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Programa de Educação Continuada a Distância Curso de TURISMO RURAL Aluno: EAD - Educação a Distância Parceria entre Portal Educação e Sites Associados Curso de TURISMO RURAL MÓDULO I Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização do mesmo. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos na Bibliografia Consultada. SUMÁRIO 2 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 3 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores MÓDULO I - Entendendo o Turismo Rural Introdução 1 - O Turismo rural na história 2 - Conceituando e caracterizando o turismo rural 3 - Conhecendo o mercado do turismo rural 4 - Impactos positivos e negativos do turismo rural 5 - Distribuição da atividade nas regiões brasileiras 6 - Instituições e entidades ligadas ao turismo rural MÓDULO II – Inventariando o Meio Rural 1 - Entendendo o que é um inventário turístico do meio rural 1.1 - A utilização dos mapas como ferramenta para o inventário turístico do meio rural 1.2 - Indicação dos acessos no inventário turístico rural 1.3 - Identificação dos equipamentos e serviços de apoio no inventário turístico rural 2 - Inventariando a propriedade rural 2.1 - Delimitação da área 2.2 - Saneamento básico 2.3 - Características naturais 2.3.1 - Fatores abióticos 2.3.2 - Relevo 2.3.3 - Espeleologia 2.3.4 - Vegetação 2.3.5 - Flora e Fauna 2.3.6 - Hidrografia 4 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 2.4 - Distribuição da área rural 2.5 - Atividades desenvolvidas e comercializadas na propriedade 2.6 - Recursos humanos 2.7 - Aspectos étnico-culturais e históricos 2.8 - Atividades turísticas em desenvolvimento MÓDULO III: Elaboração de Projetos de Turismo Rural 1 - Elaboração de projetos 2 - O projeto de turismo rural 2.1 - Diagnóstico do local 2.2 - Pesquisa e estudo de mercado 2.3 - Organização das atividades 2.4 - Plano de marketing 2.5 - Infraestrutura 2.6 - Recursos humanos MÓDULO IV: O Empreendedor e o Profissional de Turismo Rural Introdução 1 - Conhecendo o empreendedor de Turismo Rural 2 - Objetivos e habilidades do empreendedor de Turismo Rural 3 - Qualificação profissional para o Turismo Rural 4 - Diretrizes para o desenvolvimento de um empreendimento de Turismo Rural sustentável 5 - Legislação específica para o desenvolvimento da atividade turística no meio rural 5 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 5.1 - Prestação de serviços turísticos 5.2 - Legislação ambiental 5.3 - Legislação sobre a proteção do patrimônio histórico-cultural 5.4 - Legislação fiscal 5.5 - Legislação previdenciária 5.6 - Legislação tributária 5.7 - Legislação trabalhista 5.8 - Legislação sanitária 5.9 - Acessibilidade MÓDULO I Entendendo o Turismo Rural INTRODUÇÃO “Não há nada mais equivocado do que imaginar que o espaço rural está reduzido à dimensão agropastoril” (VEIGA, 2002, p. 87). O turismo é uma prática social cuja importância vem crescendo neste início de século, principalmente em decorrência das transformações sofridas pela sociedade, como urbanização, modificações nas relações de trabalho, alterações no perfil da população mundial e, ainda, na divulgação de questões ligadas ao meio ambiente e ao desenvolvimento técnico-científico. Tratar o turismo como prática social torna-se muito mais abrangente do que discuti-lo como atividade econômica. Entender as relações existentes entre os atores envolvidos, decorrentes do processo turístico, bem como os impactos que tal atividade gera na comunidade receptora, vai além do simples fato econômico, envolvendo as relações sociais e ambientais que o turismo provoca na localidade (FONTANA, 2005). Dentre as diversas formas de turismo disponibilizadas para o lazer, entretenimento e descanso do turista, têm-se percebido um crescente interesse pela atividade turística localizada no campo, principalmente o turismo rural. A cada dia mais e mais pessoas têm procurado a zona rural como um refúgio da correria do dia-a-dia das grandes cidades. Buscam o contato com a natureza, com a cultura e a história já não 6 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 7 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores mais contada e encontrada nos grandes núcleos populacionais. À medida que a demanda pelo turismo rural tem crescido, incentivada pela divulgação da oferta existente em revistas e cadernos de turismo que estimulam a ideia do turismo rural como uma forma tanto de lazer quanto de volta às origens, os produtores rurais procuram acompanhar essa mudança no comportamento do consumidor identificando nela uma promissora oportunidade de negócios. A ideia predominante é de que hoje o turista que vem dos centros urbanos se mostra mais preocupado com questões ambientais e culturais, exigindo que os empreendimentos turísticos também fiquem atentos para estes fatos. O turismo de massa, cujo início se deu a partir da segunda metade do século XX, tem como principal característica seu preço mais acessível, possibilitando que a classe média e baixa também possa usufruir da atividade turística – atividade que até então era privilégio das classes sociais com maior poder aquisitivo (DIAS; AGUIAR, 2002; BARRETO, 2003). Isso é estimulado por meio de pacotes mais econômicos de viagens em grupo oferecidos pelas agências e divulgados em jornais e revistas com formas parceladas de pagamento. Enquanto que o turismo de massa está voltado para o atendimento de um número significativamente grande de turistas, o turismo sustentável busca o equilíbrio entre o homem, o meio ambiente e a atividade turística. Para o turismo sustentável, mais importante do que o próprio turismo é a preservação e conservação do meio ambiente, a inserção social dos residentes, a geração de renda e a melhoria da qualidade de vida, de tal forma que o local suporte o contato e uso do homem e, ao mesmo tempo, mantenha- se para que as gerações futuras também possam dele usufruir (SWARBROOKE, 2000). Em consequência, o turismo de massa tem se tornado uma preocupação constante de estudiosos da área, principalmente quando o foco das discussões é o desenvolvimento sustentável. Cada vez um número maior de pessoas tem a consciência da necessidade da preservação ambiental e social para a continuidade da espécie humana. O crescimento do número de viagens pode ser interpretado como uma decorrência de que os indivíduos se tornaram conscientes sobre a importância do lazer para seu equilíbrio pessoal, passando a valorizar a vivência de momentos de descontração e descanso junto à família e amigos. Existe hoje a percepção de que o lazer 8 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores é um elementofundamental para a sustentação da saúde física e psíquica, como um meio para balancear o estresse da vida urbana, e isso vem levando os habitantes das cidades a buscar ambientes com melhor qualidade de vida do que aquela existente no seu entorno, principalmente no que se refere a um clima calmo, o que possibilita uma verdadeira volta no tempo, um maior equilíbrio entre o homem e a natureza. O turismo rural é uma atividade que deve ser vista e entendida como sendo um complemento às atividades agrícolas das propriedades rurais, de tal forma que o cotidiano da vida rural, em menor ou maior intensidade, continue a existir. Importante, portanto, torna-se o processo de planejamento e implantação de tal atividade, preservando as raízes e atividades cotidianas da propriedade, sendo essas características os principais atrativos para quem busca o turismo rural (FONTANA, 2005). Sendo assim, as ocupações complementares geradas por ele constituem uma agregação de serviços aos produtos já existentes na propriedade e que permitem ainda a valorização dos bens não-materiais que a mesma possui. Portanto, o turismo rural deve harmonizar os interesses do meio ambiente, da comunidade local e do próprio turista, de modo sustentável, evitando o êxodo rural e contribuindo para a melhoria da qualidade de vida tanto dos visitantes quanto dos visitados. Dessa forma, para entender o turismo rural é preciso que se conheça a diversificação do espaço rural brasileiro, bem como a cultura do homem que vive no campo. 