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Psicologia aplicada ao cuidado 1

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PSICOLOGIA APLICADA 
AO CUIDADO
Fernanda Egger Barbosa 
O conceito ampliado 
de saúde
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Traçar um perfil acerca da compreensão do conceito de saúde ao 
longo da história. 
 � Reconhecer o conceito ampliado de saúde da Organização Mundial 
da Saúde alinhado aos modos de viver na contemporaneidade.
 � Problematizar a superação do binômio saúde-doença em meio às 
práticas dos profissionais de saúde.
Introdução
A Organização Mundial de Saúde (OMS) surgiu a partir da declaração de 
sua Constituição, em 1946. Contudo, somente se tornou uma instituição 
física em 7 de abril de 1948, sendo subordinada à Organização das Nações 
Unidas (ONU). A OMS tem como princípio básico repensar o conceito 
de saúde de forma universal, ou seja, a saúde passa a ser definida como 
um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não consiste 
apenas na ausência de doença ou de enfermidade. Para compreender 
o conceito ampliado de saúde, faz-se necessário analisar alguns fatores 
históricos que mudaram as definições e os conceitos de saúde e doença 
no desenvolvimento das sociedades humanas. Além disso, é importante 
conhecer como foi formada a OMS e como foi concebido o Sistema 
Único de Saúde (SUS) no Brasil. Trata-se de um ponto de partida para 
o incremento de políticas públicas em saúde, baseadas nas três princi-
pais esferas de atenção: primária, secundária e terciária, que destacam 
o conceito ampliado de saúde e seus desdobramentos nos modos de 
viver de nossa sociedade.
Neste capítulo, você estudará sobre a evolução do conceito de saúde e 
doença ao longo da história humana. Além disso, conhecerá as iniciativas 
dos profissionais de saúde em sua prática cotidiana. Por fim, verá como 
se deu a superação do binômio saúde-doença proposto na época de 
implementação das políticas públicas da OMS.
1 O conceito de saúde ao longo da história
O que você pensa quando ouve o termo saúde? O que primeiro lhe vem à mente? 
Um indivíduo saudável é aquele que não faz uso de nenhum medicamento e/
ou que dificilmente precisa procurar um profissional e/ou instituição de saúde? 
Provavelmente, sim. Assim, primeiro, faz-se necessário compreender o conceito 
de saúde. Por muito tempo, a saúde foi considerada como uma situação física 
de ausência de doenças para o ser humano, o que tornava esse manejo restrito 
à hegemonia do conhecimento médico sobre as patologias (DUARTE, 1998; 
HELMAN, 2006; POLIGNANO, 2001). 
No entanto, a doença pode ser compreendida como um conceito multi-
paradigmático, pois existem vários tipos de doenças: doenças que provocam 
dor física; aquelas que produzem sofrimento psíquico; aquelas que possuem 
diversos sintomas observáveis; outras, assintomáticas; as que nos impossibi-
litam de exercer atividades diárias; as que podemos lidar em nosso cotidiano, 
no curso de nossas vidas. Assim, entender a saúde tão somente como ausência 
de doença é uma tarefa bastante complexa.
Ao longo da história humana, a doença apresentou-se bastante presente no 
cotidiano das pessoas. Nos primórdios de sua concepção, ela era considerada 
um mal que acometia pessoas ou famílias e comunidades inteiras. Conforme 
Scliar (2007), na Idade das Trevas (período da Idade Média marcado pelo 
predomínio de poder da Igreja Católica, época em que houve o acometimento 
da pandemia da peste negra por toda a Europa), por exemplo, a doença re-
presentava a influência de alguma entidade “maligna” sobre um indivíduo, 
estabelecida pela crença de que este fora afetado por ter cometido um pecado, 
feito um pacto demoníaco ou por culpa, e o tratamento se resumia a uma 
prescrição mágica ou exorcismo.
O conceito ampliado de saúde2
Nesse cenário, em algumas sociedades, pedia-se a interferência de um 
xamã, pajé, curandeiro ou mesmo da figura religiosa de autoridade. Scliar 
(2007, p. 30) descreve os rituais mágicos utilizados contra uma enfermidade:
Assim, a concepção mágico-religiosa partia, e parte, do princípio de que a 
doença resulta da ação de forças alheias ao organismo que neste se introdu-
zem por causa do pecado ou de maldição. Para os antigos hebreus, a doença 
não era necessariamente devida à ação de demônios, ou de maus espíritos, 
mas representava, de qualquer modo, um sinal da cólera divina, diante dos 
pecados humanos. 
Para o autor, a doença acompanha a espécie humana desde o início das 
sociedades. No Egito Antigo, constatou-se, por meio de estudos paleontológi-
cos, que o faraó Ramsés V era acometido por varíola. Na Bíblia, encontram-se 
várias referências aos leprosos, que recebiam tratamentos que misturavam o 
cuidado familiar e a exclusão social. Entre os judeus, existiam medidas para 
a prevenção de doenças, como não deixar que uma pessoa com problemas de 
pele preparasse um alimento. Segundo Scliar (2007), na Antiguidade Clássica, 
eram cultuados deuses que representavam a saúde e a higiene, sendo Hipó-
crates (grego que se acredita ter vivido entre 460–377 a.C.) considerado o pai 
da medicina, referência entre os filósofos antigos que destacavam a mudança 
de um caráter mais racional para a medicina, quebrando com a antigo fazer 
xamânico. No Oriente, a lógica para lidar com questões de saúde era procurar 
o equilíbrio de forças e hábitos, pois estas podiam influenciar no estado de 
saúde e doença de uma pessoa. 
