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Bonaminio - A pessoa do analista como conceito central da psicanálise contemporânea

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1 
Sociedade Brasileira de Psicanálise de Ribeirão Preto 
 
A pessoa do analista como conceito central da 
 psicanálise contemporânea 
 
 Vincenzo Bonaminio, 
 Società Psicoanalitica Italiana, Roma 
 
I. Introdução 
Esta noite, na minha conferência inicial deste nosso Congresso – um evento do 
qual estou honrado em participar – abordarei o tema da “clínica psicanalítica no 
panorama contemporâneo” a partir de um vértice específico: o da “pessoa do analista”; 
este é um tema ao qual tenho particularmente me interessado nos últimos anos, seja do 
ponto de vista mais propriamente clínico, seja daquele da sua conceitualização teórica. 
De fato, me parece que a noção de “pessoa do analista”- ou, então, a de 
“subjetividade do analista” (mas eu prefiro muito mais a primeira formulação porque 
me parece mais direta, mais clínica, eu diria mais “empírica”) está no centro da 
psicanálise contemporânea e, portanto, como temática, presta-se de forma 
particularmente intensa para tocar e descrever muitos dos nós teóricos, clínicos e 
conceituais que atravessam a cena do debate atual. 
Ou, pelo menos, os nós que a mim, subjetivamente, pareceram de particular 
relevância nos últimos vinte anos do debate psicanalítico e que me permitiram ordenar, 
organizar por “focos” relevantes o enorme fluxo, às vezes torrencial, de teorias, 
modelos, conceitualizações que se seguiram e se “apresentaram” dentro da “sala de 
análise” para explicar ou reformular as características importantes, ou para enfatizar as 
consideradas, certo ou errado, pouco vistas ou negligenciadas. 
Tenho plena consciência que, ao me referir aos nós que para mim, 
“subjetivamente”, como acabei de dizer, pareceram particularmente importantes, já 
declaro, por assim dizer, uma “escolha de campo” que inclui, implicitamente, duas 
especificações. 
Então, como primeira coisa, digo que não considero que existam teorias ou 
modelos “objetivos” aos quais possamos fazer referência, mas que os que utilizamos 
estão todos impregnados por uma opção fortemente subjetiva por parte de cada analista, 
assim como as teorias que os analistas, os grandes analistas propuseram, depois de 
Freud, são – da mesma forma que a do próprio Freud – elaborações “fantásticas”, 
ficcionais (fiction) a partir de uma base instintiva ou, melhor dizendo, que eu chamaria 
de “afetiva”, para organizar a experiência do inconsciente. O modelo de “produção” da 
teoria é, no fundo, aquele descrito por Freud em Sexualidade infantil (1905). 
O inquestionável reconhecimento da base pulsional-afetiva de toda “produção” 
teórica não implica, é claro, que eu opte por uma exclusão da objetividade do campo 
psicanalítico. Aquele que eu considero um desvio “subjetivístico” ou 
“intersubjetivistico” da psicanálise contemporânea constitui, como veremos, um dos 
âmbitos ao qual dirijo, de forma mais específica e radical, minha crítica em favor de um 
re-equilíbrio da teoria e da clínica psicanalítica “clássica”. 
“Subjetividade” e “objetividade”, como temas que caracterizaram o debate entre 
 2 
os psicanalistas, especialmente no final da década de noventa. Constituem, a meu ver, 
dois pólos inquestionáveis, em contínuo diálogo dialético entre si: da sua posição 
inquestionavelmente “subjetiva” o analista tem que se “esforçar” para reconhecer a 
objetividade do paciente, do material que traz para a análise, deve “doar-lhe” 
objetividade para podê-lo escutar. 
Aqui é crucial a referência à bioniana “suspensão de memória e desejo”, mas 
especialmente – do meu ponto de vista – à fértil diferenciação de Winnicott entre objeto 
“subjetivamente percebido” e objeto “objetivo”, à sua conceitualização de “uso do 
objeto”(1968) e ao que ele afirma antes (no ensaio revolucionário sobre “O ódio na 
contratransferência” [1947]) a respeito dos “sentimentos objetivamente observáveis do 
analista em relação ao paciente”. 
Dito nos termos mais “pessoais” com os quais o expus em trabalhos anteriores: a 
partir da sua posição subjetiva (o “lugar do analista”, assim intitulei o parágrafo 
sucessivo ao próximo) o analista deve facilitar e salvaguardar a criação de um espaço 
privado para o paciente, um espaço no qual possa emergir sua individualidade, sua 
privacidade, “protegendo-o” constantemente das intrusões, da invasão da sua própria 
subjetividade, que todavia é a única posição a partir da qual ele pode conhecê-lo. 
Será um dos temas que desenvolverei mais adiante como minha contribuição. 
No fundo, a intrusão do outro pode reproduzir-se in toto na transferência também na 
sala de analise e é o avesso da moeda do que, em outra parte, defini como a 
inquestionabilidade do outro para o desenvolvimento e o crescimento do self individual. 
A segunda especificação que deriva da minha afirmação de “escolha de campo” 
tem a ver com a minha referência às várias teorias que se sucederam e se 
“apresentaram”- uso deliberadamente esta expressão – na sala de análise. Isto é, quero 
dizer que não somente as teorias e as conceitualizações psicanalíticas são uma 
elaboração, um working-through, uma “transformação” em sentido bioniano, a partir de 
uma base pulsional-afetiva, mas que o “leito”, o terreno do qual nascem – ou do qual 
deveriam nascer – é a “sala de análise”, isto é a relação clínico-terapêutica entre 
analisando e analista. Tudo aquilo que nasce fora deste âmbito eletivo e específico da 
psicanálise, ou que não é imediatamente utilizável por esse âmbito, está fora do campo 
psicanalítico. Dito de forma mais imediata: não existe teoria, do meu ponto de vista, 
sem clínica e toda teoria deveria referir-se à clínica. 
Creio que todos nós estamos de acôrdo que, num certo nível, esta expressão “a 
pessoa do analista” se refere à influencia que os fatores pessoais do analista têm sobre o 
processo psicanalítico e sobre seu efeito terapêutico ou anti-terapêutico – uma 
consciência que estava presente no pensamento de Freud (1910, 1937) – mas, 
observando mais atentamente, podemos notar que esta expressão “a pessoa do analista” 
contém uma multiplicidade estratificada de significados, também em termos de história 
do pensamento psicanalítico a respeito de técnica, e um caráter intrinsecamente 
dialético. 
Ela nos questiona, de fato, sobre o tipo de relação que subsiste entre os dois 
termos: sempre há, e de forma inquestionável, uma pessoa “atrás” do analista? Supõe-se 
que o analista esteja em condições de limitar o mais possível a infiltração de seus 
fatores pessoais no exercício de sua atitude e função analítica para com o paciente? Ou 
então, ao contrário, há uma total e inevitável sobreposição entre os dois termos, 
“pessoa” e “analista”? Ou ainda: são os dois termos conceitualmente diferentes, e 
colocados em níveis diferentes de abstração e de significado clínico a ponto que pode 
ser enganoso colocá-los juntos e emparelhá-los? 
 3 
Essas são somente algumas das interrogações dentro de um espectro muito mais 
amplo que inclui um vasto território da reflexão psicanalítica contemporânea. Proponho 
me aproximar deste tema com um objetivo muito mais limitado, isto é, ao longo de duas 
diferentes linhas de pensamento, mas ao mesmo tempo estritamente interligadas entre 
si: isto é, aquela relativa à natureza da narração clínica, e a interpretação do analista, 
considerando-as, pelo menos no início, em nível muito descritivo. 
 
