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nutrição em pauta | 1julho / Agosto / 2012 O conhecimento sobre os meca- nismos que promovem a interação entre a dieta e os genes para modificar a es- trutura e função biológica progrediram consideravelmente nos últimos anos. De modo geral, os seguintes termos são usa- dos: nutrigenômica refere-se aos efeitos da nutrição na expressão gênica, nutri- genética refere-se aos efeitos da variabi- lidade gênica nas respostas à nutrição e a genômica nutricional considera esses dois aspectos. A melhor saúde cerebral possível é resultado de uma sofisticada rede de in- terações entre vários fatores ambientais e genéticos. Avanços futuros no entendi- mento de complexas interações entre nu- trição, genes e o cérebro deverão ajudar a maximizar a saúde mental, o bem-estar e a qualidade de vida. Este trabalho se concentra nos avanços recentes sobre o papel das inte- rações nutrição-gene e especialmente o papel do estado energético na maximi- zação da saúde mental e bem-estar. A revisão mostrará que as interações de- sempenham um papel importante na de- terminação da saúde cerebral em todas as etapas da vida. Sibele B . Agostini Dra. Sibele B. Agostini CRN 1066 – 3a Região editorial Por Sibele B. Agostini NutriçãoEM RPAUTA Prepare-se para o Mega Evento Nu- trição 2012, englobando o 13o Congresso Internacional de Nutrição, Longevidade e Qualidade de Vida, 13o Congresso Inter- nacional de Gastronomia e Nutrição, 8o Fórum Nacional de Nutrição, 7o Simpósio Internacional da American Academy of Nutrition and Dietetics (USA), 5o Sim- pósio Internacional da Nutrition Society (United Kingdom), 5o Simpósio Inter- nacional do Le Cordon Bleu (França), 1o Simpósio Internacional da Italian Culina- ry Institute for Foreigners (Itália), 13a Ex- posição de Produtos e Serviços em Nutri- ção e Alimentação, dentre outros, que será realizado em São Paulo no período de 04 à 06 de outubro de 2012 e já conta com parcerias com as principais entidades in- ternacionais e nacionais do setor. E também o 8o Fórum Nacional de Nutrição 2012, que será realizado este ano em 11 capitais do país: RJ, MG, BA, SC, DF, PE, AM, PA, PR, RS e SP. Estamos muito felizes pois em 2012 a Nutrição em Pauta está completando seu 20o aniversário. Novos Conhecimentos sobre Nutrição, Genes e Saúde do Cérebro | nutrição em pauta nutricaoempauta.com.br2 Novos Conhecimentos sobre Nutrição, Genes e Saúde do Cérebro. Resultados do Uso de Glutamina na Doença Inflamatória Intestinal: Uma Revisão Proteína do Soro do Leite e sua Utilização por Praticantes de Ativi- dade Física. A Gastronomia no Contexto da Humanização Hospitalar. Dieta Mediterrânea e os seus Benefícios nas Doenças Crônicas não Transmissíveis. Alimentação Hospitalar e Fatores que Influenciam a sua Aceitação. Estratégias de Intervenção Nutricional para Adolescentes: Conheci- mentos, Percepções e Motivações. Aquisição e Ingestão de Lanches e Guloseimas por Escolares: Relação com a Exposição à Televisão e o Tipo de Escola. Tecnicas Gastronômicas Le Cordon Bleu. NutriçãoEM RPAUTA ISSN 1676-2274 Ano 20 - número 115 - julho / Agosto 2012 - edição impressa Dra. Sibele B. Agostini | redacao@nutricaoempauta.com.br Cláudio G. Agostini Jr. | diretoria@nutricaoempauta.com.br Daniela Bossolani Agostini | marketing@nutricaoempauta.com.br Prof. Dra. Andréa Ramalho (UFRJ/RJ), Prof. Dr. Antonio Herbert Lancha Junior (EEFE-USP/SP), Prof. Dra. Avany Fernandes Pereira (UFRJ/RJ), Prof. Dra. Claudia Cople (UERJ/RJ), Prof. Dr. Dan Waitzberg (FMUSP/SP), Prof. Dra. Eliane de Abreu – (UFRJ/RJ), Prof. Dra. Fernanda Lorenzi Lazarim (UNICAMP/SP), Prof. Dra. Flávia Meyer (UFRGS/RS), Prof. Dra. Josefina Bressan (UFV/MG), Prof. Dra. Joy Dauncey (Cambridge/UK), Prof. Dra. Lilian Cuppari (UNIFESP/SP), Prof. Dra. Marcia Regina Vitolo (UNISINOS/RS), Prof. Dra. Maria Margareth Veloso Naves (UFG/GO), Prof. Dr. Mauro Fisberg (UNIFESP/SP), Prof. Dr. Melvin