Buscar

sociologia_politica

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 104 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 104 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 104 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

So
c
io
lo
g
ia
 p
o
lí
t
ic
a Sociologia
política
Nelson Rosário de Souza
Sociologia
política
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-3505-2
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
Sociologia Política
Nelson Rosário de Souza
IESDE Brasil S.A.
Curitiba
2012
Edição revisada
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
© 2008 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor 
dos direitos autorais.
Capa: IESDE Brasil S.A.
Imagem da capa: Shutterstock
IESDE Brasil S.A.
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Todos os direitos reservados.
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ 
________________________________________________________________________________
S716s
 
Souza, Nelson Rosário de
 Sociologia política / Nelson Rosário de Souza. - 1. ed. rev . - Curitiba, PR : IESDE 
Brasil, 2012. 
 100 p. : 28 cm
 
 Inclui bibliografia
 ISBN 978-85-387-3505-2
 
 1. Sociologia política. 2. Elites (Ciências sociais). 3. Estado-providência. 4. Brasil - 
Política social. I. Título. 
 
12-8110. CDD: 306.2
 CDU: 316.74
01.11.12 08.11.12 040462 
________________________________________________________________________________
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
Sumário
O que é Sociologia Política? | 7
Filosofia Política, Ciência Política e Sociologia da Política | 7
A Sociologia Política | 11
Teoria das elites I | 17
Pressupostos históricos e conceituais do elitismo | 17
Mosca e as bases sociais do domínio político | 19
Pareto e a circulação das elites | 20
Michels e o elitismo resignado | 22
Teoria das elites II | 25
Duas apropriações do elitismo | 25
A denúncia contra as elites | 26
O elitismo pluralista | 28
A crítica ao elitismo liberal | 29
Os intelectuais e o poder | 35
Definição de intelectual | 36
O intelectual e a política na modernidade | 37
Contradições do intelectual militante | 38
O novo intelectual | 40
Definição e formação do Estado do Bem-Estar Social | 43
A definição de Estado do Bem-Estar Social | 43
A formação do EBE – dimensão econômica | 45
A formação do EBE – dimensão política | 47
Desenvolvimento do Estado do Bem-Estar Social | 51
A fórmula do Estado do Bem-Estar Social | 51
O fundo público e a desmercantilização do trabalho | 52
Tipos de EBE | 53
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
A crise do Estado do Bem-Estar Social | 59
O cenário da crise | 59
Diagnósticos extremos da crise | 60
A análise teórica da crise | 61
Política Pública e Política Social | 65
A política e o social | 65
O surgimento da “questão social” | 67
O público e o estatal | 68
A matriz histórica da assistência social no Brasil | 71
A herança da proteção social no Brasil | 71
A política patrimonialista | 72
Assistência e Bem-Estar Social | 74
Assistência social e construção da democracia no Brasil | 77
Assistência e exclusão social | 77
Avanço político e recessão econômica | 78
A assistência no cenário do “Consenso de Washington” | 80
Os movimentos sociais | 83
O que é movimento social? | 83
Teorias sobre os movimentos sociais | 84
A política dos novos movimentos sociais | 86
Mídia e política | 89
O poder da mídia | 89
Teorias da comunicação política | 90
Referências | 95
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
Apresentação
O encontro entre duas disciplinas com o objetivo de analisar determinados 
aspectos da realidade nem sempre é eficaz. Ainda que seja possível afirmar 
que tudo está relacionado a tudo, o que importa para a ciência é o poder 
explicativo que uma disciplina oferece aos seus interlocutores. Assim, podemos 
afirmar que a luz solar é fundamental para a vida e chegar à conclusão de 
que a sociedade não seria possível sem a existência do astro maior. A relação 
não é errada, mas não tem qualquer poder explicativo e, a partir dela, querer 
reivindicar a aproximação entre Astronomia e Sociologia não teria o menor 
sentido. 
Por outro lado, ocorrem situações em que a combinação conceitual e 
metodológica entre duas disciplinas é quase uma reivindicação da própria 
realidade, tal a expansão do poder explicativo a partir da soma de olhares. É 
o caso de disciplinas bastante conhecidas e consolidadas como a Sociologia 
Urbana, a Psicologia Social ou a Economia Política. O mesmo ocorre com a 
Sociologia Política. A aproximação entre a metodologia e o olhar da Sociologia 
e da Ciência Política possibilitou o desenvolvimento de novas ferramentas de 
investigação e a elaboração de novas e elucidativas análises. O desafio, nesse 
caso, como bem alertou Sartori, é promover uma interação de olhares e evitar 
o risco da submissão de uma ciência à outra.
A Sociologia Política busca analisar o papel dos atores e instituições sociais 
diante do poder e, ao mesmo tempo, refletir sofre as confluências entre a esfera 
política e o campo social. Os riscos teóricos dessa construção são discutidos no 
primeiro capítulo da obra e reaparecem sempre que necessário. O segundo, o 
terceiro e o quarto capítulos foram reservados para um tema central e seminal 
da disciplina em foco, ou seja, o debate sobre o papel político das elites e dos 
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
intelectuais. Qual o papel que atores com elevados recursos sociais e econômicos 
desempenham na arena política? Nos capítulos seguintes ocorre quase uma 
inversão do tema, ou seja, a questão passa a ser o comportamento do Estado 
diante das pressões sociais. Como o Estado contemporâneo responde às demandas 
sociais? Essa questão perpassa os temas do bem-estar, das políticas sociais, da 
assistência social e dos movimentos sociais. Enfim, a introdução aos temas da 
Sociologia Política é completada com um capítulo sobre o papel da mídia e seus 
atores diante do poder.
Diante da segmentação da realidade promovida pelos saberes científicos 
especializados, é fundamental o esforço de junção interdisciplinar. Espero que o 
livro cumpra também o papel de valorizar a associação dos saberes. 
Bons estudos a todos.
 Nelson Rosário de Souza
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
O que é Sociologia Política? 
Nelson Rosário de Souza*
* Doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP). Mestre em Sociologia USP. Graduado em Ciências Sociais pela Universidade 
Federal do Paraná (UFPR).
Filosofia Política, Ciência Política e Sociologia da Política 
Um bom ponto de partida para introdução à Sociologia Política é pensar a sua distinção frente 
a outras disciplinas próximas, como a Filosofia Política, a Ciência Política e, especialmente, a Sociologia 
da Política.
As disciplinas científicas se distinguem uma das outras na justa medida em que reivindicam para 
si o poder explicativo de algum aspecto da realidade. Sendo assim, a Economia, por exemplo, procura 
demonstrar, pela combinação entre teoria e dados empíricos coletados com rigor metodológico, que 
certos fenômenos econômicos são determinados por outros fatos econômicos. Significa que o atestado 
de validade da Ciência Econômica está associado à sua capacidade de estabelecer relações causais plau-
síveis entre acontecimentos do mundo econômico. É o que se passa quando um economista demonstra 
os efeitos que o aumento dos juros podeter sobre o declínio da inflação em determinados contextos. 
Ao proceder dessa maneira, o economista contribui para a efetivação da autonomia da sua ciência em 
relação às demais.
Mas a importância dessa ciência será ainda mais nítida se ficar demonstrado com rigor lógico e 
metodológico que certos processos econômicos geram efeitos, até mesmo, para além do mundo dos 
negócios, ou seja, na política, cultura e sociedade. Assim, um economista pode estabelecer relações 
causais entre o nível de desenvolvimento econômico de um país e o grau de adesão da sua população 
às instituições democráticas. Fica evidente que, para ele, os fatores e processos econômicos são enten-
didos como variáveis independentes, ou seja, como causas explicativas de outros fenômenos. Nesse 
exemplo, o desenvolvimento econômico seria o causador de variações na área da política, ou seja, os 
fenômenos políticos são tomados como variáveis dependentes dos fatos econômicos que, por sua vez, 
são elevados à categoria de variáveis independentes.
Poderíamos multiplicar os exemplos de modo a demonstrar como cada ciência, pelas mãos dos 
cientistas que as constroem, procura demonstrar logicamente a capacidade explicativa dos fatos cir-
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
8 | O que é Sociologia Política?
cunscritos a uma determinada dimensão da realidade. Para o cientista político são os fenômenos as-
sociados ao poder e ao Estado que têm força explicativa, ou seja, eles podem e devem ser tomados 
como variáveis independentes. Já para um antropólogo são os fatos do mundo cultural que têm essa 
capacidade explicativa e assim por diante. Mas, o que acontece quando uma ciência reivindica para 
seus estudos uma dimensão da realidade já recortada por outro saber? É o caso, por exemplo, da Ciên-
cia Política em relação à Filosofia Política. O que se passa quando duas disciplinas se aproximam para 
formar uma terceira e circunscrevem como objeto de estudo o universo de fatos já trabalhados por 
outras abordagens? Isso ocorre com a Sociologia Política diante da Filosofia Política ou da Ciência Política. 
É preciso uma análise mais cuidadosa para distinguir essas formas de produção de conhecimento sobre 
o universo político.
A Filosofia Política
É correto afirmar que a Filosofia é a matriz a partir da qual os saberes científicos se organizam, 
especialmente, no caso da área denominada ”humanística”. A construção do conhecimento científico 
se faz, também, como um percurso de autonomização diante da Filosofia. Essa separação, é importante 
frisar, não significa uma ruptura radical, pois o saber filosófico, além de fornecer as bases conceituais do 
saber científico, dialoga com a ciência apontando seus limites e possibilidades.