II. A narração clínica: o analista “revelado” 
Todo relato clínico reflete a maneira como o analista o viveu. A narração clínica 
é a única forma que o analista tem para comunicar e “publicar”, tornar “objetiva” e 
compartilhável uma experiência fundamentalmente íntima e privada qual é a situação do 
encontro com o analisando. 
Mas, mesmo que, como analista, eu não tenha a menor intenção de falar de mim 
mesmo, mas do objeto do meu encontro com o paciente – sem renunciar, portanto, à 
minha privacidade, e sem comunicar ao leitor ou ao ouvinte os meus sentimentos mais 
pessoais – posso fazer tudo isso só até um certo ponto Inevitavelmente, se quero 
comunicaralgo, ou talvez não comunicar nada, deverei revelar algo de mim, isto é, da 
minha maneira, pessoal e idiomática, de encontrar o paciente, de selecionar alguns 
“fatos” do seu discurso (os selected facts dos quais fala Bion, 1967). 
Mesmo ao ouvir o material clínico de outros, penso inevitavelmente em uma 
experiência pessoal, assimilando o que aconteceu, e que é descrito na apresentação, ao 
que aconteceu comigo, para encontrar as semelhanças e diferenças; em outros termos, 
dou sentido à experiência pessoal por como ela transparece no relato clínico de um 
outro analista, somente pensando na minha própria experiência. 
Como escreve Bion (1967) “...em qualquer relato de sessão, independente de 
quanto tempo se passou e de quem o redigiu, a lembrança não deveria ser considerada 
nada mais do que a ilustração de uma experiência emocional” 
Masud Khan (1972a) – o qual cita a teoria de Bion (1967a) a respeito das 
transformações implícitas em qualquer relato clínico – usa deliberadamente “o conceito 
francês de écriture [extraído de R. Barthes (1953)], sem dúvida refinado, porque [ele] 
significa algo mais que a escrita: indica uma decisão em relação a si mesmo e em 
relação aos outros” (1972, p. 119)1 
 
