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Teoria Geral do Direito Professora Me. Letícia Carla Baptista Rosa Diretor Geral Gilmar de Oliveira Diretor de Ensino e Pós-graduação Daniel de Lima Diretor Administrativo Eduardo Santini Coordenador NEAD - Núcleo de Educação a Distância Jorge Van Dal Coordenador do Núcleo de Pesquisa Victor Biazon Secretário Acadêmico Tiago Pereira da Silva Projeto Gráfico e Editoração André Oliveira Vaz Revisão Textual Kauê Berto Web Designer Thiago Azenha UNIFATECIE Unidade 1 Rua Getúlio Vargas, 333, Centro, Paranavaí-PR (44) 3045 9898 UNIFATECIE Unidade 2 Rua Candido Berthier Fortes, 2177, Centro Paranavaí-PR (44) 3045 9898 UNIFATECIE Unidade 3 Rua Pernambuco, 1.169, Centro, Paranavaí-PR (44) 3045 9898 UNIFATECIE Unidade 4 BR-376 , km 102, Saída para Nova Londrina Paranavaí-PR (44) 3045 9898 www.fatecie.edu.br As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site ShutterStock FICHA CATALOGRÁFICA FACULDADE DE TECNOLOGIA E CIÊNCIAS DO NORTE DO PARANÁ. Núcleo de Educação a Distância; ROSA, Letícia Carla Baptista. Teoria Geral do Direito. Letícia. Carla Baptista Rosa. Paranavaí - PR.: Fatecie, 2020. 89 p. Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Zineide Pereira dos Santos. AUTORA Profa. Me. Letícia Carla Baptista Rosa • Advogada. • Graduada em Direito pelo Centro Universitário Cesumar - UNICESUMAR (2006). • Pós-graduada em Direito e Processo Penal pela Universidade Estadual de Londrina (2009). • Mestre em Ciências Jurídicas pelo Centro Universitário Cesumar - UNICESUMAR (2013). • Doutoranda em Função Social do Direito pela Faculdade Autônoma de Direito de São Paulo. • Professora do curso de graduação em Direito e Coordenadora do Curso de graduação em Direito da UNIFATECIE - Faculdade de Tecnologia e Ciência do Norte do Paraná. • Coordenadora dos Cursos de Pós-graduação em Direito e professora dos cursos em Gestão Financeira e Secretariado Executivo (EAD) do Centro Universitário Cesumar - UNICESUMAR. • Professora do curso de graduação em Direito e Coordenadora do Curso de graduação em Direito da UNIFATECIE - Faculdade de Tecnologia e Ciência do Norte do Paraná. • Professora do curso de graduação em Direito da UNIFCV - Centro Universitário Cidade Verde. • Professora do Curso de Pós-graduação em Direito Civil, Processo Civil e Direito do Trabalho, do Curso de Pós-graduação em Direito Penal e do Curso de Pós-graduação em de Direito Público do Centro Universitário Cesumar – UNICESUMAR. • Professora dos cursos de Pós-graduação do curso de Pós-graduação lato sensu em Direito de Família e de Conciliação, Mediação e Arbitragem e do curso de Pós-graduação em Direito Penal e Processo Penal da Universidade Paranaense - UNIPAR, Umuarama- Pr. • Vice-presidente do Núcleo regional de Maringá do IBDFAM. • Membro da Comissão de Direito das Famílias da OAB, subseção de Maringá. • Conciliadora e mediadora judicial com formação pelo Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos - NUPEMEC, em parceria com o Conselho Nacional de Justiça - CNJ. http://lattes.cnpq.br/4850355058538339 APRESENTAÇÃO DO MATERIAL Seja muito bem-vindo(a)! Prezado(a) aluno(a), se você se interessou pelos temas que vamos tratar nessa disciplina isso já é o início de uma grande jornada que trilharemos juntos a partir de agora. A partir de agora proponho, junto com você construir nosso conhecimento sobre os conceitos fundamentais do Direito, principalmente no que tange à Teoria Geral do Direito. Nessa disciplina vamos conhecer seus principais institutos e definições, bem como, explorar as mais diversas aplicações do desenvolvimento da teoria na prática jurídica. Na unidade I começaremos a nossa jornada pelos conceitos e definições do Direito, seus campos de estudo e um breve histórico e diferenças do Direito Positivo e do Direito Natural, Direito Subjetivo e do Direito Objetivo, realizando também de uma forma didática a dicotomia do Direito Público e do Direito Privado. Na unidade II passaremos a estudar as Fontes do Direito apresentando seus conceitos, classificações e espécies, abrangendo onde poderão ser aplicadas na prática jurídica. Já na unidade III vamos ampliar nossos estudos, tratando do Direito enquanto sistema jurídico, apresentando a diferença entre as normas jurídicas, as normas éticas e as normas morais. Posteriormente estudaremos especificamente sobre as normas jurídicas, sua classificação, validade, vigência e eficácia. Por fim, na unidade IV continuaremos nossos estudos sobre a norma jurídica, aprendendo como poderemos interpretá-las por meio da hermenêutica jurídica, apresen- tando as espécies de interpretações. Ademais, para finalizar nosso estudo sobre as normas jurídicas, estudaremos suas lacunas e antinomias e as formas de solucioná-las. Aproveito para reforçar o convite a você, para junto conosco percorrer esta jornada de conhecimento e multiplicar os conhecimentos sobre tantos assuntos abordados em nosso material. Esperamos contribuir para seu crescimento pessoal e profissional. Muito obrigado e bom estudo! SUMÁRIO UNIDADE I ...................................................................................................... 6 Conceito de Direito UNIDADE II ................................................................................................... 31 Fontes do Direito UNIDADE III .................................................................................................. 52 Sistema Jurídico UNIDADE IV .................................................................................................. 70 Hermenêutica Jurídica 6 UNIDADE I Conceito de Direito Professora Mestre Letícia Carla Baptista Rosa Plano de Estudo: 1.1 Direito Natural e Direito Positivo; 1.2 Direito Subjetivo e Direito Objetivo; 1.2.1Classificação dos Direitos Subjetivos; 1.2.1.1 Direitos Subjetivos Privado; 1.2.1.2 Direitos Absolutos e Relativos; 1.2.1.3 Direitos Transmissíveis e Não Transmissíveis; 1.2.1.4 Direitos Principais e Acessórios; 1.2.1.5 Direitos Renunciáveis e Não Renunciáveis; 1.2.2 Classificação do Direito Objetivo; 1.3 Dicotomia do Direito Público e Direito Privado; 1.4 Ramos do Direito Público; 1.5 Ramos do Direito Privado; 1.6 Ramos do Direito Difuso e Coletivo Objetivos da Aprendizagem • Conceituar e contextualizar as definições do Direito • Compreender sobre os campos do direito natural; direito positivo e os ramos do direito público e privado • Estabelecer a importância de cada elemento do direito abordado. 7UNIDADE I Conceito de Direito INTRODUÇÃO O mundo do Direito tem tamanha amplitude e tão largos horizontes que infinitas são as suas vias de acesso. Por tal motivo, o estudo da disciplina jurídica que discorre acerca da Teoria Geral do Direito deve ser profundo, requer dedicação e atenção. As disciplinas epistemológicas, que não tratam do teor normativo das leis, mas de suas categorias fundantes, devem ser a prioridade nos primeiros períodos. O acadêmico pode até, paralelamente, acompanhar o andamento de processos, engajando-se em algum escritório de advocacia, mas não deve ignorar os estudos de embasamento. A assimilação de práticas concretas, sem essa preparação, pode gerar vícios insanáveis. A implementação do jurista de amanhã se faz mediante muita dedicação. A leitura em geral, especialmente na área de ciências humanas, se revela da maior importância. É primordial que o espírito se mantenha inquieto, movido pela curiosidade científica, pela vontade de conhecer a organização social e política, na qual se insere o Direito. Quando se questiona “o que é direito?”, espera-se de imediato uma única resposta, no entanto, mesmo depois de séculos de espera, de hipóteses, teses e princípios, não foi possível definir em um mero conceito um significado tão extenso. Melhor seria perguntar “quais os possíveis significados da palavra direito?”, para o que seriam dadas várias respostas que nada mais são que interpretaçõespossíveis sobre o mesmo fenômeno. Dentre essas várias respostas, serão aqui tratadas o conceito do direito natural e do direito positivo. O direito subjetivo e suas várias vertentes, bem como o direito objetivo e suas classificações. A dicotomia entre o direito privado e o direito público, e iremos estudar sobre os ramos do direito difuso e coletivo. Entre os inúmeros conceitos que serão expostos, no final dessa apostila você também poderá conferir o material complementar que abordará temas atuais e relevantes do direito contemporâneo. 8UNIDADE I Conceito de Direito 1. CONCEITO DE DIREITO Não se pode indicar com simplicidade “o que é direito”, mas podemos reunir um valioso material preliminar, distinguindo quatro significados diferentes do termo (NADER, 2014): 1. Direito é o justo, aquilo que cada pessoa deve fazer ou deixar de fazer em uma sociedade bem ordenada e justa. Esse significado está relacionado diretamente com o termo latino directum, que significa reto, ou seja, bem direcionado, correto, como quando usamos a expressão: “fiz tudo direito”. 2. Direito é aquilo que alguém pode fazer exercendo uma faculdade, por exemplo: direito de votar, exigindo com isso uma prestação: o direito do vendedor de receber o preço da mercadoria vendida, ou o direito por uma omissão: exigir que o vizinho deixe de incomodar quando escuta música alta após a meia- noite. Essas podem ser definições do direito subjetivo, que será abordado mais profundamente em seguida. 3. Direito é o estudo das normas jurídicas, o desígnio do conjunto de disciplinas jurídicas denominado pela comunidade acadêmica, como ciências jurídicas. 4. Direito é o conjunto de normas que objetivam regulamentar o comportamento das pessoas na sociedade. São normas editadas pelas autoridades competentes, para prever casos de violação, bem como a imposição de penalidades caso seja descumprida a ordem jurídica. 