Ainda que ocorram variações na forma de pensar filosófica, uma caracterização pertinente do 
saber filosófico é aquela que o associa ao procedimento dedutivo1. O pensar filosófico é, fundamental-
mente, abstrato, ou seja, trata-se de um raciocínio lógico e rigoroso que parte de conhecimentos ante-
riores e chega a novos saberes sem passar pela observação dos dados concretos coletados com rigor 
metodológico. Ao contrário, as ciências são experimentais, “não nascem da dedução lógica, mas sim da 
indução, da observação e da experiência” (SARTORI, 1981, p. 164). 
1 Raciocínio dedutivo é aquele que parte de saberes e teorias anteriores para chegar a novos conhecimentos; trata-se de um procedimento 
abstrato. O raciocínio indutivo, ao contrário, é aquele que, partindo dos dados da experiência, dos fatos empíricos, empreende um processo 
lógico e chega a explicações causais plausíveis, ou seja, teorias. É o raciocínio que vai do particular para o geral. 
Os filósofos políticos clássicos exemplificam a abordagem peculiar da Filosofia Política. Hobbes, 
Locke e Rousseau, cada qual ao seu modo, lançaram uma pergunta sobre a essência do poder, ou seja, 
sobre o seu fundamento lógico. Não estavam interessados em observar as diferentes conformações 
históricas do Estado para analisar os limites e possibilidades do exercício concreto do poder. O que es-
ses pensadores fizeram foi imaginar, com rigor lógico, a origem do Estado e, a partir dessa construção 
abstrata, tiraram consequências sobre o exercício do poder numa sociedade que se quer livre e igual. 
O olhar desses filósofos estava voltado para um ”Estado” ideal. Construir uma abordagem abstrata, en-
tretanto, não significa distanciar-se da realidade, e sim, estabelecer com ela um diálogo fundado não na 
experiência, mas no raciocínio lógico dedutivo.
A Filosofia Política caracteriza-se também pela avaliação das condições de produção da Ciência 
Política. A partir de questões como: quais critérios legitimam um saber no campo da Ciência Política? 
O que faz um pensador ser catalogado como cientista político? Quais valores servem de substrato para 
essas determinações? O filósofo político estabelece o grau de confiabilidade dos saberes científicos, 
enfim, os seus limites.
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
9|O que é Sociologia Política?
A contribuição da Filosofia Política apresenta-se, ainda, na sua preocupação em caracterizar com 
precisão o “fenômeno político”, ou seja, estabelecer com rigor lógico a especificidade dos fatos políticos 
em relação a outros tipos de acontecimentos. Ao distinguir, por exemplo, o campo político do mundo 
da moralidade privada, a Filosofia Política contribui com a autonomização do saber político. A Filosofia 
Política, então, dá os parâmetros para a construção do saber científico tanto da Ciência Política quanto 
da Sociologia Política, mas não se confunde com elas.
A Ciência Política e a Sociologia Política
A distinção entre Ciência Política e Sociologia Política é mais difícil de ser precisada, pois ambas 
elaboram saberes experimentais, ou seja, indutivos. A diferença não pode ser localizada no tipo de 
conhecimento produzido; em conjunto elas se opõem à Filosofia, não se preocupam com o que “deveria 
ser”, não operam no nível ideal, mas, buscam descrever e explicar o ”porquê” dos fatos concretos numa 
”busca da finalidade” (BOBBIO, 1993a). Entretanto, a Ciência Política se ocupa fundamentalmente da aná-
lise das instituições políticas, aquelas que abrigam os poderes constituídos: Legislativo, Executivo e Ju-
diciário; e dos processos políticos, ou seja, ações que visam à conquista e/ou manutenção do poder do 
Estado. Assim, o objeto central da Ciência Política é o Estado, sendo que o olhar dessa ciência alcança as 
instituições e processos que estão na órbita do poder político central, tais como os partidos e as eleições. 
A Ciência Política se caracteriza por buscar nos fatos políticos as variáveis explicativas, ou seja, 
independentes, e que dão sentido a outros fenômenos e processos do mundo político ou fora dele. 
Ao analisar os tipos de regimes políticos, as condições do exercício do poder, os negócios públicos, os 
programas governamentais, os grupos de poder, os conflitos e tensões institucionais, o cientista político 
busca regularidades, conexões causais entre os fatos do mundo político. Por sua vez, o sociólogo localiza 
nas condições socioestruturais, nos fenômenos sociais, as causas explicativas de outros acontecimentos 
sociais, ou mesmo políticos, econômicos etc. São conceitos típicos da Sociologia: comunidade (rural e 
urbana), trabalho, status, autoridade, classe social, alienação, ideologia, mito etc. A Ciência Política, por 
sua vez, opera com conceitos como Estado, poder, dominação, regimes políticos etc. Mas, a mera ob-
servação dos conceitos não é suficiente para distinguir as abordagens, pois é comum que um cientista 
mobilize conceitos típicos de outra disciplina.
O campo da Ciência Política se aproxima daquele da Sociologia a partir do início do século XX, 
quando ocorre, especialmente na Europa Central, uma massificação da política. A democracia deixou 
de ser uma atividadepara poucos indivíduos. É o período da formação dos partidos de massa e da or-
ganização de grandes mobilizações sociais com o objetivo de influenciar o jogo político institucional. 
Nesse processo de “democratização da democracia”, os direitos políticos deixam o papel e se efetivam 
no espaço público. Significa que o mundo social invade o mundo político, fica difícil delimitar a fronteira 
entre um e outro. A Ciência Política, diante dessas transformações, passa a se ocupar não apenas das 
instituições, mas também do comportamento dos atores sociais que empreendem ações políticas, se-
jam indivíduos ou grupos. Não deixa de ser um período de crise da Ciência Política que busca redefinir 
a especificidade do seu objeto diante da abordagem sociológica sobre o poder2. É o momento também 
onde se apresenta o desafio do diálogo entre Ciência Política e Sociologia.
2 Sobre a crise da Ciência Política, ver Sartori (1981).
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
10 | O que é Sociologia Política?
Sociologia Política e Sociologia da Política
A caracterização da especificidade da Sociologia Política solicita sua distinção diante da Sociolo-
gia da Política. Como indica Sartori (1972, p. 6), Sociologia da Política designa apenas uma “subdivisão 
do campo geral da Sociologia – tal como a sociologia da religião, a sociologia do lazer, e assim por 
diante. Ao dizermos sociologia da política, deixamos claro que a estrutura, o método ou o enfoque da 
investigação é de natureza sociológica”. Quando, por outro lado, falamos de Sociologia Política não está 
prefigurado o método empregado, os conceitos mobilizados e a perspectiva adotada, nem aqueles da 
Sociologia, tampouco os da Ciência Política. O desafio da Sociologia Política está, justamente, em esta-
belecer pontes entre estas duas dimensões do saber: Sociologia e Política.
Como bem explica Sartori (1972), o problema da multiplicidade de abordagens sobre o social 
não se resolve forçando uma homogeneidade dos saberes sob o guarda-chuva da Ciência Social ou 
estabelecendo que uma das ciências do social é superior às demais. Não é possível negar a divisão 
do trabalho na produção dos saberes sobre a sociedade. É a partir dos ganhos da especialização das 
ciências que devemos pensar no diálogo entre elas. Aí se encontra a diferença da Sociologia Política: 
sua vocação é ser uma ciência interdisciplinar, seu papel é o de construir “híbridos interdisciplinares” 
na fronteira dos saberes constituídos. Ao reconhecermos a distinção entre Ciência Política e Sociologia, 
permanece o desafio de aproximar esses dois modos de produção do conhecimento, ou seja,
[...] construir pontes interdisciplinares. A sociologia política é um híbrido interdisciplinar que tenta combinar as variáveis 
sociais e políticas explanatórias, isto é, os insumos (inputs) sugeridos pelo sociólogo e os sugeridos pelo cientista políti-
co. A sociologia da política é, pelo contrário, uma redução sociológica da política. (SARTORI, 1972, p. 112)
Sartori enfatiza a necessidade de não confundir Sociologia Política com Sociologia da Política, 
enfim, a tarefa de construir uma ciência interdisciplinar requer a superação da tentativa equivocada de 
reduzir a Sociologia Política a um subcampo da Sociologia. Trata-se de uma perspectiva oposta àquela 
encontrada, por exemplo, em Bobbio (1987, p. 62), para quem a “sociologia política é uma parte da 
sociologia geral, e a ciência política é uma das ciências sociais. O Estado como sistema político é, com 
respeito ao sistema social, um subsistema”.
É preciso considerar, entretanto, que Bobbio não estava preocupado com o tema da interdisci-
plinaridade e sim, em apresentar o percurso histórico de construção do pensamento político. Tecendo 
essas considerações ele demonstra como, na Grécia Antiga, a política e a sociedade formavam um todo, 
depois, a partir da Roma Antiga, ocorreu uma separação entre essas duas dimensões, estabelecendo-se 
uma relação vertical entre Estado e sociedade, para, finalmente, com “a emancipação da sociedade civil3 
burguesa” as instituições políticas se verem permeadas pela sociedade, numa espécie de inversão da hi-
erarquia anterior. Esse processo real, de ampliação dos direitos políticos da sociedade – direito de voto, 
de organização, de livre expressão das ideias etc. – teve seus efeitos no campo da elaboração dos sa-
beres sobre a sociedade e a política. Nesse contexto, Bobbio toma a Sociologia Política como sinônimo 
de Sociologia da Política.
