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Notas de Aula de Economia Monetária: A Moeda em um Modelo de Gerações Superpostas Prof. José Coelho August 17, 2022 1 Introdução Neste curso estudaremos economia monetária através da construção de modelos econômi- cos que replicam características essenciais de economias atuais, com tais modelos funcio- nando como simpli�cações da complexa realidade econômica em que vivemos. Apesar de simpli�cações, tais modelos devem ilustrar os elementos do comportamento de indivíduos que escolhem reter moeda baseados em previsões de variáveis econômicas importantes como produto real, preços, receita do governo, bem estar, etc., e em mudanças de políti- cas que envolvem moeda. Para apresentar um modelo de economia monetária, temos de ter em mente quais são as características essenciais de uma economia monetária: a moeda é um bem diferente dos outros tipos de bens, já que os indivíduos demandam os outros bens pela utilidade derivada do seu consumo, enquanto demandam moeda não para consumi-la, mas porque a moeda os ajuda na tarefa de adquirir os bens que desejam consumir. Isto é, a moeda é um meio de troca1. Um modelo que diferencia deste modo a demanda por moeda da demanda por outros bens, requer duas características especiais. Primeiro, na ausência da moeda, deverá existir alguma fricção nas trocas que impede as pessoas de trocar diretamente os bens possuem pelos bens que desejam. Isto é, se as pessoas puderem, sem custo adicional, trocar os bens que possuem pelos bens que dese- jam, não haverá papel para a moeda nessa economia. Segundo, como a moeda é um ativo que pode ser retido entre períodos curtos de tempo, antes de ser gasto, deverá existir alguém que deseja reter moeda de um período para outro. Assim, no nosso modelo de economia monetária, sempre haverá alguém que viverá no período seguinte. O segundo requerimento pode ser atendido em duas possíveis abordagens: 1. As pessoas vivem vidas in�nitas (pense numa geração in�nita: o indivíduo cria os próprios �lhos e estes criam os próprios �lhos e assim por diante, de modo a perpetuar os 1No nosso modelo, além de meio de troca, a moeda é reserva de valor, algo que veremos a seguir, notando que a moeda transfere riqueza entre gerações. 1 descendentes); 2. As pessoas vivem vidas �nitas, porém as gerações se sobrepõem (ou se superpõem) em dois ou mais períodos. 1.1 A Noção de Gerações Superpostas Nos concentraremos no segundo tipo de abordagem, supondo que os indivíduos nascidos num período t qualquer, vivem durante dois períodos, de modo que no período t convivem duas gerações de indivíduos: nascidos nos períodos t− 1 e t. Começaremos com uma versão simpli�cada do modelo de gerações superpostas (OLG) desenvolvido por Paul Samuelson, em 1958 e, de acordo com as necessidades que sur- girem com o avanço da discussão, introduziremos as extensões necessárias à abordagem, de modo a �exibilizar a análise. No nosso modelo de economia monetária, a moeda tem a habilidade de transferir va- lores entre períodos: se, no período t, alguém aceitar uma unidade monetária em troca de bens, esta unidade monetária poderá ser trocadas por bens no período t+ 1. Numa economia com gerações superpostas com duas gerações, a moeda é o meio pelo qual são transferidos valores entre as gerações t e t+ 1. Como veremos mais à frente, tais transferências intergeracionais não podem acontecer na ausência de moeda, de modo que a moeda funciona como um mecanismo capaz de permitir trocas mutuamente bené�cas entre as mesmas, o que aumenta o bem estar dos indivíduos. 