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1. CONCEITUAR INTOXICAÇÃO E INTERAÇÃO MEDICAMENTOSA, EVIDENCIANDO AS FORMAS DE TRATAMENTO POR INTOXICAÇÃO MEDICAMENTOSA. INTOXICAÇÃO MEDICAMENTOSA Intoxicação medicamentosa consiste em uma série de sinais e sintomas produzidos, quando um medicamento é ingerido, inalado, injetado ou entra em contato com a pele, olhos ou membranas mucosas em dose (s) acima da (s) terapêutica (s). As intoxicações medicamentosas podem ser classificadas como agudas ou crônicas e cada droga apresenta um quadro de sinais e sintomas peculiares, de acordo com suas características específicas, incluindo toxicocinética. Efeitos tóxicos locais dependem apenas de ocorrência de contato e tamanho da dose; já os sistêmicos dependem de absorção, distribuição, biotransformação e excreção do agente tóxico. É impossível classificar todas as substâncias em tóxicas ou seguras; assim, avalia-se o risco. O nível de risco aceitável depende de uma série de fatores, tais como, necessidade de uso da substância, alternativas disponíveis, extensão de uso ou exposição, custo, efeitos na qualidade do ambiente, conservação dos recursos naturais INTERAÇÃO MEDICAMENTOSA A interação medicamentosa ocorre quando você faz o uso de mais de um medicamento. São aquelas em que um fármaco altera a velocidade ou a extensão de absorção, distribuição, biotransformação ou excreção de outro fármaco. Isto é mais comumente mensurado por mudança em um ou mais parâmetros cinéticos, tais como concentração sérica máxima, área sob a curva, concentração-tempo, meia-vida, quantidade total do fármaco excretado na urina etc. Como diferentes representantes de mesmo grupo farmacológico possuem perfil farmacocinético diferente, as interações podem ocorrer com um fármaco e não obrigatoriamente com outro congênere. Isso pode diminuir a eficácia dos seus medicamentos, aumentar os efeitos colaterais inesperados ou até mesmo a sua toxidade no organismo. É a capacidade que um medicamento tem de interferir no efeito de outro. Esta interferência pode ocorrer de algumas maneiras, seja inibindo, ou seja, diminuindo o seu efeito esperado, muitas vezes até mesmo aumentando os seus efeitos colaterais. É um evento clínico que pode ocorrer entre medicamento-medicamento, medicamento-alimento ou medicamento-drogas (álcool, cigarro e drogas ilícitas). Caracteriza-se pela interferência de um medicamento, alimento, ou droga na absorção, ação ou eliminação de outro medicamento. Os antiácidos são exemplos de medicamentos que interagem com diversos outros, podendo alterar as taxas de dissolução e absorção de medicamentos como os hormônios tireoidianos, antifúngicos imidazóis, antibióticos como a tetraciclina e os anti-inflamatórios como a aspirina, diclofenaco e ibuprofeno. Anticoagulantes, como a varfarina, podem apresentar um risco maior de causar hemorragia se utilizados com alguns anti-inflamatórios. ↳ Medicamento com medicamento Esse tipo de interação é comum entre dois ou mais medicamentos diferentes. Um exemplo é o uso conjunto de antiácidos e anti-inflamatórios. Os medicamentos antiácidos possuem a capacidade de diminuir a absorção dos anti-inflamatórios e, consequentemente, reduzir seu efeito. ↳ Medicamento com alimentos Alguns alimentos podem reduzir a absorção das tetraciclinas, o que é o caso do leite e produtos lácteos. Nesse caso, recomenda-se fazer a ingestão desses alimentos uma hora após ou nas duas horas que antecedem a administração de tetraciclinas. Outro exemplo é o chá de camomila, capaz de alterar o efeito de alguns medicamentos. ↳ Medicamento com drogas (lícitas ou ilícitas) Drogas lícitas, como as bebidas alcoólicas, e drogas ilícitas são capazes de aumentar a toxidade hepática do paracetamol. Isso pode causar complicações no fígado do paciente. Além disso, elas podem também cortar o efeito de muitos fármacos. SP3 “Registro de reunião” INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS PREJUDICAIS Na maioria das vezes, as interações medicamentosas são prejudiciais ao paciente. Esse tipo de interação geralmente é provocado por um erro de prescrição ou por automedicação. Os principais efeitos dessas interações são intoxicações medicamentosas, anulação do efeito terapêutico, não tratamento da doença ou de seus sintomas e exacerbação de reações adversas. Esses efeitos têm impacto variado na saúde do paciente, podendo ser leve, moderado e grave e até mesmo exigir hospitalização. INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS BENÉFICAS Esse tipo de interação medicamentosa é intencionalmente provocado pelo prescritor devido às ações benéficas trazidas ao tratamento do paciente. Os principais efeitos provocados pela interação medicamentosa benéfica são a otimização do efeito terapêutico do medicamento ou a anulação de suas reações adversas. As interações medicamentosas envolvem Farmacodinâmica Farmacocinética Nas interações farmacodinâmicas, um fármaco modifica a sensibilidade ou a resposta dos tecidos a outro fármaco, por ter o mesmo efeito (agonista) ou efeito bloqueador (antagonista). Habitualmente, esses efeitos ocorrem no nível do receptor, mas podem ocorrer no nível intracelular. Nas interações farmacocinéticas, em geral, um fármaco modifica a absorção, a distribuição, a ligação às proteínas, a biotransformação ou a excreção de outro fármaco. Assim, ocorre a modificação da quantidade e a persistência do fármaco disponível nos locais dos receptores. As interações farmacocinéticas alteram a magnitude e a duração do efeito, porém não o tipo do efeito. Esse tipo de interação é, com frequência, previsível com base no conhecimento dos fármacos individuais ou detectado pelo monitoramento das concentrações dos fármacos ou dos sinais clínicos. CLASSIFICAÇÃO DAS INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS As interações farmacocinéticas podem ocorrer pelos mecanismos: ↳ Na absorção Alteração no pH gastrintestinal. Adsorção, quelação e outros mecanismos de complexação. Alteração na motilidade gastrintestinal. Má absorção causada por fármacos. ↳ Na distribuição Competição na ligação a proteínas plasmáticas. Hemodiluição com diminuição de proteínas plasmáticas. ↳ Na biotransformação Indução enzimática (por barbituratos, carbamazepina, glutetimida, fenitoína, primidona, rifampicina e tabaco). Inibição enzimática (alopurinol, cloranfenicol, cimetidina, ciprofloxacino, dextropropoxifeno, dissulfiram, eritromicina, fluconazol, fluoxetina, idrocilamida, isoniazida, cetoconazol, metronidazol, fenilbutazona e verapamil). ↳ Na excreção Alteração no pH urinário. Alteração na excreção ativa tubular renal. Alteração no fluxo sangüíneo renal. Alteração na excreção biliar e ciclo êntero- hepático. Interações farmacodinâmicas ocorrem nos sítios de ação dos fármacos, envolvendo os mecanismos pelos quais os efeitos desejados se processam. O efeito resulta da ação dos fármacos envolvidos no mesmo receptor ou enzima. Um fármaco pode aumentar o efeito do agonista por estimular a receptividade de seu receptor celular ou inibir enzimas que o inativam no local de ação. A diminuição de efeito pode dever-se à competição pelo mesmo receptor, tendo o antagonista puro maior afinidade e nenhuma atividade intrínseca. Um exemplo de interação sinérgica no mecanismo de https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/farmacologia-cl%C3%ADnica/farmacodin%C3%A2mica/vis%C3%A3o-geral-da-farmacodin%C3%A2mica https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/farmacologia-cl%C3%ADnica/farmacocin%C3%A9tica/vis%C3%A3o-geral-da-farmacocin%C3%A9tica ação é o aumento do espectro bacteriano de