1 Ainda que a seleção que o analista faz do material – escreve D. Tuckett (1993) – forneça ao leitor ou 
ao ouvinte informações sobre o processo psicanalítico, sobre a patologia do analisando e sobre as 
configurações da transferência, das quais o próprio analista pode não estar plenamente consciente, todavia 
este não é um ponto fraco, mas uma especificidade da escrita psicanalítica, porque em seu intento de 
comunicar um processo do qual ele é parte vital, o analista diz muito mais de quanto ele próprio não 
saiba conscientemente. A “revelação” do analista na escrita dos relatos clínicos e sua relação com a 
contratransferência foi recentemente destacada também por R. Michels (2000). Antes do número do 
JAPA (48, 2, 2000) dedicado a “The Write Stuff”, é preciso lembrar o numero especial do International 
Journal of Psychoanalysis (1994, 75) que incluía esse tema no contexto mais amplo da “Conceituação e 
comunicação dos fatos clínicos em psicanálise” (Week-End Conference, Outubro de 1994). A escrita e a 
narração em psicanálise receberam uma atenção especial dos psicanalistas italianos. A conceituação de 
Antonino Ferro das “transformações narrativas” na sala de análise aborda o tema da narração a partir de 
um ponto de vista pessoal e original (1996, 1999). D. Chianese (1997) sublinhou que para o analista 
escrever não é uma sobrestrutura, mas uma parte integrante de seu trabalho e da sua experiência, e a 
escrita representa para Vergine um aspecto particular da sua radical abrodagem da questão do 
“transcrever o inconsciente (A. Vergine, 2002). E. Piccoli – P. L. Rossi – A. Semi (1996) publicaram, 
também em inglês, um volume que trata especificamente deste tema. O Centro Veneto de Psicanálise 
 4 
Portanto, a narração e a escrita falam de nós, nos revelam ao outro e, através do 
outro, nos revelam a nós mesmos... 
 
II – O lugar do analista 
Entretanto, segundo o ponto de vista aqui exposto, não é muito diferente esta 
situação do falar (ou escrever) sobre um assunto clínico específico – isto é, aquela em 
que o autor revela a si mesmo ao leitor – daquela na qual se encontra o analista ao 
trabalho na situação psicanalítica. 
 Sentado mais ou menos confortavelmente em sua poltrona atrás do divã no qual 
está deitado seu analisando, o analista escuta o que ele diz naquele momento, mas 
também seus silêncios, transfere-se no lugar e no tempo no qual a narração de seu 
analisando o convida a ir, encontra seus objetos; mas também os próprios, reavivados 
pelo encontro com os do analisando, escuta contemporâneamente seus próprios 
pensamentos, sente e registra as emoções que nele afloram, deixa-se transportar pelas 
suas próprias e íntimas associações, que o afastam e o distraem do paciente; e num certo 
momento decide propor um comentário, isto é, uma interpretação: um comentário que 
se refere a ele, o paciente, e à sua relação com o analista. “Fornecemos ao paciente – 
escrevia Freud (1910) “winnicottiano” ante litteram2 - a representação antecipatória 
consciente [a idéia do que ele pode esperar descobrir] e em base da afinidade com esta 
ele descobre em si mesmo a representação inconsciente recalcada”. (p. 198) 
Virtualmente, no momento em que o analista decide fazer um comentário, uma 
interpretação, interrompe a continuidade de um processo que está acontecendo na 
privacidade do paciente (as associações livres) e irrompe, com seu pessoal ponto de 
vista, no campo analítico. Portanto, a interpretação enquanto tal, é sempre separadora, 
intrinsecamente veículo de alteridade, caracteriza-se por aquilo que Piera Aulagnier 
(1975) chama de, justamente, “a violência da interpretação”: o efeito da antecipação do 
“discurso materno” desloca para o registro do comunicável aquilo que dele estava 
excluído. 
Por mais empático, próximo ao paciente, em contato, “identificado” ou “quase-
fundido com ele” (D. W. Winnicott, 1960), podemos dizer que no momento mesmo em 
que o analista decide falar cria – separando-se dele – o objeto em torno do qual falar. O 
analista quer deixar o campo analítico disponível para o paciente, quer manter o foco de 
sua atenção e de seus comentários sobre o paciente. Não tem nenhuma intenção, o 
analista, de falar de si próprio, e frequentemente consegue; e, de qualquer forma, se 
espera que tenha condições de não ocupar o campo próprio do paciente, garantindo ao 
contrário “a criação, a manutenção e o desenvolvimento do processo psicanalítico” (M. 
Balint, 1949). 
Semelhante, desse ponto de vista, é o “silêncio” do analista, o seu “não 
interpretar”. Estou me referindo, especificamente, àquela tradição técnica que 
compartilho (Bonaminio, 1993) e que atribui à tolerância da regressão do paciente e ao 
 
