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Livro-Texto - Unidade II

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66
Unidade II
Unidade II
5 CIÊNCIAS ÔMICAS: EXOMA E METABOLOMA
Uma maneira de entender o funcionamento de nossas células é avaliar as moléculas presentes em 
seu interior. É disso que tratam as ciências ômicas, assunto deste tópico. Elas visam a identificação e a 
quantificação do conjunto de moléculas biológicas (DNA, RNA, proteínas ou produtos do metabolismo) 
de um organismo. As principais são:
• A genômica, que visa ao sequenciamento dos genes.
• A exômica, que visa à caracterização dos éxons que constituem esses genes.
• A transcriptômica e a proteômica, que visam, respectivamente, à identificação dos transcritos de 
RNA e das proteínas expressas em determinada célula ou organismo.
• A metabolômica, que mapeia os produtos do metabolismo.
Você percebeu que existe uma relação de causa e consequência quando analisamos o conjunto de 
“omas” de um organismo? O exoma, que mapeia as regiões codificadoras do DNA (éxons), é consequência 
de como se organiza o genoma; o transcriptoma é resultado dos mecanismos que regulam a transcrição 
do genoma e a edição do transcrito primário; o proteoma é resultante da tradução dos transcritos 
pelos ribossomos; e o metaboloma é decorrente das proteínas expressas na célula. Portanto, ao analisar 
esses aspectos, temos uma visão clara de como os conjuntos de células se comportam em diferentes 
microambientes, ou, ainda, uma ideia dos fatores que determinam o fenótipo do organismo.
Genômica
Transcriptômica
Exômica
Proteômica
Metabolômica
DNA
RNA
Proteínas
Bioquímica
Fenótipo
Figura 27 – Integração entre as ciências ômicas
Adaptada de: https://bit.ly/3CF4t1C. Acesso em: 18 nov. 2021.
67
BIOMEDICINA INTEGRADA
Vamos abordar o exoma e o metaboloma, que são as ciências ômicas mais recentemente desenvolvidas. 
Você vai aprender como elas são realizadas, experimentalmente, quais suas aplicações na pesquisa e no 
diagnóstico e quais os resultados da sua integração com as demais ciências ômicas.
• Tópico 5.1: estudo do exoma e suas aplicações.
• Tópico 5.2: estudo do metaboloma e suas aplicações.
5.1 Exoma
O exoma é o ensaio que analisa todas as regiões codificadoras do genoma humano. Seu principal 
objetivo é identificar mutações que possam estar relacionadas com o desenvolvimento de doenças.
Antes de iniciarmos, vamos relembrar a estrutura básica do gene?
5.1.1 Estrutura básica do gene
Os genes são as unidades funcionais dos cromossomos. Eles guardam as informações para que as 
proteínas sejam produzidas, no citoplasma.
A maioria dos genes é constituída de um conjunto particular de sequências reguladoras, seguido de 
regiões codificadoras (éxons) entremeadas por regiões não codificadoras (íntrons).
 Observação
As sequências de nucleotídeos que codificam a proteína estão nos éxons.
A região promotora constitui a principal sequência reguladora e está presente em virtualmente 
todos os genes. Os fatores de transcrição e a RNA polimerase ligam-se ao promotor para iniciar 
sua transcrição.
A transcrição do gene origina um transcrito primário, que contém a leitura integral de todos os 
íntrons e éxons que o constituem. Esse transcrito primário é processado pelo mecanismo de splicing do 
RNA, para a remoção das sequências intrônicas e a subsequente ligação das extremidades dos éxons. 
O resultado é a molécula de RNA mensageiro (mRNA) maduro, contendo as informações necessárias 
para que o ribossomo produza a proteína correspondente.
A maquinaria de splicing, ou spliceossomo, é constituída de um grande complexo proteico que 
envolve cinco moléculas de snRNA (small nuclear RNA; U1, U2, U4, U5 e U6) e cerca de 150 proteínas 
regulatórias. Cada um dos snRNAs se complexa às proteínas regulatórias e forma os chamados snRNPs 
(small nuclear ribonucleoprotein complex). A ligação dos cinco snRNPs com os sítios de splice, que são 
sequências de nucleotídeos específicas presentes nas junções éxon-íntron do transcrito primário, resulta 
na remoção de cada íntron e na subsequente ligação dos éxons. Os éxons ligados entre si constituem o 
68
Unidade II
mRNA, que migra para o citoplasma e é lido pelos ribossomos, o que gera a produção de uma proteína 
pelo processo de tradução.
Modificações 
pós-traducionais
RNA
Cadeia de 
aminoácidos
mRNA
Tradução
Transcrição
Promotor
Gene (DNA) Exon Exon Exon Exon
Intron Intron Intron
Splicing
Proteína
Figura 28 – Estrutura básica do gene e mecanismos de transcrição, splicing e tradução
Adaptada de: https://bit.ly/3pklx8q. Acesso em: 18 nov. 2021.
Frequentemente, o spliceossomo pode processar de forma diferencial os éxons de um mesmo transcrito 
primário por meio do mecanismo de splicing alternativo, responsável por gerar diferentes transcritos a 
partir de um mesmo gene.
As formas principais de splicing alternativo são:
• a omissão de um ou mais éxons (exon skipping);
• a existência, no gene, de sítios alternativos de splice a 5´ e/ou a 3´ da junção íntron/éxon que gera 
o sítio “original”;
• a retenção de sequências intrônicas no mRNA formado (intron retention);
• outros processos que incluem, por exemplo, sítios alternativos de transcrição e múltiplos sítios de 
poliadenilação.
69
BIOMEDICINA INTEGRADA
Em resumo, após o splicing alternativo, nem todos os éxons são incorporados ao mRNA. Observe a 
estrutura de um gene hipotético, representado a seguir. Ele é constituído por 7 éxons (caixas), separadas 
por regiões intrônicas (linhas) e seu transcrito primário está sujeito ao mecanismo de splicing alternativo.
1 2 3 5 6 7 4
Transcritos
Gene
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Figura 29 – Modelo esquemático da estrutura genômica e das variantes de splice de um gene hipotético. 
Os éxons estão indicados por caixas e os íntrons por linhas. A região codificadora de cada variante está em vermelho
Da figura anterior, podemos notar que, embora o éxon 1 esteja presente em todos os transcritos, 
aqueles de 2 a 7 podem ou não estar presentes, total ou parcialmente, nos diferentes transcritos de 
mRNA. Ao serem traduzidas, essas moléculas de mRNA serão responsáveis pela geração de 10 proteínas 
diferentes a partir do mesmo gene.
Acredita-se que até 65% dos transcritos de genes humanos sejam formados pelo mecanismo de 
splicing alternativo, o que contribui de forma significativa para a complexidade do proteoma humano e 
explica a alta discrepância entre o número de genes e o de proteínas estimadas.
As diferentes proteínas que participam da estrutura do spliceossomo são responsáveis pela regulação 
positiva e negativa dos mecanismos de splicing constitutivo e alternativo dos genes. Embora a maioria 
das variantes de splice não esteja relacionada com o desenvolvimento de patologias, algumas podem 
resultar em síndromes e quadros clínicos patológicos, que incluem o câncer. Essas variantes, geradas a 
partir de mutações gênicas, podem originar a expressão de proteínas que, em condições normais, não 
estariam presentes no microambiente celular.
O conjunto de éxons representa cerca de 1,5% do genoma humano, apenas. No entanto, a maioria das 
doenças genéticas está relacionada com mutações nos éxons, que podem tanto resultar em alterações 
pontuais nos aminoácidos que constituem a proteína final, como na expressão de variantes de splice 
associadas ao desenvolvimento de processos patológicos.
5.1.2 Métodos de investigação do exoma e indicações do exame
O exoma é o conjunto completo dos éxons que integram o genoma de um indivíduo, determinado a 
partir do sequenciamento de seus nucleotídeos.
70
Unidade II
O sequenciamento shotgun é a técnica classicamente realizada para a determinação da sequência 
de nucleotídeos em um fragmento de DNA. Ela é realizada a partir da fragmentação inicial do DNA-alvo, de 
maneira randômica, seguida da inserção desses fragmentos em plasmídeos e do seu sequenciamento. 
Após essas etapas, a fita de DNA íntegra é reconstruída com o uso de softwares específicos a partir da 
sobreposição dos produtos do sequenciamento.
Realizar o sequenciamento de todo o genoma, ou até mesmo detodo o exoma, por meio da técnica 
de sequenciamento shotgun é um processo muito demorado e trabalhoso.
Recentemente, o sequenciamento de próxima geração (Next Generation Sequencing, ou NGS) tem 
permitido o sequenciamento de bilhões de fragmentos gênicos em paralelo, o que possibilita que a 
análise do genoma e do exoma seja realizada de maneira mais rápida e barata. Essa técnica possibilita o 
sequenciamento e a avaliação de grande volume de dados por ferramentas de bioinformática.
 Saiba mais
Para revisar os detalhes das diferentes técnicas de sequenciamento, acesse:
FIETTO, J. L. R.; MACIEL, T. E. F. Sequenciando genomas. In: MOREIRA, L. 
M. (org.). Ciências genômicas: fundamentos e aplicações. Ribeirão Preto: 
Sociedade Brasileira de Genética, 2013.
O exoma, portanto, identifica as mutações nucleotídicas presentes nas sequências dos éxons. Suas 
principais aplicações são destacadas a seguir.
• Determinação de doenças multigênicas.
• Investigação dos aspectos moleculares envolvidos na patogênese e na resposta a fármacos de 
diferentes tipos de câncer.
• Verificação de risco em casais consanguíneos.
• Identificação de doenças genéticas cuja hipótese diagnóstica não está clara ou cujos resultados 
de outros exames foram inconclusivos.
A análise dos dados obtidos é realizada por uma equipe multidisciplinar, composta de profissionais 
da área da saúde com diferentes formações para determinar quais mutações são importantes no 
desenvolvimento da patologia e quais são inócuas.
71
BIOMEDICINA INTEGRADA
 Observação
O cariótipo identifica alterações cromossômicas extensas. Os microarranjos 
de DNA, as inserções e as deleções de pequenos trechos do cromossomo. 
O exoma, por sua vez, é capaz de reconhecer mutações de um único nucleotídeo.
