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Unidade I - O Pensamento Político de Rousseau e Marx

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Ensaios de Política
Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Dr. João Paulo Duarte
Revisão Textual:
Prof. Me. Luciano Vieira Francisco
O Pensamento Político de Rousseau e Marx
O Pensamento Político 
de Rousseau e Marx
 
 
• Conhecer as teses de Jean-Jacques Rousseau e Karl Marx;
• Analisar a dimensão dissonante e crítica de Rousseau e Marx frente ao realismo político;
• Conhecer a trajetória do pensamento rousseauniano;
• Conhecer a trajetória do pensamento marxista.
OBJETIVOS DE APRENDIZADO 
• Rousseau e Marx: Uma Introdução;
• As Contribuições do Pensamento Rousseauniano;
• Marxismo: Igualdade e Revolução.
UNIDADE O Pensamento Político de Rousseau e Marx
Rousseau e Marx: Uma Introdução
O pensamento dissonante e crítico proveniente das obras de Jean-Jacques Rousseau 
e Karl Marx deixou marcas importantes na Ciência Política. Embora outros autores de 
relevo podem ser destacados como vozes que impuseram contestações e problemati-
zações aos fundamentos da filosofia política, sem dúvida Rousseau e Marx despontam 
como autores cujas reflexões foram decisivas para alguns dos principais acontecimentos 
históricos da Modernidade. As revoltas e revoluções ocorridas desde o iluminismo, e 
a emergência de lutas e movimentos sociais a partir do século XIX, por exemplo, não 
podem ser analisados sem a devida referência aos dois autores e suas respectivas obras. 
É notável no trabalho de ambos uma análise política com forte caráter instrutivo, ou seja, 
dirigida ao interesse de transformação social, e ao ímpeto de fazer dos homens agentes 
protagonistas da história.
Ao seu modo, os dois pensadores ofereceram diversas críticas aos principais filó-
sofos políticos, que desde o início da Modernidade fixaram as bases do pensamento 
realista, ao imporem ao “fundamento da política” a ideia de que os homens são 
seres insociáveis e incapazes de alterar os rumos fatalistas da vida social. Seja para 
Rousseau, seja para Marx, tal perspectiva deveria ser superada para emergir no lugar 
dela uma nova abordagem política centrada da figura do povo (no caso de Rousseau) 
e na figura do proletariado (no caso de Marx), devendo o princípio de igualdade ser 
reconhecido e legitimado como o cerne das ações sociais.
Sendo essa uma temática comum nos dois autores, o objetivo central desta Uni-
dade é introduzir a discussão em torno do problema da desigualdade social. Assim, 
do ponto de vista da teoria política, examinaremos as ideias principais de Rousseau 
e Marx, que buscaram compreender as causas da desigualdade social e a proposta 
de cada um deles para a solução do problema. Começaremos com as ideias de Jean-
-Jacques Rousseau.
As Contribuições do 
Pensamento Rousseauniano
Nascido no início do século XVIII, o chamado Século das Luzes, Jean-Jacques 
Rousseau (1712-1778) foi um dos mais destacados filósofos e romancistas de seu 
tempo, chegando a escrever também peças musicais e a se dedicar à Pedagogia. 
Tendo nascido na próspera Cidade de Genebra, na Suíça, Rousseau, no entanto, era 
filho de um relojoeiro modesto. Passou parte da infância sob os cuidados de parentes 
próximos e, na sua juventude, como autodidata, passou a se dedicar aos estudos, 
sobretudo de Filosofia. Essas experiências de juventude marcaram sua personalidade 
e sua obra. Como veremos adiante, a principal preocupação do pensador genebrino 
foi com a liberdade.
8
9
Figura 1 – Jean-Jacques Rousseau
Fonte: Wikimedia Commons
Um aspecto do pensamento de Rousseau que se articula com os demais é o ro-
mantismo. Isso redundou num destaque ao papel dos sentimentos e em uma descon-
fiança, em muitos pontos, em relação à civilização. Rousseau ganhou notoriedade ao 
vencer um concurso da Academia de Dijon, em que os interessados deveriam produ-
zir uma dissertação sobre o tema: o progresso das ciências e das artes contribui 
para corromper ou apurar os costumes? Rousseau defendeu que o progresso cor-
romperia os costumes, uma posição que deixa clara sua marca própria, ainda mais 
pela atmosfera iluminista da intelectualidade da sua época, que se mostrava mais 
otimista ante os feitos da Ciência.
Por isso, não chega a ser surpreendente a presença de alguns desses elementos 
também no pensamento político de Rousseau, que configura a parte mais substancial 
de sua obra. Assim como alguns contratualistas que o antecederam – principalmente 
Thomas Hobbes (1588-1679) e John Locke (1632-1704) –, naquilo que se refere à 
política, Rousseau partiu do estado de natureza. Contudo, Rousseau discordava 
frontalmente dos axiomas hobbesianos. Em estado de natureza, não haveria – pela 
ótica rousseauniana – uma “guerra de todos contra todos”. Rousseau não aceitava a 
ideia de uma maldade natural; para ele, o homem seria bom por natureza. 
Importante!
Estado de natureza é um conceito presente e recorrente nos argumentos dos filósofos 
contratualistas, isto é, aqueles pensadores que se dedicaram a estudar o fundamento da 
política, vinculando-o ao momento em que os homens superaram um estado inicial de 
vida em sociedade para permitir a emergência do Estado que, a partir de então, tornou-se 
o regulador da vida social. Esse estado inicial, anterior ao contrato social, seria o estado de 
natureza. Para autores como Hobbes e Locke, o estado de natureza é caracterizado pela 
competição, guerra e caos. Rousseau, como podemos ver, propõe outra abordagem.
