nova 
emissora detém o mais avançado par-
que técnico do país. Amanhã, serão 
lançados programas inéditos, além de 
estratégias especiais para atender as 
exigências de cada segmento emba-
sado em pesquisa junto a população, 
conforme informações do diretor Raul 
Freixes. (EDITORIAL..., 1989, p. 3).
Ao anunciar a festa de inauguração da FM 
América, a edição nº 1.410, de 17 a 23 de 
setembro de 1989, do jornal O Pantaneiro, 
destacava a participação do governador de Fonte: Elaborada pelo autor (2021).
PANORAMA Goiânia, v. 11, n. 1, p. 26-33, jan/jun. 2021 . ISSN 2237-1087028
O auge da emissora foi na década de 1990, 
líder absoluta de audiência, podendo ser 
sintonizada, além de Aquidauana e Anastá-
cio, em municípios limítrofes como Miranda, 
Dois Irmãos do Buriti, na região pantanei-
ra e até mesmo na capital, Campo Grande. 
A alteração das características técnicas da 
estação visando a abrangência da cober-
tura se justificou perante o Ministério das 
Comunicações, uma vez que Aquidauana 
possui extensa área geográfica, com mais 
de 17 mil km², em sua maioria na zona rural 
formada por distritos, área quilombola e al-
deias indígenas (BRASIL, 2017). Até então, 
as AMs Difusora e Independente eram as 
únicas emissoras a cobrir os mais distantes 
rincões do município.
De acordo com Ramos (2020, informação 
verbal)8, na década de 1990, já em novas 
instalações e com a ampliação da cobertura, 
a rádio passou a ter, como nome fantasia, 
FM Pan 100,9. Em 2011, após travar disputa 
jurídica com a Rádio Panamericana S/A, a 
Jovem Pan 100,9 do município de São Paulo, 
a emissora de Aquidauana foi proibida pelo 
Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul a 
utilizar o termo ‘Pan’ em sua denominação, 
mesmo após a defesa alegar que a nomen-
clatura remete a Pantanal, uma vez que o 
município sede é considerado portal de en-
trada para o bioma brasileiro. De acordo com 
a determinação judicial, o termo ‘Pan’ é mar-
ca registrada da Rádio Panamericana S/A, 
negando provimento à apelação feita pela 
emissora de Aquidauana contra ação movi-
da pela rádio paulistana (RÁDIO..., 2011).
O PALANQUE NAS ONDAS DO RÁDIO
A realidade das estações de rádio no muni-
cípio de Aquidauana não foge às práticas 
comuns estabelecidas no meio em outras 
regiões do País. O rádio é visto como um 
instrumento ideal para que agentes políticos 
consigam atingir o maior número de apoiado-
res possível, o que resulta na capitalização de 
votos em períodos eleitorais. Não por acaso, 
a maioria das emissoras do município pos-
sui vínculos diretos ou indiretos com agentes 
políticos que possuem ou tiveram mandatos 
eletivos, das comerciais à comunitária.
De acordo com Ortriwano (1985, p. 60), o rá-
dio e a política estão arroladas desde o início 
da trajetória do meio a fim de assegurar a 
doutrinação ideológica da audiência. A influ-
ência política no setor da radiodifusão, “[...] 
visa garantir a adoção por parte das empre-
sas de rádio e televisão de uma linha de ação 
voltada para a manutenção do status quo de-
finido pela ideologia do grupo dominante”. 
Moreira (1998, p. 118) registra que, no Bra-
sil, desde a década de 1930, muitos nomes 
do rádio conquistaram ouvintes que, na 
sequência, tornaram-se eleitores graças à 
atuação radiofônica. De acordo com a pes-
quisadora, a partir dos anos de 1980, [...] “o 
estreito convívio de radialistas com a polí-
tica foi intensificada”,garantindo sucesso 
eleitoral em escalas regionais localizadas, 
sendo ampliado posteriormente, na década 
de 1990, para o âmbito nacional.
