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Seja bem-vindo ao nosso curso Compras Sustentáveis e a Nova Lei de Licitações! MÓDULO I – SUSTENTABILIDADE Neste primeiro módulo, vamos tratar dos fundamentos e dos conceitos de sustentabilidade. Leia com atenção e repita a leitura, se necessário. Somente passe à aula seguinte quando os conceitos estiverem bem sedimentados. Bons estudos! AULA 1 – Conceito de Sustentabilidade, Fundamentação Constitucional e Legal, e Acórdão TCU 1.056/2017-Plenário Nesta primeira aula, vamos estudar o conceito de sustentabilidade, sua fundamentação constitucional e legal, em especial, as leis 8.666/1993 e 14.133/2021. Além disso, veremos em detalhes o Acórdão TCU 1.056/2017, que é um marco na Administração Pública quando falamos de sustentabilidade. Acesse as leis 8.666/1993 e 14.133/2021 no site www.planalto.gov.br. Basta digitar o número da lei no google. Depois, baixe o arquivo e o salve no computador. OBJETIVO Ao final desta aula, esperamos que você conheça as principais leis aplicáveis às compras públicas e os princípios constitucionais que tratam da sustentabilidade, assim como as disposições do Acórdão TCU 1.056/2017-Plenário, que serviu de base a diversas pontos inseridos na Lei 14.133/2021, nova lei de licitações. 1. Introdução De acordo com informações constantes do portal do Ministério do Planejamento, as compras do governo chegam a 15% do produto interno bruto (PIB). A dimensão dessas compras faz com que o governo tenha um forte poder de interferência no mercado. Os impactos envolvem não apenas o aspecto econômico, mas também questões sociais, ambientais e de políticas públicas. A amplitude do contexto torna-se cada vez mais relevante, exigindo do poder público uma atuação mais proativa, e mais eficaz. O Tribunal de Contas da União (TCU) realizou alguns trabalhos de avaliação da Administração Pública e constatou que muitas das ações carecem de planejamento e monitoramento dos resultados obtidos. Diante disso, por intermédio do Acórdão 2.622/2015-P, fez uma série de recomendações no sentido de que as instituições governamentais passassem a atuar de maneira organizada, aplicando os mecanismos de governança aos seus processos de aquisições. É necessário que as ações da alta administração de um órgão agreguem valor ao negócio “administração pública”. Esse é o objetivo das recomendações do TCU que se pode inferir por uma leitura minuciosa do referido acórdão, que pode ser acessado no link a seguir. https://pesquisa.apps.tcu.gov.br/#/resultado/acordao- completo/*/NUMACORDAO%253A2622%2520ANOACORDAO%25 3A2015/%2520 A Lei 12.349, de 2010, incluiu no art. 3º da Lei 8.666/1993, a promoção do desenvolvimento nacional sustentável como um dos objetivos das licitações públicas. Com esse dispositivo, a Lei passou a exigir que os gestores públicos enfrentem a questão da sustentabilidade em seus três aspectos: ambiental, social e econômico. Por intermédio do Acórdão 1.056/2017-P, o TCU fez uma série de determinações a vários órgãos da Administração Pública no sentido de que fosse cumprida a disposição consignada no art. 3º da Lei 8.666/1993. A partir daí, várias providências foram e estão sendo adotadas, com vistas ao efetivo cumprimento das normas relacionadas à sustentabilidade nas licitações públicas. A recente Lei 14.133/2021, que irá substituir a atual Lei 8.666/1993, trata do assunto sustentabilidade com mais atenção. Vários trechos da nova lei cuidam de questões relacionadas com a sustentabilidade, especificamente com o ciclo de vida dos produtos. Vários entendimentos manifestados por órgãos de controle, como o TCU, foram claramente consignados no novo estatuto das licitações, exigindo maior profissionalização dos gestores responsáveis. Estes deverão ficar atentos a questões referentes ao planejamento das compras públicas, à gestão dos riscos envolvidos no processo, especialmente à profissionalização dos responsáveis pela execução das atividades de aquisição de bens e serviços, e à questão da sustentabilidade. Nesse cenário, as compras públicas sustentáveis, que, em alguns momentos, chegaram a ser consideradas como algo muito caro e de difícil realização, passam a ser, de fato, uma obrigação do gestor público. Para uma boa condução do processo de compras sustentáveis, algumas necessidades foram identificadas, tais como: conhecimento da legislação, capacidade técnica para especificar um produto ou um serviço que contemple requisitos de sustentabilidade, condições de avaliar os impactos na qualidade de vida dos trabalhadores que prestam serviços ao poder público, capacidade de avaliar impactos ao meio ambiente, conhecimento do mercado. Por conta disso, em sintonia com o Acórdão 1.056/2017-P do TCU, os gestores públicos devem entender que é essencial capacitar os servidores envolvidos nos processos de compras públicas sustentáveis. Pensando nisso, definimos o conteúdo desta apostila e desenvolvemos este curso. Não temos a pretensão de abordar toda a matéria que envolve compras sustentáveis, mas oferecer aos interessados uma oportunidade de aprimorar seus conhecimentos, de conhecer os conceitos relacionados com sustentabilidade, a legislação aplicável à matéria, especialmente a nova Lei de Licitações, e de dar os primeiros passos, para que possam auxiliar a Administração na busca pelo desenvolvimento nacional sustentável por meio das licitações públicas. 2. Conceito de Sustentabilidade, Fundamentação Constitucional e Legal É preciso entender sustentabilidade como um princípio constitucional que não cuida apenas da conservação e da preservação do meio ambiente. Existem muitos aspectos envolvidos, como o social, o econômico, o cultural. A Oganização das Nações Unidas (ONU) nos apresenta o seguinte conceito de sustentabilidade: “Sustentabilidade é a capacidade de suprir as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades.” Sustentabilidade tem mesmo a ver com a capacidade de preservação do meio ambiente, garantindo a disponibilidade de recursos para as gerações futuras. Trata-se de não exaurir os recursos disponíveis na natureza. Contudo, não podemos deixar de lado a questão social, que se refere às ações destinadas à melhoria da qualidade de vida da sociedade que ocupa esse meio ambiente. Ações que proporcionem a todos, segurança no trabalho e geração de renda, que combatam o trabalho infantil e que busquem o desenvolvimento regional são alguns exemplos do que deve ser entendido como sustentabilidade social. Sob o ponto de vista econômico, temos uma série de medidas que podem ser adotadas, como: apoio a pequenas empresas, agricultura familiar, compensação ambiental, utilização de fontes alternativas de energia. 2.1 Fundamentação Constitucional O art. 170 da Constituição Federal de 1988 (CF/88) dispõe que a ordem econômica se fundamenta na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, buscando a existência digna dos cidadãos. Foram estabelecidos, nesse artigo, alguns princípios, como a soberania nacional (inc. I), a propriedade privada (inc. II), a função social da propriedade (inc. III), a livre concorrência (inc. IV), a defesa do consumidor (inc. V), a proteção do meio ambiente (inc. VI); a redução das desigualdades regionais e sociais (inc. VII), a busca do pleno emprego (inc. VIII) e o tratamento diferenciado para as empresas de pequeno porte (inc. IX). No art. 225, a CF/88 impõe ao Poder Público e à coletividade o dever de defender e preservar o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado para as gerações presentes e futuras, nos seguintes termos: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.” Nesse artigo, a CF/88 exige a elaboração de estudo préviode impacto ambiental (inciso IV) como forma de avaliar a eficiência da atividade econômica, por meio da aplicação do conceito de sustentabilidade ambiental e financeira. O princípio do desenvolvimento sustentável exige a criação de um conjunto de instrumentos preventivos que ordene as ações econômicas para compatibilizá-las com a proteção do meio ambiente e da sociedade, fazendo com que sempre existam os recursos necessários ao desenvolvimento. Desse modo, sustentabilidade é garantia de meio ambiente saudável, renovável, economicamente viável e socialmente justo, para as gerações presentes e futuras. Todo esse contexto é respaldado nos citados dispositivos constitucionais e decorre do princípio fundamental do direito à vida, tornando-se indisponível como o próprio direito à vida. Não foi sempre que o legislador teve a percepção de proteger o meio ambiente. A legislação específica que trata do assunto é muito recente no Brasil. O art. 37, XXI, da CF/88, representa o fundamento para a necessidade de realização das licitações públicas em todas as esferas de governo do nosso país: Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações. Esses princípios constitucionais constantes dos arts. 170 e 37 da CF/88 criaram para a Administração a obrigação de licitar e proteger o meio ambiente por meio das compras públicas. Veremos que tanto a Lei 8.666/1993 como a Lei 14.133/2021 absorveram esses mandamentos e trazem, em seus textos, referências expressas à sustentabilidade. 