9
UNIDADE O Pensamento Político de Rousseau e Marx
Em situação natural, livre das amarras da civilização, o homem teria ampla liber-
dade para viver da maneira que lhe aprouvesse. Igualmente ele – e este é um pressu-
posto filosófico de Rousseau – seria dotado de uma espécie de empatia, seria capaz 
de, naturalmente, aproximar-se do sofrimento do próximo que visse em dificuldade. 
Assim, dotado dessa capacidade de ser solidário, o homem, em estado de natureza, 
não afrontaria seu próximo para obtenção de glória, como sugere Hobbes. Isso levou 
o pensamento rousseauniano a ser associado à ideia do “bom selvagem”, segundo a 
qual o ser humano longe da civilização seria puro. 
Mas no desenvolvimento desse argumento, Rousseau teve de enfrentar uma im-
portante questão: afinal, se no estado de natureza haveria uma situação pacífica, 
por que os homens abandonaram esse estado de bem aventurança para serem sub-
metidos às agruras da civilização?
Segundo Rousseau, a resposta é simples: tal evento pode ser contabilizado como 
um “acidente da história”. Em Discurso sobre a desigualdade dos homens, de 
1754, Rousseau indica que em algum momento da história alguém optou por cercar 
um pedaço de terra e dizer: “isto é meu”. Então, a partir desse momento, passou-se 
a considerar a existência daquilo que seria conhecido mais tarde como propriedade 
privada. Até então, os recursos eram livres, o homem era livre para ir aonde qui-
sesse, subir em qualquer árvore e dela comer os frutos, beber a água de qualquer 
nascente, dormir no lugar que achasse confortável.
Mas quando o primeiro cercou a terra e dela se apossou, segundo Rousseau, os 
demais, ao invés de se oporem fortemente àquela situação, aceitaram-na. Passou a 
existir um cenário de exclusão. Quem cercou a terra tornou-se seu senhor, apossan-
do-se exclusivamente dos recursos ali disponíveis. E, assim sendo, os demais – que 
aceitaram aquela proclamação de posse da terra – reconheceram que não podiam 
mais fazer uso dos recursos presentes naquela área, e passaram igualmente a buscar 
a conquista de uma propriedade. 
Antes que se tivessem inventado os sinais representativos das riquezas, elas 
só podiam consistir em propriedades e animais, os únicos bens reais que os 
homens podiam possuir. Ora, quando as heranças cresceram em número 
e em extensão, a ponto de cobrir todo o solo, e tocaram-se umas às outras, 
uns só puderam prosperar a expensas dos outros, e os supranumerários, 
que a fraqueza ou a indolência tinham impedido por seu turno de as adqui-
rir, tendo se tornando pobres sem nada ter perdido, porque, tudo mudado 
à sua volta, somente elesnão mudaram, viram-se obrigados a receber ou 
roubar sua subsistência da mão dos ricos. (ROUSSEAU, 1978, p. 267-268)
Com o tempo, veio o agravante do sistema de herança da propriedade, que dis-
torceria ainda mais a distribuição das riquezas. A composição da propriedade, no en-
tendimento de Rousseau, conduziria, inevitavelmente, ao aparecimento da pobreza. 
Isso nos leva a outro ponto importante da argumentação do pensador genebrino, a 
saber, a corrosão do caráter.
Até antes do surgimento da propriedade, como já foi dito, as pessoas viviam em 
paz e felizes, sendo, inclusive, solidárias umas com as outras. Com o aparecimento 
10
11
da propriedade privada, o homem foi “expulso do seu Éden”. Aqueles que não con-
seguiram acumular riqueza, para obter sustento, passaram a depender dos que con-
seguiram. A posse da propriedade implicava riqueza para o seu dono e a exclusão 
de todos os outros dessa riqueza.
De acordo com Rousseau, haveria um grande contingente de homens e mulheres do 
lado de “fora” da riqueza. Esses excluídos passaram a trabalhar em condição de subor-
dinação, ou mesmo de servidão. Para quem, outrora, vivera em igualdade de condições 
com o seu próximo, com liberdade para usufruir daquilo de que precisasse para viver, 
certamente não era nada cômoda a nova posição. Essa situação permitiu o aparecimen-
to da inveja, depois da cobiça e, finalmente, do roubo e, em seguida, do assassinato.
De acordo com o pensamento rousseauniano, o homem é bom por natureza, isto é, no idí-
lico estado de natureza. Seria a composição da sociedade (a civilização), portanto, que o 
corrompe e o torna mau.
Rousseau não somente se opôs ao axioma de Hobbes sobre a natureza humana 
como estendeu seu pensamento, opondo-se também a Locke, o qual considerou a 
propriedade como um direito natural a ser preservado pelo Estado. Para Rousseau, 
a propriedade é o que dá o ensejo para a formação da sociedade civil.
A sociedade nascente foi colocada no mais tremendo estado de guerra; o 
gênero humano, aviltado e desolado, não podendo mais voltar sobre seus 
passos nem renunciar às aquisições infelizes que realizara, ficou às portas 
da ruína por não trabalhar senão para sua vergonha, abusando das facul-
dades que o dignificavam. (ROUSSEAU, 1978, p. 267-268)
De forma eloquente, Rousseau, neste ponto, inverteu a fórmula hobbesiana: o 
“estado de guerra” não seria o estado originário; somente após a formação da socie-
dade (e, por consequência, da propriedade) é que a desigualdade empurrou o gênero 
humano para essa situação. Portanto, não podemos perder de vista que a polêmica 
rousseauniana não era apenas com as teses de Hobbes. Ao lançar sua crítica sobre a 
formação da propriedade, Rousseau também estava se colocando em contraposição 
ao pensamento político liberal expresso, por exemplo, pelas teses de Locke. 