Fernandes (2011, p. 134), no entanto, aposta 
no rádio local como palanque eletrônico para 
“[...] projetar cidadãos no cenário político ou 
tornar políticos ainda mais populares”. A vi-
sibilidade mediada que os meios de massa, 
como o rádio, propiciam aos agentes políti-
cos se configura em uma estratégia política, 
como reforça Thompson (2008), de enfrenta-
mento às lutas diárias no intuito de atingir 
seus objetivos, melhorando sua imagem e, 
em alguns casos, suplantando opositores. 
Conforme o citado teórico, a nova visibilida-
de está intimamente relacionada às novas 
maneiras de agir e interagir trazidas pela 
mídia, na qual os representantes da classe 
política “[...] utilizaram-se dos novos meios 
de comunicação não só como um veículo 
para promulgar decretos oficiais, mas tam-
bém como meio de construir uma imagem 
de si que poderia chegar a pessoas em re-
giões afastadas” (THOMPSON, 2008, p. 22). 
Assim, além da visibilidade, observa-se que 
a credibilidade que o rádio transmite para a 
audiência pode ser considerado um dos fa-
tores que têm contribuído para a eleição de 
diversos comunicadores, radialistas e empre-
sários da radiodifusão a cargos eletivos ao 
longo das últimas décadas, sendo este um 
fenômeno ainda mais acentuado em municí-
pios interioranos. 
De acordo com Costa (2005, p. 143), o rádio 
traz vantagens para os candidatos, sejam 
eles proprietários ou radialistas, devido à 
sua penetração junto ao público, pois os co-
loca “[...] em contato direto, afetivo e cons-
tante com os ouvintes, que dessa maneira 
estão mais propícios a se tornarem eleitores 
daqueles”. Esta penetração está associada, 
na maioria das vezes, pelo vínculo de intimi-
dade e confiança que o comunicador esta-
belece com a audiência, por meio das ondas 
sonoras, ao utilizar expressões corriqueiras, 
tais como ‘meu amigo, minha amiga ouvin-
te’, ‘minha comadre, meu compadre’, ‘alô vi-
zinha, alô vizinho’. Como salientam Chantler 
e Harris (1998, p. 21), no rádio, “[...] você está 
falando para uma pessoa, como se estivesse 
conversando com ela, bebendo juntos uma 
xícara de café ou um copo de cerveja”, o que 
reforça a proximidade estabelecida entre au-
diências e comunicadores.
Thompson (2008) ressalta que, a partir do 
surgimento do rádio, líderes políticos pude-
ram falar diretamente para milhares de pes-
soas, estabelecendo uma intimidade espe-
cial. De acordo com o autor, a comunicação 
de líderes políticos pelo rádio reconfigurou 
a relação falante-público em que os orado-
res utilizam de uma linguagem que poderia 
estimular uma comoção coletiva. Através do 
rádio, “[...] a oratória contundente do discur-
so apaixonado pôde ser substituída pela inti-
midade de um bate-papo ao lado da lareira”, 
ou seja, aproximando a classe política de seu 
público (THOMPSON, 2008, p. 24).
A forma distanciada e impessoal da 
maioria dos líderes políticos do passa-
do foi sendo gradualmente substituí-
da por este novo tipo de intimidade 
mediada, pela qual os políticos podem 
apresentar-se não somente como líde-
res, mas como seres humanos, como 
indivíduos comuns dirigindo-se a seus 
companheiros cidadãos, abrindo se-
letivamente aspectos de suas vidas 
e caráter como numa conversa ou 
de maneira até mesmo confessional. 
(THOMPSON, 2008, p. 24-25).
Em Aquidauana, por anos, a FM América foi 
líder absoluta em audiência, principalmente 
no período matutino, considerado horário no-
bre no rádio. O programa de maior sucesso 
na emissora foi o ‘Raul Especial’, apresenta-
do pelo sócio-proprietário da emissora, entre 
as décadas de 1990 e 2000. Como o próprio 
nome sugere, é o tipo de programa onde “[...] 
a figura do apresentador é cultuada, moti-
vando os ouvintes a participarem dos qua-
dros do programa de cunho eminentemente 
popular, com conteúdos de entretenimento 
e serviços” (BARBOSA FILHO, 2009, p. 143).