Williams (Maryland/USA) , Prof. Dra. Mirtes Stancanelli (UNICAMP/ SP), Prof. Dra. Nailza Maestá (UNESP/SP), Prof. Dra. Nelzir Trindade Reis (UVA/RJ), Prof. Dr. Ricardo Coelho (UNIUBE/MG), Prof. Dr. Roberto Carlos Burini (FMUNESP/SP), Prof. Dra. Rossana Pacheco da Costa Proença (UFSC/SC), Prof. Dra. Sonia Tucunduva Phillipi (USP/SP), Prof. Tereza Helena Macedo da Costa (UnB/DF), Prof. Dra. Thais Borges Cesar (FCF-UNESP/SP) Dra. Ilana Elman (Doutora FSP/USP) Chef Patrick Martin | LCB/PARIS Chef Barbara Kerr Chef Fabiana B. Agostini Dra. Cecília Tsukamoto Amanda B. Ansaldo | MTB 46767/SP Alexandre Agostini Roberta Lajes | assinaturas@nutricaoempauta.com.br estudiolumine.com.br A revista Nutrição em Pauta está indexada na Base de Dados PERI da ESALQ/USP Produzida em julho/2012 Publicação Bimestral da Núcleo Consultoria - Atualização Científica em Nutrição - Av. Ver. José Diniz, 3651 - cj 41 - Campo Belo - São Paulo - SP - Brasil - Tel 55 11 5041-9321 - Fax 55 11 5041-9097 - email nucleo@nutricaoempauta.com.br - website www.nutricaoempauta.com.br editora científica diretor coordenadora de marketing e eventos conselho científico pesquisadora científica consultor de gastronomia colaboradores tradutora repórter fotógrafo assinaturas projeto gráfico e editoracão eletrônica Indexação Assine: (11) 5041.9321 r.22 assinaturas@nutricaoempauta.com.br Fale Conosco: (11) 5041.9321 r.20 contato@nutricaoempauta.com.br www.nutricaoempauta.com.br Publicação dirigida para profissionais que atuam na área de saúde e nutrição. A reprodução dos textos, no todo ou em parte, é permitida desde que seja citada a fonte e colocado link para o site www.nutricaoempauta. com.br. Os artigos assinados são de inteira responsabili- dade de seus autores. nesta edição Índice Julho/agosto/2012 3. 11. 17. 23. 29. 35. 41. 49. 55. A REvISTA DoS MELHoRES PRoFISSIoNAIS DE NUTRIção nutrição em pauta | 3julho / Agosto / 2012 New Insights into Nutrition, Genes and Brain Health Novos Conhecimentos sobre Nutrição, Genes e Saúde do Cérebro matéria de capa Por Margaret Joy Dauncey Mecanismos moleculares e celulares subja- centes à estrutura e função cerebral são afetados pela nutrição durante toda a vida, com profundas implicações na saúde e doença. Essas respostas à nutrição são, por sua vez, influenciadas pelas dife- renças individuais em vários genes-alvo. O conhe- cimento sobre os mecanismos de interação entre a nutrição e os genes está aumentando graças aos recentes avanços na genômica e epigenômica. Esta revisão começa com um breve resumo dos conheci- mentos atuais sobre as interações nutrição-gene, concentrando-se no papel da epigenética na regu- lação nutricional da expressão gênica, e da impor- tância dos polimorfismos de base única (SNPs) e va- riação no número de cópias (CNVs) para determinar as respostas individuais à nutrição. Uma avaliação crítica sobre os novos conhecimentos no papel das interações nutrição-gene, em particular o estado energético na saúde mental e bem-estar. O melhor estado energético possível, incluindo a atividade física, tem impacto positivo na saúde mental. Por outro lado, desbalanços no estado energético, inclusive a subnutrição e superalimentação, es- tão envolvidos em muitos transtornos mentais e neurológicos. Essas ações são mediadas pelas al- terações no metabolismo energético e múltiplas moléculas de sinalização que costumam envolver mecanismos epigenéticos, incluindo a metilação do DNA e alterações de histonas. A melhor saúde cerebral possível é resultado de uma sofisticada rede de interações entre vários fatores ambientais e genéticos. Avanços futuros no entendimento de complexas interações entre nutrição, genes e o cérebro deveriam ajudar a maximizar a saúde men- tal, o bem-estar e a qualidade de vida. Molecular and cellular mechanisms underlying brain structure and function are affected by nutrition throughout the life-cycle, with profound implications for health and