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AN02FREV001/REV 4.0 69 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE EPIDEMIOLOGIA E SAÚDE PÚBLICA Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 4.0 70 CURSO DE EPIDEMIOLOGIA E SAÚDE PÚBLICA MÓDULO II Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 71 MÓDULO II 6 EPIDEMIOLOGIA EM SAÚDE COLETIVA 6.1 SEÇÃO 1 - INTRODUÇÃO AO ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO Segundo Brasil (2008), a Epidemiologia é uma disciplina da saúde coletiva voltada para a compreensão do processo saúde-doença na população, fundamentada no raciocínio causal, preocupando-se com o desenvolvimento de estratégias para as ações voltadas à proteção e promoção da saúde da comunidade. A aplicação dos conhecimentos epidemiológicos auxilia no desenvolvimento de políticas no setor da saúde. Conforme Rouquayrol (2006), Epidemiologia pode ser conceituada como: Ciência que estuda o processo saúde-doença em coletividades humanas, analisando a distribuição e os fatores determinantes das enfermidades, danos à saúde e eventos associados à saúde coletiva, propondo medidas específicas de prevenção, controle, ou erradicação de doenças, e construindo indicadores que sirvam de suporte ao planejamento, administração e avaliação das ações de rotina, em consonância com as políticas de promoção de saúde. Podemos destacar alguns termos: Estudo: a Epidemiologia como disciplina básica da saúde coletiva tem seus fundamentos no método científico; Coletividade humana: a Epidemiologia está voltada para as ocorrências, em escala de massa, de doenças e não doenças, envolvendo pessoas agregadas em coletividade, tais como comunidades, grupos AN02FREV001/REV 4.0 72 demográficos, classes sociais ou quaisquer outros coletivos nos quais possamos classificar os seres humanos; Frequência e distribuição: preocupa-se com a frequência e o padrão dos eventos relacionados com o processo saúde-doença na população. A frequência inclui também os estudos das taxas ou riscos de doença nessa população. O conhecimento das taxas permite comparações válidas entre diferentes populações. O padrão de ocorrência dos eventos relacionados ao processo saúde-doença diz respeito à distribuição desses eventos segundo características: - Tempo: tendência num período, variação sazonal, etc.; - Lugar: distribuição geográfica, distribuição urbano-rural, etc.; - Pessoa: sexo, idade, profissão, etnia, etc. Fatores determinantes: é a busca da causa e dos fatores que influenciam a ocorrência dos eventos relacionados ao processo saúde-doença, podendo descrever a frequência e distribuição desses eventos e comparar sua ocorrência em diferentes grupos populacionais, assim chamados fatores de risco. Em condições ideais os estudos epidemiológicos oferecem condições para planejar as medidas de prevenção e controle; Estados ou eventos relacionados à saúde: preocupa-se com epidemias de doenças infecciosas, sua área de atuação estende-se a todos os agravos à saúde; Específicas populações: preocupa-se com a saúde coletiva de grupos de indivíduos que vivem numa comunidade ou área; Aplicação: são os subsídios para a implementação de ações dirigidas à prevenção e ao controle; Prevenção: visa impedir que os indivíduos sadios venham a adquirir a doença; Controle: visa baixar a incidência até níveis mínimos da doença; Erradicação: significa permanência da incidência zero da doença; Promoção em saúde: consiste na produção da saúde com direito social, equidade e garantia dos demais direitos humanos e de cidadania. AN02FREV001/REV 4.0 73 Portanto, ela não é somente uma ciência, mas também um instrumento. Os estudos epidemiológicos têm por objetivo final a melhoria das condições de saúde da população humana, o que demonstra o vínculo indissociável da pesquisa epidemiológica com o aprimoramento da assistência integral à saúde. 6.1.1 História da Epidemiologia 6.1.2 A Epidemiologia até o Século XIX Como podemos verificar a Epidemiologia pode ser verificada desde a antiguidade, embora o termo epidemiologia seja relativamente recente. a) Hipócrates Segundo Pereira (1999), Hipócrates, médico grego que viveu há cerca de 2.500 anos, dominou o pensamento médico nos anos 400 a.C. Medronho (2005), em seu clássico “Dos Ares, Águas e Lugares”, definiu o termo Epidemiologia como o estudo das doenças epidêmicas e hoje analisa também as doenças endêmicas e, em geral, agravos à saúde. Neste clássico descreve as primeiras explicações epidemiológicas a respeito da ocorrência de doenças, com bases racionais e não no sobrenatural. Para ele, as doenças eram produtos da relação complexa entre a constituição do indivíduo e o ambiente que o cerca. Pelo muito que fez e legou à Humanidade, Hipócrates é considerado o pai da Medicina e também o pai da Epidemiologia. Este sábio grego deixou-nos um juramento, que constitui o fundamento da ética médica: AN02FREV001/REV 4.0 74 Eu juro, por Apolo médico, por Esculápio, Hígia e Panacea, e tomo por testemunhas todos os deuses e todas as deusas, cumprir segundo meu poder e minha razão, a promessa que se segue: estimar, tanto quanto aos meus pais, aquele que me ensinou esta arte; fazer vida comum e, se necessário for, com ele partilhar meus bens; ter seus filhos por meus próprios irmãos; ensinar-lhes esta arte, se eles tiverem necessidade de aprendê-la, sem remuneração e nem compromisso escrito; fazer participar dos preceitos, das lições e de todo o resto do ensino, meus filhos, os de meu mestre e os discípulos inscritos segundo os regulamentos da profissão, porém, só a estes. Aplicarei os regimes para o bem do doente segundo o meu poder e entendimento, nunca para causar dano ou mal a alguém. A ninguém darei por comprazer, nem remédio mortal nem um conselho que induza a perda. Do mesmo modo não darei a nenhuma mulher uma substância abortiva. Conservarei imaculada minha vida e minha arte. Não praticarei a talha, mesmo sobre um calculoso confirmado; deixarei essa operação aos práticos que disso cuidam. Em toda a casa, aí entrarei para o bem dos doentes, mantendo-me longe de todo o dano voluntário e de toda a sedução, sobretudo longe dos prazeres do amor, com as mulheres ou com os homens livres ou escravizados. Àquilo que no exercício ou fora do exercício da profissão e no convívio da sociedade, eu tiver visto ou ouvido, que não seja preciso divulgar, eu conservarei inteiramente secreto. Se eu cumprir este juramento com fidelidade, que me seja dado gozar felizmente da vida e da minha profissão, honrado para sempre entre os homens; se eu dele me afastar ou infringir, o contrário aconteça (HIPÓCRATES, 400 a.C.). b) Cláudio Galeno (138-201) Na Roma antiga, Galeno manteve a tradição de Hipócrates para criar um sistema de patologia e terapêutica de complexidade e coerência interna. Ele escreveu sobre farmácia e medicamentos, nas suas obras encontram-se cerca de 400 referências a fármacos. Do ponto de vista farmacêutico, Galeno contribuiu para a transformação da patologia humoral em uma teoria racional e sistemática. Assim, os medicamentos passam a ter propriedades opostas às da causa da doença. Foi na forma de galenismo que a Medicina greco-romana passou para o Ocidente cristão, dominando a Medicina e a Farmácia até ao século XVII e mantendo aindauma grande influência mesmo no século XVIII. A terapêutica galênica considerava vários fatores para a aplicação dos medicamentos, tais como: a personalidade do doente, a sua idade, a raça e o clima – que afetavam a própria natureza da mistura (krasis) dos humores no AN02FREV001/REV 4.0 75 corpo humano. Segundo Pereira (1995), embora muito de Hipócrates e de Galeno tenha chegado até os dias atuais, parte de sua contribuição foi perdida ou destruída. Neste caso, encontra-se a teoria dos miasmas, vigente há séculos, e que dominou o pensamento médico até a segunda metade do século XIX. Miasmas: a teoria miasmática baseava-se na má qualidade do ar, originada de substâncias voláteis oriundas da decomposição de animais e plantas. Assim, os miasmas seriam transmitidos do doente para as pessoas susceptíveis, que dariam origem às epidemias das doenças contagiosas, por exemplo, a malária (junção de mal e ar). c) John Graunt (1620-1674) No século XVII, no ano de 1662, o inglês John Graunt publicou um estudo sobre as tabelas mortuárias de Londres, no qual foi o primeiro a quantificar os padrões da natalidade, mortalidade e ocorrência de doenças, identificando algumas características importantes, entre elas: • existência de diferenças entre os sexos e na distribuição urbano-rural; • elevada mortalidade infantil; • variações sazonais. Conforme Pereira (1997), Graunt calculou em 36% a mortalidade, valor julgado correto, à luz das verificações ulteriores. Ele foi considerado o pai da demografia ou das estatísticas vitais, devido seu pioneirismo na utilização dos coeficientes. 