Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
27/08/2022 15:30 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 1/18 CONTABILIDADE APLICADA AO SETOR PÚBLICO AULA 6 Prof. José Luís Modena 27/08/2022 15:30 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 2/18 CONVERSA INICIAL Destinamos esta aula para discorrermos sobre os controles exercidos na administração pública. Para tanto, inicialmente abordaremos questões introdutórias da Lei de Responsabilidade Fiscal. Em seguida, trataremos sobre empréstimos e despesas, bem como os limites estipulados para os entes públicos. Também irão compor nossas discussões os instrumentos de prestação de contas, bem como os controles exercidos pelos órgãos internos e externos. CONTEXTUALIZANDO Discussões acerca da necessidade de controle nas finanças públicas remontam à Idade Antiga. O filósofo romano Marco Túlio Cícero, por exemplo, dizia que: O orçamento nacional deve ser equilibrado. As dívidas públicas devem ser reduzidas, a arrogância das autoridades deve ser moderada e controlada. Os pagamentos a governos estrangeiros devem ser reduzidos, se a Nação não quiser ir à falência. (Cícero, 55 a.C., citado por Araújo; Arruda, 2020, p. 27) Esse pensamento filosófico, que apresenta preceitos básicos na gestão financeira, por vezes já foi negligenciado no período contemporâneo. Giambiagi e Além (2016) lembram que, em 1997, a Rússia, na inexistência de recursos para honrar seus compromissos, desvalorizou o rublo e decretou a moratória da dívida externa. Já em 2001 o mundo deparou-se com o calote da Argentina, que também passava por complicações financeiras. Esses e tantos outros casos opõem-se aos ensinamentos de Cícero (55 a.C.), ressaltando a necessidade de controle fiscal do país. No caso brasileiro, cujas ações públicas devem ser amparadas por preceitos legais, o controle das finanças públicas deve obedecer ao aparato normativo, baseado principalmente na Constituição Federal de 1988, na Lei Complementar n. 4.320/64 e na Lei de Responsabilidade Fiscal. Frente a esse rol de regras, quais os preceitos que buscam salvaguardar a saúde financeira dos entes públicos? Que relatórios são necessários para realização desse acompanhamento? Respostas a 27/08/2022 15:30 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 3/18 esses e outros questionamentos sobre controle nas finanças públicas serão debatidas no decorrer desta aula. TEMA 1 – LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL (LRF) Neste tópico da nossa aula, abordaremos sobre a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), trazendo algumas considerações sobre o ambiente macroeconômico vivenciado pelo país na ocasião da sua aprovação, os princípios basilares desse regramento e o conceito de receita corrente líquida. 1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS A década de 90 foi marcada pela necessidade de austeridade fiscal no Brasil. Giambiagi e Além (2016) relatam que, ao final dessa década, o país sofria com perdas de reservas internacionais; com o crescimento da dívida pública líquida, atingindo em 1998 o patamar de 37,7% Produto Interno Bruto (PIB); e com uma desconfiança do mercado externo em relação à capacidade nacional de honrar com os compromissos financeiros. Diante disso, uma das medidas adotadas foi a realização de um acordo junto ao Fundo Monetário Internacional, que estabelecia metas fiscais, incluindo movimentos de austeridade no controle dos gastos. Todo esse contexto exigia um reposicionamento na gestão financeira pública, inclusive no quesito legal, que até então deixava margens para elevação do gasto e do endividamento público. Aderente a essa necessidade de mudança, em 1999 iniciam-se as discussões do Projeto de Lei n. 18/1999, cujo propósito era a inserção, no regramento legal, de direcionadores que pautassem ações de responsabilidade fiscal. Após discussões no Congresso Nacional, esse projeto foi aprovado, dando origem à Lei Complementar n. 101 de 2000, conhecida como Lei de Responsabilidade Fiscal. A partir dessa aprovação, essa lei passou a ser de observância obrigatória para os entes públicos. Em referência aos parágrafos 2º e 3º do art. 1º da LRF, tanto a administração direta (representada pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios) quanto indireta (nesse caso sendo composta pelas autarquias, fundações e empresas independentes) deverão atender os dispostos nessa Lei Complementar (Brasil, 2000). Ficaram de fora desse campo de aplicação as empresas independentes, ou seja, organizações controladas pelo poder público, que geram receitas suficientes para honrar com suas despesas. 