A principal limitação do exoma é sua incapacidade de determinar se os éxons alterados por mutações 
serão ou não incorporados ao mRNA pelo mecanismo de splicing alternativo. Para isso, o ideal é realizar 
o transcriptoma, ensaio que prevê a determinação indireta da sequência dos mRNAs presentes no 
citoplasma da célula a partir da sua transcrição reversa, seguida do sequenciamento dos cDNAs obtidos.
 Lembrete
A molécula de mRNA é instável, por isso é necessário sintetizar a 
molécula de DNA complementar (cDNA), que é, então, sequenciada.
5.2 Metaboloma
O metaboloma é o conjunto de todas as pequenas moléculas oriundas do metabolismo, presentes 
em um organismo. A análise do metaboloma, ou metabolômica, permite a determinação do perfil 
metabólico do indivíduo, que é consequência dos aspectos elucidados pelas outras ciências ômicas.
É importante ressaltar que as análises do metaboloma são realizadas a partir da comparação 
entre grupos de amostras. Por exemplo, pode-se comparar o metaboloma de um grupo exposto a um 
determinado fator ambiental (grupo teste) com outro não exposto (controle). Assim, é possível concluir 
como o fator ambiental é capaz de modular as diferentes vias metabólicas.
Vamos, agora, relembrar quais são as principais vias metabólicas do nosso organismo?
5.2.1 Vias metabólicas
O metabolismo é o conjunto de reações químicas, mediadas por enzimas, que ocorrem em nosso 
organismo e são responsáveis pela manutenção do seu equilíbrio energético e funcional.
São muitas as vias metabólicas presentes no organismo humano. As principais delas são glicólise, 
ciclo de Krebs, fosforilação oxidativa, via das pentoses-fosfato, ciclo da ureia, betaoxidação dos ácidos 
graxos, gliconeogênese, metabolismo da bilirrubina, síntese de neurotransmissores e de hormônios, 
entre muitas outras. Elas trabalham de maneira integrada, a fim de garantir a homeostase.
72
Unidade II
A homeostase celular é mantida a partir do perfeito equilíbrio entre as vias catabólicas, que se 
baseiam na obtenção de energia das moléculas presentes nos nutrientes; e o anabolismo, que visa a 
produção de novos componentes celulares da utilização da energia liberada pelas reações catabólicas.
As enzimas são proteínas responsáveis por catalisar as reações químicas que ocorrem nos seres vivos. 
Elas se ligam de maneira específica (no esquema chave-fechadura) a certos substratos, e converte-os em 
produtos que podem ser considerados intermediários ou, ainda, metabólitos.
Energia necessária para que a 
conversão do substrato em produto 
ocorra na ausência da enzima
Energia necessária para que a 
conversão do substrato em produto 
ocorra na presença da enzima
Complexo enzima-substrato
En
er
gi
a
Tempo
Enzima + substrato
Enzima + produto
∆G
Figura 30 – Representação esquemática de uma reação mediada por enzima. Note que a energia de ativação 
necessária para que a conversão do substrato em produto ocorra é menor na presença da enzima
Adaptada de: https://bit.ly/3Du6XAZ. Acesso em: 18 nov. 2021.
Muitas doenças são decorrentes de mutações nos genes que codificam enzimas envolvidas 
em diferentes vias metabólicas. Um exemplo é a fenilcetonúria, causada por um defeito na enzima 
fenilalanina hidroxilase.
Outras são causadas pelo acúmulo de determinado metabólito no organismo. Na insuficiência renal, 
por exemplo, ocorre aumento dos níveis plasmáticos de ureia, secundário à incapacidade dos rins de 
realizar a excreção dessa substância. Além disso, diversos fatores ambientais, como a alimentação, a 
prática de esportes, a exposição a poluentes ambientais e a substâncias tóxicas de diferentes naturezas 
são capazes de alterar o metabolismo.
Consequentemente, a metabolômica constitui uma importante evolução não somente no campo 
das análises clínicas, mas em outras áreas do conhecimento, como, por exemplo, a nutrição, a fisiologia 
do esporte e a toxicologia.
73
BIOMEDICINA INTEGRADA
5.2.2 Métodos de investigação do metaboloma
A metabolômica pode ser direcionada para algumas moléculas-alvo pertencentes a uma determinada 
via metabólica (metabolômica-alvo ou targeted metabolomics), ou para o perfil total dos metabólitos do 
organismo ou do sistema estudado (metabolômica global ou untargeted metabolomics). Além disso, é 
possível quantificar os metabólitos, aspecto importante na investigação de diversas desordens funcionais.
Metabolômica alvo (Targeted metabolomics)
Seleção de 
metabólisto
Coleta e preparo 
de anostra
Análise 
instrumental
Processamento 
dos dados
Análise 
estatística
Interpretação 
biológica
Metabolômica global (Untargeted metabolomics)
Coleta e preparo 
de amostra
Análise 
instrumental
Processamento 
dos dados
Análise 
estatística
Identificação 
dos metabólitos
Interpretação 
biológica
Figura 31 – Esquema resumido do fluxograma de trabalho envolvido nas análises metabolômicas
Fonte: Canuto et al. (2018, p. 76).
A natureza química dos metabólitos é muito diversa. O metaboloma é composto tanto de moléculas 
orgânicas de baixo peso molecular, como a ureia, quanto de moléculas maiores e mais complexas, como 
os lipídeos e os carboidratos. Por conta dessa diversidade, não existe uma única técnica para a detecção 
do metaboloma, mas um conjunto delas.
O planejamento experimental envolve a escolha do tipo de amostra biológica mais adequada para 
realização da análise (tipo de fluido biológico, células, tecido etc.), com base na suspeita clínica ou 
experimental e a definição dos grupos de controle e teste. Além disso, é necessário providenciar o 
armazenamento correto das amostras que visa à interrupção da atividade enzimática, e determinar qual 
a técnica experimental mais adequada para a execução das análises.
As amostras devem ser preparadas de acordo com o tipo de análise a ser realizada e os metabólitos 
que se deseja avaliar. Nessa etapa, é executada a concentração dos analitos e a remoção dos interferentes.
As principais técnicas experimentais que possibilitam a identificação dos analitos são a espectrometria 
de massas e a ressonância magnética nuclear. Ademais, podem ser praticados protocolos que utilizam 
infravermelho por transformada de Fourier.
74
Unidade II
A espectrometria de massas, como vimos anteriormentenos ensaios de Maldi-Tof, é uma técnica 
que permite a caracterização de uma amostra a partir da determinação da relação massa/carga de suas 
moléculas versus a intensidade do sinal detectado pelo equipamento.
O espectrômetro de massas, muitas vezes, está acoplado a outras tecnologias, que realizam a separação 
dos componentes antes da determinação do referido espectro. As principais delas são cromatografia 
gasosa, cromatografia líquida de alta performance (HPLC) e eletroforese capilar.
A cromatografia gasosa é bastante empregada nas análises metabolômicas. Ela é eficiente para a 
detecção de compostos voláteis. Nessa técnica, a amostra é submetida à vaporização e conduzida por 
um gás de arraste em direção a uma fase estacionária líquida, posicionada em uma coluna. Quanto 
maior a afinidade química entre os analitos vaporizados e o líquido que constitui a fase estacionária, 
mais tempo eles ficam retidos no líquido. Assim, é possível realizar a separação dos analitos presentes 
na amostra de acordo com o tempo de retenção.
À medida que os analitos se desprendem da fase estacionária, eles são direcionados ao espectrômetro 
de massas para que sejam identificados.
Fase 
estacionária
Espectro 
de massas
Detector
Controlador do fluxo 
do gás de arraste
Gás de 
arraste
Injeção da amostra 
e vaporização
Figura 32 – Representação do cromatógrafo a gás acoplado ao espectrômetro de massas
Adaptada de: https://bit.ly/3x6hBM4. Acesso em: 18 nov. 2021.
A cromatografia líquida de alta performance é eficaz na determinação de diferentes classes de 
compostos. Nela, a amostra, líquida, passa por uma fase estacionária sólida. A interação entre os analitos 
presentes na amostra e a fase sólida ocorre por diferentes mecanismos, e a separação é possível a partir 
da eluição dos analitos em solventes específicos. Após a eluição, obtém-se o espectro de massas.
A eletroforese capilar é complementar às técnicas cromatográficas, pois promove a separação 
de compostos iônicos polares. Ela é baseada na separação dos analitos a partir da submissão a um 
campo elétrico.
75
BIOMEDICINA INTEGRADA
A ressonância nuclear magnética por sua vez é uma técnica que se baseia na submissão da amostra 
a um campo magnético, seguida da determinação da configuração dos átomos de hidrogênio presentes 
nas moléculas que constituem a amostra. Trata-se de uma técnica relativamente simples e bastante 
abrangente, que pode ser realizada mesmo em amostras sólidas.
5.2.3 Aplicações da metabolômica
As principais aplicações das análises do metaboloma são as indicadas a seguir:
• Análises ambientais: avaliação da resposta dos organismos (plantas e animais) a fatores bióticos 
e abióticos, incluindo pesticidas e outros poluentes.
• Análises clínicas: determinação do metaboloma de diferentes tipos de câncer; avaliação de 
biomarcadores de diversa doenças, de origem genética ou não.
• Fisiologia do esporte: avaliação da performance durante o exercício físico e das alterações 
metabólicas decorrentes do doping.
• Nutrição: relação entre dieta, estilo de vida e metabolismo.
• Microbiologia e parasitologia: elucidação do metabolismo de bactérias, fungos, protozoários 
e helmintos.
• Toxicologia: avaliação do uso de drogas e dos mecanismos de dependência.
 Observação
O biomédico é o profissional que tem uma visão integrativa dos aspectos 
moleculares e clínicos envolvidos no estabelecimento de diferentes 
patologias. As ciências ômicas, em conjunto, são ferramentas que facilitam 
a análise desses aspectos.
Nesse aspecto, o tratamento e a análise dos dados obtidos 
experimentalmente são fundamentais. Ela é feita por softwares específicos, 
acompanhados ou não de análises estatísticas.
O biomédico habilitado em informática da saúde pode se especializar na 
avaliação desse tipo de dado e, assim, dar apoio às equipes multidisciplinares 
que conduzem as etapas experimentais e clínicas.
76
Unidade II
6 MICROBIOMA
Você sabia que muitas doenças são originadas de alterações no nosso microbioma? O microbioma 
é o conjunto de todos os genes presentes em determinada microbiota.
