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ISSN 2525-7374 Volume 36 | Número 3 | Suplemento 3 Diretrizes 2021 Brazilian Society of Parenteral and Enteral Nutrition BRASPEN JOURNAL Diretriz BRASPEN de Enfermagem em Terapia Nutricional Oral, Enteral e Parenteral Claudia Satiko Takemura Matsuba, Letícia Faria Serpa, Sandra Regina Maciqueira Pereira, Jaqueline Almeida Guimarães Barbosa, Ana Paula Almeida Corrêa, arcia de Souza Antunes, Franciele Anziliero, André Santos Alves de Araújo, Simone Araújo, Michelli Cristina Silva de Assis, Mariur Gomes Beghetto, Suely Itsuko Ciosak, Michele Coelho Vicente, Thaiz Angelica Franzoni da Silva, Mario Jorge Sobreira da Silva, Rozeane Macedo das Neves, Lilian Leite de Almeida, Luana Ferreira de Almeida, Andréia Maria Minutti de Almeida, Maria Isabel Pedreira de Freitas, Maria Carolina Gonçalves Dias, Graziele Cristina Silva Scofano Diniz, Thaís Rogério dos Santos, Mylene Montes Rodrigues Faim, Ricardo Ferrer, Saskia Iasana Pontes Fleury, Daniela França Gomes, Karla Lopes Pereira Gomes, Thiago José Martins Gonçalves, Adriana Flores Haikel, Elaine Emi Ito, Allan Egon Kern, Maria de Fátima Lago Alvite, Marcela Alvim Lopes Parente Martins, Hugo Martinez Moraes, Adriano Antonio Mehl, Ana Paula Borges Ménès, Ivna Raquel Olimpio Moreira Nogueira, Vanessa Alvarenga Pegoraro, Renata Andrea Pietro Pereira Viana, Sílvia Maria Fraga Piovacari, Rafaella Pitol Corrêa, Ricardo Tadeu Prete, José Ribamar do Nascimento Junior, Fernanda Antunes Ribeiro, Nara Lúcia Andrade Lopes Segadilha, Cibelle Ribeiro Magalhães Silva, Stella Marys Rigatti Silva, Paula Ferreira Siqueira, Bruna Stamm, Janaina de Medeiros Tavares, Fernanda Ramires Totti, Denise Philomene Joseph van Aanholt, Dan Linetzky Waitzberg, Iveth Yamaguchi Whitaker, Lucas Santos Zambon, Melina Gouveia Castro Diretriz BRASPEN de Enfermagem em Terapia Nutricional Oral, Enteral e Parenteral BRASPEN J 2021; 36 (Supl 3): 2-62 2 DDiretrizes Diretriz BRASPEN de Enfermagem em Terapia Nutricional Oral, Enteral e Parenteral BRASPEN Nursing Guidelines in Oral, Enteral and Parenteral Nutritional Therapy Claudia Satiko Takemura Matsuba1 Letícia Faria Serpa2 Sandra Regina Maciqueira Pereira3 Jaqueline Almeida Guimarães Barbosa4 Ana Paula Almeida Corrêa5 Marcia de Souza Antunes6 Franciele Anziliero7 André Santos Alves de Araújo8 Simone Araújo9 Michelli Cristina Silva de Assis10 Mariur Gomes Beghetto11 Suely Itsuko Ciosak12 Michele Coelho Vicente13 Thaiz Angelica Franzoni da Silva14 Mario Jorge Sobreira da Silva15 Rozeane Macedo das Neves16 Lilian Leite de Almeida17 DOI: 10.37111/braspenj.diretrizENF2021 Luana Ferreira de Almeida18Andréia Maria Minutti de Almeida19 Maria Isabel Pedreira de Freitas20 Maria Carolina Gonçalves Dias21 Graziele Cristina Silva Scofano Diniz22 Thaís Rogério dos Santos23 Mylene Montes Rodrigues Faim24 Ricardo Ferrer25 Saskia Iasana Pontes Fleury26 Daniela França Gomes27 Karla Lopes Pereira Gomes28 Thiago José Martins Gonçalves29 Adriana Flores Haikel30 Elaine Emi Ito31 Allan Egon Kern32 Maria de Fátima Lago Alvite33 Marcela Alvim Lopes Parente Martins34 Hugo Martinez Moraes35 Adriano Antonio Mehl36 Ana Paula Borges Ménès37 Ivna Raquel Olimpio Moreira Nogueira38 Vanessa Alvarenga Pegoraro39 Renata Andrea Pietro Pereira Viana40 Sílvia Maria Fraga Piovacari41 Rafaella Pitol Corrêa42 Ricardo Tadeu Prete43 José Ribamar do Nascimento Junior44 Fernanda Antunes Ribeiro45 Nara Lúcia Andrade Lopes Segadilha46 Cibelle Ribeiro Magalhães Silva47 Stella Marys Rigatti Silva48 Paula Ferreira Siqueira49 Bruna Stamm50 Janaina de Medeiros Tavares51 Fernanda Ramires Totti52 Denise Philomene Joseph van Aanholt53 Dan Linetzky Waitzberg54 Iveth Yamaguchi Whitaker55 Lucas Santos Zambon56 Melina Gouveia Castro57 1 Doutora em Ciências pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (USP); Hospital do Coração (HCor), São Paulo, SP, Brasil. 2 Doutora em Enfermagem na Saúde do Adulto pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (USP); Hospital Alemão Oswaldo Cruz, São Paulo, SP, Brasil. 3 Doutora em Enfermagem pela Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 4 Doutor em Enfermagem pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, MG, Brasil. 5 Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); Hospital das Clínicas de Porto Alegre, Porto Alegre, RS, Brasil. 6 Hospital Universitário Antônio Pedro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 7 Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); Quadro de Saúde da Brigada Militar do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil. 8 Especialista em Terapia Nutricional Parenteral e Enteral pela Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (BRASPEN); Hospital Samaritano Higienópolis, São Paulo, SP, Brasil. 9 Especialista em Terapia Nutricional pela Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (SBNPE); Estomaterapeuta pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC/PR); Hospital São Vicente de Paula, Passo Fundo, RS, Brasil. 10 Doutora em Ciências Médicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); Hospital das Clínicas de Porto Alegre, Porto Alegre, RS, Brasil. 11 Doutora em Epidemiologia pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); Professora Associada da Escola de Enfermagem da UFRGS, Porto Alegre, RS, Brasil. 12 Doutor em Ciências da Saúde pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (USP); Departamento de Enfermagem em Saúde Coletiva da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EEUSP), São Paulo, SP, Brasil. 13 Especialista em Terapia Nutricional em Cuidados Intensivos pelo GANEP, Especialista em Educação na Saúde para Preceptores no SUS pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio Libanês, Especialista em Enfermagem em Cardiologia pelo Centro Universitário São Camilo, Especialista em Docência do Ensino e Pesquisa pela Universidade Metropolitana de Santos (UNIMES); Hospital Sírio Libanês, São Paulo, SP, Brasil. 14 Especialista em Terapia Intensiva, Especialista em Terapia Nutricional, Especialista em Gestão da Saúde; Hospital São Cristóvão, São Paulo, SP, Brasil. 15 Doutor em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz); Instituto Nacional de Câncer (INCA), Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 16 Pós-graduada em Oncologia; Américas Centro de Oncologia Integrado, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 17 Especialista em Atenção Farmacêutica e Farmacoterapia Clínica pelo Instituto de Pós-graduação e Graduação (IPOG); Hospital Samaritano Higienópolis, São Paulo, SP, Brasil. 18 Doutora em Educação em Ciências da Saúde; Hospital Universitário Pedro Ernesto da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 19 Especialista em Nutrição Enteral e Parenteral; Hospital Santa Catarina, São Paulo, SP, Brasil. 20 Professora Associada da Faculdade de Enfermagem da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP); Especialista pela Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (BRASPEN), Pós-Doutorada pela National and Kapodistrian University of Athens; UNICAMP, Campinas, SP, Brasil. 21 Mestre em Nutrição Humana pela Universidade de São Paulo (USP); Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, São Paulo, SP, Brasil. 22 Mestre em Pesquisa Clínica pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz); Consultora, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 23 Mestra em Tecnologia e Inovação em Enfermagem pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR); Hospital Geral Dr. Waldemar Alcântara, Fortaleza, CE, Brasil. 24 MBA em Gestão de Serviços de Saúde pela Universidade Nove de Julho (UNINOVE), Especialista em Nutrição Parenteral e Enteral pela Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (BRASPEN), Espe- cialista em Nutrição nas Doenças Crônicas Não Transmissíveis pelo Hospital Israelita Albert Einstein, Especialista em Nutrição Hospitalar pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicinada Universidade de São Paulo (FMUSP); Hospital Alemão Oswaldo Cruz, São Paulo, SP, Brasil. 25 Especialista em Nutrição Clínica e Hospitalar pelo GANEP; Especialista em Nutrição Enteral e Parenteral pela Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (BRASPEN); Hospital Rede D’Or Itaim, São Paulo, SP, Brasil. 26 Enfermeira estomaterapeuta pela Faculdade São Camilo; Mestranda pelo Programa Saúde do Adulto na Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EEUSP); Hospital Alemão Oswaldo Cruz, São Paulo, SP, Brasil. 27 Mestre em Nutrição pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP); Hospital do Coração (HCor), São Paulo, SP, Brasil. 28 Especialista em Terapia Nutricional pela Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (BRASPEN), Pós-graduada em Estomaterapia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ); Hospital Copa D’Or, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 29 Doutor em Ciências Médicas pela Universidade Nove de Julho (UNINOVE); Hospital Sancta Maggiore, Rede Prevent Senior, São Paulo, SP, Brasil. 30 Enfermeira Especialista em Nutrição Humana e Terapia Nutricional Enteral e Parenteral pelo Instituto de Metabolismo e Nutrição (IMEN), MBA em Gestão de Serviços de Saúde pela UNINOVE; Profissional de Educação Física, Especialista em Dança e Consciência Corporal pela Universidade Estácio de Sá; Consultora Autônoma em Terapia Nutricional, São Paulo, SP, Brasil. 31 Mestre em Administração de Serviços em Saúde pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (USP); Hospital Alemão Oswaldo Cruz, São Paulo, SP, Brasil. 32 Especialista em Qualidade e Produtividade pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP); Treinamento e Consultoria em Saúde, São Paulo, SP, Brasil. 