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026 PANORAMA Goiânia, v. 11, n. 1, p. 26-33, jan/jun. 2021 . ISSN 2237-1087 Este artigo está licenciado com uma Licença Creative Commons. Atribuição Sem Derivações 4.0 CC BY-NC-ND. FM AMÉRICA DE AQUIDAUANA: UMA HISTÓRIA INTRÍNSECA À TRAJETÓRIA DO FUNDADOR1 Hélder Samuel dos Santos Lima2 Nélia Rodrigues Del Bianco3 Resumo neste artigo se tem como objetivo resgatar a trajetória histórica da radiodifusão sonora em Frequência Modulada (FM) no município de Aquidauana, Mato Grosso do Sul, a partir do pioneirismo da Rádio América. Com abrangência territorial significativa, pro- piciada pelas características técnicas, a emissora se tornou protagonista no cenário da radiodifusão em FM na região pantaneira ao longo dos últimos anos. Esta pesquisa de natureza qualitativa está alicerçada no método da história oral, a partir de relatos de vi- vências e memórias históricas de locutores que atuaram por mais de 20 anos na estação de rádio; e em fontes documentais a partir de publicações em jornais impressos e em sites de notícia do município. Como conclusões, reconhece-se a importância da trajetó- ria da emissora para o contexto local e entende-se que a história do veículo se confunde e possui relação intrínseca com a do sócio-proprietário, comunicador, político e em- presário Raul Martinez Freixes. Observou-se também, a partir do resgate histórico, as relações estabelecidas entre a política e a emissora de rádio que perpassa pela outorga até a eleição para mandatos eletivos do fundador e sócio-proprietário da América FM. Palavras-Chave: história da mídia sonora; Rádio América FM; Aquidauana; Mato Grosso do Sul. Abstract the article has to objective rescue the historical trajectory of radio broadcasting in Modulated Frequency (FM) in the municipality of Aquidauana, in Mato Grosso do Sul, from the pioneering spirit of Rádio América. With significant territorial coverage, provided by its technical characteristics, the station has become a protagonist in the FM radio broadcasting scenario in the Pantanal region over the last few years. This qualitative research is based on the oral history method, based on reports of experien- ces and historical memories of announcers who worked for more than twenty years in the radio station; and in documental sources from publications in printed newspapers in the municipality and on municipal news sites. As conclusions, the article recognizes the importance of the station’s trajectory for the local context and understands that the vehicle’s history is intertwined and has an intrinsic relationship with that of the partner-owner, communicator, political and businessman Raul Martinez Freixes. It was also observed, from the historical review, the relations established between politics and the radio station, which goes through the granting to the election for elective mandates of the founder and partner-owner of América FM. Keywords: history of sound media; Radio América FM; Aquidauana; Mato Grosso do Sul. FM AMÉRICA OF AQUIDAUANA: A STORY INTRINSIC TO THE FOUNDER’S TRAJECTORY Autor Correspondente 1: helder_jorn@hotmail.com Autor Correspondente 2 : nbianco@uol.com.br Recebido: 09/06/2021. Aprovado: 04/07/2021. Publicado:30/07/2021 INTRODUÇÃO O rádio representou, e ainda representa, para municípios situados em contextos inte- rioranos, um dos meios de comunicação de maior proximidade, por vezes, provinciano. Historicamente, o veículo ocupou a centrali- dade no cotidiano da população por meio da prestação de serviços, como instrumento de informação local ou mesmo na promoção de entretenimento com programas de auditório, radionovelas e transmissão de rodas de vio- la, dentre outras iniciativas. Especificamente em Aquidauana (MS), o meio encontrou terreno fértil para se desen- volver. No período compreendido entre sua fundação em 1892 e o ano 1945 era dota- do de uma rede estruturada de serviços e se firmava como centro regional no antigo Mato Grosso Uno4. Pereira (2013) registra que o ano de 1903 de- marca a implantação do serviço telegráfico do município e que em 1914 foi inaugurada a estrada de ferro pela Noroeste do Brasil. Em 1928 a cidade passou a ter acesso à distri- buição de energia elétrica e, no ano de 1939, foi criada a Associação Aquidauanense de Assistência Hospitalar, responsável pelo atu- al Hospital Regional “Dr. Estácio Muniz”. O pesquisador destaca também a instalação do Banco do Brasil (1940); a fundação da pri- meira Loja Maçônica (1941) e da Associação Comercial (1944). De acordo com Oliveira Neto e Carvalho (2010, p. 199), as condições propiciadas por sucessivas gestões de governos estaduais, fez como que Aquidauana se consolidasse como centro regional. Segundo os autores, “[...] as instituições públicas estatais de edu- cação, saúde, arrecadação e segurança im- puseram Aquidauana como centro-político para a região sul do oeste do antigo Estado de Mato Grosso”. Por conta desta posição histórica de centra- lidade, o município também acompanhou o desenvolvimento de meios massivos como o rádio, com a implantação da