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Sexologia e a Terceira Idade - Módulo 02

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AN02FREV001/REV 4.0 
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PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA 
Portal Educação 
 
 
 
 
 
 
CURSO DE 
SEXOLOGIA E A TERCEIRA IDADE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aluno: 
 
EaD - Educação a Distância Portal Educação 
 
 
 
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CURSO DE 
SEXOLOGIA E A TERCEIRA IDADE 
 
 
 
 
 
 
MÓDULO II 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este 
Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição 
do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido 
são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. 
 
 
 
 
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MÓDULO II 
 
 
4 ATIVIDADE SEXUAL NA TERCEIRA IDADE 
 
 
FIGURA 2 - ATIVIDADE SEXUAL NA TERCEIRA IDADE 
 
FONTE: Banco de imagens do Portal Educação. 
 
 
Como foi abordado nos tópicos anteriores, mesmo com o avanço da idade e 
com as limitações, os idosos ainda têm necessidade de afeto e em muitos casos 
permanece o desejo sexual. Esta fase da vida é limitada devido às doenças, falta de 
estímulo, insatisfação física em razão das mudanças do corpo, ou também devido à 
intimidação que ocorre por meio do preconceito da sociedade. 
Vários estudos têm demonstrado que mesmo o indivíduo com idade acima 
de 65 anos pode usufruir de uma atividade sexual satisfatória, desde que esteja 
estimulado, orientado e confiante. 
 
 
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O homem e a mulher na terceira idade passam por adaptação da sua 
atividade sexual. Essas adaptações nem sempre são fáceis para o casal idoso, que 
além das alterações anatômicas como a diminuição da estatura, aumento do tecido 
adiposo no tronco e também as mudanças fisiológicas próprias do envelhecimento 
também passam a enfrentar problemas psicológicos como a depressão. 
As mudanças, alterações do corpo e da aparência da mulher com o avanço 
da idade são encaradas muitas vezes por esta classe como perda da sua beleza e 
de atração. Ao contrário da classe feminina, o homem encara as mudanças sexuais 
com o avanço da idade como uma das principais frustações nesta fase. 
Vasconcelos et al. (2004 apud FERNADES 2009, p. 2) referem que o 
processo de envelhecimento é marcado por preconceitos no social, como a 
incompetência e a impotência sexual vistas na velhice. Segundo os autores, entre 
tantas exigências que as alterações do envelhecimento enfrentam, o idoso passa 
por diversas dificuldades para preservar a sua identidade pessoal e a integridade de 
alguns papéis e funções como aqueles relativos à sexualidade. 
Cardoso et al. (2012, p. 35) explicam que a manifestação da sexualidade no 
idoso pode ocorrer de várias formas, como abraçar, tocar, acarinhar, falar, olhar ou 
ouvir. Estes atos podem ser tão agradáveis quanto às relações com pênis e vagina, 
que apesar de serem adequadas na terceira idade, não é o único ato da 
sexualidade. 
 
 
4.1 CLIMATÉRIO E MENOPAUSA 
 
 
O climatério é uma fase biológica da vida e não um processo patológico que 
compreende a transição entre o período reprodutivo e o não reprodutivo da vida da 
mulher. A menopausa o último ciclo menstrual, geralmente presente em torno dos 48 
aos 50 anos de idade (MS, 2008, p.11). 
As diferentes fases na vida da mulher, tais como a primeira menstruação - 
chamada de menarca- a gestação ou a última menstruação, são passagens 
marcantes para o corpo e para o psicológico da mulher. Cada cultura apresenta um 
significado diferenciado para essas passagens. A discriminação de gênero pode 
 
 
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afetar direta ou indiretamente as mulheres no climatério e na menopausa, 
provocando o sentimento de incompetência, de insegurança e incapacidade de 
desempenhar suas funções habituais ou de envolver-se em projetos futuros (MS, 
2008, p. 15). 
Em um estudo descritivo-exploratório de Valença e Germano (2010) para 
identificar o grau de conhecimento das mulheres no climatério em relação aos sinais 
e sintomas e medidas de autocuidado, foram selecionadas 50 participantes com 
idade entre os 49 e 59 anos. Após o levantamento de dados notou-se que 84% das 
mulheres afirmaram já ter ouvido falar sobre o climatério e 94% sobre a menopausa. 
No entanto, segundo os pesquisadores, a maior parte delas, ou seja, 66% tinham 
uma visão inconsciente e superficial acerca do climatério e da menopausa, como é 
demonstrado pelos autores em algumas respostas das entrevistas. 
 
