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Modulo 1 - Sustentabilidade

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Seja bem-vindo ao nosso curso Compras Sustentáveis e a Nova Lei de 
Licitações! 
MÓDULO I – SUSTENTABILIDADE 
Neste primeiro módulo, vamos tratar dos fundamentos e dos conceitos de 
sustentabilidade. Leia com atenção e repita a leitura, se necessário. Somente 
passe à aula seguinte quando os conceitos estiverem bem sedimentados. Bons 
estudos! 
 
AULA 1 – Conceito de Sustentabilidade, Fundamentação Constitucional 
e Legal, e Acórdão TCU 1.056/2017-Plenário 
Nesta primeira aula, vamos estudar o conceito de sustentabilidade, sua 
fundamentação constitucional e legal, em especial, as leis 8.666/1993 e 
14.133/2021. Além disso, veremos em detalhes o Acórdão TCU 1.056/2017, que 
é um marco na Administração Pública quando falamos de sustentabilidade. 
Acesse as leis 8.666/1993 e 14.133/2021 no site www.planalto.gov.br. Basta 
digitar o número da lei no google. Depois, baixe o arquivo e o salve no 
computador. 
OBJETIVO 
Ao final desta aula, esperamos que você conheça as principais leis aplicáveis às 
compras públicas e os princípios constitucionais que tratam da sustentabilidade, 
assim como as disposições do Acórdão TCU 1.056/2017-Plenário, que serviu de 
base a diversas pontos inseridos na Lei 14.133/2021, nova lei de licitações. 
 
1. Introdução 
De acordo com informações constantes do portal do Ministério do 
Planejamento, as compras do governo chegam a 15% do produto interno 
bruto (PIB). A dimensão dessas compras faz com que o governo tenha um 
forte poder de interferência no mercado. Os impactos envolvem não apenas 
o aspecto econômico, mas também questões sociais, ambientais e de políticas 
públicas. A amplitude do contexto torna-se cada vez mais relevante, exigindo 
do poder público uma atuação mais proativa, e mais eficaz. 
O Tribunal de Contas da União (TCU) realizou alguns trabalhos de 
avaliação da Administração Pública e constatou que muitas das ações 
carecem de planejamento e monitoramento dos resultados obtidos. Diante 
disso, por intermédio do Acórdão 2.622/2015-P, fez uma série de 
recomendações no sentido de que as instituições governamentais passassem 
a atuar de maneira organizada, aplicando os mecanismos de governança aos 
seus processos de aquisições. É necessário que as ações da alta administração 
de um órgão agreguem valor ao negócio “administração pública”. Esse é o 
objetivo das recomendações do TCU que se pode inferir por uma leitura 
minuciosa do referido acórdão, que pode ser acessado no link a seguir. 
https://pesquisa.apps.tcu.gov.br/#/resultado/acordao-
completo/*/NUMACORDAO%253A2622%2520ANOACORDAO%25
3A2015/%2520 
A Lei 12.349, de 2010, incluiu no art. 3º da Lei 8.666/1993, a promoção 
do desenvolvimento nacional sustentável como um dos objetivos das 
licitações públicas. Com esse dispositivo, a Lei passou a exigir que os 
gestores públicos enfrentem a questão da sustentabilidade em seus três 
aspectos: ambiental, social e econômico. 
Por intermédio do Acórdão 1.056/2017-P, o TCU fez uma série de 
determinações a vários órgãos da Administração Pública no sentido de que 
fosse cumprida a disposição consignada no art. 3º da Lei 8.666/1993. A partir 
daí, várias providências foram e estão sendo adotadas, com vistas ao efetivo 
cumprimento das normas relacionadas à sustentabilidade nas licitações 
públicas. 
A recente Lei 14.133/2021, que irá substituir a atual Lei 8.666/1993, trata 
do assunto sustentabilidade com mais atenção. Vários trechos da nova lei 
cuidam de questões relacionadas com a sustentabilidade, especificamente 
com o ciclo de vida dos produtos. 
Vários entendimentos manifestados por órgãos de controle, como o TCU, 
foram claramente consignados no novo estatuto das licitações, exigindo 
maior profissionalização dos gestores responsáveis. Estes deverão ficar 
atentos a questões referentes ao planejamento das compras públicas, à gestão 
dos riscos envolvidos no processo, especialmente à profissionalização dos 
responsáveis pela execução das atividades de aquisição de bens e serviços, e 
à questão da sustentabilidade. 
Nesse cenário, as compras públicas sustentáveis, que, em alguns 
momentos, chegaram a ser consideradas como algo muito caro e de difícil 
realização, passam a ser, de fato, uma obrigação do gestor público. 
Para uma boa condução do processo de compras sustentáveis, algumas 
necessidades foram identificadas, tais como: conhecimento da legislação, 
capacidade técnica para especificar um produto ou um serviço que contemple 
requisitos de sustentabilidade, condições de avaliar os impactos na qualidade 
de vida dos trabalhadores que prestam serviços ao poder público, capacidade 
de avaliar impactos ao meio ambiente, conhecimento do mercado. 
Por conta disso, em sintonia com o Acórdão 1.056/2017-P do TCU, os 
gestores públicos devem entender que é essencial capacitar os servidores 
envolvidos nos processos de compras públicas sustentáveis. 
Pensando nisso, definimos o conteúdo desta apostila e desenvolvemos este 
curso. Não temos a pretensão de abordar toda a matéria que envolve compras 
sustentáveis, mas oferecer aos interessados uma oportunidade de aprimorar 
seus conhecimentos, de conhecer os conceitos relacionados com 
sustentabilidade, a legislação aplicável à matéria, especialmente a nova Lei 
de Licitações, e de dar os primeiros passos, para que possam auxiliar a 
Administração na busca pelo desenvolvimento nacional sustentável por meio 
das licitações públicas. 
2. Conceito de Sustentabilidade, Fundamentação Constitucional e 
Legal 
 
 É preciso entender sustentabilidade como um princípio constitucional 
que não cuida apenas da conservação e da preservação do meio ambiente. 
Existem muitos aspectos envolvidos, como o social, o econômico, o cultural. 
 
 A Oganização das Nações Unidas (ONU) nos apresenta o seguinte 
conceito de sustentabilidade: “Sustentabilidade é a capacidade de suprir as 
necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações 
futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades.” 
 
 Sustentabilidade tem mesmo a ver com a capacidade de preservação do 
meio ambiente, garantindo a disponibilidade de recursos para as gerações 
futuras. Trata-se de não exaurir os recursos disponíveis na natureza. 
 Contudo, não podemos deixar de lado a questão social, que se refere às 
ações destinadas à melhoria da qualidade de vida da sociedade que ocupa 
esse meio ambiente. Ações que proporcionem a todos, segurança no trabalho 
e geração de renda, que combatam o trabalho infantil e que busquem o 
desenvolvimento regional são alguns exemplos do que deve ser entendido 
como sustentabilidade social. 
Sob o ponto de vista econômico, temos uma série de medidas que podem 
ser adotadas, como: apoio a pequenas empresas, agricultura familiar, 
compensação ambiental, utilização de fontes alternativas de energia. 
2.1 Fundamentação Constitucional 
O art. 170 da Constituição Federal de 1988 (CF/88) dispõe que a ordem 
econômica se fundamenta na valorização do trabalho humano e na livre 
iniciativa, buscando a existência digna dos cidadãos. Foram estabelecidos, 
nesse artigo, alguns princípios, como a soberania nacional (inc. I), 
a propriedade privada (inc. II), a função social da propriedade (inc. III), a 
livre concorrência (inc. IV), a defesa do consumidor (inc. V), a proteção 
do meio ambiente (inc. VI); a redução das desigualdades regionais e 
sociais (inc. VII), a busca do pleno emprego (inc. VIII) e o tratamento 
diferenciado para as empresas de pequeno porte (inc. IX). 
No art. 225, a CF/88 impõe ao Poder Público e à coletividade o dever de 
defender e preservar o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado 
para as gerações presentes e futuras, nos seguintes termos: “Todos têm 
direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum 
do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público 
e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e 
futuras gerações.” 
Nesse artigo, a CF/88 exige a elaboração de estudo préviode impacto 
ambiental (inciso IV) como forma de avaliar a eficiência da atividade 
econômica, por meio da aplicação do conceito de sustentabilidade 
ambiental e financeira. 
O princípio do desenvolvimento sustentável exige a criação de um 
conjunto de instrumentos preventivos que ordene as ações econômicas para 
compatibilizá-las com a proteção do meio ambiente e da sociedade, fazendo 
com que sempre existam os recursos necessários ao desenvolvimento. 
Desse modo, sustentabilidade é garantia de meio ambiente saudável, 
renovável, economicamente viável e socialmente justo, para as gerações 
presentes e futuras. 
Todo esse contexto é respaldado nos citados dispositivos constitucionais 
e decorre do princípio fundamental do direito à vida, tornando-se 
indisponível como o próprio direito à vida. 
Não foi sempre que o legislador teve a percepção de proteger o meio 
ambiente. A legislação específica que trata do assunto é muito recente no 
Brasil. 
O art. 37, XXI, da CF/88, representa o fundamento para a necessidade de 
realização das licitações públicas em todas as esferas de governo do nosso 
país: 
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer 
dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos 
Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, 
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, 
também, ao seguinte: (Redação dada pela Emenda 
Constitucional nº 19, de 1998) 
XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, 
serviços, compras e alienações serão contratados mediante 
processo de licitação pública que assegure igualdade de 
condições a todos os concorrentes, com cláusulas que 
estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições 
efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente 
permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica 
indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações. 
Esses princípios constitucionais constantes dos arts. 170 e 37 da CF/88 
criaram para a Administração a obrigação de licitar e proteger o meio 
ambiente por meio das compras públicas. Veremos que tanto a Lei 
8.666/1993 como a Lei 14.133/2021 absorveram esses mandamentos e 
trazem, em seus textos, referências expressas à sustentabilidade. 
2.2 Lei 8.666/1993 
A Lei 8.666/1993 é o estatuto das licitações e contratos e ainda está 
plenamente vigente em nosso país. Basicamente, ela regulamenta todo o 
procedimento relacionado com a compra de bens e a contratação de serviços 
pela Administração Pública. 
Seu objetivo é permitir que, por meio desse procedimento, a 
Administração Pública obtenha a proposta mais vantajosa para satisfazer as 
suas necessidades, assim como as dos cidadãos que representa. 
Esse procedimento administrativo deve observar uma série de preceitos 
legais e princípios constitucionais, permitindo que qualquer interessado 
habilitado para tanto dele possa participar em igualdade de condições. 
Trata-se de um rito procedimental bastante formal. 
De acordo com o art. 3º da Lei 8.666/1993, a licitação destina-se a 
garantir a observância do princípio constitucional da isonomia, a seleção da 
proposta mais vantajosa para a Administração e a promoção do 
desenvolvimento nacional sustentável, e será processada e julgada em 
estrita conformidade com os princípios básicos da legalidade, da 
impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade 
administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento 
objetivo e dos que lhes são correlatos. 
Temos aí uma menção ao desenvolvimento sustentável, que, como 
visto, foi definido pela Organização das Nações Unidas (ONU) da seguinte 
maneira: “Sustentabilidade é suprir as necessidades do presente sem 
comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas 
próprias necessidades.” (ONU. Relatório Our Common Future, “Nosso 
Futuro Comum”, da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e 
Desenvolvimento, 1983). No link abaixo você pode acessar o relatório 
completo. 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Relat%C3%B3rio_Brundtland 
 