Rádio Difusora, em 16 de março 1952, operando em Ondas Médias (OM) e Tropicais (OT); da Rádio In- dependente, a partir de 1º de maio de 1962 (LIMA; OTA, 2018, 2019), e, por fim, da FM América, no final da década de 1980. No Brasil a primeira estação em FM foi a Rá- dio Imprensa do Rio de Janeiro, em 1955. No início a emissora possuía dois canais, sendo um comercial e outro não comercial, no qual a programação era destinada a lojas e escri- tórios (MOREIRA, 1991). Posteriormente sur- giram a Rádio Eldorado de São Paulo, cuja programação era uma réplica do que já era transmitido pela estação em Amplitude Mo- dulada (AM), e a Rádio Tropical de Manaus. Ferraretto (2001), por sua vez, afirma que a Difusora FM, dos Diários e Emissoras Asso- ciados, fundada em 2 de dezembro de 1970, foi a primeira emissora exclusiva a transmitir em FM no País. No Mato Grosso do Sul o pioneirismo da Frequência Modulada (FM) coube à Mega 94, de Campo Grande, inaugurada como FM Canarinho em 11 de outubro de 1978 (FER- NANDES, 2011). A partir da década de 1980 a FM começou a se expandir em municípios de maior importância, como é o caso de Aquidauana, na época com pouco mais 40 mil habitantes (BRASIL, 1992). Para o desenvolvimento desta pesquisa de natureza qualitativa que visa resgatar a tra- jetória da FM América de Aquidauana, re- correu-se a fontes documentais em jornais impressos do município, portais on-line e ao método da história oral, ancorada nos depoi- mentos a partir de memórias dos radialistas Alex Ercílio Cabreira de Mello e Leonel Ra- mos, que por mais de 20 anos atuaram na PANORAMA Goiânia, v. 11, n. 1, p. 26-33, jan/jun. 2021 . ISSN 2237-1087027 emissora e acompanharam o percurso desde os primeiros anos pós-fundação. NO PORTAL DO PANTANAL, O PIONEIRIS- MO DA AMÉRICA FM A FM América de Aquidauana teve a ou- torga publicada no Diário Oficial da União através da Portaria nº 204, de 9 de agosto de 1988, com quadro societário formado por Elciria Rita Brandes Garcia5 e Raul Marti- nes Freixes. Além dos sócios, a fundação da emissora teve como protagonista a produto- ra Suely Melo Albuquerque, cônjuge de Raul Freixes na época e que atuava como diretora administrativa da emissora. A rádio iniciou as transmissões em caráter experimental em 25 de fevereiro de 1989 e entrou em caráter definitivo no dia 4 de março daquele ano. A inauguração oficial se deu no dia 24 de setembro de 1989 com o descerramento da placa com a presença de diversas autoridades políticas (Figura 1). Figura 1 – Placa registra inauguração da FM América em Aquidauana Mato Grosso do Sul na cerimônia com o tí- tulo: ‘Governador Marcelo Miranda na festa da radiodifusão’, o que evidencia as relações existentes entre os meios massivos e o poder político constituído. Neste sentido, faz se necessário observar que a outorga da América FM foi concedida em um período demarcado como a auge dasconcessões de rádio e TV do governo do pre- sidente José Sarney. O número de conces- sões no governo pós ditadura militar coin- cidiu com a campanha deflagrada em 1987, pelo presidente Sarney, junto ao Congresso Nacional, propondo Emenda Constitucional (EC) no intuito de ampliar de quatro para cinco anos o próprio mandato presidencial. Em 1988 diversos políticos e parlamentares foram contemplados com canais de rádio e TV em troca de apoio à EC. O apadrinhamen- to para se conseguir uma concessão de rá- dio ou TV era comum no período. De acordo com Moreira (1998), entre março de 1985 e o fim do mandato, em 1989, o governo Sarney havia distribuído mais de mil concessões de rádio e televisão em todas as regiões do País. No caso da FM América, rumores apontam que o então governador Marcelo Miranda te- ria apadrinhado a emissora. Na década de 1980 Raul Freixes realizava gravações de comerciais para o setor publicitário a partir de sofisticado estúdio instalado na capital, Campo Grande. De acordo com Rosa (2019), o trânsito do comunicador pelo cenário polí- tico estadual favoreceu a conquista da outor- ga da FM em Aquidauana. A ex-diretora administrativa Suely Melo Al- buquerque, que participou ativamente da fundação da emissora, nega influência polí- tica no processo de concessão. Segundo ela, a direção da América seguiu os trâmites pre- vistos na legislação durante o processo lici- tatório para conquistar a outorga. Albuquer- que (2020) confirma que a New Tape Studios, produtora cuja propriedade dividia com Raul Freixes, fez toda a campanha de Marcelo Mi- randa, em 1986, então candidato a governa- dor, e, por este motivo, o dirigente político havia sido convidado para a inauguração. Figura 2 – Jornal O Pantaneiro repercutindo inauguração da FM América em 1989 Conforme o jornal O Pantaneiro (EDITO- RIAL..., 1989), na inauguração o governador foi representado pelo secretário de Comuni- cação de Mato Grosso do Sul, Nilson Araú- jo de Souza. Mesmo diante da ausência do governador Marcelo Miranda, o periódico destacou a presença do ex-presidente do Congresso Nacional e ex-senador por Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, José Manuel Fontanillas Fragelli na solenidade, o