6.1.3 Epidemiologia do Século XIX Conforme Pereira (1997), o centro das ciências se dá no século XIX na Europa. A Revolução Industrial, iniciada por volta de 1750 na Inglaterra e um pouco mais tarde em outros países, produziu um extenso deslocamento das AN02FREV001/REV 4.0 76 populações do campo para as cidades, atraídas por empregos nas fábricas. Epidemias de cólera, febre tifoide e febre amarela constituíam graves problemas nas cidades, levando a maiores preocupações com a higiene. Nesta seção, iremos verificar algumas características do trabalho dos cinco cientistas epidemiologistas do século XIX. a) Pierre Louis (1787-1872) Pierre Louis contribuiu com os estudos clínico-patológicos sobre a tuberculose e a febre tifoide. Sua maior contribuição foi com a introdução e divulgação dos métodos estatísticos. Pierre foi considerado o iniciador da estatística médica e outros como o pai da Epidemiologia moderna. b) Louis Vilermé (1782-1863) Louis foi considerado um dos pioneiros dos estudos da etiologia social das doenças com sua investigação clássica sobre a pobreza, as condições de trabalho e suas repercussões na saúde, ressaltando as relações entre situação socioeconômica e mortalidade sobre os trabalhadores das indústrias de algodão, lã e seda. d) Willian Farr (1807-1883) Em meados do século XIX, Willian Farr iniciou a coleta e análise sistemática das estatísticas de mortalidade na Inglaterra e País de Gales. Com isso, Farr é considerado o pai da estatística vital e da vigilância. Entre suas contribuições podemos destacar: - classificação das doenças; - descrição das leis das epidemias: ascensão rápida no início até o ápice e, em seguida, uma queda mais rápida (“Lei de Farr”); - produção de informações epidemiológicas sistemáticas usadas para subsidiar o planejamento das ações de prevenção e controle. AN02FREV001/REV 4.0 77 e) Jonh Snow (1813-1858) Em 1855 o anestesiologista inglês John Snow (1813-1858) faz sua contribuição com os estudos sobre a maneira de transmissão da cólera, ocorridas em Londres em 1849 e 1854. Sua contribuição foi a sistematização da metodologia epidemiológica, que permaneceu até meados do século XX sem muitas modificações. Seus estudos descrevem o comportamento da cólera por meio de dados de mortalidade, em uma sequência lógica, a frequência e distribuição dos óbitos. Segundo aos aspectos relativos ao tempo e os aspectos relativos ao espaço, além de efetuar levantamento de outros fatores como aspectos relativos às pessoas, com o objetivo de elaborar hipóteses causais. As ricas descrições do desenvolvimento da epidemia demonstraram o caráter transmissível da cólera (teoria do contágio), décadas antes do início das descobertas no campo da microbiologia e, portanto, do isolamento e identificação do Vibrio cholerae como agente etiológico da cólera, contrariando, portanto, a teoria dos miasmas. Segundo o comentário de Snow podemos verificar um fortalecimento da teoria do contágio: “... doenças transmitidas de pessoa a pessoa são causadas por alguma coisa que passa dos enfermos para os sãos e que possui a propriedade de aumentar e se multiplicar nos organismos dos que por ela são atacados...” Snow introduz, também, o conceito de risco. Identifica como fator de risco para a transmissão direta a falta de higiene pessoal, seja por hábito ou por escassez de água, por esgotos, dos rios e dos poços de água (usada para beber ou no preparo de alimentos). O trabalho de Snow na elucidação da epidemia da cólera é considerado um clássico da epidemiologia de campo. f) Louis Pasteur (1822-1895) Pasteur foi considerado o pai da bacteriologia. Um passo essencial para o desenvolvimento da teoria dos germes foi a descoberta do microscópio, AN02FREV001/REV 4.0 78 em 1675, pelo Van Leeuwenhock, que conseguiu visualizar pequenos seres vivos que chamou de animálculos. Porém, a figura central da microbiologia foi Pasteur por identificar e isolar numerosas bactérias, além de fazer trabalhos pioneiros na área da imunologia. Dentre seus estudos podemos citar: - o estudo da fermentação da cerveja e do leite; - o estudo das bactérias patógenas e dos meios de destruí-las ou de impedir sua multiplicação, livre deles quando protegidas de contaminação pelo ar, por insetos ou por outros meios; - descobrimento do princípio da pasteurização; - estudou e identificou os agentes etiológicos, e os meios para combatê-los, da praga que prejudicava a indústria nacional do bicho-da-seda; - desenvolveu a vacina antirrábica, que permitiu salvar vidas de pessoas mordidas por cães. Conforme Pereira (1997), os estudos de Pasteur, seguidos pelos de Robert Koch (1843-1910) e outros microbiologistas, desenvolveram a teoria que as doenças poderiam ser causadas por um único agente etiológico, sendo denominada teoria dos germes. 6.1.4 Epidemiologia no Século XX A história da Epidemiologia no século XX é construída por um conjunto de pequenos avanços que tiveram a contribuição de numerosos protagonistas, e não como foi descrito até agora por meio de celebridades marcantes. a) Influência da Microbiologia A revolução da era bacteriológica, na segunda metade do século XIX, alterou os conceitos de doença e de contágio. A partir disso, comprovou-se que os seres microscópicos, dotados de características especiais, desempenham papel predominante na gênese de muitas doenças. A clínica e a patologia AN02FREV001/REV 4.0 79 tornaram-se subordinadas ao laboratório, que ditava também padrões de higiene e para a legislação sanitária. Foram criados os institutos de pesquisa em todo o mundo nos moldes do Instituto de Pasteur de Paris. No Brasil, Oswaldo Cruz (1872-1917), o renomado sanitarista brasileiro, fundou no início do século XX o instituto que hoje tem seu nome, em Manguinhos, no Rio de Janeiro, sendo reconhecido como exemplo de pesquisa na América Latina. b) Desdobramento da teoria dos germes Saneamento ambiental, vetores e reservatórios de agentes: o saneamento básico é preocupação antiga da humanidade. As descobertas ocorridas na Biologia e na Medicina fizeram com que o meio ambiente pudesse ser estudado maiscientificamente, colocando em destaque o seu papel na transmissão, visto que ele fornece o substrato não só para grande número de agentes produtores de doença, como para os hospedeiros susceptíveis. Assim, as investigações expandiram nos estudos dos vetores e os reservatórios de agentes, resultando no esclarecimento do ciclo dos parasitas, possibilitando as descobertas para a prevenção. Por exemplo: o papel do mosquito na etiologia de doenças infecciosas tais como: - malária – Alphonse Laveran (1845-1922); - filariose e esquistossomose – Carlos Finlay (1833-1915); - febre amarela – Walter Reed (1851-1902); - tripanossoma americamo (doença de Chagas) – Carlos Chagas. Ecologia: o aprofundamento dos estudos fez com que a teoria dos germes cedesse lugar às esquematizações sobre agente, hospedeiro e meio ambiente, sob a forma de modelo unificado, de explicação das doenças, explicadas na multicausalidade. AN02FREV001/REV 4.0 80 c) Bases para epidemiologia Moderna Causa mortis: coleta sistemática dos dados sobre as características das pessoas falecidas, útil para detectar o aparecimento e perfil de muitas doenças na comunidade. Assim, as estatísticas vitais que incluem informações sobre nascimentos e óbitos tornaram fontes de informações para os profissionais da saúde, para aprimorar o conhecimento das condições de saúde da comunidade. Estas informações passaram a funcionar como elementos de base para facilitar as investigações etiológicas. d) Epidemiologia nutricional Prevenção do escorbuto: o inglês James Lind (1716-1794) realizou um estudo experimental para a prevenção da deficiência de Vitamina C. O experimento foi realizado com 12 marinheiros que ingeriram frutas frescas (limões), a fim de comprovar que a doença poderia ser prevenida com a ingestão de Vitamina C. Prevenção do beribéri: o japonês Kanehiro Takari (1849-1915), por intermédio de estudos epidemiológicos, apontou a etiologia da doença beribéri sendo a deficiência nutricional de Vitamina B1 (tiamina). Prevenção da pelagra: Goldberger apontou a consistência da associação entre ocorrência de pelagra e os tipos de dieta, e buscou a confirmação de sua hipótese nutricional, que a causa da doença era a deficiência da niacina. Em sua investigação, feita em orfanatos e prisões, mostrou que a doença podia ser prevenida com a adequação das dietas e que as restrições alimentares podiam produzir o aparecimento de doenças. e) Ênfase à Pesquisa Após a II Guerra Mundial (1939-1945) houve um impressionante desenvolvimento da epidemiologia. O século XX foi marcado pela mudança do AN02FREV001/REV 4.0 81 perfil das doenças prevalentes, com o crescente surgimento das doenças crônico-degenerativas, como causa de morbidade e mortalidade. Neste período verifica-se a progressão da pesquisa sobre vários temas, entre eles: - a determinação da condição de saúde da população; - a busca sistemática de fatores antecedentes ao aparecimento das doenças, que possam ser rotulados como agentes ou fatores de risco; - a avaliação da utilidade e da segurança das intervenções propostas para alterar a incidência ou a evolução da doença por meio de estudos controlados. f) Epidemiologia atual A compreensão e aplicação da Epidemiologia atual requerem conhecimento em três pilares: - Ciências biológicas: a partir das disciplinas afins (clínica, a patologia, a microbiologia, a parasitologia e a imunologia) a Epidemiologia pode contribuir para a descrição, classificação e determinação da frequência de uma doença em uma determinada população; - Ciências sociais: por meio desta ciência, a epidemiologia pode entender a forma de organização, os indivíduos que compõe os riscos de adoecer em uma sociedade para traçar as técnicas de prevenção das doenças e de promoção e recuperação das doenças; - Estatística: é a ciência e a arte de coletar, resumir e analisar dados sujeitos a variações. Fornece o instrumental a ser levado em conta nas investigações de questões complexas, com a aleatoriedade dos eventos e o controle das variáveis que dificultam a interpretação dos resultados. 