organiza anualmente um congresso sobre o tema da escrita. A revista Richard e Piggle (8, 1, 2000) 
dedicou um núcleo monografico à escrita em psicanálise das crianças e adolescentes, com contribuições 
de Marion, Norsa, Petrelli, Bonaminio. 
 
2 Naturalmente, são freudianos os desenvolvimentos do pensamento de Winnicott segundo o qual “o 
objeto é criado no ponto em que é feito encontrar pelo outro (D.W. Winnicott, 1951) e a interpretação 
possui as características do object presenting. 
 5 
não interpretar, uma dignidade de agentes mutativos para a mudança psíquica 
semelhante à da interpretação e em relação dialética com ela3. 
Portanto, ainda que a interpretação constitua uma interferência por parte do 
outro (o analista) que é potencialmente mutativa para o paciente, e ainda que o “não-
interpretar”, isto é, o silêncio do analista, virtualmente reduza tal interferência na 
privacidade do paciente, colocando-se o analista “a serviço de um processo” que facilite 
a busca por parte do paciente de uma “intimidade consigo mesmo” (M. Khan, 1975)4, 
todavia em ambas as posições emerge a individualidade do analista. Em ambos os 
casos, ligados entre si por uma relação dialética, o analista pode entrar em contato com 
o paciente, pode acolher seu sofrimento, pode refletir de volta (mirroring) ao paciente o 
que o paciente trouxe, pode compartilhar com o paciente para “encontrar junto com ele 
uma definição satisfatória de seu verdadeiro self” (D. W. Winnicott, 1959); o analista 
pode, em outros termos, ser para o paciente o outro que lhe permite se re-encontrar, 
somente se ele, analista, é si mesmo, se reivindica, por assim dizer, as próprias 
fronteiras e a própria individualidade. Uma individualidade do analista tão radicalmente 
definida por Winnicott, na sua famosa declaração de abertura do ensaio de 1962 “Os 
objetivos do tratamento psicanalítico”: “Aofazer psicanálise, meu objetivo é: manter-
me vivo, manter-me bem, manter-me acordado. Meu objetivo é ser eu mesmo e me 
comportar como tal”. 
Também a recomendação bioniana (1967b) da “suspensão de memória e desejo” 
por parte do analista é, como a de Winnicott, tudo menos que “tecnicista”; e, como 
Winnicott, Bion remete com sua recomendação não a uma estratégia técnica mas a uma 
posição do analista dentro da sala de análise, no aqui-e-agora da sessão, a um ficar-
consigo-mesmo, para poder ficar com o paciente. 
Portanto, apesar de sua intenção e de sua disciplina em não invadir o campo 
próprio do paciente, o analista no momento em que decide fazer uma interpretação ou 
permanecer em silêncio, deixa inevitavelmente que algo de si mesmo, algo de pessoal, 
algo de sua individualidade transponha os limites, reduza aquela distância e aquela 
separação que tinha, justamente, criado para comunicar, e inevitavelmente revela ao 
paciente algo de si mesmo. 
 
 
 
3 Na tradição winnicottiana este aspecto é expresso claramente e de forma convincente e constitui, a meu 
ver, um traço saliente da clínica psicanalítica contemporânea: “O ato de interpretar deveria incluir 
também a reserva do analista (the analyst’s reticence) – isto é seu não-interpretar (...) paradoxalmente a 
não interpretação só pode ser o ponto culminante da interpretação. Não é possível não interpretar sem 
antes ter interpretado. É isso que se entende quando se fala da necessidade que a força do Eu e a 
complexidade do funcionamento psíquico se constituam no paciente antes que a não-interpretação do 
analista cristalize nele a experiência de ser” (M.R. Khan, 1969, p. 198): é no contexto do espaço 
terapêutico, onde paciente e analista se encontram entre eles, mas também encontram a si mesmos em 
uma profundidade raramente acessível em qualquer outro setting, que podem nascer as experiências 
mutativas compartilhadas, na medida em que a oportunidade da interpretação deve ser incluída (A 
Giannakoulas, 1998) 
 