que re- força o prestígio dos sócios da emissora no contexto político regional. Esta relação política com os meios de comu- nicação de massa em Aquidauana é histórica. Um dos impressos pioneiros da cidade, o Jor- nal do Sul, e a Rádio Difusora, de proprieda- de de Elídio Teles de Oliveira, seguiam linha editorial favorável à União Democrática Na- cional (UDN). De acordo com Pereira (2013), há rumores de que a emissora não pertencia ao empresário, e sim ao Coronel Zelito ou ao seu filho, Fernando Luiz Alves Ribeiro, que posterirormente se tornou uma das principais lideranças políticas de Aquidauana. O radialista Leonel Ramos6 que atuou entre 1990 e 2009 na América FM, conta que em 1991 a sede da emissora foi transferida para o prédio próprio, na Rua Marechal Mallet, 1406, onde se encontra até a atualidade. Em 1994 o Ministério das Comunicações autori- zou a alteração das características técnicas da estação, possibilitando que o transmissor fosse instalado no Morro do Paxixi, o que resultou em um raio de cobertura superior. O Raul teve a ideia de mudar a classe da emissora para uma classe especial, aumentando a potência e instalando a antena em cima do morro na Serra. A partir de então, a América que só pegava aqui com transmissor de um quilowatt, teve aumento da potência, passou a transmitir para toda a região. Em todas as cidades que nós íamos, estavam ouvindo a rádio porque não havia outra FM, e a América era uma rádio genuinamente regional, era nos- sa, que falava nossa língua. (MELLO, 2020, informação verbal)7. Fonte: Elaborada pelo autor (2021). De acordo com editorial do jornal O Panta- neiro (EDITORIAL..., 1989, p. 3), a emissora trouxe “[...] a modernização computadoriza- da buscando assimilação nesta cidade onde ainda se ouve o som grave e cansado do ber- rante, se vê o canoeiro e o peixe, e as tardes são sonolentas e belas como é próprio da pacatez da vida interiorana”. A primeira sede da emissora foi no terceiro andar do Edifício Mármora, situado na Rua Estêvão Alves Corrêa, esquina com a Rua Sete de Setembro, no centro da cidade. A primeira faixa de frequência da emissora foi 102,3 MHz, com transmissor de 1 quilowatt de potência, instalado no terraço do edifício, o que restringia a abrangência da emissora para o âmbito local. Com um potencial eletrônico admirá- vel, equipada com os mais modernos recursos da atualidade, essa nova emissora detém o mais avançado par- que técnico do país. Amanhã, serão lançados programas inéditos, além de estratégias especiais para atender as exigências de cada segmento emba- sado em pesquisa junto a população, conforme informações do diretor Raul Freixes. (EDITORIAL..., 1989, p. 3). Ao anunciar a festa de inauguração da FM América, a edição nº 1.410, de 17 a 23 de setembro de 1989, do jornal O Pantaneiro, destacava a participação do governador de Fonte: Elaborada pelo autor (2021). PANORAMA Goiânia, v. 11, n. 1, p. 26-33, jan/jun. 2021 . ISSN 2237-1087028 O auge da emissora foi na década de 1990, líder absoluta de audiência, podendo ser sintonizada, além de Aquidauana e Anastá- cio, em municípios limítrofes como Miranda, Dois Irmãos do Buriti, na região pantanei- ra e até mesmo na capital, Campo Grande. A alteração das características técnicas da estação visando a abrangência da cober- tura se justificou perante o Ministério das Comunicações, uma vez que Aquidauana possui extensa área geográfica, com mais de 17 mil km², em sua maioria na zona rural formada por distritos, área quilombola e al- deias indígenas (BRASIL, 2017). Até então, as AMs Difusora e Independente eram as únicas emissoras a cobrir os mais distantes rincões do município. De acordo com Ramos (2020, informação verbal)8, na década de 1990, já em novas instalações e com a ampliação da cobertura, a rádio passou a ter, como nome fantasia, FM Pan 100,9. Em 2011, após travar disputa jurídica com a Rádio Panamericana S/A, a Jovem Pan 100,9 do município de São Paulo, a emissora de Aquidauana foi proibida pelo Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul a utilizar o termo ‘Pan’ em sua denominação, mesmo após a defesa alegar que a nomen- clatura remete a Pantanal, uma vez que o município sede é considerado portal de en- trada para o bioma brasileiro. De acordo com a determinação judicial, o termo ‘Pan’ é mar- ca registrada da Rádio Panamericana S/A, negando provimento à apelação feita pela emissora de Aquidauana contra ação movi- da pela rádio paulistana (RÁDIO..., 2011). O PALANQUE NAS ONDAS DO RÁDIO A realidade das estações de rádio no muni- cípio de Aquidauana não foge às práticas comuns estabelecidas no meio em outras regiões do País. O rádio é visto como um instrumento ideal para que agentes políticos consigam atingir o maior número de apoiado- res possível, o que resulta na capitalização de votos em períodos eleitorais. Não por acaso, a maioria das emissoras do município pos- sui vínculos diretos ou indiretos com agentes políticos que possuem ou tiveram mandatos eletivos, das comerciais à comunitária. De acordo com Ortriwano (1985, p. 60), o rá- dio e a política estão arroladas desde