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Direito Administrativo I Ruan Silva Rabelo Monitor Poderes Administrativos Quando falamos em poderes administrativos, trata-se, logicamente, de poderes que a administração pública detém para alcançar o interesse público. Esses poderes são exercidos quando ela (a administração pública) estiver no desempenho de sua função administrativa. Conforme aprendemos em Direito Constitucional, cada Poder Estatal possui suas funções típicas e atípicas. Para relembrarmos, vejamos o quadro abaixo: Poder Função Típica Função Atípica Executivo Administrar Legislar e Julgar Legislativo Legislar e Fiscalizar Julgar e Administrar Judiciário Julgar Legislar e Administrar Percebam que, apesar de ser o Poder Executivo que irá, na prática, exercer os poderes administrativos com uma maior incidência, os poderes administrativos não são exercidos exclusivamente pelo Poder Executivo, pois eles estão presentes em todas as divisões do Poder Estatal, seja de forma típica ou atípica. Portanto, os poderes administrativos estão presentes em todas as esferas e poderes da divisão política administrativa adotada pelo vigente ordenamento jurídico. Feita esta breve introdução, vamos, agora, entrar nas classificações dos poderes administrativos. Observação: Antes de mais nada, é imperioso ressaltar que há doutrinadores que classificam os poderes administrativos em 6 (seis), quais sejam: poder vinculado, discricionário, de polícia, regulamentar/normativo, hierárquico e disciplinar. Direito Administrativo I Ruan Silva Rabelo Monitor Eu, Ruan, não gosto muito dessa divisão. Particularmente entendo que os poderes administrativos só são 4 (quatro), que são: Poder de Polícia, regulamentar/normativo, hierárquico e disciplinar, haja vista que a discricionariedade e a vinculação estão embutidas neles. O professor entende que são 6 (seis) os poderes existentes, portanto, levem o entendimento dele para a prova. Poder Vinculado Trata-se de um poder que o administrador da coisa pública tem que ele DEVE ser exercido sem margem de escolha, ou seja, deve praticar determinado ato nos exatos termos da lei. O ato que minimamente possua algum desvio dos requisitos legais será nulo. Exemplo: quando vamos “tirar” nossa CNH, nós passamos por uma série de etapas e somo submetidos a alguns testes teóricos e práticos, além de, claro, pagarmos as devidas taxas. Ao fazermos o exame final, no caso de aprovação, o Poder Público não pode se negar a entregar a minha carteira de motorista, haja vista que eu cumpri com todos os requisitos legais. O administrador, nesse caso, não tem escolha a não ser emitir o meu documento (ou seja, está vinculado), caso haja negativa, o ato será nulo. Poder Discricionário A discricionariedade (ou mérito administrativo), por sua vez, presente na prática de um ato administrativo se refere à liberdade, conveniência e oportunidade dada pelo legislador ao administrador público para, diante de uma situação, agir de uma forma o de outra, mas sempre visando atingir o interesse público. Exemplo: o art. 130 da 8.112 prevê que o prazo para a suspenção é de ATÉ 90 dias. Vejamos: Art. 130. A suspensão será aplicada em caso de reincidência das faltas punidas com advertência e de violação das demais proibições que não tipifiquem infração sujeita a penalidade de demissão, não podendo exceder de 90 (noventa) dias. Classificações Direito Administrativo I Ruan Silva Rabelo Monitor É claro e evidente que o legislador, nesse caso, deu uma certa margem de escolha para o administrador. Veja que o administrador, diante do caso concreto, pode aplicar uma suspenção por ATÉ noventa dias. Ela pode ser 5, 10, 25, 76 dias, enfim, qualquer quantidade dentro do limite estabelecido pelo legislador (mas, claro, deve-se observar a proporcionalidade, pois discricionariedade não significa arbitrariedade). Assim: Poder Hierárquico O Poder Hierárquico é quase intuitivo, pois seu nome já nos dar a ideia da sua principal característica, qual seja, a hierarquia. Trata-se, pois, de um poder interno que estrutura e organiza internamente a administração pública. A hierarquia, no estudo do Direito Administrativo, significa o poder da Administração de proferir ordens aos seus subordinados. Importante ressaltar que esta hierarquia está presente não só na relação entre a administração pública e seus subordinados, mas também entre os órgãos públicos. Temos que lembrar, ainda, que o Poder Hierárquico tem aplicação interna. Guarde