Por volta de 1500, acreditava-se, na Europa, que as doenças eram causadas 
por agentes externos e, além das práticas da alquimia, houve avanços nos estu-
dos de química e sobre a influência desta sobre a medicina. O saber científico 
passou a ser considerado com o avanço da mecânica, na industrialização. 
O homem passou a ser visto como uma máquina, na dualidade cartesiana de 
corpo-mente. Os estudos de anatomia deslocaram a perspectiva de doença 
baseada nos humores, passando a ser determinada a partir dos órgãos enfermos. 
Para a medicina, a doença era descrita como um distúrbio ou um quadro pato-
lógico, de acordo com o conhecimento adquirido na prática. Assim, primeiro, 
insolava-se a enfermidade, para, então, reconhecer seus sintomas, determinar 
as causas e os efeitos e, por fim, prescrever um tratamento já reconhecido 
para ela (SCLIAR, 2007).
3O conceito ampliado de saúde
Scliar (2007) explica, ainda, que, com os revolucionários descobrimentos 
de Pasteur (1822–1895), que trouxe um novo elemento detectado por meio dos 
microscópios, os microrganismos causadores de doenças, e a consequente 
produção de soros e vacinas, a medicina começou a avançar rapidamente. Já 
no século XX, a medicina e a saúde andavam de mãos dadas com a ciência, 
havendo um aumento de interesse na medicina tropical. Esta dava atenção às 
doenças endêmicas e epidêmicas, e a saúde passou a ser contabilizada não 
só quanto às suas características individuais, mas também quanto às sociais. 
Desse modo, a estatística passou a ser uma ferramenta de elaboração de novas 
teorias e controle de endemias.
Após as duas Guerras Mundiais, tornou-se urgente uma conceituação uni-
versal de saúde e a criação de um órgão que regulasse as relações internacionais 
e as medidas das ações públicas no campo da saúde. Assim, após a Segunda 
Guerra Mundial, foram criadas a Organização das Nações Unidas (ONU) e a 
Organização Mundial de Saúde (OMS, 1946). Atualmente, a OMS caracteriza 
a saúde como “uma situação de perfeito bem-estar físico, mental e social”. 
No entanto, diversos estudiosos consideram essa definição ultrapassada, 
visto que parece um tanto utópica, um objetivo que, na prática, é muito difícil 
de ser atingido, principalmente levando em consideração as desvantagens 
socioeconômicas e políticas dos países ainda em desenvolvimento (FARIAS; 
BUCHALLA, 2005; SEGRE; FERRAZ, 1997).
Assim, pode-se afirmar que a definição de saúde passou por um processo 
de conceituação ao longo da história, processo este atrelado a movimentos 
políticos, sociais, educacionais e pragmáticos. Hoje, a saúde é um campo 
multidimensional (i.e.,pode ser vista sob diversos aspectos, principalmente na 
tríade biopsicossocial) e multidisciplinar, pois é descrita, estudada, praticada e 
concebida por várias categorias profissionais, não sendo mais objeto exclusivo 
do saber médico (FARIAS; BUCHALLA, 2005). 
Na atualidade, pensa-se o fenômeno saúde-doença como um processo 
ampliado que envolve aspectos individuais e coletivos, nos âmbitos público 
e privado, levando em consideração a história das sociedades, da formação e 
do desenvolvimento das cidades, a heterogeneidade dos povos, o trabalho, as 
guerras, as viagens, a ecologia e as condições naturais ambientais, as novas 
tecnologias e os modos de estar e se relacionar no mundo. Enfim, falar em 
saúde implica falar do ser humano e de suas diversas esferas de relações com 
o meio em que vive.
O conceito ampliado de saúde4
Breve história da saúde no Brasil
Desde a época do descobrimento do Brasil até o período chamado de Primeiro 
Reinado (1822), a atenção à saúde limitava-se a um repertório leigo, baseado 
nos recursos que a terra tinha a oferecer e em conhecimentos empíricos na 
arte de curar, em que curandeiros utilizavam ervas e plantas. Essas práticas 
foram, aos poucos, substituídas com a chegada da família real, que obrigou a 
implantação de uma organização sanitária mínima à cidade do Rio de Janeiro 
(BARBOSA, 2007).
Até 1850, o controle sanitário ocorria, basicamente, pelo controle de navios 
e da saúde nos portos. Para controlar a epidemia de febre amarela, iniciou-se, 
com a proposta do sanitarista Oswaldo Cruz, uma campanha de erradicação da 
doença. Foram realizadas campanhas de vacinação, e, por isso, esse modelo de 
controle social ficou conhecido como modelo campanhista. Anos mais tarde, 
conforme explica Barbosa (2007), esse modelo foi inovado por Carlos Chagas 
e outros jovens sanitaristas, que introduziram a propaganda de ações de saúde 
e a educação sanitária à população. A proposta era produzir a internalização de 
comportamentos saudáveis e preventivos nos hábitos dos brasileiros mediante 
constantes ações educativas.
A nova Constituição de 1937 instituía uma política social de massa, cen-
tralizando a autoridade na figura do Presidente. O investimento na saúde se 
deu já no fim dos anos 50, com a criação do Ministério de Educação e Saúde 
Pública, que fazia a fiscalização de produtos utilizados na agricultura, na 
higiene e no trabalho (já em nível de segurança).
Polignano (2001, p. 11) explica a crescente pressão por assistência médica 
no território brasileiro: “[...] a partir, principalmente, da segunda metade da 
década de 50, com o maior desenvolvimento industrial, com a consequente 
aceleração da urbanização, e o assalariamento de parcelas crescentes da po-
pulação, [...] ocorre maior pressão pela assistência médica via institutos [...]”. 