9UNIDADE I Conceito de Direito O direito pode ser dividido conforme esteja simplesmente prescrito pelo legislador, ou conforme esteja estabelecido nos preceitos da natureza racional humana. Como um ramo da ciência humana, a Ciência do Direito tem como essência de pesquisa o homem em todas as suas particularidades valorativas de personalidade. Do mesmo modo que não se pode compreender uma ciência humana que exclui do seu âmbito de pesquisa o ser humano, é inadmissível pensar o mesmo de uma Ciência do Direito que não tenha o mesmo fundamento e o centro de suas atenções, o próprio homem (NADER, 2014). Segundo Hans Kelsen (1938), o Direito é uma ordem de conduta humana, ou seja, é um conjunto de normas. O filósofo entende que o Direito possui uma espécie de unidade, que forma um sistema. Em suas próprias palavras, Kelsen formula o seu conceito inicial: “O Direito é uma ordem normativa da conduta humana, ou seja, um sistema de normas que regulam o comportamento humano.” Uma ordem advém de um sistema de normas cuja unidade é constituída pelo fato de todas elas terem o mesmo fundamento de validade. Nesse sentido, pode-se afirmar inicialmente que, na visão kelseniana, o Direito, ou a Ordem Jurídica, é um sistema de normas jurídicas positivas o que significa que são normas transcritas, ou seja, um ordenamento jurídico positivo que detém de um único fundamento de validade. A condição existencial do homem é colocada como princípio de investigação. A Ciência do Direito deve, portanto, respeitar o homem na sua plenitude, ou seja, respeitar a sua dignidade e os limites estabelecidos e reconhecidos universalmente como seus: a vida, a saúde, a honra, a intimidade, a educação, a liberdade, são bens essenciais e indisponíveis que, em conjunto com bens sociais como a verdade, o bem comum e a justiça, são norteadores dos estudos da Ciência do Direito (MAZZILLI, 2015). A Ciência do Direito, investiga as condutas que visam os deveres jurídicos, isto é, as normas jurídicas das sociedades. Estas prescrevem aos indivíduos certas regras de conduta que devem ser obedecidas. Contudo, nessas simples observações, oculta-se uma enormidade de questões que precisam ser ponderadas. Podemos tomar como exemplo, um simples e corriqueiro problema, visto a partir de uma lei escrita, como por exemplo, uma norma jurídica que disciplina o trânsito (NADER, 2014). A ordem que corresponde ao motorista o “dever de parar”, é o sinal de luz vermelha. Essa ordem é um “dever-ser” jurídico, pois aponta o que a norma jurídica pretende que seja. Esse comando é direcionado especificamente aos indivíduos que estão conduzindo um veículo automotor, ou seja, os motoristas. Quando diante de um sinal vermelho a ordem é cumprida, ocorre um fato que se ajusta ao conteúdo da norma, a norma jurídica é 10UNIDADE I Conceito de Direito vivenciada como um acontecimento no mundo do “ser”, dos fatos. Já quando o motorista desobedece à norma, não parando seu automóvel e ultrapassando o sinal, há uma violação do comando e ao mesmo tempo outro tipo de “ser”, que é um fato sancionado pela norma jurídica (BOLESINA; REIS, 2015). A violação é consequentemente um fato, e um acontecimento no mundo do ser. O sistema jurídico, em suma são condutas que ditam as regras, mas também, é a conduta negativa ou não querida, isto é, o direito é também ao infrator, a sanção que pune a desobediência da norma. No caso do sinal vermelho, há uma multa imposta ao transgressor. Não que o Direito queira primordialmente aplicar a multa, mas a sanção faz parte da estrutura da norma para que esta seja cumprida, e não para que seja violada (AYRES, 2006). Mas para conceituar o que é o direito não basta apenas sintetizar o seu significado genérico, é preciso compreender as concepções principiológicas, e as diversas categorias que subdividem o entendimento doutrinário, conforme veremos a seguir. 1.1 DIREITO NATURAL E DIREITO POSITIVO Quando ouvimos falar em Direito, podemos associar o termo ao Direito Natural ou ao Direito Positivo, que constituem duas ordens distintas, mas que possuem recíproca concordância. O Direito Natural revela ao legislador os princípios fundamentais de proteção ao homem, que forçosamente deverão ser consagrados pela legislação, a fim de que se obtenha um ordenamento jurídico substancialmente justo (MAZZILLI, 2015). O Direito Natural não é escrito, não é criado pela sociedade, tão pouco formulado pelo Estado. Como o seu próprio adjetivo natural sinaliza, é um Direito espontâneo, que se origina da própria natureza social do homem, revelado pela união da experiência e razão (MAZZILLI, 2015). É formado por conjuntos de princípios de caráter universal, e não de regras, é eterno e imutável. Podemos tomar como exemplos maiores o direito à vida e à liberdade. Em contato com as realidades concretas, esses princípios são desdobrados pelo legislador, mediante normas jurídicas, que devem adaptar-se ao momento histórico de cada sociedade (ANDRADE, 1983). Já o positivismo é o direito institucionalizado pelo Estado, ou seja, uma ordem jurídica obrigatória em determinado lugar e tempo. Apesar de imprópria, a expressão Direito Positivo foi usada para efeito de distinção com o Direito Natural. Logo, se não houvesse este não haveria razão para aquele adjetivo. As normas costumeiras, que se manifestam pela 11UNIDADE I Conceito de Direito oralidade, constituem também Direito Positivo. As diversas formas de expressão jurídica, admitidas pelo sistema adotado pelo Estado, configuram o Direito Positivo (MAZZILLI, 2015). Assim, pode-se afirmar que, na antiga Roma, a doutrina de alguns jurisconsultos, como Ulpiano, Papiniano, Modestino, Gaio e Paulo, constituía parte do Direito Positivo daquele povo, pois condicionava as decisões prolatadas pelos orientadores. Alguns autores entendem que separando a positividade da vigência, admite-se como Direito Positivo não somente as normas em vigor como também as que organizaram a vida no passado ejá se encontram revogadas (MAZZILLI, 2015). No entanto, tais conceitos configuram noções distintas, positividade e vigência são interdependentes. Direito, por definição, é conjunto normativo que ordena o convívio social, portanto o Direito que perdeu a vigência não se impõe mais às relações interindividuais, deixando de ser Direito para ser apenas história do Direito (BOLESINA, 2015). Mesmo quando se opera a ultratividade da lei, que em síntese, é o poder que a lei possui de ser aplicada, após a sua revogação sobre um fato produzido sob a sua vigência, se tratando de determinadas matérias, não se deve entender que o Direito Positivo prescinde da vigência (NADER, 2014). As normas que se aplicam já não estão vigentes, mas estiveram em vigor à época em que o fato jurídico se realizou, nele permanecendo ligadas por todo o tempo sem se destacar. Tais normas, que perdem a generalidade, transformando-se em individualizadas, se assemelham às normas de um contrato (NADER, 2014). O entendimento aqui exposto é confirmado pelo jurista português Antunes Varela (1945, p. 11): “Por direito positivo devemos entender o conjunto de normas jurídicas vigentes em determinada sociedade.” Portanto, entende-se que no positivismo, a lei tem destaque total, e advém da necessidade de afastar a abertura do sistema jurídico aos valores jusnaturais, vez que muitas atrocidades eram legitimadas em nome do Direito Natural. Buscou-se segurança jurídica e objetividade do sistema. 1.2 DIREITO SUBJETIVO E DIREITO OBJETIVO O Direito vigente pode ser analisado sob dois ângulos diferentes: objetivo ou subjetivo que não são duas realidades distintas, mas dois lados de um mesmo objeto. Isso quer dizer que, entre ambos os conceitos, não há uma antítese ou oposição. Do ponto de vista objetivo, o Direito é norma de organização social (NADER, 2014). 12UNIDADE I Conceito de Direito É o chamado Jus norma agendi. Quando se afirma que o Direito do Trabalho não é formalista, emprega-se o vocábulo Direito em sentido objetivo, como referência às normas que organizam as relações de emprego. O direito subjetivo corresponde às possibilidades ou poderes de agir, que a ordem jurídica garante a alguém. Equivale à antiga colocação romana, hoje superada, do Jus facultas agendi (NADER, 2014). O direito subjetivo é um direito personalizado, em que a norma, perdendo o seu caráter teórico, projeta-se na relação jurídica concreta, para permitir uma conduta ou estabelecer consequências jurídicas. Quando dizemos que “fulano tem direito à indenização”, afirmamos que ele possui direito subjetivo. É a partir do conhecimento do Direito objetivo que deduzimos os direitos subjetivos de cada parte dentro de uma relação jurídica (NADER, 2014). Pode-se entender que, o direito subjetivo é a prerrogativa colocada pelo direito objetivo à disposição do sujeito do direito. É a possibilidade de uso e exercício efetivo do direito, posto à disposição do sujeito. Assim, o direito subjetivo é tanto o efetivo exercício do direito objetivo quanto a potencialidade do exercício desse mesmo direito. Por exemplo, a lei do Inquilinato, que regula o despejo do inquilino por falta de pagamento, faz nascer para o proprietário-locador o direito subjetivo de pleitear o despejo do inquilino (NADER, 2014). Esse direito subjetivo, que é o direito de propor ação para despejar o inquilino, é posto à disposição do locador como uma prerrogativa, ou como dito anteriormente, uma faculdade. Em outras palavras, o locador não tem a obrigação de ingressar com ação de despejo contra o inquilino, ele terá a escolha que dependerá somente dele, ou seja, um direito subjetivo seu, e somente a ele cabe decidir se o exercita ou não (NUNES, 2017) Pode-se, assim, ampliar o sentido dado ao conceito de direito subjetivo para dizer que ele é não só a potencialidade e o exercício, como também o uso da ameaça do exercício, e que este tem de ser efetivado de forma não abusiva (NUNES, 2017). É preciso dizer, ainda, que alguns direitos subjetivos não precisam do exercício ou da constatação de sua potencialidade para existirem, embora para se garantirem, por vezes, precisem da utilização de outros direitos subjetivos. É o caso dos direitos subjetivos inerentes à pessoa, tais como o direito à vida, à honra, à imagem etc. São eles subjetivos, independentemente de exercício de prerrogativa. São direitos subjetivos plenos, de fato, bastando para tanto a existência da pessoa de direito (NADER, 2014). 