1.1.1 As Hipóteses do Modelo 1. O indivíduo vive em dois períodos: quando jovem, no período t e quando velho, no período t+ 1; 2. A economia começa no período t = 1; 3. Em cada período t ≥ 1, nascem Nt indivíduos, de modo que, no período t, con- vivem Nt indivíduos nascidos no período t e Nt−1 indivíduos nascidos no período t − 1 (no período 1 há N0 +N1 indivíduos); 4. Na economia, existe um único bem perecível, ou um bem que não ser �armazenado� de um período para o seguinte, de modo que o que é produzido no período t tem que ser consumido no próprio período t; 5. No primeiro período de vida, quando jovem, cada indivíduo recebe uma dotação de y unidades do bem perecível e 0 unidades do mesmo no segundo período, quando velho. Podemos interpretar a dotação do bem perecível como a habilidade de trabalho que cada pessoa recebe ao nascer: quando jovens, os indivíduos produzem, consomem e poupam e, quando velho, apenas consomem a poupança gerada quando eram jovens; 6. Os individuos da geração inicial (N0) serão velhos no período 1. Tal geração é con- hecida como Initial Old. 2 Figure 1: Tal padrão de dotações está ilustrado na Figura 1. 1.2 As Preferências dos Indivíduos Os indivíduos obtêm satisfação consumindo o único bem (perecível!) existente na econo- mia. 1.2.1 As Gerações Futuras Os membros das gerações futuras (t ≥ 1) desejam consumir quando são jovens e quando forem velhos, de modo que suas funções de utilidade dependem da combinação de con- sumo pessoal quando são jovens e quando são velhos. Nesse sentido, acerca das preferências de um indivíduo qualquer, assume-se que suas funções de utilidade de indivíduos nascidos no período t terão o seguinte formato U = U(c1,t, c2,t+1) de modo que (a). Cada indivíduo prefere consumir quantidades positivas do bem nos dois períodos, a consumi-lo todo em um único período (ver na Figura 2); (b). Dada a quantidade consumida em um período, a utilidade do indivíduo aumenta com o aumento do consumo no outro período (ver na Figura 3). (c). Para receber uma unidade adicional do bem de consumo no período seguinte, o indivíduo tem que estar disposto a abrir mão de maior quantidade do bem de consumo hoje, se o bem de consumo for abundante hoje relativamente ao bem de consumo amanhã. 3 Figure 2: (ver na Figura 2). Com as hipóteses acima assume-se que os indivíduos são capazes de ranquear (ou classi- �car) combinações (ou cestas) do bem de consumo ao longo do tempo, de modo a ordenar suas preferências. Assim, denotando o consumo de um indivíduo nascido no período t, no primeiro período de vida (quando jovem), por c1,t e no segundo período de vida (quando velho), por c2,t+1, preferências dos indivíduos podem ser representadas na seguinte função de utilidade U = U(c1,t, c2,t+1) (1) Pela equação acima e , sabendo que ao longo de uma curva de indiferença a satisfação é constante, conclui-se que dU = 0⇒ ∂U ∂c1,t dc1,t + ∂U ∂c2,t+1 dc2,t+1 = 0 de modo que a taxa marginal de substituição no consumo entre o primeiro e o segundo períodos de vida do indivíduo é TMS1,2 ≡ dc2,t+1 dc1,t = − ∂U ∂c1,t ∂U ∂c2,t+1 < 0 Gra�camente, a primeira hipótese assume que o consumo nulo em um dos períodos rep- resentará uma provação terrível, de modo que as curvas de indiferença são essencialmente verticais quando c1 se aproxima de zero e essencialmente horizontais quando c2 se aprox- ima de zero; a segunda hipótese garante que a satisfação do indivíduo cresce da esquerda para a direita; e a terceira hipótese garante que, à medida em que aumenta o consumo em um dos períodos, haverá menos disposição em abrir mão de uma unidade do bem para 4 Figure 3: consumí-lo no período seguinte. Isto é, a taxa marginal de substituição entre c1 e c2 é decrescente (e vice versa). 1.2.2 A Geração Initial Old Como os indivíduos da geração inicial já nascem velhos e vivem (e consomem) no período inicial da economia, então eles maximizam a satisfação consumindo no segundo período de vida (c2). Logo, sua função de utilidade tem a seguinte forma funcional U = U(c2) (2) 1.3 O Problema Econômico O indivíduo, ao nascer, recebe uma dotação y do bem de consumo perecível. No entanto, deseja consumir tal bem de consumo no primeiro período de vida (quando jovem) e no segundo período (quando velho). Como o bem é perecível e o indivíduo vive em dois períodos, ele tem que resolver um problema de como adquirir os bens que necessita con- sumir no segundo período de vida. Aqui, duas abordagens são apontadaspara resolver o problema: (a) A