3 Ainda que o conceito seja amplo e adquira conotações específicas em diferentes autores, por sociedade civil pode-se entender, em 
poucas palavras, o conjunto de associações e instituições voluntárias que ocupam o espaço entre o Estado e o mundo privado (da família e 
do mercado). Como exemplos, podemos citar: movimentos sociais, organizações não governamentais, associações de caridade, sindicatos, 
grupos comunitários, associações de moradores, grupos de autoajuda, ativistas, associações religiosas etc.
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
11|O que é Sociologia Política?
A Sociologia Política
Em virtude da mobilização da sociedade no sentido de participar do mundo político, fenômeno 
que surge como novidade no início do século XX, os estudiosos do social rumaram, junto com seus 
atores, para a arena política e se puseram a pensar como a sociedade influenciava e, até mesmo, de-
terminava os processos políticos. A reflexão sociológica passou a focar o poder, o Estado e os atores 
políticos, mas essas abordagens estavam carregadas de conceitos e olhares da Sociologia, formando, 
mais precisamente uma Sociologia da Política. 
O exemplo da produção de saberes pela Sociologia de Partidos em meados do século passado 
é importante para perceber as dificuldades iniciais enfrentadas pela Sociologia Política até descobrir 
a sua vocação interdisciplinar. Os sociólogos de partidos, na tentativa de explicar como fatores sociais 
determinavam os processos e comportamentos políticos, se puseram a estabelecer relações entre a ori-
gem de classe dos eleitores e a adesão dos mesmos aos partidos. Nesse sentido, os partidos apareciam 
como variáveis dependentes e a classe como variável independente, ou seja, explicativa. A formulação, 
válida para a disciplina de Sociologia de Partidos, nada tinha ver com a formação de uma Sociologia 
Política, pois não era o resultado da confluência de métodos e saberes dessas duas subáreas gerando 
uma nova ciência interdisciplinar, mas sim, a tentativa de explicar a política pelo olhar sociológico (SAR-
TORI, 1972).
A hipótese central que orientava a investigação da Sociologia de Partidos era de que os partidos 
políticos refletiam, de alguma maneira, a estratificação social. Os partidos representavam as classes so-
ciais e, de certo modo, possibilitavam a transição da luta de classes, do campo privado do mercado ou, 
dito de outro modo, do chão da fábrica para o espaço da política. O impulso inicial dessa disciplina es-
tava associado, então, ao conceito marxista de consciência de classe. Esse conceito expressa o princípio 
de que a classe operária tende a reconhecer-se à medida que percebe a sua trajetória histórica de luta 
contra a burguesia e, a partir dessa percepção, busca uma associação de forças para a transformação 
radical da sociedade. 
A Sociologia de Partidos, além de não caminhar no sentido da formação de uma ciência interdis-
ciplinar (a Sociologia Política), também não conseguiu convencer que fatores sociológicos explicavam 
o comportamento político. Segundo Sartori (1972), o problema estava em associar apressadamente e 
sem base empírica4 válida três momentos distintos: a atração de classe, o apoio advindo da lealdade 
de classe e a representação dos verdadeiros interesses de classe. Sartori demonstra que a relação que a 
Sociologia de Partidos estabeleceu entre esses três momentos foi frouxa, e ressalta a imensadificuldade 
que essa disciplina teve em precisar o que seria o “interesse de classe” e a “representação de classe”. A 
partir dessa constatação ele conclui:
4 Empírico no sentido de dados coletados da experiência através de instrumental metodológico e científico.
O status teórico da sociologia de partidos de classe é pobre. Em primeiro lugar, o conceito de representação está 
patentemente mal empregado. Projetivamente falando, só nos é permitido dizer que os partidos refletem, ou podem 
refletir, classes sociais. Isso significa ser possível encontrar “semelhanças de classe” entre eleitores de um partido, por 
uma parte, e o pessoal ou os quadros funcionais do partido, por outra parte. Com base nesta conclusão, podemos 
inferir que os eleitores e os líderes estão vinculados por uma espécie de empatia sociopsicológica... mas não é possível 
inferir mais do que isso. A diferença entre empatia e representação é abissal. (SARTORI, 1972, p. 118)
Verifica-se que Sartori desqualifica a tentativa da Sociologia de Partidos em associar o comporta-
mento político à posição dos sujeitos na estratificação social. Os próprios números sobre o comportamento 
eleitoral, mobilizados pelos sociólogos de partido, indicavam que a classe trabalhadora, por exemplo, não 
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
12 | O que é Sociologia Política?
votava em massa no partido operário, ou mesmo, nos partidos de esquerda. O importante para nós é per-
ceber, a partir do exemplo histórico, a especificidade da Sociologia Política e a dificuldade em precisar seu 
objeto e método de análise, pois ela não deve ser nem Sociologia, nem Ciência Política, mas o encontro 
dessas duas disciplinas. Nesse sentido, mais importante do que explicar por que uma parte da classe vota no 
partido que apela para seu ideário, seria entender por que a outra parcela da classe não vota nesse partido. 
Sartori sugere a necessidade de inversão da hipótese, não seria a posição dos indivíduos na es-
trutura social que explicaria o comportamento político. O voto de classe é algo pontual e superficial, 
portanto, insuficiente para apreender a ação política de classe que é algo mais complexo e amplo. O 
desafio para a ciência seria explicar como se dá a passagem de uma posição de classe para um com-
portamento de classe. A nova hipótese, própria à investigação de uma ciência interdisciplinar como a 
Sociologia Política, é de que a ação das instituições sociopolíticas, entre elas os sindicados, os partidos 
e as associações de classe, criariam redes estratégicas de solidariedade e identidade com força política. 
Ou seja, nos locais onde esse tipo de instituição social empreende práticas políticas, o voto tenderia a 
ser de classe. A ação persuasiva das instituições pode transformar o apelo de classe em ação de classe 
(SARTORI, 1972). Nesse caso, a combinação de fatores sociais e políticos explicam o comportamento dos 
atores, o que exige, portanto, uma análise interdisciplinar a ser empreendida pela Sociologia Política 
de maneira a evitar que a política seja vista apenas como uma projeção do social, ou seja, evitar uma 
redução sociológica da política. O papel da Sociologia Política é determinar, de forma simultânea, em 
que medida a sociedade condiciona os processos políticos e é por eles condicionada.
Em resumo, a Sociologia Política ocupa-se em analisar o comportamento político dos atores so-
ciais. Temas como a participação política, com seus diferentes graus de intensidade e tipos de enga-
jamento, são comuns a essa disciplina. Os valores políticos, as ideologias, enfim, a cultura política dos 
indivíduos também constitui objeto da Sociologia Política, mas enfatizando a relação entre poder e 
sociedade. Quem tem o controle dos processos decisórios? Qual o perfil social dos grupos dominantes, 
ou seja, das elites? São questões que orientam a investigação dos cientistas envolvidos nessa disciplina. 
O espaço da sociedade civil, localizado entre o Estado e a dimensão privada, é o foco principal da Socio-
logia Política: como se organiza o público, seus interesses, atores e suas instituições (partidos, grupos 
de pressão, sindicatos, associações comunitárias, burocracia etc.)? Dentro dessas fronteiras, que não são 
rígidas, se constrói o saber dessa ciência interdisciplinar.
Resposta à recensão de Joaquim Aguiar
O discurso do eleitorado
(FREIRE, 2007, p. 325-330)
Este texto é uma resposta àquelas que considero serem as principais questões levantadas pela 
recensão de três livros de que sou autor (Modelos de Comportamento Eleitoral, Uma Breve Introdução 
Crítica, Oeiras, Celta, 2001), coautor (A Abstenção Eleitoral em Portugal, Lisboa, Imprensa de Ciências 
Texto complementar
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
13|O que é Sociologia Política?
Sociais, 2002), e coeditor/coautor (Portugal a Votos – As Eleições Legislativas de 2002, Lisboa, Impren-
sa de Ciências Sociais, 2004).
Em primeiro lugar, gostaria de saudar Joaquim Aguiar, agradecendo a atenção prestada às três 
obras, bem como os comentários apresentados. Um dos indicadores de que uma determinada área 
de estudos começa a atingir certa maturidade é o surgimento de debates e controvérsias entre os 
estudiosos. Vejo, por isso, os comentários de Joaquim Aguiar como um ponto bastante positivo no 
sentido da maturação da área dos estudos eleitorais, que, sendo uma área mainstream ao nível das 
sociedades mais desenvolvidas da nossa área geocultural, está ainda relativamente subdesenvolvi-
da entre nós.
[...]
A outra crítica que reputo mais relevante do ponto de vista teórico-metodológico é a seguin-
te. Retomando a crítica de Giovanni Sartori aos modelos sociologistas da política (“uma sociologia 
da política”), e defendendo modelos politológicos da política (“uma sociologia política”)1, diz-nos 
Aguiar: “Terminadas as sugestões que estes três livros motivaram, a síntese destas notas pode ser 
apresentada como estando centrada na escolha do plano de análise, o plano superficial das for-
mas ou o plano profundo das realidades. Na perspectiva da sociologia da política, é a interpretação 
das condições expressas pelos diversos grupos sociais que determina o que podem ser as ações 
políticas, o que legitima uma posição analítica que parte das formas e das expressões literais des-
ses grupos sociais para estudar as trajetórias políticas. De modo diferente, na sociologia política é 
necessário explorar simultaneamente o modo como os partidos e os protagonistas políticos são 
condicionados pela sociedade e pelos seus grupos de interesses e o modo como a sociedade, na ex-
pressão das suas expectativas e na formulação dos interesses dos seus grupos é condicionada pelos 
partidos, pelos protagonistas políticos, pelos seus programas e pelos seus discursos. No essencial, 
esses três livros são exemplos de sociologia da política, mas a crítica e as sugestões que motivaram 
inserem-se na perspectiva da sociologia política.