2.2 Lei 8.666/1993 A Lei 8.666/1993 é o estatuto das licitações e contratos e ainda está plenamente vigente em nosso país. Basicamente, ela regulamenta todo o procedimento relacionado com a compra de bens e a contratação de serviços pela Administração Pública. Seu objetivo é permitir que, por meio desse procedimento, a Administração Pública obtenha a proposta mais vantajosa para satisfazer as suas necessidades, assim como as dos cidadãos que representa. Esse procedimento administrativo deve observar uma série de preceitos legais e princípios constitucionais, permitindo que qualquer interessado habilitado para tanto dele possa participar em igualdade de condições. Trata-se de um rito procedimental bastante formal. De acordo com o art. 3º da Lei 8.666/1993, a licitação destina-se a garantir a observância do princípio constitucional da isonomia, a seleção da proposta mais vantajosa para a Administração e a promoção do desenvolvimento nacional sustentável, e será processada e julgada em estrita conformidade com os princípios básicos da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhes são correlatos. Temos aí uma menção ao desenvolvimento sustentável, que, como visto, foi definido pela Organização das Nações Unidas (ONU) da seguinte maneira: “Sustentabilidade é suprir as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades.” (ONU. Relatório Our Common Future, “Nosso Futuro Comum”, da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, 1983). No link abaixo você pode acessar o relatório completo. https://pt.wikipedia.org/wiki/Relat%C3%B3rio_Brundtland Veja que a lei elegeu como objetivo o desenvolvimento sustentável. Isso quer dizer que todos os procedimentos desenvolvidos com base na Lei 8.666/1993 devem, no que for possível, obviamente, fazer compras e contratar serviços caracterizados como sustentáveis. Ou seja, bens e serviços que satisfaçam as necessidades das gerações atuais, mas não coloquem em risco a possibilidade das gerações futuras de também terem as suas necessidades satisfeitas. A Lei 8.666/1993 regulamenta o art. 37, inciso XXI, da CF, instituindo normas gerais sobre licitações e contratos (art. 1º). Essas normas gerais vinculam todos os entes da administração federal, estadual e municipal. Temos aqui a competência privativa da União para legislar sobre licitações e contratos. Art. 22 – Compete privativamente à União legislar sobre: XXVII - normas gerais de licitação e contratação, em todas as modalidades, para as administrações públicas diretas, autárquicas e fundacionais da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, obedecido o disposto no art. 37, XXI, e para as empresas públicas e sociedades de economia mista, nos termos do art. 173, § 1º, III. As empresas públicas e as sociedades de economia mista não estão sujeitas à Lei 8.666/1993, pois possuem legislação própria (Lei 13.303/2016). Neste curso, não iremos tratar, em detalhes, da Lei 8.666/1993. Nosso foco será a Lei 14.133/2021, que, além de trazer muitas inovações, revogará a Lei 8.666/1993, que deixará de ser utilizada a partir de abril do próximo ano. 2.3 Lei 14.133/2021 A nova Lei de Licitações entrou em vigor no dia 01/04/2021. Contudo, a revogação das normas então vigentes somente ocorrerá em um prazo de dois anos, pois muitos dos procedimentos tratados na nova lei estão carentes de regulamentação. Em razão disso, nesse período de dois anos, o gestor público poderá optar pela aplicação de uma ou outra norma. Assim, apenas em abril de 2023 as normas antigas serão revogadas de fato. A Lei 14.133/2021 pode ser considerada como uma consolidação de normas, uma vez que abarca todos os assuntos tratados na Lei 8.666/1993, na Lei 10.520/2002, e na Lei 12.462/2011, que trata do RDC (Regime Diferenciado de Contratação). A novalLei de licitações se aplica a toda administração nas esferas federais, estaduais, municipais e distrital, no que se refere a normas gerais de licitações. As empresas públicas e as sociedades de economia mista, como já dito, são regidas pela Lei 13.303/2016. 2.3.1 Principais alterações a) Fases da licitação – A inversão de fase, típica do pregão, foi estendida a todas as modalidades com o objetivo de agilizar o processo, pois somente será necessário examinar os documentos de habilitação do licitante mais bem classificado. b) O art. 17, em seu § 1º, esclarece que, diante de prévia justificativa, a Administração poderá realizar a etapa de habilitação antes da etapa de avaliação das propostas. c) O § 2º do art. 17 exige motivação para a não realização da licitações em meio eletrônico. Assim, independentemente da modalidade, a sessão pública deverá ser on-line. d) A modalidade de licitação não será mais definida em razão do valor estimado da contratação, mas de acordo com a complexidade do objeto. Deixam de existir as modalidades convite e tomada de preços. As modalidades de licitação agora são as seguintes: pregão; concorrência; concurso; leilão, e diálogo competitivo. e) O pregão será a modalidade utilizada para a contratação de bens ou serviços comuns, ao passo que a concorrência será a modalidade escolhida para as contratações de bens e serviços especiais e obras de engenharia. O concurso se aplica às contratações de serviços técnicos, científicos ou artísticos, e o leilão deve ser utilizado nas alienações de bens móveis ou imóveis. f) O diálogo competitivo é uma modalidade de licitação originária do RDC e deve ser utilizada nas licitações relacionadascom inovação tecnológica ou técnica; quando houver necessidade de adaptação das soluções disponíveis no mercado; e quando não for possível para a Administração definir as especificações técnicas do objeto com a precisão necessária. g) Foram definidos novos valores para as dispensas de licitação em razão do baixo valor do objeto. Agora esses valores são de até R$ 100.000,00 (cem mil reais) para obras ou serviços de engenharia, ou serviços de manutenção de veículos automotores; e de até R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) para bens e outros serviços. h) Possibilidade de dar caráter sigiloso aos orçamentos, mediante prévia justificativa. O sigilo não poderá ser utilizado nas licitações cujo critério de seleção seja o de maior desconto. i) Criação dos seguintes procedimentos auxiliares: credenciamento, pré-qualificação, manifestação de interesse, registro de preços, e registro cadastral. j) Os critérios de habilitação também foram alterados, ampliando- se a possibilidade de apresentação de documentos, como no caso do balanço patrimonial e no da comprovação de qualificação técnica. k) Definição de quatro modos de disputa para a etapa de julgamento das propostas, quais sejam: modo aberto, modo fechado, modo aberto e fechado e modo fechado e aberto. l) Seguro-garantia de contratos de obras e serviços com a possibilidade de a seguradora se obrigar a concluir o contrato caso ocorra inadimplemento contratual pelo contratado. m) Criação de novos modelos de contratos e ampliação dos prazos de vigência. n) Previsão da necessidade de avaliação de riscos na fase de planejamento da contratação. o) Criação do Portal Nacional de Compras Públicas – PNCP. Todos esses pontos serão abordados em detalhes no Módulo III, que irá tratar especificamente das licitações públicas. 3. Acórdão TCU 1.056/2017-Plenário O Acórdão 1.056/2017-P do TCU, cuja relatoria coube ao Ministro André Carvalho, foi um marco na Administração Pública Federal no que se refere à sustentabilidade. Ele resultou de uma ampla auditoria operacional conduzida pela Secretaria de Controle Externo da Agricultura e do Meio Ambiente (Secex Ambiental) do TCU, realizada com o objetivo de avaliar a evolução das medidas adotadas nas áreas de redução de consumo de papel, energia elétrica e água. O resultado foi muito além disso, como se pode notar ao se examinar algumas das determinações do Tribunal contidas no referido acórdão. O Tribunal constatou que as ações da Administração Pública precisavam ser aprimoradas para cumprir o objetivo das compras públicas previsto no art. 3º da Lei 8.666/93, qual seja, “o desenvolvimento nacional sustentável”. Além disso, entendeu o Tribunal que havia necessidade de preparar a estrutura organizacional da Administração, implantando ações de planejamento, controle e gestão de riscos efetivas. As principais determinações contidas no Acórdão 1.056/2017-P, com destaques nossos, são as seguintes: 9.1. determinar que, nos termos do art. 45 da Lei nº 8.443, de 1992, o Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, representado pela Coordenação Geral de Normas de sua Secretaria de Gestão (SEGES/CGNOR), promova a necessária aplicação do art. 3º, caput, da Lei nº 8.666, de 1993, com o intuito de: 9.1.2. apresentar, no prazo de até 120 (cento e vinte) dias contados do término do prazo fixado pelo item 9.1.1 deste Acórdão, o devido plano de ação destinado a implementar o necessário sistema de acompanhamento das ações de sustentabilidade, conforme previsto no art. 1 do Decreto nº 7.746/2012, com vistas a dar conhecimento das ações de sustentabilidade em execução na Administração Pública Federal (APF) , levando em consideração as informações já existentes em sistemas como o Sispes e o Ressoa, além de promover a criação de parâmetros desejáveis de consumo, por tipologia de edificações; 9.2. determinar que, nos termos do art. 45 da Lei nº 8.443, de 1992, o Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, representado pela Coordenação Geral de Normas de sua Secretaria de Gestão (SEGES/CGNOR), promova a necessária aplicação do art. 3º, caput, da Lei nº 8.666, de 1993, de sorte a adotar as providências necessárias para que, a partir de 1º de janeiro de 2018, sejam efetivamente aplicadas as seguintes medidas: 9.2.2.1. exigir que os Planos de Gestão de Logística Sustentável (PLS) ou instrumentos substitutos equivalentes estejam previstos no planejamento estratégico de cada órgão e entidade da APF, considerando o alcance e a transversalidade dos aspectos inerentes à