1 - O TURISMO RURAL NA HISTÓRIA Quanto às suas origens o turismo rural teve início na Europa, estendendo-se para os demais continentes, visto que: “Desde os anos 50, em numerosos países do Norte e do Centro da Europa, e certamente desde os anos 70 nos países do Sul, o turismo rural é considerado como uma estratégia com futuro, uma vez que contribui 9 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores para a fixação da população, a criação de emprego e, sem dúvida, a promoção do desenvolvimento sócio-econômico das zonas desfavorecidas” (CADERNO LEADER)1. O processo de revalorização rural teve um marco conhecido, integrando a Espanha à União Europeia, ao mesmo tempo em que criava a Política Agrária Comum (PAC), pela Comunidade Econômica Europeia (CEE), em 1962. A PAC passou por três reformas, de modo que a terceira, aprovada em 1999, entrando em vigor em 2000, consagrou o novo modelo de espaço rural, em que os critérios antes exclusivamente produtivistas, agora estariam claramente definidos. O objetivo era um desenvolvimento integrado dos territórios rurais, com base no critério de multifuncionalidade e diversificação econômica, resultando em um novo discurso para o turismo rural. Assim, as novas funções de uma ruralidade disposta a satisfazer recentes demandas sociais, não só no consumo direto, mais também na qualidade ambiental, paisagística e cultural, propiciou o relançamento de uma oferta que consolidou estes lugares como espaços de ócio a partir de um cuidadoso processo de descobrimento de sua potencialidade turística. Anteriormente, em 1991, com as Iniciativas Leader, foram concebidas medidas com pacotes específicos destinados a amenizar os impactos da aplicação da PAC em áreas dotadas de um menor crescimento econômico. O êxito do Leader se define pela mobilização conjunta das distintas administrações públicas, nos níveis europeu, estatal, autônomo, local e privado, assim como a criação de um novo marco institucional nas zonas de aplicação das iniciativas, os denominados Grupos de Ação Local e Centros de Desenvolvimento Rural (CEDER) (AGUILAR CRIADO, et al, 2003). Atualmente, com mais de uma década de existência, o Projeto Leader tem se consolidado como o principal agente de desenvolvimento rural na Europa, atingindo mais de 50% da superfície rural europeia, onde vivem mais de 50% da população rural (AGUILAR CRIADO, et al, 2003). Na França, o turismo rural2 surgiu com a finalidade de 1 Citação retirada do artigo Comercializar um turismo rural de qualidade, do caderno LEADER. Disponível em: <www.rural-europe.aeidl.be/rural-pt/biblio/touris/art03.htm>. Acesso em: 22 Março 2003. 2 Nesse país, Turismo Rural refere-se a qualquer atividade na área rural, excluindo-se as montanhas e o litoral. 10 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores combater o êxodo rural, complementar a renda das propriedades rurais e proteger a natureza, tendo sua política de desenvolvimento – segundo a lógica da abordagem territorial – estruturada na oferta de alojamentos e na abordagem por produtos desenvolvidos em torno de alojamentos com forte imagem de marca (TULIK, 2003). Já em Portugal, a atividade iniciou-se em 1978, com o chamado Turismo de Habitação, a partir do qual foram regulamentadas quatro categorias básicas: Turismo Rural, Agroturismo, Turismo de Aldeia e Casa de Campo. O turismo no espaço rural surgiu como uma alternativa para desenvolver as áreas rurais do interior e para combater o êxodo, tendo se inspirado, basicamente, no exemplo francês (TULIK, 2003). A experiência espanhola data de antes de 1960, quando o espaço rural espanhol conheceu fluxos turísticos, de forma bem tímida e limitada. Com a industrialização, o homem do campo deslocou-se para as cidades, buscando melhores condições de vida, surgindo nesse momento o “turismo de retorno”. Mais tarde, o turismo rural na Espanha teve início com iniciativas públicas e privadas. A partir de 1986 o governo iniciou, então, uma campanha para auxiliar proprietários rurais que tinham interesse em adaptar suas moradias como alojamentos turísticos, objetivando recuperar e conservar a arquitetura tradicional, conter o êxodo rural, proporcionando renda e comercialização dos produtos locais diretamente com os turistas (TULIK, 2003). Na Itália, inicialmente denominado de “agriturismo”, o turismo no espaço rural surgiu em 1966, com a finalidade de sensibilizar a opinião pública para a proteção da natureza e das áreas rurais, em que os agricultores alugavam suas casas, comercializavam seus produtos e participavam do turismo equestre (TULIK, 2003). No Brasil, o Turismo Rural teve seu início inspirado na experiência europeia, podendo-se observar, em virtude desse efeito, a demonstração do uso de termos e expressões importados e empregados, originando as diferentes formas de Turismo no Espaço Rural em várias regiões do país. A partir de meados da década de 1970 o espaço rural brasileiro começou a sofrer mudanças devido às transformações na produção agrícola decorrentes de processos tecnológicos e formações de complexos agroindustriais. Tais transformações podem ter contribuído para o surgimento de efeitos sociais perversos como desigualdades e 11 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores exclusão no campo (SCHNEIDER; FIALHO, 2000). A modernização brasileira significou para o espaço rural uma transformação muito grande nos modos de vida, devido ao grande número de pessoas que partiu do campo para a cidade, em busca de emprego e melhores condições de vida. Diante dessa realidade, de acordo com Araújo (2000), o turismo passou a ser visto como um elemento acelerador do processo de reinserção do homem rural no seu habitat. Com a necessidade de superar a crise que atingia principalmente os pequenos produtores, teve início um processo de diversificação das atividades. Com isso, o setor primário passou a dividir espaço com a prestação de serviços, que surgiu como alternativa capaz de possibilitarao produtor uma renda extra, utilizando não somente a terra, o ar e a água, mas também as paisagens e os espaços existentes para o lazer e para o turismo (ARAÚJO, 2000). A partir de então, o turismo rural começou a ser enxergado como um elemento propulsor do desenvolvimento rural, propiciando melhoria na qualidade de vida dos proprietários e demais envolvidos com a atividade turística rural. Em decorrência, a agricultura e a pecuária começaram a dar lugar ao turismo rural, considerado como um negócio com possibilidades de gerar dinheiro e empregos direta e indiretamente na área. “Quando as cidades despontam e aceleram os ritmos de vida, quando a pressa, o impessoal, os ruídos ou a contaminação atmosférica passar a constituir características que definem a vida cotidiana, surge a necessidade de fugir para aqueles espaços que representam exatamente o contrário, ou seja, o meio rural. É nele onde se encontram paz, tranquilidade, natureza e repouso” (SOLLA, 2002, p.114-115). Tratando-se de uma atividade relativamente nova no Brasil e em virtude de nossa grande extensão territorial, não existem relatos precisos que datem o início do turismo rural. É sabido que, com o rótulo Turismo Rural, as primeiras iniciativas oficiais surgiram no município de Lages, interior de Santa Catarina, na fazenda Pedras Brancas, em 1986, sendo seguida pela fazenda do Barreiro e Boqueirão, no mesmo município (RODRIGUES, 2000). A partir de então, as propriedades que passaram a praticar a atividade do chamado turismo rural multiplicaram-se rapidamente não só no município de Lages, mas em todo território brasileiro, principalmente na região Sul e Sudeste. Também muitos municípios da região Centro-Oeste, destacando-se o estado do Mato Grosso do Sul, aderiram à atividade. Hoje em dia, pode-se dizer que em todo o território nacional existem experiências de turismo rural, expandindo-se inclusive para as regiões Norte e Nordeste. Observa-se que, a partir de 1990, os aspectos positivos relacionados ao turismo rural no Brasil, como diversificação da economia regional, melhorias das condições de vida das famílias rurais, diminuição do êxodo rural, integração do campo com a cidade, resgate da autoestima do campesino, dentre outros, foram amplamente difundidos, fazendo com que um número significativo de empreendedores investisse nesse segmento, muitas vezes de forma pouco profissional ou sem o embasamento técnico necessário. Diante deste cenário, o que se tem percebido é que a migração natural do homem do campo para a cidade parece estar sofrendo, nos últimos anos, um processo de reversão em virtude da necessidade de o ser humano estar em contato físico com o campo, com a natureza, tornando-se, portanto, uma válvula de escape para a agitação e os problemas dos grandes centros. Está ocorrendo uma verdadeira ‘fuga temporária’ em busca do verde e da tranquilidade do campo, fortalecendo, dessa forma, a atividade turística desenvolvida no espaço rural. 