A microbiota humana, antigamente conhecida como flora humana, é o conjunto de todos os 
microrganismos que residem no nosso corpo. Ela é constituída principalmente de bactérias, mas também 
de algumas espécies de fungos, arqueas, vírus e protozoários. Vários tecidos e fluidos têm sua própria 
microbiota que, se equilibrada, convive em simbiose com nosso organismo.
 Observação
Simbiose refere-se à interação entre duas espécies, que resulta em 
vantagens mútuas.
Somados, os microrganismos que compõem nossa microbiota constituem cerca de 1 a 2% de nosso 
organismo. São trilhões de células que pertencem a milhares de espécies diferentes.
Dizemos que nossa microbiota está em eubiose quando ela encontra-se em equilíbrio, com as 
diferentes espécies de microrganismos atuando em conjunto para a promoção da saúde do indivíduo. 
O estado de desequilíbrio é denominado disbiose, que pode ocorrer tanto pela diminuição da quantidade 
quanto da qualidade dos microrganismos que a compõem. A disbiose pode ser resultado de vários 
fatores como, por exemplo, o uso de medicamentos, principalmente os antibióticos; o estilo de vida do 
indivíduo, que inclui a prática de exercícios físicos e os hábitos de alimentação; além de fatores genéticos.
Entre todos os microbiomas, o mais estudado – e complexo – é, sem dúvidas, o intestinal. Ele tem papel 
não somente na manutenção da saúde do tubo digestório, mas de outros sistemas orgânicos. É sobre o 
estudo do microbioma intestinal que vamos nos debruçar a partir de agora.
Mas, afinal, qual a sua relevância e como estudá-lo? Qual a sua real importância na promoção da 
saúde humana?
Para responder a essas perguntas, o texto será dividido em três partes:
• Tópico 6.1: principais espécies de bactérias presentes no microbioma intestinal, assim como suas 
principais funções.
• Tópico 6.2: relação entre o microbioma e as doenças, assim como as perspectivas de tratamento.
• Tópico 6.3: conhecimento das principais técnicas utilizadas no estudo do microbioma.
77
BIOMEDICINA INTEGRADA
6.1 Principais espécies de bactérias que colonizam o intestino humano e 
suas funções
A microbiota que habita o trato gastrointestinal humano é constituída principalmente de bactérias 
cuja população absoluta (aproximadamente 3,8 x 1013 células) é maior do que o total de células que 
temos em nosso organismo.
O genoma dessas bactérias excede em cerca de 100 vezes o número de genes que temos em nossas 
células, ou seja, para cada gene humano, temos 100 genes provenientes das bactérias da microbiota 
intestinal. Portanto, não é de se estranhar que as bactérias intestinais participem de virtualmente todos 
os processos fisiológicos no corpo humano.
A seguir, vamos identificar as principais funções da microbiota intestinal humana:
• Promove proteção contra microrganismos patogênicos a partir da secreção de substâncias que 
inibem seu crescimento.
• Proporciona o desenvolvimento e a maturação do sistema imunológico a partir do fortalecimento 
do mecanismo de tolerância imunológica e do tecido linfoide associado ao intestino.
• Fortalece as mucosas intestinais a partir do estímulo da produção de muco protetor e de moléculas 
antibacterianas.
• Metaboliza os nutrientes que não podem ser digeridos, como as fibras alimentares, e produz 
moléculas importantes para a saúde, principalmente, os ácidos graxos de cadeia curta.
• Produz substâncias químicas que interagem com o tubo digestório.
• Participa do eixo microbiota-intestino-cérebro a partir da secreção de inúmeras substâncias que 
incluem os neurotransmissores.
• Atua na produção de vitaminas, como a B e a K.
• Biotransforma medicamentos a partir do chamado metabolismo de primeira passagem.
 Lembrete
O metabolismo de primeira passagem é a biotransformação do 
fármaco pelo fígado e/ou pela microbiota intestinal, antes de ele atingir a 
circulação sistêmica.
78
Unidade II
6.1.1 Desenvolvimentoda microbiota humana
Embora alguns autores considerem que a placenta, o cordão umbilical e o líquido amniótico 
apresentem espécies de bactérias responsáveis por colonizar o intestino do feto, a maioria dos estudos 
indica que a colonização do intestino é iniciada ao nascimento pelo contato do neonato com as 
bactérias da mãe durante o parto vaginal. De fato, alterações na microbiota foram observadas em 
crianças nascidas por cesariana, uma vez que elas não entram em contato com a microbiota vaginal no 
momento do parto, mas com as bactérias presentes na pele da mãe.
A amamentação também é importante para o desenvolvimento da microbiota no neonato. Os 
lactobacilos e as bifidobactérias predominam no intestino de crianças alimentadas exclusivamente com 
o leite materno. A proporção relativa daquelas alimentadas com leites formulados é menor e ocorre 
aumento concomitante da população de Clostridium spp., Bacteroides spp. e de membros da família 
Enterobacteriaceae. A partir dessa etapa da vida, o maior determinante da microbiota intestinal passa 
a ser a dieta.
Quando os cereais, as frutas e os vegetais são introduzidos na dieta, aumenta a população de outras 
espécies do filo Bacteroidetes, Firmicutes e Actinobacteria, de modo que, ao completar um ano de idade, 
a criança já apresenta uma microbiota diferenciada e diversa, semelhante à dos adultos. O genoma 
dessas bactérias contém genes cujos produtos participam do metabolismo dos oligossacarídeos e das 
glicanas, o que resulta na produção de ácidos graxos de cadeia curta. Ademais, as bactérias da microbiota 
sintetizam vitaminas e outros metabólitos que participam da homeostase.
Além da dieta, algumas evidências sugerem que fatores genéticos contribuem para a composição da 
microbiota, uma vez que sua similaridade foi maior entre gêmeos monozigóticos quando comparados 
com gêmeos dizigóticos.
6.1.2 Principais espécies de bactérias presentes na microbiota intestinal
Os principais filos de bactérias presentes na microbiota intestinal são Proteobactérias, Actinobacterias, 
Bacteroidetes e Firmicutes. Mais de 90% delas pertencem aos dois últimos.
O filo Bacteroidetes é composto de bactérias Gram-negativas com alto conteúdo GC. A maioria dos 
representantes que coloniza a mucosa intestinal pertencem aos gêneros Bacteroides e Prevotella.
 Observação
O conteúdo GC é um parâmetro que se refere à porcentagem de 
resíduos de guanina-citosina no DNA. Constitui uma espécie de “impressão 
digital” dos organismos.
As bactérias do filo Bacteroidetes são encontradas, em grande número, no intestino de pessoas 
veganas/vegetarianas ou de indivíduos que consomem grande quantidade de alimentos de origem vegetal.
79
BIOMEDICINA INTEGRADA
Elas utilizam, como combustível energético, as glicanas e os oligossacarídeos presentes em frutas 
e legumes (fibras insolúveis e solúveis, respectivamente) e produzem, a partir da fermentação dessas 
moléculas, os ácidos graxos de cadeia curta (acetato, propionato e butirato, entre outros). O butirato, em 
particular, tem ação anti-inflamatória e está associado à manutenção do estado de homeostase.
O
O-
Figura 33 – Fórmula estrutural do butirato
Disponível em: https://bit.ly/3kNOLeg. Acesso em: 18 nov. 2021.
A maioria das bactérias do filo Firmicutes, por sua vez, são cocos e bacilos Gram-positivos que 
apresentam baixo conteúdo GC. Alguns de seus exemplos são Lactobacillus spp. e Clostridium spp. Essas 
bactérias são mais encontradas no intestino daqueles que consomem carboidratos simples e gorduras 
de origem animal.
Indivíduos que mantêm dietas carnívoras possuem microbiota intestinal menos diversa. Isso 
ocorre porque o consumo de gordura animal aumenta a produção de ácidos biliares que impedem a 
sobrevivência de várias espécies de bactérias, em especial, as do gênero Bacteroidetes.
Além disso, vários estudos demonstraram que indivíduos magros apresentam maior proporção de 
Bacteroidetes do que de Firmicutes, o que indica que a microbiota também tem papel importante na 
reeducação alimentar a partir da metabolização de nutrientes presentes nos alimentos.
Os produtos do metabolismo bacteriano, em especial, os ácidos graxos de cadeia curta, participam 
não somente da fisiologia do trato gastrointestinal, mas de outras funções em todo o organismo. Vamos, 
agora, explorar o papel dessas moléculas na manutenção da homeostase?
6.1.3 Ácidos graxos de cadeia curta
As bactérias do filo Bacteroidetes são as principais produtoras de ácidos graxos de cadeia curta, 
principalmente o butirato, a partir da fermentação de oligossacarídeos e de glicanas presentes em 
alimentos de origem vegetal. Essas moléculas desempenham diferentes papéis no organismo humano, 
conforme segue:
• Modulação do sistema imunológico: os ácidos graxos de cadeia curta causam aumento do 
número de linfócitos T regulatórios, regulam as atividades dos granulócitos e dos linfócitos, inibem 
a ativação do fator de transcrição NF-kappa B, que é pró-inflamatório, e reduzem a incidência de 
reações alérgicas.
• Inibição da proliferação de bactérias patogênicas: o acetato e o lactato, em particular, são 
tóxicos para as espécies de bactérias causadoras de patologias intestinais.
80
Unidade II
• Secreção de muco pelos enterócitos: o butirato aumenta a produção de mucina pelas células 
caliciformes do intestino, o que contribui para a proteção da mucosa intestinal.
• Síntese das proteínas que participam das junções estreitas (tight junctions): as junções entre 
os enterócitos garantem uma barreira eficaz entre os microrganismos e as substâncias presentes 
na luz intestinal e a circulação sistêmica. Ao elevar a expressão das proteínas que participam 
dessas junções, o butirato garante que a integridade da barreira intestinal seja mantida.
• Redução do estresse oxidativo: o butirato inibe a NADPH-oxidase e a produção de espécies 
reativas de oxigênio nas células endoteliais.
• Diminuição do pH do intestino: pHs mais baixos estão relacionados com o aumento da absorção 
de minerais e da solubilidade dos sais biliares.
• Aceleração do peristaltismo: os ácidos graxos de cadeia curta estimulam a musculatura lisa do 
tubo gastrointestinal, o que aumenta sua mobilidade.