trimetoprima e sulfametoxazol que atuam em etapas diferentes de mesma rota metabólica. Interações de efeito ocorrem quando dois ou mais fármacos em uso concomitante têm ações farmacológicas similares ou opostas.Podem produzir sinergias ou antagonismos sem modificar farmacocinética ou mecanismo de ação dos fármacos envolvidos. Por exemplo, álcool reforça o efeito sedativo de hipnóticos e anti-histamínicos. Interações farmacêuticas, também chamadas de incompatibilidade medicamentosa, ocorrem in vitro, isto é, antes da administração dos fármacos no organismo, quando se misturam dois ou mais deles numa mesma seringa, equipo de soro ou outro recipiente. Devem-se a reações fisicoquímicas que resultam em Alterações organolépticas – evidenciadas como mudanças de cor, consistência (sólidos), opalescência, turvação, formação de cristais, floculação, precipitação, associadas ou não a mudança de atividade farmacológica. Diminuição da atividade de um ou mais dos fármacos originais. Inativação de um ou mais fármacos originais. Formação de novo composto (ativo, inócuo, tóxico). Aumento da toxicidade de um ou mais dos fármacos originais. A ausência de alterações macroscópicas não garante a inexistência de interação medicamentosa. TRATAMENTO PARA INTOXICAÇÃO MEDICAMENTOSA A intoxicação medicamentosa é um dos maiores desafios da saúde, não só brasileira, mas também mundial. Dentre as principais causas, tem-se o autoextermínio, a automedicação desregrada e ingestões acidentais. No Brasil, enquanto as intoxicações agudas são mais comuns em idosos com intenções suicidas, as intoxicações acidentais são mais comuns em crianças, de acordo com o Ministério da Saúde e com a ANVISA. A automedicação, prática comum e desenfreada entre a população brasileira, é mais propensa de ocorrer em jovens e adultos, segundo o SINITOX. Devido a essa cultura de automedicação, o Brasil ocupa o quinto lugar no ranking de países que mais consomem medicamentos, e a prática corresponde a 35% das vendas de fármacos no país. Além disso, a prática contribui diretamente para o surgimento de superbactérias resistentes a medicamentos pelo uso abusivo de antibióticos. Os principais medicamentos envolvidos em intoxicações brasileiras, segundo Mathias TL (2019), são os benzodiazepínicos, anticonvulsivantes, antidepressivos e analgésicos. O conhecimento da substância ingerida é importante para estabelecer o diagnóstico e o respectivo tratamento, pois alguns fármacos apresentam antídotos específicos, enquanto outros precisam ser excretados pela urina ou removidos da corrente sanguínea. Quando a substância é desconhecida, é recomendado pelo Manual de Toxicologia Clínica (2017) a observação dos sintomas apresentados pelo paciente, visto que certos medicamentos são capazes de causar síndromes tóxicas, como a serotoninérgica, sedativo-hipnótica, anticolinérgica, extrapiramidal, opioide, colinérgica ou adrenérgica. Antes mesmo de descobrir qual o medicamento envolvido na intoxicação, é de extrema importância um exame físico inicial, de modo a estabilizar o paciente. Deve-se atentar às vias aéreas e à respiração, à circulação sanguínea e ao déficit neurológico. A checagem dos sinais vitais, da pressão arterial, dos batimentos cardíacos, da frequência respiratória, das pupilas, da temperatura e da oxigenação se fazem essenciais nesse momento. É indicada a aplicação de glicose e de tiamina (vitamina B1) intravenosa em pacientes inconscientes, visando evitar um quadro de hipoglicemia e um possível rebaixamento de consciência. Após a estabilização do paciente e a observação de seus sinais clínicos, procura-se o melhor tratamento, considerando seus antecedentes pessoais. Se o medicamento tiver sido ingerido em um determinado intervalo de tempo, entre 2 e 4 horas, pode-se recorrer à lavagem gástrica ou à administração de carvão ativado, substâncias que vão evitar a absorção do medicamento pelo trato gastrointestinal. No entanto, não há consenso médico quanto à utilização do carvão ativado e da lavagem gástrica para o tratamento de algumas intoxicações, como as causadas pela carbamazepina e pela fenitoína. Já em casos de intoxicação por paracetamol, o carvão ativado aparenta reduzir os efeitos hepatotóxicos, além de prevenir a metahemoglobinemia causada pela sobredosagem de dapsona. A alcalinização da urina é indicada para intoxicação por fármacos cuja depuração renal aumenta com o aumento do pH urinário, como as sobredosagens de ácido acetilsalicílico e de barbitúricos, desde que o paciente não apresente insuficiência renal, pois essa condição limita a excreção do fármaco pela urina. O principal composto para basificar a urina é o bicarbonato de sódio intravenoso. Quando o aumento da excreção renal não se faz suficiente, a hemodiálise, a diálise peritoneal ou a hemoperfusão podem ser solicitadas, visando desintoxicar o sangue do fármaco, sendo utilizada em intoxicações por fenobarbital, lítio e salicilatos. Em casos de intoxicações por compostos lipofílicos, como antipsicóticos, betabloqueadores e antidepressivos tricíclicos, pode-se utilizar emulsões lipídicas intravenosas, sendo terapias experimentais que apresentam uma alternativa em casos de instabilidade hemodinâmica. A teoria mais aceita para explicar o mecanismo de ação dessas emulsões é que, assim que elas chegam à corrente sanguínea, há a formação de um compartimento que atrai essas substâncias lipofílicas, afastando-as dos receptores teciduais. Além disso, o bicarbonato de sódio pode ser administrado na forma intravenosa, visando desbloquear os canais de sódio afetados pelo excesso de antipsicóticos e antidepressivos tricíclicos. Quando a substância é conhecida, pode-se administrar seu respectivo antídoto, o qual neutralizará a toxicidade do fármaco. É importante enfatizar que nem todas as intoxicações apresentam antídoto, sendo assim, a melhor medida é priorizar o suporte vital básico, tratando os sintomas e evitando possíveis sequelas. A acetilcisteína atua para a redução dos níveis de NAPQI, metabólito tóxico ao fígado do paracetamol, prevenindo uma falência hepática. Pode ser associada ou não à metionina, visto que este fármaco, apesar de contribuir para a redução da hepatoxicidade, também causa efeitos colaterais como vômitos. O flumazenil geralmente é administrado em intoxicações por benzodiazepínicos, pois bloqueia os receptores do composto no sistema nervoso central, impedindo a entrada de íons cloreto no neurônio e a hiperpolarização neuronal. No entanto, há contraindicações, visto que apresenta efeitos colaterais como agitação, arritmias cardíacas e até mesmo convulsões. Quando o agente é algum opioide, o tratamento é feito com naloxona. A vitamina B6 (piridoxina) é capaz de reduzir quadros convulsivos causados pela intoxicação por isoniazida, fármaco utilizado para o tratamento da tuberculose. Com base nas síndromes tóxicas apresentadas pelo paciente, é possível identificar o agente tóxico em questão, sendo possível, então, o tratamento adequado. A síndrome serotoninérgica pode ser causada por intoxicações de fármacos inibidores seletivos de serotonina ou inibidores seletivos de norepinefrina, como o fentanil, os antidepressivos tricíclicos e o tramadol. Entre os achados clínicos de tal síndrome, encontra-se a midríase, agitação, alucinações e convulsões. Nesses casos, pode-se utilizar a ciproheptadina, um antihistamínico antagonista aos receptores serotoninérgicos, além de benzodiazepínicos, visando diminuir os batimentos cardíacos, a agitação e a pressão arterial. Em casos de depressão do sistema respiratório e do sistema nervoso central, acompanhados de