o início da trajetória do meio a fim de assegurar a doutrinação ideológica da audiência. A influ- ência política no setor da radiodifusão, “[...] visa garantir a adoção por parte das empre- sas de rádio e televisão de uma linha de ação voltada para a manutenção do status quo de- finido pela ideologia do grupo dominante”. Moreira (1998, p. 118) registra que, no Bra- sil, desde a década de 1930, muitos nomes do rádio conquistaram ouvintes que, na sequência, tornaram-se eleitores graças à atuação radiofônica. De acordo com a pes- quisadora, a partir dos anos de 1980, [...] “o estreito convívio de radialistas com a polí- tica foi intensificada”,garantindo sucesso eleitoral em escalas regionais localizadas, sendo ampliado posteriormente, na década de 1990, para o âmbito nacional. Fernandes (2011, p. 134), no entanto, aposta no rádio local como palanque eletrônico para “[...] projetar cidadãos no cenário político ou tornar políticos ainda mais populares”. A vi- sibilidade mediada que os meios de massa, como o rádio, propiciam aos agentes políti- cos se configura em uma estratégia política, como reforça Thompson (2008), de enfrenta- mento às lutas diárias no intuito de atingir seus objetivos, melhorando sua imagem e, em alguns casos, suplantando opositores. Conforme o citado teórico, a nova visibilida- de está intimamente relacionada às novas maneiras de agir e interagir trazidas pela mídia, na qual os representantes da classe política “[...] utilizaram-se dos novos meios de comunicação não só como um veículo para promulgar decretos oficiais, mas tam- bém como meio de construir uma imagem de si que poderia chegar a pessoas em re- giões afastadas” (THOMPSON, 2008, p. 22). Assim, além da visibilidade, observa-se que a credibilidade que o rádio transmite para a audiência pode ser considerado um dos fa- tores que têm contribuído para a eleição de diversos comunicadores, radialistas e empre- sários da radiodifusão a cargos eletivos ao longo das últimas décadas, sendo este um fenômeno ainda mais acentuado em municí- pios interioranos. De acordo com Costa (2005, p. 143), o rádio traz vantagens para os candidatos, sejam eles proprietários ou radialistas, devido à sua penetração junto ao público, pois os co- loca “[...] em contato direto, afetivo e cons- tante com os ouvintes, que dessa maneira estão mais propícios a se tornarem eleitores daqueles”. Esta penetração está associada, na maioria das vezes, pelo vínculo de intimi- dade e confiança que o comunicador esta- belece com a audiência, por meio das ondas sonoras, ao utilizar expressões corriqueiras, tais como ‘meu amigo, minha amiga ouvin- te’, ‘minha comadre, meu compadre’, ‘alô vi- zinha, alô vizinho’. Como salientam Chantler e Harris (1998, p. 21), no rádio, “[...] você está falando para uma pessoa, como se estivesse conversando com ela, bebendo juntos uma xícara de café ou um copo de cerveja”, o que reforça a proximidade estabelecida entre au- diências e comunicadores. Thompson (2008) ressalta que, a partir do surgimento do rádio, líderes políticos pude- ram falar diretamente para milhares de pes- soas, estabelecendo uma intimidade espe- cial. De acordo com o autor, a comunicação de líderes políticos pelo rádio reconfigurou a relação falante-público em que os orado- res utilizam de uma linguagem que poderia estimular uma comoção coletiva. Através do rádio, “[...] a oratória contundente do discur- so apaixonado pôde ser substituída pela inti- midade de um bate-papo ao lado da lareira”, ou seja, aproximando a classe política de seu público (THOMPSON, 2008, p. 24). A forma distanciada e impessoal da maioria dos líderes políticos do passa- do foi sendo gradualmente substituí- da por este novo tipo de intimidade mediada, pela qual os políticos podem apresentar-se não somente como líde- res, mas como seres humanos, como indivíduos comuns dirigindo-se a seus companheiros cidadãos, abrindo se- letivamente aspectos de suas vidas e caráter como numa conversa ou de maneira até mesmo confessional. (THOMPSON, 2008, p. 24-25). Em Aquidauana, por anos, a FM América foi líder absoluta em audiência, principalmente no período matutino, considerado horário no- bre no rádio. O programa de maior sucesso na emissora foi o ‘Raul Especial’, apresenta- do pelo sócio-proprietário da emissora, entre as décadas de 1990 e 2000. Como o próprio nome sugere, é o tipo de programa onde “[...] a figura do apresentador é cultuada, moti- vando os ouvintes a participarem dos qua- dros do programa de cunho eminentemente popular, com conteúdos de entretenimento e serviços” (BARBOSA FILHO, 2009, p. 143). A prestação de serviço em estações do inte- rior sempre foi pilar da programação de emis- soras em AM. Na FM América, no entanto, práticas assistencialistas se mesclavam a ini- ciativas de prestação de serviço nas ondas do rádio. O programa ‘Raul Especial’ conti- nha quadros para divulgação de oportunida- des de trabalho por parte de empresários e possibilitava a oferta de mão de obra pelos próprios trabalhadores. Além disso, promo- via campanha de arrecadação de alimentos para famílias em