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A entrada de toxicantes no organismo e sua distribuição por meio da circulação sanguínea são eventos fundamentais que definem o grau de toxicidade elicitada a níveis sintomático e clínico. Diferentes substâncias, em função de suas distintas propriedades químicas, exibem diferentes perfis cinéticos, indicando maior ou menor propensão de geração de toxicidade severa. Diante desse contexto, busque na literatura científica relatos de casos, estudos clínicos ou reportagens completas relacionados a eventos de intoxicação (exposição a toxicantes na atividade ocupacional, desastres ambientais, intoxicação medicamentosa ou outras possibilidades). Para esse levantamento, utilize principalmente a Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e o PubMed. Depois, descreva, com base no material de referência escolhido, as fases da intoxicação e explique como ela se manifesta clinicamente. Escolhi o Estudo sobre INTOXICAÇÃO POR PARACETAMOL publicado na https://docs.bvsalud.org/biblioref/2018/03/880510/intoxicacao-por- paracetamol.pdf Reportagem sobre Intoxicação por Paracetamol- https://www.terra.com.br/ noticias/mundo/europa/jovem-de-17-anos-toma-dose-excessiva-de- paracetamol-e-morre,40917debd5f6400db60242853f716693uv6nRCRD.html Reportagem : Jovem de 17 anos toma dose excessiva de paracetamol e morre foi noticiado no Portal Terra no dia 23 jul 2015 https://docs.bvsalud.org/biblioref/2018/03/880510/intoxicacao-por-paracetamol.pdf https://docs.bvsalud.org/biblioref/2018/03/880510/intoxicacao-por-paracetamol.pdf https://www.terra.com.br/noticias/mundo/europa/jovem-de-17-anos-toma-dose-excessiva-de-paracetamol-e-morre,40917debd5f6400db60242853f716693uv6nRCRD.html https://www.terra.com.br/noticias/mundo/europa/jovem-de-17-anos-toma-dose-excessiva-de-paracetamol-e-morre,40917debd5f6400db60242853f716693uv6nRCRD.html https://www.terra.com.br/noticias/mundo/europa/jovem-de-17-anos-toma-dose-excessiva-de-paracetamol-e-morre,40917debd5f6400db60242853f716693uv6nRCRD.html Uma jovem britânica de 17 anos morreu após sofrer uma overdose acidental de comprimidos de paracetamol, segundo informações do Daily Mail. Georgia Littlewood havia se queixado de fortes dores no estômago e tomou uma dose três vezes maior do que a recomendada para o medicamento – ela sofreu uma insuficiência hepática. Segundo a publicação, a jovem passou mal e foi levada às pressas para o hospital de Huddersfield, na Inglaterra – ela relatou que havia vomitado várias vezes durante a madrugada. A adolescente contou aos médicos que tinha tomado comprimidos de paracetamol e, após exames, a equipe concluiu que ela precisava de um transplante de fígado com urgência. A condição do órgão da jovem piorou rapidamente e ela foi levada para UTI, onde os médicos não conseguiram reverter o quadro. Ela morreu no dia 30 de março de 2015. SOBRE O PARACETAMOL Paracetamol ou acetaminofeno são as duas nomenclaturas que representam a substância N-aceCl-para-aminofenol. O paracetamol é considerado um analgésico e antipirético seguro, sendo utilizado tanto em crianças como em adultos e idosos. Tem a vantagem de não apresentar tantos efeitos secundários como os Anti-Inflamatórios Não Esteróides (AINEs) e o ácido acetilsalicílico. Os seus efeitos adversos mais comuns são a sonolência ligeira e algumas perturbações gastrointestinais, como náuseas e vómitos. (INFARMED, 2014a) É utilizado em gripes, febre, cefaleias e enxaquecas, odontalgias e otalgias, dismenorreia e ainda dores articulares e musculares. Também é utilizado no pós-operatório com frequência, principalmente em cirurgias de ambulatório. (INFARMED, 2014a) EPIDEMIOLOGIA O Paracetamol é largamente disponível, e sua toxicidade frequentemente é subestimada entre os leigos. Está presente em diversas apresentações e combinações medicamentosas. A falha em reconhecer a sua presença em diferentes medicações ou o não entendimento de orientações de dosagem podem propiciar casos de intoxicação.7 Exemplos de Medicamentos que contém paracetamol: Tylenol, Tylenol Sinus, Tylex, Tylidol, Tylemax, Cefalium, Dorilax, Cimegripe, Resfenol. A hepatotoxicidade induzida por este fármaco é a causa mais comum de insuficiência hepática aguda no Reino Unido e nos