13UNIDADE I Conceito de Direito E é importante ressaltar que, não se deve confundir direito subjetivo com o chamado direito-função, que é o exercido por um sujeito em função de outrem. Quando por exemplo, o pátrio poder é exercido pelos pais, em função do direito subjetivo dos filhos. Esse é um tipo de direito-função que vem antes como um dever obrigação do que uma prerrogativa (NADER, 2014). 1.2.1 Classificação dos direitos subjetivos A primeira classificação que apresentamos sobre o direito subjetivo refere-se ao seu conteúdo, figurando, como divisão maior, a relativa ao Direito Público e Direito Privado (NUNES, 2017). 1.2.1.1. Direitos subjetivos privado Sob o aspecto econômico, os direitos subjetivos privados dividem-se em patrimoniais e não patrimoniais. Os primeiros possuem valor de ordem material, podendo ser apreciados pecuniariamente, o que não sucede com os não patrimoniais, de natureza apenas moral. Os patrimoniais subdividem-se em reais, obrigacionais, sucessórios e intelectuais. Os direitos reais, do latim, jus in re, têm por objeto um bem móvel ou imóvel, como o domínio, usufruto, penhor (SALDANHA, 2005). Os obrigacionais, também chamados de crédito ou pessoais, têm por objeto uma prestação pessoal, como ocorre no mútuo, contrato de trabalho etc. Sucessórios são os direitos surgidos em decorrência do falecimento de seu titular e transmitidos aos herdeiros. Finalmente, os direitos intelectuais dizem respeito aos autores e inventores, que têm o privilégio de explorar a sua obra, com exclusão de outras pessoas. Os direitos subjetivos de caráter não patrimonial desdobram-se em personalíssimos e familiais (MAZZILLI, 2015). Os primeiros são os direitos da pessoa em relação à sua vida, integridade corpórea e moral, nome etc. São também denominados inatos, porque tutelam o ser humano a partir do seu nascimento. Já os direitos familiais decorrem do vínculo familiar, como os existentes entre os cônjuges e seus filhos. A segunda classificação dos direitos subjetivos refere-se à sua eficácia. Dividem-se em absolutos e relativos, transmissíveis e não transmissíveis, principais e acessórios, renunciáveis e não renunciáveis (SARMENTO, 2010). 1.2.1.2. Direitos absolutos e relativos Nos direitos absolutos a coletividade figura como sujeito passivo da relação. São direitos que podem ser exigidos contra todos os membros da coletividade, por isso são chamados erga omnes. O direito de propriedade é um exemplo. Os relativos podem ser 14UNIDADE I Conceito de Direito opostos apenas em relação a determinada pessoa ou pessoas, que participam da relação jurídica, categorizado pela doutrina, como inter partes. Os direitos de crédito, de locação, os familiais são alguns exemplos de direitos que podem ser exigidos apenas contra determinada ou determinadas pessoas, com as quais o sujeito ativo mantém vínculo, seja decorrente de contrato, de ato ilícito ou por imposição legal (NADER, 2014). 1.2.1.3. Direitos transmissíveis e não transmissíveis Como os nomes indicam, os primeiros são os direitos subjetivos que podem passar de um titular para outro, o que não ocorre com os não transmissíveis, seja por absoluta impossibilidade de fato ou por impossibilidade legal. Os direitos personalíssimos são sempre direitos não transmissíveis, enquanto os direitos reais, em princípio, são transmissíveis. A transmissibilidade dos direitos se opera inter vivos ou mortis causa,isto é, entre pessoas vivas, como nos contratos de locação e comodato, ou em razão de morte, como na sucessão legítima e na testamentária. Na sucessão mortis causa, os direitos se transmitem no momento da morte do autor da herança, abertura da sucessão, ainda que os herdeiros sejam desconhecidos. Trata-se de uma ficção jurídica, que visa a evitar a figura de direitos subjetivos sem titularidade. Com a aceitação da herança pelos herdeiros verifica-se a ratificação da aquisição da propriedade e da posse, que se mantêm indivisíveis até o momento da partilha (SARMENTO, 2010). 1.2.1.4. Direitos principais e acessórios Os primeiros são independentes, autônomos, enquanto os direitos acessórios estão na dependência do principal, não possuindo existência autônoma. No contrato de mútuo, o direito ao capital é o principal e o direito aos juros, acessório (SARMENTO, 2010). 1.2.1.5. Direitos renunciáveis e não renunciáveis Os direitos renunciáveis são os que o sujeito ativo, por ato de vontade, pode deixar a condição de titular do direito sem a intenção de transferi-lo a outrem, enquanto nos irrenunciáveis tal fato é impraticável, como se dá com os direitos personalíssimos (NADER, 2014). 1.2.2 Classificação do direito objetivo No que se refere ao direito objetivo, esse é o conjunto em si, das normas jurídicas escritas e não escritas, independentemente do momento do seu exercício e aplicação concreta. É o direito norma de organização social, conjunto de normas jurídicas de 15UNIDADE I Conceito de Direito determinado país. É a partir do conhecimento do direito objetivo que se deduz o direito subjetivo. Constitui-se como o conjunto das normas que integram o ordenamento jurídico das quais se irradiam as relações jurídicas entre sujeitos e objetos, dando proteção aos interesses e à vontade que caracterizam o Direito Subjetivo (SALDANHA, 2005). Por isso, o direito objetivo acaba sendo confundido com o direito positivo. O direito objetivo corresponde à norma jurídica em si, enquanto comando que pretende um comportamento. É aquele objetivado independentemente do momento de uso e exercício (VARELA, 1945). Cada comando, cada determinação de comportamento constitui uma norma geradora de uma faculdade individual, o conjunto das normas, o seu complexo, forma o direito objetivo. O Direito Objetivo tem guarida na lei como sua fonte primária, essa serve para ensejar a possibilidade de que seja capaz de realmente se configurar como um conjunto de normas que asseguram os interesses e vontades que caracterizam o Direito Subjetivo, precisa ser dotada de validade, vigência e eficácia. Contudo, resta o questionamento acerca de como se dá a interpretação do texto legal para dele se extrair o corpo de normas que compõem o Direito Objetivo (NUNES, 2017). Diante disso, a própria Lei de Introdução, se manifesta ao determinar, em seu artigo 5°, que: “Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum”. Ora, o Direito é interpretado para ser aplicado, daí compreender-se que o escopo do referido dispositivo é o de fazer com que o texto legal seja interpretado de forma a permitir a consecução dos objetivos sociais das normas, permitindo que as relações jurídicas que emanam do Direito Objetivo atendam às exigências do bem comum (NUNES, 2017). No entanto, o problema da interpretação, dada sua importância, não se esgota aí. Miguel Reale (2009), para ilustrar, assim escreve: “O problema da Ciência do Direito resolveu-se, de certa maneira, no problema da interpretação melhor da lei. Por fim, resta provado, pela diversidade temática e pelos diversos desdobramentos que, o Direito Objetivo tem importância cabal para a própria compreensão do Direito, sendo melhor conceituado, levando em consideração o ordenamento jurídico pátrio, como o conjunto das normas que possuem, como principal fonte, a lei dotada de validade, eficácia e vigência, passível de diversas interpretações e capaz de determinar a configuração das relações jurídicas, que se estabelecem entre sujeitos e objetos, e resguardar os interesses e vontades componentes do Direito Subjetivo. 16UNIDADE I Conceito de Direito 1.3 DICOTOMIA DO DIREITO PÚBLICO E DIREITO PRIVADO Antes de tudo: o que é uma dicotomia? Bobbio (2010) sustenta que uma dicotomia se constrói sobre dois requisitos fundantes, que é a existência de duas esferas conjuntamente exaustivas e excludentes, e a divisão total de cada uma, de modo que todos os elementos encontrem lugar em uma ou outra esfera e que outras dicotomias sejam secundárias diante da grande dicotomia. Assim, para Bobbio (2010), os ramos do direito público e privado seriam esferas específicas e dignas de estudos próprios, de modo que o privado seria tudo aquilo que não é público ou o público seria tudo aquilo que não é privado (NUNES, 2017). Essa é a ideia da dicotomia que segue o critério de dividir dois universos de uma forma que os respectivos elementos de cada um não pertencessem ao outro e vice-versa, e que nenhum ente fosse excluído. A divisão deveria ser total e, principalmente, deveria agrupar-se em direção de outras dicotomias (AYRES, 2006). Embora não tenha existido um critério satisfatório capaz de denominar claramente a distinção pretendida pela dogmática jurídica, entre Direito Público e Direito Privado, a separação, de cunho eminentemente prático, está estabelecida desde o Direito Romano, nasceu no Ocidente através da história do pensamento político social da época (AYRES, 2006) e tem por função estabelecer taxativamente segurança e certeza para as tomadas de decisões, 17UNIDADE I Conceito de Direito Neste sentido, vale citar o estudo elaborado por Saldanha (2005), no qual demonstra que as ideias de público e de privado, genericamente, variam no espaço e no tempo. Logo, o mesmo pode-se dizer do “direito público” e do “direito privado”, os quais tendem a transformarem-se reflexivamente nas variações dos espaços público-privado (SARMENTO, 2010). Essas representações das classes do Direito Público e do Direito Privado são, em suma, uma das maiores divisões do Direito Positivo, e também a mais antiga, peculiar aos sistemas jurídicos de tradição romano germânica (NADER, 2014). Então quando a norma tutelar o interesse do Estado e de seu funcionamento, esse será o Direito Público. Mas quando a norma regular as relações jurídicas entre particulares, esse será o direito privado. 