solução de um Planejador Central; (b) A solução descentralizada do mercado, com moeda. (a). A solução do Planejador Central O Planejador Central não pode alocar mais bens do que existe. Isto é, sua ação é limi- tada pela quantidade de bens na economia. Como apenas os jovens recebem a dotação inicial do bem de consumo (y) e nascem Nt indivíduos no período t, então, no período t, o consumo total da economia (Ct) não pode ser superior à dotação agregada dos jovens, Nty. Isto é, 5 Ct ≤ Nty (3) Supondo que todos os membros de uma mesma geração têm as mesmas preferências sobre o bem de consumo ao longo da vida, isto é, que cada indivíduo da geração t tem preferência sobre suas respectivas cestas de consumo (c1t; c2t), então, no período t, C1,t = Ntc1,t (4) C2,t = Nt−1c2,t (5) onde C1,t e C2,t representam, respectivamente, os consumos agregados dos jovens e dos idosos, no período t. Assim, a restrição orçamentária enfrentada pelo Planejador Central será distribuir o con- sumo a cada grupo (jovens e velhos) de acordo com Ct = C1,t + C2,t de modo que Ntc1,t +Nt−1c2,t ≤ Nty (6) Supondo que a população permaneça constante ao longo do tempo (Nt−1 = Nt = N), então c1,t + c2,t ≤ y (7) Supondo, ainda, alocações estacionárias (c1,t = c1 e c2,t = c2), isto é, o Planejador Cetral atribui aos membros de uma mesma geração a mesma cesta de consumo, então c1 + c2 ≤ y (8) maxU(c1, c2) s.t.c1 + c2 ≤ y A Alocação da Regra de Ouro À alocação estacionária factível de consumo que maximiza o bem-estar das gerações fu- turas (c∗1, c ∗ 2), chamamos de Alocação da Regra de Ouro. Nessa alocação, as utilidades das gerações futuras ocupam o mais alto nível durante toda a vida dos indívíduos e ocorre no único ponto de tangência da mais alta curva de indiferença que puder alcançar (ver Figura 4). 6 Figure 4: A Solução da Geração Inicial Como é importante considerar o bem-estar de todos os participantes da economia, faz sentido considerar os efeitos de política sobre a geração inicial. Sabemos que a alocação da regra de ouro é tal que maximiza a utilidade das gerações futuras (t ≥ 1). Porém, tal equilíbrio não maximiza a utilidade da geração inicial. Além disso, como a geração inicial consome apenas no segundo período de vida, então sua função de utilidade é algo como U = U(c2) (9) Nesse caso, o problema de maximização da geração inicial imporia c2 = y como o ponto E da Figura 4, um tipo de de solução em que apenas as gerações velhas, incluindo a geração inicial, consomem todo o bem de consumo y, um resultado para lá de irrelevante, já que há uma in�nidade de gerações futuras e apenas uma geração inicial. (b). A Solução Descentralizada do Mercado Na solução centralizada, com a maximização das utilidades das gerações futuras - alo- cação de equilíbrio (c∗1, c ∗ 2) - exige-se que o planejador central tome, sem custos, de cada indivíduo jovem, a quantidade c∗2 do bem de consumo y e a atribua a cada pessoa velha. Além disso, exige-se que o planejador central conheça as preferências (ou as funções de utilidade) de cada indivíduo. 7 A pergunta que emerge é: existe alguma forma de alocar otimamente o consumo en- tre gerações de modo descentralizado, em que o mercado faça o trabalho tão e�ciente quanto o Planejador Central? O Equilíbrio Competitivo A resposta à pergunta anterior é SIM, desde que 1. As trocas sejam bené�cas para os indivíduos, através das quais eles tentam atingir o mais alto nível de satisfação possível; 2. As ações individuais não afetem os preços e não haja coalizão entre indivíduos (os indivíduos não se juntem em cartéis); 3. Os mercados se equilibrem (as trocas ocorrem até esgotar os excedentes de cada indivíduo). O Equilíbrio Competitivo sem Moeda Lembremos que cada indivíduo das gerações futuras (t ≥ 1) recebe, quando jovem, y unidades do bem de consumo, mas nada recebe quando velho. Como o indivíduo prefere consumir nos dois períodos, sua utilidade total aumentará se ele abrir mão de parte do consumo presente, para consumir no futuro. Isto é, assume-se que (U(c1, 0), U(0, c2)) < U(c1, c2) Sem