disease. These responses to nutrition are, in turn, influenced by individual differences innumerous tar- get genes. Recent advances in genomics and epigenomics are increasing understanding of mechanisms by which nu- trition and genes interact. This review starts with a short account of current knowledge on nutrition-gene interactions, focusing on the significance of epigenetics to nutritional regulation of gene expression, and the importance of single nucleotide polymorphisms (SNPs) and copy number variants (CNVs) in determining individual responses to nutrition. A critical assessment is then provided of new insights into the role of nutrition-gene interactions, and especially energy sta- tus, in mental health and well-being. Optimal energy sta- tus, including physical activity, has a positive role in mental health. By contrast, sub-optimal energy status, including undernutrition and overnutrition, is implicated in many disorders of mental health and neurology. These actions are mediated by changes in energy metabolism and multiple signalling molecules. They often involve epigenetic mecha- nisms, including DNA methylation and histone modifica- tions. Optimal brain health results from a sophisticated network of interactions between numerous environmental and genetic factors. Future advances in understanding the complex interactions between nutrition, genes and the brain should help to optimize mental health, well-being and quality of life. weber Em 1903, reconheceu-se que a inges- tão energética, atividade física e heredi- tariedade são importantes para saúde ce- rebral e longevidade. O comprometimento da estrutura cerebral e suas funções são hereditários em muitas famílias, mas isso é parcialmente evitável por meio da modera- ção significativa no consumo de alimentos e estimulantes e por meio da atividade físi- ca regular.” | nutrição em pauta nutricaoempauta.com.br4 NutriçãoEM RPAUTA Novos Conhecimentos sobre Nutrição, Genes e Saúde do Cérebro Introdução As interações entre nutrição e genes desempenham um papel importante na modificação da estrutura e fun- ção cerebral (DAUNCEY 2009 a,b). Isso pode ter grande impacto na saúde, disfunção e doença cerebral. Os efei- tos da nutrição no cérebro são essencialmente mediados pelas alterações na expressão gênica. Essas mudanças apresentam muitas e variadas características: podem ser dinâmicas e de curto prazo, estáveis e de longo prazo, e mesmo hereditárias entre divisões celulares e por muitas gerações. Além disso, a variabilidade genética pode modi- ficar os efeitos da nutrição na expressão gênica de manei- ra significativa. Variações gênicas comuns envolvendo um único nucleotídeo ou porções maiores do DNA genômico são parcialmente responsáveis pelas diferenças individu- ais nas respostas à nutrição. Muitos nutrientes, alimentos e dietas estão envol- vidos na saúde cerebral (ALVARENGA 2009; DAUN- CEY 2009 a,b; BENTON 2010; GU & SCARMEAS 2011; INNIS 2011; KENNEDY; WIGHTMAN 2011; MORRIS 2012). Macronutrientes, micronutrientes, fitoquímicos, a dieta do mediterrâneano e estado energético, isto é, inges- tão energética, atividade física e metabolismo energético. Em 1903, reconheceu-se que a ingestão energética, ativi- dade física e hereditariedade são importantes para saúde cerebral e longevidade. O comprometimento da estrutura cerebral e suas funções são hereditários em muitas famí- lias, mas isso é parcialmente evitável por meio da modera- ção significativa no consumo de alimentos e estimulantes e por meio da atividade física regular (WEBER 1903). Es- tudos realizados no último século elucidaram muitos dos mecanismos subjacentes a essas ações. Nos últimos anos, as novas tecnologias genômicas e epigenômicas promove- ram o avanço nos conhecimentos sobre a importância da nutrição e genes em saúde cerebral e doenças. Progressos recentes nas interações nutrição-gene e transtornos cerebrais, inclusive problemas de saúde