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AN02FREV001/REV 4.0 61 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE DOCÊNCIA EM ENFERMAGEM Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 4.0 62 CURSO DE DOCÊNCIA EM ENFERMAGEM MÓDULO III Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 63 MÓDULO III 9 EDUCAÇÃO PERMANENTE EM ENFERMAGEM Conforme Paschoal, Mantovani e Lacerda (2006), a educação dos profissionais de enfermagem necessita de maior atenção, já que há necessidade de preparar as pessoas para as mudanças que têm ocorrido no mundo e no contexto do trabalho, de forma que se conciliem as necessidades de desenvolvimento pessoal e grupal com as necessidades da instituição e as da sociedade. Quando se identificam as atividades desenvolvidas pelos profissionais de enfermagem durante seu processo de trabalho, observa-se a importância e necessidade de reafirmar a questão educativa como compromisso com o crescimento pessoal e profissional, com o objetivo de melhorar a qualidade da prática profissional. Também, constata-se que, no contexto da formação e do desenvolvimento profissional, tal questão pode ser percebida sob diferentes vertentes, tais como: educação permanente, educação em serviço e educação continuada. Dessa forma, compreende-se que a formação profissional de qualidade deve ter uma base sólida de formação geral, que não se completa na escola, mas durante o processo evolutivo do ser humano, por meio da educação permanente (PASCHOAL; MANTOVANI; LACERDA, 2006). De acordo com Amestoy et al. (2008), a educação permanente é um processo educativo, pois possibilita o surgimento de um espaço para pensar e fazer no trabalho, com destaque para o papel fundamental das instituições de saúde no desenvolvimento permanente das capacidades dos profissionais, o qual contribui para o bem-estar social. A educação permanente também pode ser compreendida como uma ação que possibilita ao profissional maior capacidade de atuar dentro do mundo do trabalho, como ser que constrói e destrói norteado por valores políticos, culturais e éticos (RICALDONI; SENA, 2006). AN02FREV001/REV 4.0 64 Conforme os representantes do Ministério da Saúde, Educação Permanente é apresentada como uma estratégia que visa reestruturar os serviços, a partir da análise dos determinantes sociais e econômicos, mas, sobretudo, de valores e conceitos dos profissionais. Tem como proposta transformar o profissional em sujeito, colocando-o no centro do processo ensino-aprendizagem (MOTTA et al., 2002). A definição da Portaria 198/GM/MS apresenta a Educação Permanente como aprendizagem no trabalho, onde o aprender e o ensinar se incorporam ao cotidiano das organizações e ao trabalho. Deve-se ter como referência as necessidades de saúde das pessoas e das populações, da gestão setorial e do controle social em saúde (BRASIL, 2004). O tema Educação Permanente em Saúde tem sua origem de uma política para formação de recursos humanos, adotada pelo governo brasileiro em 2004. Traz em sua estrutura propostas e experiências, já desenvolvidas, há tempos, por educadores inovadores e que tiveram sucesso em suas atividades. Esses educadores, estando em cargos de destaque na estrutura do Ministério da Saúde, iniciaram a implementação de políticas na intenção de viabilizar um projeto de educação que contemplasse a grande estrutura que é o Sistema Único de Saúde (SUS), objetivando sua consolidação, bem como sua qualificação, uma vez que esta só é possível por meio da educação de seus recursos humanos. Dessa forma, a visão da Educação Permanente, com abrangência locorregional, passa a fazer parte do trabalho em saúde. A UNESCO também já vem trabalhando esse conceito há mais tempo e leva em consideração que o processo educativo seja dinâmico, contínuo e que além de capacitação de pessoas traga, também, avanços sociais (MANCIA; CABRAL; KOERICH, 2004). 9.1 POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE A Política Nacional de Educação Permanente foi instituída em fevereiro de 2004, por meio da Portaria 198/GM/MS. Essa política busca a transformação do trabalho em saúde, com o objetivo de estimular a atuação crítica, reflexiva, compromissada e tecnicamente eficiente, o respeito às características regionais e às AN02FREV001/REV 4.0 65 necessidades específicas de formação dos profissionais que trabalham em serviços de saúde. E, para que isto ocorra de forma efetiva, torna-se necessário descentralizar e disseminar a capacidade pedagógica entre os trabalhadores, gestores e serviços, possibilitando, também, a participação social (CECCIM, 2005; BRASIL, 2007). Dessa forma, a Educação Permanente é compreendida como a ação de práticas que informam e recriam a teoria, recriando a própria prática (CECCIM; LAURA, 2004). Com a intenção de chegar ao objetivo proposto por esta política, criaram-se polos de educação permanente, que se comprometem socialmente nos níveis locorregional e interinstitucional, utilizando a dinâmica da roda de gestão (AMESTOY et al., 2008). A Política de Educação Permanente tem como apoio os diversos setores e instituições, dentre eles: gestores estaduais e municipais de saúde, instituições e hospitais de ensino, trabalhadores e estudantes da área, conselhos municipais e estaduais e movimentos sociais. A obtenção desse apoio tem como objetivo possibilitar um processo de comunicação efetivo, em que todos os integrantes participem igualmente; é utilizada a dinâmica da roda rompendo-se com a hegemonia da verticalidade (BRASIL, 2004). A política também visa a preparação de profissionais e estudantes de acordo com os princípios do SUS, com o objetivo de romper com a organização atual do trabalho que é desempenhado nos serviços de saúde, pois esse trabalho tem sido realizado de forma fragmentada, de maneira que a saúde coletiva é separada da clínica, a gestão separada da atenção, e assim por diante. Por isso, cresce a necessidade de adotar práticas educativas que se constituam em ferramentas que permitam uma análise das experiências locais, da organização de ações em rede, da formação, da pós-graduação, da qualificação dos docentes, das modificações na gestão e atenção à saúde e, por fim, o fortalecimento da participação