Acerca de climatério relacionado à terceira idade, destaca-se a fala de 
Joquebede. Não sei o que é climatério, nunca ouvi falar, mas acho que é o 
início da terceira idade (Joquebede). Frequentemente, o climatério é 
reportado como sendo o mesmo que menopausa, tal confusão persiste em 
algumas falas: Climatério é algo sobre a mulher e derivado da menopausa 
(Marta). É a fase da menopausa que se chama climatério (Eva). Menopausa 
para mim é a mesma coisa de climatério (Mara). Quando questionadas 
acerca do que significa a menopausa, expressaram-se associando esta a 
uma patologia: Menopausa? Mas eu tenho menopausa, eu não menstruo 
mais. Eu acho que é uma doença porque quando eu menstruava não sentia 
nada disso que sinto hoje (Zilá). Menopausa é quando a mulher para de 
menstruar e aparece todo tipo de doença (Quetura). Foram abordadas 
ainda outras visões da menopausa como sendo o mesmo que terceira idade 
ou como fase ou período da vida: É o início da terceira idade, muito 
prejudicial em todos os sentidos (Hadassa). Menopausa é a fase que a 
mulher está parando o ciclo menstrual (Zilá). (VALENÇA; GERMANO, 2010, 
p. 164-165). 
 
Em relação ao perfil das entrevistadas, 64% eram casadas e 14% viúvas, 
36% tinham ensino fundamental completo e 30% ensino médio completo, 36% eram 
donas de casa, 32% trabalhavam como autônomas e 64% tinham renda maior que 
dois salários mínimos (VALENÇA; GERMANO, 2010, p. 164). 
O fim do ciclo reprodutivo, os distúrbios hormonais na terceira idade nas 
mulheres, é um dos entraves para a qualidade da vida sexual. A falta de 
oportunidade de relações sexuais para este grupo, como doenças dos seus 
cônjuges, o desinteresse dos seus parceiros para o sexo, e a viuvez, também são 
fatores que influenciam na redução da atividade sexual na classe feminina. 
(BRIGUEIRO, 2000 apud FERNANDES 2009, p. 3). 
 
 
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Em relação ao desinteresse sexual por parte do parceiro, os autores Gradim, 
Sousa e Lobo (2007, p. 210) trazem no seu estudo um depoimento importante de 
uma idosa que relata a ausência: “Ele já é mais idoso que eu, então ele já se 
acomodou. E ele acomodando, eu também me acomodei. O que não é procurado é 
esquecido. Então, já que ele não tinha esse incentivo para o ato, eu também não 
incentivei (Maria, 79 anos)”. 
Fernandez, Gir e Hayashida (2005, p. 129), com objetivo de identificar os 
aspectos positivos e negativos na atividade sexual de mulheres no climatério, 
realizaram um estudo descritivo com 45 mulheres nesta fase de transição, atendidas 
em um Serviço de Ginecologia e Obstetrícia. Do total dessas mulheres 
entrevistadas, segundo a pesquisa, 86 situações foram mencionadas por este grupo 
e posteriormente classificadas em três situações pelos pesquisadores como sendo 
as mais abrangentes: o relacionamento a dois, o ato sexual e a mulher como ser 
social. Os resultados desses dados demonstraram que deste grupo, 41 (47,7%) 
consideravam positivas essas situações e 45 (52,3%) negativas (Tabela 2, 3 e 4). 
 
 
 
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TABELA 2 – SUBCATEGORIAS DE SITUAÇÕES RELACIONADAS À 
SEXUALIDADE VIVENCIADAS POR MULHERES NO CLIMATÉRIO, 
AGRUPADAS NA CATEGORIA RELACIONAMENTO A DOIS 
(RIBEIRÃO PRETO-SP, 199) 
 
FONTE: FERNANDEZ, GIR e HAYASHIDA (2005, p. 131). 
 
 
 
 
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TABELA 3 – SUBCATEGORIAS DESITUAÇÕES RELACIONADAS À 
SEXUALIDADE VIVENCIADAS POR MULHERES NO CLIMATÉRIO, 
AGRUPADAS NA CATEGORIA ATO SEXUAL (RIBEIRÃO PRETO-SP, 1999) 
 
FONTE: FERNANDEZ, GIR e HAYASHIDA (2005, p. 133). 
 