1.4 RAMOS DO DIREITO PÚBLICO Leis de ordem pública se constituem pela tutela da família, dos direitos personalíssimos, pela capacidade das pessoas, com a prescrição, a nulidade de atos, normas constitucionais, administrativas, penais, processuais, e as pertinentes à segurança e à organização judiciária. Garantem o tratamento digno ao trabalhador e dispõe sobre previdência e acidente do trabalho. A jurisprudência é um instrumento fundamental para o reconhecimento dessas leis, diante da função relevante de prover a segurança da sociedade. Entende a doutrina que tais normas devam ser aplicadas em conjunto, como condição à garantia do equilíbrio social. A interpretação deve ser estrita, condenando-se tanto a amplitude quanto a limitação do alcance de suas normas jurídicas. A interpretação extensiva e a analogia não são admitidas, as únicas normas que podem ser interpretadas extensivamente são as que se destinam apenas à organização, pois não tratam de limitações aos direitos individuais (NUNES, 2017). A lei de ordem pública, ao contrário das que integram a ordem privada, reúne preceitos de importância fundamental ao equilíbrio e à segurança da sociedade, pois disciplina os fatos de maior relevo ao bem-estar da coletividade. Por tutelar os interesses fundamentais da sociedade, prevalece independentemente da vontade das pessoas. É indispensável e se destaca à opinião de todos, inclusive daqueles a quem beneficia. Tal entendimento serefere ao fato de que o Direito Público não pode ser substituído pelas convenções dos particulares (BOLESINA, 2015). 18UNIDADE I Conceito de Direito O ordenamento jurídico é um conjunto harmônico de regras que não impõe, por si, qualquer divisão em seu campo normativo. A setorização em classes e ramos é obra de iniciativa da Ciência do Direito ou Dogmática Jurídica, na deliberação de organizar o Direito Positivo, para fazê-lo prático ao conhecimento, às investigações científicas, à metodologia do ensino e ao aperfeiçoamento das instituições jurídicas. Destacamos, novamente, que é essencial a necessidade de considerar todo ramo do Direito como espécie de um gênero comum. Antes de ser adjetivo, público, privado, penal, civil, o conjunto de normas expressa o “substantivo próprio” Direito. Assim, cada ramo do Direito Positivo, além de possuir caracteres próprios, participa das propriedades inerentes à árvore jurídica, que seriam os processos de adaptação social, às normas coercitivas sob o comando do Estado, a sujeição à variação histórica e submissão aos princípios fundamentais do Direito Natural, a fórmula de realização dos valores segurança e justiça (BOLESINA, 2015). O critério adotado na classificação dos ramos jurídicos é o da antiga divisão do Direito Público e Privado que, apesar de sua reconhecida deficiência, revela duas tendências fundamentais no estudo da Jurisprudência. A seguir, veremos as principais áreas do direito público: 1. O Direito Constitucional é o ramo do Direito Público que dispõe sobre a estrutura do Estado, define a função de seus órgãos e estabelece as garantias fundamentais da pessoa. É um direito que limita a ação do governo, pois estabelece faixas de competência para os poderes. É também um direito de garantia das pessoas, pois as constituições modernas estabelecem um elenco de garantias fundamentais aos seres humanos. Denomina-se parte orgânica da constituição a que dispõe sobre a estrutura do Estado e parte dogmática a que se refere aos direitos e garantias individuais. Em nossa Constituição, esta parte se acha inserida no art. 5º e seus setenta e oito itens. 2. O Direito Administrativo estabelece a fórmula jurídica para a realização do serviço público, cujo conceito pode ser definido como “toda organização de caráter permanente destinada a satisfazer as necessidades públicas de um modo regular e contínuo” (NADER, 2014) Como a execução e o controle dos serviços públicos dependem do trabalho de funcionários qualificados, o Estado admite servidores de acordo com o que estabelecem as normas específicas, que se incluem no objeto do Direito Administrativo. Este ramo, é o conjunto de princípios e normas jurídicas que presidem ao funcionamento das atividades 19UNIDADE I Conceito de Direito do Estado, à organização e ao funcionamento dos serviços públicos, e às relações da administração com os indivíduos (NADER, 2014). Além de se orientar pelos princípios comuns ao Direito Público, como os da legalidade, moralidade, impessoalidade, publicidade, eficiência, o Direito Administrativo consagra os princípios específicos da supremacia do interesse público sobre o privado e o da indisponibilidade dos interesses públicos. 3. O Direito Internacional Público é o ramo jurídico que disciplina as relações entre os Estados soberanos e os organismos análogos. As suas principais fontes formais são os tratados e os costumes internacionais. A sua existência pressupõe as chamadas bases sociológicas: a) pluralidade de Estados soberanos, pois se houvesse apenas um Estado, o Estado Mundial, não haveria dualidade de interesses e, consequentemente, não se justificariam quaisquer normas que não fossem as internas; b) comércio internacional, pois a grande massa de interesses apresenta conteúdo econômico e envolve a troca de riquezas; c) princípios jurídicos coincidentes, de vez que, inexistindo valores comuns, faltariam os critérios de entendimento (NUNES, 2017). 4. O Direito Tributário, disciplina a receita e a despesa pública. Para realizar os serviços públicos, o Estado necessita de recursos financeiros, que são obtidos mediante cobrança de impostos, contribuições, taxas, bem como por sua atividade empresarial. O movimento de arrecadação do dinheiro público e seu emprego em obras e despesas gerais constituem o objeto do Direito Tributário (NUNES, 2017). Considerado como sub-ramo do Direito Financeiro, o Direito Tributário ganhou suma importância, especialmente na segunda metade de nosso século, por força da intervenção cada vez maior do Estado no domínio econômico, com sua necessidade de arrecadação sempre crescente. O Direito Processual, conhecido como direito adjetivo, porque é instrumento do direito material, um tipo direito substantivo, regula o processo judicial, bem como a organização judiciária. Engloba as normas jurídicas que cuidam das regras relativas à ação judicial, isto é, do direito de ver qualquer pretensão sendo analisada e julgada pelo Poder Judiciário. O Direito Processual está dividido por áreas relativas ao direito material, com três subdivisões básicas: a) Direito Processual Civil, que regula as situações relativas à órbita civil, comercial, fiscal, administrativa, do consumidor etc.; seu principal instrumento é o Código de Processo Civil (CPC); 20UNIDADE I Conceito de Direito b) O Direito Processual Penal, que regula as situações relativas à órbita penal; seus principais textos legais são o Código de Processo Penal (CPP), as leis das execuções penais e a Lei dos Juizados Especiais Criminais; c) O Direito Processual do Trabalho, que regula as situações relativas à órbita tra- balhista. Serve-se ele, subsidiariamente, para os casos não previstos, do Direito Processual Civil; sua principal base legal é a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e o Código de Processo Civil (CPC). 5. O Direito Penal é o ramo do Direito Público que define os crimes, estabelece as penalidades correspondentes e dispõe sobre as medidas de segurança. É o conjunto de normas jurídicas que regulam o poder punitivo do Estado, ligando o delito, como pres- suposto, a pena como consequência. A missão deste ramo, consiste na proteção de bens jurídicos fundamentais ao indivíduo e à comunidade”. Além da denominação Direito Penal, a mais divulgada atualmente, esse ramo é também designado por Direito Criminal. Enquanto a primeira denominação faz referência à consequência jurídica a que está sujeito o autor do crime, a segunda se reporta ao conceito nuclear do ramo, que é o crime (NUNES, 2017). 1.5 RAMOS DO DIREITO PRIVADO A seguir veremos quais são os ramos do direito privado: 1. O Direito Civil, pertence ao Direito Privado por excelência, pois visa regular as relações dos indivíduos, estabelecendo direitos e impondo obrigações. O Direito Civil atua em toda a vida do indivíduo, pois disciplina todos os campos de interesses individuais. O Código Civil, ou seja, é estruturado em duas grandes partes: geral, que contém normas de caráter abrangente, que servem a qualquer área do Direito Civil e parte especial, que trata dos assuntos específicos. Na parte Geral encontram-se as normas que contém os temas relativos às pessoas, aos bens e aos fatos jurídicos. Já a parte especial os livros são: obrigações, Direito de Empresa, Direito das Coisas, Direito de Família, Direito das Sucessões e um livro complementar das disposições finais e transitórias. Assim verifica-se que o Direito Civil abrange todas as áreas do relacionamento humano, que serão objeto de estudo durante todo o Curso de Direito (NADER, 2014). 2. Direito comercial ou empresarial, com a unificação das obrigações civis e comer- ciais, promovida pelo Código Civil de 2002, o Direito Comercial, em nosso país, passou por ampla reformulação. Entre as mudanças, verificou-se a substituição da figura do comer- ciante pela do empresário. 