Veja que a lei elegeu como objetivo o desenvolvimento sustentável. Isso 
quer dizer que todos os procedimentos desenvolvidos com base na Lei 
8.666/1993 devem, no que for possível, obviamente, fazer compras e 
contratar serviços caracterizados como sustentáveis. Ou seja, bens e serviços 
que satisfaçam as necessidades das gerações atuais, mas não coloquem em 
risco a possibilidade das gerações futuras de também terem as suas 
necessidades satisfeitas. 
A Lei 8.666/1993 regulamenta o art. 37, inciso XXI, da CF, instituindo 
normas gerais sobre licitações e contratos (art. 1º). Essas normas gerais 
vinculam todos os entes da administração federal, estadual e municipal. 
Temos aqui a competência privativa da União para legislar sobre licitações e 
contratos. 
Art. 22 – Compete privativamente à União legislar sobre: 
XXVII - normas gerais de licitação e contratação, em todas as 
modalidades, para as administrações públicas diretas, autárquicas 
e fundacionais da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, 
obedecido o disposto no art. 37, XXI, e para as empresas públicas 
e sociedades de economia mista, nos termos do art. 173, § 1º, III. 
As empresas públicas e as sociedades de economia mista não estão 
sujeitas à Lei 8.666/1993, pois possuem legislação própria (Lei 
13.303/2016). 
Neste curso, não iremos tratar, em detalhes, da Lei 8.666/1993. 
Nosso foco será a Lei 14.133/2021, que, além de trazer muitas 
inovações, revogará a Lei 8.666/1993, que deixará de ser 
utilizada a partir de abril do próximo ano. 
 
2.3 Lei 14.133/2021 
 
A nova Lei de Licitações entrou em vigor no dia 01/04/2021. Contudo, a 
revogação das normas então vigentes somente ocorrerá em um prazo de dois 
anos, pois muitos dos procedimentos tratados na nova lei estão carentes de 
regulamentação. Em razão disso, nesse período de dois anos, o gestor 
público poderá optar pela aplicação de uma ou outra norma. Assim, apenas 
em abril de 2023 as normas antigas serão revogadas de fato. 
A Lei 14.133/2021 pode ser considerada como uma consolidação de 
normas, uma vez que abarca todos os assuntos tratados na Lei 8.666/1993, 
na Lei 10.520/2002, e na Lei 12.462/2011, que trata do RDC (Regime 
Diferenciado de Contratação). 
A novalLei de licitações se aplica a toda administração nas esferas 
federais, estaduais, municipais e distrital, no que se refere a normas gerais de 
licitações. As empresas públicas e as sociedades de economia mista, como já 
dito, são regidas pela Lei 13.303/2016. 
 
2.3.1 Principais alterações 
a) Fases da licitação – A inversão de fase, típica do pregão, foi 
estendida a todas as modalidades com o objetivo de agilizar o processo, pois 
somente será necessário examinar os documentos de habilitação do licitante 
mais bem classificado. 
b) O art. 17, em seu § 1º, esclarece que, diante de prévia 
justificativa, a Administração poderá realizar a etapa de habilitação antes 
da etapa de avaliação das propostas. 
c) O § 2º do art. 17 exige motivação para a não realização da 
licitações em meio eletrônico. Assim, independentemente da modalidade, 
a sessão pública deverá ser on-line. 
d) A modalidade de licitação não será mais definida em razão do 
valor estimado da contratação, mas de acordo com a complexidade do 
objeto. Deixam de existir as modalidades convite e tomada de preços. As 
modalidades de licitação agora são as seguintes: pregão; concorrência; 
concurso; leilão, e diálogo competitivo. 
e) O pregão será a modalidade utilizada para a contratação de bens 
ou serviços comuns, ao passo que a concorrência será a modalidade 
escolhida para as contratações de bens e serviços especiais e obras de 
engenharia. O concurso se aplica às contratações de serviços técnicos, 
científicos ou artísticos, e o leilão deve ser utilizado nas alienações de 
bens móveis ou imóveis. 
f) O diálogo competitivo é uma modalidade de licitação originária 
do RDC e deve ser utilizada nas licitações relacionadascom inovação 
tecnológica ou técnica; quando houver necessidade de adaptação das 
soluções disponíveis no mercado; e quando não for possível para a 
Administração definir as especificações técnicas do objeto com a 
precisão necessária. 
g) Foram definidos novos valores para as dispensas de licitação em 
razão do baixo valor do objeto. Agora esses valores são de até R$ 
100.000,00 (cem mil reais) para obras ou serviços de engenharia, ou 
serviços de manutenção de veículos automotores; e de até R$ 50.000,00 
(cinquenta mil reais) para bens e outros serviços. 
h) Possibilidade de dar caráter sigiloso aos orçamentos, mediante 
prévia justificativa. O sigilo não poderá ser utilizado nas licitações cujo 
critério de seleção seja o de maior desconto. 
i) Criação dos seguintes procedimentos auxiliares: credenciamento, 
pré-qualificação, manifestação de interesse, registro de preços, e registro 
cadastral. 
j) Os critérios de habilitação também foram alterados, ampliando-
se a possibilidade de apresentação de documentos, como no caso do 
balanço patrimonial e no da comprovação de qualificação técnica. 
k) Definição de quatro modos de disputa para a etapa de julgamento 
das propostas, quais sejam: modo aberto, modo fechado, modo aberto e 
fechado e modo fechado e aberto. 
l) Seguro-garantia de contratos de obras e serviços com a 
possibilidade de a seguradora se obrigar a concluir o contrato caso ocorra 
inadimplemento contratual pelo contratado. 
m) Criação de novos modelos de contratos e ampliação dos prazos de 
vigência. 
n) Previsão da necessidade de avaliação de riscos na fase de 
planejamento da contratação. 
o) Criação do Portal Nacional de Compras Públicas – PNCP. 
 