men- tal, doenças neurodegenerativas e outras que afetam o neurodesenvolvimento, são discutidos em outra revisão (DAUNCEY 2012). Este trabalho se concentra nos avan- ços recentes sobre o papel das interações nutrição-gene e especialmente o papel do estado energético na maximiza- ção da saúde mental e bem-estar. A revisão mostrará que as interações desempenham um papel importante na de- terminação da saúde cerebral em todas as etapas da vida. Metodologia Uma ampla busca na literatura e inúmeras consul- tas foram realizadas para garantir que todas as publica- ções relevantes fossem avaliadas. Concentrou-se atenção nos trabalhos publicados entre 2010 e fevereiro de 2012, mas vários outros publicados anteriormente também fo- ram avaliados. O maior banco de dados eletrônicos usado foi o PubMed (um serviço da Biblioteca Nacional de Me- dicina e do National Institutes of Health dos EUA). Alguns importantes periódicos científicos não indexados em muitos bancos de dados eletrônicos também foram pes- quisados, pelo seu conteúdo relevante. Discussões deta- lhadas foram realizadas com especialistas do mundo todo sobre diferentes tópicos apresentados nesta revisão. A au- tora também participou de conferências e palestras cientí- ficas, para garantir o máximo de conhecimento sobre no- vos avanços em todos os tópicos relevantes. Finalmente, a avaliação crítica de muitas centenas de trabalhos científi- cos garantiu que esta revisão apresentasse uma descrição equilibrada, exata e focada de novos conhecimentos em nutrição, genes e saúde cerebral. Interações Nutrição-Gene Nutrigenômica e nutrigenética Mecanismos moleculares e celulares permeiam to- dos os aspectos das interações nutrição-gene. Um pano- rama de importantes interações entre nutrição e genes é apresentado na Figura 1. O conhecimento sobre os meca- nismos que promovem a interação entre a dieta e os genes para modificar a estrutura e função biológica progrediu consideravelmente nos últimos anos. Isso aconteceu pa- ralelamente a uma ampla gama de terminologias e defi- nutrição em pauta | 5julho / Agosto / 2012 nições confusas. De modo geral, os seguintes termos são usados: nutrigenômica refere-se aos efeitos da nutrição na expressão gênica, nutrigenética refere-se aos efeitos da variabilidade gênica nas respostas à nutrição e a genômi- ca nutricional considera esses dois aspectos (DAUNCEY; ASTLEY 2006; FENECH et al., 2011; SCHUCH et al., 2011). Progressos significativos nas técnicas de biologia molecular e celular na última década revolucionaram abordagens na ciência da Nutrição. Estudos no papel da nutrição na saúde e doença envolvem a genômica, epi- genômica, modificações pós-translacionais, proteômica, metabolômica e biologia sistêmica (KUSSMANN et al., 2010; ROGERO; ONG 2010; LIU; QIAN 2011; MOORE; WEEKS 2011; MORINE et al., 2011). Além disso, análises abrangentes sobre a variabilidade gênica estão aumentan- do o conhecimento das diferenças individuais em respos- ta à nutrição. Juntas, essas abordagens estão garantindo uma abordagem mais alvo dirigida para a definição da melhor nutrição durante o ciclo de vida. Nutrição e expressão gênica: epigenética A nutrição afeta a expressão gênica na transcrição, translação e modificações pós-translacionais. Mecanis- mos epigenéticos desempenham um papel-chave em al- gumas dessas respostas. O sentido literal da palavra epige- nética é ‘acima da genética’ e refere-se a mecanismos que induzem mudanças na expressão gênica, sem alterações na sequência de DNA. Esses mecanismos frequentemente incluem a marcação química de cromatina, forma na qual o DNA é empacotado com proteínas de histona no núcleo da célula (DULAC 2010). Marcas epigenéticas induzem o remodelamento da cromatina e alterações relacionadas à expressão gênica. Elas incluem a metilação do DNA, que reduz a atividade gênica, e alterações de histona, tais como acetilação, que aumenta a atividade gênica. Definições