Locke foi um agudo defensor dos direitos naturais, entre os quais se incluía o 
direito de propriedade. A propriedade para o pensamento de John Locke era algo 
a ser protegido pelo Estado, como um direito preexistente à própria formação da 
sociedade civil. Sobre esse aspecto, Rousseau não diminuiu seu ímpeto crítico. Na 
análise de Rousseau, após o início desse tumulto que se formara na sociedade, os 
ricos, com medo do conflito e de perderem as posses recém-adquiridas, com medo 
de viverem em uma situação em que nem o pobre nem o próprio rico poderiam 
encontrar alguma tranquilidade, engenharam um discurso de união.
Unamo-nos, disse-lhes, para defender os fracos da opressão, conter os 
ambiciosos e assegurar a cada um a posse daquilo que lhe pertence; insti-
tuamos regulamentos de justiça e de paz, aos quais todos sejam obrigados 
11
UNIDADE O Pensamento Político de Rousseau e Marx
a conformar-se, que não abram exceção para ninguém e que, submeten-
do igualmente a deveres mútuos o poderoso e o fraco, repare de certo 
modo os caprichos da fortuna [...]. (ROUSSEAU, 1978, p. 267-268)
É desse discurso hipotético que deriva a proposta de Locke para o contrato social, 
contrato esse que foi fortemente criticado e contestado por Rousseau. Na verdade, 
o autor genebrino compreendia que o contrato social, nesse formato em específico, 
servia apenas como instrumento de manutenção das desigualdades estabelecidas. 
Ao invés de fugir de semelhante armadilha, os homens “[...] correram ao encontro de 
seus grilhões [...]” (ROUSSEAU, 1978).
Assista ao vídeo intitulado Resumo da obra Do contrato social, de Jean-Jacques Rousseau. 
Disponível em: https://youtu.be/gXlDKIWoPy0
Nesse ponto Rousseau se pergunta: o que fazer, então, diante de tanta calami-
dade? Para o filósofo genebrino, a solução seria refundar o pacto social. Dessa vez, 
um acordo legítimo. A liberdade natural estava perdida, contudo, ainda era possível 
encontrar uma liberdade civil. A função dessa “nova” versão do contrato social seria 
garantir mecanismos que viabilizassem essa recuperação da liberdade. Tudo isso co-
meçaria com o redimensionamento da relação entre liberdade e obediência.
A ideia, agora, não era mais a obediência cega do modelo hobbesiano, tampou-
co a obediência ao seleto grupo no poder, como determinava o contrato lockeano. 
Rousseau reivindicava a não transferência do poder soberano; para ele o poder 
deveria permanecer com quem seria seu proprietário natural: o povo. Assim, para 
Rousseau, a única forma de reaver e/ou manter a liberdade após o surgimento do Es-
tado seria se todos aceitassem ceder seus direitos uns aos outros, não ao governante, 
como ocorre em Hobbes. Nessa dinâmica, os cidadãos mereceriam sua liberdade ao 
participarem ativamente da vida política, especialmente no que tange à elaboração 
das suas leis. 
A ideia do pensador genebrino era que o poder de legislar deveria permanecer 
diretamente com o povo, poder que seria intransferível e inalienável, pois, diante de 
leis que o próprio povo elaborou, seria possível a articulação perfeita entre obediência 
e liberdade. Jamais o povo postularia leis que conduziriam à sua própria opressão. 
Além disso, essas leis, certamente, atenderiam melhor às demandas da população, 
diferentemente dos modelos anteriores em que o poder externo à população dizia o 
que ela precisava e o que ela devia fazer. Esse entendimento considerava a obediência 
a uma lei autoimposta como algo de acordo com a liberdade – uma liberdade civil –, 
cujo princípio estava em obedecer a si mesmo, na medida em que o indivíduo unia-se 
aos demais e, juntos, eram capazes de articular as leis de seu convívio; assim, nenhum 
deles estaria tendo sua liberdade usurpada. 
A operacionalização prática disso se encontrava na distinção feita por Rousseau 
entre vontade geral e vontade particular. A vontade geral expressa-se através do 
corpo político. Esse corpo político é a vontade do povo incorporada e é a ela que 
12
13
pertence o poder soberano; é ela a responsável pelo poder de fazer as leis. Além 
da supremacia do Poder Legislativo sobre o Poder Executivo, é preciso considerar, 
segundo Rousseau, o papel do representante político.
Desde que o serviço público deixa de constituir a atividade principal dos 
cidadãos e eles preferem servir com sua bolsa a servir com sua pessoa, o 
Estado já se encontra próximo da ruína. Se lhes for preciso combater, pa-
garão tropas e ficarão em casa; se necessário ir ao conselho, nomearão 
deputados e ficarão em casa. À força de preguiça e de dinheiro, terão, 
por fim, soldados para escravizar a pátria e representantes para vendê-la. 
(R OUSSEAU, 1978, p. 107)
Percebemos, então, a profunda desconfiança rousseauniana em relação a um 
contrato social sem a efetiva participação do povo na política, pois, segundo esse 
autor, a soberania não pode ser representada pela mesma razão que não pode ser 
alienada (ROUSSEAU, 1978, p. 107-108).