Parecem perspectivas próximas, mas, de fato, permitem ver objetos de análise muito diferentes.” 
Pessoalmente, também considero que a perspectiva da ”sociologia política” (hoje diríamos uma 
perspectiva mais politológica, isto é, que incorpore as considerações sobre a oferta política nos 
modelos para a explicação dos comportamentos e atitudes políticas dos eleitores) é bastante mais 
interessante do que a da ”sociologia da política”. Aliás, eu próprio recorro a ela para interpretar al-
guns dos resultados que encontrei, nomeadamente o baixo nível de ”voto por temas” (v. o capítulo 
4 do Portugal a Votos, sobretudo as “conclusões”): “[...] Sendo assim, o caso português aponta para a 
importância primordial das condições políticas perante as condições socioestruturais.
Ou seja, o fato de os partidos não apresentarem propostas políticas suficientemente claras aos 
eleitores parece ser mais importante do que as tendências estruturais em termos da evolução doperfil social e psicológico dos eleitores (níveis mais elevados de mobilização cognitiva), bem como 
dos níveis muito baixos de ancoragem social do voto (Portugal a Votos, p. 188).”
E nos dois parágrafos seguintes (p. 188-189) apresento alguma evidência empírica compara-
tiva para sustentar esta tese. Porém, com um estudo centrado numa só eleição e num estudo de 
1 Giovanni Sartori. From the sociology of politics to political sociology, In: Martin Lipset Seymour (org.) Politics and the Social Sciences, 
Oxford University Press, 1969. p. 328.
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
14 | O que é Sociologia Política?
caso (Portugal), a incorporação de informação empírica sobre a oferta partidária só pode ser feita a 
nível descritivo ou meramente para interpretar os resultados, como fiz. Penso a que incorporação 
de informação empírica sobre a oferta partidária e outros dados contextuais (sociais, políticos e 
institucionais) é uma via que deve ser prosseguida no futuro, combinando dados sobre as atitudes 
e comportamentos dos eleitores e dados sobre a oferta, mas tal carece necessariamente ou de uma 
análise comparativa2 (que já é possível fazer) ou de uma análise longitudinal (que só a repetição de 
inquéritos eleitorais em diferentes eleições portuguesas permitirá, e que não existia quando anali-
samos as eleições legislativas de 2002...)3.
2 Nesta linha, sugerida como tópicos de uma nova agenda de investigação em Modelos do Comportamento Eleitoral (p. 144), v., por 
exemplo, Pippa Norris (2004), Electoral Engineering: Voting Rules and Political Behavior, Cambridge, Cambridge University Press, André 
Freire, Marina C. Lobo e Pedro Magalhães (2005), Left-right and the European Parliament vote in 2004, comunicação apresentada no 
encontro anual da American Political Science Association (APSA), 1 a 4 de Setembro, Washington, DC, DIVISION 36-12 (Cosponsored by 
DIVISION 15-21): Elections and Voting Behaviour.
3 Nesta linha, v., por exemplo, André Freire e Marina C. Lobo (2005), Economics, ideology and vote: Southern Europe, 1985-2000, In 
European Journal of Political Research, vol. 44 (4), p. 493-518, e Jacques Thomassen (ed.) (2005), The European Voter. A Comparative Study 
of Modern Democracies, Oxford, Oxford University Press. Este último estudo capitaliza com a acumulação longitudinal de inquéritos 
acadêmicos sobre as atitudes e comportamentos dos eleitores para estudar o impacto das diferentes condições sociais, políticas e 
institucionais (específicas para cada eleição em cada país) sobre as atitudes e comportamentos dos eleitores. Tal só foi possível porque 
aquilo que em Portugal só começou em 2002 já tem um vasto lastro temporal na Grã-Bretanha, Alemanha, Holanda, Dinamarca, Suécia e 
Noruega – tais inquéritos regulares iniciaram-se por volta dos anos 1960-1970.
Atividades 
1. Qual a diferença entre Filosofia Política e Ciência Política?
2. Qual a definição de sociedade civil?
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
15|O que é Sociologia Política?
3. Por que Sartori sugere a inversão da hipótese da Sociologia de Partidos?
Gabarito
1. A diferença fundamental está relacionada à abordagem abstrata (ideal) da filosofia que, assim, se 
constitui em um pensamento do tipo dedutivo. Já a ciência é indutiva, busca nos dados empíricos 
as explicações sobre a realidade. A filosofia política típica pensa um Estado ou regime político 
ideal, enquanto a Ciência Política analisa as experiências concretas do mundo político.
2. O conjunto de instituições e associações voluntárias que ocupam o espaço entre o Estado e o 
mundo privado (da família e do mercado).
3. Porque, para Sartori, a passagem do apelo de classe para a ação de classe é melhor explicada pela 
atuação das instituições políticas e não pela posição dos atores na estratificação social. 
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
16 | O que é Sociologia Política?
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
Teoria das elites I 
Pressupostos históricos e conceituais do elitismo
A Sociologia Política tem um caráter interdisciplinar, tendo por vocação combinar conceitos da 
Sociologia e da Ciência Política com o objetivo de explicar os processos sociopolíticos. O desafio da So-
ciologia Política é estabelecer uma ponte entre as duas disciplinas que se ocupam, respectivamente, da 
sociedade e do poder. Assim, a Sociologia Política busca responder a questões como: quais os condicio-
nantes sociais do comportamento político? E, ao mesmo tempo, como as instituições políticas moldam 
determinados tipos de atores sociais? Ou, ainda, como a combinação de processos sociais e políticos ex-
plicam configurações de poder e arranjos institucionais? Pois bem, um dos primeiros esforços de produ-
ção de conhecimento no campo da Sociologia Política deu-se no final do século XIX e início do século XX, 
com a denominada teoria das elites, também conhecida como teoria elitista ou o estudo do elitismo. 
A teoria das elites foi formulada e divulgada inicialmente por três gran-
des pensadores: Gaetano Mosca (1858-1941), Vilfredo Pareto (1848-1923) e 
Robert Michels (1876-1936). Em síntese, essa teoria afirma que em todas as so-
ciedades, sem distinção, sempre uma minoria detém o poder e o impõe a uma 
maioria. O elitismo apresenta-se como uma contraposição, de certo modo, 
uma resposta, a duas posturas teóricas clássicas do campo político. Os elitis-
tas não aceitam as assertivas de Rousseau (1712-1778) sobre a democracia 
direta. Quanto a Marx (1818-1883), ainda que aceitem as formulações sobre a 
oposição entre governantes e governados, discordam das causas apontadas 
pelo pensador alemão e da possibilidade de superação desse cenário, por ele 
aventada com a constituição de uma sociedade sem classes. 
A concepção rousseauniana, segundo a qual democracia deveria ser o governo do povo pelo 
povo, ou mais, a participação direta do povo nas decisões políticas através das assembleias populares 
que formariam a vontade coletiva, é vista pelos elitistas não só como irrealizável e utópica, mas também 
como um sistema que não guarda correspondência com a realidade histórica. É possível acrescentar 
que, para os elitistas, o governo das massas pelas massas não seria desejável, porque, como a história 
teria demonstrado, o comportamento das multidões seria emocional e, portanto, perigoso. Essa crítica à 
Gaetano Mosca.
D
om
ín
io
 p
úb
lic
o.
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
18 | Teoria das elites I
democracia direta fez com que os elitistas clássicos fossem vistos como antidemocráticos, até que seus 
trabalhos fossem resgatados e ganhassem um novo significado pelas mãos do ”elitismo democrático” de 
autores como: Joseph Schumpeter (1883-1950), Seymour Lipset (1922-2006) e Robert Dahl (1915 - *). 
A teoria elitista discorda do pensamento marxista quando este afirma que a divisão econômica da 
sociedade em classes, determinada pelo posicionamento no processo de produção, é o que conduziria 
a um Estado dominador da maioria trabalhadora por uma minoria capitalista. O elitismo se contrapõe 
ainda à ideia de que esse arranjo seria superado pela tomada de consciência da classe trabalhadora que 
construiria um governo popular, estabelecendo uma sociedade de liberdade e igualdade, o socialismo. 
Para os elitistas as sociedades estão divididas, não apenas – ou não fundamentalmente – pela posição 
diferenciada no processo de produção, mas pela ocupação distinta das posições no campo do poder, ou 
seja, uma divisão entre aqueles que governam, sempre uma minoria, e os que são governados, sempre 
uma maioria. Essa seria a situação concreta de todas as sociedades históricas e nenhum dado da realida-
de indicaria a possibilidade da superação dessa dicotomiamesmo com as transformações no processo 
de produção pelo socialismo. Aliás, o próprio movimento político da classe trabalhadora se encarregaria 
de formar as elites políticas operárias e reproduzir no interior da classe a divisão elitista entre os que 
detêm o poder, tomam as decisões, enfim, dominam, e aqueles que são dominados.