27/08/2022 15:30 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 4/18 1.2 RECEITA CORRENTE LÍQUIDA Conforme veremos nos próximos tópicos da nossa aula, algumas limitações da LRF concernentes ao gasto e endividamento público são baseadas em percentuais da receita corrente líquida (RCL). Araújo e Arruda (2020) explicam que esse indicador é formado pela receita corrente do ente público, deduzindo-se algumas variáveis. No caso da União, das receitas correntes devem-se subtrair as transferências financeiras destinadas para os demais entes públicos. Seria o caso, por exemplo, de 30% da arrecadação com Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) do ouro, que, nos termos do parágrafo 5º do art. 153 da Constituição Federal de 1988, será direcionada para os Estados e Distrito Federal (Brasil, 1988). Não obstante, também terá que subtrair as contribuições dos empregadores e empregados, destinadas ao financiamento do Regime Geral e Próprio de Previdência Social; e também aos montantes arrecadados para o Programa de Integração Social (PIS/PASEP). Após a realização dessas operações matemáticas, tem-se então a receita corrente líquida da União. No caso dos estados, da mesma forma que ocorre na União, também deverão ser descontados das receitas correntes os valores que serão direcionados para os municípios, bem como as receitas destinadas ao financiamento da Previdência Social. Essa última regra também deverá ser observada pelos municípios para apuração da RCL. TEMA 2 – EMPRÉSTIMOS E A LRF Em algumas situações, as receitas correntes não são suficientes para executar todas as despesas consideradas relevantes pelo poder público. Diante dessa realidade, uma das alternativas legais disponíveis é a contratação de operação de crédito junto a terceiros. O conjunto desses compromissos que vão sendo agregados ao passivo da entidade pública forma o que na literatura conhecemos como dívida pública. Corroborando essa definição, Squizzato (2013) lembra ainda que juros e encargos também estão incluídos no conceito de dívida do Estado. É relevante ressaltar que esse instrumento, que por vezes injeta recursos em projetos governamentais, pode também representar dificuldades financeiras na reposição futura do capital, conforme elencamos alguns exemplos no início desta aula. 27/08/2022 15:30 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 5/18 Dada a sensibilidade das finanças públicas ao endividamento, uma das limitações impostas pela LRF relaciona-se à contratação de operações de crédito e também no nível de representatividade do total desses compromissos frente a receita corrente líquida. Com base nisso, falaremos a seguir sobre o significado dessas operações de crédito e dívida pública, bem como sobre as restrições existentes na legislação para contratação e controle. 2.1 OPERAÇÕES DE CRÉDITO Operações de crédito, de acordo com o MCASP (Brasil, 2018), são compromissos financeiros assumidos em função de: a. mútuo: operação em que o ente público contrato junto a terceiros, no compromisso de pagamento futuro de principal e juros; b. operações de crédito contratual: compromissos assumidos pelo ente público por meio da formalização de contrato, convênio, ou outro tipo de instrumento legal; c. operações de crédito mobiliário: obrigações assumidas pelo governo em função da emissão de títulos públicos; d. aquisição financiada de bens: operação caracterizadapelo ingresso de bens ao patrimônio público, adquiridos por meio de financiamento; e. derivativos financeiros: contratos que derivam de um ativo subjacente. De acordo com o MCASP (2018), seriam os contratos de swaps; contratos futuros; opção de compra e venda; dentre outros. O contrato de swap, por exemplo, pode ser utilizado para alterar um fluxo de endividamento em moeda estrangeira para moeda local; f. arrendamento mercantil: também descrito na literatura como contrato de leasing, pactuado no intuito de utilização de determinado bem, prevendo, ao final do contrato, a compra ou não dele; g. antecipação de receita orçamentária: são ingressos extraorçamentários, pois representam unicamente a antecipação de receitas orçamentárias. 