Assim, como mencionado, com o fim da Segunda Guerra Mundial, surgiu a 
urgência entre vários países do mundo de se criar um órgão que gerenciasse 
e concentrasse ações em saúde, a fim de alcançar uma definição oficial de 
saúde em um sistema internacional. Assim, em 1948, subordinada à ONU, 
é criada a OMS, e o Brasil, por ser um país tropical, berço de diversas endemias, 
teve um papel fundamental na sua constituição. Com o período da ditadura 
militar (1964–1985), houve, no Brasil, o fortalecimento do poder executivo e do 
5O conceito ampliado de saúde
desenvolvimento nacional movido a capital estrangeiro. À época, dois órgãos 
de gerenciamento da saúde foram criados, o Instituto Nacional de Previdência 
Social (INPS) e o Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência 
Social (Inamps) (órgãos nacionais de previdência social e de assistência à 
saúde), e o modelo de saúde priorizado era o da medicina curativa.
A diminuição do investimento estrangeiro afetou o ritmo de crescimento 
econômico, e, em 1975, o modelo desenvolvimentista da ditadura militar 
entrou em crise. A população brasileira passou a conviver com o desemprego, 
a marginalidade, o aumento da favelização e a mortalidade infantil. A insatis-
fação com a administração, os escândalos de desvios de verbas dos sistemas 
previdenciários e a falta de investimento em saúde coletiva levou a população 
à descrença nas ações de saúde, acarretando uma crise no Brasil. Assim, o 
período que se segue ao fim da ditadura militar foi marcado por tentativas de 
avanço e alguns retrocessos na área de saúde, e mudanças efetivas no campo 
da saúde pública no Brasil ocorreram apenas com a concepção e a entrada 
em vigor da nova Constituição Federal de 1988. 
A Constituição Federal defende que a saúde é um direito de todos (BRASIL, 
1988). Dessa forma, torna-se um dever do Estado assegurar o acesso à saúde 
a toda a população. Em conformidade com essa perspectiva, foram criadas 
políticas públicas, sociais e econômicas com o objetivo de reduzir o risco de 
doenças e agravos e garantir o acesso universal e igualitário às ações e aos 
serviços de promoção, proteção e recuperação da saúde de forma integral, 
culminando com a regulamentação do Sistema Único de Saúde (SUS) (BRA-
SIL, 1990). O SUS foi definido a partir de três diretrizes básicas:
 � Descentralização: das ações de saúde com direção única em cada uma 
das esferas de governo (Federal, Estadual, Municipal).
 � Atendimento integral: com prioridade em atividades preventivas, sem 
prejuízo das atividades assistenciais.
 � Participação da comunidade: criação de fóruns para detectar neces-
sidades de investimento nas principais demandas locais.
A criação do SUS e a participação do Brasil nos fóruns de saúde em níveis 
mundiais trouxeram, efetivamente, um ganho político-social, porém os inte-
resses hegemônicos do mercado acabaram dificultando a efetivação de uma 
prática plena nos princípios da noção ampliada de saúde proposta pela OMS 
desde a sua implementação até os dias atuais.
O conceito ampliado de saúde6
Ao longo da história da saúde no Brasil e no mundo, muitos modelos de assistência 
foram ultrapassados e substituídos, mas o modelo biomédico prevaleceu por muitos 
anos e ainda obtém a hegemonia nas pesquisas e nas práticas de saúde nos dias 
atuais. Esse modelo rompeu com a concepção da Idade Média, com base nos avanços 
mecanicistas do século XIX, nas concepções do mundo e do homem, propostas por 
Galileu, Newton e Descartes, e no desenvolvimento de novas tecnologias e disciplinas. 
A partir de então, o homem passa a ser pensado como uma máquina e estudado 
em partes, e a doença e sua cura passam a ser os alicerces da concepção de saúde. 
Contudo, em relação ao modelo anterior, o modelo biomédico perde o caráter holístico. 
Embora, em seguida, tenha sido proposto o modelo biopsicossocial como um conceito 
ampliado de saúde, o modelo biomédico jamais foi ultrapassado.
2 Conceito ampliado de saúde na 
contemporaneidade
A OMS, em sua Constituição, caracteriza a saúde como uma situação de 
perfeito bem-estar físico, mental e social. Essa organização contou com a 
participação de diversos países na sua concepção, principalmente o Brasil, e 
influenciou, com suas diretrizes, a criação e a implementação do SUS no País. 
Conforme visto, a OMS surgiu de uma perspectiva mundial de se descrever 
um conceito universal oficial de saúde que ajudasse a maximizar as prioridades 
para manter uma população ou nação saudável em todas as partes do mundo. 
Subordinada à ONU, a OMS foi criada em 7 de abril de 1948, tendo como 
principal objetivo a realização da saúde para todas (OMS, 1946).