6.1.5 Principais Usos da Epidemiologia Conforme Pereira (1997) a Epidemiologia pode ser empregada para: AN02FREV001/REV 4.0 82 1) Diagnóstico da situação de saúde: que consiste em gerar dados quantitativos, corretos, sobre a saúde do conjunto da população ou de seus segmentos, seja em atividades de rotina, seja em investigações especiais. Dois aspectos são de maior importância em qualquer diagnóstico epidemiológico: - a abrangência populacional deste diagnóstico; - a apropriada seleção de “indicadores” que bem retratem cada situação. 2) Investigação etiológica: que consiste nos estudos científicos para a descoberta das causas da distribuição das doenças. A procura das causas das doenças pode ter: - uma abordagem unicausal: “uma causa, um efeito”. Esta especificidade representa o isolamento de parte de um todo, procedimentos que, embora sujeitos à crítica, têm sido muito úteis para orientar a aplicação das ações de saúde. Exemplo: a poliomielite pode ser controlada por imunização, a varíola erradicada pela vacinação de toda a população, a febre tifoide controlada pelo saneamento básico. O bócio endêmico eliminado pela iodação do sal de cozinha, a incidência do câncer do pulmão reduzida, significativamente, com a diminuição da frequência do hábito de fumar, entre outras. Logo, parte-se do princípio de que um agente ou causa quando removido faz desaparecer a doença, sendo assim utilizado como uma medida preventiva. - uma abordagem multicausal: os danos à saúde podem ter múltiplas causas e uma única causa pode ter muitos efeitos. Por exemplo: a asma brônquica pode estar associada a numerosos agentes ou fatores, por exemplo, infecção, exercício físico, estresse emocional e exposição de poluentes. Assim, devido à existência de grande quantidade de fatores implicados no complexo etiológico da doença, os esforços para preveni-las podem ser feitos em múltiplas direções. Por isso, a importância, nos dias de hoje, das equipes multiprofissionais. AN02FREV001/REV 4.0 83 3) Determinação de risco: entende-se por risco o grau de probabilidade da ocorrência de um determinado evento, por exemplo, o risco de alguém acidentar-se ou ter câncer. As investigações etiológicas geram resultados que apontam os riscos a que uma pessoa está sujeita. Nem todas as pessoas têm os mesmos riscos. Há indivíduos que vivem perigosamente e, como tal, têm maior probabilidade de morrer prematuramente. Mas existem outras que, apesar de não se exporem tão intensamente, estão também em risco, não de morrer precocemente, mas de adoecer ou de sofrer algum tipo de incapacidade. 4) Aprimoramento na descrição do quadro clínico: a observação da evolução de uma doença em um número suficiente de pacientes, reunidos de maneira adequada e com a necessária objetividade na aferição, permite descrever detalhes e completar o quadro clínico. Certos detalhes da doença só são esclarecidos em estudos populacionais, em que a epidemiologia muito auxilia na parte metodológica das investigações. 5) Determinação de prognóstico: a partir das investigações sobre o processo de evolução da doença, com o objetivo de descrever o quadro clínico, fornecem os elementos para se quantificar os prognósticos. 6) Identificação de síndromes e classificação de doenças: por intermédio dos estudos de epidemiologia pode-se agrupar os padrões reconhecidos em grupos homogêneos de características, de sinais e sintomas, e de prognósticos e utilizar estes dados básicos para desenvolver novas classificações ou aperfeiçoamento das já existentes, para distinguir uma condição patológica da outra. 7) Verificação do valor de procedimentos diagnósticos: autilização dos resultados de uma investigação epidemiológica está subordinada à precisão do diagnóstico feito em nível individual: a soma destes leva ao diagnóstico coletivo. AN02FREV001/REV 4.0 84 8) Planejamento e organização de serviços: as decisões tomadas na fase de planejamento e de gestão dos serviços de saúde devem estar baseados em informações epidemiológicas. Para isso, são empregadas algumas informações para subsidiar as decisões relativas à definição de prioridades e ao melhor uso dos recursos, tais como: - as informações referentes à magnitude e à distribuição dos problemas de saúde, dos fatores de risco e das características da população; - os resultados de estudos epidemiológicos controlados sobre relação causal entre características da população, fatores de risco e agravos de saúde; - as informações sobre os recursos financeiros, humanos e materiais. Assim, a tomada de decisão no planejamento em saúde leva à execução de “ações” que podem ou não mudar a condição de saúde de uma determinada população. 9) Avaliação das tecnologias, programas ou serviços: as avaliações são feitas em diferentes níveis, ou seja, refere-se ao plano ideal, à vida real e à quantificação dos custos no processo de avaliação. São eles que definem: - Eficácia: “capacidade de um produto em produzir efeitos benéficos no curso ou duração de uma doença”. Exemplo: vacinas, medicamentos, diagnósticos (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PROFISSIONAIS EM PESQUISA CLÍNICA, 2008); - Efetividade: qualidade ou estado daquilo que é efetivo, ou seja, realidade. Exemplo: Quando a avaliação é realizada no mundo real, com todas as imperfeições, ou uso de determinados produtos ou procedimentos, geralmente não tem o mesmo impacto obtido em condições ideais, visto que há pessoas que não os utilizam ou empregam de maneira inadequada; - Eficiência: fazer certo a “coisa” para não provocar perdas de tempo e recursos (retrabalho e desperdício). Na área da saúde os estudos sobre eficiência são realizados em números menores, comparados aos que visam a estimular os níveis de eficácia e efetividade. AN02FREV001/REV 4.0 85 10) Análise crítica de trabalhos científicos: o ensino da Epidemiologia permitiu a formação de profissionais da saúde com princípios básicos de metodologia científica, abrangendo os conceitos e os processos destinados à realização de investigação. 6.2 SEÇÃO 2 - PROCESSO SAÚDE-DOENÇA 6.2.1 Conceito Saúde e Doença Saúde – (latim) – salutis, derivado do radical salus (salvar, livrar do perigo). Doença – (latim) – dolentia, derivado de dolor e dolore (dor e doer). Saúde pode ser definida como “estado de adaptação do organismo ao ambiente físico, psíquico ou social em que vive, em que o indivíduo sente-se bem (saúde subjetiva) e não apresenta sinais ou alterações orgânicas evidentes (saúde objetiva)” (PEREIRA, 1997). Existem outras definições sobre saúde que podemos que destacar: a) Saúde é a ausência de doença (BOORSE, 1975); b) Saúde é um completo bem-estar físico, mental e social, e não meramente ausência de doença (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 1948); c) Saúde é o estado do indivíduo cujas funções orgânicas, físicas e mentais se acham em situação normal (FERREIRA, 1986); d) Saúde é o resultado do equilíbrio entre o indivíduo e o seu ambiente (DUBOS, 1965 apud PEREIRA, 1997). AN02FREV001/REV 4.0 86 Já doença pode ser definida como “estado de falta de adaptação ao ambiente físico, psíquico ou social, no qual o indivíduo sente-se mal (sintomas) e/ou apresenta alterações orgânicas evidenciáveis (sinais)”. 6.2.2 História Natural da Doença História natural da doença é o nome dado ao conjunto de reações que compreende as inter-relações do agente, do susceptível e do meio ambiente. Este processo global é afetado desde o estímulo patológico, passando pela resposta do homem ao estímulo, até as alterações que levam a um defeito, invalidez, recuperação ou morte (LEAVELL; CLARK, 1976 apud ROUQUAYROL; ALMEIDA-FILHO, 2003). Portanto, a história natural da doença tem desenvolvimento em dois períodos sequenciados, conforme figura 3: a) Vertente epidemiológica: é dirigida para as relações susceptível- ambiente; b) Vertente patológica: está relacionada com as modificações que se passam no organismo vivo. O homem está presente em todas estas etapas. É gerador das condições socioeconômicas, favorecedoras das anomalias ecológicas predisponentes a alguns dos agentes diretamente responsáveis por doenças. Ao mesmo tempo, é a principal vítima do contexto de agressão à saúde por ele favorecido. A história natural das doenças nada mais é do que um quadro esquemático que dá suporte à descrição das múltiplas e diferentes enfermidades. Sua utilidade maior é de apontar os diferentes métodos de prevenção e controle, servindo de base para a compreensão de situações reais AN02FREV001/REV 4.0 87 e específicas, tornando operacionais as medidas de prevenção (ROUQUAYROL; ALMEIDA-FILHO, 2003). 6.2.3 Prevenção das Doenças e Promoção da Saúde Etiologia e prevenção são aspectos muitos relacionados. O conhecimento da etiologia indica os melhores caminhos para concretizar a prevenção. 6.2.4 Etiologia Etiologia na vertente epidemiológica (período pré-patogênico): nesta fase estão os eventos que ocorrem na fase anterior à resposta biológica inicial do organismo. Para que possamos escolher as melhores medidas de prevenção é importante conhecer as relações causais sobre as características dos agentes e fatores de risco envolvidos, a intensidade das exposições, a susceptibilidade do organismo frente às agressões e as condições do ambiente onde estas situações ocorrem. Etiologia na vertente patológica (período de patogênese): encontram-se as reações que ocorrem no interior do corpo humano e que se sucedem da resposta orgânica da afecção. O conhecimento desta fase da doença permite a melhor escolha dos critérios para diagnósticos e tratamentos, com o objetivo de detectar e interromper a evolução da doença já instalada no organismo e, se possível, fazê-la regredir. AN02FREV001/REV 4.0 88 FIGURA 3 – HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA E A PREVENÇÃO FONTE: Rouquayrol; Almeida-Filho, 2003. 