miose e bradicardia, suspeita-se de uma síndrome hipnótica sedativa, a qual é causada geralmente por barbitúricos, benzodiazepínicos e opioides. MANEJO E TRATAMENTO ↳ Antidepressivos tricíclicos e tetracíclicos O manejo inicial inclui as medidas de suporte: monitorização, suporte de oxigênio e intubaçãoorotraqueal se necessário, exames laboratoriais, correção de eventuais distúrbios hidroeletrolíticos e eletrocardiografia contínua preferencialmente. A intoxicação por tricíclicos retarda o esvaziamento gástrico e pode causar vômitos e alto risco de aspiração, especialmente em pacientes com rebaixamento do nível de consciência. Portanto, o limiar para decisão de intubação orotraqueal deve ser baixo. Não há evidências de que fluidos contrabalancem a hipotensão induzida pelos tricíclicos (depressão miocárdica e redução da resistência vascular sistêmica), porém, devido ao racional fisiológico, bolus de cristaloide é terapia de primeira linha no paciente hipotenso. Recomenda-se a descontaminação gástrica com carvão ativado se a ingestão tiver ocorrido em menos de 1 a 2 horas e a capacidade de proteção de via aérea esteja preservada, na dose de 1 g/kg (máximo de 50 g). Não se indica a intubação orotraqueal com o intuito de se administrar o carvão, além de ser contraindicado na presença de obstrução intestinal, íleo ou suspeita de perfuração. Irrigação intestinal e carvão em múltiplas doses não se associaram a melhora de desfechos. A lavagem gástrica pode ser considerada somente em intoxicações ameaçadoras à vida, porém alguns autores a contraindicam no contexto de arritmia devido ao aumento do tônus vagal. A prescrição de bicarbonato de sódio é amplamente utilizada na prática, porém a evidência de benefício provém de séries de casos, coortes retrospectivas e estudos experimentais. O GEMNet (Guidelines in Emergency Medicine Network) recomenda a alcalinização sérica (alvo de pH entre 7,45 e 7,55) em pacientes com arritmias ou hipotensão, mesmo na ausência de acidose. Recomenda ainda: • Considerar alcalinização sérica se QRS > 100 ms. • Administrar bicarbonato de sódio 8,4% 1 a 2 mEq/kg EV em bolus. • A ausência de resposta após 5 minutos indica nova dose. • Se estreitamento do QRS, considerar manutenção com 150 a 250 mL/h de soro bicarbonatado (150 mL NaHCO3 8,4% + 1.000 mL SG5%), objetivando pH entre 7,5 e 7,55 e mantendo monitorização seriada de gasometrias. A infusão pode ser mantida por 12 a 24 horas após o retorno do QRS ao normal. • Se convulsões, administrar benzodiazepínicos (diazepam 5 mg EV) até controle das crises. • Considerar barbitúricos e bloqueadores neuromusculares se refratariedade. • Recomenda-se não utilizar fenitoína, por possível interação medicamentosa e intensificação das anormalidades de condução. Nos pacientes com arritmia não responsiva a bicarbonato, orienta-se administrar sulfato de magnésio. Não há dose padronizada, mas sugere-se 1 a 2 g em 15 minutos, endovenoso. Emulsões lipídicas têm sido utilizadas com o intuito de se contrapor aos efeitos tóxicos de medicações lipofílicas, como é o caso dos tricíclicos. Considera-se em pacientes que se mantêm instáveis a despeito da administração de bicarbonato ou que estejam em PCR sustentada. Sugere-se consulta ao centro de intoxicações antes da prescrição. A dose recomendada é 1,5 mL/kg em bolus da emulsão lipídica a 20%, repetir a cada 5 minutos estabilidade cardiovascular. Pode-se manter infusão 0,25 mL/kg/min por 30 a 60 min até a dose máxima de 12 mL/kg. A utilização de fisostigmina para manejo de síndrome anticolinérgica é contraindicada na intoxicação por tricíclicos, devido a relatos de PCR em assistolia. Mesmo se a intoxicação associada por benzodiazepínicos, o flumazenil também é contraindicado por reduzir o limiar convulsivo. Todos os casos suspeitos devem ser notificados (CID: T43.0 – Intoxicação por antidepressivos tricíclicos e tetracíclicos). ↳ Antidepressivos serotoninérgicos A maior parte dos casos de intoxicação por ISRS não desenvolve sintomas graves e necessita, portanto, apenas de medidas de suporte. Vítimas de exposições acidentais menores, assintomáticas, podem ser observadas no domicílio. Pacientes com intoxicação por citalopram ou escitalopram devem ser monitorizados por pelo menos 6 horas devido à presença de metabólitos tóxicos. Recomenda-se: • Descontaminação gastrointestinal com carvão ativado é indicada na dose 1 g/kg (máximo de 50 g) se ingesta tiver ocorrido em menos de 1 a 2 horas e capacidade de proteção da via aérea. Não há benefício na estratégia de múltiplas doses. • Se taquicardias com QRS alargado, administrar bicarbonato de sódio 1 a 2 mEq/kg em bolus, em esquema semelhante à intoxicação por tricíclicos. Todos os pacientes com intervalo QTc alargado necessitam de eletrocardiograma seriado. • Monitorização cardíaca contínua para exclusão de arritmias ventriculares. Esse risco é maior com agentes que possuem metabólitos cardiotóxicos, como o citalopram. • Se intervalo QTc > 560 ms ou presença de outros fatores de risco para torsades de pointes (história prévia de torsades, bradicardia e extrassístoles ventriculares frequentes), convém administrar sulfato de magnésio 2 g EV em 2 min (repetir após 10-15 minutos se necessário). • Se efeito clínico, considerar infusão contínua de magnésio a 2 a 10 mg/min até que QTc < 500 ms. Novo ECG deve ser obtido a cada 4 a 8 horas até normalização (< 440 ms). Os pacientes que não serão internados necessitam de um ECG antes da alta para assegurar intervalos normais. Os pacientes podem ser encaminhados ao psiquiatra após 4 a 6 horas de observação caso estejam assintomáticos e não tenham desenvolvido alterações eletrocardiográficas, sobremaneira QTc prolongado. Ingestas maciças (150x a dose diária) demandam admissão por 24 horas e monitorização cardíaca contínua. Devido ao maior potencial cardiotóxico dos metabólitos do citalopram e escitalopram, os pacientes devem ter um ECG após 6 horas da ingesta. Prolongamento do QTc ou QRS em relação ao ECG admissional indica internação para monitorização contínua até normalização. O manejo da síndrome serotoninérgica inclui: • Resfriamento corporal com medidas físicas. • Se temperatura central > 41°C, prosseguir com intubação orotraqueal + sedação com benzodiazepínicos e bloqueadores neuromusculares. • Em casos refratários, utilizar antagonistas da serotonina (ciproeptadina 12 mg VO/SNE). ↳ Paracetamol A descontaminação gastrointestinal com carvão ativado é indicada se o paciente se apresenta dentro de 1 a 2 horas da ingestão. Alguns pacientes podem se beneficiar do carvão ativado em até 4 horas: formulações de liberação estendida e coingestão com drogas que retardam o esvaziamento gástrico. A AAPCC orienta a administração préhospitalar de carvão ativado nas seguintes condições: políticas locais de centros de intoxicações suportam essa prática, dose tóxica de acetaminofeno e ingesta há menos de 2 horas. Vale lembrar as contraindicações ao carvão: via aérea não protegida, alto risco de aspiração, risco de hemorragia digestiva ou perfuração gastrointestinal. A lavagem gástrica não é indicada de rotina pela potencialidade de dano, principalmente aspiração. Se indicada, deve ser realizada por experts. São contraindicações formais: anormalidades craniofaciais, trauma de crânio, não proteção de via aérea, risco de aspiração, hemorragia digestiva ou perfuração e recusa do paciente em cooperar. A N-acetilcisteína (NAC) é considerada o antídoto para a toxicidade dos metabólitos do acetaminofeno, porém não afeta os níveis séricos da droga. Atua no clareamento do NAPQI e na recuperação da síntese de