2 - CONCEITUANDO E CARACTERIZANDO O TURISMO RURAL Segundo Boullón (2004), a população que atualmente habita em cidades é cerca de 54% da população mundial, visto que dessas, quase 20% (500 milhões), saem de suas casas nos fins de semana com a intenção de passar o dia ao ar livre ou de consumir algum serviço recreativo na cidade. Em qualquer lugar do mundo, a grande maioria de viajantes com finalidade turística é proveniente de centros urbanos onde os salários são mais altos, existem mais 12 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 13 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores informações sobre as possibilidades de viajar e a necessidade de sair da cidade nos períodos de tempo livre é maior. Esses turistas possuem uma preocupação com a qualidade ambiental dos locais a que se dirigem, ao mesmo tempo em que são motivados por atividades recreativas e de lazer diferenciadas, de modo que seu tempo livre seja preenchido de forma satisfatória. A busca do lazer, da qualidade de vida, de atividades que fujam à rotina estafante da cidade está na base da motivação dos turistas de hoje, cujo objetivo é vivenciar experiências diferentes daquelas que experimentam em sua vida diária. Para Salles (2003, p. 31): “A tranqüilidade e o relaxamento aliados à autenticidade do local e o convívio com os autóctones e seus costumes também fazem parte desta preocupação, o que justifica um desenvolvimento do turismo nos segmentos aliados à natureza e à vida no campo, tornando o turismo no meio rural um dos segmentos que tem gerado maiores mudanças e pesquisas com relação ao desenvolvimento com sustentabilidade”. Essa postura do turista exige uma nova forma de planejamento para as localidades onde há recursos naturais e culturais e que possuam potencialidades para a implantação do turismo. Considerando que os locais procurados pelos turistas já não mais se restringem ao modelo sol e praia, abrem-se oportunidades para práticas alternativas em outros espaços, como por exemplo, no espaço rural, onde o cidadão habituado à vida na cidade tem a oportunidade de vivenciar uma vida mais calma e saudável em contacto com a natureza, além de poder conhecer e muitas vezes participar das atividades próprias da vida rural. Essa tendência aparece para os produtores rurais como uma oportunidade de agregar valor a seus negócios, sendo muitas vezes responsável por um aumento das oportunidades de trabalho no campo e permitindo uma maior chance de emprego e renda para os habitantes das zonas rurais. Nesses casos, é importante atentar para o fato de 14 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores que para a atividade turística alcançar sucesso e condições de sustentabilidade no meio rural é necessário que se procure preservar o desempenho das atividades agrárias nas propriedades e, ainda, envolver as áreas do entorno, as quais podem se beneficiar com a demanda turística. Pode-se observar que o turismo rural, em algumas regiões, vem se desenvolvendo de forma satisfatória, apresentando-se como uma opção viável e de significativo retorno econômico; contudo, como em toda atividade inovadora, multiplicam- se os riscos envolvidos em sua implantação, principalmente em razão da “relativa inexperiência do homem do campo com uma atividade não tradicional, aliada ao desconhecimento da maioria das nuances e especificidades do turismo no espaço rural” (ALMEIDA; RIEDL, 2000, p. 9). Com isso, torna-se de vital importância que o meio rural esteja preparado para receber os turistas cujos benefícios para o produtor e para a comunidade local podem ser inúmeros, desde que saibam desenvolver e implantar essa atividade de forma sustentável. Existem diferentes formas de conceituar o turismo rural. Para que se tenha uma ideia mais aproximada do que se entende desse termo é necessária uma revisão dos conceitos existentes, o que além de aumentar a possibilidade de compreensão do fenômeno permitirá contextualizar a atividade bem como seu desenvolvimento na Europa e no Brasil. O turismo rural “é um produto que atende a demanda de uma clientela turística, atraída pela produção e consumo de bens e serviços no ambiente rural produtivo” (ZIMMERMANN, 1996). Para Ruschmann (1998, p. 49), o turismo rural deve “[...] estar constituído sobre estruturas eminentemente rurais, de pequena escala, ao ar livre, proporcionando ao visitante o contato com a natureza, com a herança cultural das comunidades do campo, e as chamadas sociedades e práticas ‘tradicionais’”. Nessa definição, a autora enfatiza principalmentea questão do ambiente e da convivência no espaço rural, destacando a questão da cultura local, o que seria mais representativo no caso de propriedades com economia em pequena escala. O mesmo pode ser encontrado na definição de Moletta (1999, p. 9), de que o turismo rural é 15 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores “[...] uma atividade de lazer que o homem urbano procura junto às propriedades rurais produtivas, buscando resgatar suas origens culturais, o contato com a natureza e a valorização da cultura local. Já para o homem do campo significa um meio para aumentar a sua renda mensal, de forma harmônica, valorizando sua propriedade e o seu estilo de vida”. Na definição de Moleta, inclui-se a perspectiva daquele que recebe, destacando o turismo como uma oportunidade não somente de ganhos, mas também de revalorização do seu próprio estilo de vida. Olga Tulik (2003, p. 86-87), analisando diversos autores que tratam do turismo rural, considera que a atividade deve estar relacionada, “[...] especificamente, ao meio e à produção rural. Se a ideia é de complementar a renda do pequeno produtor rural, gerar emprego, evitar o êxodo rural e promover o desenvolvimento local, o Turismo Rural deve ser conceituado como uma atividade que considere os atributos essenciais do que é, de fato, rural”. Para Cavaco (2001, p. 109), quando falamos em turismo rural, “[...] pensamos não só nos espaços procurados, como também nos tipos de alojamentos oferecidos, nas classes sociais envolvidas, na organização familiar ou social das férias, nos comportamentos dos turistas como consumidores. [...] o turismo rural é um turismo de espaços naturais e, sobretudo, de espaços humanizados, ativo ou apenas contemplativo”. Rodrigues (2000, p. 51-54) afirma que “o turismo rural é uma modalidade ainda relativamente nova no Brasil quando comparada a outras [...]”, definindo que “o turismo rural estaria correlacionado a atividades agrárias passadas e presentes que conferem à paisagem sua fisionomia nitidamente rural, diferenciando-se das áreas cuja marca 16 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores persistente é o seu grau de naturalidade, relativo a ecossistemas ricos em biodiversidade”. Nas definições de Tulik, Cavaco e Rodrigues, a ênfase está na atividade produtiva desenvolvida no meio rural e suas peculiaridades, sendo o turismo um meio de agregar valor a essas atividades de forma complementar. Com esse enfoque, o turismo rural difere do turismo em áreas naturais, pois necessariamente deverá acontecer em um espaço onde a produção rural acontece. Com isso, o meio rural passa a assumir um novo papel além da produção agrária, devendo se adequar à dinâmica de mercado no que se refere à formatação desse novo produto. Conforme afirma Calvente (2000, p. 30), “a ideia de regeneração rural, significando a definição do novo papel que o meio rural deve desempenhar na sociedade, além do abastecimento alimentar, função primordial desempenhada ao longo dos séculos, [...] usos múltiplos [...]”, dotando o espaço rural de diferentes funções, dentre elas, a turística. Assim, é importante a questão da diferenciação entre os produtos que constituem a oferta turística para que haja um maior poder de atração. No caso do turismo rural, uma das formas possíveis de diferenciação do produto é a sua tematização, realizada com a utilização de símbolos e/ou motivos de diversas índoles para materializar espaços específicos de consumo. Por meio da homogeneização de temas relacionados às atrações e mesclados com a cultura, história, lendas, mitos e/ou temas diversos, o produto se diferencia dos demais, dotando-se de conteúdo e oportunizando seu consumo (PAIXÃO et al, 2004). Um marco na definição de turismo rural pode ser encontrado na ‘Carta de Joinville’3, elaborada por ocasião da finalização dos trabalhos do Congresso Internacional sobre Turismo Rural e Desenvolvimento Sustentável realizado em 2004, que formulou o seguinte conceito: “Turismo Rural é aquele que, do ponto de vista geográfico, acontece no espaço rural; do ponto de vista antropológico, oferece ao visitante a 3 Documento elaborado durante o IV CITURDES (Congresso Internacional sobre Turismo Rural e Desenvolvimento Sustentável), realizado na cidade de Joinville-SC, no mês de maio de 2004, contendo reflexões e recomendações dos grupos de trabalhos participantes do evento, que expressaram aspirações, dentre outras, de estruturar uma rede latino-americana integrada por pesquisadores em Turismo Rural. Disponível em: <www.turismorural.org.br/abrattur/>. 