Todos esses pontos serão abordados em detalhes no Módulo III, que irá 
tratar especificamente das licitações públicas. 
3. Acórdão TCU 1.056/2017-Plenário 
O Acórdão 1.056/2017-P do TCU, cuja relatoria coube ao Ministro André 
Carvalho, foi um marco na Administração Pública Federal no que se refere à 
sustentabilidade. Ele resultou de uma ampla auditoria operacional conduzida 
pela Secretaria de Controle Externo da Agricultura e do Meio Ambiente (Secex 
Ambiental) do TCU, realizada com o objetivo de avaliar a evolução das 
medidas adotadas nas áreas de redução de consumo de papel, energia elétrica e 
água. O resultado foi muito além disso, como se pode notar ao se examinar 
algumas das determinações do Tribunal contidas no referido acórdão. 
O Tribunal constatou que as ações da Administração Pública precisavam 
ser aprimoradas para cumprir o objetivo das compras públicas previsto no 
art. 3º da Lei 8.666/93, qual seja, “o desenvolvimento nacional sustentável”. 
Além disso, entendeu o Tribunal que havia necessidade de preparar a 
estrutura organizacional da Administração, implantando ações de 
planejamento, controle e gestão de riscos efetivas. 
As principais determinações contidas no Acórdão 1.056/2017-P, com 
destaques nossos, são as seguintes: 
9.1. determinar que, nos termos do art. 45 da Lei nº 8.443, de 
1992, o Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, 
representado pela Coordenação Geral de Normas de sua 
Secretaria de Gestão (SEGES/CGNOR), promova a necessária 
aplicação do art. 3º, caput, da Lei nº 8.666, de 1993, com o 
intuito de: 
9.1.2. apresentar, no prazo de até 120 (cento e vinte) dias 
contados do término do prazo fixado pelo item 9.1.1 deste 
Acórdão, o devido plano de ação destinado a implementar o 
necessário sistema de acompanhamento das ações de 
sustentabilidade, conforme previsto no art. 1 do Decreto nº 
7.746/2012, com vistas a dar conhecimento das ações de 
sustentabilidade em execução na Administração Pública Federal 
(APF) , levando em consideração as informações já existentes em 
sistemas como o Sispes e o Ressoa, além de promover a criação 
de parâmetros desejáveis de consumo, por tipologia de 
edificações; 
9.2. determinar que, nos termos do art. 45 da Lei nº 8.443, de 
1992, o Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, 
representado pela Coordenação Geral de Normas de sua 
Secretaria de Gestão (SEGES/CGNOR), promova a necessária 
aplicação do art. 3º, caput, da Lei nº 8.666, de 1993, de sorte a 
adotar as providências necessárias para que, a partir de 1º de 
janeiro de 2018, sejam efetivamente aplicadas as seguintes 
medidas: 
9.2.2.1. exigir que os Planos de Gestão de Logística Sustentável 
(PLS) ou instrumentos substitutos equivalentes estejam previstos 
no planejamento estratégico de cada órgão e entidade da APF, 
considerando o alcance e a transversalidade dos aspectos 
inerentes à sustentabilidade, de modo a institucionalizar, com 
isso, todas as ações de sustentabilidade junto à direção geral das 
aludidas instituições; 
9.2.2.2. exigir que os órgãos e as entidades da APF implementem, 
em suas estruturas, o efetivo funcionamento de unidades de 
sustentabilidade com caráter permanente, contando, em sua 
composição, com servidores ou colaboradores dotados de perfil 
técnico para a específica atuação nos assuntos pertinentes; e 
9.2.2.3. exigir que as avaliações de desempenho dos PLS 
contenham ferramentas de avaliação da efetividade do 
instrumento de planejamento, com vistas a permitir a análise 
dos resultados das ações implementadas e o comportamento dos 
padrões de consumo, em busca da manutenção do ponto de 
equilíbrio entre o consumo e os gastos; 
9.2.4. concluir a revisão do Catálogo de Materiais – CATMAT 
e do Catálogo de Serviços – CATSER, de sorte a regulamentar 
a inclusão de itens com requisitos de sustentabilidade e a excluir 
os itens cadastrados em duplicidade; 
9.2.5. exigir a devida apresentação da Plano Anual de 
Contratações pelos órgãos e entidades integrantes do SISG, 
especificando os itens com requisitos de sustentabilidade que 
serão adquiridos em consonância com o correspondente PLS; 
9.2.7. exigir, em conjunto com o Ministério do Meio Ambiente, 
que os órgãos e as entidades da administração federal elaborem 
os seus Planos de Gerenciamento de Resíduos Sólidos, visando 
à correta destinação dos resíduos gerados pelo funcionamento da 
máquina administrativa federal, de modo a atender os arts. 20 e 
21 da Lei nº 12.305, de 2010, que instituiu a Política Nacional de 
Resíduos Sólidos; 
9.3. determinar que, nos termos do art. 45 da Lei nº 8.443, de 
1992, a Cisap apresente a devida proposta de plano de trabalho [...] 
relacionadas com: 
9.3.1. a institucionalização de planos de incentivos à implantação 
de ações de promoção da sustentabilidade perenes e atrativos; 
9.3.2. o planejamento e a execução de ações para a ampla e 
eficiente divulgação de boas práticas na área temática de 
governança da sustentabilidade no âmbito de toda a APF; e 
9.3.3. a promoção de ações de capacitação sobre a área 
temática de governança da sustentabilidade, alcançando 
principalmente os órgãos e entidades da APF mais 
representativos em termos de gastos e consumos de insumos, com 
vistas a disseminar os conhecimentos necessários à 
implementação das diversas ações de promoção da 
sustentabilidade; 
9.4. determinar que, nos termos do art. 45 da Lei nº 8.443, de 
1992, a Secretaria Executiva da Cisap, em conjunto com os 
demais representados na comissão, promova a necessária 
aplicação do art. 3º, caput, da Lei nº 8.666, de 1993, com o 
intuito de, a partir de 1º de janeiro de 2018, exigir e acompanhar 
a elaboração, a implementação e a avaliação dos Planos de 
Gestão de Logística Sustentável (PLS) pelos órgãos e entidades 
da administração federal direta, autárquica e fundacional (APF) , 
em consonância com o art. 16 do Decreto nº 7.746, de 2012; 
9.5. determinar que, nos termos do art. 45 da Lei nº 8.443, de 
1992, o Ministério do Meio Ambiente promova a necessária 
aplicação do art. 3º, caput, da Lei nº 8.666, de 1993, com o 
intuito de, no prazo de 180 dias contados da notificação deste 
Acórdão, apresentar o devido plano de ação para a avaliação dos 
recursos financeiros e humanos necessários ao alcance das metas 
de expansão e de capacitaçãodo Programa A3P previstas no atual 
PPA, considerando as informações fornecidas pela sua Secretaria 
de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental; 
9.5.1. determinar que, nos termos do art. 45 da Lei nº 8.443, de 
1992, a Secretaria de Mudança do Clima e Florestas do MMA 
(SMCQ/MMA) promova, no prazo de 180 dias contados da 
notificação deste Acórdão, a necessária aplicação do art. 3º, 
caput, da Lei nº 8.666, de 1993, com o intuito de:ampliar as 
ações de capacitação dos gestores relacionadas com a 
certificação de prédios públicos e com a proposição de incentivos 
a serem oferecidos para a obtenção da certificação, de modo a 
obter maior aderência dos órgãos e entidades da administração 
pública à IN SLTI/MP nº 2, de 2014, além de gerar incentivos em 
decorrência da economia de recursos no consumo de água, 
energia e papel, entre outros insumos; 
9.5.2. apresentar os necessários estudos, em conjunto com a 
Cisap, sobre as formas de considerar, no sistema de 
acompanhamento das ações de sustentabilidade, o 
monitoramento e o estabelecimento de parâmetros desejáveis 
de consumo, por tipologia de edificações, a partir da 
implementação das ações de promoção da sustentabilidade; e 
9.9. determinar que, sob a coordenação da Secretaria Geral de 
Controle Externo, a Secretaria de Controle Externo da 
Agricultura e do Meio Ambiente (SecexAmbiental) adote as 
seguintes providências: 
9.9.1. fomente, em conjunto com a Secretaria Geral de 
Administração do TCU, a possível implementação de 
comunidade federal de governança da sustentabilidade com 
o intuito de incentivar o emprego das boas práticas de 
sustentabilidade no âmbito da administração pública federal 
(APF); 
9.9.2. acompanhe os eventuais estudos realizados pela APF, que 
visem aprimorar as aquisições de produtos e serviços 
sustentáveis e conferir maior agilidade e eficiência no processo, 
além de outros incentivos legais, no caso de o órgão ou a entidade 
federal contar com o devido Plano de Gestão de Logística 
Sustentável (PLS); 
9.9.4. acompanhe as ações implementadas pelo Ministério do 
Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, com vistas ao 
desenvolvimento e o emprego de aplicativo de TI destinado à 
aferição, geral e específica, do IASA ou eventual instrumento 
equivalente que vier ser instituído, no âmbito dos órgãos e das 
entidades da APF, nos termos do item 9.2.1 deste Acórdão. 
Extraordinária a insistência do Tribunal no sentido de que a 
Administração Pública Federal (APF) cumpra as disposições contidas no art. 
3º da Lei 8.666/1993. Por meio dessa auditoria operacional, constatou-se que 
o assunto “sustentabilidade” não vinha recebendo a devida atenção dos 
órgãos da Administração no que se refere às licitações públicas, apesar da 
clara disposição normativa. 
As recomendações e determinações do TCU envolveram todas as fases do 
processo de aquisições, passando pela governança, pelo planejamento, pela 
normatização de procedimentos, pela disseminação de boas práticas e pela 
capacitação de pessoal. 
A gestão dos resíduos, as compras públicas sustentáveis, e a necessidade 
de sensibilização e capacitação dos servidores, que são eixos temáticos da 
Agenda Ambiental da Administração Pública – A3P, foram abordadas no 
Acórdão 1.056/2017-P do TCU. Não se trata apenas de cuidar dos resíduos, 
ou de adquirir produtos e serviços que não agridam o meio ambiente, é 
essencial que todo o processo seja aprimorado, que as pessoas envolvidas no 
processo sejam qualificadas. Somente assim é que podem ser desenvolvidas 
as atividades necessárias para que as licitações públicas funcionem como um 
catalisador para o desenvolvimento nacional sustentável, conforme previsto 
no estatuto das licitações públicas. 
Vale salientar que esse acórdão do TCU não representa um entendimento 
novo do Tribunal. Essa questão já foi tratada em diversas oportunidades, 
ainda que com um enfoque um pouco diferente. O Acórdão 2.622/2015-P, por 
exemplo, foi notável no tratamento das questões relativas à governança, 
especialmente quanto à gestão e ao planejamento das aquisições e ao 
controle dos riscos envolvidos, o que é essencial para que tenhamos 
aquisições sustentáveis bem-sucedidas. 
Diante disso, é fundamental que as compras públicas sejam estudadas não 
somente quanto à sustentabilidade propriamente dita, mas também quanto ao 
seu arcabouço administrativo, que, numa visão mais moderna, envolve 
governança, gestão, planejamento e tratamento de riscos. 
O resultado da auditoria materializado no Acórdão 1.056/2017 foi 
extraordinário. Várias questões foram abordadas e as sugestões feitas peo 
Tribunal acabaram sendo incorporadas e estão sendo aplicadas em toda a 
Administração Pública. A nova lei de licitações trouxe para o seu texto 
algumas questões que foram objeto de recomendações e determinações do 
TCU, inclusive. 
O Painel de Sustentabilidade, os Objetivos do Desenvolvimento 
Sustentável (ODS), o Índice de Avaliação da Sustentabilidade na 
Administração (IASA) foram relevados no acórdão, permitindo que se tenha 
uma visão mais clara do nível de sustentabilidade na Administração. Mais à 
frente, vamos examinar cada um desses indicadores com mais detalhes. 
 