Estados Unidos, e responsabilizada, anualmente, por mais de 150 mortes, no Reino Unido.2,7 No ano de 2011, entre os 10.557 atendimentos referentes a intoxicações medicamentosas realizadas no Centro de Informações Toxicológicas do Rio Grande do Sul, o Paracetamol foi a segunda medicação mais incidente, sendo responsável 595 casos, com 62% deles intencionais. Paracetamol – FARMACOCINÉTICA Ação: Inibidor da COX, sem poder anti-inflamatório Absorção: rápida e quase completa pelo TGI Pico Plasmático: 1 a 2 horas após ingestão . Sobredosagem: > 4 horas. Meia vida: 2 a 4 horas Metabolização: hepática Excreção: urinária Metabolismo e Efeito Tóxico 90% do PARACETAMOL é conjugado a sulfato e glucuronídeo e excretado na urina; Pequena quantidade é excretada na urina sem sofrer metabolização; 5% é metabolizado via citocromo P450 em NAPQI (N-acetil-p- benzoquinoneimina), composto tóxico para as células hepáticas; NAPQI é rapidamente conjugado ao Glutation hepático, formando composto atóxico que é eliminado na urina; Quando mais de 70-80% do estoque de glutation está depletado o NAPQI começa a lesar os hepatócitos (necrose centrolobular). Após ser absorvido, o paracetamol sofre reações de biotransformação no fígado, nomeadamente de Fase I e de Fase II do metabolismo. A Fase III inclui o transporte dos metabolitos resultantes das fases anteriores. As reações de Fase II, como a de Glucuronidação e a de Sulfatação, são predominantes no metabolismo do paracetamol. A Glucuronidação é catalisada pelas Uridina 5’-difosfato (UDP)-glucuronosil transferases, que transferem um grupo glucuronosil do UDP- ácido glucurónico para moléculas alvo, como o paracetamol, tornando-as mais hidrossolúveis. Por outro lado, a Sulfatação é catalisada por sulfotransferases, que transferem um grupo sulfo (proveniente do 3’-fosfoadenosina-5’-fosfosulfato) para um aceitador, como o paracetamol. Os produtos resultantes destas reações são directamente excretadas na urina. Há ainda uma pequena fracção de Paracetamol que é excretado na urina sem qualquer alteração. (Lancaster et al., 2014; McGill e Jaeschke, 2014) As reações de Fase I são normalmente mediadas pelo sistema enzimático denominado Citocromo P450, sendo este constituído por mono-oxigenases. Desta família de enzimas, a isoenzima CYP2E1é a que tem uma acção mais notória na biotransformação do paracetamol, mediando a formação do metabolito tóxico, uma imina, a N-acetil-p- benzoquinona imina (NAPQI). (Ogilvie, Rieder e Lim, 2012) Em doses terapêuticas, a formação da NAPQI ocorre em baixa percentagem, sendo este electrófilo rapidamente conjugado pelo “captador”/scavenger de radicais livres, a Glutationa (GSH). O NAPQI liga-se ao grupo tiol da GSH, formando-se ácido mercaptúrico ou um conjugado de cisteína, que sofrem excreção renal. Esta reação pode ocorrer espontaneamente ou por ação das Glutationa-S-transferases. (McGill e Jaeschke, 2014) Em casos de ingestão de doses elevadas de paracetamol, ocorre uma saturação das reações de fase II e um esgotamento das reservas de GSH. Assim, o NAPQI acumula-se em grande quantidade no fígado, alterando a homeostase celular. No anexo 1, encontra-se um esquema elucidativo do Metabolismo do Paracetamol. (Ghanem et al., 2016; McGill e Jaeschke, 2014; Ogilvie et al., 2012) É ainda de salientar que o metabolismo do paracetamol varia consoante a idade. Os recém-nascidos e as crianças têm taxas superiores de Sulfatação em relação aos adultos, taxas inferiores de Glucuronidação e ainda uma imaturidade na isoenzima CYP2E1, responsável pela formação do NAPQI, o que leva a uma menor produção deste metabolito em crianças e consequentemente uma menor probabi l idade de desenvolver hepatotoxicidade por excessode paracetamol no organismo. (Ogilvie et al., 2012). Metabolismo: particularidades na criança • Crianças (< 6 anos) possuem uma maior capacidade de conjugação por sulfatação; • Crianças tem uma oferta e regeneração maior de glutation; • Crianças tem menor atividade do complexo citocromo P450; . Menor produção do metabólito tóxico. Toxicidade • Dano hepático por ingestão de PC pode ocorrer nas seguintes circunstâncias: – Ingesta excessiva de PC; – Atividade excessiva do complexo citocromo P450; – Capacidade diminuída de glicuronidação