da população (CECCIM, 2005). AN02FREV001/REV 4.0 66 9.2 EDUCAÇÃO DE ADULTOS Considerando que a Educação Permanente engloba sujeitos adultos, é importante que algumas considerações sejam feitas sobre como educar esse grupo social. A Andragogia, implementada por Knowles, em 1968, é a arte e ciência de auxiliar os adultos no aprendizado, sendo uma estrutura conceitual útil na organização do aprendizado no ambiente de trabalho. Este modelo possui pressupostos diferentes dos pressupostos do modelo pedagógico tradicional, já que os adultos diferem dos jovens em algumas características consideradas fundamentais para esta teoria, assim como: eles necessitam saber por que precisam aprender determinado assunto antes de começar o trabalho; têm opinião própria e se responsabilizam por seus próprios atos e decisões; possuem diferentes experiências de vida, quantitativa e qualitativamente acumuladas; tornam-se prontos para o aprendizado quando julgam que está na hora de aprender, isto para que possam encarar os desafios reais do dia a dia; orientam-se para o aprendizadoutilizando a informação para fazer suas vidas mais fáceis ou mais produtivas, direcionando seu foco ao problema ou à tarefa; a motivação para o aprendizado deriva, primariamente, das forças internas, necessárias para a melhoria da qualidade de vida e reforço da autoestima (MANCIA; CABRAL; KOERICH, 2004). Ainda vale ressaltar que os adultos são pessoas independentes; por isso, as experiências de aprendizagem necessitam ser estruturadas de forma cuidadosa com o objetivo de estimular diálogos abertos, troca de ideias e respeito à heterogeneidade do grupo e dos seus indivíduos; os professores têm de ser facilitadores ou fonte de recursos para os aprendizes; o conteúdo deve ser baseado em experiências reais na vida desses sujeitos e a verificação da aprendizagem baseada em componentes de autoavaliação (NIETSCHE, 1998). Dessa forma, a educação de adultos deve ser uma resposta organizada a desejos e necessidades educativas, profissionais e culturais da sociedade em que estamos e vamos nos inserir. Por isso, a Andragogia é caracterizada pela AN02FREV001/REV 4.0 67 capacidade de trabalho criativo, onde a essência reside no conhecimento alicerçado por uma estrutura crítico/inovadora (ROSA, 2004). Ainda vale destacar os princípios e práticas do método de Paulo Freire, com pressupostos semelhantes à Andragogia, os quais são entendidos muito mais como uma teoria do conhecimento do que como uma metodologia de ensino, muito mais como um método de aprender que um método de ensinar. A proposta de Freire é diferente das metodologias convencionais, pois possibilita uma aprendizagem libertadora, não mecânica, uma aprendizagem que requer uma tomada de posição frente aos problemas com os quais vivemos. Uma aprendizagem integradora, abrangente, não compartimentalizada, não fragmentada, com forte teor ideológico. (MANCIA; CABRAL; KOERICH, 2004). A Pedagogia Libertadora, como sua própria denominação, tem como objetivo libertar, eliminar as amarras e propiciar a seus agentes interferir na sua própria realidade. Dessa forma, esta pedagogia tem sido adaptada para a sua utilização em várias situações em que se estabelece um processo educativo e não apenas para a alfabetização de adultos. Mancia, Cabral e Koerich (2004) destacam a Andragogia e a Pedagogia Libertadora de Freire como possibilidades para implementar a proposta de Educação Permanente, que pressupõe uma pedagogia diferenciada, que considere cada aprendiz com seus potenciais e dificuldades e aponta em destaque que educadores e estudantes têm papéis diferentes dos tradicionais. 9.3 A EDUCAÇÃO PERMANENTE E A PRÁTICA DE ENFERMAGEM O enfermeiro tem como papel fundamental prestar assistência ao indivíduo sadio ou doente, à família ou comunidade, por meio do desempenho de atividades de prevenção, promoção, recuperação e reabilitação. Assim, a prática profissional do enfermeiro se baseia na aplicação dos conhecimentos técnico, científico e comportamental adquiridos na formação, em vista da prevenção à doença e promoção, recuperação, reabilitação e manutenção da vida. Tem como compromisso o atendimento das necessidades do paciente e sua família, da AN02FREV001/REV 4.0 68 comunidade, da equipe de enfermagem e multiprofissional, e das instituições onde se desenvolve, e também tem como compromisso a atividade de educar e cuidar. Esse compromisso aumentará, à medida que o enfermeiro entende a importância de seu trabalho, a dimensão transformadora de sua ação educadora, a importância social, cultural e política de sua prática profissional (DUARTE, 2001). A competência do enfermeiro não abrange apenas ter conhecimento e saber utilizá-lo nas diversas situações que ocorrem em sua prática profissional. Mais do que isso, competência é a relação entre as habilidades interpessoais e técnicas com pensamento crítico. Para que o profissional seja competente, é necessário desenvolver as capacidades do saber, saber fazer, saber ser e estar e saber interagir, entendendo o saber como conhecimento, saber-fazer como conhecimento e ação, saber ser e estar como uma postura ética e saber interagir como capacidade de socialização (LOPES; NUNES, 1995). Para que o enfermeiro seja competente em sua pratica, é importante pensar em educação, pois ela transforma a prática social de maneira indireta, pois age sobre os sujeitos dessa prática, portanto, a educação é uma atividade mediadora entre o indivíduo e a sociedade (SAVIANI, 1987). Assim, a educação vai se desenvolver no sujeito, e ele, por meio de seu conhecimento, age e transforma o meio em que vive. Dessa forma, pode-se perceber a educação como processo dinâmico e contínuo de construção do conhecimento, por intermédio do desenvolvimento do pensamento livre e da consciência crítico-reflexiva, e que, por meio das relações humanas, leva à criação de compromisso pessoal e profissional, de forma a capacitar a pessoa para a transformação da realidade em que vive (PASCHOAL; MANTOVANI; LACERDA, 2006). Durante a sua prática, o enfermeiro está em processo educativo constante, no entanto, para torná-lo consciente de tal acontecimento, é importante que haja, no desenvolvimento de suas