4 Em um trabalho anterior (1993) sobre o tema do “não-interpretar” fiz referência à concepção de Balint 
(1968) do analista não intrusivo (unobtrusive) e à de Winnicott (1958) sobre a “capacidade de estar 
sozinho”, sobre o papel do analista ao facilitar esta capacidade, e sobre seu conceito de “período de 
hesitação” no jogo da espátula (spatula game) (D. W. Winnicott, 1941) que permite à criança (e ao 
analisando) reconhecer a realidade de seu desejo, na medida em que cria-se uma suspensão, uma não 
interferência por parte do outro. 
 6 
IV. Participação do analista e contratransferência 
Ao me referir ao inevitável “revelar-se” do analista ao paciente, não estou falando da 
self-disclosure, um tema entorno ao qual, no cenário contemporâneo, debatem 
intensamente especialmente os analistas dos Estados Unidos: às vezes, com tons 
particularmente interessantes, a meu ver, principalmente pela variedade das situações 
clínicas que são re-examinadas em relação à assim chamada técnica clássica; por outro 
lado, muitas vezes com acentuações extremadas sobre a participação do analista ao 
processo psicanalítico, um fato, este, que para nós, europeus, do outro lado do oceano, 
aparece como óbvio em termos de teoria das relações objetais e de concepção da 
contratransferência5. Sobre este tema da contratransferência voltarei mais adiante de um 
outro ponto de vista. 
Justamente por esta neo-acentuação entusiasta, quase maníaca, da participação 
do analista no campo analítico, a insistência de certas correntes da psicanálise 
contemporânea dos Estados Unidos aparece como um perigo de uma corrente co-
construtivista e intersubjetivista que, em nome da paridade entre analisando e analista, 
invade o campo próprio do paciente, subtrai-lhe espaço, confiando ao enactment, no 
fundo à ação, seja ela psíquica ou comportamental, a possibilidade de conhecer algo do 
que acontece na situação psicanalítica. 
 Segundo André Green (1997), na abordagem intersubjetivista (em sua acepção 
especifica de “modelo” da relação psicanalítica), esta prioridade dada ao enactment – 
que “destrona a representação porque a engloba no fazer” – está influenciada, “guiada”, 
ele diz, pela concepção neo-kleiniana da ubiquitariedade da identificação projetiva e do 
que o analisando tende levar a mente do analista a “fazer”. 
Proporei, de forma sintética, um aprofundamento deste ponto, mas a partir de 
uma perspectiva diferente da crítica de Green – sublinhando que, a meu ver, a 
abordagem intersubjetivista e aquela neo-kleiniana, mas também as teorias extremistas 
de análise como campo bi-pessoal, caminham de braços dados pela insistência comum 
sobre o “aqui e agora” relacional como único lugar dos acontecimentos da sessão e do 
inconsciente em ação (unconscious in action), para retomar uma expressão de Britton 
(2000). Um inconsciente, porém, que nesta ultima perspectiva parece ser somente o do 
paciente. Isto é evidente, também, naquela reificação que, infelizmente, parece ter 
sofrido a recomendação bioniana da “suspensão de memória e desejo”. 
Portanto, na abordagem “intersubjetivista”, a “comparticipação”, e com ela a 
referência às duas “subjetividades” – a do analisando e a do analista – torna-se o vértice 
privilegiado de observação que coloca hierarquicamente sob si tudo o que acontece na 
situação analítica, em nome de uma “empírica” evidência. 
Fred Busch (1999) exprime de forma muito pertinente este mesmo desacordo 
quando se pergunta: Are we loosing our minds? “A psicanálise - ele escreve - está 
escorregando em um estado de ausência de mente (mindlessness). Podemos observá-lo 
na posição segundo a qual os analistas não podem conhecer suas mente, imagine a de 
um outro! Isto é evidente na falta de interesse de alguns analistas pela mente individual 
do analisando. Podemos vê-lo na crença de que a psicanálise seja antes de mais nada 
uma co-criação de duas mentes, tanto na situação clínica quanto como agente de 
mudança” 
 