isso, pois essa característica o diferencia do Poder de Polícia. Poder Vinculado sem margem de esolha Discricionário o administrador possui uma certa liberdade conveniência mérito administrativo oportunidade Direito Administrativo I Ruan Silva Rabelo Monitor Observação: Os Órgãos públicos são objeto de outro momento de estudo, que não interfere no tópico de poderes administrativos. Pois bem, com base nesse poder, nós temos algumas decorrências, vejamos: O chefe pode dar ordens aos seus subordinados A administração pública pode fiscalizar os seus subordinados. O administrador público pode rever os atos, sejam eles da própria autoridade, sejam de seus subordinados. Pode haver a Delegação/avocação de competências Resumindo, o Poder Hierárquico se refere a como a administração pública vai se organizar e se disciplinar para dividir suas atribuições e prestar os serviços, tudo no âmbito interno. Poder Disciplinar Este poder se origina do Poder Hierárquico e permite o administrador público APLICAR SANÇÕES aos servidores (advertência, suspenção, demissão), como também aos particulares com vínculo. Muito cuidado, não é qualquer particular, são apenas aos particulares com vínculo jurídico com a administração pública, como, por exemplo, os que possuem um contrato administrativo. Em que pese o Poder Disciplinar ser oriundo do Poder Hierárquico, ambos não se confundem. No primeiro, a administração pública controla o desempenho de funções e a conduta de seus servidores, disciplinando-os eventualmente pelas faltas cometidas. Já o segundo se refere a como a administração escalona e distribui suas funções no âmbito interno. Direito Administrativo I Ruan Silva Rabelo Monitor Imaginemos a situação em que um particular vença um processo de licitação promovido pela administração pública e descumpre com as cláusulas contratuais. O administrador, nesse caso, pode aplicar algumas sanções previstas na legislação. A aplicação dessa sanção decorre diretamente do poder disciplinar. Importante: A aplicação de penalidades é decorrência direta/imediata do poder disciplinar, e indireta/mediata do Poder Hierárquico. A aplicação de sanções NÃO se origina do Poder Hierárquico. Esquematizando: Sanção Percebamos, portanto, que as sanções aplicadas aos servidores ou aos particulares com vínculo decorrem DIRETAMENTE do Poder Disciplinar, o qual, por sua vez, é oriundo do Poder Hierárquico. Poder de Polícia Trata-se do poder que a administração pública tem de criar condições e restrições à forma pela qual o particular em geral irá utilizar os seus bens, exercer seus direitos e executar as suas atividades, sem, contudo, incidir sobre os próprios indivíduos, tudo visando proteger o interesse público. Curiosidade: Encontramos a previsão legal para o Poder de Polícia no art. 78 do Código Tributário Nacional, in verbis: Art. 78. Considera-se Poder de Polícia atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade,regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes Poder Hierárquico (Indireto/mediato) Poder Disciplinar (direto/mediato) Servidor/particular com vínculo Direito Administrativo I Ruan Silva Rabelo Monitor de concessão ou autorização do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos. O Poder de Polícia possui natureza tanto preventiva como repressiva, sendo esta última acionada quando há o descumprimento de uma ordem a ser observada. Temos, também, que o Poder de Polícia é uma decorrência do poder extroverso/de império, pois, em algumas situações, a administração pública age com superioridade em face dos particulares. Por conta disso, exite uma divisão deste poder, que é: o Poder de Polícia originário, o qual é exercido pelos entes federados (União, Estados, Distrito Federal e Municípios) e o Poder de Polícia delegado. Para quem o Poder de Polícia pode ser delegado? Aqui, temos uma informação de grande relevância. Antigamente, o Poder de Polícia somente poderia ser delegado a pessoas jurídicas de direito público, ou seja, para Autarquias. No entanto, algumas fases do Poder de Polícia poderiam ser delegadas para pessoas jurídicas de direito privado, tais como a fase de consentimento e fiscalização (calma, vamos ver a seguir as fases do Poder de Polícia). Para ficar mais elucidativo: imaginemos o radar de trânsito. O Poder Público contrata empresas para elas realizarem a fiscalização das velocidades dos veículos nas estradas, no entanto, quem aplica a sanção não é a empresa contratada, ela está ali somente