2.2 DÍVIDA PÚBLICA 27/08/2022 15:30 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 6/18 No âmbito público, de acordo com a literalidade da norma, as obrigações financeiras dos Municípios, Estados e da União podem ser divididas em dois grupos: as dívidas consolidadas ou fundadas; e as dívidas flutuantes. A dívida fundada, nas palavras do art. 98 da Lei n. 4.320/64, compreende de modo geral “os compromissos de exigibilidade superior a doze meses” (Brasil, 1964). A LRF deu maior amplitude a esse grupo, incluindo também as operações de crédito contratadas no curto prazo, mas com autorização orçamentária (parágrafo 3º do art. 29 da LRF) (Brasil, 2000). Os compromissos assumidos em função da emissão de títulos mobiliários também estão incluídos nesse grupo. Ou seja, ao emitir um título do Tesouro Selic, por exemplo, com remuneração atrelada à taxa básica de juros, tem-se uma entrada de recursos financeiros, ao mesmo tempo em que um compromisso de desembolso futuro é criado. Vale ainda ressaltar que, por força do art. 11 da Lei Complementar n. 148/2014, Estados e Munícipios estão impedidos de emitir título, consequentemente não contabilizando dívidas mobiliárias (Brasil, 2014). Ainda no campo de endividamento, temos as dívidas flutuantes, representadas pelas responsabilidades que não ultrapassam 12 meses. Para o art. 92 da Lei n. 4.320/64, seriam as dívidas decorrentes dos “restos a pagar; os serviços da dívida a pagar; os depósitos; e os depósitos de tesouraria” (Brasil, 1964). A exposição do ente público a esse tipo de compromisso, com a regra geral, independe de autorização legislativa. 2.3 LIMITAÇÕES ESTABELECIDAS PELA LRF A LRF impôs algumas prerrogativas a serem obedecidas preteritamente à contratação das operações de crédito. Esses percalços abarcam as antecipações das receitas operacionais e limite de endividamento global, conforme elencado a seguir. 2.3.1 OPERAÇÕES DE CRÉDITO Em observância aos limites definidos pelo art. 32 da LRF, os entes públicos que desejem contratar uma operação de crédito, deverão inicialmente possuir autorização legal (Brasil, 2000). Essa permissão poderá ocorrer por meio da LOA, dos créditos adicionais ou também por uma lei específica. 27/08/2022 15:30 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 7/18 Quando o crédito for contratado junto a organizações internacionais, o ente público deverá previamente buscar aprovação do Senado Federal. Foi o procedimento adotado pelo estado do Paraná, que, por meio da Resolução do Senado Federal n. 2/2020, obteve respaldo legal para captar US$ 50 milhões em entidades externas. 2.3.2 ANTECIPAÇÃO DAS RECEITAS OPERACIONAIS (ARO) A contratação de operações de antecipação de receita também sofreu restrições pela LRF. De acordo com o art. 38 desse dispositivo legal, o levantamento de recurso por meio desse instrumento financeiro deverá atender às seguintes regras: contratação a partir do 10º dia do exercício financeiro; as operações deverão ser liquidadas até o dia 10 de dezembro de cada ano; somente poderão ser contratadas se previrem a cobrança somente de juros, sendo vedado o pagamento de outros encargos; não é permitida a contratação de ARO, enquanto não for liquidada operação de mesma natureza; no último ano de mandato do chefe do Poder Executivo, o ente público não poderá contratar esse tipo de operação. Além disso, operação de ARO ainda está sujeita aos limites globais de endividamento, impostos por resolução do Senado Federal, que iremos retratar adiante. 