sustentabilidade, de modo a institucionalizar, com isso, todas as ações de sustentabilidade junto à direção geral das aludidas instituições; 9.2.2.2. exigir que os órgãos e as entidades da APF implementem, em suas estruturas, o efetivo funcionamento de unidades de sustentabilidade com caráter permanente, contando, em sua composição, com servidores ou colaboradores dotados de perfil técnico para a específica atuação nos assuntos pertinentes; e 9.2.2.3. exigir que as avaliações de desempenho dos PLS contenham ferramentas de avaliação da efetividade do instrumento de planejamento, com vistas a permitir a análise dos resultados das ações implementadas e o comportamento dos padrões de consumo, em busca da manutenção do ponto de equilíbrio entre o consumo e os gastos; 9.2.4. concluir a revisão do Catálogo de Materiais – CATMAT e do Catálogo de Serviços – CATSER, de sorte a regulamentar a inclusão de itens com requisitos de sustentabilidade e a excluir os itens cadastrados em duplicidade; 9.2.5. exigir a devida apresentação da Plano Anual de Contratações pelos órgãos e entidades integrantes do SISG, especificando os itens com requisitos de sustentabilidade que serão adquiridos em consonância com o correspondente PLS; 9.2.7. exigir, em conjunto com o Ministério do Meio Ambiente, que os órgãos e as entidades da administração federal elaborem os seus Planos de Gerenciamento de Resíduos Sólidos, visando à correta destinação dos resíduos gerados pelo funcionamento da máquina administrativa federal, de modo a atender os arts. 20 e 21 da Lei nº 12.305, de 2010, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos; 9.3. determinar que, nos termos do art. 45 da Lei nº 8.443, de 1992, a Cisap apresente a devida proposta de plano de trabalho [...] relacionadas com: 9.3.1. a institucionalização de planos de incentivos à implantação de ações de promoção da sustentabilidade perenes e atrativos; 9.3.2. o planejamento e a execução de ações para a ampla e eficiente divulgação de boas práticas na área temática de governança da sustentabilidade no âmbito de toda a APF; e 9.3.3. a promoção de ações de capacitação sobre a área temática de governança da sustentabilidade, alcançando principalmente os órgãos e entidades da APF mais representativos em termos de gastos e consumos de insumos, com vistas a disseminar os conhecimentos necessários à implementação das diversas ações de promoção da sustentabilidade; 9.4. determinar que, nos termos do art. 45 da Lei nº 8.443, de 1992, a Secretaria Executiva da Cisap, em conjunto com os demais representados na comissão, promova a necessária aplicação do art. 3º, caput, da Lei nº 8.666, de 1993, com o intuito de, a partir de 1º de janeiro de 2018, exigir e acompanhar a elaboração, a implementação e a avaliação dos Planos de Gestão de Logística Sustentável (PLS) pelos órgãos e entidades da administração federal direta, autárquica e fundacional (APF) , em consonância com o art. 16 do Decreto nº 7.746, de 2012; 9.5. determinar que, nos termos do art. 45 da Lei nº 8.443, de 1992, o Ministério do Meio Ambiente promova a necessária aplicação do art. 3º, caput, da Lei nº 8.666, de 1993, com o intuito de, no prazo de 180 dias contados da notificação deste Acórdão, apresentar o devido plano de ação para a avaliação dos recursos financeiros e humanos necessários ao alcance das metas de expansão e de capacitaçãodo Programa A3P previstas no atual PPA, considerando as informações fornecidas pela sua Secretaria de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental; 9.5.1. determinar que, nos termos do art. 45 da Lei nº 8.443, de 1992, a Secretaria de Mudança do Clima e Florestas do MMA (SMCQ/MMA) promova, no prazo de 180 dias contados da notificação deste Acórdão, a necessária aplicação do art. 3º, caput, da Lei nº 8.666, de 1993, com o intuito de:ampliar as ações de capacitação dos gestores relacionadas com a certificação de prédios públicos e com a proposição de incentivos a serem oferecidos para a obtenção da certificação, de modo a obter maior aderência dos órgãos e entidades da administração pública à IN SLTI/MP nº 2, de 2014, além de gerar incentivos em decorrência da economia de recursos no consumo de água, energia e papel, entre outros insumos; 9.5.2. apresentar os necessários estudos, em conjunto com a Cisap, sobre as formas de considerar, no sistema de acompanhamento das ações de sustentabilidade, o monitoramento e o estabelecimento de parâmetros desejáveis de consumo, por tipologia de edificações, a partir da implementação das ações de promoção da sustentabilidade; e 9.9. determinar que, sob a coordenação da Secretaria Geral de Controle Externo, a Secretaria de Controle Externo da Agricultura e do Meio Ambiente (SecexAmbiental) adote as seguintes providências: 9.9.1. fomente, em conjunto com a Secretaria Geral de Administração do TCU, a possível implementação de comunidade federal de governança da sustentabilidade com o intuito de incentivar o emprego das boas práticas de sustentabilidade no âmbito da administração pública federal (APF); 9.9.2. acompanhe os eventuais estudos realizados pela APF, que visem aprimorar as aquisições de produtos e serviços sustentáveis e conferir maior agilidade e eficiência no processo, além de outros incentivos legais, no caso de o órgão ou a entidade federal contar com o devido Plano de Gestão de Logística Sustentável (PLS); 9.9.4. acompanhe as ações implementadas pelo Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, com vistas ao desenvolvimento e o emprego de aplicativo de TI destinado à aferição, geral e específica, do IASA ou eventual instrumento equivalente que vier ser instituído, no âmbito dos órgãos e das entidades da APF, nos termos do item 9.2.1 deste Acórdão. Extraordinária a insistência do Tribunal no sentido de que a Administração Pública Federal (APF) cumpra as disposições contidas no art. 3º da Lei 8.666/1993. Por meio dessa auditoria operacional, constatou-se que o assunto “sustentabilidade” não vinha recebendo a devida atenção dos órgãos da Administração no que se refere às licitações públicas, apesar da clara disposição normativa. As recomendações e determinações do TCU envolveram todas as fases do processo de aquisições, passando pela governança, pelo planejamento, pela normatização de procedimentos, pela disseminação de boas práticas e pela capacitação de pessoal. A gestão dos resíduos, as compras públicas sustentáveis, e a necessidade de sensibilização e capacitação dos servidores, que são eixos temáticos da Agenda Ambiental da Administração Pública – A3P, foram abordadas no Acórdão 1.056/2017-P do TCU. Não se trata apenas de cuidar dos resíduos, ou de adquirir produtos e serviços que não agridam o meio ambiente, é essencial que todo o processo seja aprimorado, que as pessoas envolvidas no processo sejam qualificadas. Somente assim é que podem ser desenvolvidas as atividades necessárias para que as licitações públicas funcionem como um catalisador para o desenvolvimento nacional sustentável, conforme previsto no estatuto das licitações públicas. Vale salientar que esse acórdão do TCU não representa um entendimento novo do Tribunal. Essa questão já foi tratada em diversas oportunidades, ainda que com um enfoque um pouco diferente. O Acórdão 2.622/2015-P, por exemplo, foi notável no tratamento das questões relativas à governança, especialmente quanto à gestão e ao planejamento das aquisições e ao controle dos riscos envolvidos, o que é essencial para que tenhamos aquisições sustentáveis bem-sucedidas. Diante disso, é fundamental que as compras públicas sejam estudadas não somente quanto à sustentabilidade propriamente dita, mas também quanto ao seu arcabouço administrativo, que, numa visão mais moderna, envolve governança, gestão, planejamento e tratamento de riscos. O resultado da auditoria materializado no Acórdão 1.056/2017 foi extraordinário. Várias questões foram abordadas e as sugestões feitas peo Tribunal acabaram sendo incorporadas e estão sendo aplicadas em toda a Administração Pública. A nova lei de licitações trouxe para o seu texto algumas questões que foram objeto de recomendações e determinações do TCU, inclusive. O Painel de Sustentabilidade, os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), o Índice de Avaliação da Sustentabilidade na Administração (IASA) foram relevados no acórdão, permitindo que se tenha uma visão mais clara do nível de sustentabilidade na Administração. Mais à frente, vamos examinar cada um desses indicadores com mais detalhes. Acesse o inteiro teor do acórdão no link abaixo. https://pesquisa.apps.tcu.gov.br/#/resultado/acordao- completo/1056/NUMACORDAO%253A1056%2520ANOACORDAO%253A2017/%2520 AULA 2 – Sustentabilidade e Compras Públicas Agora vamos cuidar dos conceitos de sustentabilidade e da relação desta com as compras públicas. Veremos os pilares da sustentabilidade, preservação ambiental e o que é desenvolvimento nacional sustentável. Acesse os links indicados no texto a seguir, veja os aspectos culturais envolvidos na sustentabilidade e faça uma leitura atenta da Agenda 21, no portal do Ministério do Meio Ambiente. OBJETIVO Ao final da aula, o aluno deverá conhecer os conceitos relacionados com os fundamentos teóricos da sustentabilidade e alguns objetivos que se buscam com o desenvolvimento nacional sustentável. 