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Teologia Sistemática III Aula 6: A Igreja no Antigo Testamento Apresentação Nesta aula, apresentaremos a experiência de Israel como proto-Igreja de Deus. Analisaremos de que maneira, a Igreja, em sua identidade coletiva de Salvação ofertada por Deus, está presente na vocação de Israel, como Povo de Deus. Estudaremos alguns textos e questões que justi�quem a possibilidade de identi�car um fenômeno evidente no Novo Testamento, a Igreja de Cristo, ao longo das páginas do Velho Testamento. Bons estudos! Objetivos Analisar, no Antigo Testamento, as experiências e expressões da igreja (eclesiais), desde as promessas patriarcais até a mais re�nada teologia dos profetas; Explicar as expressões “Qahal” (hebraico) e “Laós” (grego da LXX) (povo ou assembleia) e de que maneira a Igreja de Cristo (conceito do Novo Testamento) está presente profeticamente no Antigo Testamento. Eclesiologia Anteriormente estudamos com a�nco os diversos aspectos acerca da pneumatologia, isto é, da teologia do Espírito Santo e das implicações da compreensão da ação do Espírito Santo a partir de Pentecostes (At 2) na vida das igrejas, através das experiências pentecostais. Agora chegou o momento de estudarmos a igreja (ekklesia), isto é, a Eclesiologia. (Fonte: Christin Lola / Shutterstock) Para começar, re�ita sobre as questões: De que maneira Deus quis a Igreja? O que é a Igreja? Qual é sua função no Plano de Deus? Nesta aula, iremos conhecer de que maneira encontramos, no Antigo Testamento, uma série de indicações da realidade da Igreja, por meio da noção de Povo de Deus (‘Qahal Iaweh’), como uma forma de profecia da Igreja, segundo a lemos no Novo Testamento. O estudo da Igreja, isto é, da sua identidade, con�guração e mensagem teológica não é um campo restrito ao Novo Testamento, no qual está plenamente revelada e esmiuçada pela teologia das tradições apostólicas de Paulo, João, entre outros escritos. Ao contrário, o Antigo Testamento, com sua revelação própria e indispensável, é o único horizonte válido para entendermos e avaliarmos as evoluções das diversas formas da Igreja de Cristo. Desde as primeiras revelações a Abraão (Gn 12) até o auge da formação das Doze Tribos dos Filhos de Jacó, temos um longo percurso de formação prototípica da Igreja nas Escrituras veterotestamentárias. A descendência de Abraão foi o primeiro embrião da Igreja? O início da Igreja Clique no botão acima. O Eterno Pai, pelo libérrimo e insondável desígnio da Sua sabedoria e bondade, criou o universo, decidiu elevar os homens à participação da vida divina e não os abandonou, uma vez caídos em Adão, antes, em atenção a Cristo Redentor “que é a imagem de Deus invisível, primogênito de toda a criação” (Col 1, 15) sempre lhes concedeu os auxílios para se salvarem. Aos eleitos, o Pai, antes de todos os séculos os “discerniu e predestinou para reproduzirem a imagem de Seu Filho, a �m de que Ele seja o primogênito de uma multidão de irmãos” (Rom 8, 29). E, aos que creem em Cristo, decidiu chamá-los à santa Igreja, a qual, pre�gurada já desde o princípio do mundo e admiravelmente preparada na história do povo de Israel e na Antiga Aliança, foi constituída no �m dos tempos e manifestada pela efusão do Espírito, e será gloriosamente consumada no �m dos séculos. Então, como se lê nos Santos Padres, todos os justos depois de Adão, “desde o justo Abel até ao último eleito”, se reunirão em Igreja universal junto do Pai. Fonte: //www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat- ii_const_19641121_lumen-gentium_po.html Este texto acima foi publicado há mais de 50 anos, em um gigantesco movimento ecumênico, o Concílio Vaticano II. Bispos, teólogos de diversas denominações cristãs (católica, protestantes, ortodoxa) reuniram-se por três anos em Roma para discutir diante dos desa�os do século XX, os javascript:void(0); rumos e os desa�os que o Cristianismo deveria enfrentar e assumir. Deste encontro surgiram não só inspirações para todas as igrejas, como também documentos, que até hoje, continuam a nortear um sadio diálogo e colaboração ecumênica entre as diversas igrejas no mundo. Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Saiba mais Leia o texto “O Concílio Ecumênico Vaticano II ”. Observe a citação a seguir. E, aos que creem em Cristo, decidiu chamá-los à santa Igreja, a qual, pre�gurada já desde o princípio do mundo e admiravelmente preparada na história do povo de Israel e na Antiga Aliança. (LG 2) Dois pontos destacam-se nesta questão quando se busca entender de que maneira a Igreja, que é um evento do Novo Testamento da Revelação de Cristo, pode ser vista ou concebida presente já na história de Israel e até mesmo antes. Vamos conhecê-los. Primeiro: A santa Igreja, a qual, pre�gurada já desde o princípio do mundo. javascript:void(0); O Concílio entende aqui que o Desígnio de Salvação da Humanidade, da parte de Deus, não constitui um evento individual, como se os salvos fossem resgatados por Deus isoladamente uns dos outros. O Mistério da Igreja, neste sentido, é a Decisão Divina de encerrar a todos, coletivamente, na esfera da Redenção. Por isso, desde o início, a Teologia mais tradicional entendeu o pecado original como uma realidade que atingiu a todos os seres humanos e não somente o primeiro casal humano (Adão e Eva). Em última instância, a Igreja está incoativa no destinatário da Salvação, a Humanidade, que, depois da queda do pecado original, torna-se objeto da Misericórdia Divina. Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Porque isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador. Que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade. Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem. (1 Tim 2, 3-5) Segundo: (...) E admiravelmente preparada na história do povo de Israel e na Antiga Aliança (LG 2) O Mistério da Igreja, enquanto rede social de Salvação, corresponde ao gênero humano, gregário, social e comunitário em sua essência. Foi um desastre, com consequências atuais, o surgimento de ideologias do individualismo moderno que, a partir do século XVII, junto com os racionalismos e empirismo, dominou o pensamento e a cultura europeia, até o auge do Iluminismo. Saiba mais Assista aos seguintes vídeos: O mundo pós-moderno e o mal-estar na civilização; Rouanet de�ne a Modernidade - Curso Livre de Humanidades; Sérgio Paulo Rouanet: a Pós-modernidade. O cristianismo na modernidade Qual o sentido desta discussão para nossa disciplina? Simples. A religião não é um fenômeno isolado do mundo, de suas reviravoltas culturais, suas ideologias, seus sistemas econômicos. O Cristianismo teria sido alvo de um mundo de individualismo? Quais são as consequências, com a suposta contaminação ideológica, para a autocompreensão e a prática cristã? Existiu um pensamento cristão in�uenciado pela modernidade? Em outros termos, um dos universais da modernidade ocidental é a suposição dominante de que o homem, em sua subjetividade, na sua constituição mais íntima, é o centro e o fundamento do mundo (TAYLOR, 1997 e GIDDENS, 2002). Em texto antológico, Rouanet (O Mal-estar da Modernidade, 2001) propôs uma intensa re�exão sobre a modernidade do ponto de vista de sua crise ou mal-estar. Este projeto civilizatório da modernidade, que está em plena crise, na opinião de diversos autores, tem como ingredientes principais os conceitos de: javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0); 1 Universalidade Signi�ca “que ele visa todos os seres humanos, independentemente de barreiras nacionais, étnicas ou culturais” (ROAUNET, 2009, p. 9). 2 Individualidade Signi�ca “que esses seres são considerados como pessoas concretas e não como integrantes de uma coletividade e que se atribui valor ético à sua crescente individualização” (ROAUNET, 2009, p. 9). 