fiscalizando, quem efetivamente impõe uma sanção ao infrator é o Poder Público. Ocorre que, em 2020, o Supremo Tribunal Federal proferiu uma decisão no sentido de que, além das fases de consentimento e de fiscalização, a fase de APLICAÇÃO DE SANÇÃO também poderia ser delegada a pessoas jurídicas de direito privado, desde que cumpridos alguns requisitos. Vejamos: É constitucional a delegação do poder de polícia, por meio de lei, a pessoas jurídicas de direito privado integrantes da Administração Pública indireta de capital social majoritariamente público que prestem exclusivamente serviço público de atuação própria do Estado e em regime não concorrencial. STF. Plenário. RE 633782/MG, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 23/10/2020 (Repercussão Geral – Tema 532) (Info 996). Direito Administrativo I Ruan Silva Rabelo Monitor Portanto, os requisitos elencados pelo STF para haver a delegação da fase de sanção do Poder de Polícia a pessoas jurídicas de direito privado são: Deve ser feita por meio de lei. O capital social tem que ser majoritariamente público. Deve prestar serviços exclusivamente de serviço público de atuação própria do Estado; E deve atuar em regime não concorrencial. Formas que isso pode ser cobrado: 1) O Poder de Polícia pode ser delegado (Forma genérica). R: CORRETO. Pois a questão não especificou se é para pessoa jurídica de direito público ou privado. 2) Certos atos do Poder de Polícia, como atos de consentimento, fiscalização e de sanção, podem ser delegados à Pessoa Jurídica de direito privado. R: CORRETO. Pois especificou qual fase pode ser delegada. 3) O poder de polícia pode ser delegado à pessoa jurídica de direito privado. R: ERRADO. A questão não especificou qual fase do Poder de Polícia que pode ser delegado. Fases do Poder de Polícia 1) Fase de ordem: trata-se da criação da ordem normativa, ou seja, da lei. Essa fase sempre existe; 2) Fase de consentimento: é a anuência prévia da administração. Em certos casos, para que o particular exerça determinas atividades é preciso pedir a administração pública. Isso ocorre por meio de licenças e autorizações. Tal fase pode ser delegada para pessoas jurídicas de direito privado, inclusive para particulares, mas nem sempre existe; Direito Administrativo I Ruan Silva Rabelo Monitor 3) Fase de fiscalização: ocorre quando se verifica o cumprimento das normas constantes na ordem de polícia ou no consentimento de polícia. Pode ser delegada para pessoas jurídicas de direito privado, inclusive para particulares e sempre existe; 4) Fase de sanção: caracteriza-se pela aptidão que o ato de polícia possui de criar unilateralmente uma obrigação a ser adimplida pelo seu destinatário, mas nem sempre existe. Essa parte da delegação do Poder de Polícia eu julgo a mais complicadinha de entender, então vamos organizar o raciocínio: Quando falamos em Poder de Polícia, devemos ter em mente as quatro fases citadas acima, pois são elas que materializam, na prática, este poder. Atributos do Poder de Polícia Discricionariedade A característica de ser discricionário não significa arbitrariedade, por óbvio. A discricionariedade está limitada aos limites impostos pela lei. Esta característica está intrinsecamente ligada às fases de fiscalização e à gradação das penalidades. Autoexecutoriedade A administração pública pode executar diretamente suas decisões, inclusive com o uso da força, sem precisar de intervenção judicial. Exemplos: a interdição de um estabelecimento, a apreensão de mercadorias irregulares, a demolição de uma obra irregular etc. Observação: As quatro fases podem ser delegadas? SIM, mas somente para pessoas jurídicas de direito público (Autarquias). O Poder de Polícia (que compreende as quatro fases) pode ser delegado para pessoa jurídica de direito privado? NÃO, somente as fases de consentimento, fiscalização e sanção. Direito Administrativo I Ruan Silva Rabelo Monitor Há exceções. Nem todos os atos é auto executório. Um exemplo clássico é a multa, pois não é concebível imaginarmos a situação do Estado “arrancando” dinheiro do bolso do particular. Deve-se, nesse caso, usar dos meios executórios cabíveis. Coercibilidade As regras do Poder de Polícia refletem uma imposição unilateral do estado. Aqui, é o famoso “você não tem querer”, que escutávamos na nossa tenra infância. A administração pública para praticar um ato não precisa da anuência do particular, haja vista que o Poder de Polícia é justamente um reflexo do poder extroverso/de império do Estado (convenhamos que se não fosse assim não funcionária). Até aqui estamos falando muito em Poder de Polícia, mas será que essa polícia é a que imaginamos (confissão: quando eu estudei esse assunto pela primeira vez, eu achava que era tipo a polícia militar, civil etc.)