Acesse o inteiro teor do acórdão no link abaixo. 
 
https://pesquisa.apps.tcu.gov.br/#/resultado/acordao-
completo/1056/NUMACORDAO%253A1056%2520ANOACORDAO%253A2017/%2520 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AULA 2 – Sustentabilidade e Compras Públicas 
Agora vamos cuidar dos conceitos de sustentabilidade e da relação desta com as 
compras públicas. Veremos os pilares da sustentabilidade, preservação ambiental 
e o que é desenvolvimento nacional sustentável. 
Acesse os links indicados no texto a seguir, veja os aspectos culturais envolvidos 
na sustentabilidade e faça uma leitura atenta da Agenda 21, no portal do 
Ministério do Meio Ambiente. 
OBJETIVO 
Ao final da aula, o aluno deverá conhecer os conceitos relacionados com os 
fundamentos teóricos da sustentabilidade e alguns objetivos que se buscam com 
o desenvolvimento nacional sustentável. 
 
1. Introdução 
O mundo é dinâmico! Está em constante mudança. Problemas que 
vivenciamos hoje não tinham importância alguma há alguns anos. Do mesmo 
modo, problemas de tempos atrás hoje estão sob controle e sequer pensamos 
neles. A questão do meio ambiente, por exemplo, só recentemente passou a 
preocupar a sociedade e o governo de alguns países. O tratamento de esgotos, 
a poluição do ar, a conservação das florestas e das fontes de água, a extinção 
de animais, a degradação da camada de ozônio são assuntos relativamente 
novos. 
A sociedade, vivendo em um ambiente cada vez mais opressivo, passou a 
cobrar uma atitude mais proativa de seus dirigentes, no sentido de preservar o 
nosso mundo e de manter as boas condições de habitabilidade para as gerações 
atuais e futuras. Isso fez com que governos e mercados passassem a tratar a 
questão ambiental com mais cuidado, com um novo olhar, evitando ações 
imediatistas que aparentemente resolviam o problema, mas que, na verdade, 
criavam outros de muito mais difícil solução. Os conceitos mudaram, e 
empresas e governantes também estão mudando, mas a mudança é lenta e a 
cobrança da sociedade é fundamental para que haja uma humanização das 
ações de governo com relação ao meio ambiente em que vivemos. 
 
A sustentabilidade, contudo, não pode ser considerada apenas sob o aspecto 
ambiental. Nós, seres humanos, também fazemos parte desse meio ambiente, 
dependemos dele e, em muitos casos, sem saber, o estamos destruindo. A 
qualidade do ambiente em que vivemos tem reflexos diretos na qualidade de 
vida de cada um de nós. Nesse sentido, o aspecto social não pode ser 
desconsiderado. Muito da degradação do nosso planeta se deve à falta de 
preocupação com o povo que o habita. Desemprego, fome, miséria, violência, 
abandono, degeneração humana, ausência de informações e conhecimento. É 
preciso que as pessoas possam viver com ummínimo de dignidade e segurança 
para que a sociedade, como um todo, não seja destruída, e isso passa 
forçosamente por políticas públicas que devem ir além da questão 
exclusivamente ambiental. 
 
Assim, as ações de governo, em termos de sustentabilidade de compras 
públicas não podem ter como foco apenas o meio ambiente, mas também a 
componente humana. Há de se buscar o desenvolvimento sustentável da 
sociedade por meio de ações planejadas, de curto, médio e longo prazo. 
Governança e planejamento das ações! É preciso pensar no todo e não apenas 
em alguns segmentos. De nada adianta, por exemplo, inaugurar uma grande 
hidrelétrica se as pessoas não possuem casas para receber essa energia. O 
desenvolvimento sustentável deve ser buscado permanentemente por meio do 
crescimento econômico, do desenvolvimento social e da preservação do meio 
ambiente. Esses três aspectos devem estão interligados e um não se mantém 
sem o outro. Para que o meio ambiente seja preservado, é preciso 
desenvolvimento social, o que não acontece sem crescimento econômico. 
Conforme já vimos, a ONU entende que desenvolvimento sustentável é 
aquele 
[...] que procura satisfazer as necessidades da geração atual, sem 
comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as 
suas próprias necessidades, significa possibilitar que as pessoas, 
agora e no futuro, atinjam um nível satisfatório de desenvolvimento 
social e econômico e de realização humana e cultural, fazendo, ao 
mesmo tempo, um uso razoável dos recursos da terra e preservando 
as espécies e os habitats naturais (- ). (.” (ONU. Relatório Our 
Common Future, “Nosso Futuro Comum”, da Comissão 
Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, 1983 
Como visto, a definição da ONU contempla os três aspectos que 
mencionamos: social, econômico e ambiental. A Administração pública, ao 
executar seu orçamento, tem uma importância capital nesse processo de 
desenvolvimento, tornando-se um agente indutor em razão da sua importante 
capacidade de interferência no mercado e na sociedade. Isso pode ser alcançado 
por intermédio de sua política econômica e social, por meio do seu poder 
normativo, de suas contratações, das ações sociais desenvolvidas, de normas 
para proteção do meio ambiente e pela aplicação dos recursos à sua disposição 
de maneira eficaz e de acordo com os requisitos necessários ao 
desenvolvimento nacional sustentável. 
 
2. Sustentabilidade e seus três pilares 
A sustentabilidade, sob o ponto de vista das compras públicas, deve levar 
em consideração questões muito mais amplas relacionadas com a qualidade de 
vida das pessoas, o ambiente social em que vivem e suas necessidades 
econômicas básicas: emprego, saúde, segurança, renda etc. Desse modo, 
podemos considerar que a sustentabilidade se alicerça em três pilares: 
desenvolvimento social, crescimento econômico e preservação do meio 
ambiente. Com essa perspectiva, vamos examinar cada um deles nos tópicos a 
seguir. 
 
2.1 Desenvolvimento Social Sustentável 
Trata-se de atender, de forma permanente, as necessidades de todas as 
pessoas que façam parte da sociedade. Desse modo, as ações de 
sustentabilidade de cunho social devem ser desenvolvidas com vistas a atingir 
objetivos que beneficiem toda a sociedade e não apenas uma parcela dela. 
Regiões mais carentes devem ser priorizadas, determinados segmentos da 
sociedade devem ser atendidos com mais atenção, a educação deve ser 
universalizada. A geração de renda para as camadas mais pobres e o incentivo 
às empresas regionais e de pequeno porte devem ser metas permanentes, pois 
são ações que equilibram a forma como o desenvolvimento acontece em toda 
a sociedade. Alguns aspectos, dada a sua relevância no contexto social, 
assumem destaque especial, como a educação, a geração de renda, a segurança, 
cultura e a saúde, e não devem ser ignorados, nem tratados de forma genérica. 
 
2.2 Desenvolvimento Econômico Sustentável 
Em um cenário econômico sustentável, deve haver competição justa entre 
as empresas que compõem o mercado. No Brasil, um grande número de 
trabalhadores presta serviços para microempresas e empresas de pequeno 
porte, o que demonstra a necessidade de dar solidez e acesso aos mercados a 
essas empresas, mantendo, com isso, as condições de emprego e renda para os 
cidadãos que a elas prestam seus serviços. 
Muitas dessas empresas estão localizadas em pequenas cidades e o 
fortalecimento delas permitirá que os habitantes dessas regiões consigam se 
manter em sua terra natal. Isso fará com que o fluxo migratório para os grandes 
centros urbanos seja reduzido, evitando-se situações incontroláveis de 
superpopulação, favelização, falta de segurança pública e outras situações 
indesejáveis. 
A melhoria das relações de trabalho entre empregadores e empregados 
também deve ser uma política permanente, evitando-se a concentração de 
renda, o subemprego, as más condições de trabalho e a informalidade. Assim, 
o pagamento de salários justos e a busca do desenvolvimento profissional e 
educacional dos trabalhadores são fundamentais para o desenvolvimento 
econômico sustentável. O ambiente de trabalho deve ser saudável e seguro, 
tanto no aspecto físico quanto no aspecto das relações humanas, privilegiando-
se o respeito mútuo entre trabalhadores e empresários, o que, certamente, fará 
com que o mercado cresça, minimizando os riscos da atividade empresarial e 
garantindo a manutenção do emprego e a segurança no trabalho. 
 
2.3 Preservação Ambiental 
As empresas, partes da população e alguns órgãos públicos procuram 
reduzir, ou controlar, os efeitos da economia e da população sobre o meio 
ambiente – trata-se da compensação ambiental. A compensação ambiental é 
um mecanismo legal para que as empresas retornem e minimizem os impactos 
que podem ser causados no ambiente a partir de atividades utilizadoras de seus 
recursos, consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras, bem como 
aquelas capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental. Aos 
poucos, medidas dessa natureza vêm sendo implementadas, estabelecendo uma 
cultura de sustentabilidade que é essencial para que elas alcancem um bom 
resultado e sejam compreendidas pela população. Como exemplo, podemos 
citar o plantio de árvores para compensar a construção de uma rodovia ou de 
um edifício. É um começo, mas quase nunca as medidas mitigadoras são 
suficientes para reparar o dano sofrido pelo meio ambiente. Então é preciso 
avançar, fazer mais. 
O crescimento econômico e o desenvolvimento social, em regra, estão 
relacionados com a utilização de recursos naturais. A questão ambiental, nesse 
sentido, refere-se ao esforço de minimizar os efeitos negativos da utilização 
desses recursos sobre o meio ambiente. Uma mudança de comportamento, de 
cultura, deve acontecer e para que isso seja possível, as pessoas devem ser 
preparadas para participar de ações que tenham em vista o atingimento de 
objetivos claros, pois o fator humano é essencial sempre. Então é preciso 
conhecimento e acesso à informação. 
A sustentabilidade, como visto, leva em conta três aspectos: o ambiental, o 
social e o econômico. Para que o desenvolvimento sustentável ocorra, esses 
três aspectos devem se harmonizar, e isso não será possível se as ações não 
forem planejadas, se os erros não forem corrigidos, e se as metas não forem 
definidas previamente pelos gestores públicos e aceitas e entendidas por 
empresários e pela sociedade. 
O trabalho é permanente, como o próprio conceito de sustentabilidade 
supõe, e as ações não podem ser adotadas de maneira isolada; o conjunto é o 
que importa quando se fala em sustentabilidade. O meio ambiente, o mercado 
e a sociedade não são organismos isolados, por isso, devem ser tratados de 
maneira global, visando ao benefício de todos. 
 
