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AN02FREV001/REV 4.0 23 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE SEXOLOGIA E A TERCEIRA IDADE Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 4.0 24 CURSO DE SEXOLOGIA E A TERCEIRA IDADE MÓDULO II Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 25 MÓDULO II 4 ATIVIDADE SEXUAL NA TERCEIRA IDADE FIGURA 2 - ATIVIDADE SEXUAL NA TERCEIRA IDADE FONTE: Banco de imagens do Portal Educação. Como foi abordado nos tópicos anteriores, mesmo com o avanço da idade e com as limitações, os idosos ainda têm necessidade de afeto e em muitos casos permanece o desejo sexual. Esta fase da vida é limitada devido às doenças, falta de estímulo, insatisfação física em razão das mudanças do corpo, ou também devido à intimidação que ocorre por meio do preconceito da sociedade. Vários estudos têm demonstrado que mesmo o indivíduo com idade acima de 65 anos pode usufruir de uma atividade sexual satisfatória, desde que esteja estimulado, orientado e confiante. AN02FREV001/REV 4.0 26 O homem e a mulher na terceira idade passam por adaptação da sua atividade sexual. Essas adaptações nem sempre são fáceis para o casal idoso, que além das alterações anatômicas como a diminuição da estatura, aumento do tecido adiposo no tronco e também as mudanças fisiológicas próprias do envelhecimento também passam a enfrentar problemas psicológicos como a depressão. As mudanças, alterações do corpo e da aparência da mulher com o avanço da idade são encaradas muitas vezes por esta classe como perda da sua beleza e de atração. Ao contrário da classe feminina, o homem encara as mudanças sexuais com o avanço da idade como uma das principais frustações nesta fase. Vasconcelos et al. (2004 apud FERNADES 2009, p. 2) referem que o processo de envelhecimento é marcado por preconceitos no social, como a incompetência e a impotência sexual vistas na velhice. Segundo os autores, entre tantas exigências que as alterações do envelhecimento enfrentam, o idoso passa por diversas dificuldades para preservar a sua identidade pessoal e a integridade de alguns papéis e funções como aqueles relativos à sexualidade. Cardoso et al. (2012, p. 35) explicam que a manifestação da sexualidade no idoso pode ocorrer de várias formas, como abraçar, tocar, acarinhar, falar, olhar ou ouvir. Estes atos podem ser tão agradáveis quanto às relações com pênis e vagina, que apesar de serem adequadas na terceira idade, não é o único ato da sexualidade. 4.1 CLIMATÉRIO E MENOPAUSA O climatério é uma fase biológica da vida e não um processo patológico que compreende a transição entre o período reprodutivo e o não reprodutivo da vida da mulher. A menopausa o último ciclo menstrual, geralmente presente em torno dos 48 aos 50 anos de idade (MS, 2008, p.11). As diferentes fases na vida da mulher, tais como a primeira menstruação - chamada de menarca- a gestação ou a última menstruação, são passagens marcantes para o corpo e para o psicológico da mulher. Cada cultura apresenta um significado diferenciado para essas passagens. A discriminação de gênero pode AN02FREV001/REV 4.0 27 afetar direta ou indiretamente as mulheres no climatério e na menopausa, provocando o sentimento de incompetência, de insegurança e incapacidade de desempenhar suas funções habituais ou de envolver-se em projetos futuros (MS, 2008, p. 15). Em um estudo descritivo-exploratório de Valença e Germano (2010) para identificar o grau de conhecimento das mulheres no climatério em relação aos sinais e sintomas e medidas de autocuidado, foram selecionadas 50 participantes com idade entre os 49 e 59 anos. Após o levantamento de dados notou-se que 84% das mulheres afirmaram já ter ouvido falar sobre o climatério e 94% sobre a menopausa. No entanto, segundo os pesquisadores, a maior parte delas, ou seja, 66% tinham uma visão inconsciente e superficial acerca do climatério e da menopausa, como é