2.3.3 LIMITAÇÃO GLOBAL DO ENDIVIDAMENTO PÚBLICO O inciso I do art. 30 da LRF deixou expresso que o Senado Federal teria a incumbência de aprovar os limites do endividamento público, após a submissão de uma proposta do presidente da República (Brasil, 2000). Essa atribuição foi devidamente atendida com a Resolução n. 40/2001 do Senado Federal, cujos limites globais de endividamento estão transcritos na Tabela 1 a seguir. Tabela 1 – Limites da dívida pública Tipo de dívida União Estados Munícipios Dívida consolidada - 200% 120% ARO - 7% 7% 27/08/2022 15:30 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 8/18 Os percentuais apresentados na tabela estão relacionados ao montante total da receita corrente líquida dos últimos doze meses. As dívidas consolidadas de São Paulo, por exemplo, em 2019 representaram 166,24% do total da receita corrente líquida (consulte essa e outras informações de endividamento no link informado no final deste tópico), portanto aderente aos padrões estabelecidos pela Resolução do Senado Federal. Ocorre, no entanto, que esse limite pode ser ultrapassado, seja em função de um declínio da RCL ou até mesmo da elevação do endividamento. Nessas hipóteses, em observância aos ditames do art. 31 da LRF, o limite deverá ser reconduzido aos patamares legais em três quadrimestres, sendo que, no primeiro, o excedente deverá ser reduzido no mínimo em 25% (Brasil, 2000). No período de reestabelecimento dos limites, o art. 31 da LRF prevê algumas ações de austeridade, tais como: proibição de contratação de novas operações de crédito, exceto aquelas empregas para o refinanciamento da dívida existente; apresentação de superávit primário, que deverá ser suficiente para amparar o excesso do endividamento. Esse resultado será evidenciado no relatório do atingimento das metas fiscais. A Lei estabelece, inclusive, limitações de realização de empenhos, reduzindo assim o gasto público. Diante dessa nova realidade, se o excesso ainda permanecer, o parágrafo 2º do art. 31 da LRF determina que o estado ou município ficariam impedidos de receber as transferências voluntárias (Brasil, 2000). Essas transferências, em finanças públicas, representam receitas correntes e de capital, repassadas ao ente público de forma discricionária, não derivadas de obrigações legais. É o caso, por exemplo, de recursos repassados ao estado para realização de determinada obra, em que a União livremente decide cooperar como empreendimento. Saiba mais Consulte o nível de endividamento dos entes públicos no Portal da Transparência, acessando o link a seguir: TESOURO NACIONAL TRANSPARENTE. Visão integrada das dívidas da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios. Tesouro Nacional Transparente, S.d. Disponível em: <http https://www.tesourotransparente.gov.br/historias/visao-integrada-das-dividas-da-uniao-dos-estados-do-distrito-federal-e-dos-municipios 27/08/2022 15:30 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 9/18 s://www.tesourotransparente.gov.br/historias/visao-integrada-das-dividas-da-uniao-dos-estados -do-distrito-federal-e-dos-municipios>. Acesso em: 26 out. 2020. 2.4 REGRA DE OURO De acordo com o inciso II do art. 167 da Constituição Federal de 1988, é vedada ao poder público: A realização de operações de crédito que excedam o montante das despesas de capital, ressalvadas as autorizadas mediante créditos suplementares ou especiais com finalidade precisa, aprovados por maioria absoluta. (Brasil, 1988) Em outras palavras, de modo geral as operações de crédito deverão ser contratadas somente para realização de despesas direcionadas aos investimentos. Evita-se assim que o poder público financie atividades operacionais com recursosoriginados da contratação de crédito junto a terceiros. Na literatura, esse preceito é conhecido como regra de ouro. Piscitelli e Timbó (2019) lembram que esse princípio foi uma inovação trazida pela publicação da Magna Carta de 1988, sendo novamente mencionado no parágrafo 2º do art. 12 da LRF, como de observação obrigatória para os entes públicos (Brasil, 2000). TEMA 3 – LIMITES ESTABELECIDOS PELA LRF PARA OS GASTOS PÚBLICOS Na pretensão de controlar os gastos públicos, a LRF estabeleceu regras concernentes aos gastos com pessoal, bem como para elevação de despesas, cujo desembolso, de forma continuada, ultrapasse um exercício financeiro. 