21UNIDADE I Conceito de Direito O CódigoCivil inovou ao instituir, na Parte Especial, o Direito de Empresa, onde dispõe sobre a figura do empresário e regula as diferentes espécies de sociedades, sem esgotar a abordagem destas. Assim cabe a legislação especial o regulamento das socie- dades anônimas. Figuram, também, as leis ordinárias nº 9.279/96, que dispõe sobre a propriedade industrial, Lei nº 7.357/85, que disciplina os cheques; Lei nº 6.404/76, que trata das sociedades por ações; Lei nº 5.474/68, que regula a emissão de duplicatas (NADER, 2014). O antigo Código Comercial, de 1850, não se encontra revogado por inteiro. O art. 2.045 do Código Civil extinguiu toda a sua Parte Primeira, correspondente aos arts. 1º ao 456, conservando a vigência da Parte Segunda, que afeta ao comércio marítimo (NADER, 2014). Importante documento legislativo se liga também às empresas: Lei nº 11.101/05, que dispõe sobre recuperação e falência. Não obstante o novo Código tenha regulado o Direito Empresarial e, na parte das Obrigações, disciplinado a matéria de títulos de crédito, tais campos normativos não passaram a integrar o Jus Civile. Somente uma visão codicista, retrógrada, sustentaria tal integração (NADER, 2014). O Direito Empresarial gira em torno da figura do empresário e este pode ser definido como pessoa física ou jurídica que desenvolve atividade de natureza econômica, produzin- do ou promovendo a circulação de bens ou serviços. O comércio, atualmente, é apenas um dos objetos do Direito Comercial ou Empresarial, que dispõe, mais extensamente, sobre as atividades econômicas dedicadas à produção ou circulação de bens ou serviços, tendo o lucro por finalidade (NUNES, 2017). 1.6 RAMOS DO DIREITO DIFUSO E COLETIVO São direitos indivisíveis, que abrange um número indeterminado de pessoas unidas pelo mesmo fato. Pertence a sujeitos indeterminados. Os processos baseados em direitos difusos se tornaram uma solução eficiente para resolver conflitos coletivos de ordem econômica, social ou cultural. Os direitos difusos se preocupam com questões da coletividade, como as ligadas ao meio ambiente, patrimônio público, direitos do consumidor, direitos trabalhistas (NUNES, 2017). Os interesses difusos são “como um feixe ou um conjunto de interesses individuais, de objeto indivisível, compartilhados por pessoas indetermináveis, que se encontram unidas por circunstâncias de fato conexas (MAZZILLI, 2015). 22UNIDADE I Conceito de Direito O primeiro ramo dos direitos difusos é o direito do trabalho, que engloba as normas jurídicas que regulam as relações entre o empregado e o empregador, compreendendo o contrato de trabalho, o registro do empregado, a rescisão, a despedida, as verbas trabalhistas, os salários e seus reajustes, a duração da jornada de trabalho etc. Essas normas regulam, também, o chamado Direito Coletivo do Trabalho, que trata dos acordos coletivos de trabalho, da organização sindical, do direito de greve etc. Seu principal diploma legal é a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), de 1º de maio de 1943, acrescida e alterada por uma série de leis esparsas, leis de acidente do trabalho, do empregado doméstico, do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), etc. O Direito Previdenciário, é outro ramo do direito difuso e cuida da Seguridade Social que diz respeito à Saúde, à Previdência Social e a Assistência Social, atuando por intermédio de seus órgãos (INSS, SUS, etc) estabelecendo os benefícios e as formas de sua obtenção, o auxílio-doença, salário-maternidade, aposentadoria por tempo de contribuição e por invalidez, direito à pensão na viuvez e na orfandade (AYRES, 2006). Seus principais instrumentos legais são a Lei de Organização e Custeio da Seguridade Social (Lei n. 8.212/91), o Plano de Benefícios da Previdência Social (Lei n. 8.213/91), a Lei Orgânica da Saúde (Lei n. 8.080/90), a Lei Orgânica da Assistência Social (Lei n. 8.742/93); e o Programa do Seguro-Desemprego (Lei n. 7.998/90). O Direito do Consumidor, são normas instituídas para a proteção e defesa do consumidor, de ordem pública e interesse social (AYRES, 2006). Consumidor, para esse sistema legal, é “toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final” (art. 2º do CDC), ao qual se equipara “a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo” (parágrafo único do art. 2º, citado). Equiparam-se também ao consumidor todas as vítimas de evento danoso (art. 17 do CDC), bem como “todas as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas” comerciais (art. 29 do CDC). Fornecedor “é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços” (art. 3º do CDC). Produto “é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial” (§ 1º do art. 3º, citado), e serviço “é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante 23UNIDADE I Conceito de Direito remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária” (§ 2º do mesmo art. 3º). Está excluída da abrangência do CDC, como se viu, a prestação de serviço oferecida a título gratuito. As de caráter trabalhista também estão excluídas, e continuam regidas pela CLT e demais normas jurídicas trabalhistas. As relações existentes entre os próprios fornecedores, isto é, de fornecedor a fornecedor, continuam regidas pela legislação já existente (civil, comercial, penal etc.) (NUNES, 2017). Por essas singelas considerações relativas ao Direito do Consumidor, pode-se referir que certas operações de compra e venda de produtos e serviços estão submetidas à legislação consumerista, tendo saído da órbita das normas privativas. SAIBA MAIS Que as mulheres sofreram para conquistar um espaço na sociedade, nós já sabemos, porém há mais de 100 anos, precisamente em 1897, o Brasil teve a primeira mulher a ingressar no curso de Direito na Faculdade do Largo de São Francisco. Maria Augusta Saraiva, nascida em 1879 no estado de São Paulo, conseguiu se formar em 1902 no curso de direito, com excelência e muitos méritos, afinal de contas conseguiu um prêmio onde foi consagrada com uma viagem à Europa por se destacar no curso. Além do mais, Maria foi a primeira mulher a atuar no Tribunal do Júri no Brasil. Fonte: As mulheres e o Direito: histórias de pioneirismo. Migalhas do Direito. Disponível em: https://www.migalhas.com.br/quentes/235253/as- mulheres-e-o-direito-historias-de-pioneirismo. Acesso em: 08 nov. 2019. Figura 1 – Maria Augusta Saraiva. Fonte: As mulheres e o Direito: histórias de pioneirismo. Migalhas do Direito. Disponível em: https://www. migalhas.com.br/quentes/235253/as-mulheres-e-o-direito-historias-de- pioneirismo. Acesso em: 08 nov. 2019. 24UNIDADE I Conceito de Direito REFLITA Nossa capacidade de raciocinar está intimamente ligada à nossa capacidade de sermos livres. Juntas, essas capacidades nos tornam únicas e nos distinguem da existência meramente animal. Ela nos transforma em algo mais do que meras criaturas com apetites.1 ¹ SANDEL, Michael J. Justiça: o que é fazer a coisa certa. 4. ed. Trad. de Heloisa Matias e Maria Alice Máximo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011. 25UNIDADE I Conceito de Direito CONSIDERAÇÕES FINAIS Dentre os inúmeros conceitos que foram abordados nesta unidade I, deduz-se que, o direito natural é em suma o direito não escrito, que advém da própria natureza social do homem, revelado por meio da união da experiência e da razão do homem. Já o direito positivo é o conjunto de normas jurídicas vigentes em determinada sociedade, transcritos e regulamentados conformes os devidos trâmites legislativos. Os direitos subjetivos se debruçam sobre os préstimos dos direitos inerentes aoser humano, e tendem a ter relação com a vida, com a integridade corpórea e a moral. Tu- telam o ser humano a partir do seu nascimento. Podem ser direitos substantivos privados, relacionados aos direitos patrimoniais do indivíduo, mas também podem não tem caráter patrimonial, de natureza apenas moral. Já o direito objetivo, possui ramificações correspondente à norma jurídica em si, como um comando que propõe um comportamento. É aquele objetivado independentemen- te do momento de uso e exercício. Cada comando, cada determinação de comportamento constitui uma norma geradora de uma faculdade individual, o conjunto das normas, o seu complexo, forma o direito objetivo. Os direitos públicos são aqueles de ordem pública, e reúne preceitos de importân- cia fundamental ao equilíbrio e à segurança da sociedade, disciplinam os fatos de maior relevância ao bem-estar da coletividade e independem da vontade das pessoas. Os direitos privados regulamentam as relações particulares, os interesses, e obrigações, observando sempre a boa-fé entre as partes. E por fim, os direitos difusos, diz respeito a tutela da coletividade são indivisíveis, que alcançam um número indeterminado de pessoas, unidas pelo mesmo fato. Pertence a sujeitos indeterminados. Os processos baseados em direitos difusos se tornaram uma so- lução eficiente para resolver conflitos coletivos de ordem econômica, social ou cultural. Se preocupam com questões da coletividade, como as ligadas ao meio ambiente, patrimônio público, direitos do consumidor, direitos trabalhistas. 