17 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores possibilidade de vivências da cultura rural; do ponto de vista socioeconômico, representa um complemento às atividades agropecuárias e, finalmente, do ponto de vista do imaginário, atende às expectativas de evasão da rotina urbana e de realizar outras experiências de vida”. Segundo Keane (1996 apud BLOS, 2006, p. 11), o turismo rural é “[...] um veículo potencial para o desenvolvimento local, a reconversão econômica, o progresso social e a conservação da herança rural. Consequentemente, ele deveria ser pensado, organizado, comercializado e administrado de acordo com as características, necessidades, limitações e potenciais das áreas receptoras e seus habitantes. Os efeitos do desenvolvimento turístico atuariam primeiramente na comunidade rural receptora, sendo a principal beneficiada de qualquer desenvolvimento”. Fontana (2005, p. 20) define turismo rural como sendo: “As atividades turísticas praticadas em propriedades rurais produtivas, envolvendo a população local, seus usos e costumes, com a finalidade de complementar a renda e valorizar a cultura dos residentes, ao disponibilizar uma opção de turismo alternativo que vá ao encontro das necessidades de lazer do homem urbano”. No entender de Oliveira (2004), o turismo rural propicia o contato direto entre o produtor e o consumidor final, ou seja, “[...] o turismo rural propicia o contato direto do produtor com o consumidor final, e permite ao primeiro oferecer, além da hospedagem e/ou permanência, a venda de seus produtos in natura (frutas, ovos, verduras, etc) ou beneficiados (compotas, bolos, queijos, etc). Assim, consegue melhorar os preços para os dois lados da transação, sendo mais rentável para o produtor, que agrega um valor ‘natural, fresco e puro’ ao produto, e mais barato e saudável para o consumidor, que evita pagar o lucro de intermediários (OLIVEIRA, 2004, p.64)”. Dessa forma, pode-se perceber que “o espaço rural é muito mais do que um fornecedor de matérias-primas. [...] é um espaço multifuncional” (CRISTÓVÃO, 2002, p. 81). Para alguns autores, o espaço rural de hoje possui uma nova legitimidade, de tal forma que não é mais simplesmente o fornecedor de matérias-primas para o urbano; comportando inúmeros elementos que se constituem nos recursos rurais, como por exemplo, a paisagem, o patrimônio arqueológico e histórico, as edificações históricas, tradições culturais, artesanato, gastronomia típica, dentre outros; que contribuem para dar a ele (o espaço rural), essa característica de multifuncionalidade, propícia para, dentre outras atividades, a implementação do turismo rural. Sendo assim, para o planejamento e organização das atividades e condições da oferta do turismo rural em qualquer região, além dos aspectos sócioculturais, espaciais, econômicos, ambientais e de planejamento,os técnicos encarregados, em conjunto com a comunidade local, precisam identificar características que diferenciem seu produto dos demais, criando uma tematização para o produto a ser oferecido, de acordo com o público a ser atingido. 3 - CONHECENDO O MERCADO DO TURISMO RURAL O mercado turístico é a reciprocidade entre a oferta e a demanda no que tange às ações operacionalizadas que tratam dos produtos e/ou serviços de viagens. Esse mercado se forma por uma rede de informações existentes entre produtores e consumidores 18 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 19 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores turísticos, com o objetivo de comunicação e tomada de decisões sobre a venda e a aquisição de produtos e/ou serviços disponíveis. O produto turístico pode ser entendido como o conjunto de equipamentos e serviços turísticos, atrações, acessos e facilidades, colocados no mercado à disposição dos turistas, atendendo suas solicitações ou desejos. Sendo assim, ao conjunto de elementos que forma o produto turístico colocado no mercado à disposição dos turistas denomina-se oferta turística. A oferta turística pode ser definida como o conjunto de atrações naturais e artificiais, desde que sejam implantadas através de processos naturais já existentes na região. Assim como todos os produtos turísticos à disposição dos consumidores para satisfação de suas necessidades. A demanda turística pode ser expressa de muitas formas, como por exemplo, pelo número de turistas que visitam determinada região, pela quantidade de bens e serviços que consomem, pelo número de pernoites que utilizam, etc. A demanda de turismo rural pode ser definida como a quantidade de bens e serviços turísticos resultantes de processos produtivos de uma propriedade rural. Bens e serviços estes que indivíduos (os turistas) desejam e são capazes de consumir, a um dado preço e num determinado período de tempo, no ambiente rural. Observa-se que os bens e serviços do turismo rural são apenas os produtos produzidos no interior de uma propriedade rural. Os mercados de turismo podem ser considerados inseridos dentro de uma concorrência imperfeita, pois os produtos não são iguais e passíveis de troca, porém diferenciados. Dessa forma, o mercado turístico sofre um processo de segmentação, objetivando uma melhor identificação da demanda, sendo seu fator principal, o motivo da viagem. Somente conhecendo as características e motivações dos clientes o empreendedor será capaz de elaborar estratégias capazes de conquistá-los e mantê-los. De acordo com Moletta (1999), na sua maioria, o cliente atraído pelo turismo rural é urbano de classe média, sendo os grandes centros urbanos os maiores emissores. Estes ainda podem ser divididos em dois grandes grupos: estudantil e familiar. Na maioria das vezes o público estudantil é organizado em grupos pelas escolas de primeiro e segundo graus, universidades ou técnicas, com os seguintes objetivos principais: 20 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores • Vivenciar uma experiência no campo; • Estudar na prática alguns conteúdos do currículo escolar; • Conhecer as relações existentes entre o homem do campo e o urbano; • Conhecer técnicas das atividades agropastoris. O público familiar é aquele que viaja em casais ou pequenos grupos formados pela família, amigos ou, em alguns casos, turmas organizadas por agências e, na maioria das vezes vão até a propriedade rural com veículo próprio. As motivações que levam esse público a deixar sua residência e deslocar-se para o meio rural em busca de lazer são diversas, podendo-se citar: • Necessidade de uma mudança de ambiente para recuperar as energias perdidas; • Contato mais próximo com a natureza, sem ruídos ou qualquer outro tipo de poluição; • Convivência com pessoas de estilos de vida diferente, em termos de vínculos familiares, tarefas diárias, noções de tempo, preocupações diversas ou amizades; • A busca por um lugar diferenciado, considerado autêntico; • Alimentação saudável com produtos livres de agrotóxicos e outras impurezas. O contato com o meio rural, a vida do homem do campo, seus usos e costumes despertam interesse nas pessoas que vivem nos centros urbanos de tal forma que dispõem parte de seu tempo livre e de seus recursos financeiros para desfrutar do lazer, em contato com o mundo rural. Portanto, os clientes são o elemento vital de qualquer organização e conhecer suas reais necessidades quanto ao serviço ou produto desejado torna-se a chave para o sucesso dos empreendimentos turísticos, dentre eles, os rurais. 4 - IMPACTOS POSITIVOS E NEGATIVOS DO TURISMO RURAL O turismo é um dos fenômenos mais significativos da época em que vivemos, atingindo proporções mundiais e influenciando os campos político, cultural, econômico, social e ambiental. É necessário ter em mente que a atividade turística, apesar dos inúmeros benefícios que traz, também poderá gerar impactos com consequências desastrosas para a comunidade local onde está instalada, se as ações não forem planejadas e corretamente executadas. Os impactos negativos advindos da atividade turística no meio rural estão relacionados aos possíveis danos ambientais e sócioculturais das localidades envolvidas. O desenvolvimento desordenado da atividade pode gerar uma sobrecarga no meio rural, causando um desequilíbrio muito grande, comprometendo o meio ambiente por intermédio das alterações na paisagem, utilização demasiada ou indevida de recursos naturais, e ainda, a modificação dos costumes locais, o que possivelmente leva a um descontentamento da demanda que busca pela simplicidade do campo, seus usos e costumes. Sendo assim, de acordo com diversas bibliografias que tratam de problemas gerados em decorrência do turismo rural, tem-se (CALVENTE; GONÇALVES, 2004): • Aumenta o preço da terra agrícola; • Intermediários podem querer controlar a atividade, diminuindo o retorno financeiro para o proprietário; 21 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 22 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores • Ocorre o abandono das atividades agropecuárias, com o problema de falta de alternativas econômicas além das turísticas; • Pode ocorrer pouca transformação na dinâmica da econômica local, se os produtos necessários forem trazidos de fora e se os melhores empregos forem ocupados por pessoas externas à comunidade; • Os recursos naturais, históricos e culturais do meio rural são frágeis e pode não haver acesso às técnicas que auxiliam na conservação; como a carga turística é pequena, o custo da implantação de melhorias pode ser proibitivo; • A mentalidade dos empresários pode trazer uma lógica onde o lucro é a prioridade; • Há insuficiência de investimentos públicos e privados; • Os habitantes têm dificuldades para crer nas potencialidades turísticas da sua própria região, podendo ocorrer reações de desconfiança ou até rejeição aos visitantes e; • Surge o problema de carência de pessoal especializado. Porém, se devidamente planejado e orientado, o turismo rural proporciona diversos benefícios, dentre eles (MOLLETA, 1999; CALVENTE; GONÇALVES, 2004): • Diversifica a renda, pois possibilita a complementação da receita rural por intermédio do turismo, bem como a promoção dos produtos