3 Autonomia Signi�ca “que esses seres humanos individualizados são aptos a pensarempor si mesmos, sem a tutela da religião, ou da ideologia, a agirem no espaço público e a adquirirem pelo seu trabalho os bens e serviços necessários à sobrevivência material” (ROAUNET, 2009, p. 9). Estes temas parecem um excursus, um desvio de nossos objetos de aula, mas não se pode entender corretamente o Judeu-Cristianismo sem estudar os desa�os do pensamento moderno e das ideologias que se aninham em torno de �lósofos, políticos e agentes culturais. Em particular, como se pode viver a fé fora da esfera da Cidade, da esfera Pública, do entorno da cultura e da vida social? Por isso, a segunda Tese de Lumen Gentium a�rma que a Igreja se funda já no Desígnio Comunitário do Povo de Israel é o fundamento de uma eclesiologia veterotestamentária! Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Saiba mais Muitos autores se ocuparam destas reações �losó�cas à modernidade, ainda nos séculos XVIII e XIX. Leia os textos: >MARTINS, A. et alii (org.). As Ilusões do Eu. Spinoza e Nietzsche. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011. HABERMAS, J. O Discurso Filosó�co da Modernidade. São Paulo: Martins Fontes, 2000. COMPAGNON, A. Os Antimodernos. De Joseph de Maistre a Roland Barthes. Belo Horizonte: EDUFMG, 2011. Leia, ainda, sobre os seguintes pontos: As relações entre Cristianismo e Modernidade ZILLES, U. A Crítica da Religião na Modernidade. INTERAÇÕES - Cultura e Comunidade / v. 3 n. 4 / p. 37-54 / 2008. O Protestantismo como uma forma de Cristianismo da Modernidade? Riesebrodt, M. A ética protestante no contexto contemporâneo. Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 24, n. 1, pp. 159-182, 2012. Atividade 1. Diante do exposto sobre a questão do individualismo e a religião, responda às seguintes questões: Como o individualismo que caracteriza a modernidade in�uencia o Cristianismo? Quais são as consequências dessas in�uências? O conceito de Povo da Aliança "Em todos os tempos e em todas as nações foi agradável a Deus aquele que O teme e obra justamente (cfr. At 10, 35). Contudo, aprouve a Deus salvar e santi�car os homens, não individualmente, excluída qualquer ligação entre eles, mas constituindo-os em povo que O conhecesse na verdade e O servisse santamente. Escolheu, por isso, a nação israelita para Seu povo. Com ele estabeleceu uma aliança; a ele instruiu gradualmente, manifestando-Se a Si mesmo e ao desígnio da própria vontade na sua história, e santi�cando-o para Si. Mas todas estas coisas aconteceram como preparação e �gura da nova e perfeita Aliança que em Cristo havia de ser estabelecida e da revelação mais completa que seria transmitida pelo próprio Verbo de Deus feito carne. Eis que virão dias, diz o Senhor, em que estabelecerei com a casa de Israel e a casa de Judá uma nova aliança... Porei a minha lei nas suas entranhas e a escreverei nos seus corações e serei o seu Deus e eles serão o meu povo... Todos me conhecerão desde o mais pequeno ao maior, diz o Senhor." (Jer 31, 31-34; LG 9) Deste cinquentenário texto surge a intuição a que nos referíamos ao ensejar dentro de uma aula de teologia uma re�exão sobre a individualismo na cultura moderna, que desde o século XVI vem in�uenciando a religião cristã: Em todos os tempos e em todas as nações foi agradável a Deus aquele que O teme e obra justamente (cfr. At 10, 35). Contudo, aprouve a Deus salvar e santi�car os homens, não individualmente, excluída qualquer ligação entre eles, mas constituindo-os em povo que O conhecesse na verdade e O servisse santamente. Escolheu, por isso, a nação israelita para Seu povo. Com ele estabeleceu uma aliança; a ele instruiu gradualmente, manifestando-Se a Si mesmo e ao desígnio da própria vontade na sua história, e santi�cando-o para Si. Este texto demarca nosso objetivo de aula: De um lado, as relações com Deus se estabelecem no modo interpessoal (“aquele que O teme e obra justamente”). De outro, Deus estabelece o modo comunitário como forma ordinária da Revelação e da Salvação humana (“aprouve a Deus salvar e santi�car os homens, não individualmente, excluída qualquer ligação entre eles, mas constituindo-os em povo”). Em consequência, a escolha de Israel como Povo, pelos pactos e alianças, determinou o modus operandi’ da Revelação e da Salvação, que de Israel, Povo de Deus, alcançará a Igreja de Cristo, no Novo Testamento, como poderemos estudar na próxima aula: s