vulnerabilidade social e re- alizava a transmissão dos reclames diários dos ouvintes em relação serviços públicos prestados pela administração municipal. De acordo com Canclini (2002, p. 46), o rádio, desde as primeiras décadas do século XX, fa- lou sobre as cidades, expressando, de formas distintas, o cotidiano urbano. Para o autor, a ampliação da interação a partir da fala de pessoas comuns por linhas telefônicas torna- va possível “[...] diariamente amplificar recla- mações, pedir a solidariedade dos próprios locutores ou, ainda, de outros ouvintes”. O radialista Alex Ercílio Cabreira de Mello9, que atuou por mais de 20 anos na América, ressalta que o programa ‘Raul Especial’, na FM América, apresentava este viés social, fomentando a solidariedade dos ouvintes e representantes da esfera pública. As pessoas iam ao vivo pedir empre- go, sacolão, ou mesmo para resolver um problema de saúde. A rádio abra- çava, fazia uma campanha em cima e conseguia resolver o problema das pessoas que nos procuravam, e isso era muito forte. As pessoas acredi- tavam muito no poder da rádio, nes- se aspecto. Então, a [América] tinha uma penetração social muito grande. (MELLO, 2020, informação verbal). O pesquisador Barbosa Filho (2009), no en- tanto, adverte que é imprescindível que o comunicador tenha consciência do poder de intermédio que o rádio apresenta na presta- ção de serviço público. Para o autor, o veícu- lo cativa e seduz os ouvintes, direcionando- -os a atitudes e comportamentos de acordo com os padrões estabelecidos. “[...] é bom saber que estamos fazendo uso de um meio o qual influencia o cotidiano das pessoas, e assim nos possibilita resultados positivos” (BARBOSA FILHO, 2009, p. 50). No caso dos PANORAMA Goiânia, v. 11, n. 1, p. 26-33, jan/jun. 2021 . ISSN 2237-1087029 agentes políticos, estas possibilidades do rá- dio vão ao encontro dos interesses particula- res do locutor-político. Em Aquidauana, ao longo da história, obser- va-se que inúmeros radialistas disputaram eleições municipais a partir da redemocrati- zação, alguns obtendo êxito nos pleitos. Em 1988 se elegeu, pelo PT, Aládio Jorge Aran- da, que atuou como radialista na Rádio In- dependente de Aquidauana. No mesmo ano foi eleito Carlos Gentil Vasconcelos, pelo PSDB, sendo reeleito em 1992 pelo PDT. Nas eleições de 1996 foram eleitos, para o legis- lativo municipal, os também radialistas da FM América Ney Gabriel Azambuja e Luiz Carlos Benites, respectivamente pelo PDT e PFL. Em 2008 foi eleito, pelo PP, Waldemar dos Reis, que, por anos, apresentou o pro- grama ‘Radar’, na América FM, com o codi- nome Corrêa Filho. Nas eleições de 1992, o comunicador Raul Freixes se lançou à Prefeitura de Aquidauana ficando em terceiro lugar no pleito, com 4.440 votos. No processo eleitoral de 1996 se elegeu prefeito com 9.276 votos, pelo PSDB, e, em 2002, conquistou uma vaga no parlamento estadual pelo extinto PST, com 10.956 votos. É inegável que a exposição midiática do comunicador, por anos nas ondas do rádio, potencializou a sua imagem para que obti- vesse resultados satisfatórios nos pleitos que disputou. Como já mencionado, a emissora abrangia outras cidades limítrofes, amplian- do o seu potencial eleitoral. [...] a abrangência da rádio era grande e começou a ser sintonizada em toda a região. Nas cidades que íamos, as pessoas estavam ouvindo porque não havia outra emissora, e [a América] era uma rádio genuinamente regional, que falava a nossa língua. Mandáva- mos alô paraBodoquena, Miranda, toda essa região estava sempre em contato, tanto é que facilitou a vida do Raul que se tornou deputado em virtude da rádio. Aonde ele ia, nessa região nossa aqui, ele era conhecido. (MELLO, 2020, informação verbal). Uma vez eleito deputado estadual, Raul Frei- xes expandiu sua participação nos meios de comunicação, passando a apresentar, na TV Campo Grande, afiliada do SBT em Mato Grosso do Sul, o programa ‘Sem Limites’, e, posteriormente, entre 2009 e 2010, o progra- ma ‘O povo na TV’, que por anos teve à fren- te o também político-apresentador Maurício Picarelli (PEREIRA, 2015). Figura 3 - Raul Freixes no SBT MS apresenta O Povo na TV Nas eleições de 2006 o locutor-político ten- tou a reeleição pelo PTB e, mesmo alcançan- do mais de 14 mil votos, tornou-se suplente. Em 2008, já filiado ao PDT, Raul compôs, inicialmente, a chapa do pecuarista Odilon Ribeiro como candidato a vice-prefeito de Aquidauana. Porém, no decorrer do processo eleitoral, desistiu da candidatura e se tornou apoiador do candidato do PMDB à prefeitura de Aquidauana, Fauzi Suleiman. Em 2010 Raul Freixes registrou candidatura a deputado estadual pelo PT do B, na coligação Amor, Trabalho e Fé, liderada pelo governa- dor e candidato à reeleição André Puccinelli, do PMDB. No decorrer do pleito o comuni- cador teve seu registro de candidatura nega- do pelo Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso do Sul (TRE-MS) com base na lei da Ficha Limpa, por responder a processos pro- venientes de ações no Tribunal de Contas por má aplicação de dinheiro público, nos quais foi condenado (RAUL FREIXES..., 