Leia, a seguir, um segmento de texto da Constituição da OMS:
Os Estados Membros desta Constituição declaram, em conformidade com a 
Carta das Nações Unidas, que os seguintes princípios são basilares para a feli-
cidade dos povos, para as suas relações harmoniosas e para a sua segurança; A 
saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não consiste 
apenas na ausência de doença ou de enfermidade. Gozar do melhor estado de 
saúde que é possível atingir constitui um dos direitos fundamentais de todo oser humano, sem distinção de raça, de religião, de credo político, de condição 
econômica ou social. A saúde de todos os povos é essencial para conseguir 
a paz e a segurança e depende da mais estreita cooperação dos indivíduos 
e dos Estados. Os resultados conseguidos por cada Estado na promoção e 
proteção da saúde são de valor para todos. O desigual desenvolvimento em 
7O conceito ampliado de saúde
diferentes países no que respeita à promoção de saúde e combate às doenças, 
especialmente contagiosas, constitui um perigo comum. O desenvolvimento 
saudável da criança é de importância basilar; a aptidão para viver harmonio-
samente num meio variável é essencial a tal desenvolvimento. A extensão 
a todos os povos dos benefícios dos conhecimentos médicos, psicológicos 
e afins é essencial para atingir o mais elevado grau de saúde. Uma opinião 
pública esclarecida e uma cooperação ativa da parte do público são de uma 
importância capital para o melhoramento da saúde dos povos. Os Governos 
têm responsabilidade pela saúde dos seus povos, a qual só pode ser assumida 
pelo estabelecimento de medidas sanitárias e sociais adequadas. Aceitando 
estes princípios com o fim de cooperar entre si e com os outros para promover 
e proteger a saúde de todos os povos, as partes contratantes concordam com a 
presente Constituição e estabelecem a Organização Mundial da Saúde como 
um organismo especializado, nos termos do artigo 57 da Carta das Nações 
Unidas (OMS, 1946, documento on-line).
Para saber mais sobre a Constituição da OMS, seus princípios, bases, diretrizes e fun-
cionamento, você pode digitar “Constituição da Organização Mundial da Saúde (OMS/
WHO)” no seu mecanismo de busca para ler o documento na íntegra.
A OMS é composta por Estados-Membros, que nomeiam delegações para 
a Assembleia Mundial de Saúde, que se constitui como um corpo de comis-
sários que tem poder supremo de decisões e promove reuniões anuais no mês 
de maio. Essa assembleia elege os 34 membros da direção executiva, com 
duração de 3 anos de mandato, que devem ser tecnicamente qualificados na 
área de saúde, para executarem as decisões tomadas. A OMS se sustenta com 
contribuições dos Estados-Membros, mas existem parcerias com instituições 
não governamentais e indústrias farmacêuticas, que excedem as contribui-
ções realizadas pelos Estados-Membros. Cada Estado-Membro precisa ficar 
responsável por elaborar anualmente um relatório sobre as medidas de saúde 
tomadas e os progressos de melhoria da saúde da população e apresentá-lo à 
OMS (OMS, 1946).
Além da definição de saúde como um processo que articula o binômio 
saúde-doença, a definição ampliada leva em consideração o que preconizou a 
OMS como completo bem-estar biopsicossocial. Na 8ª Conferência Nacional 
de Saúde, em 1986, foi definido o conceito ampliado de saúde, que inclui bens 
e direitos humanos, como alimentação, habitação, educação, renda, meio 
O conceito ampliado de saúde8
ambiente, trabalho e emprego, lazer, transporte, liberdade, acesso à posse de 
terra e a serviços, como condições básicas e necessárias para garantir a saúde 
de uma população.
O conceito ampliado de saúde da OMS foi muito importante para a composi-
ção de novas formas de políticas públicas em países ainda pouco desenvolvidos, 
como o Brasil, pois inseriu campos importantes, como os da psicologia e da 
sociologia, na rede pública de saúde, influenciando a concepção do ser humano 
não apenas como indivíduo, mas também como sujeito social, privilegiando, 
assim, a subjetividade e a cidadania. 
A criação das diretrizes do SUS, por sua vez, principalmente o princípio de 
integralidade, foi baseada nessa concepção mais ampla da saúde. Segundo o 
Ministério de Saúde (MS) do Brasil, o SUS é um dos maiores e mais complexos 
sistemas de saúde pública no mundo, visto que abrange desde atendimentos 
simplificados, como avaliação da pressão arterial e da glicemia, até os mais 
complexos, como tratamentos de câncer e transplantes de órgãos. Além disso, 
garante o acesso integral, universal e gratuito de toda a população à saúde. 
Portanto, oferta aos brasileiros o acesso integral à saúde, buscando a qualidade 
de vida, a prevenção, a promoção, o tratamento e a reabilitação. 
O SUS foi criado a partir dos princípios da nova Constituição Federal de 
1988, e são duas as principais leis que o regulamentam: a Lei nº 8.080/90 e 
a Lei nº 8.142/90, sendo que a primeira cria e define os princípios básicos do 
SUS e a segunda dispõe, principalmente, sobre a participação da comunidade 
no SUS (BRASIL, 1988, 1990a, 1990b). A estrutura do SUS é composta por: 
MS, Secretarias Estaduais (SES) e Municipais (SMS), Conselhos de Saúde, 
Comissões Tripartite (CIT) e Bipartite (CIB) e Conselhos, como Conselho 
Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Conselho Nacional de Secretarias 
Municipais de Saúde (Conasems) e Conselho das Secretarias Municipais de 
Saúde (Cosems) (BRASIL, 1990a, 1990b). 
O SUS possui três princípios básicos: universalização, equidade e inte-
gralidade. Segundo Barbosa (2007) e o MS (BRASIL, 2020), esses princípios 
são definidos da seguinte forma:
 � Universalidade: o direito à saúde é universal, é um direito de cidadania 
e garantido pelo Estado; o acesso aos serviços de saúde é para todas as 
pessoas, sem distinção, sendo inaceitável qualquer tipo de preconceito.
 � Equidade: apesar de os direitos serem iguais para todas as pessoas, 
elas não são iguais, e o SUS deve dar atenção, principalmente, àqueles 
que possuem maior carência. Segundo o MS, o objetivo da equidade é 
diminuir as desigualdades.