Escolheu, por isso, a nação israelita para Seu povo. Com ele estabeleceu uma aliança; a ele instruiu gradualmente, manifestando-Se a Si mesmo e ao desígnio da própria vontade na sua história, e santi�cando-o para Si. A igreja no período patriarcal Em Gn 12-50 lemos as sagas patriarcais de Israel. Nessas sagas fundadoras, Israel leu suas origens não à luz da mitologia, mas da intervenção histórica de Deus: Abraão (Gn 12-25) Destacam-se como dados da Eclesialidade veterotestamentária a forma de relação entre Deus e seu Povo. O primeiro elemento é a escolha de um casal, em vista da formação de uma descendência, escolhida para celebrar uma forte aliança. No núcleo da promessa (Gn 12), que será reiterada diversas vezes, encontram-se a terra, a descendência e a posteridade. O Senhor disse a Abrão: “Deixa tua terra, tua família e a casa de teu pai e vai para a terra que eu te mostrar. Farei de ti uma grande nação; eu te abençoarei e exaltarei o teu nome, e tu serás uma fonte de bênçãos. Abençoarei aqueles que te abençoarem, e amaldiçoarei aqueles que te amaldiçoarem; todas as famílias da terra serão benditas em ti”. (Gn 12, 1-3) O Senhor disse-lhe: “Sabe que teus descendentes habitarão como peregrinos numa terra que não é sua, e que nessa terra eles serão escravizados e oprimidos durante quatrocentos anos. Mas eu julgarei também o povo ao qual estiverem sujeitos, e sairão em seguida dessa terra com grandes riquezas. Naquele dia, o Senhor fez aliança com Abrão: “Eu dou – disse ele – esta terra aos teus descendentes, desde a torrente do Egito até o grande rio Eufrates: a terra dos cineus, dos ceneseus, dos cadmoneus, dos heteus, dos ferezeus, dos amorreus, dos cananeus, dos gergeseus e dos jebuseus”. (Gn 15, 13-14; 18-21) E, por �m, com o nascimento de Isaac, completa-se um ciclo de estabelecimento de pactos, promessas e alianças. A circuncisão será o sinal físico de uma pertença coletiva: Abrão tinha noventa e nove anos. O Senhor apareceu-lhe e disse-lhe: “Eu sou o Deus Todo-poderoso. Anda em minha presença e sê íntegro; quero fazer aliança contigo e multiplicarei ao in�nito a tua descendência”. Abrão prostrou-se com o rosto por terra. Deus disse-lhe: “Este é o pacto que faço contigo: serás o pai de uma multidão de povos. De agora em diante não te chamarás mais Abrão, e sim Abraão, porque farei de ti o pai de uma multidão de povos. Tornarei a ti extremamente fecundo, farei nascer de ti nações e terás reis por descendentes. Faço aliança contigo e com tua posteridade, uma aliança eterna, de geração em geração, para que eu seja o teu Deus e o Deus de tua posteridade. Darei a ti e a teus descendentes depois de ti a terra em que moras como peregrino, toda a terra de Canaã, em possessão perpétua, e serei o teu Deus”. Deus disse ainda a Abraão: “Tu, porém, guardarás a minha aliança, tu e tua posteridade nas gerações futuras. Eis o pacto que faço entre mim e vós, e teus descendentes, e que tereis de guardar: todo homem, entre vós, será circuncidado. Cortareis a carne de vosso prepúcio, e isso será o sinal da aliança entre mim e vós. (Gn 17, 1-11) A Igreja no período mosaico Com Moisés, as relações e pactos entre Deus e o Povo abraamico, que se estruturará a partir das 12 tribos de Jacó, neto de Abraão, tornaram-se de�nitivas por meio da experiência da Páscoa. Essa narração estende-se pelos outros quatro livros do Pentateuco, onde se destacam dois livros: Êxodo e Deuteronômio (Fonte: Masha Arkulis / Shutterstock) A vocação de Moisés De início, na história de Moisés, como lemos em Ex 2, sua iniciativafrustrada e desastrosa de assumir responsabilidades diante do estado de opressão de Israel explica-se, seja pela atitude isolada do Plano de Deus, que ele não conhecia (Deus de Abraão, Isaac e Jacó), como também pela falta de conexão com o Povo de Israel (que o rejeita como libertador!): Saindo de novo no dia seguinte, viu dois hebreus que estavam brigando. E disse ao culpado: “Por que feres o teu companheiro?”. Mas o homem respondeu-lhe: “Quem te constituiu chefe e juiz sobre nós? Queres, porventura, matar-me como mataste o egípcio?”