O mais importante é que todos os parceiros se envolvam nessa empreitada: 
governo, empresários, trabalhadores, pois é a única forma de se produzirem os 
resultados de que a sociedade e o meioambiente necessitam. 
Por conta disso, desenvolvimento sustentável é um tema que vem ganhando 
destaque na agenda política da Administração Pública Federal (APF), ao longo 
dos últimos anos. A APF está mais consciente como indutor de mudanças 
culturais e estruturais nos processos produtivos, comerciais, e de consumo, 
tornando-os verdadeiramente sustentáveis. 
O legislador vem tentando aperfeiçoar os procedimentos de contratações 
públicas sustentáveis por meio de uma série de normativos. Essa medida tem 
servido como catalisador para a implementação de políticas públicas que 
resultem em modernização tecnológica, economia de recursos, transparência, 
preservação do meio ambiente, e outros resultados importantes para que o 
desenvolvimento nacional sustentável aconteça. 
 
2.4 Cultura e Sustentabilidade 
Somente depois do ano 2000 é que a cultura passou a ser considerada 
importante para o desenvolvimento nacional sustentável. Na verdade, a cultura 
é fundamental para a sustentabilidade. 
 
A própria Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a 
Cultura (Unesco) afirma a importância de todas as culturas e das políticas que 
as envolvem para apoiar o desenvolvimento sustentável de cidades no setor 
econômico, político e social. Acesse o link abaixo e veja isso em detalhes. 
 
 https://pt.unesco.org/courier/april-june-2017/cultura-no-coracao-
dos-ods 
 
Violência doméstica, perspectiva de gênero, consumo responsável, 
religiosidade e educação são exemplos de aspectos de grande importância na 
cultura sustentável. 
 
A criação da Agenda 21 foi a maneira encontrada para mostrar aos 
governantes como políticas culturais podem promover o desenvolvimento 
sustentável. Veja mais detalhes no link Agenda 21 Global do Ministério do 
Meio Ambiente, a seguir. 
 
https://antigo.mma.gov.br/responsabilidade-socioambiental/agenda-
21/agenda-21-global.html 
 
O que realmente importa quando falamos em cultura de um povo é o 
respeito que se deve ter com relação aos direitos humanos, aos seus costumes, 
às suas crenças. Essas características culturais devem ser consideradas na 
criação de ações que atraiam a população e permitam proporcionar um ganho 
de qualidade à vida dessas pessoas. 
 
Como exemplo de ações culturais, temos: restauração de prédios ou locais 
históricos, realização de festas populares com música e alimentos típicos, 
festas religiosas, criação de centros culturais, apoio ao desenvolvimento do 
comércio, da agricultura e da indústria, que seja compatível com a realidade 
local, além da criação de agendas específicas, da divulgação e do patrocínio 
dos eventos, ou mesmo de calendários culturais permanentes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AULA 3 – Compras Públicas 
O que são compras públicas? O que são compras públicas sustentáveis? Essas 
questões serão respondidas nesta aula para que se possa entender por que 
devemos fazer compras públicas sustentáveis. 
Acesse o link e leia sobre a situação das compras públicas no Brasil e em alguns 
países. 
https://www.cepal.org/sites/default/files/publication/files/41009/S1601328_pt.p
df 
OBJETIVO 
Materializar os conceitos de sustentabilidade por meio das compras públicas. 
Entender por que devemos fazer compras públicas e como o governo pode 
interferir no processo. 
 
1. Introdução 
As contratações públicas mobilizam tanto o setor governamental quanto o 
setor privado. O governo, como grande cliente do mercado, pode implementar 
mudanças de caráter ambiental em suas aquisições, exigindo, por exemplo, o 
uso racional e sustentável dos recursos. Assim, o poder de compra do Estado 
passa a ser um instrumento de proteção ao meio ambiente e de 
desenvolvimento econômico e social. 
A CF, em seu art. 37, inciso XXI, prevê para a Administração Pública a 
obrigatoriedade de licitar, nos seguintes termos: 
Ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, 
serviços, compras e alienações serão contratados mediante 
processo de licitação pública que assegure igualdade de condições 
a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações 
de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos 
termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de 
qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do 
cumprimento das obrigações. 
Esse artigo foi regulamentado pela Lei nº 8.666, de 1 de junho de 1993, que 
estabeleceu normas gerais sobre licitações e contratos administrativos 
pertinentes a obras, serviços, inclusive de publicidade, compras, alienações e 
locações no âmbito dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e 
dos Municípios. Em abril do ano passado, foi publicada a Lei nº 14.133, que 
substituirá a Lei 8.666/1993. 
Tanto em uma quanto em outra, podemos entender licitação como um 
procedimento administrativo formal por intermédio do qual a Administração 
Pública convoca, mediante condições estabelecidas em ato próprio (edital), 
empresas interessadas na apresentação de propostas para fornecimento de bens 
ou prestação de serviços. 
A licitação objetiva garantir a observância do princípio constitucional da 
isonomia e selecionar a proposta mais vantajosa para a Administração, de 
maneira a assegurar oportunidade igual a todos os interessados e possibilitar o 
comparecimento ao certame do maior número possível de concorrentes, o que 
aumenta a concorrência e favorece o próprio interesse público. 
O procedimento de licitação objetiva permitir que a Administração contrate 
aqueles que reúnam as condições necessárias ao atendimento de determinada 
necessidade, levando em consideração aspectos relacionados à capacidade 
técnica e econômico-financeira do licitante, à qualidade do produto e ao valor 
do objeto. 
Fica evidente tratar-se de um procedimento formal, obrigatório, ao qual 
todas as compras públicas devem ser submetidas, cabendo aos servidores e 
autoridades envolvidas cumpri-los, sob o risco de cometerem ato ilegal, 
portanto, passível de sanção penal e administrativa. 
 
2. Compras Públicas Sustentáveis 
 
 
De acordo com o art. 3° da Lei n° 8.666/1993, 
a licitação destina-se a garantir a observância do princípio 
constitucional da isonomia, a seleção da proposta mais vantajosa 
para a administração e a promoção do desenvolvimento nacional 
sustentável e será processada e julgada em estrita conformidade 
com os princípios básicos da legalidade, da impessoalidade, da 
moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade 
administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do 
julgamento objetivo e dos que lhes são correlatos (Redação da Lei 
12.349, de 2010). 
A Lei 14.133/2021, por sua vez, dispõe o seguinte: 
Art. 5º Na aplicação desta Lei, serão observados os princípios da 
legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da publicidade, da 
eficiência, do interesse público, da probidade administrativa, da 
igualdade, do planejamento, da transparência, da eficácia, da 
segregação de funções, da motivação, da vinculação ao edital, do 
julgamento objetivo, da segurança jurídica, da razoabilidade, da 
competitividade, da proporcionalidade, da celeridade, da 
economicidade e do desenvolvimento nacional sustentável […]. 
Nesse sentido, pode-se dizer que as compras públicas sustentáveis são 
procedimentos administrativos formais que contribuem para a promoção do 
desenvolvimento nacional sustentável, mediante a inserção de critérios sociais, 
ambientais e econômicos nas aquisições de bens, contratações de serviços e 
execuções de obras. De uma maneira geral, trata-se da utilização do poder de 
compra do setor público para gerar benefícios econômicos, sociais e ambientais 
para o nosso país. 
No contexto de valorização das compras governamentais, como meio 
indutor de desenvolvimento sustentável, o governo tem concebido várias 
ações para o fortalecimento do sistema de Contratações Públicas Sustentáveis. 
Essa pauta, que normalmente ficava a cargo do Ministério do Planejamento, 
agora está com o Ministérioda Economia. A ideia é que se desenvolva um 
modelo de contratação que inclua diversas variáveis de sustentabilidade, que 
consiga transformar tudo isso em uma cultura institucional que sirva de 
modelo para a sociedade. 
Com a publicação da Lei 14.133/2021, novos estudos deverão ser feitos e 
será preciso aguardar os rumos que a Administração irá seguir, mas a 
expectativa é de que haja um ganho com relação ao desenvolvimento das 
licitações sustentáveis, pois a nova lei trata com mais detalhes desse assunto. 
No módulo III, daremos um tratamento específico ao novo processo 
administrativo de licitações, mas podemos adiantar que, em relação à 
sustentabilidade, vários conceitos foram inseridos na nova lei, como ciclo de 
vida do objeto, impactos ambientais, medidas mitigadoras, logística reversa, 
reciclagem etc. Trata-se de um avanço, mas nem todos podem ser utilizados 
de imediato, pois carecem de regulamentação. 
 