tradicionaisda propriedade, como artesanato, doces, etc; • Auxilia o desenvolvimento do artesanato e de produtos alimentícios; • Cria novos empregos, pois, sendo um dos princípios do turismo rural a continuidade das atividades tradicionais da propriedade, a inserção de uma nova atividade consumirá mais mão-de-obra, contribuindo para a manutenção da família rural no campo, bem como o surgimento de novas oportunidades de emprego no campo; 23 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores • Gera o efeito multiplicador, uma vez que o turismo rural desencadeia uma série de benefícios na comunidade receptora, como por exemplo, a geração de novas despesas como pagamentos de matéria-prima ou salários, movimentando a economia local, em razão da atividade turística. Outro efeito visível é o estimulo a uma série de atividades produtivas, tanto na propriedade receptora quanto nas vizinhas, uma vez que estas podem atuar como fornecedoras na produção de alimentos e artesanato; • Estimula a preservação e valoriza o patrimônio natural, já que o turismo rural oportuniza o aumento da sensibilização ambiental tanto dos visitantes quanto da população local, contribuindo para a promoção da preservação e recuperação ambiental do espaço rural; • Valoriza o patrimônio cultural, estimulando a preservação da cultura local por meio de seu resgate e valorização são fundamentais para criar situações em que o turista possa vivenciá-la, seja por intermédio da gastronomia, uso de objetos, tipo de móveis e arquitetura existentes ou, ainda, por meio da demonstração da cultura propriamente dita como, por exemplo, rodas de prosa e viola, festas, brincadeiras; • Possibilita uma melhor qualidade de vida local uma vez que além da geração de renda, o turismo rural contribui para a melhoria na infraestrutura básica local, o que consequentemente, colabora com a qualidade de vida; • Cria novos pólos turísticos, pois o turismo rural contribui para a descentralização do fluxo turístico nos destinos já consagrados, na medida em que são abertos novos núcleos no meio rural; • Por ser em pequena escala permite evitar muitos problemas ligados ao turismo massificado (depredação, prostituição, crescimento da utilização de drogas, de doenças transmissíveis e de insegurança); • Contribui para a formação educacional do homem do campo, por meio da capacitação para o trabalho; 24 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores • Colabora na aquisição de novos conhecimentos, melhorando o nível de serviços oferecidos aos turistas; • Desenvolve o espírito de participação e parceria na comunidade rural, possibilitando resultados mais imediatos do que se fosse mantido isolado. A participação e a parceria efetuada entre as propriedades da comunidade local tornarão a atividade mais eficaz e com ganhos mais significativos, na qual cada propriedade poderá participar complementando a outra, tanto na questão de atrativos, como no fornecimento de produtos ou serviços para a mesma; • Permite a interação social e cultural dos moradores das grandes cidades com os agricultores e vice-versa e; • Possui uma função didática ou educativa. Portanto, o turismo rural deve harmonizar os interesses do meio ambiente, da comunidade local e do próprio turista, de modo sustentável, garantindo a integridade do binômio homem-natureza. 5 - DISTRIBUIÇÃO DA ATIVIDADE NAS REGIÕES BRASILEIRAS De acordo com a Associação Brasileira de Turismo Rural (ABRATURR) – São Paulo, no ano de 1999 existia no país 1.150 propriedades cadastradas explorando o turismo no meio rural. Segundo Zimmermann (2001 apud BATHKE, 2002), o turismo no espaço rural brasileiro encontrava-se distribuído até então conforme o mapa a seguir (Figura 01), na sua maioria nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Iniciativas discretas da atividade estavam começando a surgir na região Nordeste do país, mais precisamente no estado da Bahia. Figura 01: Principais iniciativas de Turismo no Espaço Rural no Brasil. Fonte: Zimmermann, 2001 apud Bathke, 2002. Já dados recentes da ABRATURR (2008) demonstram que a atividade cresceu significativamente em todo o país, expandindo-se para as regiões Norte e Nordeste, de acordo com o quadro a seguir. Quadro 01: Propriedades rurais brasileiras com atividade turística REGIÃO PROPRIEDADES % Norte 176 3,62 Nordeste 436 9,05 Centro-Oeste 588 12,12 Sudeste 2.706 55,78 Sul 942 19,41 4.851 100,00 Total Fonte: ABRATURR, 2008. 25 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 26 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Segundo a ABRATURR (2008), as propriedades cadastradas localizadas no meio rural estão trabalhando com infraestrutura e atratividades bem diversificadas, distribuídas da seguinte forma: • Região Norte: estão incluídos os hotéis e pousadas de selva, onde se concentram o extrativismo e a pesca. O modo de vida das comunidades, a floresta, praias de rio e uma culinária diferente do restante do país são destaques peculiares do turismo rural; • Região Nordeste: incluem-se os sítios e fazendas de eventos, com destaque para as vaquejadas e o folclore local. Paisagem, tradição, arte, povo e gastronomia são legados culturais e atrativos para o turismo rural no nordeste; • Região Centro-Oeste: as pousadas pantaneiras desenvolvem a atividade da lida com o gado, destacando as comitivas. As festas, a religiosidade e a gastronomia, aliados ao respeito pela natureza revelam a grandiosidade do povo do cerrado. O destaque no Distrito Federal é o mosaico cultural que compõe o ambiente rural; • Região Sudeste: a atividade turística nessa região inclui as manifestações folclóricas em comunidades rurais. O Espírito Santo, considerado o berço do agroturismo no país, propicia ao turista ver o processo de elaboração dos produtos que pode levar para casa. O estado das Minas Gerais ganha destaque na cultura gastronômica peculiar e a boa prosa do mineiro espalhada por toda parte. No Rio de Janeiro é possível apreciar os sabores do campo aliados às lembranças do Império. O estado de São Paulo tem nas cavalgadas, fazendas históricas, jeito caipira e comunidades tradicionais rurais, o sabor de café e história que encantam os turistas e faz com que esse estado seja o maior fornecedor do turismo rural brasileiro; • Região Sul: o que fortalece o turismo rural na Região Sul é o turismo desenvolvido nas colônias, destacando-se as festas religiosas. O Sul mescla 27 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores a herança de imigrantes e das histórias de lutas dos índios, que se refletem nos sabores, saberes, fazeres e tradições sulistas. Dessa forma, percebe-se que iniciativas de turismo rural estão sendo desenvolvidas em todo o país, sendo em algumas regiões mais significativas em termos quantitativos que em outras, porém, atentas aos princípios da propriedade produtiva e diversificação de renda por meio da atividade turística. 6 – INSTITUIÇÕES E ENTIDADES LIGADAS AO TURISMO RURAL ABRATURR - Associação Brasileira de Turismo Rural EMATER - Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária IDESTUR - Instituto de Desenvolvimento do Turismo Rural MTUR - Ministério do Turismo SEBRAE - Serviço Nacional de Apoio às Micro e PequenasEmpresas SENAR - Serviço nacional de Aprendizagem Rural 28 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores GLOSSÁRIO Projeto Leader: essa iniciativa fundamenta-se na promoção local do desenvolvimento das economias rurais, identificando alternativas inovadoras e eficazes com valor exemplificativo e viável. Segundo MacSharry (apud BLOS, 2000), a filosofia do projeto Leader é de que o desenvolvimento rural deve partir de um desejo comum de todos os atores radicados no cenário local, conhecedores plenamente da realidade local e decididos em alcançar objetivos comuns. Turismo de retorno: Expressão utilizada na Espanha e aplicada aos emigrantes da área rural que foram atraídos para as cidades na fase da industrialização e que, no período das férias, retornam para as localidades de origem. --------------FIM DO MÓDULO I---------------- Curso de TURISMO RURAL MÓDULO II Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização do mesmo. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos na bibliografia consultada. MÓDULO II Inventariando o Meio Rural 1 - ENTENDENDO O QUE É UM INVENTÁRIO TURÍSTICO DO MEIO RURAL O turismo é muito mais do que o lazer. O fenômeno turístico pode promover o desenvolvimento sócioeconômico e a qualidade de vida dos residentes (tanto rural quanto urbano), desde que a atividade seja desenvolvida e planejada com base nos princípios da sustentabilidade. Ou seja, a implantação do turismo dentro dos princípios de sustentabilidade implica em não degradar e destruir os recursos naturais e artificiais existentes e em ser planejado e gerido de modo a melhorar a qualidade de vida da comunidade local. No entanto, o turismo não é necessariamente desejável ou viável em todas as localidades. Cada comunidade deve verificar se dispõe de recursos adequados para desenvolver o turismo e se existem mercados de turismo potenciais suscetíveis de serem atraídos pela localidade. Essa verificação de viabilidade é possível por meio da identificação da existência da oferta turística, ou seja, os recursos que têm à disposição e, que podem ser potencializados em produto turístico. A organização da oferta turística, bem como a sua complementação mediante novos produtos requer a compreensão dos conceitos e reflexão das atividades que esses podem abarcar. O inventário turístico tem se 30 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 31 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores apresentado como uma importante ferramenta na ordenação da oferta, bem como, se bem aproveitado, direcionar novas oportunidades de composição de produtos turísticos, através dos elementos naturais e culturais que este apresentar. Ou seja, o inventário da oferta turística está entre os passos iniciais para a implantação do turismo em qualquer localidade. Trata-se de uma técnica que permite a identificação do “conjunto dos diversos recursos que o receptivo possui para serem utilizados em atividades designadas como turísticas” (ANDRADE, 1995, p. 101). Portanto, o Inventário da Oferta Turística compreende o levantamento, identificação e registro dos atrativos turísticos, dos serviços e equipamentos turísticos e da infraestrutura de apoio ao turismo como instrumento base de informações para fins de planejamento e gestão da atividade turística. Este instrumento identifica e quantifica os atrativos, equipamentos e serviços, além de subsidiar, a partir dos dados gerados, a análise e qualificação dos mesmos, possibilitando a definição de prioridades para os recursos disponíveis e o incentivo ao turismo sustentável. Ao realizar o inventário de uma determinada localidade (tanto rural quanto urbana), é preciso perceber a realidade do lugar e interpretá-la de forma harmônica, ou seja, não basta apenas preencher formulários, o conhecimento técnico e a percepção do pesquisador são fundamentais. Dessa forma, o inventário turístico tem por objetivo resgatar, coletar, ordenar e sistematizar dados e informações sobre as potencialidades dos atrativos turísticos e das ofertas locais. “Com a elaboração do inventário, o pesquisador estará obtendo informações valiosas para a avaliação do impacto ambiental e da sustentabilidade de projetos futuros, servindo-se de elemento preventivo e quantificador, contribuindo com a identificação de possíveis impactos no meio rural e seu entorno” (SALLES, 2003, p.16). Sendo assim, o Inventário Turístico do Meio Rural é um levantamento de dados e coleta de informações, bem como leitura dos atrativos e ofertas existentes, em uma dada propriedade ou localidade rural e seu entorno, com o objetivo de analisar a potencialidade turística da mesma e, ainda, servir como ferramenta de auxílio para o planejamento da atividade visando o turismo sustentável. Portanto, antes de se iniciar o inventário da propriedade rural propriamente dita, se faz necessário um reconhecimento do seu entorno, no tocante aos meios de acesso, equipamentos e serviços de apoio e do conhecimento geográfico da região onde a mesma está inserida. 1.1 - A Utilização dos Mapas como Ferramenta para o Inventário Turístico do Meio Rural Para possibilitar que o pesquisador possa realizar uma leitura correta da propriedade ou localidade a ser inventariada e seu entorno, torna-se necessário utilizar como instrumento de trabalho a cartografia. Isto porque os mapas geográficos possibilitam um maior entendimento da região em estudo, permitindo a visualização do conjunto das disposições dos recursos constatados. Identificam, ainda, a proximidade com vilas, povoados, centros emissores de turistas, bem como as vias de acesso disponíveis e suas características. A seguir serão apresentados os tipos de mapas e cartas a serem utilizados quando da elaboração do inventário turístico rural, de acordo com Salles (2003): • Mapa geográfico: abrangendo os limites municipais da propriedade alvo, as cidades principais, as estradas de rodagem, de ferro, aeroportos; • Carta topográfica ou planta cadastral1: das propriedades circunvizinhas (urbanas e/ou rurais), estradas vicinais, ruas, caminhos, pontes, rede de energia elétrica, telefones, estações repetidoras de televisão, hidrografia (rios, córregos, lagos, lagoas, quedas d’água, cascatas), acidentes geográficos e coordenadas geográficas; • Mapa da vegetação original e relevo com perfis topográficos: que podem ocorrer na propriedade ou região próxima, onde haja um tipo de vegetação e/ou relevo importantes. Exemplificando: uma região de campos ou cerrados; uma vegetação pantaneira, litorânea ou de florestas; a presença de montanhas (picos, serras, montes, 32 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 1 A planta cadastral acompanha a escritura da propriedade com registro no Cartório de Registro de Imóveis do município. canyons e outros); planaltos e planícies. Tanto o relevo quanto a vegetação detectados no mapa são de vital importância para o desenvolvimento do turismo; • Carta geológica/mapa dos recursos minerais: detecta a presença de jazidas minerais, grutas, cavernas e furnas; • Carta de clima: informaçõesquanto às temperaturas médias mensais e anuais, precipitação pluviométrica mensal e anual, umidade, temperatura e precipitações de solo e suas características quanto à declividade, textura, porosidade; • Carta de áreas indígenas: registro da presença de reservas indígenas na área estudada ou circunvizinha. No registro deve constar a situação das áreas indígenas, ou seja, se estão regularizadas, demarcadas, identificadas ou em processo de identificação; • Carta das Unidades de Conservação (UC) da natureza: localização dos parques nacionais, estaduais e municipais, reservas biológicas e estações biológicas. De posse desses mapas e/ou cartas, será possível a identificação geográfica da realidade da propriedade em estudo, bem como de seu entorno. 1.2 - Indicação dos Acessos no Inventário Turístico Rural Trata-se do levantamento das rodovias e outros meios de acesso à localidade. O acesso se faz por meios aéreo, terrestre, fluvial e marítimo. Quando o acesso for feito por rodovias, devem ser identificadas as estaduais, municipais e vicinais. Identificar a distância em quilômetros, bem como o tempo gasto no percurso, o número de pistas 33 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 34 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores existentes, a sinalização dos acessos, a existência de pedágios (número de praças e valores individuais), o tipo de pavimentação da rodovia e, ainda, iluminação, condições de conservação e visibilidade entre um grande centro urbano e o município, entre as cidades circunvizinhas do centro do município, bem como entre o município e o distrito, bairro ou vila onde está localizada a propriedade alvo de estudo; essas informações são necessárias para enriquecer o levantamento. Quando o acesso for feito por ferrovias, os seguintes itens devem ser levados em consideração: identificar ferrovias federais ou estaduais; os terminais de passageiros e/ou cargas; distância a ser percorrida em quilômetros (da propriedade ao terminal); tempo gasto; tarifas aplicadas; horários e descrição das condições gerais do terminal, como por exemplo, número de guichês, balcão de informação, sanitários, etc. Quando existir a possibilidade do acesso ser realizado por viações rodoviárias, deverá ser identificado o terminal de passageiros; as tarifas aplicadas; identificação e número de linhas regulares urbanas, intermunicipais e estaduais; horários e definição das condições gerais, como no caso anterior. No acesso por via aérea é preciso identificar as companhias que operam na região; os aeroportos ou campos de pouso; descrever as condições gerais dos terminais; destinos e horários dos voos regulares; tempo gasto; serviço de táxi aéreo, fretamento, cargas. Quando o acesso acontecer por via marítima e/ou fluvial, os dados a serem levantados são: identificação dos portos e/ou ancoradouros; as companhias que operam na região; serviços de táxi fluvial, fretamento, aluguel de embarcações, cargas; tipos de embarcações disponíveis para o traslado (pequenas, médias ou grandes); descrição das condições gerais dos terminais; destinos regulares; tempo gasto; horários regulares; tarifas aplicadas e outras informações que julgue serem relevantes para o enriquecimento do levantamento. Sendo assim, somente com o levantamento dos meios de acesso será possível analisar a viabilidade para o recebimento de turistas, no que diz respeito ao modo como o mesmo poderá chegar até a propriedade. 