6.2.5 Medidas Preventivas Medidas preventivas são todas aquelas utilizadas para evitar as doenças ou suas consequências, quer ocorra sob forma esporádica, quer de modo endêmico ou epidêmico. 6.2.5.1 Classificação das medidas preventivas As medidas preventivas podem ser classificadas, segundo Pereira (1997), em: - Medidas inespecíficas e específicas: são ações propostas pela sociedade no intuito de influir na ocorrência da doença. As medidas AN02FREV001/REV 4.0 89 inespecíficas, ditas gerais ou amplas, têm objetivo de promover o bem-estar das pessoas; as específicas, ou restritas, incluem as técnicas próprias para lidar com cada dano à saúde, em particular. Exemplo: Doença de Chagas; - Prevenção primária, secundária e terciária (figura 4): As ações primárias são aplicadas em fases anteriores ao início biológico da doença e estão dirigidas para a manutenção da saúde. Exemplo: educação em saúde, saneamento ambiental. As secundárias ocorrem após o início da doença, quando ela está progredindo, seja em fase subclínica, seja de evolução clinicamente aparente, visam à tentativa de, se possível, fazê-la regredir. Exemplo: a administração de antibióticos em doenças infecciosas. O termo terciário visa incluir medidas recomendadas em fase mais avançada da doença, no intuito de prevenir deterioração ainda maior da história natural da doença e passou a ser amplamente utilizada. FIGURA 4 - NÍVEIS DE APLICAÇÃO DAS MEDIDAS PREVENTIVAS NA HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA PERÍODO PRÉ-PATOLÓGICOPERÍODO PATOLÓGICO Interação de fatores Alterações Precoces Primeiros Sintomas Doença Avançada Convalescenças Promoção da saúde Proteção específica Diagnóstico e tratamento precoces Limitação do Dano Reabilitação PREVENÇÃO PRIMÁRIA PREVENÇÃO SECUNDÁRIA PREVENÇÃO TERCIÁRIA MEDIDAS PREVENTIVAS FONTE: Pereira, 1997. Cinco níveis de prevenção: As prevenções (primárias, secundárias e terciárias) desdobram-se em cinco níveis (figura 5): 1) Promoção da saúde: - Educação sanitária; - Alimentação e nutrição adequada; AN02FREV001/REV 4.0 90 - Habitação adequada; - Emprego e salário adequado; - Condições para satisfação das necessidades básicas do indivíduo. 2) Proteção específica: - Vacinação; - Exame pré-natal; - Quimioprofilaxia; - Fluoretação da água; - Eliminação de exposição a agentes carcinogênicos. 3) Diagnóstico e tratamento precoce: - Rastreamento; - Exames periódicos de saúde; - Procura de casos entre contatos; - Autoexame; - Intervenção em função das necessidades. 4) Limitação do dano: - Acesso facilitado a serviços de saúde; - Tratamento médico ou cirúrgico adequado; - Hospitalização em função das necessidades. 5) Reabilitação: - Terapia ocupacional; - Treinamento de deficientes; - Melhores condições de trabalho para o deficiente; - Educação do público para aceitação do deficiente; - Próteses e órteses. AN02FREV001/REV 4.0 91 FIGURA 5 - NÍVEIS E APLICAÇÃO DAS AÇÕES DE SAÚDE E EQUIVALÊNCIA DE TERMOS EMPREGADOS PARA DESIGNÁ-LOS 1º. Nível 2º. Nível 3º. Nível 4º. Nível 5º. Nível Promoção da Saúde Proteção específica Diagnóstico precoce e tratamento oportuno Limitações do dano Reabilitação Prevenção Primária Prevenção secundária Prevenção terciária Prevenção Cura Reabilitação Promoção Proteção Recuperação FONTE: Pereira, 1997. 6.2.5.2 Promoção da saúde A promoção da saúde é uma das estratégias de produção de saúde. É um modo de pensar e de operar por meio das políticas e tecnologias do SUS para contribuir na construção de ações que possibilitam responder às necessidades sociais em saúde. No SUS a estratégia de promoção da saúde é uma possibilidade de enfocar os aspectos que determinam o processo saúde- doença em nosso país, como, por exemplo: violência, desemprego, subemprego, falta de saneamento básico, habitação inadequada e/ou ausente, dificuldade de acesso à educação, fome, urbanização desordenada, qualidade do ar e da água ameaçada, deteriorada; e potencializar formas mais amplas de intervir em saúde. Segundo a Política Nacional de Promoção de Saúde, entende-se, portanto, que a promoção da saúde: É uma estratégia de articulação transversal na qual se confere visibilidade aos fatores que colocam a saúde da população em risco e às diferenças entre necessidades, territórios e culturas presentes no nosso país, visando à criação de mecanismos que reduzam as situações de vulnerabilidade, defendam radicalmente a equidade e incorporem a participação e o controle sociais na gestão das políticas públicas. AN02FREV001/REV 4.0 92 Vê-se, portanto, que a promoção da saúde realiza-se na articulação sujeito/coletivo, público/privado, Estado/sociedade, clínica/política, setor sanitário/outros setores, visando romper com a excessiva fragmentação na abordagem do processo saúde-adoecimento e reduzir a vulnerabilidade, os riscos e os danos que nele se produzem. Conforme a Política Nacional de Promoção à Saúde para o biênio 2006-2007 foi priorizada as ações voltadas à: - Divulgação e implementação da Política Nacional de Promoção da Saúde; - Alimentação Saudável; - Prática Corporal/Atividade Física; - Prevenção e Controle do Tabagismo; - Redução da morbimortalidade em decorrência do uso abusivo de álcool e outras drogas; - Redução da morbimortalidade por acidentes de trânsito; - Prevenção da violência e estímulo à cultura de paz; - Promoção do desenvolvimento sustentável. 6.3 SEÇÃO 3 - MEDIDAS DE SAÚDE COLETIVA 6.3.1 Medidas de Frequência de Doenças A cada cinco minutos uma pessoa com idade entre 10 e 24 anos de idade é infectada pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) em todo mundo, ocorrendo cerca de 2,3 mil óbitos (COSTA; KALE, 2005). Em 2007, mais de 33 milhões de pessoas vivem com o vírus HIV, 1,6 milhão delas na América Latina, segundo as últimas estimativas da Onuaids. No mundo 33,2 milhões (entre uma estimativa de 30,6 a 36,1 milhões), sendo 30,8 milhões de adultos entre 15 e 49 anos (entre 28,2 e 33,6 milhões) e 2,5 milhões de crianças com AN02FREV001/REV 4.0 93 menos de 15 anos (de 2,2 a 2,6 milhões). Deste total, 15,4 milhões de adultos contaminados são mulheres (13,9 a 16,6 milhões) (PRESSES, 2007). Estes números despertam o interesse de muitas pessoas e são citados frequentemente, seja pelos meios de comunicação de massa, como em publicações especializadas. Eles nos permitem caracterizar, de diferentes maneiras, a ocorrência da AIDS. Em comum, estas estimativas expressam o quão frequente a infecção pelo HIV e a AIDS tem sido em diferentes momentos, regiões e população humana. Segundo Costa e Kale (2005), quantificar ou medir a frequência com que os problemas de saúde ocorrem em populações humanas é um dos objetivos da Epidemiologia. Assim, conforme Paneth (2008), para descrever a frequência de uma doença em uma determinada população podemos utilizar: 6.3.2 Frações O numerador e o denominador são elementos de mesma natureza e mesma dimensão, mas são de grupos excludentes, ou seja, o numerador não está incluído no denominador. A razão mede relação entre eventos. Exemplo: razão entre duas doenças, razão masculino/feminino. 6.3.3 Proporções Os casos incluídos no numerador são também subconjuntos do denominador, mas não expressam risco. Exemplo: mortalidade proporcional; letalidade. Os sinônimos para proporções são: risco, mas se expresso por 100 é uma percentagem. Muitas frações em Epidemiologia são proporções. AN02FREV001/REV 4.0 94 6.3.4 Coeficientes ou Taxas É considerada como uma proporção que muda com o tempo, mas, na prática, muitas vezes é usada como uma proporção, sem se referir ao tempo (como foi dito previamente para a taxa de mortes fetais). As medidas de frequência são definidas a partir de dois conceitos fundamentais da epidemiologia, denominados incidência e prevalência. A incidência e prevalência medem diferentes aspectos da morbidade, que será relatada nas próximas seções. a) INCIDÊNCIA Incidência é a frequência de casos novos de uma determinada doença, ou problema de saúde, oriundos de uma população sob risco de adoecimento, ao longo de um determinado período de tempo. O cálculo da incidência é a forma mais comum de medir e comparar a frequência das doenças em populações. Os casos novos, ou incidentes, são aqueles indivíduos não doentes no início do período de observação e, portanto, sob risco de adoecimento, que, no seu decorrer, acabam por adoecer. Em geral, entende-se por incidência a ocorrência do primeiro episódio da doença ou problema de saúde de interesse. As medidas de incidência estão necessariamente relacionadas à dimensão do tempo (COSTA; KALE, 2005). O termo casos novos depende do tipo de problema em foco, os casos podem referir-se: - ao número de pessoas afetadas; - ao número de episódios de um agravo à saúde. Segundo Pereira (1997), a incidência é a medida mais importante da Epidemiologia. Ela é preferida em investigações científicas, seja nas pesquisas AN02FREV001/REV 4.0 95 etiológicas, em estudos de prognóstico, na verificação da eficácia das ações terapêuticas e preventivas. Taxa de incidência: é a variação de um