1. Introdução O mundo é dinâmico! Está em constante mudança. Problemas que vivenciamos hoje não tinham importância alguma há alguns anos. Do mesmo modo, problemas de tempos atrás hoje estão sob controle e sequer pensamos neles. A questão do meio ambiente, por exemplo, só recentemente passou a preocupar a sociedade e o governo de alguns países. O tratamento de esgotos, a poluição do ar, a conservação das florestas e das fontes de água, a extinção de animais, a degradação da camada de ozônio são assuntos relativamente novos. A sociedade, vivendo em um ambiente cada vez mais opressivo, passou a cobrar uma atitude mais proativa de seus dirigentes, no sentido de preservar o nosso mundo e de manter as boas condições de habitabilidade para as gerações atuais e futuras. Isso fez com que governos e mercados passassem a tratar a questão ambiental com mais cuidado, com um novo olhar, evitando ações imediatistas que aparentemente resolviam o problema, mas que, na verdade, criavam outros de muito mais difícil solução. Os conceitos mudaram, e empresas e governantes também estão mudando, mas a mudança é lenta e a cobrança da sociedade é fundamental para que haja uma humanização das ações de governo com relação ao meio ambiente em que vivemos. A sustentabilidade, contudo, não pode ser considerada apenas sob o aspecto ambiental. Nós, seres humanos, também fazemos parte desse meio ambiente, dependemos dele e, em muitos casos, sem saber, o estamos destruindo. A qualidade do ambiente em que vivemos tem reflexos diretos na qualidade de vida de cada um de nós. Nesse sentido, o aspecto social não pode ser desconsiderado. Muito da degradação do nosso planeta se deve à falta de preocupação com o povo que o habita. Desemprego, fome, miséria, violência, abandono, degeneração humana, ausência de informações e conhecimento. É preciso que as pessoas possam viver com ummínimo de dignidade e segurança para que a sociedade, como um todo, não seja destruída, e isso passa forçosamente por políticas públicas que devem ir além da questão exclusivamente ambiental. Assim, as ações de governo, em termos de sustentabilidade de compras públicas não podem ter como foco apenas o meio ambiente, mas também a componente humana. Há de se buscar o desenvolvimento sustentável da sociedade por meio de ações planejadas, de curto, médio e longo prazo. Governança e planejamento das ações! É preciso pensar no todo e não apenas em alguns segmentos. De nada adianta, por exemplo, inaugurar uma grande hidrelétrica se as pessoas não possuem casas para receber essa energia. O desenvolvimento sustentável deve ser buscado permanentemente por meio do crescimento econômico, do desenvolvimento social e da preservação do meio ambiente. Esses três aspectos devem estão interligados e um não se mantém sem o outro. Para que o meio ambiente seja preservado, é preciso desenvolvimento social, o que não acontece sem crescimento econômico. Conforme já vimos, a ONU entende que desenvolvimento sustentável é aquele [...] que procura satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades, significa possibilitar que as pessoas, agora e no futuro, atinjam um nível satisfatório de desenvolvimento social e econômico e de realização humana e cultural, fazendo, ao mesmo tempo, um uso razoável dos recursos da terra e preservando as espécies e os habitats naturais (- ). (.” (ONU. Relatório Our Common Future, “Nosso Futuro Comum”, da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, 1983 Como visto, a definição da ONU contempla os três aspectos que mencionamos: social, econômico e ambiental. A Administração pública, ao executar seu orçamento, tem uma importância capital nesse processo de desenvolvimento, tornando-se um agente indutor em razão da sua importante capacidade de interferência no mercado e na sociedade. Isso pode ser alcançado por intermédio de sua política econômica e social, por meio do seu poder normativo, de suas contratações, das ações sociais desenvolvidas, de normas para proteção do meio ambiente e pela aplicação dos recursos à sua disposição de maneira eficaz e de acordo com os requisitos necessários ao desenvolvimento nacional sustentável. 2. Sustentabilidade e seus três pilares A sustentabilidade, sob o ponto de vista das compras públicas, deve levar em consideração questões muito mais amplas relacionadas com a qualidade de vida das pessoas, o ambiente social em que vivem e suas necessidades econômicas básicas: emprego, saúde, segurança, renda etc. Desse modo, podemos considerar que a sustentabilidade se alicerça em três pilares: desenvolvimento social, crescimento econômico e preservação do meio ambiente. Com essa perspectiva, vamos examinar cada um deles nos tópicos a seguir. 2.1 Desenvolvimento Social Sustentável Trata-se de atender, de forma permanente, as necessidades de todas as pessoas que façam parte da sociedade. Desse modo, as ações de sustentabilidade de cunho social devem ser desenvolvidas com vistas a atingir objetivos que beneficiem toda a sociedade e não apenas uma parcela dela. Regiões mais carentes devem ser priorizadas, determinados segmentos da sociedade devem ser atendidos com mais atenção, a educação deve ser universalizada. A geração de renda para as camadas mais pobres e o incentivo às empresas regionais e de pequeno porte devem ser metas permanentes, pois são ações que equilibram a forma como o desenvolvimento acontece em toda a sociedade. Alguns aspectos, dada a sua relevância no contexto social, assumem destaque especial, como a educação, a geração de renda, a segurança, cultura e a saúde, e não devem ser ignorados, nem tratados de forma genérica. 2.2 Desenvolvimento Econômico Sustentável Em um cenário econômico sustentável, deve haver competição justa entre as empresas que compõem o mercado. No Brasil, um grande número de trabalhadores presta serviços para microempresas e empresas de pequeno porte, o que demonstra a necessidade de dar solidez e acesso aos mercados a essas empresas, mantendo, com isso, as condições de emprego e renda para os cidadãos que a elas prestam seus serviços. Muitas dessas empresas estão localizadas em pequenas cidades e o fortalecimento delas permitirá que os habitantes dessas regiões consigam se manter em sua terra natal. Isso fará com que o fluxo migratório para os grandes centros urbanos seja reduzido, evitando-se situações incontroláveis de superpopulação, favelização, falta de segurança pública e outras situações indesejáveis. A melhoria das relações de trabalho entre empregadores e empregados também deve ser uma política permanente, evitando-se a concentração de renda, o subemprego, as más condições de trabalho e a informalidade. Assim, o pagamento de salários justos e a busca do desenvolvimento profissional e educacional dos trabalhadores são fundamentais para o desenvolvimento econômico sustentável. O ambiente de trabalho deve ser saudável e seguro, tanto no aspecto físico quanto no aspecto das relações humanas, privilegiando- se o respeito mútuo entre trabalhadores e empresários, o que, certamente, fará com que o mercado cresça, minimizando os riscos da atividade empresarial e garantindo a manutenção do emprego e a segurança no trabalho. 2.3 Preservação Ambiental As empresas, partes da população e alguns órgãos públicos procuram reduzir, ou controlar, os efeitos da economia e da população sobre o meio ambiente – trata-se da compensação ambiental. A compensação ambiental é um mecanismo legal para que as empresas retornem e minimizem os impactos que podem ser causados no ambiente a partir de atividades utilizadoras de seus recursos, consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras, bem como aquelas capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental. Aos poucos, medidas dessa natureza vêm sendo implementadas, estabelecendo uma cultura de sustentabilidade que é essencial para que elas alcancem um bom resultado e sejam compreendidas pela população. Como exemplo, podemos citar o plantio de árvores para compensar a construção de uma rodovia ou de um edifício. É um começo, mas quase nunca as medidas mitigadoras são suficientes para reparar o dano sofrido pelo meio ambiente. Então é preciso avançar, fazer mais. O crescimento econômico e o desenvolvimento social, em regra, estão relacionados com a utilização de recursos naturais. A questão ambiental, nesse sentido, refere-se ao esforço de minimizar os efeitos negativos da utilização desses recursos sobre o meio ambiente. Uma mudança de comportamento, de cultura, deve acontecer e para que isso seja possível, as pessoas devem ser preparadas para participar de ações que tenham em vista o atingimento de objetivos claros, pois o fator humano é essencial sempre. Então é preciso conhecimento e acesso à informação. A sustentabilidade, como visto, leva em conta três aspectos: o ambiental, o social e o econômico. Para que o desenvolvimento sustentável ocorra, esses três aspectos devem se harmonizar, e isso não será possível se as ações não forem planejadas, se os erros não forem corrigidos, e se as metas não forem definidas previamente pelos gestores públicos e aceitas e entendidas por empresários e pela sociedade. O trabalho é permanente, como o próprio conceito de sustentabilidade supõe, e as ações não podem ser adotadas de maneira isolada; o conjunto é o que importa quando se fala em sustentabilidade. O meio ambiente, o mercado e a sociedade não são organismos isolados, por isso, devem ser tratados de maneira global, visando ao benefício de todos. O mais importante é que todos os parceiros se envolvam nessa empreitada: governo, empresários, trabalhadores, pois é a única forma de se produzirem os resultados de que a sociedade e o meioambiente necessitam. Por conta disso, desenvolvimento sustentável é um tema que vem ganhando destaque na agenda política da Administração Pública Federal (APF), ao longo dos últimos anos. A APF está mais consciente como indutor de mudanças culturais e estruturais nos processos produtivos, comerciais, e de consumo, tornando-os verdadeiramente sustentáveis. O legislador vem tentando aperfeiçoar os procedimentos de contratações públicas sustentáveis por meio de uma série de normativos. Essa medida tem servido como catalisador para a implementação de políticas públicas que resultem em modernização tecnológica, economia de recursos, transparência, preservação do meio ambiente, e outros resultados importantes para que o desenvolvimento nacional sustentável aconteça. 