2010). NO FM, UMA PROGRAMAÇÃO ATRAEN- TE AO ESTILO AM O surgimento das emissoras em FM no Bra- sil com melhor qualidade na transmissão so- nora acentuou o fenômeno da especialização da programação e resultou em duas tendên- cias, que foram classificadas como rádios de Alta Estimulação e de Baixa Estimulação por Artur da Távola. Por meio desta categorização, as rádios de Baixa Estimulação priorizavam conteúdos de lazer e entretenimento; com fala elaborada e distante do coloquial; posição de serieda- de dos locutores e distantes dos ouvintes; com radiojornalismo produzido a partir de pequenas manchetes com notícias gerais ou internacionais. Neste modelo, que Ortriwano (1985) reclassifica como ‘rádio de relaxamen- to’, a essência da programação era musical, com tendência para cultura da classe média e de base estrangeira. Por outro lado, as emissoras de Alta Estimu- lação, ou de ‘mobilização’, para Ortriwano (1985), preconizavam a notícia local, a pres- tação de serviços e programas de esporte, com locutores mais próximos da audiência, estimulando o sentimento de solidariedade e participação nos principais acontecimentos da comunidade. Ainda que não fosse regra, este modelo de classificação remetia as rá- dios AMs como sendo de ‘mobilização’; e as de ‘relaxamento’, as FMs. Porém, a Améri- ca, no início de sua transmissão, optou por um modelo de programação marcado pela heterogeneidade, a fim de atender a audiên- cia fiel que estava acostumada com as duas emissoras AMs da cidade. O Raul foi inteligente porque ele não deixou de usar o lado popular na emissora, porque se fosse uma rádio americanizada como as de São Pau- lo, se ele fosse seguir aquele modelo, o ouvinte que era de fazenda não ia gostar. Então, ele introduziu modas sertanejas, e a linguagem do locutor se baseava numa forma de conversar próxima ao ouvinte lá da área rural. A linguagem foi uma linguagem para a região, por isso que ganhou espaço, aliado à sucumbida das AMs que teve uma queda não só aqui, mas a nível de Brasil. (MELLO, 2020, informação verbal). Para atender ao perfil dos ouvintes da região, Ramos (2020) conta que a emissora possuía 60% da programação musical voltada para o gênero sertanejo. Havia um programa espe- cífico, denominado ‘Triplex Sertanejo’, onde nomes como João Mineiro e Marciano, Chi- tãozinho e Xororó, Chrystian e Ralf, dentre outros, dominavam a programação musical. “A música sertaneja foi tomando conta. As pessoas absorviam o gênero e a gente evi- dentemente para atender, eram muitos pedi- dos sertanejos, foi mudando a plástica sono- ra da rádio e o linguajar também”, destaca Ramos (2020). Outro pilar de sustentação da programação na emissora foram as conhecidas Jornadas Esportivas, com transmissão de partidas de futebol do Estádio Municipal Mário Pinto de Souza, conhecido como Estádio Noroes- te de Aquidauana, e do Estádio Universitá- rio Pedro Pedrossian, o Estádio Morenão de Campo Grande. Tendo à frente os locutores Mário Mendonça e Mauro Lúcio Ortiz10, a América FM incorporou este modelo de pro- gramação, comum em emissoras AMs, a fim de atender ao gosto da audiência. O Mauro foi o narrador oficial do Cam- peonato Brasileiro em 1995 no Paca- embu entre Santos e Botafogo. Trans- mitimos muitos jogos do Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil, pois foi um período em que havia partidas aqui em Mato Grosso do Sul no Estádio Morenão. O Raul apoiava e sempre gostou de esporte, principalmente em jogos do Aquidauanense no campeo- nato estadual. Mas depois o futebol de Mato Grosso do Sul deu uma de- caída e não vieram mais jogos gran- des para o Morenão, a gente diminuiu as transmissões, ficando somente o esporte local e o campeonato sul-ma- to-grossense. (RAMOS, 2020, informa- ção verbal). Barbosa Filho (2009, p. 109) considera as coberturas esportivas um fenômeno radiofô- nico no Brasil, pois “[...] com seus jargões e chavões típicos e quase sempre originais, o locutor esportivo não apenas retrata fiel- mente o desenrolar da partida de futebol, mas dá contornos poéticos à sua descrição”. E isso Mauro Lúcio Ortiz fazia com maestria, sendo locutor e cronista de esporte reconhe- cido na região. Além da programação esportiva, a América FM era engajada na promoção de eventos esportivos locais, com campeonatos de fute- bol de areia, futsal, handebol; bem como de eventos culturais, por meio da realização de shows musicais com lançamento de músicos e bandas do município. Dentre os quadros da programação que fez sucesso na década de 1990 está o ‘Paquera na Cidade’. Confor- me Mello (2020, grifos do autor), os ouvintes mobilizados pela rádio, “[...] desciam dos bair- ros, das vilas, para o centro da cidade, no cal- Fonte: Print de vídeo no Canal do SBT MS no YouTube. Disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=2xc1bvAd8FI. Aces- so em: 24 maio 2021. PANORAMA Goiânia, v. 11, n. 1, p. 26-33, jan/jun. 2021 . ISSN 2237-1087030 çadão da Rua Sete de Setembro na esquina com a Rua Estêvão Alves Corrêa. Colocáva- mos uma caixinha de som e dávamos os re- cadinhos no quadro Namoro na Frequência”. Além de