33 Fonoaudiologia Hospitalar; Hospital Placi- Cuidados Extensivos, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 34 Especialista em Terapia Nutricional pela Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (BRASPEN), Pós- graduação em Terapia Nutricional pela Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro (SCMRJ); Nutricionista da Equipe Multiprofissional de Terapia Nutricional (EMTN) do Hospital Universitário Pedro Ernesto da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (HUPE/UERJ), Preceptora da residência em Nutrição na área de Terapia Nutricional HUPE/UERJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 35 Especialista em Nutrição Clínica pelo GANEP, Farmacologia Clínica pela Faculdade Oswaldo Cruz; Serviço Nacional do Comércio (SENAC), São Paulo, SP, Brasil. 36 Mestre e Doutor em Ciências/Engenharia Biomédica (CPGEI) pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR); Núcleos de Pesquisa, Prevenção e Tratamento de Feridas e Pé Diabético, Curitiba, PR, Brasil. 37 Mestre em Ciências e Tecnologia em Saúde; Hospital Alemão Oswaldo Cruz, São Paulo, SP, Brasil. 38 Especialista em Terapia Intensiva pela Faculdade Redentor (AMIB); Hospital São Domingos, São Luis, MA, Brasil. 39 Mestre em Ciência da Saúde pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT); Faculdade AUM, CEA-DF, Brasília, DF, Brasil. 40 Doutora em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual de São Paulo (IAMSPE), Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB), Associação Brasileira de Enfermagem em Terapia Intensiva (ABENTI), São Paulo, SP, Brasil; World Federation of Critical Care Nurses (WFCCN), Dayboro, Queensland, Austrália. 41 Especialista em Nutrição Clínica e Terapia Nutricional; Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo, SP, Brasil. 42 Mestre Profissional em Ensino em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Especialista em Terapia Nutricional Parenteral e Enteral pela Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (BRASPEN); Departamento de Atenção Pré-Hospitalar-Prefeitura Municipal de Santos, Santos, SP, Brasil. 43 Especialista pela Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (BRASPEN); Hospital do Coração (HCor), São Paulo, SP, Brasil. 44 Mestre em Ciência - Área de Oncologia pela fundação Antonio Prudente AC Camargo Cancer Center; Instituto de Gerenciamento em Disfagia (IGDDISFAGIA), São Paulo, SP, Brasil. 45 Especialista em Nutrição Parenteral e Enteral pela Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (BRASPEN); Pós-graduada em Terapia Nutricional em Pacientes Graves pelo Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE), Pós-graduada em Cardiologia pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), Especialista em Extracorporeal Membrane Oxygenation (ECMO) pela Extracorporeal Life Support Organization (ELSO); Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo, SP, Brasil. 46 Mestre em Nutrição Clínica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Hospital Copa D’Or, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 47 Mestre em Princípios da Cirurgia pela Faculdade Evangélica do Paraná (FEPAR); Hospital Municipal Dr. Odorico Amaral de Matos – Hospital da Criança, São Luís, MA, Brasil. 48 Doutora em Enfermagem pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); Hospital das Clínicas de Porto Alegre, Porto Alegre, RS, Brasil. 49 Enfermeira Especialista em Cardiologia e Hemodinâmica; Hospital Sírio Libanês, São Paulo, SP, Brasil. 50 Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Maria; Doutoranda em Enfermagem pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), Bagé, RS, Brasil. 51 MBA Gestão em Saúde e CCIH Faculdade Método de São Paulo (FAMESP) / Especialista em Terapia Nutricional Enteral e Parenteral pela Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (BRASPEN); Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 52 Especialista em Terapia Nutricional Enteral e Parenteral; Consultora Autônoma em Terapia Nutricional, São Paulo, SP, Brasil. 53 Nutricionista clínica, especialista em Terapia Nutricional, Especialista em Atenção Domiciliar, Especialista em Administração Hospitalar, Doutoranda pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EEUSP); Consultora Autônoma em Terapia Nutricional, São Paulo, SP, Brasil. 54 Professor Doutor; Hospital Santa Catarina, São Paulo, SP, Brasil. 55 Doutora em Enfermagem pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EEUSP); Escola de Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil. 56 Doutor em Ciências da Saúde pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (EEUSP); Hospital Alemão Oswaldo Cruz; Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP), São Paulo, SP, Brasil. 57 Doutor em Ciências da Saúde pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP); Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo, SP, Brasil. Diretriz BRASPEN de Enfermagem em Terapia Nutricional Oral, Enteral e Parenteral BRASPEN J 2021; 36 (Supl 3): 2-62 3 Endereço para correspondência: Claudia Satiko Matsuba Rua Abílio Soares, 233, cj 144 – Paraíso – São Paulo, SP, Brasil – CEP: 04005-000 E-mail: csmatsuba@uol.com.br INTRODUÇÃO Estudos demonstram dados alarmantes sobre desnutrição hospitalar na América Latina, com incidência de aproximada- mente 50%, observando-se perda de peso corpóreo, risco de lesões por pressão, infecções, entre outras complicações, além de aumento no tempo de internação e dos custos hospitalares1. Graças aos avanços tecnológicos, várias estratégias na área da Saúde foram adotadas para minimizar o risco de desnutrição hospitalar. Além disso, terapia nutricional tem representado uma oportunidade para promover melhora no cuidado, permitindo a utilização nas diferentes condições clínicas e faixas etárias, além da administração pelas vias oral, enteral e parenteral1. Pela sua complexidade, esta terapêutica contempla a atuação transdisciplinar, em que cada profissional tem seu papel fundamental em todas as etapas, a fim de evitar riscos de complicações e garantir a segurança no processo assistencial2. O enfermeirotem seu papel fundamental nas Equipes Multiprofissionais de Terapia Nutricional (EMTN), por ser consi- derado aquele que permanece por maior período em contato com o paciente e que tem a possibilidade de promover maior comunicação entre os demais membros da equipe multiprofis- sional. Este conhecimento origina-se de Florence Nightingale, enfermeira inglesa, que durante a guerra da Criméia teve grande contribuição ao observar a importância do alimento e do ambiente na recuperação dos soldados3. De acordo com legislações vigentes, este profissional é o responsável por garantir a administração das terapias, pautado também na utilização de protocolos assistenciais, na seleção de materiais e equipamentos, no monitoramento dos resultados e na educação permanente de toda equipe de enfermagem, seja no âmbito hospitalar, ambulatorial ou domiciliar2,4,5. Assim sendo, promover a assistência isenta de riscos e efetividade na administração das terapias tem exigido destes profissionais um grande esforço, somado à vivência e à adoção de boas práticas de enfermagem. Sob a coordenação de três enfermeiras, especialistas e com ampla vivência assistencial e de pesquisa, esta Diretriz contou, também, com o auxílio de outros enfermeiros espe- cialistas e profissionais da equipe multiprofissional, procu- rando responder às várias lacunas da prática assistencial na terapia nutricional, abordando aspectos ainda não descritos em outras obras didáticas ou artigos científicos. MÉTODO Com vistas na ciência baseada em evidências, a diretriz BRASPEN de Enfermagem em Terapia Nutricional Oral, Enteral e Parenteral foi estruturada com questões especí- ficas, cada uma delas acompanhada do nível de evidência, com respostas claras e objetivas. Nesta obra, adotou-se o critério Grading of Recommendations, Assessment, Development and Evaluation (GRADE), onde se define a qualidade da evidência da recomendação para se adotar ou não uma determinada conduta. O sistema GRADE apresenta quatro níveis de evidência: alto, moderado, baixo ou muito baixo. • Alto – resultados provenientes de ensaios clínicos rando- mizados bem planejados e conduzidos, com grupos paralelos, com controles adequados, análise de dados apropriada e achados consistentes, tendo como alvo o desfecho clínico de interesse para médico e paciente. Em algumas situações, estudos observacionais podem ser considerados de nível alto de qualidade para apoiar recomendações, inclusive terapêuticas; • Moderado – resultados provenientes de ensaios clínicos randomizados com importantes problemas na condução, inconsistência nos resultados, avaliação de um desfecho substituto (surrogate endpoint) em lugar de um desfecho de maior interesse para médico e paciente, imprecisão nas estimativas e vieses de publicação. Os resultados podem, também, ser provenientes de estudos observacionais; • Baixo – resultados provenientes de estudos observacio- nais, mais especificamente estudos de coorte e caso- controle, considerados altamente susceptíveis a vieses. As evidências podem, também, ser provenientes de ensaios clínicos com importantes limitações; • Muito Baixo – resultados provenientes de estudos obser- vacionais não controlados e observações clínicas não sistematizadas, relato de casos e série de casos. Quando a qualidade da evidência é muito baixa, qualquer estimativa de efeito deve ser vista como incerta. Este material foi revisado por autor sênior responsável (MCG), durante todo o processo da elaboração da presente diretriz. Embora as recomendações aqui apresentadas tenham sido pautadas em evidências e opinião de especialistas, recomenda-se que a compreensão das decisões clínicas sempre deverá ter como soberanas as condições clínicas atuais, circunstâncias locais e individuais de cada paciente. TERAPIA NUTRICIONAL ORAL 1. TERAPIA NUTRICIONAL ORAL: INDICAÇÃO E MONITORAMENTO Diretriz BRASPEN de Enfermagem em Terapia Nutricional Oral, Enteral e Parenteral