2.4 Cultura e Sustentabilidade Somente depois do ano 2000 é que a cultura passou a ser considerada importante para o desenvolvimento nacional sustentável. Na verdade, a cultura é fundamental para a sustentabilidade. A própria Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) afirma a importância de todas as culturas e das políticas que as envolvem para apoiar o desenvolvimento sustentável de cidades no setor econômico, político e social. Acesse o link abaixo e veja isso em detalhes. https://pt.unesco.org/courier/april-june-2017/cultura-no-coracao- dos-ods Violência doméstica, perspectiva de gênero, consumo responsável, religiosidade e educação são exemplos de aspectos de grande importância na cultura sustentável. A criação da Agenda 21 foi a maneira encontrada para mostrar aos governantes como políticas culturais podem promover o desenvolvimento sustentável. Veja mais detalhes no link Agenda 21 Global do Ministério do Meio Ambiente, a seguir. https://antigo.mma.gov.br/responsabilidade-socioambiental/agenda- 21/agenda-21-global.html O que realmente importa quando falamos em cultura de um povo é o respeito que se deve ter com relação aos direitos humanos, aos seus costumes, às suas crenças. Essas características culturais devem ser consideradas na criação de ações que atraiam a população e permitam proporcionar um ganho de qualidade à vida dessas pessoas. Como exemplo de ações culturais, temos: restauração de prédios ou locais históricos, realização de festas populares com música e alimentos típicos, festas religiosas, criação de centros culturais, apoio ao desenvolvimento do comércio, da agricultura e da indústria, que seja compatível com a realidade local, além da criação de agendas específicas, da divulgação e do patrocínio dos eventos, ou mesmo de calendários culturais permanentes. AULA 3 – Compras Públicas O que são compras públicas? O que são compras públicas sustentáveis? Essas questões serão respondidas nesta aula para que se possa entender por que devemos fazer compras públicas sustentáveis. Acesse o link e leia sobre a situação das compras públicas no Brasil e em alguns países. https://www.cepal.org/sites/default/files/publication/files/41009/S1601328_pt.p df OBJETIVO Materializar os conceitos de sustentabilidade por meio das compras públicas. Entender por que devemos fazer compras públicas e como o governo pode interferir no processo. 1. Introdução As contratações públicas mobilizam tanto o setor governamental quanto o setor privado. O governo, como grande cliente do mercado, pode implementar mudanças de caráter ambiental em suas aquisições, exigindo, por exemplo, o uso racional e sustentável dos recursos. Assim, o poder de compra do Estado passa a ser um instrumento de proteção ao meio ambiente e de desenvolvimento econômico e social. A CF, em seu art. 37, inciso XXI, prevê para a Administração Pública a obrigatoriedade de licitar, nos seguintes termos: Ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações. Esse artigo foi regulamentado pela Lei nº 8.666, de 1 de junho de 1993, que estabeleceu normas gerais sobre licitações e contratos administrativos pertinentes a obras, serviços, inclusive de publicidade, compras, alienações e locações no âmbito dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Em abril do ano passado, foi publicada a Lei nº 14.133, que substituirá a Lei 8.666/1993. Tanto em uma quanto em outra, podemos entender licitação como um procedimento administrativo formal por intermédio do qual a Administração Pública convoca, mediante condições estabelecidas em ato próprio (edital), empresas interessadas na apresentação de propostas para fornecimento de bens ou prestação de serviços. A licitação objetiva garantir a observância do princípio constitucional da isonomia e selecionar a proposta mais vantajosa para a Administração, de maneira a assegurar oportunidade igual a todos os interessados e possibilitar o comparecimento ao certame do maior número possível de concorrentes, o que aumenta a concorrência e favorece o próprio interesse público. O procedimento de licitação objetiva permitir que a Administração contrate aqueles que reúnam as condições necessárias ao atendimento de determinada necessidade, levando em consideração aspectos relacionados à capacidade técnica e econômico-financeira do licitante, à qualidade do produto e ao valor do objeto. Fica evidente tratar-se de um procedimento formal, obrigatório, ao qual todas as compras públicas devem ser submetidas, cabendo aos servidores e autoridades envolvidas cumpri-los, sob o risco de cometerem ato ilegal, portanto, passível de sanção penal e administrativa. 2. Compras Públicas Sustentáveis De acordo com o art. 3° da Lei n° 8.666/1993, a licitação destina-se a garantir a observância do princípio constitucional da isonomia, a seleção da proposta mais vantajosa para a administração e a promoção do desenvolvimento nacional sustentável e será processada e julgada em estrita conformidade com os princípios básicos da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhes são correlatos (Redação da Lei 12.349, de 2010). A Lei 14.133/2021, por sua vez, dispõe o seguinte: Art. 5º Na aplicação desta Lei, serão observados os princípios da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da publicidade, da eficiência, do interesse público, da probidade administrativa, da igualdade, do planejamento, da transparência, da eficácia, da segregação de funções, da motivação, da vinculação ao edital, do julgamento objetivo, da segurança jurídica, da razoabilidade, da competitividade, da proporcionalidade, da celeridade, da economicidade e do desenvolvimento nacional sustentável […]. Nesse sentido, pode-se dizer que as compras públicas sustentáveis são procedimentos administrativos formais que contribuem para a promoção do desenvolvimento nacional sustentável, mediante a inserção de critérios sociais, ambientais e econômicos nas aquisições de bens, contratações de serviços e execuções de obras. De uma maneira geral, trata-se da utilização do poder de compra do setor público para gerar benefícios econômicos, sociais e ambientais para o nosso país. No contexto de valorização das compras governamentais, como meio indutor de desenvolvimento sustentável, o governo tem concebido várias ações para o fortalecimento do sistema de Contratações Públicas Sustentáveis. Essa pauta, que normalmente ficava a cargo do Ministério do Planejamento, agora está com o Ministérioda Economia. A ideia é que se desenvolva um modelo de contratação que inclua diversas variáveis de sustentabilidade, que consiga transformar tudo isso em uma cultura institucional que sirva de modelo para a sociedade. Com a publicação da Lei 14.133/2021, novos estudos deverão ser feitos e será preciso aguardar os rumos que a Administração irá seguir, mas a expectativa é de que haja um ganho com relação ao desenvolvimento das licitações sustentáveis, pois a nova lei trata com mais detalhes desse assunto. No módulo III, daremos um tratamento específico ao novo processo administrativo de licitações, mas podemos adiantar que, em relação à sustentabilidade, vários conceitos foram inseridos na nova lei, como ciclo de vida do objeto, impactos ambientais, medidas mitigadoras, logística reversa, reciclagem etc. Trata-se de um avanço, mas nem todos podem ser utilizados de imediato, pois carecem de regulamentação. 2.1 Por que realizar compras públicas sustentáveis? Trata-se de atender necessidades de desenvolvimento econômico e social e de preservação ambiental. As compras e licitações sustentáveis têm um papel estratégico para os órgãos públicos e, quando adequadamente realizadas, promovem a sustentabilidade nas atividades públicas, disseminando uma prática essencial para o desenvolvimento nacional, um dos objetivos previstos tanto no art. 3º da Lei 8.666/1993 como no art. 5º da Lei 14.133/2021. O governo brasileiro despende, anualmente, mais de 600 bilhões de reais com a aquisição de bens e contratações de serviços (15% do PIB, aproximadamente). Nesse sentido, direcionar o poder de compra do setor público para a aquisição de produtos e serviços com critérios de sustentabilidade implica a geração de benefícios socioambientais e a redução de impactos ambientais, ao mesmo tempo em que induz e promove o mercado de bens e serviços sustentáveis. Para tanto, é fundamental que os compradores públicos saibam delimitar as necessidades da instituição, conheçam a legislação aplicável e as características dos bens e serviços que poderão ser adquiridos. Muitas vezes, o administrador sente-se incomodado com os custos dos produtos e serviços sustentáveis, mas isso não deve acontecer. É necessário privilegiar a contratação desse tipo de produto, não vislumbrando um benefício imediato, mas tendo um olhar no futuro, uma visão de médio e de longo prazo. A decisão de realizar uma compra sustentável não implica, necessariamente, maiores gastos de recursos públicos. É preciso considerar aspectos