A prestação de serviço em estações do inte-
rior sempre foi pilar da programação de emis-
soras em AM. Na FM América, no entanto, 
práticas assistencialistas se mesclavam a ini-
ciativas de prestação de serviço nas ondas 
do rádio. O programa ‘Raul Especial’ conti-
nha quadros para divulgação de oportunida-
des de trabalho por parte de empresários e 
possibilitava a oferta de mão de obra pelos 
próprios trabalhadores. Além disso, promo-
via campanha de arrecadação de alimentos 
para famílias em vulnerabilidade social e re-
alizava a transmissão dos reclames diários 
dos ouvintes em relação serviços públicos 
prestados pela administração municipal. 
De acordo com Canclini (2002, p. 46), o rádio, 
desde as primeiras décadas do século XX, fa-
lou sobre as cidades, expressando, de formas 
distintas, o cotidiano urbano. Para o autor, 
a ampliação da interação a partir da fala de 
pessoas comuns por linhas telefônicas torna-
va possível “[...] diariamente amplificar recla-
mações, pedir a solidariedade dos próprios 
locutores ou, ainda, de outros ouvintes”.
O radialista Alex Ercílio Cabreira de Mello9, 
que atuou por mais de 20 anos na América, 
ressalta que o programa ‘Raul Especial’, na 
FM América, apresentava este viés social, 
fomentando a solidariedade dos ouvintes e 
representantes da esfera pública.
As pessoas iam ao vivo pedir empre-
go, sacolão, ou mesmo para resolver 
um problema de saúde. A rádio abra-
çava, fazia uma campanha em cima 
e conseguia resolver o problema das 
pessoas que nos procuravam, e isso 
era muito forte. As pessoas acredi-
tavam muito no poder da rádio, nes-
se aspecto. Então, a [América] tinha 
uma penetração social muito grande. 
(MELLO, 2020, informação verbal).
O pesquisador Barbosa Filho (2009), no en-
tanto, adverte que é imprescindível que o 
comunicador tenha consciência do poder de 
intermédio que o rádio apresenta na presta-
ção de serviço público. Para o autor, o veícu-
lo cativa e seduz os ouvintes, direcionando-
-os a atitudes e comportamentos de acordo 
com os padrões estabelecidos. “[...] é bom 
saber que estamos fazendo uso de um meio 
o qual influencia o cotidiano das pessoas, e 
assim nos possibilita resultados positivos” 
(BARBOSA FILHO, 2009, p. 50). No caso dos 
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agentes políticos, estas possibilidades do rá-
dio vão ao encontro dos interesses particula-
res do locutor-político.
Em Aquidauana, ao longo da história, obser-
va-se que inúmeros radialistas disputaram 
eleições municipais a partir da redemocrati-
zação, alguns obtendo êxito nos pleitos. Em 
1988 se elegeu, pelo PT, Aládio Jorge Aran-
da, que atuou como radialista na Rádio In-
dependente de Aquidauana. No mesmo ano 
foi eleito Carlos Gentil Vasconcelos, pelo 
PSDB, sendo reeleito em 1992 pelo PDT. Nas 
eleições de 1996 foram eleitos, para o legis-
lativo municipal, os também radialistas da 
FM América Ney Gabriel Azambuja e Luiz 
Carlos Benites, respectivamente pelo PDT e 
PFL. Em 2008 foi eleito, pelo PP, Waldemar 
dos Reis, que, por anos, apresentou o pro-
grama ‘Radar’, na América FM, com o codi-
nome Corrêa Filho.
Nas eleições de 1992, o comunicador Raul 
Freixes se lançou à Prefeitura de Aquidauana 
ficando em terceiro lugar no pleito, com 4.440 
votos. No processo eleitoral de 1996 se elegeu 
prefeito com 9.276 votos, pelo PSDB, e, em 
2002, conquistou uma vaga no parlamento 
estadual pelo extinto PST, com 10.956 votos. 