glutationa hepática, permitindo a regeneração hepatocitária. São recomendações para a administração de NAC: • Deve ser prescrita idealmente dentro de 8 horas da ingesta caso o nível sérico de acetaminofeno esteja acima da linha de tratamento do normograma de Rumack-Matthew. • No caso de ingestas supraterapêuticas repetidas ou momento desconhecido da intoxicação, prescreve-se NAC seacetaminofeno > 10 mcg/mL ou alterações de AST e ALT. • Caso os níveis séricos sejam indisponíveis em até 8 horas, indica-se o tratamento se dose acima de 150 mg/kg ou > 12 g. Os esquemas preconizados podem ser feitos por via oral ou endovenosa, a depender do estado mental e capacidade de tomar medicações por boca. São eles: • Oral: ataque de 140 mg/kg + manutenção de 70 mg/kg de 4/4 h, por 72 h ou até que paciente permaneça assintomático, sem sinais de hepatotoxicidade e com nível sérico < 10 mcg/mL. • Endovenoso (incapacidade por via oral, INR > 2 e gestantes): ataque de 150 mg/kg em 1 hora diluídos em 200-300 mL de SF ou SG 5% + manutenção de 12,5 mg/kg/h por 4 horas, seguido de 6,25 mg/kg/h por 16 horas. Reações anafilactoides (usualmente durante a dose de ataque) são razoavelmente frequentes no esquema endovenoso (10-20%). Atualizações de 2012 do CHM (United Kingdom’s Commission on Human Medicines) removeram a hipersensibilidade como contraindicação ao tratamento com NAC e aumentaram o tempo de infusão de 15 para 60 minutos. Assim, na vigência de reações anafiláticas, recomenda-se interromper a infusão, aguardar a resolução dos sintomas e retomar a administração sempre que possível. Quanto ao esquema oral, as reações adversas são tipicamente gastrointestinais (náuseas e vômitos). Remoção extracorpórea, preferencialmente com hemodiálise intermitente, é considerada nos casos em que NAC isoladamente foi insuficiente. Suas indicações são: • Concentrações de acetaminofeno: > 1.000 mcg/mL caso NAC não tenha sido administrada. • > 90 mcg/L e evidência de disfunção mitocondrial (alteração de nível de consciência e acidose metabólica grave previamente à falência hepática). • Se NAC foi administrada; concentração de acetaminofeno > 700 mcg/L. • Evidência de disfunção mitocrondrial caso NAC não foi administrada. O transplante hepático é a única intervenção que melhora a sobrevida de pacientes com lesão hepática irreversível e falência hepática aguda. Aproximadamente 10% dos casos de insuficiência hepática aguda com necessidade de transplante são relacionados a paracetamol. Os critérios do King’s College, supracitados, são os mais utilizados para predizer essa abordagem. Há uma modificação desses critérios que incluiu o lactato arterial. Recomenda-se avaliá-lo em 2 a 3 dias de intoxicação: lista-se o paciente com lactato > 3,5 mmol.L antes de adequada ressuscitação volêmica ou > 3 mmol/L se adequadamente ressuscitado. Orienta-se monitorização diária de INR e creatinina em pacientes com coagulopatia e injúria renal aguda, respectivamente, até normalização. Os pacientes podem receber alta hospitalar nas seguintes situações: • Esquema completo de NAC iniciado dentro de 8 horas da intoxicação sem sinais de toxicidade hepática ou alteração de função renal. • Assintomáticos, com creatinina e provas hepáticas normais caso a NAC seja iniciada após 8 horas. Todos os casos suspeitos devem ser notificados (CID: T39.1 – Intoxicação por derivados do 4 aminofenol/paracetamol). ↳ Benzodiazepínicos O esteio do tratamento é o suporte: monitorização, suporte de oxigênio, hidratação adequada, exames laboratoriais e correção de eventuais distúrbios hidroeletrolíticos. Não postergar intubação se rebaixamento importante do nível de consciência e incapacidade de proteção de vias aéreas. Hipotensão secundária a BZD geralmente responde bem a cristaloides. Lavagem gástrica e carvão ativado geralmente não são indicados devido ao risco de broncoaspiração. Apesar de haver um antagonista amplamente disponível, o flumazenil não é recomendado de rotina, em especial nos usuários crônicos de BZD, devido ao risco de precipitar grave síndrome de abstinência e diminuir o limiar convulsivo. Indicações de seu uso são: • Pacientes sedados com benzodiazepínicos para procedimentos que não fazem uso crônico, em que é necessário reverter o efeito da medicação. • Parada respiratória ou cardiorrespiratória presumidamente atribuída a BZD. A dose recomendada é 0,1 a 0,2 mg EV em bolus (em crianças 0,01 mg/kg), podendo ser repetido até dose máxima de 1 mg. O início de ação é em 2 a 3 minutos e seus efeitos duram por 30 a 45 minutos. Devido à alta taxa de ligação a proteínas e baixa incidência de eventos adversos ameaçadores à vida, medidas extracorpóreas para otimizar o clearance de BZD não são recomendadas. Pacientes com persistência de depressão do SNC ou respiratória após 6 horas de observação requerem internação com intuito de se manter vigilância e investigação de diagnósticos alternativos. Aqueles com intoxicação isolada por BZD, assintomáticos ou levemente sintomáticos (facilmente despertáveis, ataxia leve), 6 horas após ingesta, podem receber alta hospitalar. É claro que ingestas intencionais demandam avaliação psiquiátrica. Todos os casos suspeitos devem ser notificados (CID: T42.2 – Intoxicação por benzodiazepínicos). ↳ Anticonvulsivantes FENITOÍNA: O tratamento de suporte é a medida principal. Apesar de o carvão adsorver a fenitoína, o uso deve ser cauteloso devido ao risco de aspiração. Complicações cardiovasculares durante a infusão endovenosa suscitam interrupção da administração. Caso seguro para utilização, é razoável a administração na primeira hora. As concentrações séricas são reduzidas com a estratégia de carvão em múltiplas doses, porém os estudos falharam em evidenciar desfechos clínicos favoráveis. Hemodiálise e hemoperfusão, à semelhança, não se associam a melhores desfechos. ÁCIDO VALPROICO: O tratamento de suporte é usualmente suficiente. A maioria dos pacientes com níveis séricos > 450 mg/L necessita de intubação orotraqueal. A descontaminação GI com carvão em múltiplas doses é útil em circunstâncias de intensa overdose com níveis séricos em ascensão. A lavagem intestinal pode ser adequada em grandes intoxicações agudas com formulações revestidas de liberação estendida. Embora não haja evidências conclusivas, reversão da sedação com naloxone foi reportada. Em situações de hiperamonemia, nível sérico > 450 mg/L, ingestas agudas > 100 mg/kg, depressão do nível de consciências, está indicada a administração de L- carnitina. Infunde-se 100 mg/kg, IV, em 15 a 30 minutos e se mantém 50 mg/kg IV a cada 8 horas (em 30 min). O tratamento permanece até normalização da amônia sérica e melhora clínica. Apesar de não haver ampla demonstração de redução do tempo de recuperação, a terapia é barata e segura. Indica-se remoção extracorpórea com hemodiálise intermitente se níveis séricos > 1.300 mg/L, choque ou edema cerebral. A terapia é sugerida se > 900 mg/L, coma ou depressão respiratória com necessidade VM, hiperamonemia aguda ou pH < 7,1. A terapia é mantida até melhora clínica ou retorno dos níveis para 50 a 100 mg/L. A internação hospitalar é reservada aos casos sintomáticos ou com hiperamonemia. A alta é segura quando os níveis séricos estão dentro da faixa e em tendência de queda com resolução do quadro clínico. Formulação de liberação imediata demanda observação por pelo menos 6 horas, enquanto as de liberação se estendem por pelo menos 12 horas. ↳ Antipsicóticos Os pacientes raramente apresentam depressão respiratória; ainda assim, como em qualquer outra intoxicação aguda, a preocupação inicial é proteger as vias aéreas