 
TABELA 4 – SUBCATEGORIAS DE SITUAÇÕES RELACIONADAS À 
SEXUALIDADE VIVENCIADAS POR MULHERES NO CLIMATÉRIO, 
AGRUPADAS NA CATEGORIA RELACIONAMENTO A DOIS 
(RIBEIRÃO PRETO-SP, 1999) 
 
Fonte: FERNANDEZ, GIR e HAYASHIDA (2005, p. 133). 
 
 
 
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Já a menopausa envolve vários aspectos, não unicamente biológicos, mas 
também psicológicos e socioculturais. Segundo Serrão (2007, p 12), no seu estudo 
relacionado a representações sociais na menopausa, as mulheres mais velhas 
declaravam sentimento mais otimista quando comparado às mulheres mais jovens. 
Porém, os sentimentos ou atitudes negativas seriam decorrentes dos sintomas 
relacionados à menopausa, como por exemplo, irritabilidade e os suores noturnos. 
O ciclo menstrual ainda permanece idealizado, servindo como uma 
referência para a identidade feminina ou sendo um sinal de saúde, de juventude, de 
prova de sua grandeza quanto ao “ser mulher”, ou também garantia de igualdade 
perante o restante da sua classe. 
 
Quando eu entrei [...] eu senti [...] uma tristeza e senti assim uma grande 
perda, como uma pessoa perde assim a beleza e a juventude de momento. 
Mas depois eu acordei, falei que não era, pensei assim que todo mundo 
passa, todo mundo passa por isso [...]. Eu sou o que eu sou hoje, eu acho 
normal (Juliana, 72 anos). (GRADIM, SOUSA e LOBO 2007, p. 209). 
 
Em relação a essas convicções do parágrafo anterior, Serrão (2007, p. 12) 
faz uma importante abordagem referente à representação para a mulher quando é 
chegado o fim do seu ciclo menstrual, o autor explica que além de alguns sinais de 
irritabilidade, impaciência, depressão, esta fase surge também como um discurso 
generalizado com algum tipo de preconceito, como, “Está na menopausa!” ou “Está 
na meia-idade!”. 
A maturidade na mulher é vivenciada com pavor e medo entre as 
sociedades que valorizam a juventude, sobretudo pelas perdas da capacidade 
reprodutiva. Em algumas culturas, a mulher que chega ao climatério ou à 
menopausa é vista como sábia e madura, como alguém que possui a capacidade de 
assumir novos papéis na sociedade (FERNANDEZ; GIR; HAYASHIDA, 2005, p.135). 
Alguns estudos revelam que a menopausa apresenta diversas 
representações quando referenciada por mulheres nesta fase, sendo o 
envelhecimento e a infertilidade umas das representações mais destacadas pela a 
classe feminina. Delanoe (1997 apud SERRÃO, 2007, p.13) faz uma importante 
classificação da representação social em relação à menopausa, classificando as 
mulheres nesta fase da seguinte forma: 
 
 
 
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(a) Negativas: as mulheres com esta representação caracterizam a 
menopausa como uma mudança problemática ligada à perda de 
feminilidade, ao final da capacidade de sedução, ao início do 
envelhecimento e à passagem ao papel de avó; (b) Ambivalentes, 
caracterizadas por uma representação social negativa, paradoxal a uma 
experiência pessoal neutra; (c) Neutras, as mulheres com esta 
representação são mais jovens e para elas a menopausa é pouco referida 
como perda de feminilidade ou como velhice e a amenorreia é sentida como 
alívio; e, (d) Positivas, este tipo de representação é encontrado em 
mulheres mais velhas, pós-menopáusicas, que consideram que a 
menopausa não constitui uma ameaça à sua feminilidade e sedução 
(DELANOE, 1997 apud SERRÃO, 2007, p.13). 
 