É inegável que a exposição midiática do 
comunicador, por anos nas ondas do rádio, 
potencializou a sua imagem para que obti-
vesse resultados satisfatórios nos pleitos que 
disputou. Como já mencionado, a emissora 
abrangia outras cidades limítrofes, amplian-
do o seu potencial eleitoral. 
[...] a abrangência da rádio era grande 
e começou a ser sintonizada em toda 
a região. Nas cidades que íamos, as 
pessoas estavam ouvindo porque não 
havia outra emissora, e [a América] 
era uma rádio genuinamente regional, 
que falava a nossa língua. Mandáva-
mos alô paraBodoquena, Miranda, 
toda essa região estava sempre em 
contato, tanto é que facilitou a vida 
do Raul que se tornou deputado em 
virtude da rádio. Aonde ele ia, nessa 
região nossa aqui, ele era conhecido. 
(MELLO, 2020, informação verbal).
Uma vez eleito deputado estadual, Raul Frei-
xes expandiu sua participação nos meios de 
comunicação, passando a apresentar, na TV 
Campo Grande, afiliada do SBT em Mato 
Grosso do Sul, o programa ‘Sem Limites’, e, 
posteriormente, entre 2009 e 2010, o progra-
ma ‘O povo na TV’, que por anos teve à fren-
te o também político-apresentador Maurício 
Picarelli (PEREIRA, 2015).
Figura 3 - Raul Freixes no SBT MS apresenta 
O Povo na TV
Nas eleições de 2006 o locutor-político ten-
tou a reeleição pelo PTB e, mesmo alcançan-
do mais de 14 mil votos, tornou-se suplente. 
Em 2008, já filiado ao  PDT, Raul compôs, 
inicialmente, a chapa do pecuarista Odilon 
Ribeiro como candidato a vice-prefeito de 
Aquidauana. Porém, no decorrer do processo 
eleitoral, desistiu da candidatura e se tornou 
apoiador do candidato do PMDB à prefeitura 
de Aquidauana, Fauzi Suleiman.
Em 2010 Raul Freixes registrou candidatura a 
deputado estadual pelo PT do B, na coligação 
Amor, Trabalho e Fé, liderada pelo governa-
dor e candidato à reeleição André Puccinelli, 
do PMDB. No decorrer do pleito o comuni-
cador teve seu registro de candidatura nega-
do pelo Tribunal Regional Eleitoral de Mato 
Grosso do Sul (TRE-MS) com base na lei da 
Ficha Limpa, por responder a processos pro-
venientes de ações no Tribunal de Contas por 
má aplicação de dinheiro público, nos quais 
foi condenado (RAUL FREIXES..., 2010).
NO FM, UMA PROGRAMAÇÃO ATRAEN-
TE AO ESTILO AM
O surgimento das emissoras em FM no Bra-
sil com melhor qualidade na transmissão so-
nora acentuou o fenômeno da especialização 
da programação e resultou em duas tendên-
cias, que foram classificadas como rádios de 
Alta Estimulação e de Baixa Estimulação por 
Artur da Távola.
Por meio desta categorização, as rádios de 
Baixa Estimulação priorizavam conteúdos de 
lazer e entretenimento; com fala elaborada 
e distante do coloquial; posição de serieda-
de dos locutores e distantes dos ouvintes; 
com radiojornalismo produzido a partir de 
pequenas manchetes com notícias gerais ou 
internacionais. Neste modelo, que Ortriwano 
(1985) reclassifica como ‘rádio de relaxamen-
to’, a essência da programação era musical, 
com tendência para cultura da classe média 
e de base estrangeira. 