O temor rousseauniano recaía sobre o possível resultado da disputa entre a von-
tade geral e a vontade particular. O pensador genebrino compreendia a vontade 
geral como aquela que emana do corpo político, aquela cujo objetode interesse é o 
genuíno bem-estar da coletividade. Certamente, a vontade geral não flertaria com as 
seduções da demagogia e da falsa solidariedade.
Por outro lado, a sociedade também conviveria com a vontade particular, cuja re-
presentação seria a soma dos interesses particulares. Note bem que no pensamento de 
Rousseau, a soma de interesses privados não constitui o interesse coletivo autêntico. 
Os interesses privados seriam permeados pelo individualismo, enquanto a vontade 
geral seria movida pela tentativa em estabelecer interesses comuns. A formação, por 
exemplo, de um grupo com determinados interesses não assegura que a satisfação do 
que é solicitado por esse grupo venha a contribuir com o bem-estar de todos.
Para Marcio Pinto (2005, p. 89), apenas é possível considerar vontade geral quan-
do, a despeito das dissensões inevitáveis entre os membros da sociedade e das dis-
cussões legítimas que isso possa gerar, “[...] exista um ou vários elementos comuns 
capazes de movê-los na mesma direção, de imprimir um impulso positivo ao conjun-
to da sociedade”. Portanto, “[...] a vontade geral não é geral por ser de todos, mas 
por ser a mesma [...]; o que generaliza a vontade é menos o número de votos do que 
o interesse comum que os une” (ROUSSEAU, 1964, p. 374).
Podemos extrapolar o pensamento rousseauniano e pensar em quais seriam as 
consequências da combinação de apatia política com a demagogia na construção 
de uma política mais democrática. Rousseau desenvolveu uma concepção bastante 
influente sobre a democracia, segundo a qual não apenas deveria se expressar atra-
vés da supremacia do Poder Legislativo, como também evitar certos embaraços da 
representação política. 
Assim, no entendimento do pensador de Genebra, a sua proposta de contrato 
social teria muito a realizar em termos de abrandar os estragos feitos pela civilização 
e os contratos sociais até então propostos e vigentes. Mas, para isso, a participação 
13
UNIDADE O Pensamento Político de Rousseau e Marx
política tornar-se-ia ferramenta fundamental, pois, somente através dela, é que cada 
um se integraria ao corpo político e preservaria a liberdade de todos. Por isso Rous-
seau (1978, p. 108) defendia que “[...] é nula toda lei que o povo, diretamente, não 
ratificar; em absoluto, não é lei”. Deixar que outro – mesmo um representante – 
tome as decisões, significaria renunciar à própria liberdade. O máximo que um re-
presentante teria a desempenhar é o papel de “funcionário do povo” e, como tal, 
subordinado à vontade geral, que essa, sim, é soberana. 
O pensamento político de Rousseau deixou-nos um grande legado, não apenas 
pela contribuição intelectual para a Revolução Francesa, mas também por instigar, 
até os dias atuais, as discussões que envolvem a participação política, a maior trans-
parência nos modelos representativos e, até mesmo – com o alinhamento de outros 
pensadores políticos –, por contribuir para a fomentação das discussões sobre os 
direitos sociais. 
Todavia, é preciso destacar que Rousseau também sofreu algumas críticas por sua 
visão de homem e sociedade. Por exemplo, ele idealizaria o homem tal como ele o 
imaginara no estado de natureza, quer dizer, um homem equipado com a virtude 
natural da piedade. Além disso, enquanto autor contratualista, Rousseau compre-
enderia o Estado como única instituição capaz de garantir a paz e a ordem (o qual 
deveria ser revestido de maior participação popular), fechando-se a outras possibi-
lidades de sociabilidade que problematizem a relação entre o Estado e os processos 
de dominação no modo de produção capitalista. Por fim, autoras como a escritora 
e filósofa inglesa Mary Wollstonecraft, conhecida como importante defensora dos 
direitos das mulheres, criticam a reprodução que Rousseau faria de certa visão da 
família patriarcal, não estendendo a sua proposta de liberdade e igualdade às mulhe-
res, especialmente no que discute sobre educação no livro intitulado Emílio.
Marxismo: Igualdade e Revolução
Embora seja um autor cuja obra possui potente caráter multidisciplinar, boa parte 
da conhecida vitalidade polêmica do pensamento de Karl Marx (1818-1883) se deve 
ao seu engajamento e reflexões políticas. Assim, como é de praxe quando lidamos 
com autores que deixaram uma obra de vastas possibilidades de estudo – que no 
caso de Marx vai da Filosofia à Economia –, é natural que façamos recortes para 
que nos concentremos em pontos específicos, mesmo sabendo que se trata de uma 
compartimentalização artificial. Esse tipo de abordagem tende a tornar o processo 
mais didático para quem se aproxima inicialmente desse tema.
Como a nossa discussão diz respeito à política, devemos nesse eixo permanecer. 
Todavia, para o entendimento das questões políticas em Marx, alguns conceitos bá-
sicos precisam ser mencionados ao longo da exposição. Antes disso, é importante 
situarmos um pouco do contexto histórico da vida de Marx para termos também um 
panorama geral de sua contribuição científica para o pensamento social. 
14
15
Figura 2 – Karl Marx
Fonte: Wikimedia Commons
Karl Marx vivenciou boa parte do século XIX, tendo nascido em 1818 na Cidade 
de Trier, na Renânia, atualmente território alemão. Embora proveniente de família 
judaica, Marx viu seu pai se converter ao cristianismo por questões profissionais, já 
que os judeus não podiam exercer todas as profissões. Tal fato é analisado por mui-
tos estudiosos de sua obra como uma questão importante para sua formação, assim 
como foram – em um plano mais amplo – as intensas revoltas, mobilizações e trans-
formações sociais do século XIX vivenciadas por ele (que vão desde a decadência dos 
antigos regimes monárquicos, até o avanço das revoluções burguesas, em especial a 
Revolução Industrial, que se consolidou nesse período).