1.3 - Identificação dos Equipamentos e Serviços de Apoio no Inventário Turístico Rural Os equipamentos de apoio são aquelas instalações que existem para atender as necessidades da comunidade, porém são de muita utilidade (algumas imprescindíveis) para o turismo. Saber quais são, seus endereços, horários de funcionamento, os serviços oferecidos e demais informações importantes auxiliarão no processo da análise de viabilidade do empreendimento turístico rural, uma vez que a existência de tais equipamentos apoia o desenvolvimento da atividade. Os serviços de apoio são aqueles que atendem outros segmentos da sociedade, mas são usados pelo turista: alimentação, assistência médica, serviços mecânicos e de socorro, telefonia, comunicação, entre outros. A área de saúde conta com a prestação de serviços médicos, odontológicos e veterinários, distribuídos em clínicas, hospitais e/ou prontos-socorros, postos de saúde e ambulatórios, os quais devem ser levantados. A área de comunicação também estar presente no levantamento dos equipamentos de apoio e conta com: agências de correios; rádios e TV locais, regionais e/ou transmissoras; jornais e revistas locais ou regionais e companhias telefônicas. A assistência mecânica é um serviço de base que deve ser contemplado no levantamento, identificando os revendedores; oficinas autorizadas; serviço de guincho e socorro; borracheiros; oficinas em geral; postos de abastecimento; entre outros. Identificar os estabelecimentos de segurança pública também será necessário para complementar os equipamentos de apoio, dentro do inventário turístico rural. Entre esses estabelecimentos estão: Delegacias da Polícia Militar; Delegacias da Polícia Civil; Delegacias Municipais; Delegacias da Mulher; Delegacias de Trânsito e Corpo de Bombeiros. 35 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Os estabelecimentos financeiros também fazem parte do leque dos equipamentos de apoio em uma localidade e, para tanto, devem ser identificados. Entre eles estão: agências bancárias; caixas eletrônicos e casas de câmbio. Outros equipamentos diversos colocados à disposição da comunidade local também devem ser considerados, tais como: bancas de jornal mais próximas; farmácias e drogarias; centros de compras (feira de artesanato, feira de produtos locais); centros religiosos. Os organismos públicos e privados de apoio à área rural também devem ser lembrados quando da realização do inventário dos equipamentos e serviços de apoio. Entre eles estão: sindicatos rurais; EMATER regional; EMBRAPA regional; SENAR regional; secretarias municipal-estadual de agricultura; cooperativas; associações locais; ONG’s; programas de apoio especiais para a zona rural, entre outros. Portanto, ao realizar o inventário turístico rural não se deve deixar de efetuar o levantamento dos equipamentos e serviços de apoio existentes na localidade a qual a propriedade rural pertença. 2 - INVENTARIANDO A PROPRIEDADE RURAL Após realizar o inventário do entorno, é hora de conhecer a propriedade rural que está interessada no desenvolvimento do turismo. Para tanto, diversos levantamentos são necessários, sempre atentando para a fidelidade dos dados e percepção do pesquisador. “As acessibilidades influem decisivamente na diferenciação do espaço turístico de uma região, uma vez que a estas estão associadas às condições de bem- estar das populações e a dinâmica das economias locais [...]”, o que leva o pesquisador a buscar diversas fontes de pesquisa (SIRGADO, 2001 apud SALLES, 2003, p. 52). Portanto, a seguir serão detalhados os levantamentos que o pesquisador deverá efetuar 36 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 37 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores na propriedade em estudo, tomando como referência principal a autora Salles, em sua publicação sobre o assunto datada de 2003.2.1 - Delimitação da Área Para se estudar a delimitação da área da propriedade rural, o pesquisador poderá utilizar fontes de pesquisa como entrevista com o proprietário, plantas de construção e paisagismo, registro de matrícula (escritura) e a observação feita por ele in loco. A seguir serão apresentados em forma de tópicos os itens a serem levantados quanto à delimitação da área, bem como as explicações para os mesmos: • Acesso principal ou vias de circulação: identificar a extensão e largura em metros; o tipo de pavimento (cascalho, asfalto, pedras, outro); as condições de acesso (boas, más, ruins); o paisagismo, arborização e iluminação; • Trilhas, caminhos e pontes: identificar a extensão e largura em metros; as condições de seguridade (corrimões, capacidade de carga); o tipo de pavimento (terra batida, cascalho); condições de conservação (boas, más, ruins); se houver cercas, se possuem palanques de cimento com amarrados e/ou eucalipto ou outra madeira com arames; o paisagismo, arborização natural e iluminação; • Formas de acesso interno viáveis: identificar como deve ser percorrido o acesso principal (automóvel, jipe, caminhões, etc.) e as trilhas (a pé, a cavalo, trator, etc.); • Sinalização: identificar como é feita a sinalização do acesso principal, das trilhas (placas e setas), bem como as condições de visibilidade e iluminação da mesma; • Manutenção dos equipamentos e instalações: verificar a periodicidade em que ocorre a manutenção, se o serviço é executado sob contrato ou terceirizado, ou ainda, se é feito por empresas especializadas; • Manutenção de trilhas, estradas, caminhos, jardins: identificar a periodicidade e quem executa a manutenção; • Manutenção de cercas e aceiros: este tipo de manutenção tem por objetivo a limpeza destinada a não permitir acesso do fogo às cercas, árvores, casas, etc., 38 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores mediante roçada, carpa, desobstrução, etc. Nesse item deve-se identificar, portanto, a periodicidade e quem a executa, verificando ainda se há preocupação com a época de incidência de queimadas; • Diferenciais relevantes: todo produto turístico deve possuir um diferencial que o difere de outros produtos semelhantes, sendo assim, deve ser identificado se existem tais diferenciais na propriedade, como: portal centenário, mata-burro (antiga forma de barreira para animais, cova com palanques de madeira ou trilhos na entrada de propriedades rurais), marcos topográficos, entre outros. 2.2 - Saneamento Básico Para um melhor aproveitamento turístico de uma propriedade deve-se dar um tratamento especial à infraestrutura relacionada à capacidade potencial de redes de abastecimento (água, luz, esgoto), de tal forma que não seja insuficiente para atender à demanda turística e continuar servindo às necessidades dos moradores locais. Quanto ao abastecimento de água, é importante identificar e analisar: • Origem e esgotamento em mm3 de minas, nascentes ou poços artesianos; • Como é realizada a contenção, se em caixas cobertas tipo reservatórios ou valas a céu aberto; • As condições de captação da água, ou seja, se por meio de galerias, canais, adutoras, mangueiras, encanamentos; • Como é feita a distribuição interna, se por galeria, mangueiras, encanamentos; • Se existe fornecimento, tratamento e distribuição pela Companhia de Saneamento (municipal ou estadual); • A forma como a água é conduzida até os reservatórios, se por canais, galerias; 39 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores • A capacidade do reservatório em litros cúbicos; • Quais as formas de tratamento da água, tais como fluoretação e cloração, filtragem, etc.; • Como é feita a limpeza de reservatórios, identificando a periodicidade, os materiais utilizados para higiene; • A salubridade da água, atentando para ausência de cor, odor e sabor; • As condições das instalações hidráulicas, identificando a periodicidade de revisão; • Se a água é utilizada integralmente para o consumo ou se existe uso múltiplo para mesma, tal como para irrigação; • Existindo piscinas ou tanques, verificar as condições da água, bem como o tratamento adequado. Outro item importante quando analisado o saneamento básico da propriedade é a questão do esgoto sanitário e, para tanto, necessita-se identificar: • A fossa séptica, efetuando uma descrição da mesma; • As formas de decantação e tratamento do esgoto; • A periodicidade de revisão nas instalações hidrosanitárias; • Qual é o destino das águas servidas, que podem ser por fossas/sumidouros, tanques de tratamento, esgotos; • Se existe fossa séptica biodigestora, possibilitando a transformação em adubo orgânico; • A existência de ligação do esgoto da propriedade com a rede coletora de saneamento básico do município; • Se a coleta e tratamento do esgoto são realizados pela companhia de saneamento básico municipal ou estadual. 