. Moisés teve medo e pensou: “Certamente a coisa já é conhecida”. (Ex 2, 13-14) No relato de sua Vocação plena, não mais autoiniciativa, nem individualista, Deus se faz conhecer em sua novidade, ao mesmo tempo em que se apresenta como o Deus da memória dos Pais: Eu sou – ajuntou ele – o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó”. Moisés escondeu o rosto, e não ousava olhar para Deus. O Senhor disse: “Eu vi, eu vi a a�ição de meu povo que está no Egito, e ouvi os seus clamores por causa de seus opressores. Sim, eu conheço seus sofrimentos. E desci para livrá-lo da mão dos egípcios e para fazê-lo subir do Egito para uma terra fértil e espaçosa, uma terra que mana leite e mel, lá onde habitam os cananeus, os hiteus, os amorreus, os ferezeus, os heveus e os jebuseus. Agora, eis que os clamores dos israelitas chegaram até mim, e vi a opressão que lhes fazem os egípcios”. Deus respondeu a Moisés: “Eu sou aquele que sou”. E ajuntou: “Eis como responderás aos israelitas: (Aquele que se chama) ‘Eu sou’ envia-me junto de vós”.* Deus disse ainda a Moisés: “Assim falarás aos israelitas: É Javé, o Deus de vossos pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó, quem me envia para junto de vós. Esse é o meu nome para sempre, e é assim que me chamarão de geração em geração”. “Vai, reúne os anciãos de Israel e dize-lhes: O Senhor, o Deus de vossos pais, o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó apareceu- me. E disse-me: eu vos visitei, e vi o que se vos faz no Egito”. (Ex 3, 6-9. 15-16) Nesse momento crucial, além da identidade Divina, em duas disposições, no v. 6. 15.16 – Deus dos Pais e o novo Nome, v.14 – o “Eu Sou”, temos de relevante para a Eclesiologia do Antigo Testamento o conhecimento, o interesse e a compaixão de Deus não por indivíduos ou pelo próprio Moisés, mas pelo meu Povo, do qual ouviu clamores (“Eu vi, eu vi a a�ição de meu povo que está no Egito, e ouvi os seus clamores por causa de seus opressores. Sim, eu conheço seus sofrimentos.). Deus resgata a Promessa Abraamica da Terra, da nação e da Salvação. O Deserto do Sinai: A Lei No núcleo da vocação libertadora de Moisés, ao longo dos 40 anos pelo deserto, uma peregrinação puri�cou o Povo e constituiu uma aventura comunitária. As tribos, até então sem elos entre si, como veremos de certa maneira na terra prometida até Davi, que uni�ca Israel, na forma política do Reino, tiveram uma experiência de agrupamento. Central, além da experiência da Páscoa, é o Encontro com o Decálogo no Sinai: No terceiro mês depois de sua saída do Egito, naquele dia, os israelitas entraram no deserto do Sinai. Tendo partido de Ra�dim, chegaram ao deserto do Sinai, onde acamparam. Ali se estabeleceu Israel em frente ao monte. Moisés subiu em direção a Deus, e o Senhor o chamou do alto da montanha nestes termos: Eis o que dirás à família de Jacó, eis o que anunciarás aos �lhos de Israel: Vistes o que �z aos egípcios, e como vos tenho trazido sobre asas de águia para junto de mim. Agora, pois, se obedecerdes à minha voz, e guardardes a minha aliança, sereis o meu povo particular entre todos os povos. Toda a terra é minha, mas vós me sereis um reino de sacerdotes e uma nação consagrada. Tais são as palavras que dirás aos israelitas. (Ex 14, 1-6) A Eclesiologia judaica se estabelece nesta promessa, com suas condições. Trata-se de um solene comunicado à família de Jacó ou aos �lhos de Israel e não a indivíduos isolados. A condição divina é a vivência dos preceitos de Deus (LEI): (se obedecerdes à minha voz e guardardes a minha aliança). Como consequência, esta multidão será constituída como Povo (meu), separado (consagrado) entre todos os Povos da terra: (sereis o meu povo particular entre todos os povos.) E, por �m, terá uma missão cultual e um testemunho sobre Deus no mundo: (sereis um reino de sacerdotes e uma nação consagrada). Ex 20 é primeira fórmula de uma nova condição do Povo de Deus: O Decálogo é a constituição daquela Nação criada por Deus. A Igreja no Período Profético O auge da compreensão da Lei (Torah) ocorre no período profético, antes