notas durante a programação, a emissora reservou, durante anos, dois horá- rios para programação jornalística: pela ma- nhã, das 7 às 8 horas, e no horário das 11 às 12 horas. Dentre os programas do gênero na emissora, destacaram-se ‘A voz da Amé- rica’ e, posteriormente, o programa ‘Radar’ apresentado por Waldemar dos Reis, de co- dinome Corrêa Filho, entre as 11 e 12 horas. Waldemar dos Reis, assim como Raul, alçou voos na política, sendo eleito vereador em 2008, conforme citado anteriormente. O ‘Radar’ priorizava pautas políticas e poli- ciais, uma característica predominante no jornalismo de rádio em cidades interiora- nas. Embora não pudesse ser configurado excepcionalmente como policial, o programa apresentava reportagens, comentários, entrevistas e notícias com temática policial quase que diariamente. Neste formato, Barbosa Filho (2009, p. 105) observa que, aliado a uma narrativa simbólica, há “[...] efeitos sonoros e trilhas musicais que real- çam o discurso e propiciam um ambiente de emoção e expectativa”. A programação essencialmente musical ge- ralmente ia ao ar no período vespertino. Den- tre os programas que se destacaram estão: ‘Potência 100’, que foi apresentado por Mô- nica Santos entre 2003 e 2010,das 13 às 15 horas; e ‘Top Pan Hits Sertanejo’, apresenta- do por Leonel Ramos, que fez sucesso desde meados da década de 1990. O investimento em tecnologia e a inovação sempre foram marcas da direção de Raul Freixes na FM América. A unidade móvel possuía equipamento via rádio que facilitava a cobertura de acontecimentos diretamente do local dos fatos ou eventos. Além do ime- diatismo, o recurso tecnológico possibilitou que a cobertura extrapolasse os limites geo- gráficos de Aquidauana. Em 1997 a rádio fez a transmissão exclusiva da primeira edição da Pantaneta11, a micare- ta de Aquidauana, um carnaval fora de épo- ca realizado anualmente no mês de setembro que aconteceu até 2009. Nomes consagrados do axé brasileiro se apresentaram, tais como: Banda Eva, Ivete Sangalo, Harmonia do Sam- ba, Gilmelândia, Asa de Águia, É o Tchan, entre outros. O evento também possibilitou o lançamento de diversas bandas locais e regionais, como SPCIA, Lia Mayo e Banda, entre outras. A rádio potencializou o evento com a co- bertura exclusiva direto do trio elétrico para diversos municípios da região graças à abrangência que possuía. Em 2000, em sua quarta edição, o evento reuniu mais de 80 mil pessoas, arrecadando, dos foliões, mais de 12 toneladas de alimentos para insti- tuições assistenciais (MICARETA..., 2000), mais uma iniciativa social que a emissora apoiou irrestritamente. Na década de 2010 a emissora passou a ser administrada pelo grupo GDS de Comunica- ção, que em Aquidauana já possuía o site e jornal Notícias do Estado, fundado em 1997 e atualmente administrado por Daniele Silva. Em 2014 o comunicador Raul Freixes ajui- zou ação contra o grupo alegando quebra de contrato e a justiça estadual concedeu liminar garantindo a posse da emissora aos sócios-proprietários (LIMINAR..., 2014). Ao longo dos anos a emissora tem sofrido alterações na direção motivadas por dispu- tas judiciais. Além de Raul, tem direito, às cotas da emissora, Thiago Garcia Oliveira, fi- lho da sócio-proprietária Elcíria Brandes Gar- cia, falecida em 2012. Em 2017 a Comarca de Aquidauana do Poder Judiciário afastou o comunicador Raul Freixes da administração da emissora, concedendo o direito à Thiago (COMUNICADOR..., 2017). Em 2019, a emis- sora passou a ser dirigida pelo empresário Renato Amorim com apoio do vereador You- ssef Saliba (COM APOIO..., 2019). No mesmo ano, a 2ª Vara Cível de Aquidauana determi- nou a adjudicação de 50% das cotas sociais penhoradas da empresa Rádio FM América de Aquidauana Ltda., que pertenciam a Raul Freixes, em favor do município de Aquidaua- na, que requereu a execução de título ex- trajudicial referente a crédito tributário em desfavor do comunicador. CONSIDERAÇÕES FINAIS O resgate do percurso da FM América de Aquidauana revela que a história da emis- sora e a trajetória do comunicador Raul Freixes são indissociáveis. É inegável que a fundação da estação, no final da década de 1980, representou um divisor de águas no cenário da radiodifusão sonora regional. Tanto a FM América quanto as emissoras pioneiras em AM de Aquidauana, Difusora e Independente, possuem importância signi- ficativa no processo de desenvolvimento dos meios de comunicação do município. Além de levar informação e entretenimento a mi- lhares de ouvintes, a América figurou, por muitos anos, como a única estação em FM para os municípios da região. Observou-se também as relações que a polí- tica e os meios de comunicação estabelecem entre si há anos no Brasil e identificou-se que este cenário tende a se acentuar em municí- pios interioranos. Relações que perpassam a conquista da concessão e avançam na dis- puta de poder através do personalismo e do palanque eletrônico que se consuma nas on- das do rádio. Há de se reconhecer que, embora de forma indireta, o rádio contribuiu para que muitas lideranças políticas emergissem e alcanças- sem