precisas de epigenética variam muito: de mudanças estáveis e herdáveis para mudanças muito rápidas, dinâmicas e passageiras (AGUILERA et al., 2010; RODRÍGUEZ-RODERO et al.,2010; HOCHBERG et al., 2011). A maior parte do tecido neuronal adulto não é mitótica. Consequentemente, há argumentos de que a manutenção herdável no cérebro pode ser menos pro- blemática que alterações na metilação, independente da replicação e remodelamento da cromatina (MEANEY; FERGUSON-SMITH, 2010). Muitos fatores ambientais, incluindo estresse nutricional, fisiológico e psicológico, agentes químicos e infecções, exercem muita influência na regulação epigenética da expressão gênica (MATHERS et al., 2010; ZHANG; MEANEY, 2010; CAMPBELL et al., 2011; GALEA et al., 2011; PARLE-McDERMOTT; OZAKI 2011; SIMMONS, 2011). Isso, em conjunto com o fato de que as marcas epigenéticas podem ser transmiti- das por gerações, sugere que o limite entre riscos ambien- tais e herdáveis para uma doença não é tão claro quanto imaginávamos (CHOULIARIS et al., 2010). Mecanismos epigenéticos regulam a expressão gê- nica dos processos fisiológicos e patológicos do cérebro e são parte integral de diversas funções cerebrais (GRÄFF et al., 2011). São plásticos e reversíveis, sugerindo um me- canismo para modulação ambiental da saúde e da doença. A nutrição poderia ser usada por toda a vida, para acen- tuar o bem-estar mental e aliviar os efeitos adversos da experiência no início da vida. A metilação do DNA e alte- rações de histona são particularmente relevantes para esta revisão, por causa de importantes estudos já realizados sobre o papel do meio ambiente na modificação epigené- tica da função cerebral. Esses mecanismos estão envolvi- dos com cognição, inteligência, transtornos alimentares, autismo, depressão, esquizofrenia e doença de Alzheimer (TSANKOVA et al., 2007; CHOULIARIS et al., 2010; HA- GGARTY et al., 2010, CAMPBELL et al., 2011; MURGA- TROYD; SPENGLER 2011). Estudos sobre outros me- canismos epigenéticos envolvendo a metilação de RNA, falta de codificação de microRNAs, controle telomérico e efeitos de posição cromossômica também devem oferecer um novo entendimento sobre os mecanismos que ligam nutrição e saúde cerebral (MATHERS et al., 2010; SARA- CHANA et al., 2010; PAUL, 2011). Variabilidade genética Diferenças na sequência do DNA podem influen- ciar o fenótipo, as respostas biológicas ao ambiente e o risco de doença. Variações genéticas incluem mutações relativamente raras e aquelas mais comuns, como poli- morfismos de base única (SNPs) e variação no número de cópias (CNVs). Esses podem afetar a extensão da in- fluência da nutrição na expressão gênica de maneira sig- nificativa. As mutações envolvem uma mudança na sequên- New Insights into Nutrition, Genes and Brain Health matéria de capa Por Margaret Joy Dauncey | nutrição em pauta nutricaoempauta.com.br6 cia do DNA e isso pode resultar na perda ou mu- dança da função gênica. Algumas vezes elas estão ligadas a raros transtor- nos de um único gene, como a fenilcetonúria. Por outro lado, variações de genes comuns envolvendo uma mudança de um único mucleotídeo em pelo menos 1% da população são deno- minadas SNPs. Elas desempenham um papel essencial nas respostas individuais à nutrição e são importantes nas respostas neurais e cognitivas a nutrientes específicos, es- tado energético e envelhecimento (DAUNCEY; ASTLEY 2006; DAUNCEY 2009 a,b; WALTER et al., 2011). Diferentemente dos SNPs, os CNVs são variações estruturais de genes envolvendo múltiplas cópias ou de- leções de grandes partes do genoma, e podem afetar de 1 kb a muitas megabases de DNA por evento (REDON et al., 2006). CNVs podem ser herdados ou causados por uma mutação de novo e acontecem em genes, par- tes de genes e fora dos genes. Mudanças em um gene ou em sua região regulatória podem ter grande impacto no RNA e na expressão proteica. Essas inserções ou deleções comuns são responsáveis pela