demonstrado pelos autores em algumas respostas das entrevistas. Acerca de climatério relacionado à terceira idade, destaca-se a fala de Joquebede. Não sei o que é climatério, nunca ouvi falar, mas acho que é o início da terceira idade (Joquebede). Frequentemente, o climatério é reportado como sendo o mesmo que menopausa, tal confusão persiste em algumas falas: Climatério é algo sobre a mulher e derivado da menopausa (Marta). É a fase da menopausa que se chama climatério (Eva). Menopausa para mim é a mesma coisa de climatério (Mara). Quando questionadas acerca do que significa a menopausa, expressaram-se associando esta a uma patologia: Menopausa? Mas eu tenho menopausa, eu não menstruo mais. Eu acho que é uma doença porque quando eu menstruava não sentia nada disso que sinto hoje (Zilá). Menopausa é quando a mulher para de menstruar e aparece todo tipo de doença (Quetura). Foram abordadas ainda outras visões da menopausa como sendo o mesmo que terceira idade ou como fase ou período da vida: É o início da terceira idade, muito prejudicial em todos os sentidos (Hadassa). Menopausa é a fase que a mulher está parando o ciclo menstrual (Zilá). (VALENÇA; GERMANO, 2010, p. 164-165). Em relação ao perfil das entrevistadas, 64% eram casadas e 14% viúvas, 36% tinham ensino fundamental completo e 30% ensino médio completo, 36% eram donas de casa, 32% trabalhavam como autônomas e 64% tinham renda maior que dois salários mínimos (VALENÇA; GERMANO, 2010, p. 164). O fim do ciclo reprodutivo, os distúrbios hormonais na terceira idade nas mulheres, é um dos entraves para a qualidade da vida sexual. A falta de oportunidade de relações sexuais para este grupo, como doenças dos seus cônjuges, o desinteresse dos seus parceiros para o sexo, e a viuvez, também são fatores que influenciam na redução da atividade sexual na classe feminina. (BRIGUEIRO, 2000 apud FERNANDES 2009, p. 3). AN02FREV001/REV 4.0 28 Em relação ao desinteresse sexual por parte do parceiro, os autores Gradim, Sousa e Lobo (2007, p. 210) trazem no seu estudo um depoimento importante de uma idosa que relata a ausência: “Ele já é mais idoso que eu, então ele já se acomodou. E ele acomodando, eu também me acomodei. O que não é procurado é esquecido. Então, já que ele não tinha esse incentivo para o ato, eu também não incentivei (Maria, 79 anos)”. Fernandez, Gir e Hayashida (2005, p. 129), com objetivo de identificar os aspectos positivos e negativos na atividade sexual de mulheres no climatério, realizaram um estudo descritivo com 45 mulheres nesta fase de transição, atendidas em um Serviço de Ginecologia e Obstetrícia. Do total dessas mulheres entrevistadas, segundo a pesquisa, 86 situações foram mencionadas por este grupo e posteriormente classificadas em três situações pelos pesquisadores como sendo as mais abrangentes: o relacionamento a dois, o ato sexual e a mulher como ser social. Os resultados desses dados demonstraram que deste grupo, 41 (47,7%) consideravam positivas essas situações e 45 (52,3%) negativas (Tabela 2, 3 e 4). AN02FREV001/REV 4.0 29 TABELA 2 – SUBCATEGORIAS DE SITUAÇÕES RELACIONADAS À SEXUALIDADE VIVENCIADAS POR MULHERES NO CLIMATÉRIO, AGRUPADAS NA CATEGORIA RELACIONAMENTO A DOIS (RIBEIRÃO PRETO-SP, 199) FONTE: FERNANDEZ, GIR e HAYASHIDA (2005, p. 131). AN02FREV001/REV 4.0 30 TABELA 3 – SUBCATEGORIAS DESITUAÇÕES RELACIONADAS À SEXUALIDADE VIVENCIADAS POR MULHERES NO CLIMATÉRIO, AGRUPADAS NA CATEGORIA ATO SEXUAL (RIBEIRÃO PRETO-SP, 1999) FONTE: FERNANDEZ, GIR e HAYASHIDA (2005, p. 133). TABELA 4 – SUBCATEGORIAS DE SITUAÇÕES RELACIONADAS À SEXUALIDADE VIVENCIADAS POR MULHERES NO CLIMATÉRIO, AGRUPADAS NA CATEGORIA RELACIONAMENTO A DOIS (RIBEIRÃO PRETO-SP, 1999) Fonte: FERNANDEZ, GIR e HAYASHIDA (2005, p. 133). AN02FREV001/REV 4.0 31 Já a menopausa envolve vários aspectos, não unicamente biológicos, mas também psicológicos e socioculturais. Segundo Serrão (2007, p 12), no seu estudo