26UNIDADE I Conceito de Direito LEITURA COMPLEMENTAR O PAPEL DO JUIZ CRIMINAL NO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO Por Luiz Eduardo Oliveira de Faria, juiz de direito Acredita-se que o autoritarismo não é apenas síndrome do Poder Judiciário, mas, sim, da própria sociedade brasileira. Logo, avizinha-se a percepção popularizada de que o arquétipo ideal de juiz criminal é, no Brasil, aquele de viés autoritário, encarcerador e eminentemente punitivista. O Brasil atravessa uma quadra histórica delicada, iniciada formalmente em 2013, quando se deflagrou um projeto político-jurídico que culminou no esgarçamento do tecido normativo-democrático e que teve como fatos exponenciais o afastamento de uma presidenta da República, eleita democraticamente, e a artificial condenação criminal de um ex-presidente, com seu respectivo encarceramento. Nos momentos críticos desta marcha, que ganhou ares novelizados pela cobertura da mídia de massa, o Judiciário viu-se tensionado a enfrentar questões sensíveis a uma dita opinião pública, fato que acabou por colocar em xeque o papel deste poder da República, no âmbito do Estado Democrático de Direito. Mais recentemente, para tornar dramático este quadro, veio a público, por ação de uma fração da imprensa independente e alternativa, uma série de diálogos, tidos por intermédio de aplicativos digitais, havida entre membros do Ministério Público Federal e um Juiz Federal, no transcurso de procedimentos penais, intensificando-se, pois, a citada reflexão. Então, neste lastro, e para aproveitar o ambiente reflexivo, indagar-se-ia: qual o verdadeiro papel do Juiz Criminal no âmbito do Estado Democrático de Direito? É o que se tenciona fazer doravante. Para a análise proposta, acredita-se que é necessária a fixação de três pontos teóricos de partida, interligados indissociavelmente, e que fornecem o perfeito caráter interdisciplinar de apreciação. O primeiro deles trabalha com a ideia de que a pena criminal, tida como uma resposta formal do Estado à infração punível, reflete a evolução histórica do Processo Penal desse Estado. Assim, um Estado de feição política autoritária, em tese, contemplaria punições virtualmente irracionais, ao passo que um Estado com aspirações democráticas traria em si 27UNIDADE I Conceito de Direito o caráter racional das punições criminais, sempre se tendo em mente o pleno respeito aos direitos e garantias fundamentais. O segundo ponto a ser fixado é a própria aproximação conceitual do que pode ser concebido como Estado Democrático de Direito. Caracterizar-se-ia, ele, como uma organização política, administrativa e de feição burocrática, ditada pela participação popular plural e que aspira à legitimidade social. Rege-se, esta organização, por uma ordem constituinte que, atualmente, está cada vez mais interligada a uma rede jurídico-normativa humanitária internacional. Por fim, acredita-se que não é possível conceber o fenômeno jurídico desgarrado do contexto histórico, visto este como o pano de fundo de toda a axiologia imanente à sociedade humana. Ora, é como sinalizou-se: sendo o Direito o termômetro da orientação política do Estado, da mesma forma é o processo penal. Dito de outra forma. Vislumbra-se uma perfeita aproximação científica entre o processo penal e a política, para comprovar-se que em casos de Estados com índole autoritária surge um processo penal com a mesma feição, ao passo que tendo-se um Estado democrático, certamente, o processo penal igualmente o será. Daí, torna-se possível acabar com mitos processuais penais, tais como a suposta abstração igualitária do sistema penal, desnudando-se o seu verdadeiro caráter repressivo, seletivo, excludente e funcionalmente voltado para a gestão dos indesejáveis. Cai por terra, também, o mito de que a pena criminal é fator de reinserção social. Evidencia-se que ela é, na verdade, a mola propulsora de estigmatização humana, exclusão social e potencialização criminógena. Rui, por fim, o mito da verdade real no processo penal. Demonstra-se que este paradigma nada mais representa do que a consagração da feição inquisitiva e autoritária do processo penal, destacadamente o brasileiro, que contraria de modo violento a sistemática acusatória pura consagrada na Carta Magna de 1988. Logo, da parte daqueles que se prestam a refletir sobre o processo penal, caberia uma indagação: Um processo penal para quê(m)? As respostas a esta questão vão orientar a interpretação e a aplicação das normas processuais penais, sempre tendo-se em vista os paradigmas científicos e políticos sobre os quais se apoia processo penal, quais sejam, paradigmas autoritários ou democráticos. 28UNIDADE I Conceito de Direito Pois bem, A partir deste ponto, necessário se faz evidenciar a realidade histórico- jurídica (processual penal) brasileira, já deixando patente que todas as faces dela se mostram interligadas. A realidade histórica do processo penal pátrio é imersa numa tradição política de matrizes autoritárias. Basta ver que o período pós-Constituição de 1988, na história da República, é o mais extenso e duradouro de democracia político-eleitoral, desconsiderando- se, por certo, as chamadas rupturas institucionais veladas. Este panorama traz reflexos imediatos na sociedade brasileira, fazendo com que se adira, mesmo que de forma inconsciente, a um conjunto de crenças daí advindos. Dissemina-se, por exemplo, a noção de que são mais efetivas as respostas de força para os mais variados problemas sociais, em detrimento do conhecimento e do diálogo. Em paralelo, crê-se na relativização dos direitos e garantias fundamentais, já que estes seriam obstáculos à eficiência do Estado e do mercado. Mas o pior dos reflexos sociais é sinalizado pelo fato de que se aplaude, em grande monta, o arbítrio funcional dos agentes do Estado, o que abre espaço à criação de heróis autoritários, sejam eles políticos do Executivo, Legislativo, do Ministério Público e, o que é pior, Juízes. Portanto, e para o que interessa aos fins deste articulado, acredita-se que o autoritarismo não é apenas síndrome do Poder Judiciário, mas, sim, da própria sociedade brasileira. Logo, avizinha-se a percepção popularizada de que o arquétipo ideal de juiz criminal é, no Brasil, aquele de viés autoritário, encarcerador e eminentemente punitivista. O panorama autoritário descortinadoprojeta-se incisivamente no processamento do sistema de justiça criminal, desembocando na existência acrítica da ideia de processo penal como instrumento de segurança pública, assepsia e defesa social, substrato último da ideia do direito penal do inimigo. Isto leva, entre nós, à noção de sociedade polarizada e dividida, opondo-se, de um lado, pretensos cidadãos que merecem ter seus direitos respeitados, e do outro lado, aqueles cidadãos que não merecem ter seus direitos respeitados. Noutros termos, digladiar-se-iam os “cidadãos de bem” e os cidadãos indesejados. Fica fácil perceber, então, que o autoritarismo no sistema de justiça criminal pátrio ganha corpo prático, fundamentalmente, pela existência de; a) juízes como gestores da produção de provas, atuando de ofício; b) juízes como tomadores de medidas restritivas de direitos também de ofício; c) juízes atuando como genuínos órgãos de acusação valendo- se, por exemplo, do permissivo do Art. 385, do CPP; d) jurisprudência baseada em termos semânticos amplos e vagos, em nítida adesão ao moralismo de ocasião e decisionismo 29UNIDADE I Conceito de Direito estéril; e) percepção normativa que consagra o judiciário como órgão de segurança pública e o processo penal como ferramenta de combate à criminalidade, a despeito do alcance do Art. 144, da CR/88. Mas, então, pergunta-se: qual seria a projeção plena da democracia no sistema de justiça criminal, contrapondo-se à citada ideia do autoritarismo? Em definitivo: qual seria verdadeiro papel do juiz criminal no estado democrático de direito? Parte-se, primeiramente, da necessidade de promover-se a leitura constitucional do sistema de justiça criminal. Assim sendo, o texto constitucional, com toda a sua principiologia garantista, deve ser tido como base das normas jurídicas consequentes, buscando-se aferir a legitimidade valorativa destas, servindo, também, noutra volta, como filtro hermenêutico único de aplicabilidade e legitimidade. Depois, é preciso redimensionar o sistema de justiça criminal, alocando-se o ser humano, e sua dignidade valorativa, como o epicentro hermenêutico. Com isso, é possível reformular o papel do juiz criminal, tornando-o agente garantidor e promotor da axiologia humanista dos réus, evitando-se a perniciosa noção de que juiz criminal deve ser visto como agente de segurança pública. Redefine-se, portanto, o papel do juiz criminal no âmbito do Estado Democrático de Direito, para colocá-lo fielmente preso aos limites do texto constitucional, sendo agente guardião do sistema acusatório puro, com todas as suas implicações formais, tornando-se tomador de posições jurídicas contra-majoritárias aos interesses de ocasião. Ou seja, o juiz criminal deve ater-se apenas à vontade constitucional, e não à das ruas, tudo visando à promoção potencializada da dignidade humana. Em conclusão acachapante. O Juiz criminal, no âmbito do Estado Democrático de Direito, deve ter em mente que punir faz parte do jogo civilizatório. Mas é preciso garantir para punir e punir garantindo. Portanto, sempre atento às balizas constitucionais, o real papel do Juiz Criminal, dentro do já decantado Estado Democrático de Direito, é o de ser o fiel da balança desta garantia para punir, ou desta punição garantida, porque só assim realiza-se autenticamente o projeto humanístico-constitucional de plena e irrestrita salvaguarda da dignidade de todos os seres humanos, evitando-se a propagação do autoritarismo. Luiz Eduardo Oliveira de Faria é juiz de Direito da Vara Criminal, Infância e Juventude e Execuções Penais de Timóteo/MG. Fonte: Justificando, mentes inquietas pensam Direito. Disponível em: http://www. justificando.com/2019/07/24/o-papel-do-juiz-criminal-no-estado-democratico-de-direito/. http://www.justificando.com/2019/07/24/o-papel-do-juiz-criminal-no-estado-democratico-de-direito/ http://www.justificando.com/2019/07/24/o-papel-do-juiz-criminal-no-estado-democratico-de-direito/ 30UNIDADE I Conceito de Direito MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Manual de Introdução ao Estudo do Direito Autor: Rizzato Nunes Editora: Saraiva. Sinopse: Reunindo temas da disciplina introdutória do direito, esta obra apresenta uma visão atual e apurada dos fenômenos jurídi- cos. Em linguagem direta e abordagem didática, o autor examina os elementos que compõem o estudo da matéria, como os princí- pios jurídicos, a interpretação jurídica, a questão da retroatividade da lei e a eficácia das normas jurídicas. Prestando-se ainda como instrumento de trabalho ao docente, traz inúmeras séries de exer- cício, sugestões de temas para seminários e acórdãos sobre as matérias ministradas. Apresenta um completo índice alfabético de assuntos e uma relação dos principais diplomas legais ordenados por seus nomes, facilitando o aprendizado e a consulta. FILME/VÍDEO Título: O Auto da Compadecida Ano: 2000. Sinopse: Após suas Respectivas mortes, os Personagens seguem para o Julgamento Final. Onde terão que escapar das acusações do diabo, para assim chegarem ao Céu. Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=3GAAkhwXzFI https://www.youtube.com/watch?v=3GAAkhwXzFI 31 Plano de Estudo: 1. Fontes Do Direito 1.1 Fontes Estatais e Não Estatais; 1.1.1 Das Fontes Estatais; 1.1.2 Das Fontes não Estatais; 1.2 Fontes Materiais; 1.3 Espécies de Fontes do Direito; 1.3.1 Lei; 1.3.2 Doutrina;1.3.3 Jurisprudência; 1.3.4 Costumes; 1.3.5 Princípios Gerais de Direito; 1.3.6 Analogia. Objetivos da Aprendizagem • Conceituar e contextualizar as fontes do Direito; • Compreender as espécies das fontes do direito; • Estabelecer a importância da lei, da doutrina, da jurisprudência, dos princípios gerais e da analogia como fontes do direito. UNIDADE II Fontes do Direito Professora Mestre Letícia Carla Baptista Rosa 32UNIDADE II Fontes do Direito INTRODUÇÃO Quando nos referimos às fontes do direito, encontramos um assunto com muitas divergências doutrinárias. No entanto, tal divergência é em relação a considerar o que realmente deve ser apontado como fonte do direito e o que não pode, sendo unânimes ao destacar o papel relevante que têm no ordenamento jurídico, sendo elas escritas ou não, materiais ou formais, são necessárias a qualquer sistema democrático de direito. Ao se debruçar sobre qualquer objeto de estudo a pergunta pela fonte é uma das primeiras a ocorrer àqueles que aspiram compreender com maior profundidade o tema estudado. A pergunta sobre o que é a sabedoria, a justiça, o amor, remete sempre ao conhecimento de suas fontes. Em “O Banquete”, por exemplo, Platão, ao propor a discus- são sobre o que é o amor, ilustra como é imprescindível se saber a fonte para, só assim, formular qualquer discurso sobre a questão. Como não poderia deixar de ser, um dos assuntos centrais no âmbito da Ciência do Direito diz respeito às suas fontes, questão de grande relevância tanto para formação quanto para ação prático-profissional dos operadores do Direito, vez que a compreensão do que seja fonte do Direito influi na própria concepção do que seja Direito e, por sua vez, condiciona desde os fundamentos jurídicos que se formula, a pretensão alegada, as possíveis contestações até o próprio provimento jurisdicional. De forma geral, o presente tema das fontes do Direito é permeado por abordagens sobre as suas espécies, as leis, os costumes, a jurisprudência, a doutrina e os princípios gerais. 33UNIDADE II Fontes do Direito 1. FONTES DO DIREITO A doutrina jurídica não se apresenta uniforme quando se trata do estudo das fontes do Direito. Entre os estudiosos da Ciência do Direito, há uma grande diversidade de opiniões quanto ao presente tema, principalmente em relação ao elenco das fontes. Esta palavra provém do latim, fons, fontis e significa nascente de água. No âmbito de nossa Ciência é empregada como metáfora (ANDRADE, 1983). Distinguimos três espécies de fontes do Direito: históricas, materiais e formais, as fontesHistóricas, apesar do Direito ser um produto que altera com o tempo e espaço, contém muitas ideias permanentes. A evolução dos costumes que se conservam presentes na ordem jurídica (ANDRADE, 1983). A evolução dos costumes e o progresso induzem o legislador a criar novas formas de aplicação para esses princípios. As fontes históricas do Direito indicam a gênese das modernas instituições jurídicas: a época, o local, as razões que determinaram a sua formação. Limitando-se aos antecedentes históricos mais recentes ou aprofundando no passado, em busca das concepções originais. Esta ordem de estudo é significativa não apenas para a memorização do Direito, mas também para a melhor compreensão dos quadros normativos atuais. No setor da interpretação do Direito, onde o fundamental é captar-se a finalidade de um instituto jurídico, sua essência e valores capitais, a utilidade dessa espécie de fonte revela-se com toda evidência (KELSEN, 1938). A Dogmática Jurídica, que desenvolve o seu estudo em função do ordenamento vigente, com o objetivo de revelar o conteúdo atual do Direito, proporcionando um 34UNIDADE II Fontes do Direito conhecimento pleno, deve buscar subsídios nas fontes históricas. Aquele que quer realizar o Direito sem a História não seria jurista, nem sequer um utopista, não traria à vida nenhum espírito de ordenamento social consciente, senão mera desordem e destruição. Nessa perspectiva de análise, o retorno aos estudos do Direito Romano, fonte do Direito ocidental, torna-se imperativo (KELSEN, 1938). 1.1 FONTES ESTATAIS E NÃO ESTATAIS Dentre os vários conceitos e classificações possíveis, vamos apresentar aquilo que há de comum e básico na doutrina. O direito positivo as normas jurídicas escritas, fruto de ato do Estado, é um marco divisório importante. É nele que a dogmática jurídica e hermenêutica contemporânea tem sua base de investigação. Decorre uma classificação possível, a que divide as fontes em estatal e não estatal. Como fontes estatais temos: as leis e a jurisprudência, e como fontes não estatais: o costume jurídico e a doutrina (NUNES, 2017). Além disso, hodiernamente, é necessário inserir como fonte, classificadas como estatais os princípios, especialmente aqueles existentes no plano constitucional. 1.1.1 Das fontes estatais Fontes principais são caracterizadas como lei em sentido geral e amplo, ou seja, não deixando espaço para o juiz julgar com base em qualquer outra fonte. A lei é a expressão máxima do direito. Somente em casos de expressa omissão legal é que o juiz poderá decidir com base nas fontes acessórias, quais seja, os bons costumes, as analogias, e os princípios gerais de direito (NUNES, 2017). Fontes do direito são os processos dos quais as regras jurídicas se positivam com legítima força obrigatória, isto é, com vigência e eficácia no contexto de uma estrutura normativa. O direito resulta de um complexo de fatores que a Filosofia e a Sociologia estudam, mas se manifesta, como ordenação vigente e eficaz, por meio de estruturas normativas, que são o processo legislativo, os usos e costumes jurídicos, a atividade jurisdicional e o ato negocial. Para que exista fonte do direito, é preciso que haja um poder capaz de especificar o conteúdo, para exigir o seu cumprimento, não sendo indispensável que ele mesmo aplique a sanção (MAZZILLI, 2015). Toda fonte do direito implica uma estrutura normativa de poder, haja vista que a gênese de qualquer regra de direito, só ocorre em virtude da interferência de um centro de poder, o qual, diante de um complexo de fatos e valores, opta por dada solução normativa com características de objetividade (MAZZILLI, 2015). 35UNIDADE II Fontes do Direito À luz desse conceito, quatro são as fontes de direito, porque quatro são as formas de poder: o processo legislativo, expressão do Poder Legislativo; a jurisdição, que corresponde ao Poder Judiciário; os usos e costumes jurídicos, que exprimem o poder social, ou seja, o poder decisório anônimo do povo; e, finalmente, a fonte negocial, expressão do poder negocial ou da autonomia da vontade. Nota-se que o direito se realiza através de um conjunto sistemático de regras que determinam atos e abstenções, sob pena de se imputar ao transgressor consequências ou sanções punitivas (NADER, 2014). Legislação é um tipo de fonte material, é o conjunto das normas jurídicas emanadas do Estado, através de seus vários órgãos, dentre os quais se realça, com relevo, nesse tema, o Poder Legislativo. Essas normas jurídicas têm uma série de características, sendo algumas próprias. Por ora, é importante destacar que o conjunto da legislação se dá pela junção de todas as normas jurídicas escritas, publicadas oficialmente pelo Estado através de seus órgãos (NADER, 2014). Como “legislação” é um conceito que advém do vocábulo “lei”, muitas vezes tais expressões são tomadas como sinônimas, definindo-se, então, legislação como um conjunto de leis. Na verdade, é preciso que se faça um esclarecimento acerca do uso do termo “lei”. O vocábulo “lei” apresenta uma série de significados diversos. Pode ser utilizado para expressar as leis divinas, os mandamentos de Deus, as leis da natureza ou, a lei firmada pelas ciências, como fruto da descoberta científica. A lei jurídica propriamente, de sua parte, aponta também para alguns sentidos, que são análogos. A lei é tanto a norma constitucional quanto uma lei ordinária, por exemplo, o Código Civil, ou até uma cláusula contratual, que se diz ser “lei entre as partes” (SALDANHA, 2005). De fato, a terminologia adequada a ser utilizada é a que dispõe o gênero como norma jurídica e as espécies como: norma jurídica escrita e norma jurídica não escrita, sendo que a Constituição, a lei complementar, a lei ordinária, a medida provisória, são espécies de norma jurídica escrita, e o costume jurídico é o caso da norma jurídica não escrita. Logo, as normas estatais escritas são: Constituição Federal; Leis complementares; Leis ordinárias; Medidas provisórias; Leis delegadas; Decretos legislativos; Resoluções; Decretos regulamentares; outras normas, tais como portarias, circulares, ordens de serviço etc. As não escritas são: costumes jurídicos (SALDANHA, 2005). 