ou sulfatação; – Depleção do estoque de glutation. • Exemplos: uso de álcool e drogas; comorbidades; idade avançada; estado nutricional comprometido. Dose terapêutica • Adultos : – 325 mg a 1000 mg/dose de 4/4 ou 6/6 horas – Dose máxima diária: 4 g/dia • Crianças: – 10-15 mg/kg/dose de 4/4 a 6/6 horas – Dose máxima diária: 80 mg/kg/dia Dose Tóxica Crianças: > 140 mg/kg; Adultos: > 7,5 g; Ingesta de mais de 4 g/dia, durante vários dias, com alteração de TGO. Atravessa barreira placentária. Sem comprovação de teratogenicidade. Manifestações Clínicas Variam de acordo com: Idade do paciente; Dose ingerida; Precocidade da descontaminação gástrica; Apresentação da medicação; Existência de doença hepática prévia; Uso de bebida alcoólica, de drogas indutoras do sistema P450 ou de agentes que diminuem a conjugação; Tratamento por Intoxicação por Paracetamol Normalmente as intoxicações por paracetamol são tratadas com a N-acetilcisteína (NAC), administrada por via intravenosa. A via oral não é utilizada frequentemente porque o doente intoxicado sofre, na maior parte das vezes, de perturbações gastrointestinais, o que vai dificultar a eficácia terapêutica da NAC. Este antídoto é um percursor da GSH e quando administrado promove a síntese de GSH, levando ao restabelecimento das suas reservas, que numa situação de intoxicação por Paracetamol estão muito diminuídas. Com as reservas de GSH reestabelecidas, há captação dos radicais livres e ligação da GSH ao NAPQI, transformando em metabolitos não tóxicos como o ácido mercaptúrico, facilmente eliminados por via renal. Por outro lado, os aminoácidos em excesso (provenientes da NAC e que não foram necessários para a síntese de GSH) são utilizados como substratos para a produção de ATP, através do Ciclo de Krebs, restabelecendo os níveis de ATP nos hepatócitos. (Khayyat et al., 2016). REFERÊNCIAS 1. Nelson L, Lewin N, Howland, MA, et al. Goldfrank's toxicologic emergencies. 9nd. ed. New York: McGraw-Hill Professional; 2011. 2. Brent J, editor. Clinical care toxicology: diagnosis and management of the critically poisoned patient. Philadelphia: Elsevier Health Sciences; 2005. 3. Haddad LM, Shannon MW, Borron SW, et al. Haddad and Winchester's clinical management of poisoning and drug overdose. 4th ed. Philadelphia: Saunders Elsevier; 2007. 4. Dart RC. Medical care toxicology. 3th ed. Philadelphia: Lippincott Williams e Wilkins; 2004. 5. Fuchs FG, Wannamacher, L. Farmacologia clínica. 3a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2004. 6. Goodman L, Gilman A. As bases farmacológicas da terapêutica. 11a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2007. 7. Burns MJ, Friedman SL, Larson AN. Acetaminophen poisoning in adults: pathophysiology, presentation, and diagnosis. In: UpToDate. [Database on Internet]. Disponível em: http://www.uptodate.com/contents/acetaminophen-paracetamol- poisoning-in-adults- pathophysiology-presentation-and- diagnosis? detectedLanguage=en&source=search_result&translation=Acetaminophen+ %28paraceta mol%29+poisoning+in+adults&search=Acetaminophen+ % 2 8 p a r a c e t a m o l % 2 9 + p o i s o n i n g + i n + a d u l t s & selectedTitle=2%7E150&provider=noProvider 8. Briggs GG, Freeman KF, Yaffe SJ. Drugs in pregnancy and lactation: a reference guide to fetal and neonatal risk. 8th ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins; 2008. 9. Heard K, Dart R. Acetaminophen (paracetamol) poisoning in adults: treatment. In: UpToDate. [Database on Internet]. Disponível em: http:// www.uptodate.com/contents/acetaminophen- paracetamol-poisoning-in- a d u l t s - t r e a t m e n t ? detectedLanguage=en&source=search_result&translation=Acetaminophen+ % 2 8 p a r a c e t amol%29+poisoning+in+adults%3A+Treatment&search=Acetaminophen+ % 2 8 p a r a c e t a m o l % 2 9 + p o i s oning+in+adults%3A+Treatment&selectedTitle=1%7E150&provider=noProvid er 10. Nicolella A, Ferreira EM, Less CAS. Relatório anual de 2011, dados de atendimento. In: Centro de Informação Toxicológica do Rio Grande do Sul [Site na Internet] Porto Alegre: CIT; c2011. [citado 2013 maio 25]. Disponível em: http://www.cit.rs.gov.br/index.php? option=com_content&view=article&id=137&Itemid=61.
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