BRASPEN J 2021; 36 (Supl 3): 2-62 4 Após a internação hospitalar, qual é o melhor momento para a indicação da terapia nutri- cional oral? Recomendação: A terapia nutricional oral deve ser recomendada após a identificação do risco nutri- cional ou desnutrição combinada com evidência de baixa aceitação alimentar e/ou perda de peso. Nível de evidência: Alto A desnutrição é a doença mais prevalente no ambiente hospitalar, é definida como o estado resultante da deficiência de nutrientes que podem causar alterações na composição corporal, funcionalidade e estado mental, com prejuízo no desfecho clínico. Os fatores envolvidos são privação alimentar, doenças, idade avançada, isolados ou combinados6,7. Diversos estudos demonstram que a taxa de desnutrição varia entre 20% e 60%, em adultos hospitalizados; esta condição piora progressivamente, principalmente, em idosos e pacientes críticos. Em 2017, Correia et al.6 publicaram uma revisão sistemática de 66 artigos latino-americanos (12 países e 29.474 pacientes), apontando alta prevalência de desnutrição em pacientes hospitalizados. A identificação precoce realizada por meio de ferramentas recomendadas possibilita estabelecer uma conduta nutri- cional mais apropriada, sendo um dos importantes desafios dos profissionais de saúde. O conhecimento crescente entre os profissionais de Nutrição e da Saúde em geral, aliado a avanços significativos da área, resulta em um atendimento direcionado e especializado ao paciente hospitalizado, com objetivo de manter e/ou recuperar seu estado nutricional7. Existem evidências, em revisões sistemáticas e meta- análises, de que a suplementação nutricional oral (SNO) pode melhorar a ingestão e o peso do paciente. O ganho de peso está associado à melhora da função física, força muscular, caminhada e atividades da vida diária, reduzindo morbi e mortalidade8,9. A prescrição dietética deve garantir as necessidades nutri- cionais de macro e micronutrientes, atendendo à demanda de atividade física, tolerância gastrointestinal, risco de realimentação, condição clínica e metabólica. Em geral, a prescrição nutricional deve atender às recomendações diárias apontadas no Quadro 17,9,10: Qual é o percentual ideal de aceitação da dieta oral? Recomendação: A aceitação alimentar ideal deve atender a 100% das necessidades nutricionais do indivíduo. Nível de evidência: Moderado O estado nutricional do indivíduo é resultado do equilíbrio do consumo de nutrientes e gasto energético do organismo para suprir as necessidades nutricionais em plano individual ou coletivo. A alimentação saudável é a base para a saúde. A natureza e a qualidade dos alimentos são fundamentais para a manutenção da saúde, tratamento e recuperação de doenças, tornando as fases da vida em produtivas e ativas, longas e saudáveis11. No ambiente hospitalar, a aceitação alimentar pode se tornar difícil, devido à mudança do ambiente ou à condição clínica que o paciente se encontra12. A dieta oral do paciente internado deve ser individua- lizada, pautada em diversos aspectos, como seus hábitos, preferências, intolerâncias, aversões e comportamentos alimentares, que devem ser bem investigados, a fim de deter- minar uma orientação nutricional eficiente, que favoreça a adequada ingestão alimentar e nutricional12. Profissionais da equipe assistencial, especialmente a equipe de Enfermagem, devem acompanhar a aceitação alimentar do paciente internado, a fim de garantir que as necessidades nutricionais sejam completamente atendidas13. Um estudo realizado com 1707 pacientes hospitalizados avaliou a influência da doença e do tratamento no consumo alimentar12. Apesar do planejamento adequado da dieta, 70% dos pacientes estudados apresentaram aceitação alimentar insuficiente, manifestada pela ingestão abaixo da recomendada12. Para pacientes com ingestão alimentar oral abaixo de 60% de suas necessidades nutricionais por 3 dias, deve ser considerada SNO ou terapia nutricional especializada.Enfatiza-se a necessidade de aconselhamento dietético ao paciente e familiares, com objetivo de aumentar a adesão ao tratamento7,9. Qual é a melhor forma de registro da aceita- ção oral? Recomendação: Para identificar a aceitação alimen- tar real de pacientes hospitalizados, recomenda-se o registro da aceitação alimentar a cada refeição, com linguagem compreensível a todos os profissio- nais envolvidos no cuidado. Quadro 1 – Necessidades nutricionais para pacientes com SNO. Necessidades Recomendação Oferta Calórica 25-35 kcal/kg/dia Oferta Proteica 1,2 a 2 g/kg/dia Necessidades Hídricas 30 a 35* ml/kg/dia Fonte: Toledo et al.7; NICE 20178, Bauer et al.10. * com possibilidade de perdas extras por drenos ou fístulas Diretriz BRASPEN de Enfermagem em Terapia Nutricional Oral, Enteral e Parenteral BRASPEN J 2021; 36 (Supl 3): 2-62 5 Nível de evidência: Opinião de especialista A avaliação dietética é a ferramenta indicada para iden- tificar a quantidade e a qualidade da ingestão alimentar oral do paciente14. A avaliação quantitativa da aceitação é, especialmente, de responsabilidade da equipe de Enfermagem. Após a realização do registro da aceitação alimentar, o nutricionista poderá realizar análise qualitativa em relação às recomen- dações/necessidades nutricionais, permitindo verificar se a ingestão foi deficiente ou excessiva em energia, macro e micronutrientes, disponibilidade e consumo de alimentos15. Alguns fatores podem interferir nessa avaliação, afetando a qualidade do resultado encontrado, tais como a metodo- logia do registro alimentar, podendo ser subestimado ou superestimado. Alguns métodos podem ser usados para maior confiança dos dados, como métodos prospectivos15 ou registro alimentar a cada refeição. A equipe assistencial é responsável por identificar pacientes que necessitem de monitoramento, em decorrência de perda de apetite e/ou baixa aceitação alimentar. Os profissionais devem ter habilidades e treinamento relevantes em monitoramento nutricional. Destaca-se a importância de utilização de ferramentas de fácil aplicação à beira-leito9. O nutricionista deve garantir prescrição dietética adequada para cada paciente, assegurar o plano de cuidado nutricional personalizado, padronizar o que é servido para o paciente e calcular a adequação calórica ofertada versus ingerida, baseada no manual de dietas hospitalar padronizado. O treinamento da equipe de copeiros, assistencial, pacientes, familiares e cuidadores na aplicação das ferramentas de acompanhamento da ingesta alimentar é fundamental 9. A equipe de enfermagem é responsável pela adminis- tração da terapia nutricional e por garantir o aproveitamento dos nutrientes oferecidos por via oral: • A proposta é utilizar uma figura que demonstre a composição da bandeja e as porcentagens da aceitação alimentar, classificando em excelente, adequada, regular/ inadequada, baixa e recusa/muito baixa (por exemplo, Figura 1); • Registrar a aceitação alimentar das principais refei- ções: desjejum, almoço, lanche da tarde, jantar e ceia; • Orientar o paciente, familiar ou cuidador quanto à necessidade de observar e registrar a aceitação das principais refeições, além de comunicar aceitação de outros alimentos não programados. Como deve ser a hidratação do paciente? Recomendação: A hidratação deve estar de acor- do com as necessidades do organismo, devendo ser sempre relacionada às perdas ou eliminações, por isso a importância de se realizar o balanço hí- drico diariamente. Nível de evidência: Moderado A água constitui cerca de 60% a 70% do peso corporal e está presente no interior das células, tecido muscular, intestinos, órgãos e tecido adiposo. A ingestão diária de água é necessária para compensar as perdas diárias por respiração, exsudação, urina e fezes. O mínimo neces- sário de fluidos para um indivíduo é a quantidade de água que equivale às perdas e previne efeitos adversos da desidratação16. Segundo estudos recentes, as recomendações para a ingestão adequada de líquidos para a Agência Europeia de Segurança Alimentar são de 2,0 l/dia, para mulheres, e de 2,5 l/dia, para homens de todas as idades. Assumindo que 80% desses fluidos precisam vir de bebidas, então para mulheres seria recomendado 1,6 l/d de bebidas e, para os homens, 2,0 l/d17,18. Esses valores podem variar de acordo com as condi- ções do ambiente, temperatura do país e atividade física. Dependendo do país, também pode haver recomendação em unidades mais vagas, como copos por dia19. Perdas excessivas relacionadas a febre, diarreia, vômitos ou hemorragia grave devem ser avaliadas e equilibradas por ingestão ou infusão de líquidos e eletró- litos. Por outro lado, situações clínicas específicas, como Figura 1 - Controle quantitativo de consumo alimentar. Diretriz BRASPEN de Enfermagem em Terapia Nutricional Oral, Enteral e Parenteral BRASPEN J 2021; 36 (Supl 3): 2-62 6 insuficiência cardíaca ou renal, devem ser avaliadas com cuidado, podendo ser necessária a restrição da ingestão de líquidos16. Manter o equilíbrio adequado de fluidos é um compo- nente essencial da saúde ao longo da vida. Idosos são mais vulneráveis a mudanças no equilíbrio da água, tanto para hiper-hidratação quanto para desidratação, pelas alterações funcionais relacionadas à idade ou alterações orgânicas que possam desenvolver, sendo a desidratação a ocorrência mais frequente16. A equipe assistencial, especialmente a equipe de Enfer- magem, deve estar atenta aos sinais clínicos de hidratação e desidratação, realizar o balanço hídrico de forma rigorosa, para que possa subsidiar uma tomada de decisão rápida, sem comprometimento da evolução clínica dos pacientes. Em uma revisão sistemática, alguns cuidados com a hidratação foram salientados, especialmente em idosos: incentivo à ingestão de líquidos e auxílio, quando neces- sário; higiene bucal diária, envolvendo escovação dentária; reconhecimento precoce da desidratação e reposição de volume; registro da ingestão de alimentos e líquidos; ofere- cimento de bebidas nutricionais ou proteicas, duas vezes ao dia, durante a internação hospitalar; atenção e tratamento para a sobrecarga de líquidos e desidratação; oferecimento de quatro copos de água por dia; observação da relação ureia e creatinina, bem como manutenção do equilíbrio de fluidos e eletrólitos20. Bebidas que fornecem fluidos com efeito hidratante em nosso corpo incluem água, água com gás, água com sabor, chá quente ou frio, café, leite e bebidas lácteas, sucos de frutas, sopas, refrigerantes e smoothies. As bebidas deveriam ser escolhidas de acordo com as preferências do idoso, bem como o conteúdo líquido e nutricional delas. Outros líquidos, como leite, sucos de frutas e vitaminas, bebidas com alto teor calórico e bebidas fortificadas, também apresentam benefícios particulares em circunstâncias específicas21. 