A teoria das elites também desqualifica a clássica teoria das formas de governo, segundo a qual 
seria possível classificar os regimes políticos em: monarquia – quando o poder é exercido por um só; 
aristocracia – quando o governo é exercido por poucos, uma minoria; e democracia – quando o exercí-
cio do poder envolve uma maioria. Para os elitistas, desde as sociedades mais simples até as mais com-
plexas, o traço recorrente que nelas encontramos é o exercício do governo por uma minoria, ou seja, 
todas as sociedades, sem distinção, seriam monárquicas ou aristocráticas. Portanto, seria um equívoco 
tentar demonstrar a existência histórica de governos exercidos por uma maioria, ou seja, pelo povo.
Os pensadores clássicos do elitismo buscaram uma fundamentação importante na psicologia das 
massas ou das multidões, desenvolvida por autores como Gustave Le Bon (1841-1931), Geoge Sorel (1847-
-1922) e Gabriel Tarde (1843-1904). Em resumo, a psicologia das massas construiu uma oposição entre a 
dimensão positiva da personalidade individual, o seu caráter racional e o aspecto negativo da multidão, 
movida pela irracionalidade e afetividade. Aliás, a multidão não precisaria estar reunida fisicamente para 
que suas representações irracionais se manifestassem. A valorização do pensamento em bloco, marcado 
pela emoção, um tipo de reflexão dicotômica, opondo bem e mal sem a devida percepção das nuanças 
reais, ocorreria mesmo sem o encontro efetivo dos indivíduos em espaços públicos. Diferente de Sigmund 
Freud (1856-1939), esses autores entendiam o indivíduo isolado como plenamente racional, em oposição a 
ele, caracterizavam a multidão como marcada por: um anonimato que gerava uma força sem controle, uma 
capacidade de contágio mental das ideias irrefleti-
das e uma suscetibilidade às ações manipuladas. 
Características, enfim, que desqualificariam as mas-
sas a adentrarem no campo da política, pois coloca-
riam em risco esse próprio campo. Na tentativa de 
convencer sobre a plausibilidade de seus argumen-
tos, os elitistas costumam mencionar o exemplo 
paradigmático do nazismo, quando as massas fo-
ram conclamadas e manipuladas por lideranças 
que abriram a política à participação das multidões 
e geraram o caos fundado na irracionalidade. 
Multidão (enfrentamento com policiais).
D
om
ín
io
 p
úb
lic
o.
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
19|Teoria das elites I
Mosca e as bases sociais do domínio político
Gaetano Mosca foi o primeiro pensador a formular a teoria das elites. A elaboração clássica dessa 
concepção é, aparentemente, simples e não traz grandes novidades em relação às teorias formuladas 
por pensadores como Marx ou Saint-Simon (1760-1825) (BOBBIO, 1993). Ou seja, em essência, Mosca 
constata que as sociedades são compostas por dominantes e dominados, os primeiros são minoria e os 
segundos maioria. Vejamos a elaboração da teoria nas palavras do próprio autor: 
Entre as tendências e os fatos constantes que se encontram em todos os organismos políticos, aparece um cuja evidên-
cia se impõe facilmente a todo observador: em todas as sociedades, começando pelas medianamente desenvolvidas, 
que apenas chegaram ao prelúdio da civilização, até as mais cultas e fortes, existem duas classes de pessoas: a dos 
governantes e a dos governados. A primeira, que é sempre a menos numerosa, desempenha todas as funções políticas, 
monopoliza o poder e desfruta das vantagens ligadas a ele. A segunda, mais numerosa, é dirigida e regulada pela 
primeira de uma maneira mais ou menos legal, ou ainda de um modo mais ou menos arbitrário ou violento1 (MOSCA, 
1992, p. 106).
1 Tradução livre realizada pelo autor desta obra. O original não contém destaques.
Por de trás da aparente simplicidade da tese, entretanto, encontramos contribuições importantes 
de Mosca. É interessante perceber que ele fala em ”fatos constantes” que “se impõem”, ou seja, ao buscar 
uma recorrência e tentar caracterizá-la como objetiva, o pensador italiano está mais do que constatando 
algo já conhecido, está, sim, buscando uma explicação científica para fatos que eram apenas constatados 
na sua superficialidade e, na maior parte das vezes, com uma conotação ideológica, ou seja, parcial. 
Ainda que se possa discordar da tese elitista, a explicação científica avança com Mosca na justa 
medida em que ele associa o domínio de uma elite à sua capacidade, enquanto minoria, de se organizar 
de forma mais fácil e eficaz do que a maioria, caracterizada pela desorganização e irracionalidade. Ou 
seja, é da organização que vem a força da minoria dominante. Também é característica da classe política 
dirigente, apontada pelo precursor da teoria das elites, o fato de ela buscar a todo custo se manter no 
poder. Isso leva à combinação de interesses aparentemente contrários e à formação de um grupo coeso 
e de apoio mútuo, em oposição à massa que tende à dispersão, à desagregação e à desarticulação. A 
organização é uma característica fundamental da minoria dirigente e possibilita o controle do aparelho 
estatal (BOBBIO, 1993). 
Mosca empreendeu, portanto, um esforço científico, com rigor metodológico, para explicar o mun-
do da política a partir da observação histórica. No percurso da reconstrução dos fatos históricos, o autor 
formula a tese de que em todas as sociedades existem duas classes, a dos governantes e a dos governados; 
à classe governante associa-se uma característica numérica, ela é composta pela minoria, e uma qualida-
de, ela é mais organizada. A classe dirigente, acrescenta ele, monopoliza as funções de poder e desfruta 
das vantagens dessa posição. O acesso desigual à organização é um dos elementos que explica a perpe-
tuação no poder pela minoria, condição que permite aos dirigentes a manutenção de bens importantes 
porque valorizados socialmente (riqueza, força, religiosidade, conhecimento), portanto, a dominação não 
deve ser reduzida à posição econômica das classes. O tema do acesso à organização, por exemplo, foi re-
tomado pela Sociologia Política contemporânea para explicar a origem, a formação, o desenvolvimento e 
a manutenção de elites políticas, sejam de perfil militar, econômico, sacerdotal ou intelectual. 
A elaboração original da teoria das elites, pelas mãos de Mosca, apresenta ainda a concepção de 
“fórmula política”. Conceito que será retomado por autores preocupados em explicar a legitimidade do 
poder e a hegemonia dos grupos dirigentes. A fórmula política opera como uma ferramenta discursiva, 
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
20 | Teoria das elites I
não necessariamente verdadeira, mas plausível e eficaz; ela promove a adesão dos dominados ao pro-
jeto das elites. Uma elite utiliza essa ferramenta na sua estratégia de conquista e manutenção do poder. 
A fórmula política fornece as bases racionais para o domínio de uma elite, ela opera como justificativa 
do poder. Uma fórmula política é tanto mais eficiente quanto mais ela estiver adequada à cultura polí-
tica de uma dada sociedade. Diferentes sociedades constituem fórmulas políticas diversificadas, como 
é possível citar: a de base teológica na Idade Média – o direito divino dos reis; ou aquela fundada no 
mito da pureza da “raça ariana”, na Alemanha nazista. É importante perceber que, para a teoria elitista, o 
discurso democrático também é uma fórmula política, ou seja, a ideia de que o governo é exercido pela 
vontade popular serviria apenas para legitimar um tipo de elite. 
Para o elitismo a democracia também é um governo de elites, o governo democrático só funciona 
com o rígido controledas massas pela elite. Segundo os elitistas, a diferença do regime democrático 
está apenas na forma de escolha da minoria dirigente. Nesse regime, a população é consultada através 
do sufrágio e as classes populares podem fornecer indivíduos para compor a elite, ou seja, o processo 
de recrutamento da elite é aberto. Mas, segundo o elitismo, isso não significa o exercício do poder pelo 
povo, ao contrário, mesmo quando a massa é chamada a se manifestar, ela constitui-se, apenas, em 
objeto de manobra de algum grupo dirigente. Aliás, Mosca distingue esse procedimento de escolha 
das elites nomeando-o de princípio liberal em oposição ao princípio autocrático. Sob o princípio au-
tocrático o recrutamento da elite é endógeno. A classe dirigente é recrutada dentro da própria elite, 
geralmente por herança, sem a participação popular. A nomeação desses dois princípios é um exercício 
teórico, pois, na prática elementos do ordenamento liberal e autocrático encontram-se misturados na 
maior parte das sociedades. É claro que, num Estado autocrático, o princípio autocrático apresenta-se 
de forma mais pura, enquanto que numa sociedade como a Grécia Antiga, o princípio liberal aparece na 
sua forma mais acabada. Essa distinção de Mosca será fundamental para as tentativas de conciliação da 
teoria das elites com o regime democrático por futuros teóricos elitistas.
As reflexões de Mosca impulsionaram a problemática subjetivista do poder político, ou seja, abri-
ram caminho para a elaboração de questões sobre as características sociais dos atores políticos. A questão 
sobre quem detém o poder político passou a ser recorrente na Sociologia Política e com ela as indagações 
sobre: o que pensa a elite? De onde vem? Qual o processo do seu recrutamento? Como se dá a sua sociali-
zação política? Quais os atributos de uma elite? Enfim, como a elite se organiza e constitui a sua coesão?