36UNIDADE II Fontes do Direito 1.1.2 Das fontes não estatais As fontes não estatais, por sua vez, abrangem o direito consuetudinário (costume jurídico), o direito científico (doutrina) e as convenções em geral ou negócios jurídicos. Essas normas jurídicas (leis, decretos, costumes, sentenças, contratos) não são, como se vê, produtoras do direito, mas consistem no próprio direito objetivo, que brota de circunstâncias políticas, históricas, geográficas, econômicas, axiológicas e sociais (fontes materiais) que se completam com um ato volitivo do Poder Legislativo, Executivo, Judiciário. (fontes formais) (BOLESINA, 2015). As fontes formais são os canais por onde se manifestam as fontes materiais. As fontes formais não são normas, são formas de expressão do direito positivo. São apenas meios que traduzem as normas (leis, costumes, súmulas etc.) em palavras para facilitar seu conhecimento pelo jurista e sua aplicação pelo órgão competente. As fontes formais seriam então os processos ou meios pelos quais as normas jurídicas se positivam com legítima força obrigatória, ou seja, com vigência e eficácia (NUNES, 2017) 1.2 FONTES MATERIAIS Fontes materiais ou reais são não só fatores sociais, que abrangem os históricos, os religiosos, os naturais (clima, solo, raça, natureza geográfica do território, constituição anatômica e psicológica do homem), os demográficos, os higiênicos, os políticos, os econômicos e os morais (honestidade, decoro, decência, fidelidade, respeito ao próximo), mas também os valores de cada época (ordem, segurança, paz social, justiça), dos quais fluem as normas jurídico-positivas (SALDANHA, 2005). As fontes materiais vão nos dizer deonde o direito surge. Qual a “matéria-prima” do Direito. São as relações sociais, os diferentes conflitos, as diferentes tendências, as diferentes linhas de pensamento. Embora as fontes materiais sejam muito importantes para compreendermos o fenômeno jurídico, elas não são objeto de estudo direto da ciência do Direito: elas são o objeto de estudo de outras ciências, como a história, a sociologia, a antropologia, a economia, a política, e assim por diante. Por isso, o positivismo jurídico clássico, de Kelsen, com sua “Teoria Pura do Direito” defendia que o Direito não deveria se preocupar com suas fontes materiais. Mas, cuidado, hoje não é mais assim: se nós não entendermos o que está por trás do Direito, às suas fontes materiais, nós jamais compreenderemos o Direito em si (SALDANHA, 2005). 37UNIDADE II Fontes do Direito 1.3 ESPÉCIES DE FONTES DO DIREITO 1.3.1 Lei Primeiramente, e já com o intuito de apresentar as normas dentro da estrutura, é preciso entender que a legislação, é o conjunto das normas jurídicas escritas e, também, conhecida como “ordenamento jurídico” (NADER, 2014). Esse ordenamento jurídico, no que tange a sua “realidade”, é um conjunto enorme de normas e princípios jurídicos legislados. São, na verdade, milhares de normas, desde as constitucionais até as portarias. Elas apontam para uma complexidade praticamente inapreensível ao nível de concretude. Isto porque comportam todas as matérias com as quais lida o Direito, todas as esferas de abrangência relativas às esferas do Poder Público de que emanam (Poder Público Federal, Estadual, Municipal, Autarquias, Repartições etc.) e aos destinatários (todos os cidadãos, só os empregados, só os empregados bancários, só os funcionários públicos federais etc.). Em relação ao tempo de vigência, o ordenamento jurídico comporta desde normas editadas no século XIX, como o Código Comercial brasileiro, que é de 1850, até aquelas editadas hoje. Enfim, o conjunto das normas que compõem, de fato, o ordenamento jurídico é de um tamanho e de uma complexidade que dificultam muito sua apreensão in concreto (NADER, 2014). Por isso, o pensamento jurídico dogmático constrói fórmulas e modelos, capazes de lidar com essa complexidade, visando à sua compreensão e, claro, aplicação. Na questão 38UNIDADE II Fontes do Direito do ordenamento jurídico um critério importante para seu entendimento é o relacionado a sua estrutura (NADER, 2014). A estrutura do ordenamento jurídico organizado é hierárquica. Por hierarquia legal, entende-se que algumas normas são superiores a outras, isto é, algumas normas para serem válidas têm de respeitar o conteúdo, formal e material, da norma jurídica superior. Assim, por exemplo, se diz que uma lei ordinária é inconstitucional, quando contrária à Constituição; que um decreto regulamentar é ilegal, quando contraria a lei que lhe é superior, nesse caso o decreto regulamentar é, também, simultaneamente, inconstitucional, porque contrariou, pelo menos, a hierarquia (NUNES, 2017). Essa estrutura hierárquica, através da qual as normas jurídicas legisladas se inter-relacionam, umas se sobrepondo a outras, faz nascer aquilo que se chama “estrutura piramidal” que comporta o “sistema jurídico”. Vê-se, desse modo, que no ápice do sistema “piramidal” está a Constituição Federal. Note-se que as normas e os princípios constitucionais estão no topo do sistema, porém dentro dele e não fora. Dessa maneira, eles constituem o ponto de partida do ordenamento jurídico inteiro, mas são já o primeiro momento efetivo, isto é, as normas e os princípios constitucionais formam um conjunto de regras que estão em plena vigência “dentro” do sistema desde a sua edição, e que no caso da Constituição brasileira atual estão em vigor desde 5-10-1988 (NUNES, 2017). A Constituição espalha no sistema toda sua influência, é o chamado princípio da constitucionalidade, que obriga a que todas as outras normas de hierarquia inferior estejam conforme seus fundamentos, sob pena de se tornarem inconstitucionais e deixarem de pertencer ao ordenamento jurídico (BOLESINA, 2015) A seguir, na hierarquia do sistema jurídico estão as leis complementares, as leis ordinárias, as leis delegadas, os decretos legislativos, resoluções e as medidas provisórias, todos no mesmo patamar hierárquico. Com a edição da Constituição Federal de 1988 inaugurou-se um novo modelo lógico-jurídico, no qual as leis complementares deixaram de ter a sobrevalência hierárquica sobre as leis ordinárias (AYRES, 2006). A questão, inclusive, é bastante simples e implica apenas e tão somente o entendimento de uma questão lógica: a da hierarquia e desenvolvimento da noção de sistema, no caso, sistema jurídico. Até a edição da Carta Magna atual, a lei complementar tinha prevalência hierárquica sobre a lei ordinária. É que no modelo de sistema jurídico anterior, algumas leis ordinárias tinham seu comando hierárquico superior determinado por leis complementares que lhes impunham certas condições de validade (BOLESINA, 2015). 39UNIDADE II Fontes do Direito Era o caso, por exemplo, do Código Tributário Nacional (lei complementar) e sua relação com outras leis ordinárias tributárias. Acontece que, a partir de 5 de outubro de 1988, quando entrou em vigor a nova Carta Constitucional, como dito, isso acabou: não existe mais hierarquia entre lei complementar e lei ordinária, isto é, a lei complementar não determina as condições de validade da lei ordinária. Todavia, conforme demonstraremos, apesar de não ser condicionante em função da forma, ao menos uma Lei Complementar, a Lei n. 95, exerce controle no modo de produção das demais leis, por se tratar de norma geral dirigida ao próprio legislador (NUNES, 2017). Continuando ainda a abordagem da questão da hierarquia, constata-se: é verdade que o legislador constitucional deu mais, podemos dizer, “peso” normativo à lei complementar, reservando para ela temas legislativos de relevo. No entanto, isso não significa que a lei complementar esteja situada em patamar mais elevado no sistema. As leis complementares têm como função tratar de certas matérias que a Constituição entende devam ser reguladas por normas, cuja aprovação exige controle mais rígido dos parlamentares ( NADER, 2014). Por isso, o quórum legislativo exigido para sua aprovação é especial, é o da maioria absoluta (CF, art. 69: “As leis complementares serão aprovadas por maioria absoluta”). E as matérias para as quais é feita essa exigência de votação aparecem taxativamente no texto constitucional. Por exemplo, o art. 93, que trata do Estatuto da Magistratura; o art. 131, que disciplina a Advocacia Geral da União; o art. 192, que cuida do sistema financeiro nacional etc. Portanto, o que diferencia a lei complementar da ordinária é a matéria específica e o quórum qualificado de aprovação para as leis complementares e não a hierarquia, que, repita-se, não existe entre elas (AYRES, 2006). Surge, também, uma dúvida, às vezes apontada pela doutrina, em relação ao tema da hierarquia, por conta da existência de uma específica Lei Complementar, a de n. 95, de 26-2199824, que dispõe sobre a elaboração e consolidação das leis. E, em função do conteúdo dessa norma, argumenta-se que ela teria que ser hierarquicamente superior às leis ordinárias, para que estas a pudessem obedecer (BOBBIO,2010). Esse argumento, no entanto, é inconsistente. Em primeiro lugar, se isso fosse verdade, ao menos um tipo de norma não precisaria obedecê-la: exatamente as demais leis complementares, que estão no mesmo patamar, mas não é isso que se espera, conforme veremos. Em segundo lugar, não é o conteúdo da norma que define sua hierarquia, mas sua posição jurídico-política aceita historicamente pelos operadores do direito e em geral por toda 40UNIDADE II Fontes do Direito a sociedade. A citada Lei Complementar n. 95 é norma de organização. Diz como o
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