relacionado a representações sociais na menopausa, as mulheres mais velhas declaravam sentimento mais otimista quando comparado às mulheres mais jovens. Porém, os sentimentos ou atitudes negativas seriam decorrentes dos sintomas relacionados à menopausa, como por exemplo, irritabilidade e os suores noturnos. O ciclo menstrual ainda permanece idealizado, servindo como uma referência para a identidade feminina ou sendo um sinal de saúde, de juventude, de prova de sua grandeza quanto ao “ser mulher”, ou também garantia de igualdade perante o restante da sua classe. Quando eu entrei [...] eu senti [...] uma tristeza e senti assim uma grande perda, como uma pessoa perde assim a beleza e a juventude de momento. Mas depois eu acordei, falei que não era, pensei assim que todo mundo passa, todo mundo passa por isso [...]. Eu sou o que eu sou hoje, eu acho normal (Juliana, 72 anos). (GRADIM, SOUSA e LOBO 2007, p. 209). Em relação a essas convicções do parágrafo anterior, Serrão (2007, p. 12) faz uma importante abordagem referente à representação para a mulher quando é chegado o fim do seu ciclo menstrual, o autor explica que além de alguns sinais de irritabilidade, impaciência, depressão, esta fase surge também como um discurso generalizado com algum tipo de preconceito, como, “Está na menopausa!” ou “Está na meia-idade!”. A maturidade na mulher é vivenciada com pavor e medo entre as sociedades que valorizam a juventude, sobretudo pelas perdas da capacidade reprodutiva. Em algumas culturas, a mulher que chega ao climatério ou à menopausa é vista como sábia e madura, como alguém que possui a capacidade de assumir novos papéis na sociedade (FERNANDEZ; GIR; HAYASHIDA, 2005, p.135). Alguns estudos revelam que a menopausa apresenta diversas representações quando referenciada por mulheres nesta fase, sendo o envelhecimento e a infertilidade umas das representações mais destacadas pela a classe feminina. Delanoe (1997 apud SERRÃO, 2007, p.13) faz uma importante classificação da representação social em relação à menopausa, classificando as mulheres nesta fase da seguinte forma: AN02FREV001/REV 4.0 32 (a) Negativas: as mulheres com esta representação caracterizam a menopausa como uma mudança problemática ligada à perda de feminilidade, ao final da capacidade de sedução, ao início do envelhecimento e à passagem ao papel de avó; (b) Ambivalentes, caracterizadas por uma representação social negativa, paradoxal a uma experiência pessoal neutra; (c) Neutras, as mulheres com esta representação são mais jovens e para elas a menopausa é pouco referida como perda de feminilidade ou como velhice e a amenorreia é sentida como alívio; e, (d) Positivas, este tipo de representação é encontrado em mulheres mais velhas, pós-menopáusicas, que consideram que a menopausa não constitui uma ameaça à sua feminilidade e sedução (DELANOE, 1997 apud SERRÃO, 2007, p.13). Além das diversas representações da menopausa na classe feminina, como foram apresentadas anteriormente, a disfunção sexual nesta fase também é um dos problemas vivenciados por mulheres com idade avançada. As disfunções sexuais ainda são encaradas pela maioria da sociedade como um problema mais presente na classe masculina, devido à antiga concepção que ainda permanece em relação ao homem, o qual é visto como principal agente dominante e responsável no ato sexual. Segundo o Manual de Atenção à Mulher no Climatério/Menopausa do Ministério da Saúde (2008, p. 25), há muitos anos o modelo de sexualidade dominante, considerado normal e aceito socialmente, corresponde à sexualidade masculina. A sexualidade da mulher, principalmente no climatério, já é notada com preconceitos e tabus como refere o MS neste manual, onde o mesmo justifica os mitos sobre esse período feminino como uma ajuda para reforçar a ideia da incapacidade da mulher em manter uma atividade sexual ativa. Em uma avaliação da atividade sexual da mulher, Abdo (2009, p. 89) enfatiza que as disfunções acometem ambos os sexos. O autor caracteriza no seu estudo que a disfunções podem ser por falta, excesso, desconforto e/dor no decorrer da resposta sexual, prejudicando assim o desejo, excitação e/ou orgasmo. Várias alterações fisiológicas e anatômicas acontecem no aparelho feminino da mulher idosa de uma maneira geral nesta classe, porém proporcionalmente diferente em cada mulher, ou seja, mais intenso em algumas e menos intenso em outras. Essas mudanças fisiológicas e anatômicas acontecem principalmente pela queda dos níveis de hormônios sexuais, como o estrogênio. A redução deste hormônio provoca vários desiquilíbrios no órgão sexual feminino, como, a diminuição AN02FREV001/REV 4.0 33 progressiva de tamanho dos ovários, a regressão do útero para antiga fase quando em puberdade, a atrofia do endométrio e da mucosa do colo uterino, o encurtamento e a perda da elasticidade da vagina, perda da lubrificação etc. Mesmo com essas alterações fisiológicas, é possível que a mulher idosa mantenha sua atividade sexual até o final da vida (FERREIRA, et al., 2009, p. 183). Para Gradim, Sousa e Lobo (2007, p. 205) além das lentas mudanças da idade, a mulher experimenta a redução do hormônio sexual, o estrogênio no momento da menopausa, passando por períodos de extremo desconforto. Um dos sintomas mais incômodos relatados pelas mulheres nessa fase da vida, como refere o Ministério da Saúde (2008, p. 28), é a fragilidade da mucosa vaginal, com sensação de ardor e prurido. Esses fatores podem ser tratados com outros meios a não ser os hormonais quando indicado para o caso, como uso de lubrificantes antes da penetração. Para a mulher em climatério ou menopausa, o estímulo sexual passa a ter uma necessidade mais prolongada e as carícias também necessitam de mais delicadeza pelo fato da fragilidade e sensibilidade da mucosa e do clitóris estar mais presente. Nesta fase da vida da mulher é importante a atuação profissional, que deve ser integrada para a atenção à saúde desse público, levando em questão uma escuta ativa, atitude positiva, com uma atenção humanizada e qualificada no atendimento e acompanhamento (MS, 2008, p. 29). 4.2 SEXO NA VISÃO DOS IDOSOS BRASILEIROS No nosso conteúdo até agora, foram abordados alguns conceitos da sociedade atual em relação à atividade sexual na terceira idade, também foram referenciadas algumas dificuldades encontradas por este público em continuar esta fase da vida em razão do preconceito social, das doenças, de mudanças fisiológicas e anatômicas do corpo decorrentes do avanço da idade. Agora, vamos conhecer o outro “lado da moeda”, que é a visão do idoso em relação ao sexo. AN02FREV001/REV 4.0 34 Com o papel do idoso ainda visto como o chefe e o exemplo de casa para os mais jovens, este grupo carrega a responsabilidade desde tempos antigos de manter e zelar para a moral e os bons costumes. O sexo sempre foi tratado como um assunto reservado e íntimo para um casal - homem e mulher após a consagração matrimonial. Segundo Almeida e Patriota (2009, p. 9), nos tempos antigos, a sexualidade era vista como troca de afetividade, onde a união afetiva e sexual também tinha regras como, a fidelidade, o respeito, a idade certa para procriação.Os autores também citam a desvalorização feminina dessa época que mantinham a autoridade do pai e posteriormente do marido. Todos nós já ouvimos histórias contadas pelos nossos pais, avós ou conhecidos mais velhos que relatam que os namoros em tempos antigos eram para casamento, e este para a vida toda. Algum tipo de carinho entre um casal, como um beijo, só era permitido depois do casamento, se o sexo acontecesse antes do matrimônio era um escândalo e o casal era forçado a subir no altar para que a moça e a família não ficassem com sua imagem prejudicada perante a sociedade marcada pelo tradicionalismo da época. A viuvez para classe feminina dessa época