ações, a reflexão crítica, a curiosidade, a criatividade e a investigação. A aquisição dessas características/ações é possível por intermédio da educação permanente do indivíduo, em que ele desenvolve a habilidade de aprender a aprender. Nesse contexto, a educação em serviço na enfermagem é visualizada como objeto de transformação (PASCHOAL; MANTOVANI; LACERDA, 2006). AN02FREV001/REV 4.0 69 A educação em serviço vista como processo educativo a ser aplicado no interior das relações humanas do trabalho tem como objetivo principal desenvolver capacidades cognitivas, psicomotoras e relacionais dos profissionais, levando esses indivíduos a melhorar sua competência e ter maior satisfação no trabalho, com a valorização profissional e institucional (PASCHOAL; MANTOVANI; LACERDA, 2006). Para a enfermagem, a importância da educação em serviço é vista como sendo uma base para a assistência eficaz ao paciente, pois, por meio de um processo educacional atualizado e coerente com as necessidades específicas da área de enfermagem, ela mantém valorizado o seu pessoal e capaz de apresentar um bom desempenho profissional (DILLY; JESUS, 1995). Para que haja o desenvolvimento da prática da enfermagem, é necessário o investimento na qualificação do profissional. O profissional enfermeiro precisa estar preparado para atingir, desenvolver e ampliar sua competência técnica, crítica e interativa, no ensino formal de enfermagem e nos processos de educação permanente, com o objetivo de adquirir a capacidade de aprender a aprender e de aprender a conviver. Assim, visualiza-se a Educação Permanente, como constante busca pelo aprender, como uma das ações que permitem o desenvolvimento desse processo de mudança, com vistas à qualificação profissional da enfermagem e, consequentemente, à realização da prática profissional competente, consciente e responsável (PASCHOAL; MANTOVANI; LACERDA, 2006). 10 PRÁTICA DE ENSINO EM ESTÁGIO SUPERVISIONADO Nos dias atuais, o ensino de enfermagem tem mudado para atender aos desafios de ampliação do campo de ação do enfermeiro conforme requer a Reforma Sanitária, pelo Sistema Único de Saúde (SUS), pelas Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação (DCN) em Enfermagem e pela Política de Formação e Educação Permanente em Saúde, isso porque não há como transformar o paradigma sanitário e o sistema de saúde sem atuar na formação dos profissionais (FEUERWERKER; LIMA, 2002). Nesse processo de transformação, o AN02FREV001/REV 4.0 70 Estágio Curricular Supervisionado (ECS) pode ser uma ferramenta importante de contribuição, já que é uma atividade acadêmica bastante rica para a formação profissional,processo no qual o estudante entra em contato direto com a realidade de saúde da população e do mundo do trabalho, permitindo o desenvolvimento pessoal e profissional, e a consolidação de conhecimentos adquiridos no transcorrer do curso, por meio da relação teoria-prática (COSTA; GERMANO, 2007). É essencial que exista uma articulação entre o ensino e o serviço para que ocorra o estágio, articulação essa prevista nas DCN para o Curso de Enfermagem, que preconizam a efetiva participação dos enfermeiros do serviço de saúde no qual ocorre o estágio na elaboração de sua programação e no processo de supervisão do estudante (COLLISELLI et al., 2009). Contudo, essa atividade nem sempre tem ocorrido de forma compartilhada, pois, enquanto o serviço restringe, muitas vezes, sua participação na aprovação dos espaços e definição do número de vagas para estagiários, o ensino tem sido apontado como o responsável por não oferecer suporte adequado ao acompanhamento dos estudantes, e por não definir sua contrapartida ao serviço, no tocante à promoção de atividades de educação permanente e à assessoria técnica científica (COSTA; GERMANO, 2007). Nesse processo de reorientação do ensino, em que os profissionais devem ser formados conforme as demandas do SUS, as mudanças só se consolidarão se houver uma ligação entre o processo educativo e o mundo do trabalho e da vida, com a incorporação e participação ativa de todos os sujeitos envolvidos: professores, estudantes, gestores, profissionais dos serviços e comunidades (FEUERWERKER, 2003). Dessa forma, o ECS deve oportunizar aos estudantes a consolidação dos conhecimentos recebidos durante a graduação, por meio do planejamento e implementação de uma prática assistencial de enfermagem, que aponte uma relação consistente entre teoria e prática. Essa experiência os possibilitará a inserção e atuação no contexto social enquanto sujeitos provocadores de mudanças nos espaços da produção social da saúde, com reflexos na consolidação do SUS (COLLISELLI et al., 2009). O Estágio Curricular Supervisionado é um meio de trabalhar com a formação articulada ao perfil epidemiológico e realidade profissional de cada região, numa perspectiva dialética, possibilitando a aprendizagem significativa, o que é essencial AN02FREV001/REV 4.0 71 na formação de recursos humanos para o SUS (EMI, 2005; BACKES, 1999). No ECS o estudante possui a oportunidade de desenvolver as quatro competências do enfermeiro: cuidar; gerenciar; educar; pesquisar. Além de poder vivenciar o contexto de inserção na realidade do mundo do trabalho, fato que se torna um estímulo ao desenvolvimento da: autonomia; responsabilidade; liberdade; criatividade; compromisso; domínio da prática e de seu papel social; aprofundamento e contextualização dos conhecimentos e à assunção de uma práxis transformadora, quando integrado às atividades de pesquisa e extensão (EMI, 2005; BACKES, 1999). Para que o ECS seja um local rico em aprendizagem, é essencial que alguns aspectos sejam levados em consideração, dentre eles, a comunicação é essencial. Conforme Valsecchi e Nogueira (2002), o ensino na área da saúde, como o ensino no curso de graduação em enfermagem, deve permitir ao aluno a aquisição de conhecimentos e mudanças comportamentais sem esquecer a relação entre teoria e prática. Estagiar, desenvolver ensino clínico, praticar, é o momento de que se deve ligar a teoria à prática, ou seja, possibilita aplicar conceitos abstratos em situações concretas. A prática da enfermagem pressupõe o cuidar, e o supervisionar deve vislumbrar