3.1 GASTOS COM PESSOAL Os gastos com pessoal usualmente são relevantes frente às receitas públicas. Em 2019, a título exemplificativo, informações do Portal da Transparência do Governo Federal indicam que a União gastou 25,24% da receita corrente líquida com pessoal, perfazendo R$ 254 milhões ao longo do ano. Esses dispêndios com pessoal incluem, de acordo com o art. 18 da LRF, https://www.tesourotransparente.gov.br/historias/visao-integrada-das-dividas-da-uniao-dos-estados-do-distrito-federal-e-dos-municipios 27/08/2022 15:30 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 10/18 Gastos do ente da Federação com os ativos, os inativos e os pensionistas, relativos a mandatos eletivos, cargos, funções ou empregos, civis, militares e de membros de Poder, com quaisquer espécies remuneratórias, tais como vencimentos e vantagens. (Brasil, 2000) Matias-Pereira (2017) reforça que elevações desse tipo de gasto contribuem para geração de desequilíbrio fiscal para o governo, já que representa uma despesa de duração continuada. Esse é um dos motivos pelos quais esse assunto foi tratado na LRF, em que se definiram tetos de gastos para cada ente público. Esses limites estão descritos no art. 19 e 20 da LRF, que mostram que a União, Estados e Municípios possuem percentuais máximo para realização de gastos com pessoal, em relação a RCL dos últimos 12 meses (Brasil, 2000). Esses patamares, inclusive, são subdivididos por esferas no governo, conforme descrito na Tabela 2: Tabela 2 – Limites de gastos com pessoal Ente público União Estados Munícipios Executivo Legislativo Judiciário Ministério Público 40,9% 2,5% 6% 0,6% 49% 3% 6% 2% 54% 6% - - Portanto, de acordo com as informações demonstradas na tabela precedente, a União, por exemplo, poderá gastar até 50% da RCL com pessoal, sendo que esse montante é dividido para o poder executivo, legislativo, judiciário e Ministério Público. Cada um desses entes deverá acompanhar os limites, de forma a não ultrapassar esses parâmetros legais, evitando a adoção de medidas drásticas para o reestabelecimento. No que tange ao acompanhamento desses limites, os tribunais de contas realizam verificações com base nos relatórios de gestão fiscal, publicados a cada quatro meses. Para os casos em que se verificar nesses demonstrativos que o ente público atingiu 90% do teto legal, terá alcançado, segundo Squizzato (2013), o limite de alerta. Nessa hipótese, o inciso II do parágrafo 1º do art. 59 da LRF orienta que o Tribunal de Contas deverá alertar o ente público sobre o percentual de atingimento dos gastos com pessoal (Brasil, 2000). Seria uma mensagem com o intuito de precaver o avanço desse tipo de despesa, despertando ações intencionais do ente público. 27/08/2022 15:30 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 11/18 Já para as hipóteses em que o percentual de gastos com pessoal alcance 95% do teto, estaremos diante do limite prudencial, exigindo maior austeridade fiscal. Para essa situação, o art. 22 da LRF traz algumas vedações ao poder público, incluindo a impossibilidade de criação de novos cargos; concessão de aumentos salariais ou vantagens; contratação de pessoal; e realização de hora extra (Brasil, 2000). Ainda temos as consequências para os entes que ultrapassem os limites estabelecidos na lei. O art. 23 da LRF determina, nesses casos, que o restabelecimento aos padrões legais deverá ocorrer em até dois quadrimestres, sendo que, no primeiro, o ente precisará evidenciar uma redução de um terço do excedente (Brasil, 2000). Para alcançar esse arrefecimento das despesas com pessoal, além das providências elencadas no art. 22 da LRF, o governo também adotará as ações mencionadas no parágrafo 3º do art. 169 da Constituição Federal de 1988, ou seja, redução de no mínimo 20% das despesas com cargos comissionados e funções de confiança; e exoneração de servidores não estáveis. Caso essas ações de austeridade não gerem os efeitos pretendidos, o parágrafo 4º do mesmo artigo menciona que o servidor estável poderá perder o cargo (Brasil, 1988). 3.2 AUMENTO DAS DESPESAS PÚBLICAS Além dos procedimentos mencionados anteriormente, concernentes aos gastos com pessoal, a LRF também inseriu medidas a serem realizadas nos casos em que o ente público realize ações para criação, expansão ou aperfeiçoamento da despesa, que gere o crescimento dos dispêndios governamentais. Seria o caso da construção de uma nova universidade pública, que obviamente iria exigir do governo a contabilização de novas despesas com funcionários, materiais de expediente, bem como outros gastos necessários para manutenção do novo empreendimento. Nessas situações, o art. 16 da LRF (Brasil, 2000) determina que o ente, juntamente com a pretensão de elevar os gastos público, apresente: a. projeção dos potenciais impactos que as despesas irão gerar nas finanças públicas no ano em que for implantada, bem como para os próximos dois exercícios subsequentes; b. declaração assinada pelo ordenador de despesa, mencionando que a despesa gerada não é contrária às leis orçamentárias. 