Além das diversas representações da menopausa na classe feminina, como 
foram apresentadas anteriormente, a disfunção sexual nesta fase também é um dos 
problemas vivenciados por mulheres com idade avançada. As disfunções sexuais 
ainda são encaradas pela maioria da sociedade como um problema mais presente 
na classe masculina, devido à antiga concepção que ainda permanece em relação 
ao homem, o qual é visto como principal agente dominante e responsável no ato 
sexual. 
Segundo o Manual de Atenção à Mulher no Climatério/Menopausa do 
Ministério da Saúde (2008, p. 25), há muitos anos o modelo de sexualidade 
dominante, considerado normal e aceito socialmente, corresponde à sexualidade 
masculina. A sexualidade da mulher, principalmente no climatério, já é notada com 
preconceitos e tabus como refere o MS neste manual, onde o mesmo justifica os 
mitos sobre esse período feminino como uma ajuda para reforçar a ideia da 
incapacidade da mulher em manter uma atividade sexual ativa. 
Em uma avaliação da atividade sexual da mulher, Abdo (2009, p. 89) 
enfatiza que as disfunções acometem ambos os sexos. O autor caracteriza no seu 
estudo que a disfunções podem ser por falta, excesso, desconforto e/dor no decorrer 
da resposta sexual, prejudicando assim o desejo, excitação e/ou orgasmo. 
Várias alterações fisiológicas e anatômicas acontecem no aparelho feminino 
da mulher idosa de uma maneira geral nesta classe, porém proporcionalmente 
diferente em cada mulher, ou seja, mais intenso em algumas e menos intenso em 
outras. 
Essas mudanças fisiológicas e anatômicas acontecem principalmente pela 
queda dos níveis de hormônios sexuais, como o estrogênio. A redução deste 
hormônio provoca vários desiquilíbrios no órgão sexual feminino, como, a diminuição 
 
 
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progressiva de tamanho dos ovários, a regressão do útero para antiga fase quando 
em puberdade, a atrofia do endométrio e da mucosa do colo uterino, o encurtamento 
e a perda da elasticidade da vagina, perda da lubrificação etc. Mesmo com essas 
alterações fisiológicas, é possível que a mulher idosa mantenha sua atividade sexual 
até o final da vida (FERREIRA, et al., 2009, p. 183). 
Para Gradim, Sousa e Lobo (2007, p. 205) além das lentas mudanças da 
idade, a mulher experimenta a redução do hormônio sexual, o estrogênio no 
momento da menopausa, passando por períodos de extremo desconforto. 
Um dos sintomas mais incômodos relatados pelas mulheres nessa fase da 
vida, como refere o Ministério da Saúde (2008, p. 28), é a fragilidade da mucosa 
vaginal, com sensação de ardor e prurido. Esses fatores podem ser tratados com 
outros meios a não ser os hormonais quando indicado para o caso, como uso de 
lubrificantes antes da penetração. 
Para a mulher em climatério ou menopausa, o estímulo sexual passa a ter 
uma necessidade mais prolongada e as carícias também necessitam de mais 
delicadeza pelo fato da fragilidade e sensibilidade da mucosa e do clitóris estar mais 
presente. Nesta fase da vida da mulher é importante a atuação profissional, que 
deve ser integrada para a atenção à saúde desse público, levando em questão uma 
escuta ativa, atitude positiva, com uma atenção humanizada e qualificada no 
atendimento e acompanhamento (MS, 2008, p. 29). 
 
 
4.2 SEXO NA VISÃO DOS IDOSOS BRASILEIROS 
 
 
No nosso conteúdo até agora, foram abordados alguns conceitos da 
sociedade atual em relação à atividade sexual na terceira idade, também foram 
referenciadas algumas dificuldades encontradas por este público em continuar esta 
fase da vida em razão do preconceito social, das doenças, de mudanças fisiológicas 
e anatômicas do corpo decorrentes do avanço da idade. Agora, vamos conhecer o 
outro “lado da moeda”, que é a visão do idoso em relação ao sexo. 
 
 
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Com o papel do idoso ainda visto como o chefe e o exemplo de casa para os 
mais jovens, este grupo carrega a responsabilidade desde tempos antigos de manter 
e zelar para a moral e os bons costumes. 
O sexo sempre foi tratado como um assunto reservado e íntimo para um 
casal - homem e mulher após a consagração matrimonial. Segundo Almeida e 
Patriota (2009, p. 9), nos tempos antigos, a sexualidade era vista como troca de 
afetividade, onde a união afetiva e sexual também tinha regras como, a fidelidade, o 
respeito, a idade certa para procriação.Os autores também citam a desvalorização 
feminina dessa época que mantinham a autoridade do pai e posteriormente do 
marido. 
Todos nós já ouvimos histórias contadas pelos nossos pais, avós ou 
conhecidos mais velhos que relatam que os namoros em tempos antigos eram para 
casamento, e este para a vida toda. Algum tipo de carinho entre um casal, como um 
beijo, só era permitido depois do casamento, se o sexo acontecesse antes do 
matrimônio era um escândalo e o casal era forçado a subir no altar para que a moça 
e a família não ficassem com sua imagem prejudicada perante a sociedade marcada 
pelo tradicionalismo da época. A viuvez para classe feminina dessa época era 
excluir a possibilidade de uma nova vida amorosa devido às regras impostas pela 
sociedade e assumir o papel de avó e chefe de família. 
Com a revolução dos novos tempos e surgimento de novos conceitos em 
relação “à moral e aos bons costumes” e também com a conquista da liberdade de 
expressão principalmente da classe mais jovem, surgiu um novo pensar mesmo que 
de uma maneira forçada na sociedade mais tradicional na terceira idade em relação 
à sexualidade. 
 