Pareto e a circulação das elites
Pareto era um pensador mais conhecido e inserido no cenário internacional do que Mosca, con-
dição esta que o fez um grande divulgador da teoria das elites. Para ele, as diferenças sociais constituem 
um fato, uma espécie de natureza, algo dado. Segundo Pareto, os homens se diferenciam uns dos ou-
tros pelos dons e capacidades inatas superiores que alguns possuem em relação aos demais. Portanto, 
os indivíduos se relacionam de forma hierárquica nos diferentes campos de atuação, em cada setor de 
atividades seria possível identificar indivíduos que se destacam dos demais pelas suas capacidades e ha-
bilidades. Aqueles que ocupam as posições privilegiadas pela posse de bens e poder são considerados 
membros da elite; esta, por sua vez, se subdivide em uma elite que governa (elite política) e outra que 
não governa (elite social). A camada inferior da sociedade é composta pela não elite, os governados.
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
21|Teoria das elites I
De acordo com Pareto, a vida social teria seu fundamento no campo psicológico. Os homens 
orientam sua conduta ou pela racionalidade ou pela emoção. Aqueles que se pautam pela razão e pela 
lógica formam as elites, têm uma vocação para a dominação, são os grupos que detêm o poder polí-
tico e a riqueza. A ação lógica, segundo Pareto, é aquela que guarda uma adequação entre os meios e 
os fins no plano subjetivo (do indivíduo) e que se confirma no campo objetivo (da sociedade). A ação 
lógica é, segundo ele, a que predomina no mundo social e político. A elite é o grupo mais afeito a esse 
tipo de ação. Os homens que se deixam conduzir pelo sentimento, por sua vez, compõem a massa 
de governados. Em Pareto é bastante explícita a relação entre massa e irracionalidade, ou seja, entre 
povo e conduta cega e perigosa. Como explicar, então, os processos revolucionários onde as classes 
populares mostram a sua força e destituem a elite do poder? Segundo Pareto, esses momentos não 
marcariam a realização da vontade popular, mas a sua manipulação pelas novas elites em vias de con-
quistar o poder. 
Aliás, uma das preocupações de Pareto foi investigar a sucessão das elites através da história, os 
conflitos que levam a superação de um grupo dominante pelo outro. Na concepção desse pensador as 
elites se renovam num movimento circular. O processo de “circulação das elites”, a substituição de um 
grupo dirigente por outro, contribuiria para o equilíbrio e longevidade da sociedade. A revolução seria, 
justamente, o resultado de uma estagnação da elite, quando novos quadros de elite não conseguem 
ascender social e politicamente, permanecendo entre as classes populares, o que não deixa de ser uma 
anomalia, e velhas elites decadentes se perpetuam no poder sem que sejam devidamente substituídas, 
o que desencadeia a sua degeneração. Esse cenário favorece a retomada violenta do ciclo, ou seja, da 
“circulação das elites” pela revolução. 
A luta entre os que estão no poder e os excluídos aparece na formulação elitista tanto quanto em 
teorias como a marxista, a diferença, é importante sublinhar, está no fato de o elitismo não considerar 
que este conflito se dê entre classes, trata-se de uma luta interna às elites. Outro ponto de divergên-
cia está na descrença elitista na superação do conflito (GRYNSZPAN, 1996). Nesse sentido, a revolução 
socialista se caracterizaria, apenas, como o processo de substituição de uma elite por outra. Segundo 
Pareto, a sociedade tende para o equilíbrio e este, por sua vez, resulta das combinações, acordos e inte-
grações entre as múltiplas classes de elite: “[...] as políticas (estas têm dois polos: os políticos que usam 
a força (leões) e os que usam a astúcia (raposas); as econômicas (com os polos nos especuladores e nos 
banqueiros) e as intelectuais (onde se contrapõem continuamente os homens de fé e os homens de 
ciência)” (BOBBIO, 1993, p. 386).
Pareto pensa também o processo que leva um indivíduo a se tornar membro da elite, ou um gru-
po a constituir-se como nova elite. Munido da noção de equilíbrio, Pareto considera que ocorre nessa 
trajetória uma combinação ótima entre elementos subjetivos, “resíduos” para o domínio, uma espécie de 
vocação para o poder. Nesse caso, as características de persuasão (da raposa) devem se mesclar equilibra-
damente com o elemento de força (do leão). A boa elite é aquela que consegue articular esses resíduos.
Assim como Mosca, Pareto não acredita no potencial emancipador do regime democrático. As 
regras democráticas apenas constituiriam uma forma, entre outras, de composição das elites e não ga-
rantiria, de modo algum, a formação de um governo do povo, ou seja, um regime de soberania popular. 
O poder, dessa perspectiva, é sempre exercido por uma minoria. O risco numa sociedade dita democrá-
tica é a formação de elites com discurso populista, atitude que gera desequilíbrios e crises devido ao 
conteúdo irracional que o apelo ao povo desencadeia.
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
22 | Teoria das elites I
Michels e o elitismo resignado
Robert Michels foi um militante de esquerda. Sua atuação na social-democracia alemã gerou 
desilusão quanto aos ideais libertários e resignação quanto às estruturas de poder que perpetuam a 
desigualdade entre dominantes e dominados. Significa que Michels não parte de uma visão crítica em 
relação ao marxismo e à democracia, assim como fizeram Mosca e Pareto. Se nos pensadores italianos a 
elite é associada ao equilíbrio, à razão, enfim, à boa condução da sociedade, na perspectiva de Michels 
o que está em evidência é a dura, inescapável e até indesejável realidade que se impõe: quem governa 
são as elites.
Inspirado nas concepções de Mosca e Pareto, Michels, entretanto, promove uma inversão nas suas 
análises. Para ele a organização institucional não é um meio, um instrumento, mobilizado pelas elites 
para viabilizar o seu domínio. Ao contrário, são as organizações que constituem minorias dirigentes. A 
principal análisedesse pensador alemão focou o Partido Social-Democrata. Nesse caso, Michels tomou 
a tese geral de Mosca, segundo a qual todas as sociedades estão divididas em uma classe de governan-
tes e outra de governados, e aplicou-a numa instituição específica, o partido, com o fim de verificar se a 
organização partidária é compatível com os princípios democráticos de igualdade e de poder coletivo. 
O resultado foi decepcionante para Michels, ou seja, ele concluiu que o partido produz uma hierarquia 
interna onde o comando fica a cargo de uma “oligarquia”. De certo modo ele se aproxima de Rousseau, 
pois não deixa de denunciar a moderna instituição política como reprodutora da desigualdade. O par-
tido realiza o oposto da sua promessa. É importante observar que o termo escolhido por Michels para 
designar a minoria dirigente, diferentemente dos elitistas italianos, não tem uma conotação positiva, 
ele substitui “aristocracia” por “oligarquia”. Ou seja, para Michels a concentração de poder tem um con-
teúdo degenerativo, mas inevitável. Diante da imposição inescapável dessa realidade, esse pensador 
resignado cunha a seguinte expressão: “lei férrea da oligarquia” (BOBBIO, 1993). Nas palavras de Michels 
a explicação da lei: “A organização é a mãe do predomínio dos eleitos sobre os eleitores, dos manda-
tários sobre os mandantes, dos delegados sobre os delegantes. Quem diz organização diz oligarquia” 
(apud BOBBIO, 1993, p. 386).
Diferente de Pareto, Michels não considera que as diferenças existentes na sociedade tenham 
uma base natural. Os homens não são naturalmente diferentes em suas aptidões e vocações, não a 
ponto de se justificar uma desigualdade. As diferenças, segundo Michels, resultam fundamentalmen-
te de processos sociais. As organizações são necessárias para o funcionamento da democracia, mas, 
contraditoriamente à complexidade técnica delas, gera barreiras e constrangimentos para efetiva par-
ticipação dos militantes no cotidiano das decisões políticas. Determinantes organizacionais levam à 
necessidade de uma oligarquia. Sendo assim, a organização é um meio fundamental para o exercício da 
democracia, mas, ao mesmo tempo, impõe limites ao jogo democrático. Michels acaba por se resignar 
diante da constatação de que uma democracia, no sentido mais amplo do termo, torna-se inviável pela 
complexidade das organizações que exige dirigentes cada vez mais capacitados e centralizadores. As 
características da organização bloqueiam a participação direta das massas na política. As decisões são 
monopolizadas pelos dirigentes partidários que precisam ser estrategistas, a ação política é semelhante 
à militar. O tempo de decisão política inviabiliza o processo de consulta democrática à comunidade. 
Assim, a competência exigida dos dirigentes forma uma oligarquia, cuja base de recrutamento está nos 
estratos médios e altos da sociedade.
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
23|Teoria das elites I
Ainda que as características da organização apareçam como principais elementos explicativos 
da existência de elites, Michels também apresenta argumentos retirados da psicologia das massas para 
analisar a dicotomia entre elite e povo. Nesse campo, é preciso alertar, a reflexão desse elitista não é tão 
vigorosa. Em linhas gerais, Michels argumenta que os chefes teriam traços psicológicos de liderança 
em oposição às massas que teriam características de dependência e renunciariam voluntariamente ao 
envolvimento com questões sérias. As massas estariam mais afeitas ao consumo do espetáculo político 
eleitoral, não se interessariam pela reflexão sobre programas e proposições. Aqui Michels se aproxima 
do conservadorismo de Mosca e Pareto ao chamar atenção para o risco de a democracia favorecer a 
formação de elites demagógicas e inescrupulosas que, para chegar ao poder, desceriam o seu discurso 
e suas promessas ao nível das massas. Essas, por sua vez, teriam a tendência de assumir uma postura de 
gratidão e veneração diante dos líderes com práticas assistencialistas. A distribuição de favores em troca 
de votos exemplifica bem a preocupação elitista.