Por outro lado, as emissoras de Alta Estimu-
lação, ou de ‘mobilização’, para Ortriwano 
(1985), preconizavam a notícia local, a pres-
tação de serviços e programas de esporte, 
com locutores mais próximos da audiência, 
estimulando o sentimento de solidariedade e 
participação nos principais acontecimentos 
da comunidade. Ainda que não fosse regra, 
este modelo de classificação remetia as rá-
dios AMs como sendo de ‘mobilização’; e as 
de ‘relaxamento’, as FMs. Porém, a Améri-
ca, no início de sua transmissão, optou por 
um modelo de programação marcado pela 
heterogeneidade, a fim de atender a audiên-
cia fiel que estava acostumada com as duas 
emissoras AMs da cidade. 
O Raul foi inteligente porque ele não 
deixou de usar o lado popular na 
emissora, porque se fosse uma rádio 
americanizada como as de São Pau-
lo, se ele fosse seguir aquele modelo, 
o ouvinte que era de fazenda não ia 
gostar. Então, ele introduziu modas 
sertanejas, e a linguagem do locutor 
se baseava numa forma de conversar 
próxima ao ouvinte lá da área rural. A 
linguagem foi uma linguagem para a 
região, por isso que ganhou espaço, 
aliado à sucumbida das AMs que teve 
uma queda não só aqui, mas a nível 
de Brasil. (MELLO, 2020, informação 
verbal).
Para atender ao perfil dos ouvintes da região, 
Ramos (2020) conta que a emissora possuía 
60% da programação musical voltada para o 
gênero sertanejo. Havia um programa espe-
cífico, denominado ‘Triplex Sertanejo’, onde 
nomes como João Mineiro e Marciano, Chi-
tãozinho e Xororó, Chrystian e Ralf, dentre 
outros, dominavam a programação musical. 
“A música sertaneja foi tomando conta. As 
pessoas absorviam o gênero e a gente evi-
dentemente para atender, eram muitos pedi-
dos sertanejos, foi mudando a plástica sono-
ra da rádio e o linguajar também”, destaca 
Ramos (2020).
Outro pilar de sustentação da programação 
na emissora foram as conhecidas Jornadas 
Esportivas, com transmissão de partidas de 
futebol do Estádio Municipal Mário Pinto 
de Souza, conhecido como Estádio Noroes-
te de Aquidauana, e do Estádio Universitá-
rio Pedro Pedrossian, o Estádio Morenão de 
Campo Grande. Tendo à frente os locutores 
Mário Mendonça e Mauro Lúcio Ortiz10, a 
América FM incorporou este modelo de pro-
gramação, comum em emissoras AMs, a fim 
de atender ao gosto da audiência.
O Mauro foi o narrador oficial do Cam-
peonato Brasileiro em 1995 no Paca-
embu entre Santos e Botafogo. Trans-
mitimos muitos jogos do Campeonato 
Brasileiro, Copa do Brasil, pois foi um 
período em que havia partidas aqui 
em Mato Grosso do Sul no Estádio 
Morenão. O Raul apoiava e sempre 
gostou de esporte, principalmente em 
jogos do Aquidauanense no campeo-
nato estadual. Mas depois o futebol 
de Mato Grosso do Sul deu uma de-
caída e não vieram mais jogos gran-
des para o Morenão, a gente diminuiu 
as transmissões, ficando somente o 
esporte local e o campeonato sul-ma-
to-grossense. (RAMOS, 2020, informa-
ção verbal).
Barbosa Filho (2009, p. 109) considera as 
coberturas esportivas um fenômeno radiofô-
nico no Brasil, pois “[...] com seus jargões 
e chavões típicos e quase sempre originais, 
o locutor esportivo não apenas retrata fiel-
mente o desenrolar da partida de futebol, 
mas dá contornos poéticos à sua descrição”. 
E isso Mauro Lúcio Ortiz fazia com maestria, 
sendo locutor e cronista de esporte reconhe-
cido na região.