fenômeno por unidade de tempo,ou de uma variável qualquer. Uma taxa é a expressão da velocidade média com que ocorre o fenômeno de interesse. A taxa de incidência (TI) é calculada como a razão entre o número de casos novos de uma determinada doença ou problema de saúde, o total de pessoa-tempo gerada a partir da população de estudo acompanhada, de acordo com a equação: Taxa de incidência = Número de casos novos em determinado período X Constante Número de pessoas expostas ao risco, no mesmo período EXEMPLO: Entre 400 crianças pré-escolares, acompanhadas durante um ano, foram diagnosticados dois casos de sarampo. Calcule a incidência: I = 2x1000/400 = 5 casos em 1000 crianças no ano. Na expressão matemática do cálculo da taxa de incidência a constante é um múltiplo de 10; assim, expressaremos a incidência 10n habitantes. Da mesma forma, a constante pode ser 100, 1.000, 10.000, 100.000 ou 1.000.000 de habitantes. A escolha da unidade de referência (constante) é a critério do pesquisador e o tipo de estudo epidemiológico em questão. Para se comparar a ocorrência de doenças em diferentes populações deve-se usar a incidência e não números absolutos. A transformação do número absoluto de casos numa taxa relativa a uma população genérica (por exemplo, 100.000 habitantes) permite a comparação de coeficiente assim obtido com outros, cujo denominador tenha sido reduzido à mesma base – no exemplo, 100.000 habitantes (TANCREDI, 1998). Tipos de incidência: Conforme Pereira (1997), a variação nas especificações, tanto no numerador como do denominador, resulta em diferentes tipos de taxas de AN02FREV001/REV 4.0 96 incidência. No denominador da fórmula de um coeficiente, coloca-se a população sob risco. Nem sempre é fácil obter a informação exata sobre ela, de modo que aproximações têm de ser utilizadas para possibilitar a computação de coeficientes. Em estudos nos quais há o seguimento de corte de pessoas e sem perdas no seu período, essa população sob risco é a do início do período da observação (situação rara). Porém, em estudos de corte há perdas durante o desenrolar da investigação, sendo então conveniente levar-se em conta a fração de tempo que as pessoas nela participam, sob a forma de pessoa- tempo (PEREIRA, 1997). Pessoa-tempo: é o período durante o qual um indivíduo está exposto ao risco de adoecimento e, caso viesse a adoecer, seria considerado um caso novo ou incidente. É a expressão da experiência individual de exposição ao risco de adoecimento, referida a uma unidade de tempo, como o DIA, MÊS ou ANO. Assim, a fórmula geral para a incidência pelo método pessoa-tempo fica: Número de casos novos Tempo total de observação Exemplo: AN02FREV001/REV 4.0 97 Participante Tempo de participação Pessoa-ano 1 8 anos 8 2 2,5 anos 2,5 3 5 anos 5 4 3,5anos 3,5 5 8anos 8 6 7 anos 7 7 11 anos 11 Total 45 pessoas-ano Portanto, o denominador será composto pelo total de pessoas-ano, ou seja, 45 pessoas-ano. E o numerador pelo número de casos novos existentes no período. A quantidade de pessoa-tempo pode ser calculada de diferentes formas, dependendo do tipo de população e das características do estudo epidemiológico. As populações podem ser definidas como fechadas ou abertas. População fechada: é quando nenhum membro novo é a ela incorporado ao longo do tempo e seus integrantes a deixam somente devido à morte. O seu tamanho (N) diminui sistematicamente ao longo do tempo. População aberta: é se novos membros são adicionados no tempo, em decorrência da natalidade ou da imigração, e seus integrantes a deixam por emigração ou quando morrem. A população aberta é estável ou estacionária, para cada indivíduo que a deixa, por qualquer motivo, outro é reposto imediatamente no seu lugar, mantendo assim o seu tamanho constante. Assim, por esta forma de equivalência, tem-se em conta tanto o número de indivíduos quanto o tempo de duração de observação de cada um. A correção é aplicada no denominador, que passa a ser pessoa-ano e não número de pessoas. O coeficiente calculado, desta maneira, quando o denominador representa unidades em pessoas-tempo, também é denominado densidade de incidência (PEREIRA, 1997). Densidade de incidência: fornece a estimativa do verdadeiro risco de adquirir uma doença a qualquer momento em dado tempo. A expressão matemática da densidade de incidência é a seguinte: AN02FREV001/REV 4.0 98 Densidade de incidência = número de novos casos na unidade de tempo x Constante número de pacientes-tempo Por vezes, é possível medir a frequência da doença em uma população de composição constante, ou seja, uma população fixa. É o que ocorre em investigações longitudinais de morbidade, nas quais é feito o segmento de um grupo de pessoas por um determinado tempo, por exemplo, de indivíduos expostos a acidentes de radiação nuclear. Na população não há entrada de novos membros. Em tal situação, os resultados podem ser expressos por meio da incidência acumulada. Incidência acumulada (IA): fornece a melhor estimativa de quantas pessoas terá a doença em uma população. É estimada de acordo com a equação: IA = número de indivíduos acometidos pela doença, no período x Constante Número de indivíduos sadios, no início do período EXEMPLO: 26 casos de leucemia detectados entre 520 pessoas expostas à radiação pelo Césio 134, em 10 anos de acompanhamento. Cálculo da incidência cumulada: IA = 26/520 X 100 = 5 casos por 100 habitantes em 10anos Taxa de ataque: nos casos de doenças ou agravos de natureza aguda, que coloquem em risco toda a população ou parte dela por um período limitado, a incidência recebe a denominação taxa de ataque. É o que ocorre, tipicamente, nos surtos epidêmicos. As taxas de ataque são expressas em porcentagem. Para uma população definida (população sob risco), durante um intervalo de tempo limitado, podemos calcular a taxa de ataque da seguinte forma: AN02FREV001/REV 4.0 99 Taxa de ataque = Nº de casos novos numa população durante um determinado período x Constante População sob risco no início do período EXEMPLO: Entre os 257 pessoas que jantaram no restaurante A, no dia 21 de setembro de 2007, 90 desenvolveram um quadro agudo de gastrenterite. Assim, para calcular a taxa de ataque de gastrenterite, devemos primeiro definir o numerador e o denominador: Numerador: casos de gastrenterite identificados no intervalo de tempo correspondente ao período de incubação da gastrenterite entre as pessoas que participaram do jantar no restaurante A em 21 de setembro de 2007. Denominador: número de pessoas que participaram do jantar no restaurante A em 21 de setembro de 2007. Portanto, Taxa de ataque = 90x100/257 = 35% Assim, podemos dizer que a probabilidade de desenvolver um quadro de gastrenterite entre os participantes do jantar no restaurante A em 21 de setembro de 2007 foi de 35%. Taxa de ataque secundário: é a medida de frequência de casos novos de uma doença entre contatos de casos conhecidos. O cálculo da taxa de ataque secundário pode ser efetuado da seguinte forma: Taxa de ataque secundário = Nº de casos entre contatos de casos primários durante um intervalo de tempo x Constante Número total de contatos Exemplo: AN02FREV001/REV 4.0 100 FIGURA 6 – DISSEMINAÇÃO SECUNDÁRIA DE HEPATITE A A PARTIR DA CRECHE PARA RESIDÊNCIAS FONTE: Disponível em: http://www.saude.sc.gov.br/gestores/sala_de_leitura/saude_e_cidadania/ed_07/03_02_02.html. Acesso em: 27 Dez. 2012. Entre as 70 crianças que frequentam uma escola ocorreram sete casos de hepatite A. As crianças pertencem a sete diferentes famílias, compostas por um total de 32 pessoas. Após um intervaloequivalente a um período de incubação, cinco membros das sete famílias desenvolveram hepatite A. O cálculo da taxa de ataque de hepatite A na escola e a taxa de ataque secundário entre os contatos domiciliares deve ser feito da seguinte maneira: 1) Taxa de ataque na creche: Numerador: casos de hepatite A entre crianças que frequentam a escola = 7 Denominador: número de crianças que frequentam a escola = 70 Portanto, Taxa de ataque = 7x100/70 = 10% 2) Taxa de ataque secundário AN02FREV001/REV 4.0 101 Numerador: casos de hepatite A entre os contatos domiciliares das crianças que desenvolveram hepatite A= 5 Denominador: número de pessoas sob risco de desenvolverem hepatite A entre os contatos domiciliares (número de membros das famílias, excluídas as crianças que já apresentavam hepatite A). Portanto, Taxa de ataque = 5x100/ (32-7) = 500/25 = 20% A Taxa de mortalidade é um tipo de taxa de incidência que discutiremos com maiores detalhes mais adiante. Ela é a medida mais utilizada em saúde coletiva. b) PREVALÊNCIA Prevalência é definida como a frequência de casos existentes de uma determinada doença, em uma determinada população e em um dado momento (COSTA; KALE, 2005). Os casos existentes, ou prevalentes, são aqueles que envolvem pessoas que adoecem em algum momento do passado mais ou menos remoto, por exemplo, os casos antigos e os novos e que estão vivos quando se realiza a observação. Assim, os doentes que vierem a falecer antes do período de observação não são considerados da prevalência. A prevalência assemelha-se a uma fotografia na qual se registra a fração de indivíduos doentes, naquele instante do tempo. É uma medida estatística em relação ao processo de adoecer. No cálculo da prevalência o numerador abrange o total de pessoas que se apresentam doentes em um período determinado (casos novos acrescidos dos já existentes). Por sua vez, o denominador é a