o Planejador Central será impossível uma alocação (c∗1; c ∗ 2) na ausência de moeda, já que não há dupla coincidência de desejos intra e entre gerações (t versus t e t versus t− 1) porque: (a) não é vantajoso para um indivíduo da geração t transacionar com outros indivíduos da geração t, já que todos os indivíduos da geração t nada terão do bem y quando velhos, no período t+ 1; (b) não é vantajoso para um indivíduo da geração t transacionar com indivíduos da ger- ação t−1, já que estes últimos deixarão de existir ainda no período t, impossibilitando-os de repor o bem consumido. Isto é, ao �nal, sem a participação de um Planejador Central, os equilíbrios sem moeda serão �autárquicos�, no sentido de que os indivíduos não têm interação econômica uns com os outros: incapazes de fazer transações mutualmente vantajosas, os indivíduos da geração t consomem inteiramente suas dotações quando jovens e nada quando velho. O Equilíbrio com Moeda Fiduciária A moeda �duciária é, por de�nição: (i). Uma mercadoria produzida com custo marginal virtualmente nulo, que não pode 8 ser consumida nem utilizada no processo produtivo, além de não representar promessa para qualquer coisa que possa ser utilizada no consumo ou na produção. (ii). O governo é o único emissor; (iii). Pode ser retida entre dois períodos (sem custos) e trocada por bens (sem cus- tos); (iv). Só terá valor se habilitar o indivíduo a trocá-la pelo bem que necessita consumir. Isto é, a moeda só terá valor se exercer poder de comando sobre o consumo futuro. De�nição: O Equilíbrio Monetário é um equilíbrio competitivo (M s = Md) em que existe um estoque (M) de moeda �duciária �valorável�. Suponha que existe na economia um estoque �xo de moeda �duciária, com M unidades perfeitamente divisíveis, de modo que (a). Cada membro da geração inicial (geração t = 0 ou initial old) começa com M N unidades de moeda �duciária; (b). Cada pessoa jovem (geração t = 1) pode trocar parte de sua dotação do bem de consumo (y) por moeda �duciária com pessoas da geração anterior (pessoas velhas da geração inicial). 1.3.1 À Guisa de Demanda por Moeda Fiduciária A moeda �duciária será demandada se for valorável. Isto é, se as pessoas aceitarem desistir de consumir alguma quantidade de bens em troca de moeda e vice-versa. Como a moeda �duciária não tem valor intrínseco (valor de uso), sua demanda depende da prospecção sobre seu valor no futuro (quando será trocada por bens), de modo que se for esperado que a moeda �duciária não terá valor no próximo período, então a moeda �duciária não terá valor no período atual. Seguindo essa linha lógica, se a moeda �duciária não for valorável no período T , então não será valorável hoje: T −→ T − 1 T − 1 −→ T − 2 T − 2 −→ T − 3 ... 3 −→ 2 2 −→ 1 Se uma unidade de moeda �duciária ($1) for valorável no período t e se o seu valor nominal for vtpt = $1 9 então o seu valor real será vt = $1 pt representando a quantidade de bens que o indivíduo terá de abrir mão para adquirir uma unidade monetária: vt representa o valor da moeda e 1pt representa a quantidade de bens. Então, vt = 1pt é uma relação de equilíbrio. Seguindo essa lógica, pt = $1 vt O Orçamento Individual Dado que a moeda �duciária é valorável, como um indivíduo jovem, nascido no período t, decide quanta moeda adquirir, sabendo que (i). não pode consumir mais do que sua dotação inicial (y)? (ii). terá mais satisfação consumindo nos dois períodos do que em um único período? Do ponto de vista do indivíduo jovem c1,t + c2,t+1 ≤ y (10) Deste modo, y − c1,t é a quantidade do bem de consumo que o indivíduo abrirá mão no presente, quando jovem, trocando-a pela quantidade de moeda que será usada para adquirir o bem de consumo no futuro, quando velho (c2,t+1). Se a quantidade de moeda �duciária adquirida pelo indivíduo for mt e o valor de uma unidade monetária for vt, então: yt − c1,t = c2,t+1= vtmt (11) Isto é, c1,t + vtmt ≤ y (12) No segundo período da vida (no período t+ 1), o indivíduo não recebe qualquer dotação do bem de consumo, mas terá