 Observação
Alterações na quantidade de bactérias produtoras de butirato 
podem desencadear o quadro de leaky gut, ou intestino permeável. Ele 
ocorre quando as junções estreitas entre os enterócitos são perdidas, o 
que faz com que uma série de substâncias e microrganismos atinjam a 
circulação sistêmica.
A partir do exposto, entendemos o porquê de a disbiose poder resultar em doenças e em estados 
inflamatórios em todo o organismo, uma vez que os ácidos graxos de cadeia curta produzidos no 
intestino são absorvidos e, portanto, exercem seu papel benéfico nos diferentes sistemas orgânicos.
6.2 A disbiose e o desenvolvimento de doenças
Alterações quali e quantitativas na microbiota intestinal, como resultado do uso de antimicrobianos 
e de outros medicamentos, de dietas pobres em fibras vegetais e ricas em gorduras animais, dos 
nascimentos por cesariana, da falta de amamentação e do uso de agentes antissépticos, entre outros, 
estão relacionadas com o desenvolvimento de doenças.
Existem diversos estudos que associam o microbioma intestinal não apenas com o desenvolvimento 
de doenças no tubo digestório, como, por exemplo, a colite pseudomembranosa e as doenças intestinais 
inflamatórias crônicas, mas com o estabelecimento de processos alérgicos; com o desenvolvimento de 
câncer, de diabetes dos tipos 1 e 2 e de insuficiência renal; e com uma série de condições do sistema 
nervoso central, que incluem o autismo, o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade, a depressão, 
o transtorno bipolar, a ansiedade e até mesmo a doença de Parkinson.
81
BIOMEDICINA INTEGRADA
Vamos, agora, entender como isso acontece e o que pode ser feito como tratamento de algumas 
dessas afecções a partir da intervenção na microbiota.
6.2.1 A microbiota e as doenças intestinais
A disbiosepode favorecer o crescimento de espécies de bactérias que, mesmo pertencendo à 
microbiota normal, são potencialmente patogênicas. Uma das principais é a Clostridium difficile, que 
causa quadro de colite pseudomembranosa e cuja proliferação é prevenida pelas bactérias das famílias 
Ruminococcaceae, Lachnospiraceae e Porphyromonadaceae, e ao gênero Bacteroides. Essas bactérias 
competem com a C. difficile pelo ambiente intestinal e são capazes de secretar substâncias que controlam 
a população no intestino.
A importância da diversidade da microbiota intestinal para a prevenção da colite pseudomembranosa 
por C. difficile é evidenciada pelo fato de que uma das principais causas dessa condição é o uso de 
antibióticos de amplo espectro. Outros medicamentos, como os inibidores da bomba de prótons, 
também predispõem ao quadro de diarreia por C. difficile, pois diminuem a população de Bacteroidetes 
e aumentam a de Firmicutes.
Alterações da microbiota intestinal ainda foram observadas em outras doenças inflamatórias do 
intestino, como, por exemplo, a doença de Crohn, – embora não se saiba ainda se a disbiose, nesse 
caso, seja causa ou consequência da doença – e a colite ulcerativa – provavelmente relacionada com 
aumento de população de Fusobacterium no intestino.
No caso da dispepsia, há indícios de que os principais causadores do quadro – que inclui gases, 
sensação de empachamento, queimação e náuseas após uma refeição – seriam os ácidos graxos de 
cadeia curta produzidos pelas bactérias da microbiota, que, em excesso, causam alteração da secreção 
de bicarbonato e nas populações de bactérias presentes na luz do trato gastrointestinal superior.
Alterações na microbiota foram, também, observadas em casos de flatulência, constipação e cólica.
6.2.2 A microbiota e as alergias
A inter-relação entre a microbiota e o sistema imunológico resulta não somente na aquisição de 
tolerância a bactérias comensais e a antígenos presentes em alimentos, como permite que o sistema 
imunológico reconheça e ataque bactérias patogênicas.
Além de influenciar a resposta imune localmente, a microbiota influencia a imunidade inata 
e adaptativa em nível sistêmico. Essas evidências foram colhidas a partir de estudos realizados em 
camundongos sem microbiota, que desenvolveram alterações significativas na imunidade e nos níveis 
de imunoglobulinas IgA, ausência de muco protetor e alteração no sistema linfático associado à mucosa 
do intestino.
82
Unidade II
 Lembrete
As imunoglobulinas IgA atuam a partir da inibição da aderência dos 
microrganismos à mucosa e da aglutinação e depuração deles.
As alergias alimentares, por exemplo, surgem da quebra do mecanismo de imunotolerância a 
antígenos presentes nos alimentos em um processo altamente dependente da microbiota intestinal.
O mecanismo de imunotolerância envolve a ativação de linfócitos T reguladores (Treg) por antígenos 
presentes nos alimentos. Ele sofre influência de vários elementos, que incluem fatores genéticos e 
epigenéticos, amamentação, uso de antibióticos e de inibidores da bomba de prótons, utilização de 
agentes antissépticos, dieta, convívio com animais de estimação etc. Vários deles, como você pode notar, 
são capazes de alterar a microbiota.
Embora não se compreenda, até o momento, quais bactérias da microbiota são responsáveis pelo 
desenvolvimento das alergias alimentares, sabe-se que a disbiose precede o estabelecimento da alergia 
e que afeta não apenas a ocorrência, mas o curso da alergia. Assim, a microbiota intestinal nos seis 
primeiros meses de vida é a mais relevante para o desenvolvimento de alergias alimentares.
A hipótese da higiene diz que a incidência de alergias e de doenças autoimunes é maior em 
indivíduos que não foram expostos aos patógenos nos primeiros anos de vida. Neles, o sistema 
imunológico não é estimulado de maneira adequada, o que compromete o estabelecimento do 
mecanismo de tolerância.
Mais tarde, observou-se que os microrganismos presentes na microbiota, se alterados durante a 
infância, podem modular, intensificar ou inibir os mecanismos de resposta do sistema imunológico, de 
modo a causar doenças autoimunes e/ou alergias.
 Saiba mais
Para entender a sustentação científica da hipótese da higiene, leia a 
dissertação a seguir:
PEIXOTO, R. P. L. S. A hipótese da higiene: sustentação científica. 
2010/2011. Dissertação (Mestrado Integrado em Medicina) – Universidade 
do Porto, Porto, 2010/2011. Disponível em: https://bit.ly/2Zi9Ztl. Acesso em: 
18 nov. 2021.
Em crianças que foram tratadas com antibióticos, notou-se redução do número de linfócitos Treg, 
que têm como papel principal a regulação da resposta imune e a manutenção da autotolerância. Como 
resultado, antígenos que, antes, não eram capazes de desencadear resposta imune, passam a fazê-lo.
83
BIOMEDICINA INTEGRADA
 Observação
Autotolerância é a capacidade do sistema imunológico distinguir o que 
é próprio (self) daquilo que não é próprio (non-self).
Além disso, animais sem microbiota intestinal não apresentam linfócitos Th17, o que mostra a 
importância dos microrganismos intestinais no estabelecimento da imunidade adaptativa.
Portanto, a microbiota eubiótica modula positivamente os linfócitos Treg e estabelece a resposta 
Th17. Essa relação foi comprovada pela administração de ácidos graxos de cadeia curta a camundongos 
sem microbiota intestinal. Esses importantes metabólitos bacterianos induziram ao aumento do número 
de células Treg e diminuíram as respostas alérgicas dos animais.
A administração a animais de experimentação de bactérias do gênero Clostridium, que são produtoras 
de ácidos graxos de cadeia curta, teve efeito semelhante: observou-se aumento dos linfócitos Treg, de 
imunoglobulinas IgA e manutenção da permeabilidade do intestino. Em camundongos humanizados, 
aos quais foi administrada a microbiota intestinal humana eubiótica, também foi constatado aumento 
das células Treg e diminuição dos processos alérgicos.
6.2.3 A microbiota e a diabetes mellitus tipo 2
Hábitos alimentares inadequados e sedentarismo são dois fatores relacionados ao estabelecimento 
do quadro de diabetes do tipo 2. Como os hábitos alimentares são o principal fator responsável pelas 
alterações na microbiota, é de se esperar que a disbiose esteja relacionada com o estabelecimento dessa 
doença metabólica.
De fato, alterações na microbiota de indivíduos com diabetes do tipo 2 foram observadas em 
comparação com aqueles sem a doença. Essas modificações parecem ser independentes do índice de 
massa corporal (IMC) do indivíduo que, como já vimos, também pode ser resultado de sua microbiota. 
A principal mudança ocorreu em relação à diminuição das bactérias produtoras de butirato.
O uso da metformina, que constitui a primeira escolha no tratamento da diabetes, está relacionado 
com aumento da população de bactérias produtoras de butirato, o que pode contribuir para sua ação. 
Além disso, foi observado crescimento da população de Escherichia coli, que refere-se ao efeito adverso 
de diarreia.
 Observação
A metformina reduz a gliconeogênese e a glicogenólise, eleva a 
sensibilidade do músculo à insulina e retarda a absorção de glicose 
no intestino.
84
Unidade II
Além disso, o perfil metabólico de indivíduos com resistência à insulina mostrou aumento da 
biossíntese de aminoácidos de cadeia ramificadas. Esses aminoácidos são produzidos por algumas 
poucas espécies de bactérias, entre elas a Prevotella copri e a Bacteroides vulgatus, o que sugere que a 
microbiota é um importante fornecedor desses aminoácidos no quadro de resistência à insulina.
Outra bactéria importante é a Akkermansia muciniphila. Ela coloniza o muco e está diminuída nos 
indivíduos com pré-diabetes, o que indica que ela pode ser usada como um biomarcador da condição. 
Sua abundância está relacionada com o metabolismo saudável, mesmo em indivíduos obesos, por 
modular o metabolismo da glicose e as vias metabólicas ativadas nos estados de restrição calórica.
6.2.4 A microbiotae o câncer
A disbiose está relacionada, indiretamente, com o desenvolvimento de vários tipos de câncer. 
Alterações na microbiota intestinal foram observadas não somente em indivíduos com neoplasias 
gastrointestinais, mas pulmonares, de mama e melanomas.
O principal fator envolvido parece ser as alterações do sistema imunológico causados pela microbiota. 