população da comunidade no mesmo período. A prevalência pode ser expressa da seguinte forma: AN02FREV001/REV 4.0 102 Taxa de Prevalência = Nº de casos existentes x Constante Número de pessoas da População durante o mesmo período EXEMPLO: Entre 400 crianças submetidas a exame de parasitológico de fezes, no início do ano, foram encontrados 40 com exames positivos para Ascaris. Calcule a prevalência: TP = 40/400 X 1000 = 100 casos em 1000 habitantes ou 10%. A prevalência pode ser entendida como um corte da população em determinado ponto no tempo. Nesse momento, determinam-se quem tem e quem não tem certa doença. Conforme as características da doença investigada, podemos encontrar pessoas que adoeceram há uma semana, um mês, um ano ou ainda 10 ou 15 anos. De um modo geral, quando estimamos a prevalência de uma doença na comunidade, não levamos em conta a duração. O termo prevalência, usado sem especificação, refere à prevalência pontual ou instantânea. Logo, é efetuada em um ponto definido no tempo, como, por exemplo, dia, semana, mês, ano. Sendo uma proporção, a prevalência pontual é uma medida adimensional. Os seus valores possíveis estão incluídos no intervalo fechado entre 0 e 1, e são usualmente expressos por percentuais. Entretanto, desde que especificadas, as estimativas de prevalência podem ser apresentadas como frações de qualquer potência com base igual a 10 (dez), com a intenção de facilitar a sua interpretação. Por exemplo, uma estimativa de prevalência igual a 0,01% equivale a um caso entre 10.000 pessoas (COSTA; KALE, 2005). No entanto, há também a prevalência no período, pouco empregada, que inclui os casos existentes em um dado momento somados aos que ocorreram no passado. AN02FREV001/REV 4.0 103 6.3.4.1 Relações entre incidência e prevalência FIGURA 7 - DIFERENTES RELAÇÕES ENTRE INCIDÊNCIA E PREVALÊNCIA FONTE: Saúde e Cidadania. Vigilância em Saúde Pública. Disponível em: <http://www.saude.sc.gov.br/gestores/sala_de_leitura/saude_e_cidadania/ed_07/03_02_04.htm l>. Acesso em: 25 fev. 2008. A figura 7 acima apresenta algumas relações entre incidência e prevalência. Na figura 7a observa-se um tanque, que representa uma comunidade, e o líquido, a prevalência. Como fazer para aumentar a prevalência? Na figura 7b, a prevalência pode aumentar com a elevação da incidência, sem um correspondente aumento das mortes e/ou curas. Como fazer para diminuir a prevalência? A figura 7c mostra-nos que a prevalência pode diminuir com a elevação do número de curas e/ou mortes, mantido o mesmo nível da incidência ou com sua diminuição. Como fazer para manter um determinado nível de prevalência? Analisando o esquema apresentado na figura 7d, verificamos que isso é possível quando mantemos a incidência e mortes ou curas constantes. A http://www.saude.sc.gov.br/gestores/sala_de_leitura/saude_e_cidadania/ed_07/03_02_04.html http://www.saude.sc.gov.br/gestores/sala_de_leitura/saude_e_cidadania/ed_07/03_02_04.html AN02FREV001/REV 4.0 104 prevalência pode ser expressa como o produto da incidência pela sua duração média, quando a incidência é constante. Prevalência = I X D Ou I = P/D Ou D = P/I Onde, I = Incidência P = Prevalência D = duração (tempo) Complementando a figura 7, vemos a seguir vários fatores que podem influenciar o comportamento da prevalência (figura 8). FIGURA 8 - FATORES QUE INFLUEM NA MAGNITUDE DAS TAXAS DE PREVALÊNCIA FONTE: Saúde e Cidadania. Vigilância em Saúde Pública. Disponível em: <http://www.saude.sc.gov.br/gestores/sala_de_leitura/saude_e_cidadania/ed_07/03_02_04.htm l>. Acesso em: 25 fev. 2008. AN02FREV001/REV 4.0 105 6.3.4.2 Uso das taxas de incidência e prevalência A prevalência é muito útil para medir a frequência e a magnitude de problemas crônicos, ao passo que a incidência é mais aplicada na mensuração de frequência de doenças agudas adquiridas. A incidência é mais importante quando se pensa na etiologia da desordem, prevalência quando se pensa na sobrecarga social da desordem, incluindo os custos e os recursos consumidos como um resultado da desordem. A incidência sempre requer uma duração, na prevalência pode ou não ser um requisito. Atividades de autoavaliação Teste seus conhecimentos: No final da apostila você encontrará a resolução do exercício, mas antes de ver a resposta, tente resolver sozinho. 1. Em 1/7/80 existiam 2.000 casos de tuberculose, em tratamento, em um dado município, cuja população era de 1.176.935 habitantes. Calcule o número de casos de tuberculose em relação à população. Trata-se de prevalência e incidência? a) Incidência, cujo número de casos é de: 1,7/1000 habitantes b) Prevalência, cujo número de casos é de: 1,7/1000 habitantes c) Incidência, cujo número de casos é de: 2,7/1000 habitantes d) Incidência, cujo número de casos é de: 0,7/1000 habitantes e) Prevalência, cujo número de casos é de: 2,7/1000 habitantes AN02FREV001/REV 4.0 106 6.3.5 Indicadores de Saúde Segundo Vermelho Costa e Kale (2005), os indicadores de saúde têm sido utilizados internacionalmente, com o objetivo de avaliar, sob o ponto de vista sanitário, a higidez de agregados humanos, bem como fornecer subsídios ao planejamento de saúde, permitindo o acompanhamento das flutuações e tendências históricas do padrão sanitário de diferentes coletividades, em diversos períodos de tempo. Os indicadores de saúde são expressos, em sua maioria, como já relatados na seção 3, por meio de proporções e de taxas. Indicador: é o que indica, ou seja, o que reflete uma particular característica. Em geral, o termo indicador é utilizado para representar ou medir aspectos não sujeitos à observação direta; a saúde está nesse caso, assimcomo a normalidade, a qualidade de vida e a felicidade (PEREIRA, 1997). “Indicador ou índice” são termos empregados, ora como sinônimos, o que era comum no passado, ora com significados distintos, o que é a tendência atual. O indicador inclui apenas um aspecto: por exemplo, a mortalidade. O índice expressa situações multidimensionais, pois incorporam em uma medida única diferentes aspectos ou diferentes indicadores. Por exemplo, índice de morbimortalidade: incorpora tanto o impacto das doenças quanto o dos óbitos que incidem em uma população. Usualmente, as populações a que se referem os indicadores de saúde são dinâmicas, definidas segundo áreas de residência, como, por exemplo, município, estado, ou países, e por um determinado período, em geral, um ano. Nesse contexto, o número de pessoas expostas ao risco de adoecimento, ou morte, varia ao longo do ano, pois, os nascimentos e mortes, assim como as migrações, ocorrem em diferentes momentos. Para tal, assume-se que os nascimentos, as mortes e as imigrações ocorrem homogeneamente ao longo do ano, ou seja, os movimentos de entrada e saída de pessoas se compensam, nos dois semestres de um ano. AN02FREV001/REV 4.0 107 6.3.5.1 Critérios de avaliação de indicadores Conforme Pereira (1997), a escolha do indicador mais apropriado depende dos objetivos de cada situação, em especial, das questões científicas formuladas, assim como de aspectos metodológicos, éticos e operacionais. a) Validade: refere-se à adequação do indicador para medir ou representar, sinteticamente, o fenômeno considerado. Exemplo: se a condição a ser mensurada for a anemia, a medida de hemoglobina no sangue periférico pode ser um indicador de escolha, já que alcança níveis de validade julgados consideráveis; b) Confiabilidade ou reprodutibilidade: significa a obtenção de resultados semelhantes, quando a mensuração é repetida. Exemplo: anemia e cardiopatia chagásica. Ao se verificar a repetição da dosagem de hemoglobina ou da leitura de um traçado eletrocardiográfico, em uma mesma amostra de material, apresenta concordância de resultados; c) Representatividade (cobertura): um indicador sanitário será tanto mais apropriado quanto maior a cobertura populacional que alcançar. Exemplo: Estatísticas vitais no Brasil; d) Questões éticas: é imperativo ético que a coleta de dados não acarrete malefícios ou prejuízos às pessoas investigadas; e) Ângulo técnico-administrativo: o emprego de indicadores exige considerações detalhadas de outras características como simplicidade, flexibilidade, facilidade em obtenção, custo operacional, compatível e oportunidade. AN02FREV001/REV 4.0 108 6.3.5.2 Principais indicadores de saúde O conhecimento das condições de saúde de uma população implica o manuseio adequado de numerosas informações. Em avaliações realizadas na área da saúde, são utilizados indicadores negativos, como mortalidade e a morbidade, em lugar dos positivos, do tipo bem-estar de vida e normalidade. Dentre os indicadores de saúde, em nosso estudo podemos destacar: MORBIDADE Morbidade é a medida de frequência de doença em uma população. Existem dois grupos importantes de taxas de morbidade: as de incidência e as de prevalência. Taxa de incidência Incidência = Nº de casos novos de uma doença num determinado período x Constante Somatório de pessoas-tempo acumulada pela população durante o mesmo período. Exemplo: Uma amostra aleatória, composta de 1.000 adultos, residentes em um dado município, é acompanhada por um ano. Findando este período, constatou-se que 100 deles foram vítimas de acidentes de trânsito. I = 100x100/1000= 10% acidentados ou 100 acidentes em 1000 habitantes A incidência de acidentes de trânsito na população está contida em um intervalo de confiança de, em geral, 95% obtido a partir da incidência pontual, da seguinte forma: I + 2 √I(1-I)/n = 0,1 + 2√0,1(1-0,1)/1000 = 0,1+0,02 Limite inferior do intervalo= 0,1-0,02 = 0,08= 8% Limite superior do intervalo = 0,1+0,02 = 0,12 =12% Portanto, os limites do intervalo são 0,08 a 0,12, ou seja, o limite de confiança vai de 8% a 12%. AN02FREV001/REV 4.0 109 Taxa de prevalência: Prevalência = Nº de casos conhecidos da doença num determinado período x Constante População durante o mesmo período Exemplo: Uma investigação realizada em um dado município promoveu o exame de pressão arterial de 1.000 adultos, aleatoriamente selecionados, dos quais 100 foram considerados hipertensos. P = 100x100/1000= 10% hipertensos ou 100 hipertensos em 1000habitantes A prevalência de hipertensão na população estará contida em um intervalo de confiança de, em geral, 95% obtido a partir da incidência pontual, da seguinte forma: I + 2 √I(1-I) /n = 0,1 + 2√0,1(1-0,1) /1000 = 0,1+0,02 Limite inferior do intervalo= 0,1-0,02 = 0,08= 8% Limite superior do intervalo = 0,1+0,02 = 0,12 =12% Portanto, os limites do intervalo são 0,08 a 0,12, ou seja, o limite de confiança vai de 8% a 12%. Existe um complexo problema conceitual quando se lida com morbidade, pois diferentes perspectivas podem ser consideradas. A palavra doença denota uma ou todas as seguintes acepções: a) Anormalidade do estado de saúde, da maneira como ele é percebido pelo paciente, ou seja, uma queixa, sofrimento ou incômodo físico ou mental. O termo moléstia é o mais adequado para caracterizar esta situação; b) Anormalidade biológica em estrutura ou função, diagnosticada por um profissional de saúde, após o exame do paciente. Em termos técnicos, doença designa uma entidade patológica definida por: um agente etiológico reconhecido, um grupo identificável de sinais e sintomas e alterações anatômicas consistentes; AN02FREV001/REV 4.0 110 c) A expressão social da morbidade representada pelas atitudes e comportamentos assumidos pelas pessoas, quando percebem desvios da normalidade na sua própria saúde. Então, um indivíduo pode sentir-se mal (refere-se ao item A) sem ter anormalidade orgânica detectável (item B) e nem passar-se por doente (item C). Outro pode sentir-se bem (item A), mas, ser portador, sem saber, de uma anormalidade biológica (item B) e quando dela tem conhecimento, após um exame médico, assumir ou não o papel de doente (item C) (PEREIRA, 1997). Em resultado das diferentes acepções acima descritas, as frequências de morbidade na população serão variáveis em função do aspecto, que é levado em conta na aferição. Assim, os profissionais de saúde referem-se a dois aspectos básicos: - Morbidade referida: é aquela percebida pelo indivíduo e relatada por ele durante uma entrevista; - Morbidade observada ou diagnosticada: é aquela diagnosticada por um examinador independente, em geral, um profissional da saúde de nível superior, utilizando métodos apropriados, cientificamente testados. Fontes de dados para o conhecimento da morbidade As fontes de dados para a computação de indicadores de morbidade podem ser os “registros” e as “pessoas”. Os registros rotineiros de dados são muito convenientes para o estudo da morbidade: eles existem em todos os estabelecimentos que fazem documentação, por escrito, das pessoas que os procuram, dos seus motivos, diagnósticos, tratamentos e encaminhamentos. Estes registros podem ser disponibilizados em forma de quadros estatísticos. As publicações contendo estatísticas de morbidade representam a primeira fonte de informação para o profissional de saúde, é uma forma rápida de coleta de dados. Na ausência de estatísticas que informem adequadamente a extensão do problema e suas principais características podem-se utilizar os levantamentos, investigando-se os prontuários, ou por inquéritos, entrando AN02FREV001/REV 4.0 111 em contato com as pessoas, para saber o estado de saúde e os fatores a ele relacionados,entre os quais as opiniões e atitudes dos indivíduos. Registro rotineiro de atendimento Os principais registros rotineiros de dados sobre a saúde das pessoas, utilizados para a elaboração dos perfis de morbidade, são: a) Prontuários: são documentos resultantes das consultas, exames complementares e internações que as pessoas se submetem, e são mantidas em fichas, formulários ou atestados. Este documento permite acompanhar a evolução dos cuidados ao paciente e de sua saúde, constituindo-se um meio de comunicação entre os profissionais de saúde que se interessam no caso para um eventual atendimento; b) Notificação compulsória: é a notificação obrigatória de casos de doenças da listagem de doenças de notificação compulsória. Além das doenças de notificação compulsória todo e qualquer surto ou epidemia, assim como a ocorrência de agravo inusitado, independente de constar na lista de doenças de notificação compulsória, deve ser notificado. A obrigatoriedade da notificação é definida pela Lei nº 6.259, de 30 de outubro de 1975. O sistema resultante é chamado de “vigilância epidemiológica”, que será tratado na seção 5. A notificação compulsória produz informações valiosas para o trabalho diário de departamentos de saúde pública, pois permite tomar as medidas cabíveis em relação às pessoas e aos seus contatos; c) Registro de doenças: determinadas doenças são objetos de atenção especial, estabelecendo-se para elas um sistema próprio de anotação. Os tipos de registros de doenças podem ser classificados em três categorias: - Uni-institucional: é aquele que centraliza os dados dos pacientes atendidos na instituição, portadores de uma determinada condição. Exemplo: doenças infecciosas crônicas, tuberculose, hanseníase, câncer, AIDS; - Multi-institucional: trata-se de um sistema de informação sobre um dado agravo à saúde semelhante ao anterior, porém em maior escala, pois há uma rede de estabelecimentos envolvidos. Exemplo: projetos multicêntricos; AN02FREV001/REV 4.0 112 - Populacional: o registro em base populacional representa a tentativa de coletar dados uniformes sobre todos os casos novos de uma doença, ocorridos em uma população, de tamanho e composição conhecida. d) Cruzamento de dados: nos grandes centros urbanos existem muitos estabelecimentos de saúde, cada qual retendo dados detalhados sobre doenças e óbitos do estrato da população que atende, com omissão de parte significativa de outros segmentos, cujo conhecimento seria importante para a elaboração do perfil local de morbidade. A técnica de cruzamento (ou ligação) de registro é conhecida também pela terminologia linkage; e) Inquéritos de morbidade: têm o objetivo de obter dados sobre a frequência de agravos à saúde que ocorrem na população. Ao lado da investigação da morbidade são incluídos tópicos sobre fatores de risco, serviços de saúde, o consumo de medicamentos, conhecimentos, atitudes, práticas relacionadas com a saúde, além de dados demográficos para caracterizar as pessoas das quais os dados foram obtidos. Os tipos de inquéritos são: - Por entrevista e exames: a entrevista é o método mais utilizado em inquéritos domiciliares, por sua simplicidade; - Inquéritos gerais e específicos: os inquéritos gerais têm o objetivo de investigar o conjunto de agravos à saúde em uma população definida, ou seja, a morbidade geral. Nos inquéritos específicos busca-se investigar uma condição de cada vez, por exemplo: hipertensão, alcoolismo, diabetes ou estado nutricional; - Pesquisa nacional por amostragem de domicílios (PNAD): tem o propósito de buscar as informações não disponíveis ou não suficientes cobertas pelos sistemas convencionais de informação econômica e social, de modo a compor uma visão geral e atualizada do país. O PNDA é um inquérito de prevalência. A abrangência é nacional, sendo representativa de unidades da federação e das nove regiões metropolitanas. Não é feito na região rural do norte do Brasil, por questões econômicas; - Prevalência e incidência: refere-se, por facilidades operacionais e visando redução de custos, à procedência de uma estimativa da frequência do AN02FREV001/REV 4.0 113 evento por meio da obtenção de dados em amostragem aleatória desta população. Atividades de autoavaliação Teste seu conhecimento. No final da apostila você encontrará a resposta, mas antes de ver, tente fazer sozinho. 