Como o povo de hoje não tem preconceito de nada, eu acho que mudou o 
jeito de viver. Antigamente a gente era assim mais resguardada, hoje não... 
A gente casava virgem, hoje não tem isso mais (Joice, 75 anos). Hoje em 
dia todo mundo lê e até eu procuro ler as revistas Kama Sutra da vida [...]. 
Procurar as posições boas [...] sair da rotina. Então a gente está sempre 
fazendo novidades [...]. E ele teve paciência comigo. Eu estou com um 
companheiro de quarenta e cinco anos [...] que me considera uma menina 
de quinze [...] que valoriza o meu corpo, a minha cor, a minha cabeça, a 
minha conversa (Vovate, 60 anos). (GRADIM; SOUSA; LOBO, 2007, p.211). 
 
 
 
 
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Em relação a esta liberdade, o estado conjugal como a viuvez ganha 
destaque em alguns estudos sendo uma fase já não considerada tão isolada 
atualmente. Segundo Debert (199, apud CAMARANO, 2003 p. 41), para muitos o 
fato pode ser encarado como uma tragédia, já para outros, como as idosas atuais, a 
viuvez significa autonomia e liberdade, coisas essas que na sua juventude e na vida 
adulta não tiveram. Com este ganho de autonomia na viuvez, a classe idosa passa a 
ter mais oportunidades de conhecer novos parceiros para se relacionarem. Neste 
contexto, é verificado o sentimento de muitos idosos em reconquistar a liberdade 
perdida e/ou o desejo de ter uma companhia afetiva ou sexual igual ou diferente da 
qual viveu. 
Em um estudo narrativo de Santos (2012, p. 55-56), em Portugal, com um 
grupo de 12 idosas, identificou-se em relação à viuvez que as mesmas assumiam ter 
mais liberdade após esta fase, como realizar viagens, atividades rotineiras e mais 
autonomia como é representado pelo autor nas figuras que seguem. 
 
 
FIGURA 3 – IDADE/LIBERDADE 
 
FONTE: SANTOS, Sílvia Maria Carriço dos (2012, p. 56). 
 
 
 
 
 
 
 
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FIGURA 4 - TEMPO DE VIUVEZ/ LIBERDADE 
 
FONTE: SANTOS, Sílvia Maria Carriço dos (2012, p. 57). 
 
 
Ainda no estudo de Santos (2012, p. 58), a autora explica, em relação à 
desigualdade entre os gêneros e as famílias tradicionais, que as mulheres dos 
países europeus em épocas passadas eram consideradas “propriedades dos 
maridos ou dos pais”. Esta realidade descrita pelo pesquisador português não foge 
da realidade vivenciada pela antiga classe feminina no Brasil. Nesta pesquisa, são 
apresentadas algumas respostas das idosas após as mudanças da viuvez, 
confirmando um tipo de visão do idoso atual em relação a sua autonomia e 
liberdade, neste caso no gênero feminino. 
 
“Depois de ficar viúva fiquei bem mais liberta, não é! A liberdade é outra, 
não é nada, nada do que era, agora pego o carro vou passear, vou para 
aqui e acolá? e antes de ser viúva não ia” (Mariana, 66 anos). “A única 
coisa diferente, é que tinha que me levantar às 7 da manhã todos os dias, 
para dar pequenos-almoços, tinha que fazer as refeições a horas, agora 
não, se me apetecer dormir até mais tarde, não tenho a preocupação” 
(Teresa, 73 anos). “Viajei mais nestes 5 anos do que viajei em toda a minha 
vida” (Daniela, 65 anos). “Parece estúpido eu dizer isto, mas a viuvez 
libertou-me, é triste dizê-lo, mas é verdade” (Carlota, 76 anos). “É termos 
liberdade, não temos satisfações a dar a ninguém” (Mariana, 66 anos). 
(SANTOS, 2012, p. 58). 
 