9O conceito ampliado de saúde
 � Integralidade: esse princípio pressupõe a pessoa como um todo, com 
múltiplas necessidades. Nesse sentido, as ações em saúde têm de ser 
integradas, por isso precisam ser pensadas em, pelo menos, três di-
mensões, como preconizou a OMS, considerando o sujeito um ser 
biopsicossocial. Pressupõe-se a integração da saúde com as demais 
políticas públicas. As ações em saúde pensadas quanto a um direito 
integral consideram a promoção da saúde, a prevenção de doenças e 
agravos à saúde, o tratamento e a reabilitação a uma vida saudável, 
com qualidade de vida.
Com base em uma das suas diretrizes básicas, a descentralização, bali-
zada pela concepção de que o Governo Federal e os estados e municípios têm 
poder e responsabilidades iguais sobre as pesquisas e ações de saúde, o SUS 
se organiza de forma hierárquica e regionalizada (BRASIL, 1990a). Nessa 
concepção, não existe o poder concentrado em uma única pessoa ou instituição. 
Assim, o Governo Federal deve garantir condições técnicas e financeiras para 
que os municípios desempenhem suas capacidades administrativas de forma 
autônoma e soberana nas decisões e práticas em prol da saúde, desde que 
respeitem os princípios gerais da OMS e do SUS, bem como a participação 
da comunidade.
A participação popular é outra das principais diretrizes do SUS, e as uni-
dades básicas de saúde (UBS) devem incentivar a participação da comunidade 
nos conselhos e conferências de saúde, nos fóruns e nas atividades locais que 
visem a formular estratégias, para o controle e a avaliação da execução de 
políticas e ações de saúde (BARBOSA, 2007; BRASIL, 1990a, 1990b).
A promoção da saúde é o grande tópico no que diz respeito a novas con-
cepções e práticas em saúde pública no Brasil e no mundo. O SUS também 
está organizado em polos e unidades de assistência, no caso de uma doença 
já estar instalada e necessitar de tratamento ou reabilitação. As unidades de 
saúde são divididas de acordo com três graus de complexidade: primário, 
secundário e terciário (BRASIL, 1990a).
No nível primário, são encontrados atendimentos e procedimentos básicos, 
como nos postos de saúde ou programas de saúde da família, onde costumam 
se concentrar a maioria das ações de promoção, principalmente as educativas 
e que busquem a participação comunitária. No setor secundário, são atendidas 
basicamente situações de urgência e emergência, como nas UPAse emergências 
de hospitais. Por fim, o terceiro nível abrange uma complexidade maior de 
especificidade de saberes e técnicas, instrumentos e aparelhagem avançados 
e cirurgias. São os casos, por exemplo, dos hospitais de referência. 
O conceito ampliado de saúde10
O conceito ampliado de saúde e sua 
operacionalização na contemporaneidade
Atualmente, as pessoas no mundo todo estão sujeitas a constantes informa-
ções a respeito de novos produtos e tecnologia de ponta que visam a facilitar 
a vida cotidiana, seja na sua esfera privada, seja em sociedade, modificando 
relações pessoais, de consumo, de aprendizado e de saúde. Esses avanços 
trazem sempre benefícios e prejuízos, como o constante descarte de lixo de 
tecnologias ultrapassadas, ocasionando problemas ambientais, problemas de 
postura, ergonômicos, problemas de concentração e de saúde.
A busca pelo bem-estar biopsicossocial preconizado pela OMS e sua ope-
racionalização no cotidiano do trabalho dos profissionais de saúde não é uma 
tarefa fácil. A Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde (OMS, 1986) 
estabeleceu uma série de princípios éticos e políticos, definindo os campos 
de ação de promoção da saúde. Acima de tudo, a promoção da saúde é um 
processo de capacitação da comunidade para melhorar a sua qualidade de vida 
e da sua comunidade por meio da participação nos programas (OMS, 1946).
O mesmo documento (OMS, 1986) destaca que, para se obter esse estado 
de bem-estar coletivo, uma nação ou estado tem de fornecer à população 
recursos indispensáveis, como: paz, renda, habitação, alimentação adequada, 
ambiente saudável, situação econômica, social e cultural favorável, prevenção 
de problemas de saúde e acesso à informação. No entanto, o Brasil é um país 
com severas e múltiplas desigualdades sociais. Desse modo, na prática, a 
concretização do que preconiza a Constituição Federal de 1988 — de que a 
saúde é um direito de todos e um dever do Estado — está ainda longe de ser 
alcançada, a não ser por movimentos pontuais, que, na maioria das vezes, 
fazem alguma diferença.
Nesse sentido, torna-se imprescindível a superação do modelo biomédico 
e a valorização e a superação do modelo biopsicossocial, promovendo a efe-
tivação de ações cotidianas que valorizem a reorganização técnica, política 
e administrativa das unidades de saúde, preparando-as, e aos seus profissio-
nais, para pensar e acolher o sujeito em suas necessidades básicas, visando 
à melhoria da qualidade de vida e, consequentemente, do bem-estar. Nesse 
aspecto, há de se reconhecer, no trabalho cotidiano, se realmente a população 
tem acesso a bens e serviços de educação, trabalho, transporte, lazer, entre 
outros, descritos na VIII Conferência.
11O conceito ampliado de saúde
Segundo alguns pesquisadores, como Batistella (2007), o reforço da ação 
comunitária e a reciclagem do conhecimento técnico dos profissionais que 
atuam no campo da saúde são fundamentais para as ações nos moldes do 
conceito ampliado de saúde. Além disso, podem servir como ferramentas para 
ações de prevenção de doenças e agravos, construindo parâmetros saudáveis 
dentro de suas comunidades, além de promoverem melhores condições de 
tratamento e qualidade de atendimento na atenção básica, nos postos de saúde 
e nos núcleos de saúde da família. Portanto, a população precisa conhecer e 
se apropriar de seus direitos.