5 Em um trabalho, Stefania Turillazzi Manfredi e M. Ponsi ( 1999) se perguntam “porque falar de 
subjetividade do analista se temos um conceito tão consolidado como o da contratransferência?” e 
examinam em detalhe as razões e a especificidade disso. 
 7 
Um novo realismo, uma nova reificação, sob vestes pós-modernas, colocou 
raízes na cena da conceituação psicanalítica após a legitimamente injuriada reificação 
do modelo pulsional e estrutural, e da sua suposta estrutura “unipessoal”, atribuída tout 
court à psicologia do ego. A inquestionável relação e “intersubjetividade”, invocadas 
para destacar, justamente, a contribuição recíproca e de recíproca influência dos dois 
partners na co-determinação dos significados ou dos acontecimentos da sessão; a 
relação intersubjetiva invocada para sublinhar a dimensão “construtivista” da realidade, 
inclusive a psíquica, e, portanto a sua relatividade dependente, como é obvio, a partir do 
contexto relacional; justamente esta relacionalidade parece porém se subtrair àquele 
elemento de relatividade que, ao contrário, ela reivindica, menos que para si mesma, 
quando, na mão de seus defensores mais radicais, corre o risco de se tornar uma espécie 
de realidade de base e imprescindível, de pré-requisito, de primum movens. 
Se não é, portanto à self disclosure ao que eu queria me referir – quando antes 
afirmei que o analista no momento em que decide fazer uma interpretação ou 
permanecer em silêncio, deixa inevitavelmente que algo de si transpareça, desvendando 
ao paciente algo de si – a que desvendamento me refiro? 
Refiro-me àquele presentificar-se imprevisível, e inevitável, do inconsciente na 
comunicação intersubjetiva, ao seu (it) emergir de dentro de nós, que Freud (1905) 
descreveu em suas manifestações multiformes desde o ensaio sobre “Chistes e sua 
relação com o inconsciente”. De forma mais geral, estou me referindo àquela 
comunicação inconsciente entre analisandoe analista descrita várias vezes por Freud e 
que está na base do trabalho psicanalítico: uma comunicação de inconsciente a 
inconsciente gerada e ao mesmo tempo delimitada pela estrutura psicanalítica, e à qual o 
“sistema de escuta” que a psicanálise é essencialmente, as associações livres do paciente 
e a atenção livremente flutuante do analista, da possibilidade de se explicitar, lhe 
oferece o caminho para se realizar. 
Não há dúvida que esse tipo de comunicação inconsciente corresponde às 
concepções de identificação projetiva e introjetiva fundadas na teoria das reações 
objetais (C. Bollas, 1995). Todavia, se foi repensada e re-escrita com acentuações 
diversas, ele não é substancialmente diferente das descrições feitas pelo próprio Freud: 
basta pensar na metáfora do aparelho de rádio que recebe uma transmissão (1912) ou à 
sua afirmação (1915) segundo a qual o inconsciente de uma pessoa pode reagir ao 
inconsciente da outra eludindo a consciência”. 
As concepções correntes da atividade sonhante do analista (o unending 
dreaming de Winnicott, a concepção de Klein do analista como “Eu que sonha”, a 
rêverie de Bion) não constituem nada mais que uma acentuação e uma revalidação deste 
tipo de comunicação, restituindo, por assim dizer, ao sonho e ao sonhar (A Philips, 
1989) a centralidade que Freud tinha-lhe designado. “Não é por acaso – escreve Bollas 
(1990) – que Freud tenha assumido o sonho como o objeto mental constitutivo para 
estudar o ser humano. Porque é aqui, no sonho, que a pessoa se divide em duas 
estruturas psíquicas de base, que são o “self simples” que é o sujeito da experiência no 
sonho, e a “inteligência organizadora” que elabora o ambiente do sonho e lhe dá um 
significado. (...) O recorrer da experiência do sonho, no qual um self simples está 
repetidamente dentro de um teatro altamente complexo de pensamentos e personagens 
alegóricos, constitui o pressuposto e o fiador intrapsíquico do tratamento enquanto 
aliança entre analista e analisando”. Estamos aqui na área daquele paradoxo de como 
um modelo intrapsíquico, qual é o sonho, pode funcionar para uma experiência 
essencialmente “intersubjetiva”, qual é a análise (cfr. A. Philips, 1989). A posição do 
analista neste paradoxo é a de promover, fornecer o ambiente para a constituição do 
 8 
espaço do sonho. 
Mais recentemente, Bollas (1995) descreve este complexo movimento psíquico 
como uma espécie de countertransference dreaming. Na Itália, Antoino Ferro (1999) 
aprofundou, em um desenvolvimento original e pessoal do pensamento de Bion, a 
concepção da atividade onírica de vigília do analisando e do analista “na sala de 
análise”. 
Bollas coloca em palavras extremamente sugestivas este processo: “o receptor 
inconsciente de Freud, isto é a condição onírica da contratransferência, elabora as 
comunicações inconscientes do paciente segundo suas modalidades: de um sonhador a 
outro. Sonhando o analisando durante a sessão, levando-o para outro lugar transformado 
em pessoas, eventos e lugares diferentes, o analista faz uma operação inconsciente de 
des-construção, isto é, desloca, condensa e substitui o paciente” (p. 7). “Mas – 
prossegue Bollas – como podemos estabelecer uma diferença entre a elaboração que faz 
o analista do inconsciente do paciente e [as que ele chama] suas próprias disseminações 
(dissemination) idiomáticas? Não podemos. Tudo o que podemos fazer é reconhecer a 
diferença entre idiomas – um reconhecimento que pressupõe um certo tipo de 
autoridade tensional (tensional authority) e cria uma fronteira apta a favorecer a 
liberdade do jogo inconsciente” (p. 13-14) 
Portanto, se assumirmos esse ponto de vista, concordaremos que a expressão “o 
analista como pessoa” ou “a pessoa do analista” está totalmente implícita nesta 
concepção. Não é um fato “novo” a ser levado em conta, mas se identifica com o 
próprio nascimento da psicanálise, faz parte de seu estatuto clínico e teórico; é 
simplesmente um fato, dado por óbvio, que implica em uma focalização diferente6. 
Naturalmente, é a focalização diferente deste fato, isto é a participação do analista na 
criação, na manutenção e no desenvolvimento do processo psicanalítico, que destingue 
a evolução da técnica psicanalítica e das concepções dos seus fatores terapêuticos. 
Voltarei neste ponto mais adiante. 
 Todavia, é impressionante constatar, nachträglich, o quanto a influência dos 
fatores pessoais do analista estivesse presente nas reflexões de Freud desde o início: 
como notou Giovanna Goretti (2001) desde as reflexões sobre o caso Dora 
“Freud...demonstra saber que o analista influencia em cada momento o 
desenvolvimento da cura” (Freud, 1901). Na conferência introdutória ao II Congresso 
Internacional, “As perspectivas futuras da terapia psicanalítica” (1910), ele já podia 
tomar distância de um passado há não muito transcorrido e reconsiderar a técnica em 
termos da contribuição do paciente e do médico ao processo terapêutico. “No início – 
escreve Freud – a cura psicanalítica era inexorável e extenuante. O paciente tinha que 
dizer tudo de si e a atividade do médico consistia em fazer ininterruptamente pressão 
sobre ele. Hoje as relações são mais amigáveis. A cura consiste em duas partes: o que o 
médico pergunta e diz ao doente e a elaboração por parte do doente daquilo que ouviu” 
(p. 198). Se a frase que segue sobre a “representação antecipatória” que o analista 
fornece ao analisando constitui, como já disse, uma espécie de winnicottiano ante 
litteram em Freud, não podemos também ver nessa distribuição do trabalho 
psicanalítico entre duas partes uma antecipação daquela concepção do “time de duas 
pessoas que agem como unidade funcional” com a qual Paula Heimann (1955/56, p. 
143), descreveu a situação psicanalítica, antecipando muitos outros autores ? É 
 