do Exilio da Babilônia, durante e mesmo no retorno. Destacam-se os grandes Profetas do Sul. No Centro da Teologia ou do Anúncio Profética, está a relação de Israel com Deus, marcada pela in�delidade (idolatria) e pela injustiça social, judeus maltratam judeus. Eles foram os grandes teólogos da Aliança, da Fidelidade e da Observância social da Lei. Eles atualizaram o conhecimento de Deus, pois não bastava mais conhecer a Deus através de uma experiência Enoteísta (Deus do Clã), mas era o momento de confessar o pleno Monoteísmo. A crítica social dos profetas que atingia diretamente as instituições religiosas, como o Templo e o Culto, reclamava uma verdadeira identidade social da Fé judaica. Não bastava um culto tecnicamente ordenado se a social era marcada pela assimetria, a injustiça e a opressão da viúva, do órfão e do estrangeiro. Textos fortes sacodem a consciência religiosa e social de Israel: Ouvi a palavra do Senhor, príncipes de Sodoma; escuta a lição de nosso Deus, povo de Gomorra: De que me serve a mim a multidão das vossas vítimas? – diz o Senhor –. Já estou farto de holocaustos de cordeiros e da gordura de novilhos cevados. Eu não quero sangue de touros e de bodes. Quando vindes apresentar- vos diante de mim, quem vos reclamou isto: atropelar os meus átrios? De nada serve trazer oferendas; tenho horror da fumaça dos sacrifícios. As luas novas, os sábados, as reuniões de culto, não posso suportar a presença do crime na festa religiosa. Eu abomino as vossas luas novas e as vossas festas; elas me são molestas, estou cansado delas. Quando estendeis vossas mãos, eu desvio de vós os meus olhos; quando multiplicais vossas preces, não as ouço. Vossas mãos estão cheias de sangue. Lavai-vos, puri�cai-vos. Tirai vossas más ações de diante de meus olhos. Cessai de fazer o mal, aprendei a fazer o bem. Respeitai o direito, protegei o oprimido; fazei justiça ao órfão, defendei a viúva. (Is 1, 10-17) Muitos outros conceitos análogos, assim como uma imensa diversidade de experiências ao longo de toda a narrativa bíblica do Antigo Testamento, fundamentam a necessidade de reconhecer que, apesar de ser um evento da Fundação do próprio Cristo, a Igreja estava incoativa e modelar na experiência do chamamento de Israel, como Povo de Deus, seu Reino particular, pela Aliança e a vivência dos Mandamentos. Por uma forma social de vida na fraternidade baseada na justiça. Atividade 2. Tomando as narrativas mosaicas, de que maneira nelas encontram-se os marcos da eclesialidade (Igreja) no AT? Traga textos do Êxodo que exempli�quem esta questão. 3. Que relações se podem estabelecer entre o Povo de Israel e a Igreja? Escolha a opção CORRETA: a) Não há elos entre Israel no AT e a Igreja do NT. b) O Povo de Israel é a versão falida da Igreja no NT. c) A Igreja do NT anulou plenamente o Povo de Israel. d) O Povo de Israel não pode ser comparado à Igreja do NT. e) Ambos representam a Aliança de Deus com a Humanidade Referências LOEHRER, Magnus; FEINER, Johannes. Mysterium salutis: Compêndio de Dogmática histórico- salví�ca. Vol. IV. Petrópolis: Vozes, 1975. Morbiolo, R. G. A doutrina sobre a Igreja: aspectos gerais de evolução histórica. Revista de Cultura Teológica (18), 71, p. 61-78, 2010.ROL O PROTESTANTISMO BRASILEIRO. Estudo de eclesiologia e de história, social. Disponível em: //www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/34900/37636.Acesso em: 22 ago. 2019. PIÉ-NINOT, S. Introdução à Eclesiologia. São Paulo: Loyola, 1998. Próxima aula Fundação da Igreja, por Cristo e os diversos conceitos e experiências eclesiais no conjunto do Novo Testamento; Evangelhos; Cartas Paulina; Apocalipse. Explore mais javascript:void(0); Leia os textos: SANTOS, P. P. A. O Espírito e a Igreja: As perspectivas do Novo Testamento, em particular dos Escritos Joaninos. Atualidade Teológica 21, p. 73-93, 2002. ROLOFF, J. A Igreja no Novo Testamento. São Leopoldo: Sinodal, 2005. RABUSKE, J. I. A Igreja em suas origens: Revisitando os Atos dos Apóstolos. Teocomunicação 42/1, p. 5-18, 2012.
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