2. TERAPIA NUTRICIONAL ORAL - JEJUM Como deve ser orientado o jejum para pacien- tes internados para realização de cirurgia e qual é o período recomendado? Recomendação: O período de jejum deve ser orien- tado em cirurgia eletiva, mantendo-se 6 horas de jejum para sólidos e, líquidos, até 3 horas antes da indução anestésica, naqueles pacientes que não ti- verem comorbidades que diminuam o tempo de es- vaziamento gástrico, como o diabético com neuro- patia, atrofia de piloro, dentre outros. Nível de evidência: Alto A indicação cirúrgica de uma doença exige cuidadoso preparo do paciente pela equipe de saúde, para que sejam mitigadas todas as complicações passíveis de ocorrência. O foco da atenção deve estar voltado às necessidades da pessoa que está sob os cuidados da equipe multiprofis- sional. O atendimento deverá estar embasado em proto- colos de cuidados, originários de estudos de evidência científica, e no gerenciamento estabelecido após siste- mática de uso de auditoria interativa e contínua22-24. Em 2001, formou-se um grupo de estudos voltado maispara a qualidade do que para a velocidade de recuperação do paciente, com extensa produção científica sobre este tema24-26. O preparo do paciente requer cuidadoso exame físico, entrevista para coleta de dados para conhecimento da história clínica individualizada, análise de exames labo- ratoriais e diagnósticos realizados para avaliação do estado geral. Na anamnese, torna-se necessária atenção cuidadosa sobre história de refluxo gastroesofágico, sintomas de disfagia, bem como outros distúrbios gastroin- testinais que possam interferir na motilidade gástrica e em distúrbios metabólicos (como diabetes mellitus), os quais podem aumentar o risco de regurgitação e de aspiração pulmonar27. As informações passadas pela equipe de saúde capacitada, sobre os passos necessários para o cumprimento do tempo em que o paciente permanecerá em jejum, tipo de alimentos permitidos e proibidos, precisam ser transmitidas de forma a não permitir que haja desvio de entendimento das orientações oferecidas ao paciente28. O período em que poderão ser ofertados alimentos e líquidos antes da indução anestésica é um dos aspectos a serem identificados e colocados em prática pela equipe de saúde. Por mais de 7 décadas (de 1883 a 1960s), a orientação a ser feita ao paciente era a de que poderia ingerir uma xícara de chá ou de caldo de carne até duas horas previamente à indução anestésica29. A prescrição de "nada via oral após a meia noite" passou a ser reco- mendada a partir da década de 1970, para redução do risco de aspiração pulmonar nas cirurgias eletivas e, por muitos anos, essa prática foi aplicada empiricamente26,30. Em diferentes instituições de saúde, ainda permanece esta máxima, mesmo existindo a comprovação de que, em pacientes que permanecem em jejum desde a meia noite do dia anterior à cirurgia, não há redução do volume gástrico, aumento do pH do fluido gástrico ou incremento da prevalência de complicações quando comparados àqueles em que é permitida a ingesta de líquidos claros até mais próximo da cirurgia30. O paciente não deverá permanecer longo período de tempo em jejum, pois poderá acarretar Diretriz BRASPEN de Enfermagem em Terapia Nutricional Oral, Enteral e Parenteral BRASPEN J 2021; 36 (Supl 3): 2-62 7 catabolismo, com consequências graves para o organismo que estará exposto ao trauma cirúrgico31. A "resposta ao estresse" é representada por alterações hormonais e meta- bólicas, que resultam em respostas hematológicas, imuno- lógicas e endócrinas, e sua extensão é paralela ao grau de lesão tecidual, sendo ainda ampliada com complicações pós-operatórias32. Pode acarretar depleção do estoque de glicogênio e resistência à insulina, provocando altera- ções em todo metabolismo. Como a proteína está sendo perdida pelo músculo, há diminuição de massa e da força muscular, que comprometerão a resposta do organismo ao trauma, principalmente nas trocas gasosas, além de provocar desidratação e desconforto ao paciente26,30,32. Esses fatores podem aumentar o catabolismo, provocar complicações graves e retardar a recuperação32. Pacientes que apresentem risco aumentado de regurgitação ou aspi- ração, que possuam história de doença gastrointestinal ou neuropatia, portadores de estenose pilórica, gestantes ou tenham refluxo gastro-esofágico devem manter um período de jejum pré-operatório específico (tradicional, em torno de 6 a 8h de jejum pré-operatório)30. Como deve ser orientado o jejum quanto aos líquidos? Recomendação: Em relação a líquidos, a ingesta até 2 horas antes da indução anestésica pode ser permi- tida, sem que haja aumento no volume de resíduo gástrico, não oferecendo, portanto, risco de aspira- ção pulmonar. Nível de evidência: Forte Não há evidência atual que sugira aumento de risco de aspiração ou mesmo regurgitação, durante o período em que o paciente permanece anestesiado, naqueles que receberam líquidos claros 2 a 3 horas antes da indução anestésica, em comparação àqueles que permaneceram em jejum prolon- gado devido à prescrição do jejum tradicional33. Diferentemente, uma bebida oferecida durante o período pré-operatório, até duas horas antes, demonstrou ser bené- fica30,33. Várias diretrizes de sociedades de anestesiologia e de cirurgia servirão de base para orientação do paciente com segurança em relação à ingesta de líquidos antes da indução anestésica. Estas sociedades recomendam que o paciente possa ingerir líquidos claros até 2 horas antes do procedimento anestésico. Esta recomendação não deverá ser indicada para pacientes submetidos a cirurgias de emer- gência ou aqueles que apresentem tempo de esvaziamento gástrico retardado ou refluxo gastroesofágico, por qualquer motivo que tenha o acometido7,22,33. Quando e como deve ser o início da dieta após a cirurgia? Recomendação: A ingestão oral, composta por die- ta hospitalar balanceada (incluindo líquidos claros), pode ser iniciada imediatamente após a cirurgia, na maioria dos casos. Após operação abdominal ele- tiva, a realimentação via oral ou enteral deve ser precoce, até 24h de pós-operatório, desde que o paciente esteja hemodinamicamente estável. Essa recomendação se aplica mesmo em casos de anas- tomoses digestivas, visto não causar comprometi- mento da cicatrização de anastomoses no cólon ou reto. A quantidade de ingestão oral inicial deve ser adaptada ao estado da função gastrointestinal e da tolerância individual. Nível de evidência: Forte A assistência de enfermagem prestada a pacientes no período pós-operatório tem como objetivo garantir uma recuperação segura e preventiva, que identifique e responda às complicações derivadas dos atos anestésico e cirúrgico. A via oral deve ser a primeira opção para a realimen- tação precoce do paciente, mesmo após procedimentos de grande porte do trato digestivo. Diversas meta-análises e estudos randomizados publicados demonstram segurança dessa prescrição quanto a deiscências de anastomoses e diminuição de complicações infecciosas e do tempo de internação. A tendência atual no pós-operatório é evitar o jejum prolongado e abandonar a evolução clássica da dieta via oral de líquida para pastosa e, finalmente, sólida7,22,34,35. Nutrição adequada sempre foi um dos principais propó- sitos de uma assistência segura no período pós-operatório, prevendo a adoção de uma nova forma de atender ao paciente, rompendo com uma rotina de descompressão gástrica por sondas e questionando a prorrogação do início da alimentação via oral, visto os benefícios trazidos pela nutrição enteral precoce em relação às implicações existentes na dieta parenteral. O início da oferta de alimentos pela via oral (água ou chá, dieta líquida, etc...) deverá ser negado enquanto o paciente tiver íleo paralí- tico, demonstrado pela falta de ruídos hidro- aéreos? Recomendação: Em pacientes que foram submetidos a cirurgias eletivas abertas de cólon, a nutrição oral precoce não deve ser negada, tomando-se por base a presença de íleo paralítico demonstrado pela au- Diretriz BRASPEN de Enfermagem em Terapia Nutricional Oral, Enteral e Parenteral BRASPEN J 2021; 36 (Supl 3): 2-62 8 sência de ruídos hidroaéreos, pois sua oferta pode reduzir o tempo de permanência hospitalar após a operação e a duração do íleo adinâmico ou para- lítico. Este fator parece não ser o responsável pelo desencadeamento de complicações pós-operatórias. Nível de evidência: Baixo Íleo paralítico, ou adinâmico, é a inibição temporária da motilidade gastrointestinal após uma intervenção cirúrgica, decorrente de uma causa não mecânica, que impeça a ingestão oral suficiente36. A diferença entre íleo paralítico devido a uma dismotili- dade intestinal após o ato operatório e um período clinica- mente problemático e patológico à recuperação do paciente com trânsito intestinal alterado é muito pequena e de difícil determinação37. Estimativas da incidência de íleo paralítico após ressecção colorretal são heterogêneas, podendo variar de 3% e32%38. A