2.1 Por que realizar compras públicas sustentáveis? 
Trata-se de atender necessidades de desenvolvimento econômico e social e 
de preservação ambiental. As compras e licitações sustentáveis têm um papel 
estratégico para os órgãos públicos e, quando adequadamente realizadas, 
promovem a sustentabilidade nas atividades públicas, disseminando uma 
prática essencial para o desenvolvimento nacional, um dos objetivos previstos 
tanto no art. 3º da Lei 8.666/1993 como no art. 5º da Lei 14.133/2021. 
O governo brasileiro despende, anualmente, mais de 600 bilhões de reais 
com a aquisição de bens e contratações de serviços (15% do PIB, 
aproximadamente). Nesse sentido, direcionar o poder de compra do setor 
público para a aquisição de produtos e serviços com critérios de 
sustentabilidade implica a geração de benefícios socioambientais e a redução 
de impactos ambientais, ao mesmo tempo em que induz e promove o mercado 
de bens e serviços sustentáveis. 
Para tanto, é fundamental que os compradores públicos saibam delimitar as 
necessidades da instituição, conheçam a legislação aplicável e as 
características dos bens e serviços que poderão ser adquiridos. 
Muitas vezes, o administrador sente-se incomodado com os custos dos 
produtos e serviços sustentáveis, mas isso não deve acontecer. É necessário 
privilegiar a contratação desse tipo de produto, não vislumbrando um 
benefício imediato, mas tendo um olhar no futuro, uma visão de médio e de 
longo prazo. 
A decisão de realizar uma compra sustentável não implica, 
necessariamente, maiores gastos de recursos públicos. É preciso considerar 
aspectos relacionados não apenas ao negócio em si, mas também ao processo 
produtivo, aos efeitos sobre o meio ambiente e, especialmente a: 
a) custos ao longo de todo o ciclo de vida: é importante ter em conta 
os custos de um produto ou serviço ao longo de toda a sua vida útil – recursos 
utilizados no processo fabril; preço de venda; custos de embalagem, utilização 
e manutenção; custos de eliminação; 
b) eficiência: as compras e licitações sustentáveis permitem satisfazer 
as necessidades da Administração Pública mediante a utilização mais eficiente 
dos recursos e com menor impacto socioambiental; 
c) compras compartilhadas: por meio da criação de centrais de 
compras, é possível a utilização de produtos inovadores e ambientalmente 
adequados sem aumentar os gastos públicos, tendo em vista o ganho de escala 
proporcionado por compras realizadas em conjunto por vários órgãos; 
d) redução de impactos ambientais e problemas de saúde: grande parte 
dos problemas ambientais e de saúde em nível local é resultado da qualidade 
dos produtos consumidos, do processo fabril e dos serviços que são prestados 
de forma deficiente ou que não são prestados; 
e) desenvolvimento e inovação: o consumo de produtos mais 
sustentáveis pelo poder público será um catalisador, estimulando mercados e 
fornecedores a desenvolverem abordagens inovadoras e a aumentarem a 
competitividade da indústria nacional e local. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AULA 4 – Ciclo de Vida de Produtos e Serviços – Parte 1 
Nesta aula, vamos iniciar os estudos sobre ciclo de vida, que será dividido em 
duas partes. Agora, vamos às disposições da nova lei de licitações sobre: ciclo 
de vida, conceito de ciclo de vida e avaliação do ciclo de vida de um produto ou 
serviço. 
OBJETIVO 
Entender o conceito de ciclo de vida, a abordagem da Lei 14.133/2021 sobre o 
assunto e como se avalia esse ciclo de vida. 
 
 
 1. Introdução 
 
 
Para abordar o assunto desta aula, vamos utilizar um estudo realizado 
no âmbito da Secretaria-Geral de Administração cujo propósito foi atender 
demanda da Secretaria de Licitações do Tribunal, mediante Representação, 
avaliando a aplicabilidade do dispositivo constante do art. 6º, inciso XXIII, alínea 
“c”, da Lei nº 14.133, de 1º de abril de 2021. 
 
Dito dispositivo dispõe que, na contratação de bens e serviços pela 
Administração Pública, o termo de referência deve descrever a solução como 
um todo, considerado todo o ciclo de vida do objeto. 
 
Conforme o referido estudo, o conceito de “ciclo de vida” foi introduzido 
no ordenamento jurídico brasileiro pela Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010, 
que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos, e visa ao 
desenvolvimento nacional sustentável: “ciclo de vida do produto: série de 
etapas que envolvem o desenvolvimento do produto, a obtenção de matérias-
primas e insumos, o processo produtivo, o consumo e a disposição final.” 
(inciso IV do art. 3º). 
 
Nesse mesmo normativo, art. 3º, são apresentados diversos conceitos 
relacionados com ciclo de vida e meio ambiente, tais como: coleta seletiva 
(inciso IV), destinação final (inciso VI), logística reversa (inciso XII), 
reciclagem (inciso XIV). 
O art. 3º da Lei nº 8.666/1993 prevê o desenvolvimento nacional sustentável 
como um dos objetivos da licitação pública, juntamente com a observância dos 
princípios constitucionais da isonomia e da seleção da proposta mais vantajosa 
para a Administração Pública. Em decorrência disso, o TCU (Acórdão 
2.380/2012-TCU-2ª Câmara) determinou a utilização de critérios de 
sustentabilidade ambiental em suas licitações. 
A nova lei de licitações, Lei 14.133/2021, aborda em vários de seus 
dispositivos, o conceito de ciclo de vida do objeto e de sua aplicação, além de 
outros aspectos ambientais, conforme indicado nos itens relacionados a seguir. 
 
Ciclo de vida 
 
 
Art. 6º Para os fins desta Lei, consideram-se: […] 
XXIII - termo de referência: documento necessário para a 
contratação de bens e serviços, que deve conter os seguintes 
parâmetros e elementos descritivos: […] 
c) descrição da solução como um todo, considerado todo o ciclo de 
vida do objeto; 
Art. 11. O processo licitatório tem por objetivos: 
I - assegurar a seleção da proposta apta a gerar o resultado de 
contratação mais vantajoso para a Administração Pública, inclusive 
no que se refere ao ciclo de vida do objeto; 
Art. 18. A fase preparatória do processo licitatório é caracterizada 
pelo planejamento e deve compatibilizar-se com o plano de 
contratações anual de que trata o inciso VII do caput do art. 12 
desta Lei, sempre que elaborado, e com as leis orçamentárias, bem 
como abordar todas as considerações técnicas, mercadológicas e de 
gestão que podem interferir na contratação, compreendidos: 
VIII - a modalidade de licitação, o critério de julgamento, o modo 
de disputa e a adequação e eficiência da forma de combinação 
desses parâmetros, para os fins de seleção da proposta apta a gerar 
o resultado de contratação mais vantajoso para a Administração 
Pública, considerado todo o ciclo de vida do objeto; 
§ 1º O estudo técnico preliminar a que se refere o inciso I 
do caput deste artigo deverá evidenciar o problema a ser resolvido 
e a sua melhor solução, de modo a permitir a avaliação da 
viabilidade técnica e econômica da contratação, e conterá os 
seguintes elementos: […] 
XII - descriçãode possíveis impactos ambientais e respectivas 
medidas mitigadoras, incluídos requisitos de baixo consumo de 
energia e de outros recursos, bem como logística reversa para 
desfazimento e reciclagem de bens e refugos, quando aplicável; 
Art. 34. O julgamento por menor preço ou maior desconto e, 
quando couber, por técnica e preço considerará o menor dispêndio 
para a Administração, atendidos os parâmetros mínimos de 
qualidade definidos no edital de licitação. 
§ 1º Os custos indiretos, relacionados com as despesas de 
manutenção, utilização, reposição, depreciação e impacto 
ambiental do objeto licitado, entre outros fatores vinculados ao seu 
ciclo de vida, poderão ser considerados para a definição do menor 
dispêndio, sempre que objetivamente mensuráveis, conforme 
disposto em regulamento. 
Art. 42. A prova de qualidade de produto apresentado pelos 
proponentes como similar ao das marcas eventualmente indicadas 
no edital será admitida por qualquer um dos seguintes meios: […] 
III - certificação, certificado, laudo laboratorial ou documento 
similar que possibilite a aferição da qualidade e da conformidade 
do produto ou do processo de fabricação, inclusive sob o aspecto 
ambiental, emitido por instituição oficial competente ou por 
entidade credenciada. 
Art. 45. As licitações de obras e serviços de engenharia devem 
respeitar, especialmente, as normas relativas a: 
I - disposição final ambientalmente adequada dos resíduos sólidos 
gerados pelas obras contratadas; 
Art. 144. Na contratação de obras, fornecimentos e serviços, 
inclusive de engenharia, poderá ser estabelecida remuneração 
variável vinculada ao desempenho do contratado, com base em 
metas, padrões de qualidade, critérios de sustentabilidade 
ambiental e prazos de entrega definidos no edital de licitação e no 
contrato. 
Art. 147. Constatada irregularidade no procedimento licitatório ou 
na execução contratual, caso não seja possível o saneamento, a 
decisão sobre a suspensão da execução ou sobre a declaração de 
nulidade do contrato somente será adotada na hipótese em que se 
revelar medida de interesse público, com avaliação, entre outros, 
dos seguintes aspectos: 
[…] 
II - riscos sociais, ambientais e à segurança da população local 
decorrentes do atraso na fruição dos benefícios do objeto do 
contrato; 
III - motivação social e ambiental do contrato; […] 
Examinando esses dispositivos, percebemos que o ciclo de vida pode ser 
considerado em uma licitação para atender diversos propósitos, a depender do 
objeto: definição do menor dispêndio para a Administração, obtenção da 
melhor proposta, mitigação de riscos ambientais, adequada disposição final de 
resíduos sólidos, conhecimento da melhor solução sob o ponto de vista 
ambiental, e assim por diante. 
Para dar luz ao assunto, a Representante informa a existência de manual 
elaborado pelo Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF – 3), que traz 
interessante descrição do conceito citado e aborda outras questões relacionadas 
à sustentabilidade. Nesse manual, assevera a unidade técnica interessada, são 
explicitadas indagações sobre o conceito de ciclo de vida, do qual se conclui, 
resumidamente, que a Administração Pública deve guiar suas licitações e 
contratações com o objetivo de garantir produtos e serviços sustentáveis, que 
causem o menor impacto ambiental possível. 
 É necessário, então, definir critérios objetivos de avaliação do desempenho 
ambiental de um objeto em relação a outro que permitam aferir o menor 
dispêndio para a Administração, conforme previsto no art. 34, § 1º, da Lei 
14.133/2021, e/ou atestar o atendimento do princípio da sustentabilidade. 
Vamos nos concentrar no estudo do ciclo de vida. 
2. Do Conceito de Ciclo de Vida 
O conceito de ciclo de vida está intrinsecamente ligado ao da 
sustentabilidade, ou desenvolvimento sustentável. No dizer da ONU, 
desenvolvimento sustentável é aquele que 
procura satisfazer as necessidades da geração atual, sem 
comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as 
suas próprias necessidades, significa possibilitar que as pessoas, 
agora e no futuro, atinjam um nível satisfatório de desenvolvimento 
social e econômico e de realização humana e cultural, fazendo, ao 
mesmo tempo, um uso razoável dos recursos da terra e preservando 
as espécies e os habitats naturais (ONU, 1987). 
Sustentabilidade deve ser avaliada sob várias perspectivas: preservação do 
meio ambiente, disponibilidade de recursos naturais (matérias-primas), bem-
estar das gerações futuras, desenvolvimento social, crescimento econômico, 
realização cultural e outras. 
Podemos dizer o mesmo de determinado produto, ressalvando, no entanto, 
que, a depender de suas características, ele pode estar mais ou menos atrelado 
a um desses aspectos da sustentabilidade. 
O ciclo de vida contempla todas as etapas da cadeia de produção, desde a 
extração da matéria-prima até o descarte final do produto no meio ambiente 
(TRF, manual citado, página 8). Se examinarmos cada uma dessas etapas, será 
possível determinar quais aspectos da sustentabilidade serão mais ou menos 
afetados pelo produto durante sua vida útil. 
Todo produto que avaliamos tem um ciclo de vida próprio, com suas 
peculiaridades, insumos utilizados, maior ou menor impacto ambiental, e é 
destinado a determinado grupo social, produz certo tipo de resíduos que podem 
ou não ser aproveitados e, principalmente, busca suprir determinada 
necessidade. 
 