a comunicação, tendo essa como fator orientador a dignidade humana, o homem como ser único, sendo traduzida em crescimento pessoal, com vistas ao outro (VALSECCHI; NOGUEIRA, 2002). O professor assume atitudes que podem facilitar ou dificultar o processo de aprendizagem. Quando o docente permanece próximo ao aluno e não adota atitudes intimidatórias, abre espaço para que o aluno se coloque e exprima seus sentimentos e emoções, facilitando a aprendizagem. Porém, quando assume atitude de AN02FREV001/REV 4.0 72 distanciamento no processo de ensino, não percebendo a realidade do aluno, fazendo com que este se sinta sozinho, ele dificulta o aprendizado (LUIZ et al., 1997). Dessa forma, verifica-se a importância de relações efetivas entre professor e aluno, os quais atuam como importante ferramenta na condução da aprendizagem, podendo a comunicação professor-aluno, partindo do docente, ser ferramenta facilitadora na busca do objetivo maior: o ensino-aprendizagem. Alonso (2003) aponta que a proposta metodológica, como a desenvolvida em sua disciplina, voltada ao compromisso, à responsabilidade, ao envolvimento, e ao aprofundamento teórico-prático do aluno com o seu projeto assistencial, tem se revelado importante para permitir aos acadêmicos uma vivência próxima ao papel profissional do enfermeiro no campo da prática. No confronto com a realidade do mercado de trabalho da enfermagem, o desenvolvimento desse tipo de proposta permite que os alunos tenham a liberdade de propor, expressar e implementar novas ideias que possam melhor qualificar esta prática profissional. Ainda conforme Alonso (2003), algumas tarefas parecem complexas, porém, ao assumi-las, pode ser gratificante e muito significativo para os alunos. Dentre elas, estão as tarefas de: decidir; escolher; optar; assumir; implementar; avaliar as suas próprias ideias e atitudes em um projeto assistencial. Dessa forma, a autonomia se torna importante no processo de estágio curricular, pois quando o aluno tem autonomia de decidir alguns fatores em relação ao seu estágio curricular, é dada uma oportunidade ao aluno para o uso da sua autodeterminação, determinante para o amadurecimento de uma postura acadêmico-profissional no mundo do trabalho da enfermagem (ALONSO, 2003). O fato de assumir a condução do processo fortalece o compromisso e a responsabilidade do aluno frente a assistência proposta no seu projeto e também com a qualidade da assistência em nível institucional (ALONSO, 2003). Conforme a pedagogia emancipatória, a autonomia é compreendida como algo que se conquista e se constrói em meio às relações humanas, o que requer, de AN02FREV001/REV 4.0 73 forma primordial, a construção de relações novas entre professor e aluno, opostamente a relações autoritárias e centralizadoras. Neste contexto, as diferenças e as parcerias conduzem à criação do novo e a participação no processo de tomada de decisões é um ponto fundamental (GADOTTI, 1995). Quando o aluno se depara com um confronto direto com a prática de enfermagem, através de uma visão assistencial multidimensional, há um favorecimento da sua maturidade acadêmico-profissional, pois, quando enfrenta os desafios desta prática, o acadêmico passa a sentir-se estimulado a buscar o aprofundamento dos conhecimentos teóricos e práticos, para sugerir redimensionamentos e inovações na arte de cuidar. A inserção crítica, criativa e competente do aluno no ambiente da enfermagem exige um posicionamento profissional frente às questões da enfermagem e do sistema de assistência à saúde e, ainda, possibilita-lhe a ocupação de um espaço significativo no mundo de trabalho da enfermagem (ALONSO, 2003). O desenvolvimento desta proposta de experiência acadêmica tem mostrado inovadora na sua condução didático pedagógica, pois ela possibilita a abertura para novas ideias, propostas e formas de assistir em enfermagem. A possibilidade de autodeterminação do aluno, a impulsividade criativa e competente dos alunos, professores orientadores e supervisores permitem gerar novas formas de cuidar e a conquista de novos espaços para a enfermagem. O desenvolvimento das propostas assistenciais dos alunos na realidade da prática da enfermagem proporcionaa revisão, ampliação e inovação de métodos tradicionais da assistência nas instituições de saúde (ALONSO, 2003). Este tipo de experiência vem contribuindo de forma significativa para uma mudança de comportamento dos profissionais recém- formados, que vivenciaram esta experiência na academia, quanto para os enfermeiros do campo e também os próprios docentes que abraçaram, sensível e conscientemente, esta nova proposta pedagógica (BACKES, 2000). AN02FREV001/REV 4.0 74 10.1 INDICATIVOS PARA REALIZAÇÃO DO ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO CONFORME RESOLUÇÃO DO CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM Em 2010, o Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) revogou a resolução COFEN 299/2005, por meio da Resolução 371/2010, que dispõe sobre os indicativos para a realização do ECS de estudantes de enfermagem de níveis superior e médio. A seguir, são colocados alguns pontos principais da resolução. O estágio deve ser assumido pela instituição de ensino na qual o aluno está matriculado, e deve ser realizado conforme a proposta pedagógica dos cursos; os estágios poderão ser realizados na comunidade, sob a responsabilidade da instituição de ensino, atendendo as normas e exigências da proposta pedagógica; compete somente à instituição de ensino a celebração de convênios com as instituições de saúde onde os estágios serão realizados, mediante regulamentação do ECS para alunos de nível de graduação e técnico. A instituição de ensino, com a coparticipação do enfermeiro da área cedente do campo de estágio, é responsável pelo planejamento, execução, supervisão e a avaliação das atividades do ECS; o ECS deve ser efetivado com a supervisão do enfermeiro em unidades que proporcionem oportunidades de experiência prática na linha de formação. É vedado ao enfermeiro, estando em serviço na instituição em que se realiza o ECS, exercer, ao mesmo tempo, as funções para as quais estiver designado naquele serviço e a de supervisor de estágio. A jornada