alteração dos movimentos peristálticos e suas repercus- sões no organismo do paciente podem provocar distensão abdominal, com falta de ruídos hidroaéreos, náuseas ou vômitos e a ausência de eliminação de flatos ou fezes, por mais de três dias, no período pós-operatório36,39,40. Algumas causas podem estar associadas ao íleo para- lítico: idade avançada37-40; sexo masculino40,41; dor41, o que provoca maior liberação de catecolaminas; baixo nível de albumina37,39; uso de opioide de forma aguda ou cronicamente38,40,42; cirurgia abdominal prévia ou tempo cirúrgico prolongado38; pré-existência de doenças vascu- lares ou respiratórias40; operações de emergência41; perda excessiva de sangue, provocando a necessidade de infusão de cristaloides ou de transfusão de sangue, provocando edema37,38,40; necessidade de realização de estoma, por aumentar a manipulação de alças intestinais e realizar incisão na alça39. Estudos demonstraram que a ingesta oral precoce por pacientes submetidos a cirurgias intestinais eletivas, inde- pendentemente da presença dos sinais objetivos de retorno das funções intestinais, como os movimentos peristálticos, foi uma medida segura e eficaz, apresentando como prin- cipal benefício menor tempo de internação hospitalar43,44. Uma medida que se mostrou indicada para melhora do íleo paralítico é a estimulação da deambulação precoce36. Há estudos que sugerem que o uso de goma de mascar, após cirurgia abdominal, pode trazer benefícios significativos na redução do tempo de resolução do íleo pós-operatório e diminuição do tempo de internação45. Qual é a recomendação de jejum para reali- zação de exames diagnósticos e terapêuticos? Recomendação: Ainda não há consenso na literatura quanto ao período de jejum para a realização de exames diagnósticos e terapêuticos. Porém, é neces- sária atenção especial sobre essa rotina, pois ainda hoje há relatos de períodos extensos de jejum para a realização de exames sem nenhuma necessidade, inclusive trazendo prejuízo à evolução do paciente. Nível de evidência: Muito baixo Historicamente, existe uma recomendação de se fazer jejum como preparo para a realização de exame com contraste venoso. Essa recomendação diverge em múltiplos serviços de imagem pelo mundo e não existe consenso sobre o assunto46,47. A recomendação mais comum de jejum para a realização de tomografia computadorizada com contraste venoso varia de 4 a 8 horas. Essa recomendação contraria a recomen- dação dos fabricantes de contrastes venosos não iônicos, que sugerem que os pacientes estejam hidratados. Permanecendo em jejum, fica subentendido ainda não utilizar sua medicação habitual, o que pode adicionar outros riscos para pacientes hipertensos, diabéticos, ou que dependem de qualquer outra medicação de uso contínuo46,47. Uma revisão da literatura, que avaliou o período de jejum para a realização de tomografia com contraste, não encon- trou nenhum relato de pneumonia aspirativa relacionada ao uso de contrate endovenoso. Esse artigo também realizou uma pesquisa em serviços de imagem de 49 hospitais de diversos países, questionando sobre a política de preparo para tomografia com contraste, identificando que não havia nenhuma concordância ou regra para as recomendações de preparo46. Em uma tese de doutorado, com estudo comparativo da influência do jejum na tomografia computadorizada com contraste endovenoso não iônico, se estabeleceu dois tipos de preparo para exames de tomografia computadorizada com contraste venoso: com e sem jejum. Ambos os tipos de preparo foram bem tolerados pelos pacientes ambula- toriais de um serviço oncológico. No entanto, observou-se que os pacientes permaneceram em jejum de 4 a 22 horas, apesar da recomendação de 4 horas. A média do tempo de jejum foi de 9,3 ± 4,1 horas (N=1546) e a mediana, de 9 horas47. Em outro estudo observou-se que o tempo médio de jejum para exames foi superior ao preparo convencional, correlacionando-se com índice de massa corporal (IMC) final dos adultos48. Faz-se necessária a criação de protocolos padronizados para todos os exames que necessitam de jejum realizado no hospital e a participação da equipe multiprofis- sional, principalmente dos enfermeiros e dos nutricionistas, Diretriz BRASPEN de Enfermagem em Terapia Nutricional Oral, Enteral e Parenteral BRASPEN J 2021; 36 (Supl 3): 2-62 9 para ocorrer modificação de rotinas que envolvem essa alteração de paradigma de jejum pré-exames47,48. 3. SUPLEMENTAÇÃO NUTRICIONAL ORAL Quando se deve discutir a indicação de um su- plemento nutricional oral? Recomendação: A indicação de um suplemento nu- tricional oral deverá ser considerada nas seguintes condições clínicas: desnutrição, pessoas em risco nutricional [ingestão alimentar abaixo das neces- sidades diárias (<75% VET) por tempo prolongado ou que estão impossibilitados de se alimentar por período superior a 3 dias] e pessoas hipercatabó- licas (gasto metabólico elevado em decorrência do aumento na demanda de produção de novas células e/ou tecidos, necessários durante um processo infla- matório, infeccioso, cicatricial ou cirúrgico). Nível de evidência: Opinião de especialista Quando o paciente não consegue alcançar entre 70% e 80% das necessidades nutricionais pela via oral, em conse- quência da dificuldade de deglutição, é indicada a terapia nutricional sob forma de módulos individualizados, como proteínas, carboidratos, lipídios, vitaminas e minerais49. A suplementação oral está indicada em pacientes que não conseguem atingir suas metas nutricionais por meio da dieta oral exclusiva, com aceitação menor que 75%, por um período superior a 72 horas, casos de desnutrição ou risco nutricional e situações de hipercatabolismo, com gasto energético aumentado49. Segundo o Manual de Indicadores de Qualidade em Terapia Nutricional50, há algumas das condições princi- pais em que se faz necessária a indicação de suplementos orais: câncer, anorexia, queimadura, anorexia nervosa, trauma muscular, cirurgia ortopédica, preparo intestinal pré-operatório, quando o paciente estiver incapacitado de nutrir-se adequadamente para alcançar suas necessidades metabólicas e ingestão via oral < 75% das necessidades nutricionais totais. Qual perfil de paciente pode se beneficiar da suplementação oral? Recomendação: Muitos pacientes podem se benefi- ciar do uso do suplemento nutricional oral (SNO), melhorando os resultados do tratamento de doenças e sua qualidade de vida. Os principais beneficiados com a suplementação oral são: idosos, pacientes oncológicos ou portadores de doença crônica. Na realidade, todos pacientes que não atingirem a meta calórica preconizada com a dieta oral, mesmo após as adaptações dietéticas, devem ter indicação de SNO e ser beneficiados com a melhora em sua recu- peração, incluindo indivíduos saudáveis e gestantes. Nível de evidência: Moderado A nutrição inadequada contribui para a progressão de muitas doenças, e é considerada um importante fator na complexa etiologia da sarcopenia e fragilidade. Devido a muitos fatores, a ingestão nutricional é frequentemente comprometida em idosos e o risco de desnutrição aumenta51-57. Os idosos têm indicação de terapia nutricional oral, conforme o guideline da ESPEN de Geriatria 201916. Inter- venções nutricionais para idosos devem fazer parte do papel da equipe multimodal e multidisciplinar, com objetivo de alcançar a ingestão dietética adequada, manter ou aumentar o peso corporal e melhorar a capacidade funcional e os resultados clínicos. Em pacientes geriátricos, após fraturas e cirurgias ortopédicas, é recomendado o uso de suplementos nutricionais orais, para melhorar a ingestão alimentar e reduzir o risco de complicações. Da mesma forma, pacientes oncológicos podem se beneficiar com a suplementação, pois eles apresentam maior risco de desenvolverem desnutrição do que outros grupos, apresentando alta prevalência, oscilando entre 20% até mais de70% dos casos, com diferenças relacionadas a idade, tipo de câncer e estadiamento da doença. Em pacientes com câncer, o balanço energético negativo e a perda de massa muscular são provocados pela combinação entre o consumo alimentar reduzido e a desregulação metabólica (alta taxa metabólica basal, resistência à insulina, lipólise e proteólise que agravam a perda de peso causados pela inflamação sistêmica e fatores inflamatórios) provocados pelo tumor, além da sarcopenia e caquexia que podem estar presentes51. Segundo o guideline da ESPEN para pacientes com câncer, a terapia nutricional oral é recomendada para aqueles que têm condições de se alimentar, mas se encontram desnutridos ou em risco nutricional. Está incluído o aconselhamento dieté- tico, manejo dos efeitos colaterais da terapia antineoplásica e o uso do suplemento nutricional oral. Recomendam-se, também, durante a radioterapia, espe- cialmente em pacientes com câncer de cabeça e pescoço, tórax e trato digestório, o aconselhamento dietético intensivo e a suplementação nutricional oral, para evitar desnutrição, manter ingestão dietética e prevenir a interrupção da radioterapia51. Em pacientes com câncer avançado em quimioterapia, com risco de perda de peso ou desnutrido, recomenda-se Diretriz BRASPEN de Enfermagem em Terapia Nutricional Oral, Enteral e Parenteral BRASPEN J 2021; 36 (Supl 3): 2-62 10 usar suplementação com ácidos graxos ômega 3 ou óleo de peixe, para estabilizar ou melhorar o apetite, a ingestão alimentar, a massa corporal magra e o peso corporal51. Nos pacientes com câncer do trato digestório superior, submetidos a ressecção cirúrgica em cuidados pré-operató- rios, recomenda-se imunonutrição oral e/ou enteral51. Para pacientes com lesões por pressão (LP), a hidra- tação e a nutrição, ao proporcionarem oferta calórica e de micronutrientes adequada, contribuem para preservação da integridade da pele e dos tecidos. Dentre os objetivos da terapia nutricional na LP, podemos destacar a