Por conta disso, ciclo de vida pode também ser entendido como o conjunto 
de todas as etapas necessárias para que um produto cumpra sua função na cadeia 
produtiva, considerando-se todo o trajeto desde o seu desenvolvimento (projeto 
e produção), que passa por sua distribuição, seu uso, seu descarte, até o último 
tratamento dos materiais que o compõem para reutilização ou não. 
Esse é o entendimento do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização 
e Qualidade Industrial (Inmetro): “Ciclo de vida é o conjunto de todas as 
etapas necessárias para que um produto cumpra sua função na cadeia de 
produtividade.” (InMetro, Análise de Ciclo de Vida - conceitos e função 
2011). 
Ciclo de vida de um produto 
 
Fonte: InMetro (2011) 
 
2.1 Ciclo de vida – Conceito Comercial 
Sob o ponto de vista comercial, o ciclo de vida de um produto ou serviço 
descreve a sua evolução no mercado, sendo composto de quatro fases: 
Introdução – fase que contempla o desenvolvimento do produto (projeto), 
sua fabricação (utilização de matéria-prima) e o seu lançamento no mercado. 
Crescimento – crescimento exponencial da procura pelo produto, 
caracterizando o sucesso ou não do produto no mercado. 
Maturidade – os produtos bem-sucedidos começam a se estabilizar no 
tocante ao volume de vendas, por conta de concorrência, novas tecnologias, 
publicidade etc. 
Declínio – a procura diminui, os lucros caem, os custos aumentam e o 
produto sai do mercado. 
Na fase de introdução, ocorre a concepção do produto. Essa concepção irá 
enfrentar as questões comerciais e fabris que devem ser resolvidas antes da 
conclusão pelo desenvolvimento ou não de determinado produto. 
 
 
Nesse momento, todos os requisitos de sustentabilidade da matéria-prima a 
ser utilizada no processo devem ser avaliados: custos envolvidos, margem de 
lucro, expectativa de consumo, bem como possibilidade de utilização de 
matéria-prima alternativa. 
Para o projetista, é essencial conhecer o fluxo de todos os materiais 
envolvidos em sua fabricação, tais como: matéria-prima, processo de extração 
desse material, nível de consumo desse material, consumo de água e energia, 
possibilidade de reaproveitamento dos resíduos, tratamento dado ao material 
não reutilizável. É importante também conhecer a mão de obra envolvida, a 
logística de transporte e armazenamento, os tipos de embalagens possíveis, 
quais serão os impactos ambientais em cada uma dessas fases e como podem 
ser minimizados. 
Isso somente será possível se desde o início houverpreocupação com todo 
o ciclo de vida do produto. Infelizmente, o que observamos é que os projetistas 
se preocupam muito com a conquista imediata do mercado, com o sucesso do 
produto, e pouco com a questão ambiental. Por conta disso, a regulamentação é 
essencial para que o cenário seja positivamente alterado e a questão ambiental 
passe a ser essencial no desenvolvimento de projetos e de negócios. 
A Lei 12.305/2010, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos, 
como já dito aqui, conceitua ciclo de vida do produto como uma “...série de 
etapas que envolvem o desenvolvimento do produto, a obtenção de matérias-
primas e insumos, o processo produtivo, o consumo e a disposição final.” (art. 
3º, inciso IV). 
Esse normativo foi editado para estabelecer o adequado gerenciamento dos 
resíduos sólidos (art. 4º), definindo princípios a serem observados e regras a 
serem cumpridas. Veja que todas as etapas do ciclo de vida estão postas nesse 
artigo de forma clara. A que fica mais evidente para o grande público é a 
disposição final, ou seja, o destino final dos rejeitos, que quase sempre provoca 
degradação ambiental e humana. 
O início e o final do processo são fundamentais. O desenvolvimento 
adequado de um produto permitirá que, ao longo de sua vida útil, ele provoque 
um mínimo de danos ao meio ambiente, pois utilizará poucos recursos, poderá 
ser reciclado, reutilizado, ou ser produzido por materiais que o meio ambiente 
consiga absorver com facilidade. 
 Quando um produto é lançado no mercado de maneira planejada, fica mais 
fácil, e muito mais barato, controlar tudo aquilo que vai ocorrer ao longo da sua 
vida útil. 
2.2 Da Avaliação do Ciclo de Vida 
 
Avaliação do Ciclo de Vida é uma técnica para análise dos aspectos 
ambientais e impactos potenciais associados à produção de determinado 
produto, compreendendo etapas que vão desde a retirada da natureza das 
matérias-primas que fazem parte do processo produtivo até o seu descarte final 
no meio ambiente ou sua reinserção na cadeia produtiva mediante reciclagem, 
reuso ou logística reversa. 
 
O ciclo de vida de um produto deve ser monitorado e avaliado 
permanentemente, permitindo o seu contínuo aperfeiçoamento. A preocupação 
com a sustentabilidade é recente e muitas inovações podem surgir todo dia, 
potencializando o desempenho ambiental de um produto por meio de ajustes 
que podem ser feitos no ciclo. 
 
Quando se faz a avaliação do ciclo de vida, o que se busca é conhecer todos 
os impactos positivos e negativos provocados pela produção do produto, pelo 
menos em tese, ao meio ambiente, às pessoas e à economia. A partir daí, é 
possível adotar medidas que mitiguem os impactos negativos e potencializem 
os impactos positivos no meio ambiente. 
 
2.3 Etapas da Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) 
 
Definição de objetivo e escopo: principais razões para a realização da 
avaliação e da definição do seu público-alvo. Aqui podemos ter, por exemplo a 
avaliação do custo ambiental de determinado produto sob a ótica da 
sustentabilidade como um objetivo. Feito isso, será possível definir um escopo, 
consistente na escolha dos requisitos ou critérios que serão utilizados no 
processo. O desafio, certamente, será avaliar o ciclo de vida para a definição do 
seu custo ambiental e econômico e a utilização desse custo como requisito de 
avaliação da vantajosidade de propostas em licitações públicas. 
 
Análise do inventário: coleta e quantificação de todas as variáveis 
envolvidas durante o ciclo de vida do produto, processo ou atividade. A 
inexistência de dados, ou a falta de alguns deles, pode inviabilizar o processo 
de avaliação. 
 
Avaliação de impacto: a avaliação dos impactos ambientais, sociais e 
econômicos visa determinar a intensidade com que todas as variáveis 
envolvidas ao longo do ciclo de vida alteram essas três vertentes da 
sustentabilidade, especialmente o meio ambiente. 
 
Interpretação: os resultados obtidos nas fases de inventário e de avaliação 
de impacto são analisados de acordo com o objetivo e o escopo previamente 
definidos para o estudo. Nesse momento, ajustes podem ser propostos e as 
informações coletadas devem servir de subsídio para a definição do custo de 
um produto sob os aspectos ambientais, sociais e econômicos. 
 
Ao analisar o ciclo de vida, o gestor deve definir a melhor estratégia a ser 
utilizada para minimizar os riscos ao meio ambiente, à sociedade e à economia. 
Ele pode, por exemplo, implantar a logística reversa para determinado produto, 
decidir pelo reúso de matérias-primas, pelo desmanche de materiais, pelo 
treinamento de pessoal, pela utilização de mão de obra local, pela reciclagem e 
assim por diante. 
A valoração do custo talvez seja a atividade de mais difícil execução no 
processo de ACV. Temos, por exemplo, os custos devidos à disposição final de 
um produto (associados à disposição do lixo urbano em aterros, coleta seletiva 
ou incineração, ineficiência dos processos industriais e outros). É difícil avaliar 
esses custos sob o ponto de vista financeiro, pois eles podem depender de 
muitas variáveis não econômicas, envolvendo, inclusive, questões 
socioculturais. 
 
Os custos de reposição dos recursos utilizados – que se referem aos custos 
das matérias-primas, renováveis ou não, efetivamente utilizadas na produção 
do bem, também não facilitam as coisas para o analista de ciclo de vida. Será 
possível repor determinada matéria-prima? Em quanto tempo? Qual será o 
custo da busca por um meio alternativo? Precisamos mesmo desse produto? É 
possível mensurar um benefício ambiental transformando-o em um valor 
econômico? Como comparar o benefício ambiental de dois produtos 
equivalentes? 
 