de trabalho do ECS deve compatibilizar-se com seu horário escolar, e não deve ultrapassar 30 ou 40 horas se houver alternância entre estágio e aulas; as instituições cedentes do campo de estágio devem contar com um responsável técnico na área de enfermagem para formalização e operacionalização dos programas de estágio. Para controle e fiscalização, a instituição cedente de campo de estágio manterá disponível ao Conselho Regional de Enfermagem a documentação referente à instituição de ensino conveniada para estágio dos alunos. AN02FREV001/REV 4.0 75 11 PRÁTICA DOCENTE DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Conforme Santana et al. (2005), a educação é o elemento principal para a construção de uma sociedade fundamentada na informação, no conhecimento e no aprendizado. Além disso, pode ser considerada uma estratégia da sociedade para facilitar, a cada indivíduo, o alcance de seu potencial e estimulá-lo a colaborar com outros em ações que visam ao bem comum. Grande parte do desnível entre indivíduos, organizações, regiões e países deve-se à desigualdade de oportunidades relacionadas ao desenvolvimento da capacidade de aprender e concretizar algo novo. Educar, em uma sociedade de informação, significa capacitar as pessoas para o uso das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) (SANTANA et al., 2005). Ou seja, trata-se de investir na invenção de competências amplas o bastante, que permitam ao sujeito atuar efetivamente na produção de bens e serviços, tomar decisões baseadas no conhecimento, operar com habilidade os novos meios e ferramentas requeridas pelo trabalho e aplicar, de forma criativa, as novas mídias (NASCIMENTO, 2002). Dessa forma, a educação pode ser compreendida como um fenômeno humano cujas manifestações são muitas e diferenciadas e que se desenvolve na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais (BRASIL, 1996). Atualmente, no Brasil, a educação a distância (EaD) aparece como uma modalidade de ensino em evidente ascensão (SANTANA et al., 2005). Conforme Belloni (2002), a EaD é parte de um processo de inovação educacional mais amplo, que é caracterizado pela integração das novas TIC aos processos educacionais. Para Nascimento (2002), a EaD tem como objetivo formar indivíduos para aprender a aprender, conduzindo-os a lidar positivamente com a permanente e acelerada transformação tecnológica. A educação a distância é, então, o processo de ensino-aprendizagem em que o professor e aluno não se encontram presentes fisicamente na mesma hora e no mesmo espaço geográfico, dessa forma, a EaD pode ser realizada utilizando-se AN02FREV001/REV 4.0 76 várias mídias ou instrumentos, evoluindo ao longo do tempo da mídia impressa até a Internet (RODRIGUES; PERES, 2008). Assim, com a popularização e democratização do acesso às Tecnologias de Informação e de Comunicação (TIC), e à necessidade crescente de elevar o nível de escolaridade, de aperfeiçoamento e atualização profissional de forma contínua, fez com que a EaD se desenvolvesse em todo o mundo (BRASIL, 2002). A EaD deve resguardar todos os pontos positivos de uma boa educação, possibilitando o desenvolvimento de capacidades cognitivas, sociais, emocionais, profissionais e éticas ao sujeito. Assim, os seus conteúdos curriculares não devem ser reduzidos, a fim de se garantir uma formação de qualidade. Sua filosofia de aprendizagem deve fornecer aos estudantes a oportunidade de interagir, de desenvolver projetos compartilhados, de reconhecer e respeitar diferentes culturas e de construir o conhecimento. O curso a distância pode ser avaliado por meio do desenho do projeto, que deverá especificar o processo de ensino e aprendizagem e organização curricular, equipe multidisciplinar, material didático, interação de alunos e professores, avaliação de ensino e de aprendizagem, infraestrutura de apoio, gestão e custos (BRASIL, 2002). Conforme o artigo 1º do Decreto n. 2494, de 10 de fevereiro de 1998, que regulamenta o disposto no artigo 80 da Lei n. 9394, de 20 de dezembro de 1996, a EaD é uma forma de ensino que possibilita ao aluno a autoaprendizagem através de recursos didáticos organizados, apresentados em diferentes suportes de informação, utilizados isoladamente ou combinados e veiculados pelos diversos meios de comunicação (BRASIL, 1998b). Dessa forma, a EaD tem se mostrado uma estratégia adequada e eficiente para a educação do adulto que encontra-se inserido no mercado de trabalho e com uma experiência acumulada. Por isso, ela facilita o acesso ao saber a um grande contingente de alunos (BASTOS, 2003). EaD na área Enfermagem surgiu devido à grande necessidade de formar recursos humanos adequados às demandas do Sistema Único de Saúde (SUS) (SANTANA et al., 2005). O artigo 200 da Constituição Federal de 1988 confere ao SUS, além de outras atribuições, o papel de ordenar a formação de recursos humanos na área de saúde (BRASIL, 1988). Conforme a Lei Orgânica da Saúde nº 8080/1990, em seu artigo 14, resolve que deverão ser criadas comissões permanentes de integração entre os serviços de AN02FREV001/REV 4.0 77 saúde profissional e superior, conferindo-se a essas comissões a finalidade de propor prioridades, métodos e estratégias para a formação e a educação continuada dos recursos humanos do SUS (BRASIL, 1990). O anexo da Portaria nº 198/2004, que institui a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde, aponta orientações e diretrizes para a operacionalização da referida política e sugere, como um dos eixos de ação, a dinamização de recursos para a utilização da Educação a Distância como tecnologia pedagógica para a educação permanente (BRASIL, 2004a). Atualmente, tem-se observado um progresso significativo da Enfermagem no Brasilna modalidade de EaD no que se refere à disponibilidade de materiais em ambientes virtuais de aprendizagem (textos, vídeos, links) em cursos de capacitação e disciplinas de graduação, o que tem proporcionado a interatividade, a disseminação de informações, a atualização de conteúdos na educação continuada e o crescimento dos profissionais de saúde e de Enfermagem (CAMACHO, 2009; RODRIGUES; PERES, 2008). Dessa forma, a educação a distância na enfermagem vem auxiliando