era excluir a possibilidade de uma nova vida amorosa devido às regras impostas pela sociedade e assumir o papel de avó e chefe de família. Com a revolução dos novos tempos e surgimento de novos conceitos em relação “à moral e aos bons costumes” e também com a conquista da liberdade de expressão principalmente da classe mais jovem, surgiu um novo pensar mesmo que de uma maneira forçada na sociedade mais tradicional na terceira idade em relação à sexualidade. Como o povo de hoje não tem preconceito de nada, eu acho que mudou o jeito de viver. Antigamente a gente era assim mais resguardada, hoje não... A gente casava virgem, hoje não tem isso mais (Joice, 75 anos). Hoje em dia todo mundo lê e até eu procuro ler as revistas Kama Sutra da vida [...]. Procurar as posições boas [...] sair da rotina. Então a gente está sempre fazendo novidades [...]. E ele teve paciência comigo. Eu estou com um companheiro de quarenta e cinco anos [...] que me considera uma menina de quinze [...] que valoriza o meu corpo, a minha cor, a minha cabeça, a minha conversa (Vovate, 60 anos). (GRADIM; SOUSA; LOBO, 2007, p.211). AN02FREV001/REV 4.0 35 Em relação a esta liberdade, o estado conjugal como a viuvez ganha destaque em alguns estudos sendo uma fase já não considerada tão isolada atualmente. Segundo Debert (199, apud CAMARANO, 2003 p. 41), para muitos o fato pode ser encarado como uma tragédia, já para outros, como as idosas atuais, a viuvez significa autonomia e liberdade, coisas essas que na sua juventude e na vida adulta não tiveram. Com este ganho de autonomia na viuvez, a classe idosa passa a ter mais oportunidades de conhecer novos parceiros para se relacionarem. Neste contexto, é verificado o sentimento de muitos idosos em reconquistar a liberdade perdida e/ou o desejo de ter uma companhia afetiva ou sexual igual ou diferente da qual viveu. Em um estudo narrativo de Santos (2012, p. 55-56), em Portugal, com um grupo de 12 idosas, identificou-se em relação à viuvez que as mesmas assumiam ter mais liberdade após esta fase, como realizar viagens, atividades rotineiras e mais autonomia como é representado pelo autor nas figuras que seguem. FIGURA 3 – IDADE/LIBERDADE FONTE: SANTOS, Sílvia Maria Carriço dos (2012, p. 56). AN02FREV001/REV 4.0 36 FIGURA 4 - TEMPO DE VIUVEZ/ LIBERDADE FONTE: SANTOS, Sílvia Maria Carriço dos (2012, p. 57). Ainda no estudo de Santos (2012, p. 58), a autora explica, em relação à desigualdade entre os gêneros e as famílias tradicionais, que as mulheres dos países europeus em épocas passadas eram consideradas “propriedades dos maridos ou dos pais”. Esta realidade descrita pelo pesquisador português não foge da realidade vivenciada pela antiga classe feminina no Brasil. Nesta pesquisa, são apresentadas algumas respostas das idosas após as mudanças da viuvez, confirmando um tipo de visão do idoso atual em relação a sua autonomia e liberdade, neste caso no gênero feminino. “Depois de ficar viúva fiquei bem mais liberta, não é! A liberdade é outra, não é nada, nada do que era, agora pego o carro vou passear, vou para aqui e acolá? e antes de ser viúva não ia” (Mariana, 66 anos). “A única coisa diferente, é que tinha que me levantar às 7 da manhã todos os dias, para dar pequenos-almoços, tinha que fazer as refeições a horas, agora não, se me apetecer dormir até mais tarde, não tenho a preocupação” (Teresa, 73 anos). “Viajei mais nestes 5 anos do que viajei em toda a minha vida” (Daniela, 65 anos). “Parece estúpido eu dizer isto, mas a viuvez libertou-me, é triste dizê-lo, mas é verdade” (Carlota, 76 anos). “É termos liberdade, não temos satisfações a dar a ninguém” (Mariana, 66 anos). (SANTOS, 2012, p. 58). AN02FREV001/REV 4.0 37 Esta visão atual do idoso em aproveitar a vida seja ela na fase da viuvez ou depois de uma separação conjugal, ou até mesmo atitudes de aconselhamento aos mais jovens e/ou solteiros para gozarem a vida antes do