Além da programação esportiva, a América 
FM era engajada na promoção de eventos 
esportivos locais, com campeonatos de fute-
bol de areia, futsal, handebol; bem como de 
eventos culturais, por meio da realização de 
shows musicais com lançamento de músicos 
e bandas do município. Dentre os quadros 
da programação que fez sucesso na década 
de 1990 está o ‘Paquera na Cidade’. Confor-
me Mello (2020, grifos do autor), os ouvintes 
mobilizados pela rádio, “[...] desciam dos bair-
ros, das vilas, para o centro da cidade, no cal-
Fonte: Print de vídeo no Canal do SBT MS 
no YouTube. Disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=2xc1bvAd8FI. Aces-
so em: 24 maio 2021.
PANORAMA Goiânia, v. 11, n. 1, p. 26-33, jan/jun. 2021 . ISSN 2237-1087030
çadão da Rua Sete de Setembro na esquina 
com a Rua Estêvão Alves Corrêa. Colocáva-
mos uma caixinha de som e dávamos os re-
cadinhos no quadro Namoro na Frequência”. 
Além de notas durante a programação, a 
emissora reservou, durante anos, dois horá-
rios para programação jornalística: pela ma-
nhã, das 7 às 8 horas, e no horário das 11 
às 12 horas. Dentre os programas do gênero 
na emissora, destacaram-se ‘A voz da Amé-
rica’ e, posteriormente, o programa ‘Radar’ 
apresentado por Waldemar dos Reis, de co-
dinome Corrêa Filho, entre as 11 e 12 horas. 
Waldemar dos Reis, assim como Raul, alçou 
voos na política, sendo eleito vereador em 
2008, conforme citado anteriormente. 
O ‘Radar’ priorizava pautas políticas e poli-
ciais, uma característica predominante no 
jornalismo de rádio em cidades interiora-
nas. Embora não pudesse ser configurado 
excepcionalmente como policial, o programa 
apresentava reportagens, comentários, 
entrevistas e notícias com temática policial 
quase que diariamente. Neste formato, 
Barbosa Filho (2009, p. 105) observa que, 
aliado a uma narrativa simbólica, há “[...] 
efeitos sonoros e trilhas musicais que real-
çam o discurso e propiciam um ambiente de 
emoção e expectativa”.
A programação essencialmente musical ge-
ralmente ia ao ar no período vespertino. Den-
tre os programas que se destacaram estão: 
‘Potência 100’, que foi apresentado por Mô-
nica Santos entre 2003 e 2010,das 13 às 15 
horas; e ‘Top Pan Hits Sertanejo’, apresenta-
do por Leonel Ramos, que fez sucesso desde 
meados da década de 1990.
O investimento em tecnologia e a inovação 
sempre foram marcas da direção de Raul 
Freixes na FM América. A unidade móvel 
possuía equipamento via rádio que facilitava 
a cobertura de acontecimentos diretamente 
do local dos fatos ou eventos. Além do ime-
diatismo, o recurso tecnológico possibilitou 
que a cobertura extrapolasse os limites geo-
gráficos de Aquidauana. 
Em 1997 a rádio fez a transmissão exclusiva 
da primeira edição da Pantaneta11, a micare-
ta de Aquidauana, um carnaval fora de épo-
ca realizado anualmente no mês de setembro 
que aconteceu até 2009. Nomes consagrados 
do axé brasileiro se apresentaram, tais como: 
Banda Eva, Ivete Sangalo, Harmonia do Sam-
ba, Gilmelândia, Asa de Águia, É o Tchan, 
entre outros. O evento também possibilitou 
o lançamento de diversas bandas locais e 
regionais, como SPCIA, Lia Mayo e Banda, 
entre outras. 
A rádio potencializou o evento com a co-
bertura exclusiva direto do trio elétrico 
para diversos municípios da região graças à 
abrangência que possuía. Em 2000, em sua 
quarta edição, o evento reuniu mais de 80 
mil pessoas, arrecadando, dos foliões, mais 
de 12 toneladas de alimentos para insti-
tuições assistenciais (MICARETA..., 2000), 
mais uma iniciativa social que a emissora 
apoiou irrestritamente.
Na década de 2010 a emissora passou a ser 
administrada pelo grupo GDS de Comunica-
ção, que em Aquidauana já possuía o site e 
jornal Notícias do Estado, fundado em 1997 
e atualmente administrado por Daniele Silva. 