 
 
 
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Esta visão atual do idoso em aproveitar a vida seja ela na fase da viuvez ou 
depois de uma separação conjugal, ou até mesmo atitudes de aconselhamento aos 
mais jovens e/ou solteiros para gozarem a vida antes do casamento, prova a 
mudança dos antigos conceitos desse grupo sobre ter liberdade e autonomia e 
também sobre a sexualidade. 
Vários estudos mais recentes têm demonstrado que aquela imagem antiga 
do idoso como um “velho” frágil, fechado, sistemático a certos assuntos tem sofrido 
mudanças. Hoje, a nova geração de idosos se mostra cada vez mais independente, 
gostam de tecnologia e internet, viajam, conhecem novas pessoas e culturas, tiram 
tempo para se divertir, procuram parceiros. 
A nova visão do idoso sobre a sexualidade como uma forma de prazer e a 
busca de alternativas e tratamentos para prolongar a vida sexual têm trazido 
também preocupação e investimento em políticas públicas e investigação devido ao 
aumento de casos de doenças sexualmente transmissíveis neste grupo, como o 
HIV/AIDS (SANTOS, 2011, p. 151). 
Castro e Reis (2001 apud CARDOSO 2012, p. 38) em um estudo realizado 
com mulheres entre 59 a 77 anos, verificaram que 75,4% do total do grupo 
pesquisado afirmaram que a experiência afetiva amorosa e sexual pode ser 
inteiramente satisfatória também na idade madura. 
Embora o mais importante para o idoso sejam as carícias, a atenção, os 
olhares, o companheirismo, o ficar junto, eles também mantêm a atividade sexual 
como uma forma de expressar sua sexualidade (MOURA; LEITE; HILDEBRANDT, 
2008, p. 136). O modo que o idoso percebe a sexualidade é bem evidenciado nas 
falas da maioria dos entrevistados no estudo desses três autores: 
 
Eu digo assim pra ele: “Olha aqui eu já conversei, já tive conversa, já vi 
médico falar que não é só sexo, o sexo faz parte, tanto do homem, da 
mulher, um abraço, um carinho, um beijo, atenção.” (Sujeito 4). “O mais 
importante é o amor entre os dois sabe! O amor entre os dois, porque, se tu 
está com uma pessoa com pensamento só em sexo, eu acho que não é 
válido, mas a gente tendo amor um pelo outro... porque o amor vem de 
Deus. Então, não é por ser velho que a gente está acabado, sempre ajuda”. 
(Sujeito 1). (MOURA; LEITE; HILDEBRANDT, 2008, p. 135). 
 
 
 
 
 
 
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4.3 CONFIANÇA E ACOLHIMENTO ENTRE PARCEIROS IDOSOS PARA UMA 
VIDA SEXUAL MAIS ATIVA 
 
 
Como você leitor deve já ter observado, em todos os nossos assuntos 
abordados até agora e inclusive nos relatos de alguns idosos em relação à 
sexualidade, a maioria deste grupo, principalmente na classe feminina, tem outra 
visão em relação à sexualidade nesta fase, ou seja, mais voltada para o 
companheirismo e o vínculo afetivo, para seguidamente envolverem-se 
sexualmente. 
A questão anterior pode estar relacionada à mulher idosa não se sentir mais 
atraente e com capacidade de atrair o seu parceiro, pois a autoestima feminina 
ainda permanece ligada muito a sua beleza. Outra relação importante que pode 
estar ligada a essa questão da mulher idosa optar nas suas relações por mais 
companheirismo do que a própria sexualidade, é a dificuldade de serem estimuladas 
devido às mudanças fisiológicas nesta fase, como já foi discutido em uma parte do 
nosso conteúdo. 
Com as mudanças na rotina do casal quando é chegada a terceira idade, 
nem sempre é fácil ultrapassar as dificuldades a essas novas adaptações. O tempo 
mais livre e/ou emcasa devido à aposentadoria, as doenças ou até mesmo a 
invalidez presentes nesta fase da vida, tornam complicada a atividade sexual 
satisfatória ou até mesmo uma relação conjugal harmoniosa em razão da 
intolerância entre o casal. 
A rotina e a falta de estímulo no convívio do casal vão empobrecendo a vida 
sexual como explicam Gradim, Sousa e Lobo (2007, p. 209) no relato de um idoso: 
 
“Com a convivência, parece mais dois amigos, dois irmãos, porque vai 
envelhecendo junto. Não tem mais aquela vibração que tinha no começo [...] 
aquele amor, aquela coisa. Era muito tranquilo, hoje é uma coisa razoável” 
(Mariana, 64 anos). (GRADIM; SOUSA; LOBO, 2007, p. 209). 
 