os docentes e os discentes na avaliação de suas atividades dia a dia, pois entende-se que seu caráter interativo permite redimensionar o espaço entre os diferentes atores envolvidos. Assim, os docentes e os discentes passam a desempenhar um papel mais ativo no processo ensino-aprendizagem, uma vez que interagem, virtualmente, nas tarefas postadas, bem como no decorrer da disciplina. Deste modo, percebemos que a interatividade e as suas interfaces no ensino a distância é a palavra chave que permite perceber a importância desta modalidade de ensino na Enfermagem (CAMACHO, 2009). Por fim, vale ressaltar que uma EaD com qualidade permite condições favoráveis à formação/aprimoramento dos profissionais de Enfermagem, em meio à grande demanda do mercado de trabalho em buscar enfermeiros mais capacitados e com domínio em seu campo de atuação. E observa-se que os cursos de licenciatura e de pós-graduação, na área de formação pedagógica, têm se mostrado indispensáveis ao desafio de qualificar enfermeiros para atuar na função de docente em cursos profissionalizantes (ROJO et al., 2011). AN02FREV001/REV 4.0 78 11.1 O PAPEL DO PROFESSOR NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Antes de iniciar a discussão sobre o papel do professor na EaD, é importante saber as modalidades de ensino a distância. Além das modalidades de ensino em que todas as aulas são virtuais, há também o modelo em que uma parte da carga horária é presencial e outra parte é virtual, que parece ser essencial para os alunos que estão conhecendo a modalidade e familiarizando-se com as ferramentas virtuais (ALMEIDA, 2011). Outro modelo existente é o de que as aulas virtuais estão disponíveis em formato de vídeos, que são gravados pelo professor e disponibilizados como conteúdo para seus alunos, podendo também ser através de videoconferência. Geralmente esse modelo também apresenta textos escritos como reforço para o conteúdo trabalhado no vídeo, disponibilizados em um ambiente virtual com acesso restrito aos alunos. Nesse modelo, os alunos devem programar horários específicos para assistir às aulas, como se elas fossem presenciais (ALMEIDA, 2011). Parte-se do princípio de que o docente, antes mesmo de ingressar em um determinado modelo de curso a distância por convite ou por interesse próprio, acredita na modalidade de educação a distância e sabe que o seu papel é extremamente importante para o crescimento intelectual dos estudantes e para o desenvolvimento e melhoria do curso (ALMEIDA, 2011). A maioria dos cursos trabalha com professores conteudistas e tutores. Os primeiros são aqueles responsáveis por todo o conteúdo, textos, criação de atividades, e organização do material ao qual os alunos têm acesso. Os tutores são os professores que terão contato direto com o aluno pelos recursos tecnológicos que o curso dispõe: chat, e-mail, fórum, entre outros (ALMEIDA, 2011). O papel do professor é essencial nos cursos virtuais, pois é por intermédio dele que os alunos conseguem obter uma resposta aos seus questionamentos, às avaliações entregues e às suas dúvidas sobre os conteúdos trabalhados nas aulas (ALMEIDA, 2011). AN02FREV001/REV 4.0 79 É essencial que o professor tenha conhecimento das potencialidades de cada ferramenta de comunicação, para poder usá-las de modo a incentivar a participação dos alunos no uso de cada uma das atividades (ALMEIDA, 2011). O docente deve considerar que os alunos dos cursos a distância devem ser estimulados a participar de forma ativa das discussões, das atividades, e apresentar sua opinião, pois, caso isso não ocorra, corre-se o risco de que o aluno torne-se “passivo”, apenas lendo os materiais do curso, sem possibilidade de expressar suas dúvidas e de trocar experiências com os colegas. Saber interagir é importante, pois é a base para a criação de atitudes autônomas, que tornam o aluno livre para tentativas e erros num espaço de interação social. Por isso, é papel do docente monitorar a participação dos alunos, além de mobilizar o grupo, levando em conta objetivos e interesses, o que possibilitará a criação de situações significativas de aprendizagem, a efetivação de intervenções e reversão das ações e habilidades (ALMEIDA, 2011). Considerando que a Internet é uma fonte inesgotável de informações, é papel do professor preocupar-se em canalizar essas informações em benefício do aluno, permitindo que ele consiga, por meio dessas informações, e de trocas com os colegas, construir seu conhecimento e desenvolver autonomia. O professor deve utilizar-se dessas ferramentas de comunicação disponíveis aos alunos para instigá- los a pesquisar e trazer os resultados para serem apresentados aos colegas, suscitando a colaboratividade entre todos, participando ativamente das discussões (ALMEIDA, 2011). Outro ponto importante é a participação do próprio professor na utilização dos meios na prática, ou seja, todo professor que participa de um curso a distância deve possuir disponibilidade de responder aos alunos e participar de discussões que ele mesmo provoca (ALMEIDA, 2011). Isso pode parecer claro, mas esses fatores causam uma frustração muito grande por parte dos alunos que não recebem respostas, inclusive levando alguns estudantes a desistir de cursos na modalidade a distância (ALAVA, 2002). A EaD, pelo meio virtual, pode possibilitar uma aprendizagem autônoma, colaborativa, enfim, um ensino com um caráter construtivista, porém, dependendo do ambiente e da maneira como o curso é fundamentado, pode-se também ter no virtual um recurso para reproduzir uma educação tradicional, que se caracteriza na AN02FREV001/REV 4.0 80 transmissão do conhecimento e centra-se no professor (TAVARES, 2000). Por isso, percebe-se que o papel do professor, tanto na mediação com os alunos quanto na organização de materiais didáticos, será fundamental para proporcionar ao aluno a oportunidade de utilizar os meios tecnológicos para construir seu conhecimento. (ALMEIDA, 2011). O papel que é desempenhado em cursos on-line dependerá muito da atividade prática desse docente em sala de aula. Segundo Tavares (2000), o professor que em sala de aula presencial permite a discussão, diálogos com os alunos e interação entre todos, possui mais oportunidade de proporcionar ao aluno um ambiente virtual que estimule a sua participação e troca de ideia com os colegas e com os professores, ao contrário dos professores que têm sua prática pedagógica centrada em sua própria figura. 