regeneração do tecido, favorecendo o processo de cicatrização52,53. Segundo os guidelines da ESPEN para geriatria16, nos pacientes idosos em risco de LP, recomenda-se intervenção nutricional, a fim de evitar desenvolvimento das lesões. A desnutrição provoca no organismo do indivíduo uma redução da produção de fibroblastos, de neoangiogênese e de síntese de colágeno, além de menor capacidade de remodelação tecidual. É importante que tenha aporte nutri- cional adequado, para auxiliar nas etapas de cicatrização52,53. Em pacientes com doença renal crônica (DRC), a desnu- trição proteico-energética é comum, especialmente naqueles em terapia de diálise de manutenção, e está associada ao aumento da morbidade e mortalidade. A causa da desnu- trição proteica-energética em pacientes com DRC é complexa e multifatorial e inclui ingestão energética e proteica redu- zidas, resultante de anorexia e restrições alimentares, infla- mação, hipercatabolismo, perdas de proteínas durante a diálise, acidose metabólica, toxicidade urêmica e presença de comorbidades54,55. Outra população que merece atenção é a de doentes crônicos, podemos destacar aqui os pacientes com doenças inflamatórias intestinais (DII), que são caracterizadas pela presença de inflamação intestinal crônica. As alterações nutri- cionais na DII são resultantes de ingestão oral inadequada, má absorção intestinal, aumento das perdas gastrointestinais e das necessidades nutricionais. A desnutrição acomete cerca de 41,1% dos pacientes com doenças crônicas e 32,4% dos doentes com retocolite ulcerativa (RCU), sendo um fator de risco para maior tempo de doença ativa, infecções e compli- cações pós-cirúrgicas56. Segundo os guidelines de doenças inflamatórias intestinais, o uso de SNO é indicado quando a ingestão alimentar via oral não atingir as recomendações nutricionais. A SNO deve ser o primeiro passo quando a nutrição artificial é indicada56. Segundo Dias57, todos os pacientes que não atingirem a meta calórica preconizada com a dieta oral, mesmo após as adaptações dietéticas, incluindo indivíduos saudáveis, devem ter indicação de SNO: cirrose hepática, diabetes mellitus, disfagia, doença renal, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), caquexia cardíaca e gestantes. Como deve ser a oferta dos suplementos e como garantir o melhor aproveitamento? Recomendação: Os suplementos nutricionais orais disponíveis se apresentam originalmente com sua composição definida, em pó para reconstituição, líquidos prontos para uso ou na forma cremosa. A utilização destes suplementos, com presença ou res- trição de lactose, sacarose ou fibras, dependerá da situação clínica do paciente. Há algumas estratégias para melhorar o aproveitamento da SNO pelos pa- cientes, como: ofertar SNO com densidade calórica alta e com volume reduzido, variedade de sabores e texturas, definir melhor horário de oferta da SNO, adequação na aparência e no odor. Além destas es- tratégias, é importante esclarecer e orientar o pa- ciente e sua família quanto a necessidade e benefí- cios da SNO. Nível de evidência: Baixo Além dos suplementos nutricionais convencionais, podemos contar, também, com os especializados, que vêm crescendo no mercado com as mais variadas formas de apresentação e sabores, podendo ser melhor empregados de acordo com a condição clínica do paciente e de alguma eventual patologia, sempre com o objetivo de melhorar o manejo da terapia nutricional na prática clínica e aceitação16,58,59. Um dado muito importante seria a variação do sabor dos suplementos nutricionais orais, visto que temos vários sabores disponíveis, o que aumenta a palatabilidade do SNO60. Não existe consenso na literatura quanto ao horário de entrega dos suplementos, entretanto, sabemos que não devem ser ofertados próximos às grandes refeições, pois a ideia é complementar a ingestão calórica e proteica e não reduzí- la. Desta maneira, o paciente vai, provavelmente, deixar de fazer as refeições, isto com exceção dos suplementos em pó sem sabor, que podem ser adicionados às refeições, lanches, etc, ou mesmo os líquidos, pois é uma outra forma de oferta do SNO58. Estudos têm demonstrado que suplementos nutricionais orais com densidade calórica alta e com volume reduzido melhoram a aceitação do paciente, especialmente em algumas situações59,61. Uma alternativa importante na oferta do SNO, que é também bastante interessante na prática clínica, é a utilização de técnicas culinárias para melhorar a aparência e o odor dos suplementos oferecidos no hospital e no domicílio e, assim, estimular a sua ingestão, a fim de também reduzir o desperdício. Como exemplos, podemos citar, para redução do odor, a adição de essência de frutas e coloração, além Diretriz BRASPEN de Enfermagem em Terapia Nutricional Oral, Enteral e Parenteral BRASPEN J 2021; 36 (Supl 3): 2-62 11 da adição de sucos para diabéticos de diferentes sabores, uso de gelatinas diet, água de coco, frutas, dentre outros. Neste quesito, a indústria apresenta uma gama de receitas que muito nos auxilia para melhor adesão dos pacientes58. Allen et al.62 compararam a oferta de suplemento em taça de vidro com a oferta em embalagem original, constatando que o grupo de pacientes que a receberam em taça de vidro apresentaram maior consumo, estatisticamente significativo, quando comparados ao grupo que a recebeu na embalagem original da SNO. Qual é o melhor horário para pacientes que têm aceitação por VO insatisfatória? Recomendação: O melhor horário depende muito do tipo de SNO do paciente. Há exemplos de ofer- ta de SNO nos horários das refeições, nos horários de medicação ou de forma isolada. A adesão dos pacientes para a ingestão de SNO de maneira satis- fatória é um grande desafio enfrentado pela equipe multiprofissional de saúde. Muitas podem ser as es- tratégias utilizadas para melhorar a adesão do pa- ciente à SNO: aumentar o fracionamento, oferta de suplementos de menor volume, verificara possibili- dade de adicionar em outras preparações alimenta- res e identificar o melhor horário, de acordo com a necessidade e perfil do paciente. Nível de evidência: Baixo Estudo publicado por Hubbard et al.59 avaliou a adesão dos pacientes à SNO, verificando quais fatores poderiam influenciá-la. Os resultados encontrados pelo grupo demons- traram que a adesão à SNO prescrita era maior entre os pacientes com cuidados domiciliar do que entre os hospita- lizados, já que 80,9% e 67,2% do suplemento prescrito eram efetivamente consumidos, respectivamente. Foram diversos os motivos relatados pelos pacientes que interferiram na adesão à SNO. Van den Berg et al.63 demonstraram que o fracionamento do suplemento, de preferência no horário das medicações, pode ser uma alternativa. No estudo conduzido por esses autores, 234 pacientes desnutridos foram randomizados e divididos em 3 grupos: grupo controle, que recebeu um suplemento de 125 ml, 2 vezes ao dia, entre as refeições; o primeiro grupo intervenção, que recebeu dois suplementos de 125 ml, às 12 horas e às 17 horas; o segundo grupo intervenção, que recebeu 125 ml, em 4 vezes de 62 ml, nos horários das medicações. A aceitação do suplemento foi significativamente maior no segundo grupo intervenção, quando comparado ao grupo controle63. Cabe aos profissionais da saúde, em especial às equipes de Enfermagem e Nutrição, a atenção especial dada a este paciente que necessita de um aporte nutricional adequado, incentivando-o, monitorando e registrando de forma precisa a ingestão alimentar e da SNO. Ressalta-se que a melhora na adesão do paciente à SNO está vinculada à compreensão e oo entendimento do paciente e de sua família quanto à importância da ingestão satisfatória de nutrientes para manutenção adequada do organismo e enfrentamento da doença. 4. TRIAGEM NUTRICIONAL Qual é o melhor momento para realizar a tria- gem nutricional? Recomendação: Recomenda-se que a triagem nutri- cional aconteça nas primeiras 24h a 72h de interna- ção ou admissão de pacientes, seguida de reavalia- ção semanal. Em pacientes críticos, a recomendação é que a triagem ocorra em até 48 horas. Nível de evidência: Opinião de especialista A triagem nutricional consiste na realização de inquérito simples ao paciente ou seus familiares, com o propósito de identificar o risco nutricional. O objetivo da triagem nutricional é identificar os pacientes em risco nutricional e/ou de desnutrição e, diante disso, iniciar imediata- mente um tratamento nutricional preventivo, para evitar a piora clínica, bem como o surgimento de complicações, como prejuízos na capacidade funcional e no estado nutricional64,65. Em idosos institucionalizados ou fora do ambiente hospi- talar, a triagem nutricional deve ser repetida, no mínimo, a cada três meses e, no máximo, anualmente, de acordo com as condições clínicas e nutricionais do paciente65. Essa rotina pode ser realizada tanto na unidade hospitalar quanto na atenção primária de idosos domiciliados. Uma revisão de literatura realizada em hospitais brasi- leiros, para verificar a prevalência da desnutrição em idosos hospitalizados, demonstrou uma variação entre 20% e 60,62% da incidência de desnutrição6,66. Uma das causas importantes a ser considerada para esse percentual é a não identificação dos pacientes desnutridos ou em risco nutricional desde o momento da internação, além da desvalorização das informações relacionadas ao aspecto nutricional e alterações da ingestão alimentar67. Em março de 2005, o Ministério da Saúde estabeleceu a exigência do uso de protocolos de triagem nutricional na Diretriz BRASPEN de Enfermagem em Terapia Nutricional Oral, Enteral e Parenteral BRASPEN J 2021; 36 (Supl 3): 2-62 12 internação, para identificar pacientes em risco ou com algum grau de desnutrição, com o objetivo de otimizar a abordagem terapêutica desses pacientes, o mais precocemente possível, e reduzir a desnutrição hospitalar65. Existe melhor