Em relação ao novo perfil dos idosos brasileiros, o Ministério do 
Planejamento, Orçamento e Gestão por meio de uma pesquisa realizada pelo 
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA (2004, p. 31), publicou que entre o 
 
 
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ano de 1940 a 2000 houve um aumento na proporção de separados, desquitados e 
divorciados entre os casais idosos. As mulheres idosas lideraram a proporção de 
números nestas situações com 11,8% contra 6,2% da população idosa masculina 
pesquisada (Tabela 5). 
 
TABELA 5 – BRASIL, DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DA POPULAÇÃO IDOSA 
POR ESTADO CONJUGAL E SEXO – 1940-2000 
 
FONTE: IBGE (2000 apud IPEA, 2004, p. 32) 
 
 
A incompreensão e o descontentamento do casal idoso diante do 
desempenho sexual do seu companheiro ou companheira afastam ainda mais a 
possibilidade de uma sexualidade satisfatória na relação. O estudo de Gradim, 
Sousa e Lobo (2007, p. 208) realizou entrevista com 18 idosos para conhecer a 
prática sexual neste grupo, os mesmos referem perceber que algumas mulheres 
citam as dificuldades relacionadas ao ato sexual como sendo da parte masculina. 
Para Vaz e Nodin (2005, p. 331), apesar de existir interesse sexual em 
várias etapas da vida, a vivência da sexualidade muda com a idade. Na meia idade 
surgem mudanças orgânicas, psicológicas e no relacionamento conjugal que se 
refletem no comportamento sexual dos casais. 
A compreensão, a aceitação, confiança e apoio do casal a essas mudanças 
que acontecem no seu parceiro(a) com o passar dos anos são fundamentais para as 
superações das dificuldades nesta fase. 
 
 
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4.4 A NÃO ACEITAÇÃO E FRUSTAÇÕES DAS MUDANÇAS SEXUAIS DO HOMEM 
NA TERCEIRA IDADE 
 
 
A prova social da sua masculinidade e a necessidade de status na 
sociedade superior a da mulher, faz com que o homem viva em constante 
demonstração do seu comportamento sexual para se autoafirmar socialmente 
(CARDOSO et al., 2012, p.37). 
A disfunção erétil (DE) é considerado um problema de saúde pública devido 
às altas taxas de prevalência na população. Um estudo de Abdo et al. (2006, p. 426) 
demonstra as dificuldades sexuais dos homens relatadas em um questionário 
anônimo, várias situações negativas foram colocadas, como, baixa autoestima, 
problemas no relacionamento com a parceira, com os filhos e os amigos, no trabalho 
e no lazer, quando comparado a homens com outras disfunções sexuais, ejaculação 
rápida, falta de desejo sexual e disfunção orgástica. 
Em relação ao declínio da função sexual Vasconcellos et al. (2004, p. 414) 
revelam que por volta dos 50 anos acreditava-se que era inevitável passar pela 
queda da função sexual por conta da menopausa feminina e da instalação 
progressiva das disfunções da ereção masculina. 
O sentimento de culpa, de impotência e baixa autoestima de não conseguir 
um desempenho sexual desejado e satisfatório como antes, faz com que o homem 
evite ter ou manter relação sexual. Esta reação é gerada em função da vergonha, da 
frustação ou do receio de não conseguir uma ereção (VASCONCELLOS et al., 2004, 
p. 415). 
Segundo Gradim, Sousa e Lobo (2007, p. 208), com o envelhecimento, o 
homem precisará de mais tempo para chegar ao orgasmo, ou seja, será necessário 
um intervalo maior entre uma ejaculação e outra e o volume ejaculado será 
reduzido. Nos depoimentos masculinos no estudo desses três autores foram 
verificadas essas alterações sexuais nos relatos de alguns idosos: 
 
 
 
 
 
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“Quando eu era mais jovem, eu me relacionava sexualmente e, 
suponhamos, alguns minutos após eu completava o ato sexual. O orgasmo 
era completo. Até tinha a capacidade de segurar para que a parceira 
também sentisse satisfação... Hoje, eu não sou mais capaz de fazer isso. 
Quando a gente chega a fazer o ato sexual, daí a alguns instantes o 
membro não fica mais ereto. Isso não é só propaganda não, isso é verdade” 
(Simão, 72 anos). [...] “A potência piorou um pouco. Mudou muita coisa. 
Agente tinha mais desejo, praticava mais atos. Agora, de uma hora para cá, 
a gente vai diminuindo, vai chegando a um ponto que vai morrendo 
devagar” (Toninho, 75 anos). [...] “Quando eu falo, a libido, é o tesão. Isso 
eu nunca perdi. Até escutar uma voz de uma pessoa me excita! Mas a 
frequência diminui, porque o meu próprio organismo, meus braços, meus 
membros, tudo em mim hoje, ele está mais enfraquecido! Porque aí também 
hoje já advém a doença. Hoje eu faço uso de medicamentos que interferem 
na parte orgânica. Antes eu não tomava [...] hoje eu tomo cinco 
medicamentos” (Lúcio, 61 anos). (GRADIM, SOUSA e LOBO 2007, p. 209). 
 