12 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NA EDUCAÇÃO EM SAÚDE A educação em saúde sendo uma área de conhecimento necessita de uma visão corporificada de ciências distintas, tanto da educação como da saúde, promovendo a integração de disciplinas como psicologia, sociologia, filosofia e antropologia. Esse entendimento é reforçado quando se afirma que a educação em saúde é um campo multifacetado, para o qual diversas concepções convergem, as quais representam diferentes formas de compreender do mundo, demarcadas por distintas posições político-filosóficas sobre o homem e a sociedade (SCHALL; STUCHINER, 1999). Assim, o conceito de educação em saúde está ligado ao conceito de promoção da saúde, que aborda processos que levam em consideração a participação de toda a população no contexto de sua vida cotidiana e não apenas das pessoas sob risco de adoecer. Essa noção tem como base o conceitode saúde, considerado como um estado positivo e dinâmico de busca de bem-estar, que integra os aspectos físicos e mentais (ausência de doença), ambiental, pessoal e social (MACHADO et. al., 2007). AN02FREV001/REV 4.0 81 Para que se alcance um nível adequado de saúde, as pessoas necessitam saber identificar e satisfazer suas necessidades básicas. Devem ser aptas a adotar mudanças de comportamentos, práticas e atitudes, além de possuir meios necessários à operacionalização dessas mudanças. Dessa forma, a educação em saúde visa contribuir para que as pessoas adquiram autonomia para identificar e utilizar as formas e os meios para preservar e melhorar a sua vida (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1998). Levando em consideração que a educação em saúde está relacionada à aprendizagem, com o objetivo de alcançar a saúde, é essencial que seja voltada a atender a população de acordo com sua realidade, pois a educação em saúde deve provocar conflito nos indivíduos, de forma a criar oportunidade de a pessoa pensar e repensar a sua cultura, para que ela possa transformar a sua realidade (OLIVEIRA; GONÇALVES, 2004). 12.1 O PANORAMA DA EDUCAÇÃO EM SAÚDE E ENFERMAGEM NO BRASIL A educação em saúde no contexto da saúde pública no Brasil tem início no momento da agroexportação do café. Em 1860, o Brasil se tornou o maior produtor mundial de café, e as ações de saúde estavam voltadas para a manutenção e crescimento da economia brasileira. Eram necessários o controle de enfermidades e o saneamento de espaços de exportação de mercadorias. (SOUSA et al., 2010). Mais tarde, na década de 1950, o Brasil rumo à modernização começou a apresentar grande crescimento dos centros urbanos, devido a substituição da agroexportação pelas indústrias de base. Nesse momento, o conceito de saúde passou a ser relacionado com o homem como ser produtivo, que precisava ter a sua saúde para garantir a produção nas indústrias. Dessa forma, as práticas de educação em saúde eram realizadas pela imposição, sem diálogo (SMEKE; OLIVEIRA, 2001; AROUCA,1998). As pessoas eram objetos de intervenção do Estado e a saúde era mais um dever do que um direito, já que a finalidade das ações estava pautada nos interesses econômicos. Devido à imposição das ações sanitárias, a população AN02FREV001/REV 4.0 82 passou a reagir com movimentos de resistência. A indignação dos cidadãos fez com que o conceito amplo do processo saúde-doença surgisse. Assim, a educação em saúde com propostas de uma educação transformadora, não opressora, foi valorizada como forma de resistência e luta (SMEKE; OLIVEIRA, 2001). Diante de condições de vida desastrosas, em que a mortalidade infantil e endemias assumiam papel significativo, enfermeiros e outros profissionais militantes da área da saúde iniciaram movimentos em prol da reorientação das práticas de educação em saúde que marcaram expressivamente a década de 1970 (DONNANGELO, 1983). E, desde então, mudanças significativas vêm formando a maneira de fazer educação em saúde por enfermeiros no Brasil. As crises econômicas e políticas do início dos anos 80 no Brasil e a emergência no cenário mundial da proposta de atenção primária à saúde favoreceram o desenvolvimento da assistência comunitária. Implantava-se a ideia de um sistema de saúde baseado na atenção integral a todos os brasileiros. Posteriormente, esta ideia foi concretizada com a implementação do Sistema Único de Saúde (SUS) (MENDES,1996). O Programa Saúde da Família, como uma das estratégias de implementação do SUS, é hoje uma importante ferramenta de atuação da enfermagem na reorientação e práticas de educação em saúde, já que representou e representa uma mudança significativa no modelo de atenção à saúde, aproximando enfermeiro e paciente-família-comunidade (SENNA, 2002). O processo saúde-doença passou a ganhar outra dimensão, em que múltiplos fatores são interpretados como influenciadores da saúde. As práticas de educação em saúde, como parte das ações de promoção da saúde, têm passado por um momento de flexibilização e ampliação (OLIVERIA, 2005). Devido ao fato de se encontrar em posição privilegiada na interação com os indivíduos, principalmente na atenção primária, o enfermeiro teve a oportunidade de desenvolver e implementar estratégias educativas pautadas na utilização de recursos locais e de saberes diversos. A consideração das crenças e valores foi, paulatinamente, tornando-se relevante para o estabelecimento de um diálogo efetivo com a população e, consequentemente, para um cuidado eficaz (SOUSA et al., 2010). AN02FREV001/REV 4.0 83 A participação popular insere-se nesse contexto como forma de dar oportunidade para a manifestação do educando, garantindo-lhe poder no relacionamento com o educador. Surge, dessa forma, o conceito de autonomia dos sujeitos no processo de educação em saúde. O papel do enfermeiro passou do simples ato de orientar ou de impor para o de favorecer a conscientização das pessoas a respeito da situação em que vivem e das consequências de suas escolhas para sua saúde. Freire