casamento, prova a mudança dos antigos conceitos desse grupo sobre ter liberdade e autonomia e também sobre a sexualidade. Vários estudos mais recentes têm demonstrado que aquela imagem antiga do idoso como um “velho” frágil, fechado, sistemático a certos assuntos tem sofrido mudanças. Hoje, a nova geração de idosos se mostra cada vez mais independente, gostam de tecnologia e internet, viajam, conhecem novas pessoas e culturas, tiram tempo para se divertir, procuram parceiros. A nova visão do idoso sobre a sexualidade como uma forma de prazer e a busca de alternativas e tratamentos para prolongar a vida sexual têm trazido também preocupação e investimento em políticas públicas e investigação devido ao aumento de casos de doenças sexualmente transmissíveis neste grupo, como o HIV/AIDS (SANTOS, 2011, p. 151). Castro e Reis (2001 apud CARDOSO 2012, p. 38) em um estudo realizado com mulheres entre 59 a 77 anos, verificaram que 75,4% do total do grupo pesquisado afirmaram que a experiência afetiva amorosa e sexual pode ser inteiramente satisfatória também na idade madura. Embora o mais importante para o idoso sejam as carícias, a atenção, os olhares, o companheirismo, o ficar junto, eles também mantêm a atividade sexual como uma forma de expressar sua sexualidade (MOURA; LEITE; HILDEBRANDT, 2008, p. 136). O modo que o idoso percebe a sexualidade é bem evidenciado nas falas da maioria dos entrevistados no estudo desses três autores: Eu digo assim pra ele: “Olha aqui eu já conversei, já tive conversa, já vi médico falar que não é só sexo, o sexo faz parte, tanto do homem, da mulher, um abraço, um carinho, um beijo, atenção.” (Sujeito 4). “O mais importante é o amor entre os dois sabe! O amor entre os dois, porque, se tu está com uma pessoa com pensamento só em sexo, eu acho que não é válido, mas a gente tendo amor um pelo outro... porque o amor vem de Deus. Então, não é por ser velho que a gente está acabado, sempre ajuda”. (Sujeito 1). (MOURA; LEITE; HILDEBRANDT, 2008, p. 135). AN02FREV001/REV 4.0 38 4.3 CONFIANÇA E ACOLHIMENTO ENTRE PARCEIROS IDOSOS PARA UMA VIDA SEXUAL MAIS ATIVA Como você leitor deve já ter observado, em todos os nossos assuntos abordados até agora e inclusive nos relatos de alguns idosos em relação à sexualidade, a maioria deste grupo, principalmente na classe feminina, tem outra visão em relação à sexualidade nesta fase, ou seja, mais voltada para o companheirismo e o vínculo afetivo, para seguidamente envolverem-se sexualmente. A questão anterior pode estar relacionada à mulher idosa não se sentir mais atraente e com capacidade de atrair o seu parceiro, pois a autoestima feminina ainda permanece ligada muito a sua beleza. Outra relação importante que pode estar ligada a essa questão da mulher idosa optar nas suas relações por mais companheirismo do que a própria sexualidade, é a dificuldade de serem estimuladas devido às mudanças fisiológicas nesta fase, como já foi discutido em uma parte do nosso conteúdo. Com as mudanças na rotina do casal quando é chegada a terceira idade, nem sempre é fácil ultrapassar as dificuldades a essas novas adaptações. O tempo mais livre e/ou emcasa devido à aposentadoria, as doenças ou até mesmo a invalidez presentes nesta fase da vida, tornam complicada a atividade sexual satisfatória ou até mesmo uma relação conjugal harmoniosa em razão da intolerância entre o casal. A rotina e a falta de estímulo no convívio do casal vão empobrecendo a vida sexual como explicam Gradim, Sousa e Lobo (2007, p. 209) no relato de um idoso: “Com a convivência, parece mais dois amigos, dois irmãos, porque vai envelhecendo junto. Não tem mais aquela vibração que tinha no começo [...] aquele amor, aquela coisa. Era muito tranquilo, hoje é uma coisa razoável” (Mariana, 64 anos). (GRADIM; SOUSA; LOBO, 2007, p. 209). Em relação ao novo perfil dos idosos brasileiros, o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão por meio de uma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA (2004, p. 31), publicou que entre o AN02FREV001/REV 4.0 39 ano de 1940 a 2000 houve um aumento na proporção de separados, desquitados e divorciados entre os casais idosos. As mulheres idosas lideraram a proporção de números nestas situações com 11,8% contra 6,2% da população idosa masculina pesquisada (Tabela 5). TABELA 5 – BRASIL, DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DA POPULAÇÃO IDOSA POR ESTADO CONJUGAL E SEXO – 1940-2000 FONTE: IBGE (2000 apud IPEA, 2004, p. 32) A incompreensão e o descontentamento do casal idoso diante do desempenho sexual do seu companheiro ou companheira afastam ainda mais a possibilidade de uma sexualidade satisfatória na relação. O estudo de Gradim, Sousa e Lobo (2007, p. 208) realizou entrevista com 18 idosos para conhecer a prática sexual neste grupo, os mesmos referem perceber que algumas mulheres citam as dificuldades relacionadas ao ato sexual como sendo da parte masculina. Para Vaz e Nodin (2005, p. 331), apesar de existir interesse sexual em várias etapas da vida, a vivência da sexualidade muda com a idade. Na meia idade surgem mudanças orgânicas, psicológicas e no relacionamento conjugal que se refletem no comportamento sexual dos casais. A compreensão, a aceitação, confiança e apoio do casal a essas mudanças que acontecem no seu parceiro(a) com o passar dos anos são fundamentais para as superações das dificuldades nesta fase. AN02FREV001/REV 4.0 40 4.4 A NÃO ACEITAÇÃO E FRUSTAÇÕES DAS MUDANÇAS SEXUAIS DO HOMEM NA TERCEIRA IDADE A prova social da sua masculinidade e a necessidade de status na sociedade superior a da mulher, faz com que o homem viva em constante demonstração do seu comportamento sexual para se autoafirmar socialmente (CARDOSO et al., 2012, p.37). A disfunção erétil (DE) é considerado um problema de saúde pública devido às altas taxas de prevalência na população. Um estudo de Abdo et al. (2006, p. 426) demonstra as dificuldades sexuais dos homens relatadas em um questionário anônimo, várias situações negativas foram colocadas, como, baixa autoestima, problemas no relacionamento com a parceira, com os filhos e os amigos, no trabalho e no lazer, quando comparado a homens com outras disfunções sexuais, ejaculação rápida, falta de desejo sexual e disfunção orgástica. Em relação ao declínio da função sexual Vasconcellos et al. (2004, p. 414) revelam que por volta dos 50 anos acreditava-se que era inevitável passar pela queda da função sexual por conta da menopausa feminina e da instalação progressiva das disfunções da ereção masculina. O sentimento de culpa, de impotência e baixa autoestima de não conseguir um desempenho sexual desejado e satisfatório como antes, faz com que o homem evite ter ou manter relação sexual. Esta reação é gerada em função da vergonha, da frustação ou do receio de não conseguir uma ereção (VASCONCELLOS et al., 2004, p. 415). Segundo Gradim, Sousa e Lobo (2007, p. 208), com o envelhecimento, o homem precisará de mais tempo para chegar ao orgasmo, ou seja, será necessário um intervalo maior entre uma ejaculação e outra e o volume ejaculado será reduzido. Nos depoimentos masculinos no estudo desses três autores foram verificadas essas alterações sexuais nos relatos de alguns idosos: AN02FREV001/REV 4.0 41 “Quando eu era mais jovem, eu me relacionava sexualmente e, suponhamos, alguns minutos após eu completava o ato sexual. O orgasmo era completo. Até tinha a capacidade de segurar para que a parceira também sentisse satisfação... Hoje, eu não sou mais capaz de fazer isso. Quando a gente chega a fazer o ato sexual, daí a alguns instantes o membro não fica mais ereto. Isso não é só propaganda não, isso é verdade” (Simão, 72 anos). [...] “A potência piorou um pouco. Mudou muita coisa. Agente tinha mais desejo, praticava mais atos. Agora, de uma hora para cá, a gente vai diminuindo, vai chegando a