Em 2014 o comunicador Raul Freixes ajui-
zou ação contra o grupo alegando quebra 
de contrato e a justiça estadual concedeu 
liminar garantindo a posse da emissora aos 
sócios-proprietários (LIMINAR..., 2014). 
Ao longo dos anos a emissora tem sofrido 
alterações na direção motivadas por dispu-
tas judiciais. Além de Raul, tem direito, às 
cotas da emissora, Thiago Garcia Oliveira, fi-
lho da sócio-proprietária Elcíria Brandes Gar-
cia, falecida em 2012. Em 2017 a Comarca 
de Aquidauana do Poder Judiciário afastou o 
comunicador Raul Freixes da administração 
da emissora, concedendo o direito à Thiago 
(COMUNICADOR..., 2017). Em 2019, a emis-
sora passou a ser dirigida pelo empresário 
Renato Amorim com apoio do vereador You-
ssef Saliba (COM APOIO..., 2019). No mesmo 
ano, a 2ª Vara Cível de Aquidauana determi-
nou a adjudicação de 50% das cotas sociais 
penhoradas da empresa Rádio FM América 
de Aquidauana Ltda., que pertenciam a Raul 
Freixes, em favor do município de Aquidaua-
na, que requereu a execução de título ex-
trajudicial referente a crédito tributário em 
desfavor do comunicador.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O resgate do percurso da FM América de 
Aquidauana revela que a história da emis-
sora e a trajetória do comunicador Raul 
Freixes são indissociáveis. É inegável que a 
fundação da estação, no final da década de 
1980, representou um divisor de águas no 
cenário da radiodifusão sonora regional.
Tanto a FM América quanto as emissoras 
pioneiras em AM de Aquidauana, Difusora 
e Independente, possuem importância signi-
ficativa no processo de desenvolvimento dos 
meios de comunicação do município. Além 
de levar informação e entretenimento a mi-
lhares de ouvintes, a América figurou, por 
muitos anos, como a única estação em FM 
para os municípios da região.
Observou-se também as relações que a polí-
tica e os meios de comunicação estabelecem 
entre si há anos no Brasil e identificou-se que 
este cenário tende a se acentuar em municí-
pios interioranos. Relações que perpassam a 
conquista da concessão e avançam na dis-
puta de poder através do personalismo e do 
palanque eletrônico que se consuma nas on-
das do rádio. 
Há de se reconhecer que, embora de forma 
indireta, o rádio contribuiu para que muitas 
lideranças políticas emergissem e alcanças-
sem o poder em diversos municípios bra-
sileiros, graças à visibilidade que o meio 
possibilita. Não por acaso, diversos líderes 
populistas recorrem ao meio no intuito de se 
comunicar com uma audiência ampla, forma-
da por diversas classes sociais.
No que diz respeito ao estilo de programação 
adotado, foi possível observar que a Améri-
ca, embora seja uma rádio FM, buscou aten-
der, no início de sua trajetória, a um perfil 
de audiência fiel ao modelo de programação 
comum das estações em AM, onde o locutor 
estabelece uma relação próxima do ouvinte. 
E uma programação musical com predomi-
nância para o gênero sertanejo, dada a re-
alidade cultural do território no qual está 
situada.
Considera-se que a América FM perdeu es-
paço, ao longo dos anos, motivada por va-
riados fatores, dentre os quais elenca-se: 
sucessivas alterações na administração, que 
resulta em instabilidade na programação e 
impacta, em certa medida, na fidelidade de 
ouvintes; perda de credibilidade associada à 
imagem negativa do comunicador e funda-
dor Raul Freixes, fruto dos processos judi-
ciais que responde na justiça estadual.