relacionados não apenas ao negócio em si, mas também ao processo produtivo, aos efeitos sobre o meio ambiente e, especialmente a: a) custos ao longo de todo o ciclo de vida: é importante ter em conta os custos de um produto ou serviço ao longo de toda a sua vida útil – recursos utilizados no processo fabril; preço de venda; custos de embalagem, utilização e manutenção; custos de eliminação; b) eficiência: as compras e licitações sustentáveis permitem satisfazer as necessidades da Administração Pública mediante a utilização mais eficiente dos recursos e com menor impacto socioambiental; c) compras compartilhadas: por meio da criação de centrais de compras, é possível a utilização de produtos inovadores e ambientalmente adequados sem aumentar os gastos públicos, tendo em vista o ganho de escala proporcionado por compras realizadas em conjunto por vários órgãos; d) redução de impactos ambientais e problemas de saúde: grande parte dos problemas ambientais e de saúde em nível local é resultado da qualidade dos produtos consumidos, do processo fabril e dos serviços que são prestados de forma deficiente ou que não são prestados; e) desenvolvimento e inovação: o consumo de produtos mais sustentáveis pelo poder público será um catalisador, estimulando mercados e fornecedores a desenvolverem abordagens inovadoras e a aumentarem a competitividade da indústria nacional e local. AULA 4 – Ciclo de Vida de Produtos e Serviços – Parte 1 Nesta aula, vamos iniciar os estudos sobre ciclo de vida, que será dividido em duas partes. Agora, vamos às disposições da nova lei de licitações sobre: ciclo de vida, conceito de ciclo de vida e avaliação do ciclo de vida de um produto ou serviço. OBJETIVO Entender o conceito de ciclo de vida, a abordagem da Lei 14.133/2021 sobre o assunto e como se avalia esse ciclo de vida. 1. Introdução Para abordar o assunto desta aula, vamos utilizar um estudo realizado no âmbito da Secretaria-Geral de Administração cujo propósito foi atender demanda da Secretaria de Licitações do Tribunal, mediante Representação, avaliando a aplicabilidade do dispositivo constante do art. 6º, inciso XXIII, alínea “c”, da Lei nº 14.133, de 1º de abril de 2021. Dito dispositivo dispõe que, na contratação de bens e serviços pela Administração Pública, o termo de referência deve descrever a solução como um todo, considerado todo o ciclo de vida do objeto. Conforme o referido estudo, o conceito de “ciclo de vida” foi introduzido no ordenamento jurídico brasileiro pela Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos, e visa ao desenvolvimento nacional sustentável: “ciclo de vida do produto: série de etapas que envolvem o desenvolvimento do produto, a obtenção de matérias- primas e insumos, o processo produtivo, o consumo e a disposição final.” (inciso IV do art. 3º). Nesse mesmo normativo, art. 3º, são apresentados diversos conceitos relacionados com ciclo de vida e meio ambiente, tais como: coleta seletiva (inciso IV), destinação final (inciso VI), logística reversa (inciso XII), reciclagem (inciso XIV). O art. 3º da Lei nº 8.666/1993 prevê o desenvolvimento nacional sustentável como um dos objetivos da licitação pública, juntamente com a observância dos princípios constitucionais da isonomia e da seleção da proposta mais vantajosa para a Administração Pública. Em decorrência disso, o TCU (Acórdão 2.380/2012-TCU-2ª Câmara) determinou a utilização de critérios de sustentabilidade ambiental em suas licitações. A nova lei de licitações, Lei 14.133/2021, aborda em vários de seus dispositivos, o conceito de ciclo de vida do objeto e de sua aplicação, além de outros aspectos ambientais, conforme indicado nos itens relacionados a seguir. Ciclo de vida Art. 6º Para os fins desta Lei, consideram-se: […] XXIII - termo de referência: documento necessário para a contratação de bens e serviços, que deve conter os seguintes parâmetros e elementos descritivos: […] c) descrição da solução como um todo, considerado todo o ciclo de vida do objeto; Art. 11. O processo licitatório tem por objetivos: I - assegurar a seleção da proposta apta a gerar o resultado de contratação mais vantajoso para a Administração Pública, inclusive no que se refere ao ciclo de vida do objeto; Art. 18. A fase preparatória do processo licitatório é caracterizada pelo planejamento e deve compatibilizar-se com o plano de contratações anual de que trata o inciso VII do caput do art. 12 desta Lei, sempre que elaborado, e com as leis orçamentárias, bem como abordar todas as considerações técnicas, mercadológicas e de gestão que podem interferir na contratação, compreendidos: VIII - a modalidade de licitação, o critério de julgamento, o modo de disputa e a adequação e eficiência da forma de combinação desses parâmetros, para os fins de seleção da proposta apta a gerar o resultado de contratação mais vantajoso para a Administração Pública, considerado todo o ciclo de vida do objeto; § 1º O estudo técnico preliminar a que se refere o inciso I do caput deste artigo deverá evidenciar o problema a ser resolvido e a sua melhor solução, de modo a permitir a avaliação da viabilidade técnica e econômica da contratação, e conterá os seguintes elementos: […] XII - descriçãode possíveis impactos ambientais e respectivas medidas mitigadoras, incluídos requisitos de baixo consumo de energia e de outros recursos, bem como logística reversa para desfazimento e reciclagem de bens e refugos, quando aplicável; Art. 34. O julgamento por menor preço ou maior desconto e, quando couber, por técnica e preço considerará o menor dispêndio para a Administração, atendidos os parâmetros mínimos de qualidade definidos no edital de licitação. § 1º Os custos indiretos, relacionados com as despesas de manutenção, utilização, reposição, depreciação e impacto ambiental do objeto licitado, entre outros fatores vinculados ao seu ciclo de vida, poderão ser considerados para a definição do menor dispêndio, sempre que objetivamente mensuráveis, conforme disposto em regulamento. Art. 42. A prova de qualidade de produto apresentado pelos proponentes como similar ao das marcas eventualmente indicadas no edital será admitida por qualquer um dos seguintes meios: […] III - certificação, certificado, laudo laboratorial ou documento similar que possibilite a aferição da qualidade e da conformidade do produto ou do processo de fabricação, inclusive sob o aspecto ambiental, emitido por instituição oficial competente ou por entidade credenciada. Art. 45. As licitações de obras e serviços de engenharia devem respeitar, especialmente, as normas relativas a: I - disposição final ambientalmente adequada dos resíduos sólidos gerados pelas obras contratadas; Art. 144. Na contratação de obras, fornecimentos e serviços, inclusive de engenharia, poderá ser estabelecida remuneração variável vinculada ao desempenho do contratado, com base em metas, padrões de qualidade, critérios de sustentabilidade ambiental e prazos de entrega definidos no edital de licitação e no contrato. Art. 147. Constatada irregularidade no procedimento licitatório ou na execução contratual, caso não seja possível o saneamento, a decisão sobre a suspensão da execução ou sobre a declaração de nulidade do contrato somente será adotada na hipótese em que se revelar medida de interesse público, com avaliação, entre outros, dos seguintes aspectos: […] II - riscos sociais, ambientais e à segurança da população local decorrentes do atraso na fruição dos benefícios do objeto do contrato; III - motivação social e ambiental do contrato; […] Examinando esses dispositivos, percebemos que o ciclo de vida pode ser considerado em uma licitação para atender diversos propósitos, a depender do objeto: definição do menor dispêndio para a Administração, obtenção da melhor proposta, mitigação de riscos ambientais, adequada disposição final de resíduos sólidos, conhecimento da melhor solução sob o ponto de vista ambiental, e assim por diante. Para dar luz ao assunto, a Representante informa a existência de manual elaborado pelo Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF – 3), que traz interessante descrição do conceito citado e aborda outras questões relacionadas à sustentabilidade. Nesse manual, assevera a unidade técnica interessada, são explicitadas indagações sobre o conceito de ciclo de vida, do qual se conclui, resumidamente, que a Administração Pública deve guiar suas licitações e contratações com o objetivo de garantir produtos e serviços sustentáveis, que causem o menor impacto ambiental possível. É necessário, então, definir critérios objetivos de avaliação do desempenho ambiental de um objeto em relação a outro que permitam aferir o menor dispêndio para a Administração, conforme previsto no art. 34, § 1º, da Lei 14.133/2021, e/ou atestar o atendimento do princípio da sustentabilidade. Vamos nos concentrar no estudo do ciclo de vida. 2. Do Conceito de Ciclo de Vida O conceito de ciclo de vida está intrinsecamente ligado ao da sustentabilidade, ou desenvolvimento sustentável. No dizer da ONU, desenvolvimento sustentável é aquele que procura satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades, significa possibilitar que as pessoas, agora e no futuro, atinjam um nível satisfatório de desenvolvimento social e econômico e de realização humana e cultural, fazendo, ao mesmo tempo, um uso razoável dos recursos da terra e preservando as espécies e os habitats naturais (ONU, 1987). Sustentabilidade deve ser avaliada sob várias perspectivas: preservação do meio ambiente, disponibilidade de recursos naturais (matérias-primas), bem- estar