e realizar demais medidas de suporte. As convulsões devem ser tratadas com benzodiazepínicos. Em pacientes com hipotensão refratária a fluidos, devem-se introduzir drogas vasopressoras, como norepinefrina ou vasopressina. Em pacientes com intervalo QT prolongado (> 500 milissegundos) é indicada a reposição de bicarbonato 1-2 mEq/kg. Em pacientes com arritmia como torsades de pontes deve- se prescrever sulfato de magnésio 1-2 g EV em 100 mL de SF, seguidode uma infusão de 2 a 4 mg/min, independentemente da concentração sérica de magnésio. O uso de overdrive pacing também pode ser útil, especialmente em casos de arritmias refratárias ao magnésio. Não devem ser usados os antiarrítmicos de tipo Ia (p. ex., quinidina, procainamida), Ic (p. ex., propafenona), III (p. ex., amiodarona) e IV em pacientes com distúrbios de condução cardíaca ou arritmias ventriculares, porque seu uso pode potencializar a cardiotoxicidade. O uso de emulsão lipídica intravenosa se mostrou benéfico em intoxicações com grandes doses de quetiapina e instabilidade hemodinâmica refratária à terapia convencional. Os pacientes com quadros convulsivos secundários ao uso de antipsicóticos devem ser tratados com benzodiazepínicos e anticonvulsivantes tradicionais como a fenitoína não são indicados. O uso de carvão ativado é controverso. Pode eventualmente ser usado em dose única de 1 g/kg até dose máxima de 50 g, caso ingestão em menos de 4 horas. Após a ingestão aguda, os pacientes devem ser observados por um período mínimo de 6 horas. Pacientes com evidência de toxicidade (p. ex., taquicardia sinusal ou prolongamento do intervalo QT) devem ser admitidos em leito monitorado. A discinesia tardia é caracterizada por movimentos repetitivos e estereotipados das estruturas orofaciais. Como os sintomas da discinesia tardia podem ser irreversíveis, deve-se tentar minimizar sua ocorrência. A detecção precoce e a pronta retirada do antipsicótico aumentam a probabilidade de recuperação completa. A acatisia normalmente ocorre dentro de minutos a dias após início ou aumento da dose de um antipsicótico. O tratamento da acatisia ou da distonia aguda inclui a administração de difenidramina 25 a 50 mg por via endovenosa e em crianças dose de 0,5 a 1 mg/kg, ou de benztropina de 1 a 2 mg EV. Os benzodiazepínicos podem servir de terapia adjuvante. Devido aos efeitos prolongados do agente indutor de distonia, a terapia oral com difenidramina ou benztropina deve ser continuada durante aproximadamente 2 dias após o tratamento parental. ↳ Anticolinérgicos • Medidas de suporte: monitorização, suporte de oxigênio, intubação orotraqueal se rebaixamento do nível de consciência, hidratação adequada e coleta exames laboratoriais e correção de eventuais distúrbios hidroeletrolíticos. • Carvão ativado pode ser tentado em até 2 horas, se nível de consciência adequado. Como há diminuição da motilidade intestinal, pode ser realizado mais tardiamente. • Se quadro de agitação importante, hipertermia ou convulsões, podem ser utilizados benzodiazepínicos como sintomáticos. • O antígeno específico é a fisostigmina 1 a 2 mg EV em 2 a 5 min. No entanto, seu uso é bastante controverso devido ao risco de induzir bradicardia e parada cardiorrespiratória. • Todos os casos suspeitos devem ser notificados (T44.3 – Intoxicação por outros parassimpáticolíticos (anticolinérgicos e antimuscarínicos) e espasmolíticos não classificados em outra parte). 2. DESCREVER O MECANISMO DE AÇÃO FARMACOLÓGICA DOS ANTITÉRMICOS E ANALGÉSICOS, ALÉM DO MECANISMO DE AÇÃO TÓXICO DA SUBSTÂNCIA INGERIDA (PARACETAMOL) MECANISMO DE AÇÃO Para manejo de dor leve a moderada e febre, condições prevalentes no atendimento de adultos e crianças, usam-se preferencialmente analgésicos não opioides que incluem paracetamol, ácido acetilsalicílico e ibuprofeno, este como representante dos anti- inflamatórios não esteroides (Aine) por apresentar menor potencial de efeitos adversos. Todos esses fármacos, inclusive os Aine não citados, têm propriedades analgésica e antitérmica, mas as atividades antiinflamatória e antiplaquetária não são compartilhadas por paracetamol e dipirona. Sua propriedade analgésica é atribuída à inibição de ciclo-oxigenase 2 (COX-2), enzima induzida pela reação inflamatória e responsável pela formação de prostaglandinas. Estas sensibilizam nociceptores – terminações nervosas livres de nervos sensitivos – à presença de outras substâncias algógenas (bradicinina, histamina, serotonina, H+ , K+ e ATP), liberadas a partir de estímulos traumáticos ou lesivos. O bloqueio da síntese de prostaglandinas determina analgesia e reduz a resposta inflamatória. A propriedade antitérmica tem sido imputada à inibição de ciclooxigenases no cérebro, levando ao bloqueio de síntese de prostaglandinas no hipotálamo. Tais medicamentos também atuam sobre a enzima ciclo-oxigenase 1 (COX1), a qual é expressa constitutivamente na maioria dos tecidos e é catalisadora da formação de prostaglandinas com funções homeostáticas, tais como proteção de mucosa gástrica, autorregulação de fluxo sanguíneo renal, ativação de agregação plaquetária e regulação de homeostase vascular. A inibição de COX-1, interferindo nessas funções, condiciona algumas das reações adversas desses fármacos, à exceção de paracetamol que não produz dano gastrintestinal ou efeitos cardiorrenais indesejáveis. Isso se explica por paracetamol exercer fraca inibição sobre COX-1 e COX- 2 periféricas, tendo ação basicamente central, o que também ocorre com dipirona. COX-1 é constitutivamente expressa na maioria dos tecidos e catalisa a formação de prostaglandinas com funções homeostáticas, como proteção de mucosa gástrica, autorregulação de fluxo sanguíneo renal, ativação de agregação plaquetária e regulação de homeostase vascular. A inibição dessa enzima por analgésicos não-opioides é, em grande parte, responsável por reações adversas gastrintestinais e renais1. COX-2 é constitutivamente expressa em poucos tecidos, como sistema nervoso central, ossos e certas áreas dos rins. Sua atividade é predominantemente induzida por estados inflamatórios, por meio de citocinas e outros mediadores químicos presentes nas lesões. COX-2 catalisa a formação de prostaglandinas que levam à dor, pela geração de potenciais de ação em neurônios nociceptivos. Atribui-se à sua inibição as propriedades analgésicas, antitérmicas e anti- inflamatórias de analgésicos não-opioides1. No controle de febre, todos esses fármacos têm igual eficácia clínica. Paracetamol, dipirona, ácido acetilsalicílico e ibuprofeno suprimem a resposta febril por meio de inibição de síntese de prostaglandina E2 (PGE2), na área pré-óptica hipotalâmica e órgãos circunventriculares adjacentes, a qual fora estimulada por pirógenos endógenos (esses, por sua vez, estimulados por pirógenos exógenos). PGE2 aumenta a adenosina monofosfato cíclico (AMPc), elevando o ponto de equilíbrio (set-point) do centro termorregulador hipotalâmico. Isso estimula produção de calor, por meio de tremores, e sua conservação, por vasoconstrição9. Aqueles fármacos promovem retorno do ponto de equilíbrio ao normal1. Paracetamol é o agente de primeira escolha para tratamento de dores leves a moderadas, tanto agudas quanto crônicas, associadas ou não a reação inflamatória periférica, mostrando-se eficaz e tendo melhor perfil de segurança comparativamente aos outros analgésicos não opioides. Ibuprofeno é intercambiável com paracetamol, apresentando similar eficácia. Em resumo: Mecanismo de ação Analgesia: não é bem conhecida a forma como atua, sendo que as propriedades analgésicas podem ser explicadas pela sua