Os ácidos graxos de cadeia curta, por exemplo, são capazes de inibir mecanismos pró-tumorais e, 
portanto, a diminuição na sua síntese aumenta a predisposição ao câncer.
Além disso, a microbiota deficiente altera a capacidade do sistema imunológico de reconhecer as 
células tumorais, o que influencia não apenas no estabelecimento da doença, como no sucesso da 
imunoterapia para seu tratamento.
 Saiba mais
A relação entre a microbiota e o câncer é explorada no texto a seguir:
HARTT, V. Microbioma e câncer, limites e oportunidades. Onconews, 2019. 
Disponível em: https://cutt.ly/GTVzFb5. Acesso em: 18 nov. 2021.
6.2.5 A microbiota e os transtornos do sistema nervoso central
O eixo intestino-cérebro compreende o conjunto das vias neurais que integram o sistema nervoso 
entérico aos sistemas límbico, nervoso autônomo, endócrino e imunológico. 
Veremos a seguir como ocorrem as divisões:
• O sistema nervoso entérico é constituído pelos nervos e por células da glia que inervam o tubo 
gastrointestinal, a vesícula biliar e o pâncreas. Sua função é controlar o peristaltismo, a secreção 
de suco gástrico e a permeabilidade do epitélio, entre outros.
85
BIOMEDICINA INTEGRADA
• O sistema límbico é a unidade do sistema nervoso central responsável pelas emoções e pelos 
comportamentos sociais. O hipocampo e a amídala são estruturas do sistema límbico que 
participam do eixo intestino-cérebro.
• O sistema nervoso autônomo é dividido em simpático e parassimpático, cujas respostas atuam, de 
maneira integrada, na manutenção da homeostase e na resposta ao estresse.
• O sistema endócrino é representado pelo eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal, cujo principal 
hormônio efetor, o cortisol, medeia respostas ao estresse e regula negativamente o sistema 
imunológico, entre outras funções.
• O sistema imunológico inclui o tecido linfoide associado à mucosa intestinal e a outros 
compartimentos, necessários para que haja uma resposta sistêmica e integrada.
Hipersecreção 
de CRF
Aumento de 
resposta ao CRF
Alteração da 
motilidade
Hipersecreção 
de CRF
Hipotálamo
Córtex
Hipertrofia
CRF
Aumento da atividade dos macrófagos e 
liberação da citocinas pró-inflamatórias
Excesso de Excesso de 
cortisolcortisol
Rompimento Rompimento 
da barreira da barreira 
epitelialepitelial
Hipocampo e amídala
Nervo vago
Cortisol
Hipófise
Imuno-
mediadores
Sistema imuneSuprarrenal
Cortisol
Cortisol
ACTH
Neurotransmissores 
(5-HT, NE, DA)
Figura 34 – Ativação do eixo intestino-cérebro. CRF: corticotropin releasing factor (fator liberador 
de corticotrofina); ACTH: adrenocorticotropic hormone (hormônio adrenocorticotrófico); 5-HT: 
serotonina; NE: norepinefrina; DA: dopamina
Adaptada de: Zorzo (2017).
86
Unidade II
O objetivo desse eixo é integrar as respostas cognitivas e emocionais geradas no sistema nervoso 
central com os gânglios do sistema nervoso entérico. Isso explica por que diferentes transtornos 
psiquiátricos têm efeitos gastrointestinais, como, por exemplo, vômitos, diarreia e aumento da motilidade, 
ou ainda alteram a secreção hormonal e a ativação do sistema imunológico.
Por exemplo, as alterações de apetite são classicamente relacionadas a quadros de depressão; as crises 
de ansiedade frequentemente cursam com diarreia e náuseas; e diferentes desordens gastrointestinais 
coexistem com o autismo, a esquizofrenia e a doença de Parkinson. O inverso também pode ser observado: 
a síndrome do intestino irritável, por exemplo, causa alterações do humor, como ansiedade e estresse.
A microbiota intestinal também participa do eixo intestino cérebro. Por esse motivo, muitos autores 
se referem a esse complexo conjunto como eixo intestino-microbiota-cérebro.
As bactérias que colonizam o intestino regulam as respostas de natureza central, neuroimune e 
neuroendócrina que caracterizam o eixo intestino-cérebro. A seguir, são apresentados os principais 
mecanismos envolvidos nessa regulação.
• No tubo digestório, os ácidos graxos de cadeia curta promovem o aumento do peristaltismo, 
regulam a produção de muco e aumentam a expressão de proteínas que participam das junções 
estreitas entre as células da mucosa.
• Diversos metabólitos bacterianos, em conjunto com as citocinas produzidas pelo sistema 
imunológico e os neurotransmissores produzidos em diferentes subdivisões do sistema nervoso, 
atingem o sistema nervoso central, em que promovem a maturação da microglia.
• Esses produtos bacterianos também participam da regulação do eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal, 
de modo a aumentar a síntese de cortisol, que, por sua vez, regula a ativação da microglia e das 
células do sistema imunológico, além de induzir as respostas relacionadas ao estresse crônico.
• Algumas espécies de bactérias são capazes de sintetizar neurotransmissores, como, por exemplo, 
a serotonina, a dopamina e o ácido gama-aminobutírico (GABA), que participam das respostas 
do sistema nervoso central relacionadas ao humor, ao processamento de emoções e ao estado 
de ansiedade.
 Observação
A microglia é um grupo de células do sistema neuroimune que participa 
da vigilância imunológica, do estabelecimento de sinapses e da fagocitose 
de restos celulares.
Esse eixo pode estar alterado nos transtornos psiquiátricos. Vamos entender como?
87
BIOMEDICINA INTEGRADA
A microbiota intestinal de pacientes com depressão maior tem diferenças significativas em relação 
àquela de pessoas sem o transtorno. E mais: quando a microbiota de indivíduos com depressão foi 
transferida para animais de experimentação, eles passaram a apresentar comportamentos depressivos.
Diversas espécies de bactérias que habitam o intestino são capazes de produzir norepinefrina, 
dopamina e serotonina, neurotransmissores cuja diminuição está relacionada com o estabelecimento 
da depressão maior. No entanto, não se sabe ainda em que extensão os neurotransmissores de origem 
bacteriana são importantes na manutenção do estado de humor do indivíduo.
As bactérias também são responsáveis por direcionar o metabolismo do triptofano, aminoácido a 
partir do qual a serotonina é produzida. Existe uma hipótese que diz que, em indivíduos deprimidos, 
as bactérias intestinais poderiam ser as responsáveis por uma menor disponibilidade desse aminoácido 
para a produção da serotonina.
Com relação aos gêneros de bactérias, Coprococcus e Dialister parecem não estar presentes na 
microbiota intestinal de alguns pacientes com depressão, independentemente de eles estarem ou não 
sob tratamento medicamentoso. Ademais, a presença das bactérias produtoras de butirato dos gêneros 
Faecalibacterium e Coprococcus foi associada com melhor prognóstico.
 Lembrete
O butirato é um ácido graxo de cadeia curta produzido por diversas 
espécies de bactérias que habitam a microbiota intestinal.
Além do efeito antidepressivo, o butirato possui o neuroprotetor. O aumento na produção dessa 
substância pela microbiota intestinal está relacionado com a melhora de pacientes portadores de 
doenças neurodegenerativas, como a coreia de Huntington, o mal de Alzheimer e o mal de Parkinson.
O mal de Parkinson é uma condição, crônica e progressiva, de etiologia não completamente 
conhecida, que afeta a via nigroestriatal do sistema nervoso central. A progressão da doença leva aos 
distúrbios do movimento, devido à perda seletiva de neurônios dopaminérgicos na substância negra, 
com consequente depleção de dopamina no estriado.
Sintomas gastrointestinais precedem os motores. Por esse motivo, o papel da microbiota no 
desenvolvimento do quadro tem sido extensivamente estudado.
Vários estudos mostraram que a microbiota intestinal de pacientes com malde Parkinson apresenta 
altos níveis de Lactobacillus spp., Bifidobacterium spp., Akkermansia spp. e de bactérias do filo 
Verrucomicrobiaceae. Os níveis de Faecalibacterium spp., Coprococcus spp., Blautia spp. e Prevotella 
spp., por outro lado, encontram-se diminuídos.
88
Unidade II
De maneira interessante, as Bifidobacterium spp., que são abundantes na microbiota de pacientes 
com mal de Parkinson, estão diminuídas naqueles com mal de Alzheimer.
A relação da dieta com os distúrbios neurocomportamentais representados pelos transtornos 
do espectro do autismo e do déficit de atenção e da hiperatividade já foi alvo de muita pesquisa. 
Sabe-se que os aditivos alimentares, o açúcar refinado e alguns tipos de gorduras têm papel no 
estabelecimento dessas condições, o que sugeriu, desde o início dos estudos, que a microbiota 
influencia o estabelecimento desses quadros.
O estudo da microbiota de pessoas com autismo mostrou aumento na proporção relativa de bactérias 
dos gêneros Clostridium e Suterella no intestino e de bactérias relacionadas com o metabolismo da lisina 
na saliva. De maneira semelhante ao observado em casos de depressão, o transplante da microbiota 
intestinal de pessoas com autismo para animais de experimentação fez com que eles desenvolvessem 
comportamentos típicos do autista.
Uma das principais causas do aumento da população de Clostridium spp. na microbiota intestinal 
dos indivíduos com autismo é o uso de antibióticos de amplo espectro. De fato, existem estudos que 
correlacionam a ingestão frequente de antibióticos por crianças que desenvolveram o espectro autista.
6.2.6 A microbiota e a Covid-19
Desde 2020, vários estudos têm explorado a relação entre a microbiota intestinal e o desenvolvimento 
de quadros graves de Covid-19.
A Covid-19 acomete, primariamente, o sistema respiratório, uma vez que ele é a porta de entrada 
do vírus Sars-Cov-2 no organismo. No entanto, outros sistemas também podem ser afetados, como, por 
exemplo, o gastrointestinal, o que está relacionado com o desenvolvimento de vômitos, diarreia e/ou 
dor abdominal, principalmente no início da infecção. Nesses casos, a disfunção intestinal causada pelo 
vírus induz à alteração da microbiota e ao aumento das citocinas inflamatórias.
De maneira interessante, as comorbidades que estão relacionadas à maior probabilidade de 
desenvolvimento da forma grave da Covid-19 (hipertensão, diabetes e obesidade, por exemplo) também 
estão associadas com alterações na microbiota.