um ponto que vai morrendo devagar” (Toninho, 75 anos). [...] “Quando eu falo, a libido, é o tesão. Isso eu nunca perdi. Até escutar uma voz de uma pessoa me excita! Mas a frequência diminui, porque o meu próprio organismo, meus braços, meus membros, tudo em mim hoje, ele está mais enfraquecido! Porque aí também hoje já advém a doença. Hoje eu faço uso de medicamentos que interferem na parte orgânica. Antes eu não tomava [...] hoje eu tomo cinco medicamentos” (Lúcio, 61 anos). (GRADIM, SOUSA e LOBO 2007, p. 209). Além dos problemas das disfunções eréteis presentes em homens a partir da meia idade, o uso de certas medicações para controle de algumas patologias também contribui para este problema. Vários estudos confirmam que a satisfação no relacionamento sexual melhora a autoeficácia dos problemas de ereção. A satisfação está interligada com a segurança, autoestima e a felicidade na relação, fator este que indivíduos com disfunção sexual precisam para conseguir ultrapassar este problema. Neste contexto, os autores Finotelli e Capitão (2011, p. 46) explicam que as avaliações das disfunções sexuais têm que ser investigadas com foco principal no funcionamento sexual do indivíduo, seu desempenho e sua satisfação no relacionamento. No Estudo da Vida Sexual do Brasileiro - EVSB (2003 apud ABDO, 2006, p. 425), realizado com 2.862 homens de todas as regiões do Brasil participantes de um questionário de 87 itens, o problema com a disfunção erétil teve uma maior predominância em pessoas as seguintes características: raça branca, empregados, doença como hipertensão arterial, que seguiam alguma religião ou tinham ensino superior. AN02FREV001/REV 4.0 42 TABELA 6 - DISTRIBUIÇÃO DA FREQUÊNCIA E PROPORÇÃO (%) DE INDIVÍDUOS DE ACORDO COM RESPONDENTES E NÃO RESPONDENTES À QUESTÃO SOBRE DISFUNÇÃO ERÉTIL, E VARIÁVEIS SOCIODEMOGRÁFICAS E PRESENÇA DE DOENÇAS REFERIDAS, BRASIL, 2003 FONTE: EVSB (2003 apud ABDO, 2006, p. 425). O homem com disfunção erétil altera a sua condição emocional. A depressão e a ansiedade são fatores de risco que podem tanto provocar ou ajudar na DE. Segundo Britto e Benetti (2010, p. 244), o desempenho sexual é um dos aspectos com importante contribuição para o bem-estar psicológico, sendo a sexualidade tanto fonte de prazer, quanto de frustação, afetando assim diferentes âmbitos da vida do indivíduo. AN02FREV001/REV 4.0 43 Um relato de um paciente com queixa de disfunção sexual no estudo Grassi e Pereira (2001) mostra a sensação de fracasso e o sentimento de culpa masculina diante desse problema: “É, eu nem tenho falhado agora, mas a angústia continua, não sei, não me larga. Eu não me sinto seguro com isso, mesmo que eu tenha conseguido eu fico pensando que na próxima vez pode ser que eu não consiga, eu não confio em mim mesmo, sei lá” (Benedito) (GRASSI; PEREIRA; 2001, p. 63- 66). Para Ferreira (2009, p. 113) “a sexualidade é reconhecida como um aspecto importante da saúde e, se for vivida satisfatoriamente, é fonte de equilíbrio e harmonia para a pessoa, favorecendo uma atitude positiva em relaçãoa si mesmo e aos outros”. Para que se possa compreender a problemática da sexualidade no idoso em geral, é preciso levar em conta os fatores principais que afetam o comportamento e a resposta sexual na terceira idade. As dificuldades, manifestações, atitudes, a situação da vida cotidiana e conjugal também são fatores de abandono ou interrupção da sexualidade nesta fase. Infelizmente, mesmo com os avanços nos conceitos de sexualidade na visão e na rotina dos idosos, o sexo ainda é um assunto que passa despercebido diante dos profissionais de saúde. Os “tabus” em abordar ou orientar grupos da terceira idade sobre sexualidade ainda persistem entre estes profissionais, pois muitos não percebem que hoje os idosos estão mais abertos e querem viver a sexualidade nesta fase da vida. FIM DO MÓDULO II
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