Para finalizar, é preciso reconhecer que, apesar do caráter científico da teoria das elites, ela surge 
num contexto de elevada preocupação da burguesia com o avanço da democracia e a conquista de 
direitos pelas classes trabalhadoras. Sendo assim, o elitismo, nessa sua primeira formulação, está per-
meado por valores antissocialistas e antidemocráticos, ao mesmo tempo em que se vê influenciado por 
princípios darwinistas de competição e seleção dos, pretensamente, mais aptos pelos processos sociais 
e políticos (BOBBIO, 1993). 
Atividades 
1. Assista ao filme O Leopardo (1963), direção de Luchino Visconti. Quais as características das elites 
retratadas pelo filme?
2. A partir do filme discuta com os colegas a combinação entre a velha elite aristocrática e a nova 
elite burguesa à luz das observações de Pareto.
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
24 | Teoria das elites I
3. Em que medida o contexto histórico explica o surgimento da teoria das elites?
Gabarito
1. A aristocracia decadente de origem rural se depara com a burguesia ascendente de extrato 
urbano. A aristocracia precisa abrir mão dos seus princípios e adaptar-se à nova realidade cedendo 
espaço à nova elite como garantia de uma transição suave e segura, ou seja, sem a perturbação 
da “ordem” pelas classes populares.
2. As reflexões de Pareto a respeito da “circulação das elites” ajudam a entender as articulações entre 
a aristocracia e a burguesia como forma de transição de grupos no comando da sociedade sem a 
geração de conflitos.
3. A teoria das elites surge num contexto de ascensão dos princípios democráticos com conquista 
de direitos políticos pelas classes populares e também o avanço das ideias socialistas. A teoria 
das elites não deixa de ser uma reação do ideário burguês conservador diante do risco, real ou 
imaginário, da perda de poder.
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
Teoria das elites II 
Duas apropriações do elitismo
É possível estabelecer uma divisão entre duas maneiras de mobilizar a teoria das elites. A primeira 
abordagem, mais próxima dos fundadores do elitismo, considera que o domínio de uma minoria sobre 
uma maioria é algo não só real como também desejável, ou seja, preferível em relação à concepção de 
democracia direta ou do ideário socialista. Esse tipo de pensamento agrega ao realismo conservador 
(percepção de que sempre uma elite está no comando das organizações políticas) a avaliação segundo 
a qual essa realidade nunca irá mudar e de que só mesmo uma elite é capaz de conduzir os destinos da 
sociedade com equilíbrio e competência. A massa, a partir desse olhar, teria dificuldade para se organizar 
e conduzir seu comportamento por um critério racional. Nesse sentido, a emoção irracional marcaria as 
multidões. É visível, então, que o realismo dessa abordagem vem acompanhado de uma perspectiva 
normativa, ou seja, da preocupação em defender um tipo de sociedade e de política como sendo a 
melhor.
O segundo tipo de mobilização da teoria das elites se faz de uma perspectiva oposta, caracteriza-se 
por um olhar de denúncia em relação ao fato de sempre um grupo minoritário dominar uma maioria. 
Dessa perspectiva é inconcebível que o poder seja exercido por uma minoria, algo reprovável quando 
se considera que as instituições modernas estão pautadas pelos valores da democracia, da liberdade 
e da igualdade. A partir desse ponto de vista crítico, a utilização dos recursos conceituais do elitismo 
classifica como grave o fato de, em sociedades que se dizem governadas pela vontade livre do povo – 
leia-se pela maioria – ocorrer o controle das posições de poder, a maior parte 
do tempo, por grupos minoritários, homogêneos e duradouros. 
Como representante da primeiraabordagem é possível identificar Harold 
D. Lasswell (1902-1978). Ele foi o introdutor do pensamento elitista de Mosca 
e Pareto na academia norte-americana. Lasswell percebeu o alcance analítico 
dos conceitos elitistas e procurou convencer os pensadores sociais de sua 
época sobre o caráter inovador dessa teoria. Para Lasswell era fundamental 
estudar o comportamento dos agentes sociais mais influentes para 
compreender o jogo político. Mas, a abordagem de Lasswell não assume um 
Harold Lasswell.
D
om
ín
io
 p
úb
lic
o.
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
26 | Teoria das elites II
tom crítico em relação aos fundadores do elitismo, ao contrário, ele também reconhece como natural a 
separação entre elite e massa. Assim como para Mosca, o elitismo, na perspectiva de Lasswell, não é 
incompatível com a existência da democracia. Nesse caso, o que caracteriza uma sociedade como 
democrática não é a inexistência da elite e sim a forma aberta de recrutamento da elite, ou seja, com 
ampla participação a massa.
Lasswell introduziu algumas inovações à teoria clássica das elites ao 
distinguir no meio social a “verdadeira elite”, aquela que tem mais poder e in-
fluência, em relação a uma “elite média”, com menos poder. Na sua percepção 
a elite não forma um grupo totalmente homogêneo. Lasswell também esta-
beleceu uma diferenciação entre tipos de elite, segundo a forma de controle 
que exercem: burocrático, técnico, religioso etc. 
O pensador norte-americano Wrigth Mills (1916-1962) assume uma pos-
tura oposta à de Lasswell em relação à teoria das elites: nele não encontramos 
o tom positivo e empolgado de Lasswell. Mills reconhece a existência de uma 
elite dominante, mas é um crítico dessa realidade e mobiliza os conceitos elitis-
tas para pensar sobre quem manda? E, qual a legitimidade desse mando? 
A denúncia contra as elites
Mills viveu em um período em que as concepções libertárias estavam em declínio, especialmen-
te dentro dos Estados Unidos; foi um período de consolidação do american way of life1. Os movimentos 
radicais populistas ou socialistas saíram, aos poucos, do cenário político dos Estados Unidos. A esquerda 
intelectual norte-americana não encontrava mais espaço para elaborar seus questionamentos sobre a 
economia, a sociedade e a política. Trata-se do contexto de vitória do capitalismo monopolista e da socie-
dade de bem-estar social, com amplas conquistas materiais para significativa parcela dos trabalhadores. 
Nesse período avançou com vigor a construção do imperialismo norte-americano. É o cenário onde mui-
tos pensadores críticos voltaram sua análise para o mundo da cultura (FERNANDES, 1985). Mills vivenciou 
esse ambiente que era marcado, ainda, pela Guerra Fria2 e pelo macartismo3. Na contramão da sua época 
esse sociólogo mobilizou a teoria das elites para denunciar o que considerava uma configuração autoritá-
ria quanto às relações de poder na sociedade norte-americana. Não por acaso a sua obra assumiu um tom 
polêmico nos Estados Unidos, especialmente o livro chamado O Poder da Elite. 
Wrigth Mills.
D
om
ín
io
 p
úb
lic
o.
1 O american way of life pode ser entendido como o estilo de vida norte-americano que se instalou no período de forte recuperação da 
economia, após a crise de 1929. Esse estilo de vida enfatiza a valorização do indivíduo, da liberdade individual, da produção e do consumo em 
massa, da família tradicional e da posição política conservadora.
2 Trata-se da polarização entre a URSS e os EUA na disputa pela hegemonia mundial após a Segunda Guerra Mundial. Sem confrontos diretos 
entre essas duas nações, o conflito manteve-se na área ideológica, diplomática, econômica e tecnológica. A queda do Muro de Berlim em 1989 
marcou, simbolicamente, o final desse período.
3 Por macartismo entende-se o período que vai do final dos anos 1940 até meados dos anos 1950 do século passado nos EUA, quando 
ocorreu uma perseguição pública aos comunistas e simpatizantes da esquerda. Indivíduos com posturas críticas ao capitalismo e à sociedade 
norte-americana passaram a ser suspeitos de colaboração e espionagem a favor da URSS. O senador Joseph McCarthy comandou a campanha 
anticomunista, daí a origem do termo.
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
27|Teoria das elites II
Mills inspirou sua reflexão no marxismo, mas, ao considerar que uma minoria dominava uma 
maioria, não remeteu essa condição a causas econômicas. Ele fixou o olhar no mundo político e se 
recusou a estabelecer uma relação direta entre os atores do campo político (dominantes e dominados) 
e os agentes do mundo econômico (exploradores e explorados). Definitivamente, no olhar de Mills, o 
econômico não é a base explicativa do político, tal qual costuma enfatizar o marxismo tradicional.
Mas o pensamento de Mills tem vários pontos de afinidade com o marxismo: o olhar crítico em 
relação à dominação capitalista, sua preocupação com a mudança histórica a partir do diagnóstico das 
tensões e fissuras sociais, a análise dos grupos ligados ao poder e, também, a preocupação em dar pra-
ticidade à sua teoria no sentido de contribuir com a transformação da sociedade.
Mills criticou a ideia segundo a qual a sociedade norte-americana era democrática, um sistema 
político sem dominação no qual o cidadão comum teria acesso à participação na arena política tanto 
quanto nos negócios do mundo econômico. O homem comum norte-americano, conforme Mills, não 
encontrava o caminho aberto para a inserção influente na política, ao contrário, a pessoa simples pode-
ria ser caracterizada como objeto dos processos sociais que a conduziam, enquanto a elite deveria ser 
definida como sujeito das decisões. Segundo ele, a elite dominante poderia ser identificada pela pes-
quisa sociológica, ela seria composta por indivíduos que ocupavam posições de destaque nas institu-
ições mais importantes e tomavam decisões cruciais para a sociedade: no campo político, econômico 
e militar. Na sua definição ele associa elite à posição institucional: “A elite são os que ocupam os postos 
de comando nas chefias das principais instituições do país. Essas instituições incluem as grandes cor-
porações de negócios e os principais setores do governo federal – em particular o diretório político, a 
burocracia executiva e o establishment militar” (MILLS, 1985, p. 64).