A abundância de Coprobacillus, Clostridium ramosum e Clostridium hathewayi foi associada com 
maior severidade da Covid-19. Por outro lado, a presença de altos níveis de Faecalibacterium prausnitzii, 
uma bactéria anti-inflamatória, conferiu proteção contra as manifestações gastrointestinais da doença. 
Além disso, quanto maior a produção de ácidos graxos de cadeia curta pela microbiota, menor a 
quantidade de Sars-Cov-2 nas fezes, o que mostra o papel protetor desses metabólitos na infecção 
(DHAR; MOHANTY, 2020).
Várias espécies do gênero Bacteroides regulam negativamente os níveis de ECA2 (enzima conversora 
da angiotensina 2) no intestino. Como essa proteína está relacionada com a entrada do vírus no organismo, 
89
BIOMEDICINA INTEGRADA
levanta-se a hipótese de que o aumento da proporção relativa delas no intestino dos infectados seria 
uma estratégia interessante para diminuir a severidade da doença (DHAR; MOHANTY, 2020).
Além disso, alguns estudos mostram que a microbiota do trato respiratório pode estar alterada nos 
casos graves de Covid-19. Susceptibilidade elevada à infecção e aos quadros graves da doença estaria 
relacionada com maior número, porém menor diversidade, de microrganismos na microbiota das vias 
aéreas (KHATIWADA; SUBEDI, 2020).
6.2.7 Estratégias para correção da microbiota
Anteriormente, aprendemos que a disfunção da microbiota intestinal está relacionada com o 
desenvolvimento de várias doenças. Mas, então, a correção dela seria uma estratégia terapêutica válida?
A redução da diversidade microbiana, os baixos níveis relativos de bactérias produtoras de butirato 
e de outros ácidos graxos de cadeia curta, a infecção por Clostridium difficile e os altos níveis de lactato, 
de metano e de ácidos graxos de cadeia ramificada (valerato, isovalerato, isobutirato e caproato) são 
indicativos de que a microbiota deve ser corrigida.
Existem vários procedimentos que visam à correção da microbiota intestinal. As principais estão 
listadas a seguir.
• mudança dos hábitos alimentares;
• uso de prebióticos, probióticos, simbióticos e/ou posbióticos;
• transplante de material fecal.
Com relação à mudança dos hábitos alimentares, vários estudos têm mostrado os benefícios sobre 
a microbiota de adotar a dieta mediterrânea, que é baseada no consumo de vegetais, frutas, cereais, 
sementes, ovos e peixes. Esse tipo de dieta fornece substratos para o crescimento de populações de 
bactérias capazes de produzir ácidos graxos de cadeia curta, em especial o butirato.
 Observação
Os legumes e as frutas apresentam oligossacarídeos e glicanas, que 
são substratos para a síntese de ácidos graxos de cadeia curta pelas 
bactérias da microbiota.
Os carboidratos não digeríveis presentes nos alimentos de origem vegetal são considerados 
prebióticos, pois são substratos para o crescimento de determinadas populações de bactérias.
90
Unidade II
Os probióticos, por sua vez, são preparados contendo bactérias vivas que visam ao restabelecimento 
da microbiota normal. Quando eles são ingeridos com prebióticos, temos um simbiótico.
Entre esses produtos, os probióticos são os mais utilizados. Existe uma diversidade de probióticos 
disponíveis na atualidade, e o uso do representante mais adequado é possível após a realização de 
exames específicos. A maioria dos suplementos contendo probióticos contém bactérias dos gêneros 
Lactobacillus, Bifidobacterium e Bacillus.
A comercialização de probióticos não é uma área extensivamente regulada e a maioria dos produtos 
disponíveis para compra não é rigorosamente testada. Portanto, ao adquirir um probiótico, é necessário 
prestar atenção se a espécie e a cepa das bactérias são indicadas na embalagem. Isso é muito importante 
porque, por exemplo, uma espécie em particular de Bifidobacterium ou de Lactobacillus pode ser efetiva 
para melhorar os sintomas da depressão e da ansiedade, enquanto outra, não.
Também importante é o número de bactérias vivas presentes na preparação, em unidades formadoras 
de colônia (CFU, colony forming unit). A maioria dos estudos recomenda o consumo de, pelo menos, um 
bilhão de CFU por dia.
Além disso, é essencial se perguntar: qual o nível de evidência de que as espécies de bactérias que 
estou consumindo são úteis no tratamento da doença que eu apresento? Esse probiótico foi testado em 
humanos? Quais os resultados?
Uma alternativa ao uso dos suplementos alimentares contendo probióticos é a ingestão de 
preparações fermentadas, como o kombucha e o kefir. Elas contêm bactérias vivas que são benéficas 
para a manutenção da microbiota saudável. No entanto, esses produtos não sofrem um controle de 
qualidade, e os hábitos de higiene do manipulador, entre outros fatores, podem alterar a composição 
das bactérias presentes nas matrizes.
Os posbióticos são itens do metabolismo bacteriano. O mais usado no tratamento de várias doenças 
é o butirato. Como vimos, esse ácido graxo de cadeia curta exerce diferentes ações e pode ser usado 
no tratamento da colite ulcerativa, doença renal crônica, diabetes e doença de Alzheimer, entre outras.
O transplante de material fecal é estratégia capaz de restaurar completamente a microbiota intestinal 
que se mostrou muito eficaz no tratamento da diarreia crônica, especialmente por C. difficile. Como 
nem todos os microrganismos da microbiota podem ser isolados e cultivados em laboratório para a 
produção de probióticos, essa alternativa mostrou ser a mais adequada nesses casos.
Essa técnica consiste no processamento e na administraçãodo material derivado das fezes por 
colonoscopia ou sonda nasogástrica.
91
BIOMEDICINA INTEGRADA
Uma saúde em simbiose
O trato digestivo humano é 
um complexo ecossistema 
deformado por bilhões de 
bactérias que auxiliam na 
digestão
Uma nova população
se estabiliza no cólon e 
recoloniza o cólon
Antibiótico
Transplante fecal
Introdução da 
comunidade bacteriana 
de um doador restaura o 
balanço do ecossistema
Sistema em colapso
Tubo 
nasogástrico
Morte indiscriminada
Antibióticos matam 
bactérias capazes de 
causar infecção e a 
microbiota “nativa“
Os esporos do C. difficile 
resistem e assumem o cólon, 
causando danos e diarreia
5
4
3
2
1
Figura 35 – Transplante de material fecal
Disponível em: https://bit.ly/3olsarT. Acesso em: 18 nov. 2021.
6.3 Métodos de estudo do microbioma humano
A presença de microbiota nos diferentes tecidos (boca, vagina, intestino, pele etc.) já é reconhecida 
há muito tempo. Porém, seu estudo, antes do advento das técnicas de biologia molecular, era 
muito limitado.
Antigamente, para identificar as diferentes espécies que constituem a microbiota, era necessário cultivar 
cada microrganismo individualmente em meios de cultura específicos, o que, na prática, era impossível, 
já que vários deles não crescem facilmente in vitro.
Na atualidade, diferentes técnicas de sequenciamento de DNA permitem que os microrganismos 
sejam identificados a partir da sequência de seus genes, o que permite que a variedade de microrganismos 
que constituem a microbiota seja conhecida em detalhes. A partir desses estudos, cunhou-se o termo 
microbioma, que se refere ao conjunto de genes que compõe determinada microbiota.
Vamos, agora, conhecer as técnicas de biologia molecular aplicadas ao estudo do microbioma?
92
Unidade II
6.3.1 Metagenoma
Metagenômica é a técnica que permite estudar genomas de microrganismos sem a necessidade de 
realizar culturas individuais. A principal forma utilizada, para tal, é o sequenciamento, total ou parcial, 
do DNA desses microrganismos.
O sequenciamento do material genético bacteriano permite não somente a classificação dessas 
bactérias nos diferentes táxons, mas a identificação de genes-chave para a manutenção da homeostase 
do hospedeiro e da própria microbiota.
 Observação
Táxon é a unidade taxonômica pela qual indivíduos ou conjuntos de 
espécies são identificados. Exemplo: Escherichia coli, Clostridium difficile etc.
Nos estudos de metagenômica, o material fecal é coletado e processado para a extração de DNA e RNA. 
Esse material genético pode, então, ser analisado a partir de duas técnicas diferentes: o sequenciamento 
do RNA ribossômico 16S ou o sequenciamento completo do DNA genômico.
O sequenciamento do RNA ribossômico 16S (rRNA 16S) é a técnica mais utilizada. Ele está presente 
em praticamente todas as bactérias e é altamente conservado entre as espécies. A determinação 
das sequências de rRNA 16S presentes na amostra permite identificar quais as espécies constantes 
na microbiota, assim como sua abundância. Trata-se da metodologia de referência para a análise 
taxonômica das bactérias.
Nela, o DNA que codifica o rRNA 16S é amplificado pela reação em cadeia da polimerase (PCR), 
com o uso de oligonucleotídeos iniciadores (primers) complementares às sequências que codificam esse 
RNA. Os amplicons são então sequenciados, e as sequências obtidas submetidas a banco de dados para 
a identificação das espécies contidas na amostra.
O sequenciamento do genoma bacteriano completo, por sua vez, permite a avaliação funcional 
dos genes expressos nas diferentes espécies de bactérias. Para isso, são utilizadas as técnicas de 
sequenciamento shotgun e, mais recentemente, o sequenciamento NGS.
93
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Identificação das 
espécies de bactérias 
e análises funcionais
Identificação das 
espécies de bactérias
Interpretação dos 
resultados
Interpretação dos 
resultados
Sequenciamento do 
DNA genômico
Análise do rRNA 16S
Extração do 
DNA/RNA
Amostra de fezes
Figura 36 – Ferramentas de análise metagenômica
Fonte: Butler et al. (2019, p. 750).
 Observação
O biomédico pode tanto atuar na pesquisa básica da metagenômica 
das bactérias da microbiota como no diagnóstico. Vários laboratórios já 
oferecem o exame de determinação do microbioma, o que tem se mostrado 
útil no diagnóstico complementar e no tratamento das doenças cuja 
etiologia ou progressão envolve alterações no microambiente intestinal.