à sua disposição a moeda �duciária retida quando jovem (no período t), de modo que vale a relação c2,t+1 ≤ vt+1mt (13) 10 de modo que mt ≥ c2,t+1 vt+1 (14) Substituindo (14) em (12), a restrição orçamentária intertemporal do indivíduo será c1,t + [ vt vt+1 ] c2,t+1 ≤ y (15) representando as diferentes combinações de consumo que o indivíduo pode alcançar ao longo da vida. Se c1,t = 0, então [ vt vt+1 ] c2,t+1 ≤ y e c2,t+1 ≤ [ vt+1 vt ] y. Por outro lado, se c2,t+1 = 0, então c1,t ≤ y. Isso delimita a restrição intertemporal (possibilidades de consumo) do indivíduo. Como, por outro lado, U = U(c1,t; c2,t+1) (16) então, no equilíbrio intertemporal, o indivíduo consome o par (c∗1,t, c ∗ 2,t+1) tal que 2 TMS1,2 = vt+1 vt (17) representa a Taxa Marginal de Substituição entre consumos nos dois períodos da vida do indivíduo, podendo ser classi�cada como a Taxa de Retorno da Moeda Fiduciária, representado gra�camente na Figura 5. 2Note, pela restrição orçamentária, que dc2,t+1 dc1,t = −vt+1 vt e que, pela função de utilidade dc2,t+1 dc1,t = − UMc1,t UMc2,t+1 = −TMS(c1,t, c2,t+1) Isto é, em equilíbrio, TMS(c1,t, c2,t+1) = vt+1 vt 11 Figure 5: A Taxa de Retorno da Moeda Fiduciária (i). O valor da moeda �duciária, no período t, depende da crença das pessoas sobre o seu valor no futuro; (ii). Suponha que as expectativas sobre a moeda sejam as mesmas entre os indivíduos de uma mesma geração, em qualquer geração (isto é, as dotações, as preferências e a popu- lação são as mesmas, geração após geração, de modo que c1,t = c1 e c2,t = c2, para todo t); (iii). Os indivíduos têm expectativas racionais, tomando decisões baseados no conjunto de informações disponível. Nesse caso, na ausência de choques aleatórios, as expectativas sobre as variáveis no futuro são iguais aos valores de hoje dessas variáveis (perfeita pre- visão). Assumindo perfeita previsão e mercados competitivos (o preço é tal que qs = qd), a oferta real de moeda é igual à demanda por saldos reais. Isto é, vtMt = Nt(y − c1,t) (18) de modo que o valor de uma unidade monetária é dado pela proporção da demanda por moeda (Nt(y − c1,t)) em relação ao estoque de moeda �duciária (Mt) e é dado por vt = Nt(y − c1,t) Mt (19) Em t+ 1, o valor de uma unidade monetária será vt+1 = Nt+1(y − c1,t+1) Mt+1 (20) 12 de modo que a taxa de retorno da moeda entre os períodos t e t+ 1 será vt+1 vt = Nt+1(y−c1,t+1) Mt+1 Nt(y−c1,t) Mt (21) Como, no estado estacionário, onde c1,t = c1,t+1 = c1, então vt+1 vt = Nt+1 Mt+1 Nt Mt (22) Assumindo população e estoque de moeda constantes (Nt = Nt+1 = N e Mt = Mt+1 = M), a taxa de retorno da moeda �duciária será constante e uma unidade monetária terá valor constante. Isto é, vt+1 vt = 1⇔ vt+1 = vt (23) Como pt = 1vt , então pt = pt+1 Isto é, o preço do bem de consumo é constante. Nesse caso, a restrição orçamentária individual coincide com o conjunto factível, dado por c1 + c2 ≤ y (ver Figura 6). Da restrição intertemporal do indivíduo no período t, c1,t + [ vt vt+1 ] c2,t+1 ≤ y (24) segue-se que, no estado estacionário, c1 + [ vt vt+1 ] c2 ≤ y (25) Usando o resultado da equação (23), c1 + c2 ≤ y (26) 1.3.2 A Teoria Quantitativa da Moeda Pela Teoria Quantitativa da Moeda, MV = PQ. Assumindo que, no curto prazo, a economia está em equilíbrio de pleno emprego e que a velocidade da moeda é constante, então ∆M = ∆P (27) de modo que conclui-se pela principal proposição da economia monetária clássica: o nível 13 Figure 6: de preços é proporcional ao estoque de moeda. Nesse contexto, a pergunta que emerge é: será a TQM assegurada com o arcabouço OLG? Vimos que, em equilíbrio, o valor real da oferta de moeda é igual à demanda por sal- dos reais. Isto é, vtMt = Nt(y − c1,t) (28) ou vt = Nt(y − c1,t) Mt (29) No equilíbrio estacionário com população constante, vt = N(y − c1) Mt (30) Sabendo que vt é o valor de uma unidade monetária em termos de bens (ptvt = 1), então pt = 1 vt , de modo que pt = Mt N(y − c1) ⇒ ∆p = ∆M (31) Isto é, o nível de preços é proporcional ao estoque de moeda. 