A “Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde” traz informações para que você conheça 
seus direitos na hora de procurar atendimento de saúde. Ela reúne os seis princípios 
básicos de cidadania que asseguram ao brasileiro o ingresso digno nos sistemas de 
saúde, seja ele público ou privado:
 � Todo cidadão tem direito ao acesso ordenado e organizado aos sistemas de saúde.
 � Todo cidadão tem direito a tratamento adequado e efetivo para seu problema.
 � Todo cidadão tem direito a atendimento humanizado, acolhedor e livre de qualquer 
discriminação.
 � Todo cidadão tem direito a atendimento que respeite a sua pessoa, seus valores 
e seus direitos.
 � Todo cidadão tem responsabilidades para que seu tratamento aconteça da forma 
adequada.
 � Todo cidadão tem direito ao comprometimento dos gestores da saúde para que 
os princípios anteriores sejam cumpridos.
Fonte: Brasil (2019).
3 Promoção da saúde: desafios dos 
profissionais de saúde frente ao 
cotidiano de seus trabalhos
Segundo o MS, a promoção da saúde consiste em um conjunto de estratégias 
e formas de produzir saúde, no âmbito individual e coletivo, visando a atender 
às necessidades sociais de saúde e à melhoria da qualidade de vida.
O conceito ampliado de saúde12
O informe sobre saúde apresentado pela OMS em 2002 apontava para um 
risco mundial de consumo pelo excesso ou pela escassez, com riscos ambientais 
e de saneamento pela produção industrial, propiciados por comportamentos 
inseguros (BRASIL, 2002). No caso do Brasil, era necessário tomar decisões 
efetivas para o enfrentamento das questões de saneamento.
Segundo o MS (BRASIL, 2002), o Brasil é um país em desenvolvimento 
que convive com problemas de possuir um território extenso e muito diver-
sificado, com grandes desigualdades sociais, determinadas historicamente. 
Essa extrema diversidade duplica e influencia a carga de doença, cenário que 
configura a complexidade dos desafios em saúde no País.
Estatisticamente, em nível social, a saúde dos cidadãos é medida pelas taxas 
de morbidade (que descrevem a frequência com que ocorre uma doença em 
determinado período de tempo) e pelas taxas de mortalidade (que caracterizam 
o número de mortos daquele período). Contudo, individualmente, esse fator 
toma proporções menos quantitativas e mais qualitativas, pois baseia-se no 
depoimento de cada pessoa sobre como ela se sente, como ela descreve seu 
estado de bem-estar e suas capacidades de realizar atividades diárias.
No documento do MS (BRASIL, 2002), novas contextualizações dos 
problemas que o SUS enfrenta para ser implementado de forma mais ampla 
e efetiva na sociedade brasileira foram explicitadas, como o fato de que, nos 
seus princípios orientadores, ele ainda resiste no modelo de atenção primária, 
fortemente fundamentado na biomedicina, o que acaba influenciando os dados 
epidemiológicos de problemas de saúde no País. Nesse sentido, a promoção da 
saúde se apresenta como uma possibilidade concreta de mudança, tanto para 
fortalecer quanto para fundamentar a consolidação da saúde.
Hoje, vive-se esse grande dilema no campo da saúde, o que acaba impedindo 
o avanço na proposta de saúde pública do SUS e no que recomenda a OMS. 
Na prática, os profissionais de saúde estão cheios de ideologias, oriundas da 
sua formação, porém, quando chegam nas unidades de saúde para exercer 
suas práticas profissionais, acabam se decepcionando com a falta de recursos 
e condições de trabalho e com o fato de terem de lidar dentro dos princípios 
de cidadania e humanização do atendimento de forma ética.
13O conceito ampliado de saúde
Relatórios mais atuais demonstram novas tendências e entraves no en-
frentamento das práticas dos profissionais de saúde em relação ao conceito 
ampliado de saúde nas unidades do SUS. O Conass publicou uma proposta 
para a efetivação da promoção da saúde como política pública no Brasil. Em 
documento publicado na internet em 2016, o Conselho destacou que o objetivo 
geral da promoção da saúde é a qualidade de vida e a redução de fragilidades 
e riscos à saúde. Segue a descrição das medidas a serem adotadas (CONASS, 
2016):
1. Concentrar os esforços políticos e técnicos, os recursos e o trabalho 
criativo para o enfrentamento dos problemas de saúde mais relevantes, 
traduzidos pelos índices de mortalidade e potencial de morbidade (hi-
pertensão arterial e outras doenças cardiovasculares, diabetes melito, 
acidentes e violências).
2. Adotar medidas formais que instituam em todos os níveis de governo 
mecanismos claros e definidos de articulação intersetorial, com capaci-
dade de ação sobre os determinantes sociais da saúde esobre os fatores 
que influenciam diretamente o nível de saúde e bem-estar da população.
3. Estabelecer medidas intersetoriais, no plano dos marcos legais, sobre 
os fatores que interferem diretamente sobre as diferentes manifestações 
da violência (homicídios, agressões interpessoais, suicídios e acidentes 
de trânsito, com especial atenção para o aumento exponencial daqueles 
que envolvem motocicletas).
4. Aprofundar as medidas de controle sobre a indústria alimentícia, a 
exemplo do que já está em curso com a redução dos níveis de sal nos 
produtos de panificação, regulamentando com maior rigor e precisão 
os níveis de sal, açúcar e gordura dos alimentos industrializados.