27/08/2022 15:30 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 12/18 Para as despesas de duração continuada, adicionalmente aos procedimentos mencionados anteriormente, o art. 17 da LRF ainda determina a evidenciação da origem do recurso que será destinado ao custeio das novas despesas, podendo ser pela criação de nova fontes de receitas, ou até mesmo pela redução permanente de outras despesas. Com essas medidas, de certa maneira, as medidas de controle garantem que esse incremento nos gastos não terá a potencialidade de prejudicar as metas fiscais definidas em lei. TEMA 4 – ACCOUNTABILITY NO SETOR PÚBLICO Accontability é a expressão utilizada no âmbito governamental, que, de acordo com a International Organization of Supreme Audit Institutions (S.d.), representa a estrutura empregada para o cumprimento das obrigações legais, para o acompanhamento do desempenho e para responsabilização. Para Siu (2011), a terminologia estaria associada ao compromisso do gestor de divulgar dados acerca do resultado obtido, com o recurso administrado e empregado. Com base nesses conceitos, podemos inferir que accountability, em síntese, seria a prestação de contas para acompanhamento e responsabilização. Essa prestação de contas no âmbito público também importa na externalização do cumprimento de um dever legal. De acordo com o art. 37 da Magna Carta de 1988, um dos princípios balizadores da administração pública é a publicidade, que orienta a divulgação de informações, inclusive de cunho financeiro (Brasil, 1988). Além disso, accountability também pode ser considerado como um princípio constitucional. Em referência ao art. 34 da Constituição Federal de 1988, tem-se que: A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para: VII – assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais: d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta. (Brasil, 1988) Nesse contexto, a contabilidade desempenha um papel relevante, pois dispõe de mecanismos de divulgação de informação de cunho orçamentário, patrimonial e financeiro. Esses dados são levados a público, possibilitando o acompanhamento populacional e dos órgãos de controle externo. Siu (2011) menciona que a contabilidadenão deve limitar-se somente à divulgação desses dados, no intuito de cumprir o dever legal. Para o autor, seria necessário a exposição de informações 27/08/2022 15:30 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 13/18 consideradas úteis para a transparência e tomada de decisão (Siu, 2011). É relevante ainda mencionar que os relatórios de gestão fiscal, embora tragam dados quantitativos acerca do cumprimento das metas fiscais, não se confundem com os relatórios contábeis. De acordo com o MCASP (2018), enquanto os demonstrativos contábeis possuem o propósito de accountability e tomada de decisão, os relatórios fiscais seriam direcionados para avaliar os impactos econômicos das políticas fiscais, bem como analisar e definir essas políticas. TEMA 5 – CONTROLE INTERNO E EXTERNO No decorrer das nossas aulas, foi possível identificar que as ações da administração pública, condizentes às finanças públicas, são pautadas por normas. Esse aparato legal abarca tanto as leis orçamentárias quanto as movimentações patrimoniais subsequentes. Diante dessa realidade, para que essas previsões legais não figurem somente o âmbito literário, atualmente, como parte da estrutura governamental, existe um sistema de controle realizado internamente nos entes públicos, além dos exercidos por entidades externas. 