As demandas cristalizadas por tais redimensionamentos sociais ainda ecoavam 
na Europa quando Marx iniciou seus estudos. O mundo era extremamente desigual 
em diversos níveis, e havia uma confusão de aspirações idealistas. Liberais ainda se 
opunham às forças mais conservadores em diversas partes do mundo; por outro 
lado, também surgia uma atmosfera de urgência em relação às demandas sociais que 
a própria abordagem liberal ainda não atendera. A segunda metade do século XVIII 
e uma boa parte do século XIX foram marcadas por uma palavra: revolução.
O ambiente político europeu era, nesse sentido, um “caldeirão de ideologias”, 
entre tais ideologias algumas que passaram a reivindicar postura crítica ao Estado e 
à sua emergente estrutura burguesa, como as abordagens anarquistas, socialistas e 
comunistas, dedicadas a repensar as categorias de liberdade, igualdade e fraternida-
de difundidas desde a Revolução Francesa.
Marx iniciou sua produção intelectual com forte teor de crítica ao direito liberal, 
em especial às concepções liberais de liberdade, igualdade e propriedade. Dentre 
alguns importantes textos produzidos em sua juventude, considera-se interessante 
mencionar o livro Os despossuídos, que documenta debates sobre a Lei referente 
ao furto de madeira na Alemanha e a resposta intelectual de Marx a uma das mais 
15
UNIDADE O Pensamento Político de Rousseau e Marx
importantes experiências políticas de sua juventude. Em consonância com as críticas 
de Rousseau, Marx demonstra como a prática de roubo de lenha naquela região 
surge apenas a partir do momento em que aquele local passou a ser considerado 
uma propriedade privada. Posteriormente, Marx publicou vários livros, alguns em 
conjunto com Friedrich Engels (1820-1895). Uma das mais conhecidas produções 
resultantes dessa parceria foi O Manifesto do Partido Comunista. Este foi escrito 
às vésperas da Revolução de 1848, na França, a chamada Primavera dos Povos. 
Sua obra individual mais seminal são os volumes d’O Capital, que começaram a ser 
publicados em 1867, e nos quais ele sintetiza suas críticas à economia capitalista. 
Entre os vários acontecimentos relevantes que ocorreram na sequência da publica-
ção d’O Capital,é preciso mencionar a derrota francesa na Guerra Franco-Prussiana 
(1870-1871), que levou a um apressado tratado de rendição, e que agravou uma crise 
econômica no País, servindo de experimento social – por excelência – para a afirmação 
política das abordagens anarquistas, socialistas e comunistas. Isso porque tal evento foi 
marcado também pela concomitante condição de miséria social, de brutal exploração do 
trabalho e de insalubridade nos ambientes fabris na França, que viu surgir, na sequência, 
uma revolta popular na cidade de Paris (em março de 1871) que resultou na instauração 
da primeira forma de governo operário (a Comuna de Paris). Nesse momento, Marx, já 
como um reconhecido pensador e militante político na Europa, consolidaria suas ideias 
em torno do comunismo e as marcaria na história do pensamento social.
Marx, juntamente com Engels, viu na Comuna de Paris um acontecimento que de 
alguma maneira colocou em prática suas elaborações científicas. Então, ambos pas-
saram também a analisá-la como um evento que oferecia lições de tática política e 
permitia uma autocrítica de sua própria teoria. A Comuna demostrou, por exemplo, 
que não bastava a classe operária tomar o Estado, pois seria preciso uma revolução 
mais profunda.
Importante!
No pensamento revolucionário do século XIX – independentemente da denominação ou 
da abordagem –, a presença de certa herança do pensamento de Rousseau é marcante, 
sobretudo no que se refere à crítica à propriedade privada.
Igualmente como resultado dessas elaborações, Marx e Engels direcionaram al-
gumas críticas ao chamado socialismo utópico que, no entender dos pensadores, 
ainda carregava um certo componente de ingenuidade – como uma crença reformis-
ta – que impedia seus seguidores de ver que a única maneira de alcançar a transfor-
mação social era a via revolucionária. No caso do pensamento dos autores, havia um 
esforço para ir além de um conjunto de propostas tidas como moralistas.
Marx e Engels queriam o desenvolvimento de um socialismo científico, uma forma 
de análise rigorosa da história e da sociedade. Não foi à toa que Marx dedicara anos 
de estudo à teoria econômica, a fim de compreender o âmago do sistema capitalista 
e apontar suas contradições.
16
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É nesse sentido que, no primeiro parágrafo do Manifesto do Partido Comunista, 
encontramos um dos principais axiomas do pensamento marxista: “[...] a história de 
toda sociedade até nossos dias é a história da luta de classes [...]” (MARX; ENGELS, 
2012, p. 23). Ao buscar rigor para as suas propostas de explicação social e de projeto 
político, o pensamento marxista buscou entender o que seria uma força recorrente das 
transformações sociais ao longo da história. 
Essa abordagem, nomeada também de materialismo histórico, rastreou as trans-
formações sociais como produtos do conflito em torno da riqueza. Ao longo da histó-
ria, cada modelo de produção econômica gerou riqueza de uma determinada forma, 
a qual incluía sempre uma separação entre aquele que, efetivamente, produzia essa 
riqueza e quem dela se apropriava: senhores e escravos, senhores feudais e servos e, 
no período em que Marx desenvolveu sua análise, burguesia (que atingia a condição 
de importantes agentes para o fortalecimento do capitalismo) e o proletariado (em 
condições miseráveis de trabalho e de vida).