Ele elabora essa definição com a intenção de superar as concepções anteriores que entendiam 
elite como uma comunidade superior, agregada pela partilha de valores culturais e bens materiais. 
Para Mills, essas definições podem ser englobadas pelo conceito construído pela sociologia da posição 
institucional e da estrutura social formada pelas instituições (MILLS, 1985). O método defendido por ele 
para identificação sociológica das elites é, então, o método posicional. A identificação da posição dos 
atores sociais nas principais instituições é que possibilita, segundo Mills, detectar a existência ou não de 
um grupo homogêneo no poder, uma minoria dominante, enfim, a elite do poder.
A posição do indivíduo em postos-chave confere a ele uma situação privilegiada quanto ao aces-
so a outros sujeitos e espaços do poder. É correto afirmar, segundo Mills, que a posição de poder da 
elite reproduz situações estratégicas que confirmam e reforçam a condição de dominação. Mills utiliza 
o termo milieux para representar essa situação, segundo ele: “A elite é formada pelos que dirigem as 
principais instituições e cujas posições de comando os localizam de tal forma na estrutura social que 
eles transcendem, em maior ou menor grau, os milieux comuns de homens e mulheres comuns” (MILLS, 
1985, p. 69).
Por milieux deve-se entender, então, os meios, espaços, enfim, os contextos sociais onde os in-
divíduos vivem e estabelecem seus contatos. Um sujeito da elite tem acesso a diversos e importantes 
milieux, ele ocupa ou se relaciona com sujeitos que ocupam posições estratégicasnas organizações, 
situação que reflete a concentração de poder, riqueza e celebridade. O sujeito comum, por sua vez, está 
limitado pelo seu contexto também comum (FERNANDES, 1985).
No seu tom crítico e de denúncia, Mills combinou sociologia e história para mostrar que o co-
mando da sociedade norte-americana estava nas mãos da elite militar, econômica e política. O que ele 
chamou de “elite do poder”. A capacidade de organização e interação dessa elite entre si conferia a ela 
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
28 | Teoria das elites II
a necessária coesão. Segundo Mills, essa elite era homogênea, pois tinha laços familiares, econômicos 
e culturais. As instituições que ela ocupava também se interligavam, sendo assim, as decisões ficavam 
concentradas nesse grupo, em oposição à massa distante do poder.
O elitismo pluralista
A leitura crítica de Mills, que associa a existência da elite à dominação e, por consequência, ao 
bloqueio da construção de instituições democráticas, provocou a reação de pensadores que se posicio-
nam na perspectiva liberal. Esses pensadores substituíram a questão de Mills sobre quem manda pela 
nova questão colocada por eles, qual seja: será que alguém manda? Leia-se: será que um único grupo 
manda? (BACHRACH; BARATZ, 1983).
Os liberais não negam a essência do pensamento elitista, ou seja, que em todas as sociedades 
quem detém o comando é uma minoria diante da maioria que é comandada. A reação liberal argumen-
ta, entretanto, que a existência de uma contraposição entre elite e massa não é incompatível com a de-
mocracia. A crítica elitista trata de derrubar a tese de que o comando de uma sociedade está sempre nas 
mãos de um único grupo. Segundo os pluralistas, não existe o grupo dominante com plena consciência 
da sua condição. Nas sociedades complexas, não seria possível a um grupo dominar e construir em torno 
de si uma identidade que levaria à coesão e a uma prática conspiratória constante. Em oposição à ideia 
da existência de uma elite monolítica, os liberais descrevem a existência de um pluralismo de grupos 
dominantes ou, para usar termo cunhado por Robert A. Dahl (1915 – *), uma poliarquia – uma multiplici-
dade de grupos em competição para ocupar as posições de poder e participar do processo decisório. 
A partir da concepção de Mosca que distinguia entre um elitismo aristocrático e outro demo-
crático, os liberais tentaram demonstrar que o comando das sociedades não está, necessariamente, 
nas mãos de uma única elite, mas, em muitos casos, de várias elites em conflito e que se revezam nas 
posições de comando. Essa pluralidade de elites que competem, mas também se conciliam a partir 
de compromissos políticos, seria uma realidade, principalmente, nas sociedades complexas. O caráter 
fragmentado das elites, associado à existência de eleições livres e inclusivas, assegurariam o caráter 
democrático do processo político.
Robert Dahl foi o principal opositor que a obra de Mills encontrou. Segundo Dahl, a ideia da exis-
tência de uma “elite do poder” não teria sustentação científica, pois as pesquisas de Mills apresentariam 
um triplo limite. Primeiro, o autor destaca a ausência de definição clara de quem seria a elite do poder. 
Um segundo empecilho foi localizado na inexistência de uma amostra confiável de casos que eviden-
ciassem a existência de conflito de interesses entre o grupo denominado elite e outros agentes da so-
ciedade. Uma terceira objeção levantada por Dahl diz respeito ao fato de Mills não ter demonstrado com 
clareza a imposição da vontade de uma minoria na tomada de decisões como resultado dos conflitos. 
A esse respeito Dahl argumenta: 
[...] não compreendo como alguém possa pensar que tenha estabelecido o domínio de um grupo específico em uma 
comunidade ou em uma nação sem basear sua análise no exame cuidadoso de uma série de decisões concretas. E essas 
decisões precisam constituir o universo ou uma fiel amostra do universo de decisões políticas fundamentais tomadas no 
sistema político. É um fato notável e impressionante que nem o Prof. Mills nem o Prof. Hunter4 tenham tentado seriamen-
te examinar um conjunto de casos específicos para testar suas hipóteses principais. (DAHL, 1970, p. 95 – grifo nosso)
4 Dahl refere-se à Floyd Hunter que também pesquisou o tema da elite dirigente.
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
29|Teoria das elites II
Dahl procurou demonstrar que as sociedades complexas estão marcadas pelo conflito de interesses 
entre diferentes grupos, característica que impede a formação de um único agrupamento dirigente 
minoritário. Mas, mais do que desqualificar a crítica de Mills a respeito da existência de uma elite do-
minante, o pensamento liberal ratifica a afinidade entre a teoria das elites e a perspectiva democrática. 
Para isso, os intelectuais que adotam essa perspectiva constroem uma concepção minimalista ou pro-
cedimental de democracia em oposição à definição substantiva de democracia. 
Para os adeptos da definição procedimental, uma sociedade é democrática quando cumpre com 
as formalidades legais. A sociedade é considerada democrática se nela são adotados certos meios, mé-
todos, enfim, procedimentos, tais como a existência de uma pluralidade de grupos competindo em 
eleições livres, revezamento no poder, conflitos regulados, poderes independentes e imprensa livre. 
Desse ponto de vista, a participação censitária da população na escolha da elite governante preenche o 
requisito do governo da maioria. 
A concepção substantiva de democracia, por outro lado, é mais exigente, leva em consideração 
aspectos sociais efetivamente alcançados: bem-estar social, igualdade, justiça social, além de elemen-
tos do mundo cultural, como a inclusão dos diferentes. A partir desse olhar, os cidadãos não devem 
limitar sua participação às eleições, ao longo de todo o processo decisório deve prevalecer o princípio 
da formação da vontade da maioria após o conflito político e o livre debate de opiniões.
Da perspectiva procedimental, uma sociedade que garanta formalmente a competição pelo voto, 
mesmo que entre elites, e dê condições para o funcionamento das instituições reguladoras, como a 
justiça e a mídia, deve ser considerada democrática. Uma democracia, definida nesses termos, não é 
incompatível com a existência de elites, desde que o processo de recrutamento desses grupos dirigen-
tes seja aberto e eles estejam em livre competição. A argumentação pluralista é utilizada, por exemplo, 
para distinguir as sociedades capitalistas das socialistas. As primeiras seriam democráticas, não pela 
presença do povo nas tomadas de decisões políticas, mas, pela existência de uma competição entre 
elites no processo de tomada de decisão e na busca pelo voto popular. Ao contrário, as sociedades so-
cialistas seriam marcadas pela existência de uma elite homogênea e, consequentemente, autoritária.
A crítica ao elitismo liberal
A postura dos liberais pluralistas foi rotulada, em tom pejorativo, de “elitismo democrático”. Ou 
seja, uma concepção de democracia, mais do que realista, pessimista e desencantada quanto à possi-
bilidade efetiva de participação popular no processo político. A democracia, 
nesse caso, se reduziria à consulta popular periódica sobre qual grupo da elite 
assumiria o poder. Trata-se de uma posição conformista que considera natural 
a separação da sociedade entre os que comandam e aqueles que obedecem. 
Essa perspectiva desconsidera a herança do pensamento político moderno, 
iluminista, que postula uma sociedade sem dominação, pois, fundada na par-
ticipação de todos, em igualdade de condições, na construção das regras de 
convivência. 
A concepção marxista da sociedade e da política também lançou críticas 
contundentes à teoria das elites. Marxistas como Nikos Poulantzas (1936-1979) 
Nikos Poulantzas.
D
om
ín
io
 p
úb
lic
o.
Este material é parte integrante do acervo

Outros materiais