 Saiba mais
Leia sobre a determinação do microbioma intestinal como técnica 
diagnóstica e entenda mais a respeito em:
SILVEIRA, A. C. O. Microbioma intestinal: o que é, qual a sua função e 
por que fazer o exame? GeneOne, 2020. 
Disponível em: https://cutt.ly/ITVz5Zw. Acesso em: 18 nov. 2021.
6.3.2 Metatranscriptoma, metaproteoma e metaboloma
A presença de um gene não significa que ele será transcrito em um fragmento de RNA e traduzido 
em uma proteína. Para determinar quais genes do microbioma estão ativos, lança-se mão das técnicas 
de metatranscriptoma e metaproteoma.
94
Unidade II
Do ponto de vista experimental, o metatranscriptoma é semelhante ao metagenoma. A principal 
diferença é que o material genético analisado é o RNA mensageiro (mRNA), e não o DNA genômico. 
Afinal, o objetivo é avaliar o conjunto de transcritos de genes da microbiota.
Ao determinar o conjunto de transcritos da microbiota, é possível avaliar quais genes são induzidos 
ou reprimidos em diferentes condições e também diferenciar as espécies de bactérias ativas daquelas 
que estão inertes ou mortas.
O metaproteoma, por sua vez, avalia quais proteínas são efetivamente expressas pela célula 
bacteriana, visto que nem todo mRNA será traduzido em proteína.
Lembre-se de que as proteínas são as unidades funcionais da célula, afinal, elas medeiam a maioria 
dos processos biológicos. Essa análise é realizada pela técnica de espectrometria de massa e permite a 
avaliação da funcionalidade da microbiota em diferentes condições.
É importante ressaltar que a metaproteômica permite a identificação e a quantificação de todos os 
organismos que compõem o microbioma, independentemente da sua origem filogenética. Além disso, 
ela possibilita a avaliação das proteínas do hospedeiro, o que é importante quando se deseja avaliar a 
interação entre o microbioma e o organismo que o hospeda.
Por último, temos o metaboloma, que lança mão de diferentes técnicas – como, por exemplo, a 
cromatografia, a eletroforese e a espectrometria de massas – para identificar e quantificar os produtos 
do metabolismo das espécies que compõem a microbiota em diferentes fluidos, como as fezes, a urina, 
o plasma, o soro e a saliva.
As amostras de fezes são as mais utilizadas na análise do metaboloma. Com essa abordagem, é 
possível determinar:
• a presença dos produtos do metabolismo microbiano, como, por exemplo, os ácidos graxos de 
cadeia curta;
• as moléculas secretadas pelas células do hospedeiro, como, por exemplo, peptídeos antimicrobianos;
• os metabólitos que são produto do cometabolismo do hospedeiro e de seu microbioma; e
• o perfil metabólico da microbiota durante o tratamento medicamentoso.
Os resultados dos estudos de metagenômica, metatranscriptômica, metaproteômica e metabolômica 
podem ser integrados a fim de se obter um amplo painel de todos os processos envolvidos no equilíbrio 
e no desequilíbrio da microbiota em diferentes condições.
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BIOMEDICINA INTEGRADA
 Saiba mais
O artigo a seguir mostra a integração entre o metagenoma, o 
metatranscriptoma e o metaproteoma na avaliação de indivíduos com 
diabetes tipo 1. Acesse-o em:
HEINTZ-BUSCHART, A. et al. Integrated multi-omics of the human gut 
microbiome in a case study of familial type 1 diabetes. Nature Microbiology, 
v. 2, n. 16180, 2016. Disponível em: https://cutt.ly/hTVxkqN. Acesso em: 
18 nov. 2021.
 Lembrete
A seguir apresentaremos novamente o significado de alguns termos:
Metagenoma: sequência dos genes da microbiota.
Metatranscriptoma: avalia quais genes são transcritosem mRNA.
Metaproteoma: avalia quais transcritos são traduzidos em proteínas.
Metaboloma: avalia os produtos do metabolismo da microbiota.
7 NANOBIOTECNOLOGIA
Você certamente já ouviu o termo “nano” em diferentes contextos. Nanocosméticos, nanocápsulas, 
nanocompostos etc. Eles têm, em comum, o fato de serem produzidos com materiais de dimensões nanométricas 
a partir dos conhecimentos obtidos em uma área do conhecimento denominada nanobiotecnologia.
A nanobiotecnologia é, portanto, a ciência que integra a biologia e a nanotecnologia para o 
desenvolvimento de nanomateriais com potencial uso na medicina, na física médica, na cosmecêutica e 
no desenvolvimento de fármacos.
Os nanomateriais apresentam dimensão externa na ordem do nanômetro (nm) – geralmente entre 
1 e 100 nm. Sua ocorrência pode ser natural (algumas partículas minerais), acidental (material particulado 
resultante das reações de combustão incompleta) ou artificial (nanotubos de carbono produzidos 
em laboratório).
96
Unidade II
Um nanômetro corresponde a 10-9 metros ou a um bilionésimo do metro. É como comparar o tamanho 
de uma bola de futebol ao planeta Terra! Por conta das suas dimensões diminutas, as propriedades dos 
nanomateriais são únicas.
São muitas as aplicações, reais e potenciais, dos nanomateriais na área da saúde. Alguns exemplos 
estão listados a seguir.
• As nanoenzimas são enzimas artificiais usadas no diagnóstico e no tratamento de doenças.
• Nos nanofármacos, os princípios ativos podem ser encapsulados em estruturas nanométricas 
ou associados a nanopartículas metálicas que os direcionam diretamente para o sítio de ação.
• De maneira semelhante, os pesticidas podem ser encapsulados em nanopartículas, o que diminui 
a quantidade necessária para o efeito desejado.
• Os filtros nanoestruturados são capazes de reter partículas nanométricas, o que melhora a 
qualidade da água e do ar.
• Sensores nanométricos permitem a detecção de tumores em estágio inicial, e nanorrobôs podem 
realizar cirurgias minimamente invasivas.
• As nanobolhas possibilitam a descontaminação da água de maneira rápida e efetiva ao atrair os 
vírus, as bactérias e as pequenas partículas para seu interior.
• Os nanocosméticos promovem a melhor penetração dos princípios ativos na pele.
 Observação
As vacinas contra a Covid-19 produzidas pela Moderna e Pfizer são 
consideradas nanofármacos, pois, nelas, o mRNA viral encontra-se 
encapsulado em nanopartículas lipídicas.
Algumas das tecnologias citadas ainda estão sendo testadas em caráter experimental. Outras já 
estão disponíveis para uso – sendo os principais exemplos os nanofármacos e os nanocosméticos.
Em alguns casos, o alto custo e o desconhecimento dos efeitos, em longo prazo, da liberação 
dos nanocompostos na biosfera representam obstáculos para sua disseminação. O potencial tóxico 
de alguns nanomateriais sobre os organismos vivos e o meio ambiente é um aspecto importante a 
ser considerado.
De qualquer maneira, não podemos negar que a nanobiotecnologia veio incrementar os campos da 
saúde, agricultura, indústria etc. Tanto é que alguns estudiosos consideram que estamos diante de uma 
nova revolução tecnológica.
97
BIOMEDICINA INTEGRADA
Vamos, agora, conhecer melhor o mundo da nanobiotecnologia?
• Tópico 7.1: tipos de nanomateriais e como eles são produzidos.
• Tópico 7.2: aplicações da nanotecnologia na medicina, indústria farmacêutica e cosmetologia.
• Tópico 7.3: efeitos tóxicos dessas partículas sobre os organismos e o meio ambiente.
7.1 Processos de produção e tipos de nanomateriais
Nanotubos de carbono, nanopartículas metálicas, nanoemulsões e nanocompósitos. Estes são os 
principais tipos de nanomateriais usados no desenvolvimento de uma série de produtos já disponíveis 
comercialmente.
Cada tipo de nanomaterial é adequado para um determinado conjunto de aplicações, como veremos 
posteriormente. No entanto, independentemente do tipo, eles podem ser produzidos a partir de dois 
processos, descritos a seguir:
• Top-down: baseado na fragmentação de estruturas maiores, por ablação, corte e/ou moagem, até 
atingir a dimensão nanométrica.
• Bottom-up: parte de moléculas ou átomos individuais que, ao interagirem, formam estruturas de 
dimensão nanométrica.
Material mássico
Pó (micropartículas)
Top-down
Nanopartículas
Bo
tto
n-
up
Átomos
Aglomerados
antônicos
Figura 37 – Abordagens top-down e bottom-up para a produção de nanopartículas
Fonte: Oliveira et al. (2020, p. 102).
Vamos agora conhecer detalhes de cada tipo de nanomaterial, para que, então, possamos entender 
seus usos.
98
Unidade II
Nas áreas industrial e laboratorial, alguns dos principais nanocompostos são os nanotubos 
de carbono. Eles podem ser usados em uma série de produtos devido a suas características únicas. 
Apresentam alta resistência e baixa densidade, e, além disso, têm características metálicas, semicondutoras 
ou supercondutoras, dependendo de sua configuração.
 Observação
O tamanho reduzido dos nanomateriais faz com que eles apresentem 
propriedades únicas, diferentes das observadas nos materiais de dimensões 
normais. Alguns exemplos são atividade elétrica, magnetismo, resistência à 
deformação (reologia) etc.
Podemos citar como exemplos de itens já produzidos com nanotubos de carbono: emissores de 
elétrons para televisores; sensores de gases e sensores biológicos; sondas dos microscópios de força 
atômica; compósitos com alta resistência mecânica, utilizados para diferentes finalidades; baterias de 
lítio; memórias de computador; entre outros.
Um nanotubo de carbono caracteriza-se pelo enrolamento de uma ou várias folhas de grafeno 
de maneira a formar um tubo de dimensões nanométricas. Esse tubo pode ter uma única camada 
(nanotubo de parede simples) ou várias camadas concêntricas (nanotubo de paredes múltiplas).
 Observação
Folha de grafeno é um arranjo bidimensional de átomos de carbono sp2, 
arranjados em hexágonos. O empilhamento dessas folhas origina o grafite.
Átomos de carbono sp2 estabelecem uma ligação dupla e duas ligações 
simples, ou uma ligação pi e três ligações sigma.
B)A)
Figura 38 – Representação esquemática da estrutura de nanotubos de carbono: 
(A) nanotubo de parede simples e (B) nanotubo de parede múltipla
Fonte: Zarbin (2007, p. 1473).