ação no Sistema Nervoso Central (SNC), ao inibir a síntese de prostaglandinas e bloqueio em menor grau do Sistema Nervoso Periférico, inibindo a geração do impulso nervoso doloroso. Pode atuar também inibindo a produção ou a ação de outros compostos que atuam sensibilizando receptores da dor frente a estímulos. Todavia, exerce pouco efeito anti- inflamatório, podendo este ser atribuído ao fato de ser um fraco inibidor da cicloxigenase, quando presente em altas concentrações de peróxidos, como é observado em processos inflamatórios. Antipirese:Como no SNC há menor concentração de compostos peróxidos, o paracetamol consegue então inibir a cicloxigenase, produzindo a antipirese. Assim, ao atuar no centro hipotalâmico que é regulador da temperatura corpórea, produz uma vasodilatação periférica, resultando em aumento do fluxo sanguíneo periférico e consequente sudorese e perda de calor. PARACETAMOL O paracetamol (acetaminofeno) é um fármaco que possui propriedades analgésicas (alivia a dor) e propriedades antipiréticas eliminando ou prevenindo a febre em adultos e crianças, diminuindo a temperatura corporal quando esta for superior a 37°C. O paracetamol é um analgésico e antipirético eficaz na febre e no desconforto associado a infeções virais e bacterianas, cefaleias e em situações de dor músculo- esquelética. De acordo com o Índice Nacional Terapêutico, é um fármaco indicado para o tratamento sintomático de gripes, constipações ou outras hipertermias infeciosas, cefaleias ligeiras a moderadas, odontalgias, otalgias, dores menstruais (dismenorreia primária), dores pós-traumáticas, reações hiperérgicas da vacinação, dores musculares e articulares (ligeiras a moderadas), e como analgésico antes e após as intervenções cirúrgicas. Tal como os AINEs, e ao contrário dos analgésicos opióides, o paracetamol não provoca euforia ou alterações no humor. Possui a vantagem de ser completamente livre de problemas de dependência, tolerância, abstinência ou efeito depressor sobre a respiração, e pode ser usado por si só ou em combinação com pseudoefedrina, dextrometorfano, clorfeniramina, difenidramina, doxilamina, codeína, hidrocodona ou oxicodona no tratamento da dor. O paracetamol não possui atividade anti-inflamatória clinicamente significativa e por consequência é ineficaz, a não ser como analgésico, no alívio dos sintomas da artrite reumatóide e de outras inflamações. A dose terapêutica convencional depende da via de administração e varia entre 325 a 1000 mg em adultos, administrados por períodos de tempo que variam entre 4-6 horas, até um máximo de 4000 mg por dia. Em crianças, a dose única varia entre 40 a 480 mg até um máximo de 5 doses diárias, dependendo do peso e da idade. ↳ As etapas de transformação do paracetamol no organismo - Farmacocinética O paracetamol é um ácido fraco com um pKa = 9,5, a 25ºC. Em meio alcalino encontra-se extensamente não-ionizado sendo bem absorvido no intestino delgado por difusão passiva. A absorção no estômago é mínima, e por isso, um passo limitante na absorção corresponde ao processo de esvaziamento gástrico do paracetamol para o duodeno. Para além disso, a grande área de absorção do intestino delgado, faz com que a maior quantidade de um fármaco seja, normalmente, absorvida a partir do intestino, em vez do estômago. O paracetamol após ser administrado por via oral atinge imediatamente o estômago e é transferido para o intestino delgado. Antes de atingir a corrente sanguínea, uma porção de paracetamol é metabolizada pelo fígado (F). Subsequentemente é distribuído pelos tecidos do organismo (volume aparente de distribuição; Vd) e sofre eliminação (taxa de eliminação; kel). A taxa de esvaziamento gástrico é três vezes mais lenta do que a taxa de absorção de paracetamol a partir do intestino delgado. ⟶ Absorção Quando administrado na forma de comprimidos (p.o.), o paracetamol é bem absorvido no trato gastrointestinal, a biodisponibilidade varia entre 63 e 89% em comparação com a via intravenosa, e é condicionada por uma depuração pré-sistémica (efeito de primeira passagem) de cerca de 20% da dose oral, que pode justificar a variabilidade da absorção entre pacientes de diferentes idades. A absorção pelo intestino delgado ocorre por transporte passivo. A biodisponibilidade relativa varia de 85% a 98%. Em indivíduos adultos as concentrações plasmáticas máximas ocorrem dentro de 45 minutos a 1 hora. Na forma de xarope o pico de concentração máxima ocorre aproximadamente 30 minutos após a sua administração. Quando o paracetamol é administrado por via retal a sua biodisponibilidade absoluta é consideravelmente mais variável (entre 24% e 98%). Neste caso, a biodisponibilidade é inconsistente e, regra geral, reduzida, devido à dissolução incompleta do supositório no reto. Como não podia deixar de ser, a via de administração intravenosa proporciona um pico de concentração máxima no plasma e no líquido cefalorraquidiano (LCR) mais cedo que as vias oral ou retal. Efeito dos alimentos: embora as concentrações de pico sejam atrasadas quando o paracetamol é administrado com alimentos, a extensão da absorção não é afetada. O paracetamol pode ser administrado independentemente das refeições. ⟶ Distribuição O paracetamol é distribuído de forma relativamente uniforme pela maioria dos tecidos do corpo, com a exceção do tecido adiposo. Uma porção relativamente pequena (10% a 25%) do paracetamol liga-se às proteínas plasmáticas. ⟶ Biotransformação (Metabolismo) O paracetamol é metabolizado principalmente no fígado e envolve três principais vias: conjugação com glucoronídeo, conjugação com sulfato e oxidação através da via enzimática do sistema citocromo P450. A via oxidativa forma um intermediário reativo que é detoxificado por conjugação com glutationa para formar cisteína inerte e metabólitos mercaptopúricos. A principal isoenzima do sistema citocromo P450 envolvida in vivo parece ser a CYP2E1, embora a CYP1A2 e CYP3A4 tenham sido consideradas vias menos importantes com base nos dados microssomais in vitro. Subsequentemente verificou-se que tanto a via CYP1A2 quanto a CYP3A4 apresentam contribuição desprezível in vivo. Em adultos, a maior parte do paracetamol é conjugada com ácido glucorônico e em menor extensão com sulfato. Os metabólitos derivados do glucoronídeo, sulfato e glutationa são desprovidos de atividade biológica. Em recém-nascidos prematuros e a termo, e, em crianças de baixa idade, predomina o conjugado sulfato. Em adultos com disfunção hepática de diferentes graus de intensidade e etiologia, vários estudos sobre metabolismo demonstraram que a biotransformação do paracetamol é semelhante àquela de adultos sadios, mas um pouco mais lenta. A administração diária consecutiva de doses de 4g por dia induz glucoronidação (uma via não tóxica) em adultos sadios e com disfunção hepática, resultando essencialmente em depuração total aumentada do paracetamol no decorrer do tempo e acúmulo plasmático limitado. ⟶ Excreção Em adultos a meia vida de eliminação do paracetamol é cerca de 2 a 3 horas e em crianças é cerca de 1,5 a 3 horas. Ela é aproximadamente uma hora mais longa em recém-nascidos e em pacientes cirróticos. O paracetamol é eliminado do organismo sob a forma de conjugado glucoronídeo (45% a 60%) e conjugado sulfato (25% a 35%), tióis (5% a 10%), como metabólitos de cisteína e mercaptopurato e catecóis (3% a 6%), que são excretados na urina. A depuração renal do paracetamol inalterado é cerca de 3,5% da dose. MECANISMO DE AÇÃO TÓXICO O paracetamol (N-acetil-p-aminofenol ou acetaminofeno) é o analgésico e antipirético mais utilizado na atualidade. O paracetamol é um inibidor selectivo da ciclo-oxigenase e sabe-se que ele tem capacidade analgésica porque é capaz de modular o sistema canabinóide endógeno. Por outro lado, este fármaco tem ação no centro da termoregulação do hipotálamo, pois é capaz de inibir o efeito dos pirogéneos e deste modo atuar no mecanismo da febre. No entanto possui um fraco poder anti- inflamatório. Apesar de ser considerado um fármaco com uma boa margem terapêutica e seguro, o paracetamol é responsável por desencadear, em doses elevadas, Falência Hepática Aguda, devido à sua hepatotoxicidade. Este fenómeno ocorre porque o paracetamol é metabolizadopelas enzimas CYP450, formando um metabolito tóxico. ↳ Farmacocinética O Paracetamol está disponível nas formulações de liberação imediata e prolongada. 