das gerações futuras, desenvolvimento social, crescimento econômico, realização cultural e outras. Podemos dizer o mesmo de determinado produto, ressalvando, no entanto, que, a depender de suas características, ele pode estar mais ou menos atrelado a um desses aspectos da sustentabilidade. O ciclo de vida contempla todas as etapas da cadeia de produção, desde a extração da matéria-prima até o descarte final do produto no meio ambiente (TRF, manual citado, página 8). Se examinarmos cada uma dessas etapas, será possível determinar quais aspectos da sustentabilidade serão mais ou menos afetados pelo produto durante sua vida útil. Todo produto que avaliamos tem um ciclo de vida próprio, com suas peculiaridades, insumos utilizados, maior ou menor impacto ambiental, e é destinado a determinado grupo social, produz certo tipo de resíduos que podem ou não ser aproveitados e, principalmente, busca suprir determinada necessidade. Por conta disso, ciclo de vida pode também ser entendido como o conjunto de todas as etapas necessárias para que um produto cumpra sua função na cadeia produtiva, considerando-se todo o trajeto desde o seu desenvolvimento (projeto e produção), que passa por sua distribuição, seu uso, seu descarte, até o último tratamento dos materiais que o compõem para reutilização ou não. Esse é o entendimento do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro): “Ciclo de vida é o conjunto de todas as etapas necessárias para que um produto cumpra sua função na cadeia de produtividade.” (InMetro, Análise de Ciclo de Vida - conceitos e função 2011). Ciclo de vida de um produto Fonte: InMetro (2011) 2.1 Ciclo de vida – Conceito Comercial Sob o ponto de vista comercial, o ciclo de vida de um produto ou serviço descreve a sua evolução no mercado, sendo composto de quatro fases: Introdução – fase que contempla o desenvolvimento do produto (projeto), sua fabricação (utilização de matéria-prima) e o seu lançamento no mercado. Crescimento – crescimento exponencial da procura pelo produto, caracterizando o sucesso ou não do produto no mercado. Maturidade – os produtos bem-sucedidos começam a se estabilizar no tocante ao volume de vendas, por conta de concorrência, novas tecnologias, publicidade etc. Declínio – a procura diminui, os lucros caem, os custos aumentam e o produto sai do mercado. Na fase de introdução, ocorre a concepção do produto. Essa concepção irá enfrentar as questões comerciais e fabris que devem ser resolvidas antes da conclusão pelo desenvolvimento ou não de determinado produto. Nesse momento, todos os requisitos de sustentabilidade da matéria-prima a ser utilizada no processo devem ser avaliados: custos envolvidos, margem de lucro, expectativa de consumo, bem como possibilidade de utilização de matéria-prima alternativa. Para o projetista, é essencial conhecer o fluxo de todos os materiais envolvidos em sua fabricação, tais como: matéria-prima, processo de extração desse material, nível de consumo desse material, consumo de água e energia, possibilidade de reaproveitamento dos resíduos, tratamento dado ao material não reutilizável. É importante também conhecer a mão de obra envolvida, a logística de transporte e armazenamento, os tipos de embalagens possíveis, quais serão os impactos ambientais em cada uma dessas fases e como podem ser minimizados. Isso somente será possível se desde o início houverpreocupação com todo o ciclo de vida do produto. Infelizmente, o que observamos é que os projetistas se preocupam muito com a conquista imediata do mercado, com o sucesso do produto, e pouco com a questão ambiental. Por conta disso, a regulamentação é essencial para que o cenário seja positivamente alterado e a questão ambiental passe a ser essencial no desenvolvimento de projetos e de negócios. A Lei 12.305/2010, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos, como já dito aqui, conceitua ciclo de vida do produto como uma “...série de etapas que envolvem o desenvolvimento do produto, a obtenção de matérias- primas e insumos, o processo produtivo, o consumo e a disposição final.” (art. 3º, inciso IV). Esse normativo foi editado para estabelecer o adequado gerenciamento dos resíduos sólidos (art. 4º), definindo princípios a serem observados e regras a serem cumpridas. Veja que todas as etapas do ciclo de vida estão postas nesse artigo de forma clara. A que fica mais evidente para o grande público é a disposição final, ou seja, o destino final dos rejeitos, que quase sempre provoca degradação ambiental e humana. O início e o final do processo são fundamentais. O desenvolvimento adequado de um produto permitirá que, ao longo de sua vida útil, ele provoque um mínimo de danos ao meio ambiente, pois utilizará poucos recursos, poderá ser reciclado, reutilizado, ou ser produzido por materiais que o meio ambiente consiga absorver com facilidade. Quando um produto é lançado no mercado de maneira planejada, fica mais fácil, e muito mais barato, controlar tudo aquilo que vai ocorrer ao longo da sua vida útil. 2.2 Da Avaliação do Ciclo de Vida Avaliação do Ciclo de Vida é uma técnica para análise dos aspectos ambientais e impactos potenciais associados à produção de determinado produto, compreendendo etapas que vão desde a retirada da natureza das matérias-primas que fazem parte do processo produtivo até o seu descarte final no meio ambiente ou sua reinserção na cadeia produtiva mediante reciclagem, reuso ou logística reversa. O ciclo de vida de um produto deve ser monitorado e avaliado permanentemente, permitindo o seu contínuo aperfeiçoamento. A preocupação com a sustentabilidade é recente e muitas inovações podem surgir todo dia, potencializando o desempenho ambiental de um produto por meio de ajustes que podem ser feitos no ciclo. Quando se faz a avaliação do ciclo de vida, o que se busca é conhecer todos os impactos positivos e negativos provocados pela produção do produto, pelo menos em tese, ao meio ambiente, às pessoas e à economia. A partir daí, é possível adotar medidas que mitiguem os impactos negativos e potencializem os impactos positivos no meio ambiente. 2.3 Etapas da Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) Definição de objetivo e escopo: principais razões para a realização da avaliação e da definição do seu público-alvo. Aqui podemos ter, por exemplo a avaliação do custo ambiental de determinado produto sob a ótica da sustentabilidade como um objetivo. Feito isso, será possível definir um escopo, consistente na escolha dos requisitos ou critérios que serão utilizados no processo. O desafio, certamente, será avaliar o ciclo de vida para a definição do seu custo ambiental e econômico e a utilização desse custo como requisito de avaliação da vantajosidade de propostas em licitações públicas. Análise do inventário: coleta e quantificação de todas as variáveis envolvidas durante o ciclo de vida do produto, processo ou atividade. A inexistência de dados, ou a falta de alguns deles, pode inviabilizar o processo de avaliação. Avaliação de impacto: a avaliação dos impactos ambientais, sociais e econômicos visa determinar a intensidade com que todas as variáveis envolvidas ao longo do ciclo de vida alteram essas três vertentes da sustentabilidade, especialmente o meio ambiente. Interpretação: os resultados obtidos nas fases de inventário e de avaliação de impacto são analisados de acordo com o objetivo e o escopo previamente definidos para o estudo. Nesse momento, ajustes podem ser propostos e as informações coletadas devem servir de subsídio para a definição do custo de um produto sob os aspectos ambientais, sociais e econômicos. Ao analisar o ciclo de vida, o gestor deve definir a melhor estratégia a ser utilizada para minimizar os riscos ao meio ambiente, à sociedade e à economia. Ele pode, por exemplo, implantar a logística reversa para determinado produto, decidir pelo reúso de matérias-primas, pelo desmanche de materiais, pelo treinamento de pessoal, pela utilização de mão de obra local, pela reciclagem e assim por diante. A valoração do custo talvez seja a atividade de mais difícil execução no processo de ACV. Temos, por exemplo, os custos devidos à disposição final de um produto (associados à disposição do lixo urbano em aterros, coleta seletiva ou incineração, ineficiência dos processos industriais e outros). É difícil avaliar esses custos sob o ponto de vista financeiro, pois eles podem depender de muitas variáveis não econômicas, envolvendo, inclusive, questões socioculturais. Os custos de reposição dos recursos utilizados – que se referem aos custos das matérias-primas, renováveis ou não, efetivamente utilizadas na produção do bem, também não facilitam as coisas para o analista de ciclo de vida. Será possível repor determinada matéria-prima? Em quanto tempo? Qual será o custo da busca por um meio alternativo? Precisamos mesmo desse produto? É possível mensurar um benefício ambiental transformando-o em um valor econômico? Como comparar o benefício ambiental de dois produtos equivalentes? Avaliar o ciclo de vida de um produto é essencial para que possamos utilizar os dispositivos da nova lei de licitações que determinam que o ciclo de vida seja considerado no momento de avaliação das propostas. Somente por meio dessa avaliação é que será possível obter o seu custo ambiental, social, e econômico, e conhecer o desempenho ambiental de um produto em relação a outro no âmbito de um certame licitatório, o que permitirá selecionar a proposta que representa o menor dispêndio para a Administração. AULA 5 – Ciclo de Vida de Produtos e Serviços – Parte 2 – Preservação Ambiental Agora vamos estudar de que modo o ciclo de vida pode ser utilizado nas licitações públicas como parâmetro para avaliação de propostas. Existe regulamentação tratando desse assunto? O que é necessário fazer? Veremos, ao final, alguns pontos e normativos que tratam da preservação ambiental no Brasil. OBJETIVO Entender a real situação relacionada com a utilização do ciclo de vida de bens e produtos na avaliação de propostas, e a necessidade de regulamentação da matéria e adequação do mercado. Conhecer a diferença entre preservar e proteger o meio ambiente. 