5. Aperfeiçoar as medidas de desestímulo ao consumo excessivo de 
álcool, integrando as ações intersetoriais e estabelecendo objetivos 
claros e bem-definidos, inclusive quanto ao calendário para sua efetiva 
implementação.
6. Promover a equidade desde o início da vida por meio da oferta de um 
conjunto amplo de políticas, programas e serviços para a promoção 
do desenvolvimento na primeira infância. Agregar aos programas de 
sobrevivência infantil componentes de promoção do desenvolvimento 
socioemocional, cognitivo e da linguagem.
O conceito ampliado de saúde14
7. Buscar meios financeiros e organizacionais para apoiar a estruturação 
e o funcionamento de núcleos de promoção da saúde nos estados e 
municípios, com a formação de grupos técnicos com conhecimentos, 
habilidades e competências para efetivar a articulação intrassetorial e 
intersetorial.
8. Integrar efetivamente as ações de grupos técnicos à estrutura da atenção 
primária à saúde (equipes de saúde da família, núcleos de apoio à saúde 
da família [NASF]), promovendo a articulação intra e intersetorial, 
com a comunicação social direcionada à promoção da saúde para os 
diferentes atores (gestores, profissionais de saúde, comunidade).
9. Promover, de modo integrado entre as três esferas de governo, ações que 
estimulem e apoiem a prática regular da atividade física, formulando 
propostas conjuntas, alocando recursos específicos e integrando ações 
intra e intersetoriais, notadamente aquelas relacionadas à mobilidade 
urbana e à segurança. Estimular a implantação do autocuidado apoiado 
no âmbito da atenção primária à saúde, principalmente no trabalho das 
equipes de saúde da família.
10. Estabelecer, no âmbito do SUS, uma metodologia de avaliação perma-
nente sobre as ações estabelecidas, com clareza quanto à periodicidade 
e ao método de aferição de resultados e correção de rumos.
O site da ONU no Brasil informou que o último relatório da OMS, de 2019, definiu 
10 prioridades de saúde. Entre os problemas mencionados, estão poluição do ar, 
pandemias e atenção básica da saúde.
Fonte: Nações Unidas (2019).
Apesar dos vários avanços alcançados desde a concepção do SUS até os 
dias atuais, ainda há um longo caminho que os profissionais de saúde devem 
percorrer para alinhar as suas práticas aos moldes do conceito ampliado de 
saúde do SUS e superar o tratamento das questões de saúde apenas sobre a 
ótica de um binômio saúde-doença. Batistella (2007) conceitua bem esses 
entraves e sua multiplicidade de fatores de clivagem quando afirma que, por 
um lado, é preciso compreender os determinantes sociais do processo saúde-
15O conceito ampliado de saúde
-doença, evitando, assim, a individualização e a fragmentação com base no 
modelo biologicista; e, por outro, os profissionais de saúde devem ter atenção 
para que não haja uma normatização dos corpos baseados numa lei biossocial 
que prescreve estilos de vida e comportamentos mediante normas culturais e 
particulares, visto que a saúde, em sua multiplicidade de aspectos, não pode ser 
redutível a uma de suas dimensões. Daí a importância de uma leitura baseada 
em um trabalho interdisciplinar em saúde-doença-cuidado para a população. 
O autor defende, ainda, uma mudança paradigmática na operacionalização 
da promoção da saúde para evitar incorrer a uma prática reducionista ou 
cristalizadora, uma prática generalizante modeladora de comportamentos 
saudáveis, por meio de ações que busquem a participação da comunidade: 
Mais do que médicos, enfermeiros, técnicos, agentes e demais trabalhadores 
da saúde, serão incorporados ambientalistas, engenheiros, advogados, antro-
pólogos, artistas, jornalistas, garis, e a própria população envolvida direta ou 
indiretamente na produção e/ou na solução do problema [...] (BATISTELLA, 
2007, p. 81). 
Batistella (2007) também afirma que o objetivo da ação em saúde é a 
qualificação do tradicional cuidado preventivo-curativo em relação às doenças 
infecciosas e não infecciosas, expandindo-a para a compreensão de danos, 
riscos, necessidades e determinantes das condições de vida, saúde e trabalho. Às 
vezes, os problemas são ambientais, como ausência de saneamento, ou sociais, 
como a deficiência da escola, a violência entre os jovens e a indisponibilidade 
de áreas de lazer e de acesso à cultura (transporte, moradia, etc.). 
Nas práticas, segundo o autor, é preciso contar com uma dimensão comu-
nicativa, estabelecendo vínculos sociais com a comunidade, “[...] visando à 
troca de saberes populares e científicos, ao fortalecimento técnico e ao ama-
durecimento político a partir do reconhecimento da história, dos problemas 
e das próprias potencialidades do território [...]” (BATISTELLA, 2007, p. 81). 
O autor ainda aponta para o planejamento participativo como ferramenta para 
viabilizar esse encontro, identificando e definindo prioridades nas propostas 
de intervenção e a capacidade de mobilização dessas ações.
Batistella (2007) indica uma ferramenta que considera mais efetiva nas 
ações atuais do SUS para as atividades que o profissional de saúde deve 
buscar no seu cotidiano de trabalho, como os diagnósticos participativos e 
interdisciplinares, favorecendo encontros entre a população e os serviços de 
saúde, pois, assim, serão definidas práticas mais efetivas para a qualidade de 
vida e a saúde.