6 Veja-se também as iluminantes e convincentes observações de Michael Parson (2000) sobre o tema da 
identidade psicanalítica e pessoal e o que ele descreve em termos de confiança do analista no processo 
entre ele mesmo e o paciente e a evolução da identidade do analista. 
 9 
justamente nesse ensaio, por outro lado, que Freud, como sabemos, sublinha que estas 
mudanças da técnica derivem também da adquirida consciência “da contratransferência 
que insurge no médico por influência do paciente sobre seus sentimentos inconscientes” 
e da necessidade de “reconhecê-la e dominá-la”. Esta visão do trabalho psicanalítico 
como constituído pela contribuição dos dois participantes recebeu na psicanálise italiana 
contemporânea abordagens clínicas e conceituais de muito destaque7. 
Para retornar a Freud: é em “Análise terminável e interminável” (1937) que ele 
não se limita somente em confirmar as posições de Ferenczi, mas as ultrapassa e as 
transforma quando reconhece o impacto sobre o desenvolvimento da cura, não somente 
dos pontos fracos do analista – em certa medida teoricamente reduzíveis graças, por 
exemplo, à análise pessoal e àquele contínuo trabalho de auto análise, sugerido já em 
1910 – mas da inteira sua personalidade, daquilo que faz dele aquilo que ele é, no bem e 
no mal: a sua individualidade” (G. Goretti, 2001). 
O sentido dessas citações freudianas é o de lembrar, por assim dizer, a 
continuidade que há na psicanálise de uma consciência originária da influência do 
analista como pessoa no processo psicanalítico. Naturalmente, como já mencionei antes, 
é a diferente focalização deste fato, quer dizer a participação do analista na criação, na 
manutenção e no desenvolvimento psicanalítico que caracteriza a evolução da técnica 
psicanalítica e das concepções de seus fatores terapêuticos. 
Na literatura psicanalítica contemporânea esta focalização diferente geralmente é 
catalogada sob o registro de um paradigm shift – expressão epistemológica um pouco 
pomposa, com a qual, geralmente, é anunciada e sucessivamente exposta, a adesão a um 
“novo modelo da situação psicanalítica”. Não farei uma resenha, aindaque breve, da 
literatura contemporânea sobre esse assunto porque, como afirmei antes, o meu 
interesse nessa questão é puramente clínico. 
É a clínica, isto é, a situação terapêutica que modificou a psicanálise, de forma 
análoga como a clínica desde o início deu origem ao modelo de funcionamento da 
mente elaborado pela psicanálise. O papel central da psicopatologia e da situação 
terapêutica como fonte de escolha dos dados sobre os quais foi construído o modelo 
teórico da psicanálise, tende a ser desvalorizado após ter sido objeto de um enorme 
trabalho de redimensionamento para corrigir aquela que foi considerada uma inclinação 
excessiva “patomórfica” da psicanálise.8 
 