o poder em diversos municípios bra- sileiros, graças à visibilidade que o meio possibilita. Não por acaso, diversos líderes populistas recorrem ao meio no intuito de se comunicar com uma audiência ampla, forma- da por diversas classes sociais. No que diz respeito ao estilo de programação adotado, foi possível observar que a Améri- ca, embora seja uma rádio FM, buscou aten- der, no início de sua trajetória, a um perfil de audiência fiel ao modelo de programação comum das estações em AM, onde o locutor estabelece uma relação próxima do ouvinte. E uma programação musical com predomi- nância para o gênero sertanejo, dada a re- alidade cultural do território no qual está situada. Considera-se que a América FM perdeu es- paço, ao longo dos anos, motivada por va- riados fatores, dentre os quais elenca-se: sucessivas alterações na administração, que resulta em instabilidade na programação e impacta, em certa medida, na fidelidade de ouvintes; perda de credibilidade associada à imagem negativa do comunicador e funda- dor Raul Freixes, fruto dos processos judi- ciais que responde na justiça estadual. Soma-se a isso a implantação de novas emis- soras em FM nos municípios da região e uma FM Comunitária em Aquidauana em 2009. Por fim, mais recentemente ocorreu a migração das AMs para a faixa de FM, o que possibilitou melhora significativa na quali- dade sonora dessas rádios, acirrando ainda mais a concorrência por ouvintes. Embora com liderança incontestável nas décadas de 1990 e 2000, o cenário de fragmentação as- sociado às novas formas de diálogo e intera- ção, tornaram-se elementos propícios para a movimentação das audiências da emissora. ____________________________ 1. Hélder Samuel dos Santos Lima Doutorando em Comunicação pela Universi- dade Federal de Goiás (UFG). Mestre em Comunicação pela Universida- de Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) (2018). 2. Nélia Rodrigues Del Bianco Professora convidada do Programa de Pós- -Graduação em Comunicação da Faculdade de Informação e Comunicação da Universi- dade Federal de Goiás (FIC-UFG). Professora Associada da Faculdade de Co- municação da Universidade de Brasília (UnB). Doutora em Comunicação pela ECA-USP (2004). Pós-doutorado na Universidade de Sevilha (2009). Mestrado em Comunicação pela UnB (1991). ____________________________ NOTAS: 1. Uma versão deste artigo foi apresentada no 5º Encontro Regional de História da Mídia. 4. A divisão do território do estado de Mato Grosso Uno foi efetivada no mandato do pre- sidente Ernesto Geisel a partir da assinatura da Lei Complementar nº 31, em 11 de outu- bro de 1977. A partir de então, ficou criado o estado de Mato Grosso do Sul abrangendo a porção sul do antigo estado unificado (MA- CEDO, 2016). PANORAMA Goiânia, v. 11, n. 1, p. 26-33, jan/jun. 2021 . ISSN 2237-1087031 5. A sócia da emissora integrou a Exatoria Estadual em Aquidauana, foi candidata a ve- readora em 2000, ficando como suplente. No mandato do prefeito Luiz Felipe Ribeiro Orro assumiu o cargo de secretária de Assistência Social, vindo a falecer em 3 de dezembro de 2012. (PLACÊNCIO, 2012). 6. Leonel Ramos trabalha como radialista desde a década de 1980 em Aquidauana, atuando na Rádio Difusora AM entre 1986 e 1990; na FM América entre 1990 e 2009; na comunitária FM Pantanal (87,9) de 2009 a 2011; e na Pantaneira AM de Anastácio des- de 2011, emissora que migrou para FM e pas- sou a ser denominada Nova FM Anastácio. 7. Informação concedida pelo radialis- ta, Alex Ercílio Cabreira de Mello, em 09/04/2021. 8. Informação concedida pelo radialista, Leo- nel Ramos, em 11/04/2020. 9. Iniciou no rádio em 1991 como locutor na FM América, auxiliou no processo de im- plantação da AM Pantaneira de Anastácio em 2011, que, após migrar para FM, pas- sou a ser denominada Nova FM Anastácio. Foi assessor do ex-deputado estadual Raul Freixes na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul durante o mandato parlamen- tar (2003-2006). 10. Atuou por mais de 40 anos como locu- tor e narrador esportivo no rádio aquidaua- nense. Foi um dos idealizadoresdo Torneio Roquette-Pinto, realizado anualmente no Gi- násio Poliesportivo, com partidas de futsal e voleibol, para homenagear Edgar Roquet- te-Pinto, considerado o pai da radiodifusão (LIMA; OTA, 2018). 11. A Avenida Doutor Sabino do Patrocínio, em Aquidauana, ficou conhecida popular- mente como Avenida Pantaneta e foi conclu- ída na administração de Raul Freixes (1997- 2000) a fim de sediar o evento. PANORAMA Goiânia, v. 11, n. 1, p. 26-33, jan/jun. 2021 . ISSN 2237-1087032 REFERÊNCIAS BARBOSA FILHO, André. Gêneros radiofônicos: os formatos e os programas em áudio. São Paulo: Paulinas, 2009. BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo demográfico 1991: resultados preliminares. Rio de Janeiro: IBGE, 1992. BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Cidades: Brasil, Mato Grosso do Sul: Aquidauana. Rio de Janeiro: IBGE, c2017. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ ms/aquidauana/panorama. Acesso em: 18 fev. 2021. 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