1. Introdução Quando se trata da utilização do ciclo de vida nas licitações públicas, a grande dificuldade está na avaliação da vantajosidade que deve ser feita com relação aos produtos ofertados em uma licitação, conforme disposição dos arts. 11, 18 e 34 da Lei 14.133/2021. As informações necessárias não estão disponíveis e o mercado produtor ainda não trabalha focado no ciclo de vida daquilo que produzem. 2. Ciclo de Vida de Produtos e Serviços Quando são comparados dois produtos, um com o ciclo de vida controlado e outro produzido sem esse tipo de controle, é tudo muito simples. O produto controlado será admitido na licitação, enquanto o outro deve ser recusado. Difícil mesmo é comparar o ciclo de vida de produtos semelhantes, mas com processos produtivos diferentes, desenvolvidos em ambientes diferentes, e que utilizam mão de obra distinta. Qual deles é melhor sob o ponto de vista da sustentabilidade. Qual tem o ciclo de vida menos danoso ao meio ambiente? Qual é mais vantajoso? Para responderessas perguntas é necessário, como já visto, conhecer em detalhes o ciclo de vida desses produtos e isso exige envolvimento, informações sobre todas as fases do processo produtivo, conhecimento do mercado e das inúmeras variáveis que podem afetar a qualidade do meio ambiente e das pessoas que nele vivem. É evidente que a Administração Pública não tem condições para tanto, cabendo-lhe as atribuições de ente regulamentador e de consumidora de bens e serviços que tem, sim, a responsabilidade de conhecer razoavelmente os produtos que adquire, o mercado no qual tais produtos estão inseridos, e de cumprir os próprios regulamentos. O conhecimento do mercado e dos produtos dificilmente será pleno, pois quem conhece o ciclo de vida um produto são as próprias empresas responsáveis pela sua produção. Cabe a elas demonstrar quais serão os recursos utilizados no processo fabril, o tratamento de resíduos oriundos da produção e do descarte final, as compensações ambientais a serem feitas etc. A maneira mais simples de obter essas informações é mediante notícia do próprio interessado. Contudo, em um ambiente competitivo, nem sempre essas declarações são aceitas, pois carecem de isenção. Além disso, muitos dos processos produtivos contam com a participação de várias empresas, impedindo que mesmo elas tenham um pleno domínio de todo o ciclo de vida de um produto. No entanto, existem empresas que são especializadas na avaliação de processos produtivos e que podem auxiliar os produtores e a Administração na análise do ciclo de vida dos produtos. São as empresas certificadoras. O processo de certificação consiste no exame de todas as fases de determinado processo produtivo. Ao final desse exame, a empresa emite um certificado, declarando o enquadramento do produto, no nosso caso, aos requisitos ambientais e legais. A dificuldade está no fato de que essa avaliação não tem o objetivo de aferir o custo econômico sustentável desse processo produtivo, mas, sim, o enquadramento do produto aos requisitos de sustentabilidade aplicáveis ao caso. Por exemplo: a logística reversa de determinado produto é implantada, mas quanto representa isso em termos do custo ambiental total? Quando apenas parte da matéria-prima de um produto puder ser reciclada, quanto isso representa de ganho para o meio ambiente? Essas dúvidas impedem que se faça uma comparação entre produtos distintos de maneira objetiva, especialmente quando se considera o cenário em que estão inseridos. Algumas certificações já estão sendo utilizadas pela Administração que as exige como documento essencial para aceitação de propostas em certames licitatórios. Contudo, essas certificações, em razão do seu conteúdo, não podem ser utilizadas como instrumento de comparação da vantajosidade prevista nos arts. 11, 18 e 34 da Lei 14.133/2021. O que se pode fazer, nesse caso, é aceitar ou recusar uma proposta em razão da presença ou da ausência de certificação. Na prática, as certificações vão declarar que determinado produto atende certos requisitos ambientais e legais ao longo do seu ciclo de vida, sem que haja uma valoração econômica ou ambiental. A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) possui a ISO 14000 que é uma série de certificações que estabelecem diretrizes para a implementação de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA) de qualidade. As certificações ISO 14000 buscam assegurar o equilíbrio e a proteção ambiental. A ideia é evitar problemas que afetem o meio ambiente, a sociedade e a economia, que são os pilares da sustentabilidade. Assim, para obter o certificado ISO 14000, a empresa precisa cumprir toda a legislação ambiental prevista em nosso país ao longo do processo produtivo. A ISO 14000 é um conjunto de normas internacionais relacionadas à gestão ambiental, das quais a ISO 14001 é a norma mais conhecida, porque é nela que são estabelecidos os requisitos para implantação de sistemas de gestão ambiental e sua certificação. A ISO 14040, por sua vez, especifica a estrutura geral, princípios e requisitos para conduzir e relatar estudos da avaliação do ciclo de vida, sem detalhar a técnica da avaliação do ciclo de vida que deve ser utilizada. Nessa norma, é informado que o estudo do ACV não aborda os aspectos econômicos ou sociais de um produto. Com essa ressalva, ficamos restritos à abordagem exclusivamente ambiental. Em outro ponto, a ISO 14.040 define afirmação comparativa como uma declaração ambiental que trata da equivalência de um produto em relação a um concorrente que tem a mesma função. Apesar dessa previsão, é feito um alerta, nessa própria ISO, no sentido de que a comparação entre estudos de ACV só pode ser feita quando os pressupostos e o contexto de cada estudo forem os mesmos. Assim, podemos dizer que, de acordo com a ABNT, a comparabilidade ambiental entre produtos que têm a mesma função não é adequada, pois a ACV pode ter sido desenvolvida em contextos diferentes ou com base em estudos que estabeleceram premissas distintas. Como consequência, não podemos utilizar certificações para demonstrar a vantajosidade de um produto em relação a outro no âmbito das licitações públicas. Sendo assim, elas só devem ser exigidas para comprovar que determinado produto possui um ciclo de vida que observa certos requisitos de sustentabilidade exigidos em lei, mas que não podem ser mensurados com precisão. Com base nisso, definir a vantajosidade de uma proposta em relação à outra será algo bem complexo de se fazer. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) está desenvolvendo um trabalho muito importante relacionado à definição dos requisitos de sustentabilidade dos bens e serviços produzidos por seus associados. A ideia é criar fichas técnicas para cada produto, indicando as especificações técnicas que deverão ser cobradas das empresas nos editais de licitações públicas. Esse processo de criação de fichas técnicas está contando com o apoio do TCU, que atendeu demanda da CNI nesse sentido. Trata-se de um trabalho cujo resultado permitirá à administração tratar com isonomia os eventuais licitantes, facilitará a especificação dos objetos licitados por meio da padronização e, certamente, trará muitos benefícios sob o ponto de vista da sustentabilidade. Teremos aí a padronização das especificações técnicas dos bens e serviços sob a ótica da sustentabilidade. Claro que os benefícios trazidos pela sistematização das especificações técnicas estarão restritos às empresas associadas à CNI e aos bens produzidos por elas. Contudo, essa iniciativa irá criar um paradigma de qualidade importante para as demais empresas do mercado. Estas, para se manterem competitivas, precisarão produzir bens com qualidade ambiental equivalente, uma vez que a disponibilização dessas fichas nos portais de compras públicas permitirá a universalização desse procedimento. Apesar de ser uma iniciativa importante, as fichas técnicas também não têm a serventia de atender ao propósito previsto na nova lei de licitações, qual seja, a de demonstração da vantajosidade de um produto, por conta do seu ciclo de vida, em detrimento de outro, e a obtenção do menor dispêndio para a Administração (arts. 11, 18 e 34 da Lei 14.133/2021). Na verdade, essas fichas não têm a pretensão de detalhar o ciclo de vida, mas tão somente de especificar tecnicamente produtos sustentáveis. 2.1 Da utilização do ciclo da vida na avaliação das propostas Devemos considerar que, atualmente, temos um mercado produtivo pulverizado em nível mundial. Muitos produtos e matérias-primas originários de outros países chegam ao Brasil com muita frequência. Isso aumenta a dificuldade de avaliação do ciclo de vida, pois nem todos os países seguem as mesmas regras de preservação ambiental, ou mesmo de certificação. A avaliação econômica ou social do ciclo de vida é contraindicada, em razão de sua inviabilidade técnica. Reduzir a valores monetários questões humanas e culturais não é muito
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