14 1.3.3 A Neutralidade da Moeda Note que as escolhas de consumo do indivíduo independem do estoque de moeda, mas dependem de sua taxa de retorno (vt+1 vt ) . Quando o estoque de moeda é constante, a taxa de retorno da moeda �duciária independe do estoque de moeda, o que indica que a moeda é neutra. 1.3.4 O Conjunto Orçamentário com População Crescente Nos tópicos anteriores, concluímos que o valor constante da moeda (preços constantes) assegura um equilíbrio que maximiza o bem estar das gerações futuras. Porém, será isso sempre verdade ou haverá situações em que uma alteração no valor da moeda maximizará a utilidade das gerações futuras? Para responder a esse questionamento, ampliaremos a discussão para permitir que a economia cresça, de modo que a quantidade do bem de consumo disponível na econo- mia cresça ao longo do tempo. Para ver isso, suponhamos que a população dessa economia cresça à taxa bruta constante n > 1, em cada período t. Isto é, Nt = nNt−1 No modelo com Planejador Central, concluimos que Ntc1 +Nt−1c2 ≤ Nty (32) Como a população era constante (Nt = Nt−1 = N), c1 + c2 ≤ y (33) Consideremos, no entanto, a população crescendo à taxa bruta n > 1 em cada período. Então, [ Nt Nt ] c1 + [ Nt−1 Nt ] c2 ≤ [ Nt Nt ] y (34) Substituindo-se Nt = nNt−1, vem c1 + [ 1 n ] c2 ≤ y (35) Note que, quando n > 1, há mais indivíduos jovens para cada indivíduo velho, de modo que há mais bens disponíveis por indivíduo no segundo período de vida (ny > y) e o grá�co da restrição orçamentária torna-se mais íngreme (Figura 7), apresentando uma nova alocação da Regra de Ouro com aumento do consumo no segundo período de vida dos indivíduos da geração t. 15 Figure 7: 1.3.5 O Equilíbrio Monetário de uma Economia em Crescimento Como �ca o equilíbrio monetário nessa economia em que a população cresce à taxa n > 1 por período? Recordemos que o equilíbrio monetário com moeda �duciária, no estado estacionário de consumo, implica que vt = Nt(y − c1) Mt (36) onde o numerador da fração corresponde à demanda real total por moeda �duciária e o denominador é o estoque de moeda. A equação (36) nos informa que o valor da moeda �duciária, em qualquer período, é determinado pela demanda por moeda �duciária, medida em relação à oferta de moeda. Um aumento da demanda real relativa por moeda �duciária aumenta seu valor e vice-versa. No período t+ 1, a expressão da equação (36) transforma-se em vt+1 = Nt+1(y − c1) Mt+1 (37) Logo, a taxa de retorno da moeda �duciária será vt+1 vt = Nt+1(y−c1) Mt+1 Nt(y−c1) Mt = Nt+1 Mt+1 Nt Mt (38) 16 Assumindo que o estoque de moeda é constante (Mt+1 = Mt = M) e que a população é crescente (Nt = nNt−1), vem vt+1 vt = Nt+1 Nt = nNt Nt = n (39) Isto é, numa economia em crescimentro, se o estoque de moeda for constante, a taxa de retorno da moeda �duciária será igual à taxa de crescimento da economia, que é igual à taxa de crescimento da população. Como n > 1, então o valor da moeda é crescente e o preço do bem de consumo é decrescente. Recordando, pela equação (25), a restrição orçamentária intertemporal do indivíduo re- sulta em c1 + [ vt+1 vt ] c2 ≤ y ⇒ c1 + [ 1 n ] c2 ≤ y (40) que apresenta o mesmo resultado encontrado com o modelo com Planejador Central, com população crescente [equação (35)]. 1.4 Exercício Usando as hipóteses do modelo OLG com moeda e a função de utilidade U(c1,t, c2,t+1) = log c1,t + β log c2,t+1 onde 0 < β ≤ 1 é o fator de desconto do futuro, encontre a demanda por moeda q∗ = βy 1 + β Use, inicialmente, a forma lagrangeana L(c1.t, c2,t+1) = log c1,t + β log c2,t+1 − λ [ c1,t + ( vt vt+1 ) c2,t+1 − y ] Dica: Após encontrar as condições de primeira ordem da forma lagrangeana, assuma que c1,t = y − q e que c2,t+1= ( vt+1 vt ) q. Resposta: Pelas condições de primeira ordem, temos 1 c1 = λ β c2 = λ ( vt vt+1 ) Combinando as condições de primeira ordem, vem 17 c2 βc1 = vt+1 vt Substituindo c1 = y − q e c2 = ( vt+1 vt ) q no resultado acima, temos( vt+1 vt ) q y − q = β ( vt+1 vt ) o que conduz a, q∗ = βy 1 + β 18
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