Além dos problemas das disfunções eréteis presentes em homens a partir 
da meia idade, o uso de certas medicações para controle de algumas patologias 
também contribui para este problema. 
Vários estudos confirmam que a satisfação no relacionamento sexual 
melhora a autoeficácia dos problemas de ereção. A satisfação está interligada com a 
segurança, autoestima e a felicidade na relação, fator este que indivíduos com 
disfunção sexual precisam para conseguir ultrapassar este problema. Neste 
contexto, os autores Finotelli e Capitão (2011, p. 46) explicam que as avaliações das 
disfunções sexuais têm que ser investigadas com foco principal no funcionamento 
sexual do indivíduo, seu desempenho e sua satisfação no relacionamento. 
No Estudo da Vida Sexual do Brasileiro - EVSB (2003 apud ABDO, 2006, p. 
425), realizado com 2.862 homens de todas as regiões do Brasil participantes de um 
questionário de 87 itens, o problema com a disfunção erétil teve uma maior 
predominância em pessoas as seguintes características: raça branca, empregados, 
doença como hipertensão arterial, que seguiam alguma religião ou tinham ensino 
superior. 
 
 
 
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TABELA 6 - DISTRIBUIÇÃO DA FREQUÊNCIA E PROPORÇÃO (%) DE 
INDIVÍDUOS DE ACORDO COM RESPONDENTES E NÃO RESPONDENTES À 
QUESTÃO SOBRE DISFUNÇÃO ERÉTIL, E VARIÁVEIS SOCIODEMOGRÁFICAS 
E PRESENÇA DE DOENÇAS REFERIDAS, BRASIL, 2003 
 
FONTE: EVSB (2003 apud ABDO, 2006, p. 425). 
 
 
O homem com disfunção erétil altera a sua condição emocional. A 
depressão e a ansiedade são fatores de risco que podem tanto provocar ou ajudar 
na DE. Segundo Britto e Benetti (2010, p. 244), o desempenho sexual é um dos 
aspectos com importante contribuição para o bem-estar psicológico, sendo a 
sexualidade tanto fonte de prazer, quanto de frustação, afetando assim diferentes 
âmbitos da vida do indivíduo. 
 
 
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Um relato de um paciente com queixa de disfunção sexual no estudo Grassi 
e Pereira (2001) mostra a sensação de fracasso e o sentimento de culpa masculina 
diante desse problema: 
 
“É, eu nem tenho falhado agora, mas a angústia continua, não sei, não me 
larga. Eu não me sinto seguro com isso, mesmo que eu tenha conseguido 
eu fico pensando que na próxima vez pode ser que eu não consiga, eu não 
confio em mim mesmo, sei lá” (Benedito) (GRASSI; PEREIRA; 2001, p. 63-
66). 
 
Para Ferreira (2009, p. 113) “a sexualidade é reconhecida como um aspecto 
importante da saúde e, se for vivida satisfatoriamente, é fonte de equilíbrio e 
harmonia para a pessoa, favorecendo uma atitude positiva em relaçãoa si mesmo e 
aos outros”. 
Para que se possa compreender a problemática da sexualidade no idoso em 
geral, é preciso levar em conta os fatores principais que afetam o comportamento e 
a resposta sexual na terceira idade. As dificuldades, manifestações, atitudes, a 
situação da vida cotidiana e conjugal também são fatores de abandono ou 
interrupção da sexualidade nesta fase. 
Infelizmente, mesmo com os avanços nos conceitos de sexualidade na visão 
e na rotina dos idosos, o sexo ainda é um assunto que passa despercebido diante 
dos profissionais de saúde. Os “tabus” em abordar ou orientar grupos da terceira 
idade sobre sexualidade ainda persistem entre estes profissionais, pois muitos não 
percebem que hoje os idosos estão mais abertos e querem viver a sexualidade 
nesta fase da vida. 
 
 
 
 
 
FIM DO MÓDULO II

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