ferramenta validada para a triagem nutricional a ser realizada pelo en- fermeiro? Recomendação: A melhor ferramenta é aquela que está disponível na instituição e que seja de fácil acesso e aplicabilidade pela equipe multiprofissio- nal ou equipe multiprofissional de terapia nutricio- nal (EMTN). No entanto, a ferramenta mais utilizada em nosso meio é a NRS 2002 (Nutritional Risk Scre- ening - Triagem de Risco Nutricional 2002). Trata-se de um instrumento simples, objetivo, composto por elementos que avaliam ingestão alimentar, perda de peso não intencional, gravidade da doença e tem como diferencial considerar a idade, pontuando ido- sos acima de 70 anos como fator de risco adicional. Nível de evidência: Opinião de especialista Triagem, avaliação e intervenção nutricionais inadequadas têm contribuído para o agravamento do estado nutricional durante a hospitalização64,65. O enfermeiro, como profissional responsável por atuar frente aos cuidados preventivos durante a internação hospitalar, torna-se essencial no processo de detecção do risco de desnutrição, o que é possível por meio da aplicação de instrumentos de triagem nutricional. A NRS 2002 pode ser aplicada pelos vários profissionais da saúde, desde que sejam treinados para esse fim67. Um estudo sobre a aplicabilidade das ferramentas para a reali- zação da triagem nutricional revelou que a NRS 2002 pode ser aplicada a todos os pacientes internados em hospitais, independentemente da doença que apresentem ou da idade, sem custo adicional ao serviço67. A Sociedade Europeia de Nutrição Clínica e Metabo- lismo (ESPEN) destaca o Nutritional Risk Screening 2002 (NRS 2002) e a Mini Avaliação Nutricional versão reduzida (MNA - versão reduzida) como métodos de fácil e rápida aplicabilidade, podendo ser executadas por enfermeiros capacitados16. A MNA foi desenvolvida para indivíduos idosos, a partir de 65 anos, inclusive quando são portadores de doença oncológica. Pode ser uma boa ferramenta para essa população específica16,68. Após a triagem nutricional, os pacientes em risco e aqueles com longa permanência hospitalar devem ser subme- tidos à avaliação nutricional, para o adequado diagnóstico do estado nutricional69. A utilização de um instrumento para a identificação dos pacientes em risco é fundamental, pois possibilita identificar os pacientes em risco, os principais fatores de risco nessa população, desenvolver a conscientização dos profissionais quanto à importância da implementação de medidas preven- tivas, auxiliando na tomada de decisão, na instituição de protocolos de prevenção e no apoio à gestão desse cuidado. Cada instituição deve selecionar o instrumento de acordo com as características da sua clientela64,65. 5. DISFAGIA Como realizar a detecção da disfagia? Recomendação: Deve ser realizada por meio de um instrumento de rastreio para disfagia. O instrumento de rastreio para disfagia pode ser aplicado por qual- quer profissional da área da saúde, de preferência pelo fonoaudiólogo ou enfermeiro, no momento da admissão hospitalar e, também, de preferência sem oferta de líquido ou alimento. Nível de evidência: Opinião de especialista As publicações sobre instrumentos para identificação de pacientes disfágicos iniciaram em 1999 e 50% dos artigos analisados foram desenvolvidos nos Estados Unidos. Os métodos empregados nos instrumentos foram: questioná- rios; observação de sinais e sintomas clínicos do paciente; solicitação da execução de alguns movimentos orofaciais; teste de deglutição com água ou alimentos70. Os principais aspectos abordados nos instrumentos de rastreio são presença de tosse/engasgo/pigarro, voz molhada, nível de alerta e atenção, qualidade vocal, deglutição da saliva, tosse voluntária, reflexo nauseoso, entre outros71. A disfagia é um distúrbio da deglutição, decorrente de causas neurológicas e/ou estruturais72. Existem dois tipos de disfagia, que diferem quanto à localização e aos mecanismos fisiopatológicos,sendo elas: disfagia orofaríngea e disfagia esofagiana73. A disfagia orofaríngea compromete a interação entre as fases oral e faríngea, que se manifesta desde uma dificul- dade mínima para engolir comprimidos, alimentos e líquidos até a incapacidade total de se realizar bem esta função. É prevalente em várias populações de risco, incluindo pacientes pós-acidente vascular encefálico, pacientes em terapia intensiva e idosos74. Sendo assim, é consenso que a detecção precoce da disfagia é fundamental para evitar as complicações. Para isso, pode-se aplicar um instrumento de rastreio antes de qualquer tipo de alimentação por via oral e, na presença de Diretriz BRASPEN de Enfermagem em Terapia Nutricional Oral, Enteral e Parenteral BRASPEN J 2021; 36 (Supl 3): 2-62 13 risco, esse paciente deve ser encaminhado para avaliação fonoaudiológica75. Finalmente, é importante observar e registrar como está o processo de deglutição do paciente, aceitação do volume de dieta e instruir paciente, cuidador e família sobre medidas de adaptação à disfagia. Quais são os cuidados específicos para pa- cientes com disfagia? Recomendação: Os cuidados específicos devem ocorrer frente ao déficit nutricional, à desidratação e à broncoaspiração. Quanto ao monitoramento da funcionalidade da deglutição, este deve ser fei- to pelo fonoaudiólogo, durante a alimentação, ob- servando sinais de risco, tais como: tosse durante e após a deglutição; pigarro; engasgos; resíduo na cavidade oral após a deglutição; tempo prolonga- do para engolir; necessidade de engolir várias vezes para o alimento líquido ou saliva descer; dor ao en- golir; sensação de alimento parado na garganta; es- cape de alimento pelo nariz durante a alimentação; mudança na voz após deglutir; cansaço durante a alimentação; perda de peso; pneumonias de repeti- ção; e falta de interesse em se alimentar. Nível de evidência: Opinião de especialista O monitoramento de todos esses sinais de risco é impor- tante para oferecer maior segurança ao paciente e reduzir o risco de aspiração76,77. Uma das estratégias terapêuticas que visa à diminuição dos riscos de aspirações é a modificação da consistência dos alimentos e líquidos. Contudo, a escolha da consistência correta exige conhecimento da fisiologia da deglutição normal e as especificidades da fisiopatologia dos diferentes quadros clínicos. Por exemplo, líquidos ou alimentos muito espessos exigem maior resistência em termos das forças de propulsão da língua que serão necessárias para conduzir o material através da orofaringe. Indivíduos com essa força de língua reduzida ou fraqueza muscular faríngea podem apresentar maior risco de presença de resíduos nos recessos faríngeos após deglutição, com risco de aspiração de mate- riais residuais na faringe78-80. Além disso, alimentos sólidos precisam de mastigação eficiente, o que pode ser difícil para indivíduos com problemas dentários ou fraqueza nos músculos mastigatórios81. Por fim, também é preciso levar em conta, para essa escolha, não apenas a segurança da deglutição, mas também sua eficiência em termos nutricionais e de adesão ao trata- mento para desfechos clínicos efetivos. Vucea et al.82 afirmaram que alimentos com textura modificada, especialmente do tipo purê, estão associados à prevalência de desnutrição e perda de peso entre idosos em cuidados prolongados. Além das questões nutricionais, estima-se que a desidratação esteja presente em metade dos residentes de cuidados de longa duração, pois muitos não consomem os níveis recomendados de líquidos83. Sendo assim, a equipe multidisciplinar é fundamental para o adequado tratamento do paciente disfágico. O enfermeiro e equipe são os responsáveis pela oferta dos nutrientes ao paciente, garantindo o aproveitamento adequado e uma assistência segura, devendo observar os sinais e sintomas de disfagia, estabelecer precocemente intervenções de enfer- magem que possibilitam melhora no tratamento e prevenção de complicações84. Importante ressaltar que a comunicação eficaz entre os membros da equipe e a padronização, em todas as etapas do processo nutricional, é uma estratégia de gerenciamento de riscos85. Como deverá ser preparado o espessante? Recomendação: Existem dois tipos de espessante no mercado: os de amido e os de goma xantana. Para realizar o espessamento das dietas, deve-se utilizar o espessante na quantidade definida pelo tipo de preparação, consistência desejada e capacidade do paciente. Os líquidos podem ser espessados em três consistências: néctar, mel e pudim. Importante se- guir o protocolo da instituição. Nível de evidência: Opinião de especialista A escolha do tipo de espessante e a consistência adequada dependem da patologia de base que o paciente apresenta e das alterações da deglutição identificadas na avaliação clínica e instrumental e a capacidade do paciente. Portanto, é de extrema importância que a equipe multidis- ciplinar respeite o preparo e a oferta ao paciente disfágico, visando à segurança no processo de deglutição, prevenindo a penetração e aspiração laríngeas86. Há necessidade de assistência durante as re- feições? Recomendação: Sim. A equipe multiprofissional deve avaliar a necessidade de assistência de um familiar, cui- dador, da equipe de enfermagem ou, também, o acom- panhamento de um fonoaudiólogo durante as refeições. Nível de evidência: Opinião de especialista Diretriz BRASPEN de Enfermagem em Terapia Nutricional Oral, Enteral e Parenteral BRASPEN J 2021; 36 (Supl 3): 2-62 14 Para auxiliar a equipe multiprofissional na observação e atuação durante as refeições, algumas condutas devem ser inseridas na prática alimentar desses pacientes, tais como86: • Posicionamento em decúbito elevado (sentado, se possível) durante a alimentação e manter nessa posição por 30 minutos após a refeição; • Realizar a higiene bucal, logo após as refeições; • Evitar distração e conversas durante a administração do alimento, para que sua atenção esteja totalmente voltada à alimentação; • Encorajar a dar pequenas mordidas e a mastigar vaga- rosamente os alimentos; • Apresentar os alimentos, mesmo triturados ou batidos, em porções separadas, não misturar, pois o aroma e o sabor devem ser apetitosos, garantindo o prazer e o interesse pela alimentação; • Certificar-se de que o paciente engoliu toda a porção, antes de oferecer outra “colherada”; • Lembrar de retirar a prótese dentária quando estiver frouxa ou utilizar fixador de dentadura; • Orientar os pacientes e seus cuidadores quanto às técnicas de alimentação e deglutição segura. 