2. No ano de 1992 foram detectados 473 casos novos de hanseníase no DF. No final daquele ano, 2.563 estavam em tratamento, incluindo casos antigos. Admitindo-se uma população de 1,5 milhão de habitantes, calcule as respectivas taxas de incidência e prevalência. a) Prevalência: 1,7/1000 habitantes e incidência: 0,3/1000 habitantes. b) Prevalência: 0,3/1000 habitantes e incidência:1,7/1000 habitantes. c) Prevalência: 0,5/1000 habitantes e incidência:1,7/1000 habitantes. d) Prevalência: 0,7/1000 habitantes e incidência: 0,3/1000 habitantes. e) Prevalência: 1,7/1000 habitantes e incidência: 0,6/1000 habitantes. Classificação da morbidade – Classificação internacional das Doenças (CID) Por intermédio da Portaria nº 1.311, de 12 de setembro de 1997, foi definida no Brasil a implantação da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10), que entrou em vigor em janeiro de 1998, em todo o território brasileiro, nos itens Morbidade Hospitalar e Ambulatorial. Assim, compatibilizando o Sistema de Informação de Mortalidade, objeto da portaria GM/MS/nº 1.832/94, com o de Morbidade. Grupo de causas na Classificação Internacional de doenças (Décima Revisão – CDI): I Algumas doenças infecciosas e parasitárias (A00-B99); AN02FREV001/REV 4.0 114 II Neoplasias [tumores] (C00-D48); III Doenças do sangue e dos órgãos hematopoiéticos e alguns transtornos imunitários (D50-D89); IV Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas (E00-E90); V Transtornos mentais e comportamentais (F00-F99); VI Doenças do sistema nervoso (G00-G99); VII Doenças do olho e anexos (H00-H59); VIII Doenças do ouvido e da apófise mastoide (H60-H95); IX Doenças do aparelho circulatório (I00-I99); X Doenças do aparelho respiratório (J00-J99); XI Doenças do aparelho digestivo (K00-K93); XII Doenças da pele e do tecido subcutâneo (L00-L99); XIII Doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo (M00-M99); XIV Doenças do aparelho geniturinário (N00-N99); XV Gravidez, parto e puerpério (O00-O99); XVI Algumas afecções originadas no período perinatal (P00-P96); XVII Más formações congênitas, deformidades e anomalias cromossômicas (Q00-Q99); XVIII Sintomas, sinais e achados anormais de exames clínicos e de laboratório, não classificados em outra parte (R00-R99); XIX Lesões, envenenamento e algumas outras consequências de causas externas (S00-T98); XX Causas externas de morbidade e de mortalidade (V01-Y98); XXI Fatores que influenciam o estado de saúde e o contato com os serviços de saúde (Z00-Z99). AN02FREV001/REV 4.0 115 MORTALIDADE Taxa de mortalidade ou coeficiente de mortalidade é um dado demográfico do número de óbitos, geralmente para cada mil habitantes em uma dada região, em um período de tempo. A taxa de mortalidade pode ser tida como um forte indicador social, já que, quanto piores as condições de vida, maior a taxa de mortalidade e menor a esperança de vida. No entanto, pode ser fortemente afetada pela longevidade da população, perdendo a sensibilidade para acompanhamento demográfico (PEREIRA, 1997). Principais usos: Descrição das condições de saúde de uma população; Investigação epidemiológica; Avaliação de intervenções saneadoras. Limitações do uso da mortalidade como indicador: Exprimem gravidade/ refletem uma história incompleta da doença; Danos que raramente levam ao óbitonão são representados; Óbitos são eventos que incidem em pequena parcela da população; As mudanças nas taxas de mortalidade são lentas (ROUQUAYROL; ALMEIDA-FILHO, 2003). Principais indicadores de mortalidade: Coeficiente geral de mortalidade: é o número total de óbitos ocorridos em uma população e em determinado período – um ano, habitualmente – é dividido pelo número de habitantes existentes no mesmo período (PEREIRA, 2007). http://pt.wikipedia.org/wiki/Demografia http://pt.wikipedia.org/wiki/Indicador_social http://pt.wikipedia.org/wiki/Esperan%C3%A7a_de_vida http://pt.wikipedia.org/wiki/Longevidade http://pt.wikipedia.org/wiki/Demografia AN02FREV001/REV 4.0 116 Coeficiente de mortalidade geral = Número total de óbitos no período x 1.000 População total, no período EXEMPLO: A população brasileira, estimada pelo IBGE para o ano de 2004 foi de 179.108.134 habitantes, sendo a maioria 50,8% do sexo feminino. A região sudeste apresenta a maior concentração de população (42,6%), seguida pela região nordeste (27,8%). Em 2004, foi registrado um total de 1.024.073 óbitos, dos quais 58% foram de indivíduos do sexo masculino (BRASIL, 2006). Assim, o coeficiente geral do Brasil em 2004 foi: Coeficiente de mortalidade geral = 1.024.073/179.108.134 x 1000 = 5,7 por 1000habitantes Logo, morrem cerca seis pessoas em cada mil habitantes. Coeficientes específicos e mortalidade proporcional: pode-se organizar a distribuição de óbitos para numerosas características e do meio ambiente. Os registros oficiais de óbitos, em geral, são precisos para expressar a mortalidade pelos seguintes parâmetros: sexo, idade, causa, local de residência do falecido e local e época de ocorrência do óbito. Formas mais comum de apresentação das estatísticas: Mortalidade por sexo: separar os óbitos por sexo é um caminho habitualmente seguido para estudar o perfil da mortalidade, haja vista as marcantes diferenças existentes, neste particular, entre o que ocorre no homem e na mulher (PEREIRA, 1997). Coeficiente de mortalidade por sexo = Número total de óbitos de um sexo no período x 1.000 População do mesmo sexo, no período AN02FREV001/REV 4.0 117 EXEMPLO: A população masculina estimada pelo IBGE para o ano de 2004 foi de 88.121.202 homens. Em 2004, foi registrado um total de 593.962 óbitos de indivíduos do sexo masculino (BRASIL, 2006). Assim, a taxa de mortalidade do Brasil para o sexo masculino foi: Coeficiente de mortalidade homens = 593.962/88.121.202 x 1000 = 0,67 por 1000 habitantes ou 6,7 por 10000 habitantes Logo, morrem cerca de sete homens em cada mil habitantes. Mortalidade por local: quando um doente falece, o óbito deve ser registrado em cartório no local que ocorreu o falecimento. Mortalidade por causa: na falta de dados de morbidade que apontam para a frequência de doenças, a taxa de mortalidade suprime, em parte, esta deficiência, subsidiando os profissionais de saúde com informações sobre determinadas condições mórbidas. As causas apostas nos atestados nos permitem conhecer de que morrem as pessoas e, em seu conjunto, fornecem o perfil de saúde da população (PEREIRA, 1997). Coeficiente de mortalidade por causa = Número total de óbitos por determinada causa no período x 100mil População Total de causas no período O modo mais simples de representar a mortalidade por causa consiste em distribuí-la segundo os cinco grupos em que ocorre maior número de óbitos: Coeficiente de mortalidade materna: é considerada morte materna o óbito de mulher em idade fértil devido a complicações da gestação, do parto e do puerpério. AN02FREV001/REV 4.0 118 Coeficiente de mortalidade materna = Número de óbitos por causa ligada à gravidez, parto x 100mil e puerpério, no período . Número de nascidos vivos, no período Coeficiente de mortalidade de causas externas: englobam os suicídios, homicídios e os acidentes. É a categoria das mortes não naturais. Coeficiente de mortalidade causas externas = Número de óbitos por causa ligada homicídio, suicídio x 100 mil e acidente Total de óbitos no período Coeficiente de mortalidade de causas evitáveis: englobam as causas evitáveis ou susceptíveis de redução ou eliminação, por intermédio dos diversos instrumentos resolutivos do sistema de saúde. Exemplo: Morte materna obstétrica. Coeficiente de mortalidade causas externas = Número de óbitos por causa ligada causas evitáveis x 100mil no período. Total de óbitos no período Mortalidade por idade: é a expressão do número de óbitos por grupos etários. Coeficiente de mortalidade por idade = Número total de óbitos no grupo etário no período x 100mil População do mesmo grupo etário, na metade do período A distribuição de óbitos por grupo etário é a forma mais utilizada de estatística de mortalidade. A escolha das faixas etárias a serem usadas não é feita ao acaso, conforme a decisão de cada profissional. A OMS fornece orientações sobre estes tópicos no próprio manual da CID. As agências governamentais já apresentam os dados relativos aos óbitos, agrupados em determinadas faixas etárias. Os óbitos neonatais x pós-neonatais É clássico dividir o primeiro ano de vida em dois períodos: Neonatais ou infantil precoce: corresponde às quatro primeiras semanas de vida; AN02FREV001/REV 4.0 119 Pós-natais ou infantil tardio: referente ao período restante do primeiro ano de vida. No início da vida extrauterina, corresponde ao período neonatal, sobressaem, na morbimortalidade, as repercussões das agressões sofridas pelo feto, durante a vida intrauterina, e também das condições do parto. Segundo Vermelho Costa e Kale (2005), é conveniente dividir em fases o período que vai da concepção ao final do primeiro ano de vida, para melhor investigar a incidência dos óbitos, pois riscos de morrer não estão igualmente distribuídos no período: FIGURA 9 – REPRESENTAÇÃO DA DURAÇÃO DOS PERÍODOS PERINATAIS, NEONATAIS E INFANTIL Concepção 22semanas de gestação Período perinatal Parto 0 Período neonatal precoce Período neonatal (ou infantil precoce Primeiro ano de vida (Período infantil) 7 dias Período neonatal tardio 14 dias 21 dias 28 dias Período pós- neonatal (ou infantil tardio) Primeiro aniversário FONTE: Vermelho; Leal; Kale, 2005. Conforme Vermelho, Leal e Kale (2005), o risco de morte varia ao longo do primeiro ano de vida, principalmente quando se consideram as causas AN02FREV001/REV 4.0 120 de óbitos e seus respectivos fatores determinantes. Por este motivo, o coeficiente de mortalidade infantil é subdividido em dois componentes, denominados: neonatal e pós-neonatal. O coeficiente de mortalidade infantil é uma estimativa do risco de morte antes de completarem um ano de idade. É o indicador mais empregado para medir o nível de saúde e de desenvolvimento social de uma região. O seu cálculo é apresentado pela equação a seguir: Coeficiente de mortalidade infantil = Número total de óbitos de crianças < 1ano x Constante Número de nascidos vivos no período No Brasil, no ano de 2004, os óbitos de menores de um ano de idade foram de 54.183 crianças e a taxa de mortalidade infantil foi 22,6/1000, ou seja, 22,6 óbitos de crianças com idade inferior a um ano a cada 1.000 nascidos vivos (BRASIL, 2006). Os coeficientes de mortalidade infantil são classificados em baixo, médio ou alto, em função da proximidade ou distância que varia com o tempo. Interpretação do coeficiente de mortalidade infantil: 50 ou mais = Alta; 20-49 = Média; Abaixo de 20 = Baixa. Coeficiente