foi um dos grandes idealizadores dessa filosofia da educação em saúde libertadora/transformadora, em que, na relação educador/educando, não há aqueles detentores do saber, mas saberes diferentes que devem convergir para a reflexão, conscientização e liberdade de escolha (FREIRE,1999). A criação do SUS, que tem na participação popular uma de suas principais diretrizes, contribuiu para a instalação da perspectiva de educação em saúde transformadora (MENDES, 1996). Além disso, visando eliminar o elevado custo da atenção curativa e concretizar os princípios do SUS de universalidade, integralidade, equidade, descentralização e participação popular, profissionais de saúde encontraram na educação em saúde uma possibilidade de intervir sobre os problemas de saúde complexos, que envolvem elementos subjetivos, como cultura, relações sociais e gênero (SOUSA et al., 2010). A enfermagem, nesse processo, pode encontrar suporte para se desenvolver como profissão comprometida com o cuidado holístico e com a transcendência do ser humano. A relação de proximidade com os sujeitos, seja em consultas individuais ou em visitas domiciliares, fez com que o enfermeiro passasse a ter consciência sobre questões que vão além da doença, mas que exercem significativa influência sobre o processo saúde-enfermidade-cuidado. A busca por conhecimentos nas ciências humanas se tornou uma necessidade para a revisão das próprias práticas de educação em saúde de enfermagem (MENENDEZ, 1998). AN02FREV001/REV 4.0 84 12.2 O QUE SE DEVE LEVAR EM CONSIDERAÇÃO NO PLANEJAMENTO DA EDUCAÇÃO EM SAÚDE O processo pedagógico da enfermagem, com foco na educação em saúde, apresenta-se em evidência, já que, nos dias atuais, é visto como uma estratégia promissora no enfrentamento aos diversos problemas de saúde que afetam as populações e seus contextos sociais. O enfermeiro tem destaque, já que é o principal atuante no processo de cuidar por meio da educação em saúde (SOUSA et al., 2010). A educação em saúde está inserida no contexto da atuação da enfermagem como ferramenta para o estabelecimento de uma relação dialógico-reflexiva entre enfermeiro e cliente, em que o sujeito busque se conscientizar sobre sua situação de saúde-doença e possa perceber como protagonista de transformação de sua própria vida (SOUSA et al., 2010). Dessa forma, o enfermeiro desempenha trabalho importante para a população, pois está inserido em programas e atividades de educação em saúde, com vistas à melhoria da saúde do indivíduo, da família e da população em geral. Sendo ele um educador está inserido no contexto que norteia a educação em saúde, visto que é necessário orientar a população, e por que não dizer, mostrar alternativas para que esta tomeatitudes que lhe proporcionem saúde em seu sentido mais amplo (SILVA, 1999). Assim, para que possamos pensar em estratégias para se planejar a educação em saúde, primeiramente, é importante que o enfermeiro tenha uma visão ampliada do processo saúde-doença, permitindo que as práticas possibilitem a ampliação da capacidade de autonomia dos indivíduos e grupos para o alcance dos seus objetivos pessoais (de ser saudável) e sociais (de agir no grupo para transformação social) (BARROSO; VIEIRA; VARELA, 2003). A partir disso, é necessário um novo paradigma educacional centrado na promoção de escolhas saudáveis, livres e racionais, descartando a visão de mudança de comportamento como uma das metas da promoção da saúde que AN02FREV001/REV 4.0 85 acabava complicando a superação de um modelo da educação em saúde arcaico, baseado na mudança de estilos de vida individuais (OLIVEIRA, 2005). É essencial que, ao se planejar a educação em saúde, se supere a conceituação biomédica de saúde, e se passe a abranger objetivos mais amplos, deixando de lado ações de caráter individual e coercitivo. Não se pode ser um simples instrumento de transmissão de informações, no qual o educando é visto como um passivo recipiente do conhecimento que será fornecido pelo professor que tudo sabe. Na promoção da saúde é exigido o rompimento desses paradigmas, já que o tradicional modelo clínico centrado na doença torna-se oposto à saúde pública (OLIVEIRA, 2005). Sendo o enfermeiro um educador em saúde, esse deve contribuir para a conscientização individual e coletiva, questionando as responsabilidades e os direitos à saúde, estimulando ações que atendam aos princípios do SUS, principalmente acessibilidade, equidade, universalidade e participação popular (BARROSO; VIEIRA; VARELA, 2003). E, para que todo esse trabalho ocorra, o processo educacional utilizado deve contemplar uma relação igualitária entre educando e educador (SOUSA et al., 2010). Dentre as práticas que podem ser realizadas no processo de educação em saúde, a prática dialógica do enfermeiro no contexto da educação popular em saúde é uma ferramenta importante, pois ela anuncia um discurso transformador, mediado pela participação do sujeito (cliente) de forma ativa, crítica e questionadora e não por uma participação por extensão (FREIRE, 2001). Essa prática usada na educação é avessa àquela prática baseada no modelo verticalizado, em que não há troca de informações, de saberes e de práticas (ALVIM; FERREIRA, 2007). Quando se pratica a educação popular em saúde pressupõe abertura, disponibilidade para ouvir o outro, horizontalidade na relação interpessoal e na ação educativa em si, uma vez que, o ato participativo é humanizante. Assim, neste espaço de relações, quem educa é dialeticamente educado. No campo da saúde, em especial, da enfermagem, demanda um discurso e uma prática transformadores, mediados pela participação do sujeito em todo processo educativo (ALVIM; FERREIRA, 2007). Para aqueles educadores que utilizam esse processo, a premissa básica é promover o fortalecimento pessoal dos seres humanos com quem interagem. É AN02FREV001/REV 4.0 86 essencial que se ajude o ser humano a ajudar-se, e ajude a fazê-lo agente de sua transformação (FREIRE, 2001). Quando não há uma ação coletiva, dialógica, compartilhada com o saber popular, o conhecimento científico seguirá anacrônico, desvinculado do mundo prático (ALVIM, 1999). FIM DO MÓDULO III
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