Soma-se a isso a implantação de novas emis-
soras em FM nos municípios da região e 
uma FM Comunitária em Aquidauana em 
2009. Por fim, mais recentemente ocorreu a 
migração das AMs para a faixa de FM, o que 
possibilitou melhora significativa na quali-
dade sonora dessas rádios, acirrando ainda 
mais a concorrência por ouvintes. Embora 
com liderança incontestável nas décadas de 
1990 e 2000, o cenário de fragmentação as-
sociado às novas formas de diálogo e intera-
ção, tornaram-se elementos propícios para a 
movimentação das audiências da emissora.
____________________________
1. Hélder Samuel dos Santos Lima
Doutorando em Comunicação pela Universi-
dade Federal de Goiás (UFG).
Mestre em Comunicação pela Universida-
de Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) 
(2018).
 
2. Nélia Rodrigues Del Bianco 
Professora convidada do Programa de Pós-
-Graduação em Comunicação da Faculdade 
de Informação e Comunicação da Universi-
dade Federal de Goiás (FIC-UFG). 
Professora Associada da Faculdade de Co-
municação da Universidade de Brasília 
(UnB). 
Doutora em Comunicação pela ECA-USP 
(2004). 
Pós-doutorado na Universidade de Sevilha 
(2009). 
Mestrado em Comunicação pela UnB (1991).
____________________________
NOTAS:
1. Uma versão deste artigo foi apresentada 
no 5º Encontro Regional de História da Mídia.
4. A divisão do território do estado de Mato 
Grosso Uno foi efetivada no mandato do pre-
sidente Ernesto Geisel a partir da assinatura 
da Lei Complementar nº 31, em 11 de outu-
bro de 1977. A partir de então, ficou criado o 
estado de Mato Grosso do Sul abrangendo a 
porção sul do antigo estado unificado (MA-
CEDO, 2016). 
PANORAMA Goiânia, v. 11, n. 1, p. 26-33, jan/jun. 2021 . ISSN 2237-1087031
5. A sócia da emissora integrou a Exatoria 
Estadual em Aquidauana, foi candidata a ve-
readora em 2000, ficando como suplente. No 
mandato do prefeito Luiz Felipe Ribeiro Orro 
assumiu o cargo de secretária de Assistência 
Social, vindo a falecer em 3 de dezembro de 
2012. (PLACÊNCIO, 2012).
6. Leonel Ramos trabalha como radialista 
desde a década de 1980 em Aquidauana, 
atuando na Rádio Difusora AM entre 1986 
e 1990; na FM América entre 1990 e 2009; 
na comunitária FM Pantanal (87,9) de 2009 a 
2011; e na Pantaneira AM de Anastácio des-
de 2011, emissora que migrou para FM e pas-
sou a ser denominada Nova FM Anastácio.
7. Informação concedida pelo radialis-
ta, Alex  Ercílio Cabreira de  Mello, em 
09/04/2021.
8. Informação concedida pelo radialista, Leo-
nel Ramos, em 11/04/2020.
9. Iniciou no rádio em 1991 como locutor na 
FM América, auxiliou no processo de im-
plantação da AM Pantaneira de Anastácio 
em 2011, que, após migrar para FM, pas-
sou a ser denominada Nova FM Anastácio. 
Foi assessor do ex-deputado estadual Raul 
Freixes na Assembleia Legislativa de Mato 
Grosso do Sul durante o mandato parlamen-
tar (2003-2006).
10. Atuou por mais de 40 anos como locu-
tor e narrador esportivo no rádio aquidaua-
nense. Foi um dos idealizadoresdo Torneio 
Roquette-Pinto, realizado anualmente no Gi-
násio Poliesportivo, com partidas de futsal 
e voleibol, para homenagear Edgar Roquet-
te-Pinto, considerado o pai da radiodifusão 
(LIMA; OTA, 2018).
11. A Avenida Doutor Sabino do Patrocínio, 
em Aquidauana, ficou conhecida popular-
mente como Avenida Pantaneta e foi conclu-
ída na administração de Raul Freixes (1997-
2000) a fim de sediar o evento.
PANORAMA Goiânia, v. 11, n. 1, p. 26-33, jan/jun. 2021 . ISSN 2237-1087032
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