É sempre bom lembrar que a análise marxista e seu projeto político tiveram, como 
cenário, uma realidade do mundo do trabalho muito diferente da atual, pelo menos, 
quando analisamos os países desenvolvidos. A Inglaterra, “coração do capitalismo” 
na época, foi preconizada pelo pensamento marxista como palco das primeiras revo-
luções proletárias. Por quê? No entendimento marxista, quanto mais um sistema de 
produção que gera contradições sociais (distribuição desigual da riqueza) se desenvolve, 
mais agudas se tornam as contradições geradas. Seria, com base nessa linha de pen-
samento, bastante razoável considerar que, quanto mais o capitalismo se desenvolve, 
maior fica a desigualdade social e, assim, mais insustentáveis tornam-se as condições 
de vida do proletariado, o que, por sua vez, abre caminho para a revolução.
As condições de vida da velha sociedade já se encontram degeneradas 
nas condições de vida do proletariado. O proletariado não possui nada; 
suas relações com a mulher e os filhos não têm nada mais em comum 
com as relações familiares burguesas. O trabalho industrial moderno, 
a submissão moderna ao capital – que é a mesma na Inglaterra e na 
França, na América e na Alemanha – despojaram-no de todo caráter 
nacional. As leis, a moral, a religião são, para ele, meros preconceitos 
burgueses, por intermédio dos quais se camuflam outros tantos interesses 
burgueses. (MARX; ENGELS, 2012, p. 42)
Para o pensamento marxista, as condições agudas de exploração despojaram a 
classe proletária de praticamente tudo. Toda a superestrutura que organiza a socie-
dade, indo da legislação aos costumes, não passaria de um arranjo de justificação e 
manutenção do status quo vigente, o que nos faz lembrar a crítica rosseauniana em 
relação ao contrato social nos moldes liberais de John Locke. 
Essa compreensão não pode deixar de questionar o próprio papel do Estado 
em relação a essas contradições sociais. Engels aborda essa questão em sua obra 
A origem da família da propriedade privada e do Estado. Nessa obra, Engels 
considera que o Estado nasce como a instituição que consolida a propriedade pri-
vada, garante os direitos de herança, perpetua a divisão da sociedade em classes, 
17
elcio
Highlight
UNIDADE O Pensamento Político de Rousseau e Marx
avaliza o domínio da classe possuidora sobre a classe despossuída, incluindo o seu 
direito de a primeira explorar a segunda.
O Estado não é, pois, de modo algum, um poder que se impôs para a 
sociedade de fora para dentro [...]. É antes um produto da sociedade, 
quando esta chega a um determinado grau de desenvolvimento; é a con-
fissão que essa sociedade se enredou em uma irremediável contradição 
com ela própria e está dividida por antagonismos irreconciliáveis que não 
consegue conjurar. (ENGELS, 1984, p. 191) 
Portanto, o Estado não seria protetor ou um tipo de guardião de direitos; sua 
função estaria muito mais para a de um carcereiro. A finalidade de sua estrutura 
seria preservar as desigualdades já existentes – e não as corrigir. Contudo, ainda se 
trataria de uma construção artificial que poderia, futuramente, ser desfeita. Esse é 
outro aspecto do marxismo: propor a superação do Estado burguês.
O marxismo identifica essa dissociação política e social do proletariado em relação 
à sociedade como combustível para o conflito revolucionário. O operário moderno 
não é apenas explorado ao produzir mais-valia – o excedente, o lucro do capitalista 
–; ele também deixou de conhecer aquilo que produz. Ao produzir mecanização e 
divisão do trabalho, o sistema capitalista tirou do antigo artesão o conhecimento so-
bre o objeto de sua produção. Daí a afirmação de que o “proletariado não tem nada”.
Assista ao vídeo intitulado Em defesa do marxismo. 
Disponível em: https://youtu.be/MRv35Yzpks4
As tensões provocadas pelas contradições sociais forçariam uma situação-limite: 
o proletariado, tomado pela consciência dessas mesmas contradições, enxergando 
os grilhões que o aprisionam, lançar-se-ia para quebrá-los. Mas isso só seria possível, 
segundo o pensamento marxista, pela via revolucionária. As estruturas arraigadas na 
sociedade não permitiriam atacar o problema central: a propriedade.
Marx e Engels defendem-se, no Manifesto do Partido Comunista, da crítica de 
que eles seriam contra a propriedade como produto do trabalho. O problema estaria 
nas distorções (segundo eles, inevitáveis) do capitalismo que, ao se desenvolver, es-
maga a propriedade dos pequenos produtores – incapazes de concorrer – e submete 
o proletariado a um regime baseado em salários, cujo valor é apenas uma pequena 
fração da riqueza gerada pelo seu trabalho. É impossível ao proletárioobter pro-
priedade com base no seu salário. O que nos leva de volta à solução revolucionária. 
Caberia à classe operária extinguir o Estado burguês, abolir o modo de produção 
capitalista e, com ele, o sistema burguês de propriedade. O resultado a ser atingido 
seria a superação do sistema de classes e da propriedade privada – fonte de desigual-
dade social. Para tanto, o proletariado deveria abolir a propriedade burguesa.
Dessa forma, pode-se considerar que a maior crítica marxista às democracias 
liberais é a incompatibilidade entre a democracia real e o liberalismo, ou melhor, a 
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incompatibilidade entre essa democracia e o capitalismo. Para Marx, enquanto a li-
berdade e igualdade do capitalismo são apenas formais, elas não garantem a possibi-
lidade de uma democracia real, sendo a democracia liberal apenas uma formalidade. 