6. LESÃO POR PRESSÃO Como avaliar o risco de desenvolvimento de lesão por pressão? Recomendação: A avaliação do risco para lesão pressão deve ser realizada utilizando escalas estru- turadas, somada à avaliação clínica e dos fatores de risco dos pacientes. Nível de evidência: Opinião de especialista As lesões por pressão são classificadas de acordo com o comprometimento tecidual, etiologia, tempo de cicatrização e características teciduais87. Podem apresentar-se com pele intacta ou ferida aberta e serem dolorosas. Os locais mais comuns para as lesões por pressão são as áreas lombar, sacral e cóccix (47%), nádega (17%) e calcanhar (14%)88. O aparecimento de lesões por pressão piora a qualidade de vida dos pacientes hospitalizados, aumenta o tempo de internação, bem como os gastos e custos do tratamento89. É o segundo tipo de evento adverso mais notificado pelos núcleos de segurança do paciente dos serviços de saúde no Brasil e a identificação dos fatores de risco é fundamental para implementação de ações preventivas e terapêuticas90. As ferramentas de avaliação, como as escalas estrutu- radas (por exemplo, Escala de Braden), podem auxiliar na identificação dos pacientes com risco para desenvolver lesões por pressão nas instituições de saúde. Algumas escalas de avaliação de risco, já traduzidas e adaptadas,culturalmente, para a língua portuguesa, devem ser aplicadas, idealmente, em até 8 horas após a admissão do paciente no serviço de saúde. A sequência de avaliação deve ser diária ou com maior brevidade possível, quando houver mudança no estado clínico do paciente. No entanto, a utilização isolada de escalas para determinar o risco pode não contribuir para diminuir a incidência dessas lesões87,91. A utilização de uma avaliação estruturada, quando asso- ciada ao julgamento clínico e técnico pelos profissionais de saúde, auxilia nos procedimentos para prevenção e iden- tificação precoce dos pacientes com fatores de risco para lesões por pressão. Dentre os fatores de risco que devem ser obrigatoriamente verificados, ressaltam-se: extremos de idade; histórico de lesões por pressão; obesidade; presença de incontinência fecal e urinária; alteração da oxigenação e perfusão tecidual; déficit cognitivo; limitação física; imobi- lidade e desnutrição92,93. A desnutrição é um fator de risco significativo para o desenvolvimento de lesões por pressão88. Quais são as principais estratégias de preven- ção relacionadas ao aspecto nutricional? Recomendação: As principais estratégias nutricionais para prevenção de lesões por pressão compreendem: triagem nutricional precoce para os pacientes com risco para lesões por pressão; identificação precoce dos pacientes com risco para desnutrição ou desnu- tridos; prescrição da dieta individualizada; oferta de suplemento nutricional oral para pacientes que não atendam às metas nutricionais por meio da alimenta- ção; e otimizar a oferta calórica e proteica para pa- cientes desnutridos ou com risco de desnutrição. Nível de evidência: Baixo Os pacientes com risco de desenvolver lesões por pressão devem ser precocemente avaliados quanto ao estado nutricional, para garantir o melhor aporte de macro e micronutrientes. O risco do desenvolvimento de lesões por pressão é maior em pacientes desnutridos quando comparados aos não desnutridos94, sendo que a desnutrição contribui como um importante fator no retardo da cicatrização de feridas95. Logo, é possível dizer que o cuidado nutricional tem grande impacto não só na prevenção, como também no tratamento das lesões por pressão. A identificação precoce dos pacientes desnutridos e o gerenciamento da desnutrição por meio da intervenção Diretriz BRASPEN de Enfermagem em Terapia Nutricional Oral, Enteral e Parenteral BRASPEN J 2021; 36 (Supl 3): 2-62 15 nutricional oral demonstraram prevenir o desenvolvimento de lesões por pressão88. Portanto, é a partir da avaliação do estado nutricional inicial e sequencial que ocorrerão os ajustes e adequações individualizadas e de acordo com as necessidades calóricas, proteicas e de micronutrientes96. Desse modo, recomenda-se ajustar e otimizar a ingestão calórica e de proteínas, preferencialmente pelo uso de SNO, nos pacientes em risco para desenvolver lesões por pressão87. Pacientes com risco de desnutrição ou já desnutridos, que não atingem as metas nutricionais por meio da alimentação, também devem receber SNO. Associado a isso, se faz neces- sário garantir a correta hidratação desses indivíduos por meio da oferta e ingestão de líquidos de forma adequada87,88,96. As principais estratégias nutricionais para prevenção de lesões por pressão compreendem: triagem nutricional precoce para os pacientes com risco para lesões por pressão; identificação precoce dos pacientes com risco para desnu- trição ou desnutridos; prescrição da dieta individualizada; oferta de SNO para pacientes que não atendam às metas nutricionais por meio da alimentação e otimizar a oferta calórica e proteica para pacientes desnutridos ou com risco de desnutrição96. Qual é a melhor abordagem terapêutica para o paciente com lesão por pressão? Recomendação: A abordagem terapêutica do pa- ciente com lesão por pressão deve garantir a oti- mização do processo de cicatrização, por meio da oferta energética e proteica, de micronutrientes es- pecíficos e hidratação. Nível de evidência: Baixo O tratamento da lesão por pressão deve considerar a intervenção nutricional e a otimização da cicatrização97. As proteínas são os macronutrientes mais importantes no processo de cicatrização. Têm papel fundamental na prolife- ração dos fibroblastos, síntese de colágeno, resposta imune e angiogênese77,95. Para pacientes com lesão por pressão e desnutridos ou com risco para desnutrição, a EPUAP/NPAUP/ PPPIA sugere oferecer 1,2-1,5 g/kg/dia de proteína87. Para pacientes com feridas extensas e profundas, com grande exsudação, o aumento da oferta de proteína de 1,5-2 g/kg/ dia pode gerar benefício cicatricial87,98. Quanto à oferta de calorias, as recomendações EPUAP/NPAUP/PPPIA sugerem 30-35 kcal/kg/dia87. Suplementos com proteína, calorias, arginina, zinco e antioxidantes são indicados para pacientes desnutridos ou em risco para desnutrição e que não conseguem atingir as metas nutricionais com a ingestão oral87,99. A oferta de nutrição enteral enriquecida com arginina também melhorou, significativamente, a cicatrização de feridas, independente do status nutricional97,100. Os micronutrientes são fundamentais na cicatrização de feridas: as vitaminas A, C, E e o mineral zinco estimulam o processo de epitelização e a síntese de colágeno. Possuem propriedades antioxidantes e contribuem com melhora da resposta imune na cicatrização de feridas96. Embora a quanti- dade e a frequência ideais da oferta destes micronutrientes não sejam conhecidas, a SNO contendo micronutrientes está asso- ciada com a otimização do processo cicatricial de feridas95. A hidratação também desempenha papel fundamental na cicatrização, devendo ser ofertados 30 mL de líquido/kg de peso/dia ou 1 mL de líquido/kcal/dia, monitorando-se os sinais de desidratação87,96. 7. INDICADORES DE QUALIDADE NA TERAPIA NUTRICIONAL ORAL, DISFAGIA E LESÃO POR PRESSSÃO Quais são os indicadores recomendados para TNO, disfagia e lesão por pressão? Recomendação: Os melhores indicadores são aque- les que poderão ser utilizados para pacientes nas diferentes condições clínicas. Estas ferramentas au- xiliarão na implementação dos protocolos assisten- ciais, garantindo uma padronização do cuidado e direcionarão as equipes assistenciais na organiza- ção dos processos e implementação do cuidado de forma integral e individualizada. Nível de evidência: Opinião de especialista Indicadores de qualidade na assistência à saúde podem ser entendidos como ferramentas mensuráveis, com habili- dade reconhecida para avaliar e acompanhar a qualidade da assistência à saúde. Qualidade deve englobar um conjunto de requisitos como um nível de excelência profissional, uso eficiente de recursos, oferecer o melhor cuidado com um mínimo de risco ao cliente e um alto índice de satisfação dos atores envolvidos101. O monitoramento de indicadores é uma atividade plani- ficada e sistemática para identificar problemas ou situações que devem ser estudadas de forma profunda ou ser objeto de intervenção para a implementação contínua de melhorias102. Na terapia nutricional, alguns estudos têm buscado identificar os indicadores que melhor otimizem os processos assistenciais. Em 2018, a Força-Tarefa de Nutrição Clínica do Comitê de Nutrição do International Life Sciences Institute (ILSI) do Brasil realizou uma pesquisa, em hospitais brasileiros, Diretriz BRASPEN de Enfermagem em Terapia Nutricional Oral, Enteral e Parenteral BRASPEN J 2021; 36 (Supl 3): 2-62 16 para avaliar o uso de indicadores de qualidade em TN50. Uma preocupação com relação aos resultados desse estudo foi que 8% das instituições pesquisadas não utilizavam nenhum indi- cador de qualidade, relatando a falta de recursos humanos e de apoio operacional como as principais dificuldades para a implementação de indicadores de qualidade em TN. Verotti103 realizou um estudo que teve como objetivo avaliar indicadores de qualidade da terapia nutricional
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