7 Independente do alto numero de artigos publicados em várias revistas, esta perspectiva é bem 
representada por uma série de volumes, individuais ou coletâneas, que apareceram especialmente no 
ultimo decênio. Recordo, entre outros: Neri-Pallier-Soavi-Tagliacozzo(1990); Nissim Momigliano-
Robutti (eds, 1992); Ferro (1992, 1996, 1999, 2002); Manfredi Turillazzi (1994) Gaburri (ed., 1997); 
Borgogno(1999), Bolognini (2002) 
 
8 E’ o caso de lembrar que os primeiros conceitos clínicos da psicanálise, sobre os quais se fundou 
incialmente o modelo da mente, conceitos cujos vestígios sobrevivem mais ou menos legitimamente 
ainda hoje, por exemplo “resistência”, “recalcamento”, “defesa”, são a transcrição teórica das 
modalidades de funcionamento “mental” observado clinicamente no tratamento das pacientes histéricas. 
Hoje, naturalmente, estamos em condições de repensar estes conceitos, apreciar sua estreiteza ou pouca 
utilizabilidade com certos pacientes, mas também de descobrir, desvendar sua origem dentro da sala de 
análise: isto é, quando as jovens mulheres deitadas no divã do Dr. Freud “resistiam” à inquestionável 
intrusividade de seu método de cura, se “defendiam” de seu pedido de dizer tudo o que podia surgir em 
suas mentes, “recalcavam” o que era desagradável fora do campo relacional entre elas e o médico, 
estando mais interessadas na relação com ele que de qualquer forma continha em uma nova edição (a 
transferência) de algo que já havia acontecido, e que todavia se construía, se co-construía poderíamos 
dizer hoje, ex novo naquele momento. “Os fenômenos de transferência – escrevia Freud em 1912 - ...nos 
 10 
A irrupção da dimensão da contratransferência, isto é, da qualidade da 
participação do analista foi mobilizada pelo acolhimento na análise de um tipo de 
interlocutor diferente dos originais freudianos, isto é, os pacientes considerados 
borderline, narcisistas, esquizóides, psicóticos e crianças. Na medida em que ela 
começou a mostrar a outra metade do céu do cenário psicanalítico também “forçou” um 
repensar e uma profunda redefinição da inteira situação psicanalítica e – mas de forma 
muito menos radical e homogênea – das concepções sobre o modelo de mente que daí 
derivam. 
É, portanto, nessa irrupção da contratransferência9 no cenário analítico que eu, 
pessoalmente, vejo um dos principais fatores de mudança e de evolução do modelo 
psicanalítico da mente e da relação; e atribuo a esta transformação não as características 
de uma impressionante cesura ou de paradigm shift, mas as de uma lenta, progressiva, 
necessária mudança – uma revolução “calma”, “silenciosa”, para utilizar a expressão de 
Ogden (1992) – que fala da vitalidade da análise como método de cura. 
 
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prestam o serviço inestimável de tornar atuais e manifestos os impulsos amorosos, ocultos e esquecidos 
dos doentes. De fato, por mais que se diga, ninguém pode ser vencido in absentia ou in effigie”. 
9 Refiro-me especialmente ao trabalho de Paula Heimann (1950) “Sobre a contratransferência”, ao de 
Margareth Little (1951), ”A contratransferência e a resposta do paciente” e ao trabalho de Winnicott 
(1947) “O ódio na contratransferência”. Como destaquei em outra ocasião (1991) a insistencia de 
Winnicott sobre o tema do ódio tem o objetivo, a meu ver, de colocar a atenção sobre um tema mais 
amplo: isto é, o da autenticidade dos sentimentos do analista como pessoa em relação ao paciente, da 
autenticidade da sua presença na sessão para que a relação possa ser reconhecida pelo paciente como 
verdadeira. 
 11 
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TRADUÇÃO DO ITALIANO: Dra. Marta Petricciani – SBPSP

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