Junto a isso, Marx problematiza também a questão da participação política nas de-
mocracias liberais, ou seja, ao fato de essa se restringir aos momentos de escolha dos 
representantes por intermédio de eleições. Enquanto para o liberalismo o sufrágio 
universal é o ponto de chegada do processo histórico de democratização do Estado, 
na perspectiva marxista-engeliana ele se constitui apenas como o ponto de partida.
Além do sufrágio universal, seria necessário haver a crítica da democracia apenas 
representativa, por meio da retomada de alguns temas da democracia direta. Por 
consequência, a participação popular, a partir do controle do poder pelos de “baixo”, 
estender-se-ia aos órgãos de decisão política, aos de decisão econômica, a alguns 
centros do aparelho estatal, às empresas, e a organizações da sociedade política e 
civil (MACHADO, 1997).
A genuína democracia socialista, em contraste, reuniria estas partes gerais e 
individuais de nós mesmos, permitindo-nos participar de processos políticos 
gerais como indivíduos concretamente particulares – no local de trabalho as-
sim como na comunidade local, por exemplo, em vez de cidadãos abstratos 
da democracia representativa liberal [...]. (EAGLETON, 1999, p. 52) 
Entretanto, o caminho tende a ser árduo; a revolução não se daria sem enfrenta-
mento. Para garantir o resultado esperado – o comunismo –, seria necessária uma fase 
intermediária em que o Estado, ainda de pé, seria tomado pela classe operária, que es-
tabeleceria, então, uma ditadura do proletariado. A finalidade dessa ditadura proletária 
não seria perpetuar o Estado, mas fazer a transição para o comunismo. Na prática, a 
propriedade privada seria abolida e passaria ao controle desse Estado operário, o qual 
geriria os recursos de maneira a minimizar as distorções do modelo anterior, enquanto, 
progressivamente, providenciaria sua própria desarticulação, uma vez que, no comu-
nismo, o Estado careceria de qualquer utilidade. 
Esse é um dos aspectos mais polêmicos do pensamento marxista, principalmente 
por se tratar de uma doutrina política que repercutiu de maneira estrondosa ao longo 
do século XX. Marx sempre defendeu que a teoria deveria passar para a prática, e isso 
aconteceu. Outubro de 1917 marcou a história com a advento da Revolução Russa, 
que foi a primeira de muitas revoluções de inspiração comunista pelo mundo. Paixão, 
idealismo político e reação social a péssimas condições econômicas impulsionaram re-
voluções em diferentes continentes. Após a Segunda Guerra Mundial, houve décadas 
de bipolarização entre Estados Unidos e União Soviética. 
Pondera-se em qual medida tais experiências conseguiram se apropriar das estra-
tégias políticas propostas por Marx e Engels. Não obstante, não se deve subestimar 
as importantes contribuições políticas e sociais derivadas das reivindicações de todas 
as variadas formas de socialismo e comunismo. Muito do que entendemos, contem-
poraneamente, a respeito dos direitos trabalhistas e de participação política teve sua 
fonte nessas reinvindicações mais amplas. 
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UNIDADE O Pensamento Político de Rousseau e Marx
O fato é que o século XX também tratou de mostrar uma face que surpreendeu 
até mesmo estudiosos do pensamento marxista. Marx previa, por exemplo, que a 
ditadura do proletariado não teria um prazo determinado para acabar e dar entrada 
ao comunismo, mas ela seria temporária. A União Soviética passou décadas em 
regime de ditadura de partido único – que se entendia como proletário – sem jamais 
desmontar o Estado, quando, por fim, recuou novamente para o formato mais disse-
minado de uma estrutura estatal capitalista. A China, que protagonizou uma revolu-
ção intensa após a Segunda Grande Guerra, adotou um misto de sistema de partido 
único com economia de mercado; temos, agora, multinacionais chinesas atuando em 
diferentes países; o sistema de classes, antes quase totalmente suprimido, voltou a 
vigorar gradualmente e hoje há pobres, ricos, milionários e até bilionários na China. 
Entre as contradições possíveis de se dirigir ao marxismo, é importante destacar que a “de-
mocracia socialista” se mostrou, na prática, pouco tolerante à divergência política em inú-
meros episódios do século XX como, por exemplo, na Primavera de Praga.
A Primavera de Praga (1968). Disponível em: https://bit.ly/2Fg8nGv
Os debates prosseguirão, ainda, por muitos anos; defensores argumentarão que 
houve desvio das propostas originais; detratores dirão que se trata de uma falácia 
demagógica que termina em totalitarismo. O fato é que o capitalismo se adaptou, 
transformou-se, e em muitos países a pobreza não foi erradicada, mas mitigada ao 
ponto de conter as tensões sociais mais graves. O padrão de vida de um operário 
alemão, francês ou inglês está muitíssimo distante da situação dos operários desses 
países no século XIX ou mesmo no início do século XX.
Por outro lado, a miséria ainda viceja para um contingente enorme da popula-
ção mundial. Ou seja, tal mitigação da pobreza em certas localidades envolveu o 
deslocamento da exportação para outros países, mostrando como a capacidade de 
adaptabilidade do capitalismo mantém o processo de pauperização das condições 
de vida da classe trabalhadora, o que dá nova ênfase à percepção marxista de que 
é preciso pensar o mundo de forma integrada. As contradições do capitalismo não 
desaparecerão e não podem ser simplesmente ignoradas. 