O conceito ampliado de saúde16
Portanto, o profissional de saúde precisa estar seguro de sua formação 
técnica e ética e, ao mesmo tempo, compreender que, na prática, infinitas 
e múltiplas possibilidades e situações irão surgir, de modo que não deve se 
desesperar com elas, mas sim aproveitá-las para construir sua própria forma 
de trabalho, tendo como base o que recomenda o SUS e a OMS.
Um movimento importante para o atendimento das demandas nas uni-
dades de saúde respeitando direitos, subjetividades e cidadanias é chamado 
de humanização. O conceito de humanização está voltado para as ações de 
assistência à saúde, de forma integral, no tratamento de doenças e agravos. 
Assim, a humanização torna-se uma importante ferramenta para a prática 
profissional.
Segundo Goulart e Chiari (2010), a Política Nacional de Humanização 
(PNH) apontou, em 2004, algumas marcas que precisam ser atingidas no 
atendimento resolutivo e acolhedor, a fim de combater a despersonalização 
dos usuários de saúde e garantir seus direitos, além da educação permanente 
dos profissionais e da participação nos modos de gestão.
A humanização também avalia e valoriza o grau máximo de satisfação do 
usuário, institucionalmente mensurado na qualidade dos serviços de saúde. 
Bueno, Agostinho e Carvalho (2007) apontam para os entraves à qualidade do 
atendimento, que levaram as políticas a valorizar o trabalho de humanização. 
Segundo os autores, apesar dos grandes avanços ocorridos desde então, no 
que se refere aos seus princípios norteadores e à descentralização da atenção e 
da gestão, grandes desafios ainda são enfrentados, como os listados a seguir:
 � Fragmentação do processo de trabalho e das relações entre os diferentes 
profissionais.
 � Precária interação das equipes e despreparo para lidar com a dimensão 
subjetiva nas práticas de atenção.
 � Sistema burocrático e verticalizado.
 � Baixo investimento na qualificação dos trabalhadores, principalmente 
no que se refere à gestão participativae ao trabalho em equipe; poucos 
dispositivos de fomento à cogestão e à valorização e à inclusão de 
gestores, trabalhadores e usuários no processo de produção de saúde.
 � Desrespeito aos direitos dos usuários.
 � Desvalorização dos trabalhadores de saúde.
17O conceito ampliado de saúde
Goulart e Chiari (2010) apontam que uma das formas de combater esses 
entraves é propor estratégias de atenção para a implementação da humaniza-
ção como uma política transversal sustentada pelo Estado. A humanização, 
como política transversal, supõe enfrentar e atravessar fronteiras às vezes 
rígidas nos núcleos de saber/poder na produção da saúde. Uma das práticas 
mais fundamentais em termos de humanização do atendimento em saúde é 
o chamado acolhimento.
Segundo o MS (BRASIL, 2010), acolher, entre outros significados (dar 
acolhida, aceitar, dar crédito, agasalhar, receber), é uma forma eficaz de apro-
ximação e inclusão do usuário de saúde. Assim, o acolhimento é considerado 
uma das diretrizes de maior relevância ética, estética e política da PNH do 
SUS, na qual a ética se traduz por compromisso com o reconhecimento do 
outro e acolhimento de suas diferenças e seu modo de viver. Ela é estética 
nas relações, nos encontros, com estratégias que contribuam para a dignidade 
da vida humana, e política enquanto compromisso coletivo no “estar com” o 
usuário, potencializando seu protagonismo nesses encontros.
Contudo, não se deve considerar o acolhimento como oferecimento de um 
simples espaço de atendimento confortável ou repasse de encaminhamento 
de serviços especializados, pois essas ações são importantes, mas não devem 
ser isoladas de outras que realmente trazem benefícios à saúde da população 
e à satisfação do usuário. Segundo o MS (BRASIL, 2010), a proposta de 
acolhimento deve estar articulada com outras propostas de mudança nos 
processos de trabalho e nas gestões dos serviços de saúde, como a ambiência, 
um programa de formação em saúde do trabalhador e demais ações coletivas, 
recursos importantes no processo de humanização dos serviços de saúde.
O texto do MS de 2010 traz um exemplo importante de como o acolhimento 
e a humanização do atendimento produzem resultados na prática:
Uma postura acolhedora implica estar atento e poroso às diversidades cultural, 
racial e étnica. Vejamos aqui o caso de uma usuária indígena que Cartilha da 
PNH 22 Acolhimento nas Práticas de Produção de Saúde dá entrada numa 
unidade de saúde e, após o atendimento e a realização do diagnóstico, é 
indicada para ela uma cirurgia (laparoscopia) urgente, a ser realizada pelo 
umbigo. Após a comunicação do procedimento indicado, a usuária se recusa 
a realizar o procedimento, dizendo que ela não pode deixar que mexam no 
seu umbigo, pois (segundo a sua concepção, herança de sua cultura) este é a 
fonte de onde brota a vida. Se assim o fizesse, infortúnios diversos poderiam 
recair sobre ela, conforme acredita. Diante da recusa e frente à urgência para 
a realização do procedimento, a equipe entra em contato com o cacique ou 
a liderança política do grupo e, juntos, decidem que a usuária seria levada 
para uma unidade mais perto de sua aldeia. Decidem também que, antes do 
O conceito ampliado de saúde18
procedimento, o pajé ou a liderança religiosa realizaria um ritual ou proce-
dimento cultural direcionado à preservação de sua integridade, de acordo 
com o ponto de vista da concepção de saúde da própria sociedade e cultura. 
Isso foi realizado e acolhido pela equipe, que posteriormente teve sucesso na 
realização da cirurgia (BRASIL, 2010, documento on-line).
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