99
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As nanopartículas metálicas são produzidas a partir de metais e usadas como sensores, 
catalisadores, carreadores de fármacos etc. Elas apresentam propriedades únicas quando comparadas 
com os metais que as originaram. Têm a tendência de se organizarem de maneira estruturada, o que 
resulta na automontagem de estruturas mais complexas. Nanopartículas de ouro automontadas, por 
exemplo, são utilizadas na fabricação de sensores, tratamentos fototérmicos e processos catalíticos.
E)
A)
F)
B)
G)
C)
H)
D)
200 nm
500 nm
100 nm
100 nm
100 nm
100 nm
50 nm
20 nm
Figura 39 – Diferentes formatos das nanopartículas de prata: (A) nanoesferas, (B) nanoprismas, (C) 
nanobarras, (D) nanofios, (E) nanocubos, (F) nanopirâmides, (G) nanoarrozes e (H) nanoflores
Fonte: Loiseau et al. (2019, p. 6).
Nanoemulsões são dispersões nas quais o tamanho das partículas apresenta escala nanométrica, 
entre 10 e 100 nm. Elas vêm sendo muito utilizadas na formulação de cosméticos e medicamentos.
 Observação
Uma emulsão se forma quando é feita a mistura de dois líquidos 
imiscíveis, ou seja, líquidos que não se misturam (exemplo: água e óleo). 
Nela, o líquido que está disperso origina partículas nanométricas.
Na produção de nanoemulsões, são usados homogeneizadores de alta pressão ou geradores de 
ultrassom, que fornecem a energia necessária para que haja quebra (cisalhamento) das partículas até 
a escala nanométrica. Sua estabilidade é garantida pela adição de tensoativos que impedem que as 
partículas nanométricas agreguem por diferentes mecanismos.
100
Unidade II
Nanoemulsão 
estável
Cremeação Sedimentação Floculação Coalescência ou 
maturação de Ostwald
Figura 40 –Fenômenos físico-químicos que podem afetar a estabilidade das nanoemulsões
Disponível em: Borrin (2015, p. 19).
Nanocompósitos são materiais que apresentam pelo menos um componente com dimensões 
nanométricas. Neles, as partículas nanométricas (nanocargas) estão dispersas em uma matriz amorfa, 
de natureza metálica, cerâmica e/ou polimérica, constituindo diferentes arranjos.
Esse tipo de material é produzido a partir de diferentes reações de polimerização, sendo utilizado 
principalmente nas indústrias automobilística e de embalagens.
Estrutura esfoliada
Estrutura intercalada
Argila
Estrutura aglomerada
Polímero
Figura 41 – Tipos de nanocompósitos poliméricos de argila
Fonte: Tedesco (2007, p. 10).
101
BIOMEDICINA INTEGRADA
7.2 Aplicações da nanobiotecnologia
7.2.1 Nanocosméticos
Os primeiros produtos produzidos com nanopartículas foram os cosméticos. No Brasil, a O Boticário 
foi a primeira empresa a desenvolver e comercializar um creme antissinais para o rosto, chamado 
Nanoserum, em 2005. Nele, as vitaminas A, C e K, além dos demais ativos, são carreadas por nanoestruturas 
para as camadas mais profundas da epiderme.
É exatamente essa a principal vantagem dos nanocosméticos sobre as fórmulas tradicionais. 
Por apresentarem diâmetro diminuto, de até 100 nm, sua capacidade de permear a pele é maior, o que 
resulta no direcionamento dos princípios ativos diretamente para o local de ação.
 Observação
A epiderme, camada mais externa da pele, é constituída de epitélio 
pavimentoso estratificado queratinizado, o que dificulta a permeação de 
uma série de substâncias.
Outras vantagens dos nanocosméticos são proteção contra a degradação dos princípios ativos, 
controle da sua liberação, prolongamento de ação na camada córnea etc.
Alguns exemplos de cosméticos que contêm nanomateriais constam a seguir:
• Filtros solares que usam nanopartículas de óxido de zinco para bloquear os raios ultravioleta, sem 
deixar a pele demasiadamente esbranquiçada pela aplicação do cosmético.
• Filtros solares que usam nanopartículas presentes na seiva de uma planta popularmente conhecida 
como hera. Elas mostraram ser mais efetivas do que as nanopartículas de óxido de zinco.
• Cremes que contêm proteínas, derivadas de células-tronco, capazes de retardar o envelhecimento 
da pele. Elas são encapsuladas em lipossomos que se fundem à membrana das células da pele, o 
que permite que as proteínas atuem internamente.
• Loções que contêm nutrientes encapsulados em nanopartículas suspensas em nanoemulsão. 
O tamanho diminuto das nanopartículas, quando comparadas às emulsões convencionais, 
possibilita que elas penetrem mais profundamente na pele.
• Loções que usam nanopartículas chamadas etossomas, elas são capazes de carrear nutrientes que 
promovem o crescimento capilar.
102
Unidade II
 Observação
Etossomas são sistemas vesiculares produzidos por combinações 
de fosfolipídios, etanol e água. Elas permitem que substâncias de difícil 
permeação (como, por exemplo, o Minoxidil, usado no tratamento da 
calvície) atinjam seu local de ação.
7.2.2 Nanomedicina
A nanomedicina trata da aplicação da nanotecnologia no diagnóstico, na prevenção e no tratamento 
das enfermidades.
Os nanotubos de carbono, por exemplo, apresentam alteração na sua resistência elétrica quando 
uma proteína encosta neles. Essa é a base dos nanossensores biológicos, que podem ser arranjados 
em estruturas mais complexas, denominadas biochips.
Uma vez que a amplitude da alteração da resistência elétrica depende da proteína que encosta nos 
nanotubos, é possível detectar e monitorar, com grande sensibilidade, aquelas que são biomarcadores 
de doenças. Já existem biochips que, quando introduzidos próximos ao tumor, avaliam sua evolução e a 
efetividade do tratamento quimioterápico e radioterápico praticamente em tempo real.
Outro exemplo de biochip em desenvolvimento é aquele que, quando implantado em diabéticos, 
possibilita dosar a glicose dos pacientes de maneira rápida e eficaz, sem a necessidade de retirar uma 
amostra de sangue. Os resultados da aferição são transferidos diretamente para o aparelho celular do 
paciente! Tudo leva a crer que esse biochip estará disponível comercialmente em alguns anos.
 Observação
Biomarcadores são moléculas, principalmente proteínas, cujas alterações 
na concentração indicam a ocorrência de uma determinada patologia.
Outra área de aplicação da nanotecnologia é a produção de biomateriais. Eles são compostos de 
estruturas moleculares em nanoescala de forma a manter a estrutura e a função idênticas, ou muito 
próximas, àquelas encontradas em nosso corpo. Alguns exemplos em estudo são vasos sanguíneos; pele 
e órgãos artificiais; e dispositivos para corrigir a visão e a audição.
7.2.3 Nanofármacos
Os nanofármacos são sistemas terapêuticos nanoestruturados que visam a aumentar o alcance 
terapêutico e a eficácia dos princípios ativos contra diferentes patologias. Isso é possível graças ao 
103
BIOMEDICINA INTEGRADA
direcionamento celular e à liberação controlada que esses nanossistemas proporcionam. Algumas de 
suas vantagens são:
• aumento da biodisponibilidade;
• maior tempo de meia-vida plasmática;
• redução das doses e/ou elevação do intervalo entre doses;
• diminuição dos efeitos adversos.
 Observação
Biodisponibilidade é a fração do fármaco inalterado que atinge a 
circulação sistêmica. Tempo de meia-vida plasmática é o período que 
demora para a concentração plasmática do fármaco cair pela metade.
Nanofármacos já estão sendo utilizados no tratamento de diversos tipos de câncer, o que proporciona 
o direcionamento do quimioterápico para seu local de ação; de doenças oftalmológicas, o que resulta 
em melhor permeação pelas barreiras oculares; e de transtornos do sistema nervoso central, devido à 
facilidade em atravessar a barreira hematoencefálica.
Alguns exemplos de nanofármacos em desenvolvimento são nanopartículas carreadoras que 
direcionam o fármaco para seu local de ação; moléculas de fármacos encapsuladas em nanopartículas 
lipídicas, chamadas de lipossomas; curativos com nanogeradores que aplicam pulsos elétricos diretamente 
na ferida, o que acelera a cicatrização; nanopartículas poliméricas que atuam como plaquetas sintéticas, 
para interromper hemorragias internas; nanorrobôs capazes de reparar células doentes etc.
7.2.4 Nanotecnologia aplicada à microscopia
Na área da pesquisa básica, a nanotecnologia permite explorar a estrutura de diferentes materiais. 
Os microscópios de força atômica, por exemplo, permitem a observação dos objetos em três dimensões. 
Nesse tipo de microscópio, uma sonda, que pode conter nanotubos de carbono, varre a amostra a ser 
analisada. A interação entre os nanotubos e os átomos da superfície da amostra possibilita a reconstrução 
tridimensional. A resolução da imagem chega a 1 angstrom, o que é realmente impressionante!
 Observação
Um angstrom corresponde a 10-10 m, ou seja, a 01, nm. Trata-se de uma 
unidade de medida utilizada para lidar com grandezas da ordem do átomo.
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Unidade II
Figura 42 – Imagem de uma superfície varrida por sonda de microscópio de força atômica
Disponível em: https://bit.ly/3oNWIBz. Acesso em: 18 nov. 2021.
7.2.5 Nanopartículas de prata
As nanopartículas de prata apresentam propriedades desinfetantes e antissépticas e, por serem 
capazes de eliminar bactérias, podem ser impregnadas em próteses ósseas e tecidos, além de outros 
materiais hospitalares. Os demais usos incluem a fabricação de cosméticos, produtos eletrônicos etc.
Essas nanopartículas, quando em contato com microrganismos, são capazes de inibir seu crescimento 
e sua infectividade. O mecanismo proposto é a interação entre a carga positiva presente nos íons Ag+, 
positivos e a membrana plasmática dos patógenos, que apresenta carga negativa. Como consequência, 
a permeabilidade da membrana aumenta, o que resulta em morte celular.
Uma vez na célula bacteriana, as nanopartículas de prata desestabilizam ligações dissulfeto presentes

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