7 A absorção da medicação ocorre no trato gastro-intestinal, 2 principalmente no intestino delgado, 3 com biodisponibilidade de 80%. 4 A meiavida é de 2,4-4h, podendo ser prolongada em pacientes com diminuição da função hepática. 2 O pico de concentração sérica após a dose terapêutica ocorre em 30–60 min, entretanto, após uma overdose de fármacos de liberação imediata, o pico ocorre em 4h. ↳ Dose tóxica A dose tóxica é prevista em ingestas agudas (doses cumulativas num período 8h) define-se como dose tóxica a ingesta de 10 g/dia por 2 dias em adultos e 150 mg/dia por 2 dias em crianças. ↳ Mecanismo de toxicidade O efeito tóxico ocorre devido à ação de um metabólito gerado pela CYP2E1 (enzima do citocromo P450), o N- acetil-p-benzoquinoneimina (NAPQI). Em doses terapêuticas, este metabólito é conjugado e detoxificado pela glutationa hepática (antioxidante). Em caso de superdosagem, quando os estoques de glutationa estão depletados, inicia o processo de dano hepático. A quantidade livre de NAPQI se liga rapidamente aos hepatócitos, iniciando o processo de injúria com necrose hepatocelular centrolobular, que pode se seguir por uma resposta inflamatória secundária a partir das células de Kupffer em um segundo estágio, estendendo a zona de lesão hepática. Estão associados à maior hepatotoxicidade: Uso crônico de bebidas alcoólicas; Uso concomitante de medicações que induzam o CYP2E1 como anticonvulsivantes, tuberculostáticos e anti-histamínicos; Alterações genéticas nas isoenzimas do citocromo P450, como ocorrida na Síndrome de Gilbert; Tabagismo. Resumindo: depois de absorvido, por volta de 90% do paracetamol é conjugado a sulfato e glucuronídeo e excretado na urina (uma pequena quantidade é excretada na urina sem sofrer metabolização), e cerca de 5% é metabolizado via citocromo P450 em NAPQI (N-acetil-pbenzoquinoneimina), composto tóxico para as células hepáticas. Porém, esse NAPQI é rapidamente conjugado a glutationa, que é um composto atóxico que é eliminado na urina, por um processo que é chamado de glucuronidação. Em caso de superdosagem, há uma saturação das reações de Glucuronidação, o que conduz a um excesso de NAPQI e, como consequência, um dano hepático. 3. DESCREVER O PROCESSO DE BIOTRANSFORMAÇÃO HEPÁTICA (CITOCROMO P450 - ESTRUTURA BIOMOLECULAR) CLASSIFICAÇÃO DAS ENZIMAS P450 O termo citocromos P450 se refere ao fato de que quando estão reduzidos, o monóxido de carbono (CO) se liga a estas enzimas e produz um espectro de absorção característico que apresentam um pico de aproximadamente 450 nm, ou seja, a designação P450 refere-se ao pigmento com absorbância em 450 nm. Ao se designar os citocromos utiliza-se geralmente escrita arábica após “CYP”. Este número representa a família do citocromo, seguida por uma letra maiúscula que representa a subfamília e um segundo número terminal que se refere à forma individual da enzima com base nas suas sequências diferencias de aminoácidos EFEITO DOS CITOCROMOS P450 SOBRE A ATIVIDADE DOS FÁRMACOS Os citocromos P450 (P450 ou CYP) são uma família de enzimas pertencente ao grupo das hemes-proteína que estão presentes primariamente ancorados na bicamada lipídica do retículo endoplasmático liso dos hepatócitos e que participam da metabolização de drogas, esteroides e carcinógenos. A metabolização de drogas pelos citocromos faz-se mecanisticamente pela inserção de 1 átomo proveniente do oxigênio molecular (monoxigenação) na molécula do fármaco com o objetivo de hidrossolubilizar o composto para facilitar sua excreção. A reação é iniciada quando o substrato se liga ao ferro heme da enzima. Isso leva a uma alteração conformacional na enzima que consequentemente leva a um aumento no potencial de redução permitindo assim que esta seja reduzida pelo recebimento inicial de um elétron em sua molécula. Embora o processo de biotransformação tenha por função facilitar a excreção de compostos lipofílicos, muitas vezes esse processamento traz certos efeitos à molécula referida já que houve uma modificação química na estrutura desta, que podem eventualmente levar a sérias consequências biológicas relevantes, sendo: inativação, ou ativação de drogas, formação de metabólito tóxico, e alterações no padrão de indução de enzimas que podem ter impacto na metabolização de outras drogas. Por conseguinte o fígado é o principal local de biotransformação farmacológica no organismo humano, por conter os principais citocromos processadores de xenobióticos. A atividade dos citocromos P450 referente aos xenobióticos tem por objetivo facilitar a excreção destes compostos pela inserção de um átomo do oxigênio molecular. Para muitos fármacos, a biotransformação ocorre em 2 fases. As reações na fase I englobam a formação de um novo grupo funcional ou modificado ou clivagem (oxidação, redução, hidrólise); já as reações na fase II englobam a conjugação com alguma substância endógena (p. ex., ácido glucurônico, sulfato, glicina). O sistema enzimático mais importante da fase I da biotransformação é o citocromo P-450 (CYP450), que catalisa a oxidação de muitos fármacos. Os elétrons são supridos pela NADPH-CYP450 redutase, uma flavoproteína que transfere elétrons da NADPH (forma reduzida do fosfato de dinucleótido de nicotinamida e adenina) para o citocromo P-450. A glucuronidação, a reação mais comum da fase II, é a única que ocorre no sistema enzimático microssômico hepático. Os glucuronídeos são secretados na bile e eliminados na urina. Assim, a conjugação torna a maioria dos fármacos mais solúvel e facilmente excretada pelos rins. A conjugação com aminoácidos, como glutamina ou glicina, produz conjugados que são prontamente excretados na urina, mas não extensivamente secretados na bile. Com o envelhecimento, a capacidade do fígado para a biotransformação por meio do sistema enzimático do citocromo P-450 reduz-se em ≥ 30%, em virtude da redução de volume e fluxo hepático. Dessa maneira, fármacos biotransformados por esse sistema alcançam níveis mais elevados e possuem meias-vidas prolongadas no idoso. Como os neonatos têm sistemas enzimáticos microssômicos hepáticos parcialmente desenvolvidos, eles também têm dificuldade para biotransformar muitos fármacos. OUTRA REFERENCIA QUE EXPLICA DETALHADAMENTE: INTERFERÊNCIAS NO EFEITO FARMACOLÓGICO MEDIADAS PELAS BIOTRANSFORMAÇÕES DOS CITOCROMOS P450 Os citocromos P450 (P450 ou CYP) são uma família de enzimas pertencente ao grupo das hemes-proteína que estão presentes primariamente ancorados na bicamada lipídica do retículo endoplasmático liso dos hepatócitos e que participam da metabolização de drogas, esteróides e carcinógenos. Por conseguinte o fígado é o principal local de biotransformação farmacológica no organismo humano, por conter os principais citocromos processadores de xenobióticos A função biológica destas enzimas é a de promover