5.1 CONTROLE INTERNO O controle interno tem previsão na Constituição Federal de 1988. De acordo com o art. 74 dessa lei maior, deverá ser desenvolvido pelos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, com a seguinte finalidade: I – avaliar o cumprimento das metas previstas no plano plurianual, a execução dos programas de governo e dos orçamentos da União; II – comprovar a legalidade e avaliar os resultados, quanto à eficácia e eficiência, da gestão orçamentária, financeira e patrimonial nos órgãos e entidades da administração federal, bem como da aplicação de recursos públicos por entidades de direito privado; III – exercer o controle das operações de crédito, avais e garantias, bem como dos direitos e haveres da união; IV – apoiar o controle externo no exercício de sua missão institucional. (Brasil, 1988) Giacomoni (2017) considera que essa previsão constitucional foi um avanço em relação às constituições anteriores, sobretudo pelo fato de determinar uma abrangência nos três poderes, bem 27/08/2022 15:30 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 14/18 como prever a necessidade de realização de avaliações no cumprimento das regras e metas fiscais. Com isso, sugere-se um acompanhamento desses parâmetros em uma frequência maior em relação ao que atualmente é realizado no controle externo. Destaca-se também o compromisso do controle interno em relação às irregularidades encontradas na realização dos trabalhos. Em observância ao parágrafo 1º do inciso IV do art. 74 da Constituição Federal de 1988, os atos ilegais que forem constatados pelo controle interno do órgão deverão ser relatados ao Tribunal de Contas (Brasil, 1988). Caso essa ação seja ignorada, os membros do controle interno estarão sujeitos à responsabilização solidária. 5.2 CONTROLE EXTERNO O controle externo na União é uma competência exclusiva do Congresso Nacional, que o faz com auxílio do Tribunal de Contas da União (TCU). De acordo com o inciso IV do art. 71 da Constituição Federal, essa estrutura realizará “inquérito, inspeções e auditorias de natureza contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial” (Brasil, 1988). Para estados e municípios, esse controle, conforme lembrado por Squizzato (2013), contará com o auxílio do Tribunal de Contas do Estado e Tribunal de Contas do Município (para os municípios que possuem essa estrutura). No que tange aos objetivos do controle externo, a previsão também possui respaldo legal, elencados na Lei n. 4.320/64. De acordo com o art. 81 dessa regra, caberá ao controle externo “verificar a probidade da administração, a guarda e legal emprego do dinheiro público e o cumprimento da Lei de Orçamento” (Brasil, 1964). Perceba que essas disposições legais visam garantir o cumprimento do aparato legal para registro e gestão dos recursos públicos. Não obstante, também podemos considerar como forma de controle externo, aquele exercido pela população. Em obediência ao art. 8º da Lei n. 12.527/2011, União, estados e municípios deverão dar publicidade às informações a respeito da execução orçamentária e financeira. Irregularidades observadas poderão ser comunicadas ao Tribunal de Contas (Brasil, 2011). TROCANDO IDEIAS 27/08/2022 15:30 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 15/18 Uma das preocupações elencadas na LRF está relacionada ao nível de endividamento do ente público, frente à Receita Corrente Líquida. Para tanto, esse dispositivo legal determinou, conforme vimos ao longo da nossa aula, teto máximo de exposição com dívidas públicas. Saiba mais Alguns estados e municípios já ultrapassaram esse patamar legal, conforme é evidenciado no Portal da Transparência, que você pode conhecer acessando o link a seguir: TESOURO NACIONAL TRANSPARENTE. Visão integrada das dívidas da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios. Tesouro Nacional Transparente, S.d. Disponível em: <http s://www.tesourotransparente.gov.br/historias/visao-integrada-das-dividas-da-uniao-dos-estados -do-distrito-federal-e-dos-municipios>. Acesso em: 26 out. 2020. Amparado por essas informações, bem como outras pesquisas com dados contábeis, procure identificar os ajustes possíveis para que o ente público retorne aos parâmetros legais e debata o assunto com os colegas. NA PRÁTICA O munícipio ABC, no intuito de realizar novos investimentos para renovação da frota de ônibus escolar, pretende contratar uma operação de crédito no valor de R$ 1 milhão. O secretário de Finanças do município, antes do levantamento de propostas junto às instituições financeiras, realiza o levantamento de algumas informações