? Diferenças básicas entre Polícia Administrativa e Polícia Judiciária Polícia Administrativa 1) Está relacionada a ilícitos de ordem administrativa; 2) Possui caráter eminentemente preventiva; 3) Não incide sobre o próprio indivíduo; 4) É exercida por vários órgãos (PRF/PM/Vigilância Sanitária/Receita Federal etc). Polícia Judiciária 1) Ilícitos de ordem penal 2) Eminentemente repressiva 3) Incide sobre o próprio indivíduo 4) É exercida somente pela Polícia Federal e Civil Poder Regulamentar É o poder que a administração pública tem para produzir atos normativos, os quais tem o objetivo de regulamentar/complementar a lei para a sua fiel execução por meio de atos normativos (decretos, portarias, resoluções etc.). Direito Administrativo I Ruan Silva Rabelo Monitor Trata-se, portanto, da utilização desse poder para que a lei possa ser fielmente executada, visto que, às vezes, o legislador edita uma norma cheia de falhas,com dubiedades e, em face disso, precisa-se dessa regulamentação para sua fiel execução. Um adendo: este poder tem natureza jurídica de um ato normativo secundário, visto que o administrador não pode alterar, extinguir ou criar direitos e obrigações não previstos na lei em que está sendo feita a regulamentação. É apenas uma complementação, não podem haver inovações no ordenamento jurídico. Aqui, há a inciência da famigerada Pirâmide de Kelsen, vejamos: Atos normativos são, como vemos, normas de caráter secundário – não podem inovar. Quem inova é a lei (que tem natureza primária). Esses atos normativos apenas complementam/regulamentam, não irão criar situações novas. Apenas vão pegar algo que a lei inovou e irão regulamentar/complementar. Abuso de poder Primeiramente, deve-se ressaltar que não iremos tratar de abuso de autoridade, que é regido por uma lei própria e que estudamos em Direito Penal. Nosso estudo aqui é o aspecto administrativo. Eventualmente, pode ser que a conduta do agente possa configurar abuso de poder e de autoridade, mas não necessariamente. Quando estivermos diante de um ato ilegal, esse ato está eivado de ilegalidade. A consequência jurídica da prática de um ato ilegal é a sua anulação. Constituição Federal - normas gerais Leis/Medidas Provisórias - ato normativo originário (podem inovar) Atos normativos – caráter secundário – não pode inovar Direito Administrativo I Ruan Silva Rabelo Monitor O abuso de poder pode ser praticado em três modalidades, que são: 1) Excesso de poder: É quando o agente público pratica um ato que é atribuição de outra pessoas ou extrapola suas próprias atribuições. Aqui, o vício se encontra no elemento competência 2) Desvio de poder: Diferentemente do que fora visto acima, no desvio de poder o agente público pratica o ato dentro de suas atribuições, no entanto, com finalidade diversa do interesse público ou da prevista em lei (pratica o ato para se vingar de alguém, como, por exemplo, mandar a professora de matemática para o distrito mais longe de Sobral). Aqui, o vício está na finalidade. 3) Por omissão: É o mais fácil de entender. Basicamente, o agente público tem o dever de praticar determinado ato e simplesmente resolver não o praticar, e essa omissão prejudica o administrado de alguma forma. Essa parte também acho complicadinha, pois é muito fácil de confundir. Portanto, segue um macete que me ajuda muito a resolver as questões: O abuso de poder desdobra-se em: ➥ Excesso de Poder: O agente público age fora da sua competência; ➥ Desvio de Poder: O agente público é competência, mas age fora da finalidade; o vício de finalidade é insanável, sendo OBRIGATÓRIA a anulação do ato. ➥Omissão ------------------------------------------------------------------ Palavras chave de cada poder: Hierárquico subordinados Disciplinar sanção servidor / particular com vínculo MNEMÔNICA CEP - Competência - Excesso Poder FDP - Finalidade - Desvio Poder Direito Administrativo I Ruan Silva Rabelo Monitor Polícia particulares em geral Regulamentar fiel execução à lei Encerramos o tópico Poderes Administrativos, espero que tenham entendido. Qualquer dúvida, estou à disposição. Ruan Silva Rabelo Monitor 2022.
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