Avaliar o ciclo de vida de um produto é essencial para que possamos utilizar 
os dispositivos da nova lei de licitações que determinam que o ciclo de vida seja 
considerado no momento de avaliação das propostas. Somente por meio dessa 
avaliação é que será possível obter o seu custo ambiental, social, e econômico, 
e conhecer o desempenho ambiental de um produto em relação a outro no 
âmbito de um certame licitatório, o que permitirá selecionar a proposta que 
representa o menor dispêndio para a Administração. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AULA 5 – Ciclo de Vida de Produtos e Serviços – Parte 2 – Preservação 
Ambiental 
Agora vamos estudar de que modo o ciclo de vida pode ser utilizado nas 
licitações públicas como parâmetro para avaliação de propostas. Existe 
regulamentação tratando desse assunto? O que é necessário fazer? Veremos, ao 
final, alguns pontos e normativos que tratam da preservação ambiental no Brasil. 
OBJETIVO 
Entender a real situação relacionada com a utilização do ciclo de vida de bens e 
produtos na avaliação de propostas, e a necessidade de regulamentação da 
matéria e adequação do mercado. Conhecer a diferença entre preservar e proteger 
o meio ambiente. 
 
1. Introdução 
 
Quando se trata da utilização do ciclo de vida nas licitações públicas, a 
grande dificuldade está na avaliação da vantajosidade que deve ser feita com 
relação aos produtos ofertados em uma licitação, conforme disposição dos arts. 
11, 18 e 34 da Lei 14.133/2021. As informações necessárias não estão 
disponíveis e o mercado produtor ainda não trabalha focado no ciclo de vida 
daquilo que produzem. 
2. Ciclo de Vida de Produtos e Serviços 
Quando são comparados dois produtos, um com o ciclo de vida controlado 
e outro produzido sem esse tipo de controle, é tudo muito simples. O produto 
controlado será admitido na licitação, enquanto o outro deve ser recusado. 
Difícil mesmo é comparar o ciclo de vida de produtos semelhantes, mas 
com processos produtivos diferentes, desenvolvidos em ambientes diferentes, e 
que utilizam mão de obra distinta. Qual deles é melhor sob o ponto de vista da 
sustentabilidade. Qual tem o ciclo de vida menos danoso ao meio ambiente? 
Qual é mais vantajoso? 
Para responderessas perguntas é necessário, como já visto, conhecer em 
detalhes o ciclo de vida desses produtos e isso exige envolvimento, informações 
sobre todas as fases do processo produtivo, conhecimento do mercado e das 
inúmeras variáveis que podem afetar a qualidade do meio ambiente e das 
pessoas que nele vivem. 
É evidente que a Administração Pública não tem condições para tanto, 
cabendo-lhe as atribuições de ente regulamentador e de consumidora de bens e 
serviços que tem, sim, a responsabilidade de conhecer razoavelmente os 
produtos que adquire, o mercado no qual tais produtos estão inseridos, e de 
cumprir os próprios regulamentos. 
O conhecimento do mercado e dos produtos dificilmente será pleno, pois 
quem conhece o ciclo de vida um produto são as próprias empresas 
responsáveis pela sua produção. Cabe a elas demonstrar quais serão os recursos 
utilizados no processo fabril, o tratamento de resíduos oriundos da produção e 
do descarte final, as compensações ambientais a serem feitas etc. 
A maneira mais simples de obter essas informações é mediante notícia do 
próprio interessado. Contudo, em um ambiente competitivo, nem sempre essas 
declarações são aceitas, pois carecem de isenção. Além disso, muitos dos 
processos produtivos contam com a participação de várias empresas, impedindo 
que mesmo elas tenham um pleno domínio de todo o ciclo de vida de um 
produto. 
No entanto, existem empresas que são especializadas na avaliação de 
processos produtivos e que podem auxiliar os produtores e a Administração na 
análise do ciclo de vida dos produtos. São as empresas certificadoras. O 
processo de certificação consiste no exame de todas as fases de determinado 
processo produtivo. Ao final desse exame, a empresa emite um certificado, 
declarando o enquadramento do produto, no nosso caso, aos requisitos 
ambientais e legais. 
A dificuldade está no fato de que essa avaliação não tem o objetivo de aferir 
o custo econômico sustentável desse processo produtivo, mas, sim, o 
enquadramento do produto aos requisitos de sustentabilidade aplicáveis ao 
caso. Por exemplo: a logística reversa de determinado produto é implantada, 
mas quanto representa isso em termos do custo ambiental total? Quando apenas 
parte da matéria-prima de um produto puder ser reciclada, quanto isso 
representa de ganho para o meio ambiente? Essas dúvidas impedem que se faça 
uma comparação entre produtos distintos de maneira objetiva, especialmente 
quando se considera o cenário em que estão inseridos. 
Algumas certificações já estão sendo utilizadas pela Administração que as 
exige como documento essencial para aceitação de propostas em certames 
licitatórios. Contudo, essas certificações, em razão do seu conteúdo, não podem 
ser utilizadas como instrumento de comparação da vantajosidade prevista nos 
arts. 11, 18 e 34 da Lei 14.133/2021. 
O que se pode fazer, nesse caso, é aceitar ou recusar uma proposta em razão 
da presença ou da ausência de certificação. Na prática, as certificações vão 
declarar que determinado produto atende certos requisitos ambientais e legais 
ao longo do seu ciclo de vida, sem que haja uma valoração econômica ou 
ambiental. 
 A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) possui a ISO 14000 
que é uma série de certificações que estabelecem diretrizes para a 
implementação de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA) de qualidade. As 
certificações ISO 14000 buscam assegurar o equilíbrio e a proteção ambiental. 
A ideia é evitar problemas que afetem o meio ambiente, a sociedade e a 
economia, que são os pilares da sustentabilidade. Assim, para obter o 
certificado ISO 14000, a empresa precisa cumprir toda a legislação ambiental 
prevista em nosso país ao longo do processo produtivo. 
A ISO 14000 é um conjunto de normas internacionais relacionadas à gestão 
ambiental, das quais a ISO 14001 é a norma mais conhecida, porque é nela que 
são estabelecidos os requisitos para implantação de sistemas de gestão 
ambiental e sua certificação. 
A ISO 14040, por sua vez, especifica a estrutura geral, princípios e 
requisitos para conduzir e relatar estudos da avaliação do ciclo de vida, sem 
detalhar a técnica da avaliação do ciclo de vida que deve ser utilizada. Nessa 
norma, é informado que o estudo do ACV não aborda os aspectos 
econômicos ou sociais de um produto. Com essa ressalva, ficamos restritos à 
abordagem exclusivamente ambiental. 
 
Em outro ponto, a ISO 14.040 define afirmação comparativa como uma 
declaração ambiental que trata da equivalência de um produto em relação a um 
concorrente que tem a mesma função. Apesar dessa previsão, é feito um alerta, 
nessa própria ISO, no sentido de que a comparação entre estudos de ACV só 
pode ser feita quando os pressupostos e o contexto de cada estudo forem os 
mesmos. 
Assim, podemos dizer que, de acordo com a ABNT, a comparabilidade 
ambiental entre produtos que têm a mesma função não é adequada, pois a ACV 
pode ter sido desenvolvida em contextos diferentes ou com base em estudos 
que estabeleceram premissas distintas. 
Como consequência, não podemos utilizar certificações para demonstrar a 
vantajosidade de um produto em relação a outro no âmbito das licitações 
públicas. Sendo assim, elas só devem ser exigidas para comprovar que 
determinado produto possui um ciclo de vida que observa certos requisitos de 
sustentabilidade exigidos em lei, mas que não podem ser mensurados com 
precisão. Com base nisso, definir a vantajosidade de uma proposta em relação 
à outra será algo bem complexo de se fazer. 
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) está desenvolvendo um 
trabalho muito importante relacionado à definição dos requisitos de 
sustentabilidade dos bens e serviços produzidos por seus associados. A ideia é 
criar fichas técnicas para cada produto, indicando as especificações técnicas que 
deverão ser cobradas das empresas nos editais de licitações públicas. 
Esse processo de criação de fichas técnicas está contando com o apoio do 
TCU, que atendeu demanda da CNI nesse sentido. Trata-se de um trabalho cujo 
resultado permitirá à administração tratar com isonomia os eventuais licitantes, 
facilitará a especificação dos objetos licitados por meio da padronização e, 
certamente, trará muitos benefícios sob o ponto de vista da sustentabilidade. 
Teremos aí a padronização das especificações técnicas dos bens e serviços sob 
a ótica da sustentabilidade. 
Claro que os benefícios trazidos pela sistematização das especificações 
técnicas estarão restritos às empresas associadas à CNI e aos bens produzidos 
por elas. Contudo, essa iniciativa irá criar um paradigma de qualidade 
importante para as demais empresas do mercado. Estas, para se manterem 
competitivas, precisarão produzir bens com qualidade ambiental equivalente, 
uma vez que a disponibilização dessas fichas nos portais de compras públicas 
permitirá a universalização desse procedimento. 
Apesar de ser uma iniciativa importante, as fichas técnicas também não têm 
a serventia de atender ao propósito previsto na nova lei de licitações, qual seja, 
a de demonstração da vantajosidade de um produto, por conta do seu ciclo de 
vida, em detrimento de outro, e a obtenção do menor dispêndio para a 
Administração (arts. 11, 18 e 34 da Lei 14.133/2021). Na verdade, essas fichas 
não têm a pretensão de detalhar o ciclo de vida, mas tão somente de especificar 
tecnicamente produtos sustentáveis. 
2.1 Da utilização do ciclo da vida na avaliação das propostas 
Devemos considerar que, atualmente, temos um mercado produtivo 
pulverizado em nível mundial. Muitos produtos e matérias-primas originários 
de outros países chegam ao Brasil com muita frequência. Isso aumenta a 
dificuldade de avaliação do ciclo de vida, pois nem todos os países seguem as 
mesmas regras de preservação ambiental, ou mesmo de certificação. 
A avaliação econômica ou social do ciclo de vida é contraindicada, em 
razão de sua inviabilidade técnica. Reduzir a valores monetários questões 
humanas e culturais não é muito

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