Então, sobre a questão de se o comunismo seria a melhor opção, ainda há que se 
buscar respostas, assim como farão estudiosos de diferentes áreas, pois não parece 
que esse tema seja retirado de pauta. Por enquanto, ficamos com as palavras do 
professor José Arthur Giannotti (2011, p. 8, grifo nosso), no prefácio de seu livro 
Além do marxismo: 
[...] não me parece mais adequado pensar numa política que desemboque 
numa negação política, a partir da qual uma nova história teria início [...]; 
desconfio dos profetas do novo homem ou dos Zaratustras da vida; aceito 
a política como ela é, mas sempre procurando seu dever ser.
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Em Síntese
O estudo das principais linhas do pensamento provenientes das obras de Jean-Jacques 
Rousseau e Karl Marx é imprescindível para o entendimento da dimensão crítica na po-
lítica. Como salientado, os dois autores não são exclusivos nessa tarefa de produção de 
um saber dissonante aos fundamentos realistas da Filosofia e da Ciência Política. Pode-
ríamos citar, por exemplo, Étienne de La Boétie, Max Stirner e Pierre-Joseph Proudhon 
também como grandes referências desse intento. Porém, sem dúvida Rousseau e Marx 
estão entre aqueles autores cujos trabalhos foram decisivos para alguns dos principais 
acontecimentos históricos da Modernidade, pois é notável – e muitas vezes de maneira 
cristalina – como as revoluções e lutas sociais desde a virada do século XVIII, passando 
pelo agitado século XIX e pelo conflituoso século XX, foram fortemente influenciadas 
por suas ideias.
Não é por acaso, pois, que ainda temos de nos dirigirmos e debruçarmos sobre as afir-
mações de Rousseau, indicativas de que a soberania deve emanar do povo – um dos 
principais axiomas que, na Modernidade, deu impulsoao estabelecimento da Repúbli-
ca como principal forma de governo. Ou que ainda precisamos nos voltar às críticas de 
Rousseau sobre a desigualdade demarcada pela inscrição jurídica da propriedade priva-
da como direito natural. Do mesmo modo, não é por acaso que ao nos depararmos com 
a normalização de injustiças sociais e de profundas diferenças econômicas entre classes 
e povos, tenhamos que resgatar as posições e os conceitos de Marx que explicam como 
se dá o processo de dominação política no Estado burguês.
Tratam-se de elaborações de cunho filosófico e científico que atingiram certo grau de 
reconhecimento, até porque são as bases para uma série de novas produções do saber 
social que emerge em inúmeros estudos e análises de autores e pesquisadores que ex-
pandem, atualizam e redimensionam seus pressupostos. Por esta razão, foram e con-
tinuam imprescindíveis para o conhecimento da política. Em especial por, de um lado, 
imprimir um viés crítico e, de outro lado, demarcar o caráter instrutivo que busca trans-
formar a sociedade a partir da eleição do homem como agente protagonista da história.
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UNIDADE O Pensamento Político de Rousseau e Marx
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Leitura
O conceito de vontade na filosofia política de Rousseau e Condorcet
CONSANI, C. F. O conceito de vontade na filosofia política de Rousseau e 
Condorcet. Trans/Form/Ação, Marília, SP, v. 41, n. 1, jan./mar. 2018. 
https://bit.ly/34J9XcD
O que está vivo e o que está morto no Manifesto Comunista: teses sobre Karl Marx
HADDAD, F. O que está vivo e o que está morto no Manifesto Comunista: 
teses sobre Karl Marx. Estudos Avançados, v. 12, n. 34, 1998. 
https://bit.ly/30Q7b47
Reconhecimento e celebridade: Jean-Jacques Rousseau e a política do nome próprio
LILTI, A. Reconhecimento e celebridade: Jean-Jacques Rousseau e a política do 
nome próprio. Topoi, v. 15, n. 29, 2014. 
https://bit.ly/34JRtIQ
O enigma da democracia em Marx
POGREBINSCHI, T. O enigma da democracia em Marx. Revista Brasileira de 
Ciências Sociais, São Paulo, v. 22, n. 63, 2007. 
https://bit.ly/30PbHjm
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Referências
BOBBIO, N.; MATTEUCCI, N. Dicionário de política. 2 v. Brasília, DF: UnB, 2007.
EAGLETON, T. Marx e a liberdade. Trad. Marcos B. de Oliveira. São Paulo: Unesp, 
1999. (Col. Grandes Filósofos).
ENGELS, F. A origem da família da propriedade privada e do Estado. Trad. 
Leandro Konder. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1984.
GIANNOTTI, J. A. Marx: além do marxismo. Trad. Luciano Codato. Porto Alegre, 
RS: L&PM, 2011.
MACHADO, E. R. Os limites da democracia burguesa e a prá tica polí tica elitista.
Lutas Sociais, São Paulo, n. 3, 1997. Disponível em: <https://revistas.pucsp.br/index.
php/ls/article/view/18984>. Acesso em: 5/06/2020.
MARX, K.; ENGELS, F. Manifesto do Partido Comunista. Trad. Sueli Tomazini 
Barros Cassal. Porto Alegre, RS: L&PM, 2012.
PINTO, M. M. A noção de vontade geral e seu papel no pensamento político 
de Jean-Jacques Rousseau. Cadernos de Ética e Filosofia Política, v. 2, n. 7, p. 65-
82, 2005. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/cefp/article/view/163361>. 
Acesso em: 05/06/2020.
ROUSSEAU, J.-J. Do contrato social. Trad. Lourdes Santos Machado. São Paulo: 
Abril Cultural, 1978. (Col. Pensadores). 
________. Oeuvres complètes. v. 3. Paris: Gallimard, 1964.
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