a monoxigenação de uma grande variedade de compostos químicos estruturalmente diversos. As moléculas sobre as quais essas enzimas atuam podem ser de origem endógena como ácidos graxos, colesterol e hormônios esteróides, bem como compostos exógenos como drogas, pesticidas, aditivos de alimentos e outros compostos químicos que são inalados, ingeridos ou absorvidos pela camada epidérmica da pele. A atividade dos citocromos P450 referente aos xenobióticos tem por objetivo facilitar a excreção destes compostos pela inserção de um átomo do oxigênio molecular, porém uma conseqüência dessa modificação química é: a) Ativação ou inativação de agentes terapêuticos, b) Conversão de produtos químicos emmoléculas de extrema reatividade que podem formar adulctos em estruturas supramoleculares e (ou) causar danos celulares indesejáveis, c) Indução ou inibição enzimática que altera a metabolização das drogas resultando consequentemente em efeitos adversos bem como a interação droga-droga. A reação geral de oxidação catalisada pelo citocromo P450 pode ser representada conforme o seguinte esquema: Onde, RH representa um substrato oxidável (droga), e ROH é o metabólito hidroxilado, cuja reação final é sempre catalisada por uma enzima P450. O sistema microssomal dos citocromos P450 são metabolizadores de uma ampla variedade de compostos característica- mente lipofílicos, de origem endógena ou exógena. O processamento químico efetuado por essas enzimas envolve hidroxilação de um átomo de carbono de um grupo metil, hidroxilação de um carbono metileno de um hidrocarboneto alcano, hidroxilação de um anel aromático para produzir um fenol, bem como a adição de um átomo de oxigênio em uma ligação dupla para formar um epóxido. Também podem promover reações de desalquilação onde o grupo alquila ligado a átomos de oxigênio, enxofre ou nitrogênio são removidos. Oxidação de átomos de nitrogênio, enxofre e fósforo e desalogenização também são catalisadas por essas formas de enzimas. 4. CARACTERIZAR O PAPEL DA VIGILÂNCIA SANITÁRIA NO CONTROLE DOS MEDICAMENTOS O medicamento tem natureza híbrida, possui benefícios, mas também porta riscos à saúde; é insumo de saúde e, ao mesmo tempo, um bem de consumo no mercado que requer, portanto, regulação sanitária em todas as etapas do seu ciclo produtivo. Assim, cabe ao Estado regular a produção, a comercialização, o transporte, o armazenamento, a dispensação e o uso dos medicamentos para que possam alcançar sua finalidade no sistema de saúde. Ademais, compete ao Estado regular o gerenciamento e a disposição final dos resíduos para proteger a saúde do trabalhador, da população e o meio ambiente. A história dos medicamentos na Saúde Pública é marcada por sucessos e tragédias que estimularam estados nacionais a implementarem sistemas regulatórios fortes, em legislação e estruturas institucionais, além da formulação e implementação de conceitos que signifiquem medidas para a garantia da segurança antes que o medicamento seja entregue ao consumo. Os sistemas regulatórios também devem atuar para proteger a saúde da população de medicamentos ineficazes e desnecessários e promover o uso racional, além de intervir nas estratégias mercadológicas que visam estimular o consumo de medicamentos como bens de consumo comuns. O cerne da regulação sanitária de medicamentos centra-se na qualidade, segurança, eficácia e informação; abrange a formulação de normas e padrões, o processo de registro do produto desde a autorização de ensaios clínicos, o licenciamento de instalações e pessoal, o controle de qualidade das drogas e o monitoramento das reações adversas, a emissão de alertas e o recolhimento de produtos. A informação reporta-se à análise e aprovação de informes e bulas do produto, à regulação da publicidade e promoção do medicamento. O controle sanitário dos medicamentos representa um desafio na atuação dos sistemas regulatórios em todo o mundo. Medicamentos de má qualidade, falsificados e com outras irregularidades são muito frequentes no mercado de consumo e qualquer classe de medicamentos pode ser afetada. Considera-se difícil estimar a quantidade em circulação no mercado e o impacto deste problema para a sociedade, pelas mortes e doenças provocadas, pelo tempo e recursos financeiros com o seu uso. Regulamentação sanitária, promoção do uso racional e garantia da segurança, eficácia e qualidade dos medicamentos são diretrizes da Política Nacional de Medicamentos (MS, 1998). O Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS) – subsistema do Sistema Único de Saúde (SUS) – aciona normativas e tecnologias de controle em todo o ciclo produtivo desses bens, com competências compartilhadas pelas três esferas de gestão. Apesar dos avanços na regulação sanitária, com a criação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 1999, o SNVS ainda é deficiente em capacidade de fiscalização do cumprimento das normas, sobretudo nos serviços públicos, frente aos quais o poder político da vigilância sanitária é ainda mais limitado. Além das normas de vigilância sanitária, o Ministério da Saúde disponibilizou diretrizes para as farmácias do SUS, visando orientar a concepção, estruturação e elaboração do Manual de Boas Práticas Farmacêuticas. Constam referências aos requisitos técnicos e sanitários para o funcionamento do estabelecimento farmacêutico. A importância do farmacêutico na equipe de Vigilância Sanitária: A capacitação dos integrantes da equipe e sua composição multiprofissional são de extrema importância, mas a inserção do farmacêutico na fiscalização é fundamental para a proteção da saúde pública e, até mesmo, do direito fundamental à vida. Somente esse profissional, em razão da sua formação acadêmica e de aspectos relacionados à legislação vigente, possui plena capacidade técnica e legal para aferir eventual risco sanitário relativo à fabricação, manipulação, armazenagem, transporte e distribuição de drogas, medicamentos, insumos farmacêuticos e produtos para a saúde. As áreas fiscalizadas pelo farmacêutico, de forma privativa, em consonância com a legislação vigente, foram recentemente definidas como de alto grau de risco sanitário, pela RDC nº 153 de 27 de abril de 2017, da Anvisa, não sendo possível seu licenciamento sem a prévia fiscalização. Além da capacidade técnica inerente à sua formação, o exercício profissional e as atribuições privativas do farmacêutico, na vigilância sanitária, estão previstos nas Leis Federais n° 13.021/14, e 3.820/1960, e no Decreto Federal nº 85.878/1981, que define como atos de responsabilidade privativa do farmacêutico, “a fiscalização profissional sanitária e técnica de empresas, estabelecimentos, setores, fórmulas, produtos, processos e métodos farmacêuticos ou de natureza farmacêutica” (artigo 1º, inciso III) e “a elaboração de laudos técnicos e a realização de perícias técnico-legais relacionados com atividades, produtos, fórmulas, processos e métodos farmacêuticos ou de natureza farmacêutica”. Ressalta-se que o farmacêutico é o profissional versátil e estratégico na saúde pública, destacando-se na vigilância sanitária, por estar apto a fiscalizar uma vasta diversidade de produtos e serviços, como os abaixo relacionados: Matérias-primas e insumos farmacêuticos Medicamentos industrializados ou manipulados Imunobiológicos Antineoplásicos Radiofármacos Gases medicinais Cosméticos Saneantes Domissanitários Produtos para saúde/ correlatos Fitoterápicos Alimentos Nutrição parenteral e enteral Sangue e hemoderivados Indústria e comércio de alimentos Cosméticos e medicamentos
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