40 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Atenção especial também deve ser dada ao lixo rural quando do levantamento do saneamento da propriedade, verificando-se: • Como a contenção do lixo rural é feita, ou seja, por valas, latões, aterros, ou outra forma de contenção; • As formas de coleta, se seletiva ou indiscriminada; • Como é feito o acondicionamento do lixo para transporte, se em sacos plásticos, latões, carriolas, outros; • Qual o destino final dado ao lixo, como por exemplo, coleta especial (caminhões coletores), se é queimado, enterrado, lançados nos rios, valas compactadas ou não, coleta pública; • Se existem fontes renováveis, como adubo orgânico, biodigestor (a partir do esterco), biofertilizantes; • Se existe alguma alternativa energética a partir do lixo; • Onde os despejos domésticos, desinfetantes, pesticidas, fungicidas entre outros são lançados; • Como é feito o transporte e armazenamento de produtos químicos e veterinários; • Existência de depósito para embalagens vazias de produtos químicos, descrevendo o local, condições e finalização das embalagens; • Se existem unidades regionais de recebimento e triagem de embalagens vazias de produtos químicos e veterinários; • Existência ou não de monitoramento dos resíduos sólidos produzidos. A energia elétrica também faz parte do saneamento básico da propriedade rural e para tal, devem ser identificados: • A forma como acontece a transmissão da energia, se pela rede pública ou interna, por cabos, transformadores, geradores; • Se a distribuição na propriedade é bifásica e/ou trifásica; • O fator de potência, medido em KW; • A capacidade de sobrecarga de uso (em KW), nos diversos pontos distribuídos dentro da propriedade; • O consumo médio de energia elétrica, considerando-se os períodos de pico (época de irrigação, estiagem, etc.), em KW; • Se a fiação é área ou subterrânea; • A periodicidade de manutenção elétrica preventiva; • A existência de pararraios; • Se existe fonte de energia alternativa, como por exemplo, energia solar. 2.3 - Características Naturais As características naturais de uma determinada propriedade pode ser o grande diferencial da mesma, sendo de fundamental importância e contribuição para o desenvolvimento da atividade turística no meio rural. Conhecer detalhadamente cada uma das peculiares naturais possibilitará um melhor aproveitamento da propriedade, quando do desenvolvimento do planejamento turístico local. Sendo assim, serão apresentadas a seguir as características naturais a serem levantadas durante a realização do inventário turísticorural. 41 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 42 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 2.3.1 - Fatores Abióticos Conhecer as variações climáticas torna-se indispensável para a programação de visitas aos atrativos naturais. Dessa forma, é necessário que se conheça o clima regional, classificando-o quanto à localização geográfica e altitude (equatorial, tropical, subtropical, tropical de altitude, tropical atlântico, temperado, semiárido); a temperatura média anual, medida em ºC; o regime de precipitação, ou seja, verões (chuvosos e quentes) e invernos (frios e secos); o índice pluviométrico anual; a umidade relativa do ar, medida em %; os períodos de incidências de geadas e neblinas; os períodos de maior incidência solar, para se atentar a questão da luminosidade e períodos de maior incidência de nebulosidade. Esses dados podem ser coletados junto à Estação Meteorológica mais próxima da propriedade, Institutos de Meteorologia, sites da internet do INMET, INPE, EMBRAPA, etc., Casa da Agricultura local, entre outros. 2.3.2 - Relevo “Do ponto de vista turístico, a importância do relevo está na beleza cênica com aproveitamento para práticas diversas de lazer, incluindo-se a simples observação da paisagem” (SALLES, 2003, p. 58). Sendo assim, conhecer o relevo predominante será de grande auxílio para, principalmente, se estabelecer quais atividades de lazer poderão ser desenvolvidas na propriedade rural. Dessa forma, nessa fase do levantamento serão identificados montanhas, planaltos, planícies, pequenas montanhas (morros), depressões (superfícies mais baixas que as formas de relevo que as circundam), depressões absolutas (abaixo do nível do mar), depressão alongada (vales que em geral contém um leito de um curso d’água, como resultado de um processo de erosão do terreno) e, canyons. Também deverão ser identificadas faixas mais frequentes de altitude, dados da geologia regional, formas de vertentes (declividade) associadas a dados pedológicos (textura, estrutura, densidade, permeabilidade, espessura, porosidade e capacidade de saturação). 43 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 2.3.3 - Espeleologia Nesse ponto do levantamento, o pesquisador deverá estar atento, não somente com relação à coleta de informações de documentos e entrevistas, como também à sua sensibilidade de observação, pois, estará buscando dados sobre: • As cavidades naturais subterrâneas existentes na propriedade ou região, como cavernas, grutas, furnas, abrigos sob rocha, abismos; • Sinais de sítios arqueológicos, como cacos de cerâmica, potes de barro, pontas de flecha, machados ou outros instrumentos de pedra, pintura antigas; • Sinais paleontológicos, como a existência de ossos, dentes, conchas, moldes e contramoldes de atividade biológica, etc.; • Outras cavidades existentes. Para tanto, mediante a existência de cavidade natural, o pesquisador deverá levantar sua localização (coordenadas), identificando o nome usualmente dado pelos moradores, condições de acessibilidade para a mesma, se a população faz uso do local, quer seja para abrigo, depósito, local de manifestações folclóricas ou religiosas, etc. Para o caso de serem encontrados materiais arqueológicos/paleontológicos, verificar a existência de estudos já efetuados, quais organismos institucionais estiveram presentes (universidades, instituições, ONG’s, etc.). Relatar a existência ou sinais de vandalismos e/ou depredações e registrar se existe ou não participação de organismos públicos municipais, estaduais ou federais, quanto à preservação e conservação do local. Quanto à fauna existente nas cavernas, torna-se importante registrar a participação ou não quanto a projetos para preservação e conservação, de organismos públicos municipais, estaduais ou federais; bem como a identificação da mesma, geralmente realizada pelos moradores. 44 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Outro detalhe que não deve ser deixado de lado para que se possa ter uma análise da situação atual do local, diz respeito à verificação da existência de: decreto de preservação dado pelo IBAMA; Parques Nacionais, tombamento como patrimônio histórico ou reserva da biosfera, etc.; projetos de uso e ocupação para fins turísticos; frequência de visitação para visitantes locais, regionais, estaduais e outros; política de cobrança; nomes usualmente dados pelos moradores e outras observações relevantes. Todas essas informações devem ser buscadas junto à prefeitura local. 2.3.4 - Vegetação A vegetação, como componente das características naturais da propriedade, tem sua importância enaltecida, uma vez que a prática do turismo no meio rural acontece em áreas que tenham as mais variadas formações vegetais, as quais devem ser reconhecidas pelo pesquisador, para que, numa avaliação futura, possa detectar os problemas ambientais e apresentar projetos, acrescentando um atrativo educativo para futuros turistas da propriedade e do entorno. Dessa forma, deverá ser identificado o bioma ao qual pertence à vegetação, como por exemplo, Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal. Após a identificação do bioma, deverá ser determinada a tipificação do mesmo, ou seja, se primária ou secundária; de cultivo e/ou reflorestada, entre outras. A formação vegetal do bioma também deve ser observada, reconhecendo suas características e ambientes em que ocorre (igapó, várzea ou terra firme) e ainda; a diversidade de animais existentes. Um item ao qual o pesquisador deverá estar muito atento quando do levantamento são os problemas ambientais apresentados no local, como desmatamentos, queimadas, desertificação, lixo, poluição das águas, do ar e do solo, ocupação desordenada do território, entre outros. Também deverá verificar a existência de projetos e programas que busquem a preservação e conservação do local, como por exemplo, manejo florestal, cooperação nacional e internacional e, ainda, iniciativas em outras regiões próximas. 45 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 2.3.5 - Flora e Fauna O Brasil é detentor da maior biodiversidade do planeta, reunindo milhares de espécies animais e vegetais, o que o torna alvo para a biopirataria, caça e pesca predatória, queimadas, desmatamentos, entre outros. Diversas pesquisas e estudos de preservação têm sido incentivados por meio de projetos e apoios nacionais e internacionais. O conhecimento da flora e fauna local contribuirá para o desenvolvimento de atividades turísticas no meio rural, as quais poderão estar alicerçadas na sensibilização e preservação da biodiversidade do planeta. Quando do levantamento da fauna, deve se atentar para abundância das espécies de ambientes aquáticos e terrestres, classificando- as em raras, endêmicas, exóticas, em extinção, espécies-chave (importantes para a conservação da área). Também deve ser identificada a dinâmica das populações, hábitos alimentares e reprodutivos e migrações. A origem de ameaças às espécies locais, como por meio de caça, pesca, presença do homem, desmatamento, tráfico, entre outras, também deve ser determinada. Ao se efetuar o levantamento da flora, a diversidade de espécies deve ser identificada e classificada quanto ao seu porte e hábito (arbórea, arbustiva, herbácea, terrestre, aquática).
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