contábeis, descritas a seguir: Tabela 3 – Evidenciação da RCL (em mil) RECEITAS Total Receitas correntes 24.000 Receita tributária 23.980 Contribuições do plano de seguridade dos servidores 20 https://www.tesourotransparente.gov.br/historias/visao-integrada-das-dividas-da-uniao-dos-estados-do-distrito-federal-e-dos-municipios 27/08/2022 15:30 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 16/18 Considere ainda que as dívidas públicas desse município, de acordo com as informações contábeis, alcançaram o montante de R$ 15 milhões. Com base unicamente nessas informações, determine sobre a possibilidade de contratar a operação, bem como os demais procedimentos que deverão ser adotados pelo município, com o propósito de atender integralmente os ditames da LRF. FINALIZANDO Iniciamos nossa aula trazendo alguns aspectos introdutórios da Lei de Responsabilidade Fiscal. Para tanto, elencamos a situação econômica do Brasil nos anos que antecederam a inserção dessa Lei na nossa cultura, dando ênfase à sua importância como mecanismo de controle e responsabilização no âmbito fiscal. Em seguida, trouxemos uma abordagem sobre as limitações trazidas pela LRF, no que tange ao endividamento, aos gastos com pessoal e ao crescimento das despesas públicas. Também debatemos sobre a necessidade do ente público prestar contas para a população e órgãos externos. Essa divulgação tem o intuito de trazer publicidade aos atos governamentais. Por último, relatamos sobre os controles interno e externo existentes nas disposições legais no Brasil. Os procedimentos adotados por essas estruturas buscam assegurar o cumprimento das leis financeiras pelos entes públicos. REFERÊNCIAS ARAÚJO, I.; ARRUDA, D. Contabilidade pública: da teoria à prática. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2020. BRASIL. Lei n. 101, de 04 de maio de 2000. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 04 mai. 2000. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp101.htm> Acesso em 6 jul. 2020. _____. Lei Complementar n. 148, de 25 de novembrode 2014. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 26 nov. 2014. 27/08/2022 15:30 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 17/18 _____. Lei n. 4.320, de 17 de março de 1964. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 23 mar. 1964. _____. Lei n. 12.527, de 18 de novembro de 2011. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 18 nov. 2011. BRASIL. Ministério da Fazenda. Secretaria do Tesouro Nacional. Manual de contabilidade aplicado ao setor público. 8. ed. Brasília: Ministério da Fazenda, 2018. Disponível em: <https://sisweb.tesouro.gov.br/apex/f?p=2501:9::::9:P9_ID_PUBLICACAO:31484>. Acesso em: 26 out. 2020. CREPALDI, S. A.; CREPALDI, G. S. Orçamento público. São Paulo: Saraiva, 2013. GIACOMONI, J. Orçamento público. 17. ed. São Paulo: Atlas, 2017. GIAMBIAGI, F.; ALÉM, A. C. Finanças públicas – Teoria e prática no Brasil. 5. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016. INTOSAI – International Organization of Supreme Audit Institutions. Disponível em: <https://www.intosai.org/>. Acesso em: 26 out. 2020. MATIAS-PEREIRA, J. Finanças públicas. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2017. PISCITELLI, R. B.; TIMBÓ, M. Z. F. Contabilidade pública: uma abordagem da administração pública. 14. ed. São Paulo: Atlas, 2019. SIU, M. C. K. Accountability no setor público: uma reflexão sobre transparência governamental no combate à corrupção. Revista do Tribunal de Contas da União – TCU, v. 43, n. 122, p. 78-85, maio 2011. SQUIZZATO, A. C. Direito financeiro e econômico. São Paulo: Método, 2013. GABARITO Em relação ao limite de endividamento, deveremos inicialmente apurar o valor da receita corrente líquida: RCL = receita corrente – deduções 27/08/2022 15:30 UNINTER https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 18/18 RCL = 24.000.000 – 20.000 RCL = 23.980.000 Como o total do endividamento é de R$ 15 milhões, ou seja, 62,55% da RCL, o município tem margem para elevar o nível de endividamento. Ressalta-se, no entanto, que, para contratação dessa operação, o ente deverá obter autorização legislativa e observar a regra de ouro. Feito isso, estará apto a buscar esse recurso junto ao mercado financeiro.
Compartilhar