maior parte da variabi- lidade gênica entre as pessoas e costumam estar ligadas aos genes envolvidos nas interações moleculares-meio ambiente. O papel preciso delas nas doenças multifato- riais comuns é foco de atenção considerável, sendo que as diferenças nas metologias são algumas vezes respon- sáveis por associações falso-positivas (WELLCOME TRUST CASE CONSORTIUM, 2010). Muitos estudos atuais analisam a extensão do envolvimento dos CNVs nos transtornos neuropsiquiátricos e de neurodesenvol- vimento (MERIKANGAS et al., 2009; MORROW, 2010). Saúde Mental e Bem-Estar Estado energético e saúde mental Boa saúde mental não é apenas a ausência de problemas de saúde mental. Em vez disso, ela é marcada por vantagens positi- vas, incluindo a habilidade para ler, interagir com outros e enfrentar mudanças e incertezas (MENTAL HEALTH FOUNDATION, 2012). Saúde mental foi definida como estado de bem-estar, no qual a pessoa consegue realizar seu potencial, lidar com estresses normais da vida, tra- balhar de maneira produtiva e profícua e contribuir com a comunidade (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2012). Nos últimos anos, houve interesse considerável no estudo científico do bem-estar e felicidade (HUPPERT et al., 2005; BEDDINGTON et al., 2008). Fatores culturais, econômicos, sociais e ambientais, incluindo a nutrição, todos contribuem para o bem-estar e qualidade de vida. O estado energético desempenha um importante papel na saúde mental e bem-estar. O termo estado ener- gético usado aqui inclui a ingestão energética, atividade física e metabolismo energético. Dessa maneira, o signi- ficado é mais amplo e menos preciso que balanço energé- tico. Estado energético é considerado o termo mais apro- priado nesta revisão, porque tanto a superalimentação quanto a subnutrição, por exemplo, têm efeitos adversos na saúde cerebral. Além disso, pouquíssimos estudos con- centraram-se no balanço energético, genes e cérebro, mas estudos sobre aspectos específicos do estado energético foram conduzidos. Assim, estudos sobre a atividade física tendem a não controlar a ingestão energética, enquanto aqueles sobre a ingestão energética não costumam con- trolar a atividade física. Evidências consideráveis ligam atividade física e melhor ingestão energética possível com melhora de hu- mor e função cognitiva, sendo que tanto baixo peso quan- to obesidade estão associados com comprometimento do desempenho cognitivo (DAUNCEY 2009 a,b; SABIA et al., 2009; BURKHALTER; HILLMAN, 2011; FOSTER et al., 2011). Estudos em psicoterapia denominados dessen- sibilização e reprocessamento dos movimentos oculares (Eye Movement Desensitization e Reprocessing - EMDR) colocam a possibilidade de atividades ao ar livre, tais NutriçãoEM RPAUTA Novos Conhecimentos sobre Nutrição, Genes e Saúde do Cérebro world health organization Saúde mental foi definida como es- tado de bem-estar, no qual a pessoa con- segue realizar seu potencial, lidar com estresses normais da vida, trabalhar de maneira produtiva e profícua e contribuir com a comunidade.” St oc kx ch an ge nutrição em pauta | 7julho / Agosto / 2012 matéria de capa Por Margaret Joy Dauncey New Insights into Nutrition, Genes and Brain Health como caminhada, serem particularmente benéficas para a saúde mental e bem-estar. Apesar de um pouco contro- verso, EMDR é comprovadamente efetivo no tratamento do transtorno do estresse pós-traumático e também foi usado para o tratamento da depressão (COETZEE; RE- GEL 2005). Seu elemento exclusivo é a estimulação bilate- ral do cérebro, principalmente dos movimentos oculares, que podem evocar mudanças neurológicas e psicológicas no tratamento de memórias adversas. Esses movimentos oculares acontecem frequentemente durante caminhadas ao ar livre e podem parcialmente explicar porque essa ati- vidade é especialmente benéfica. Interações entre estado energético, genes e saúde ce- rebral são extremamente complexas. Em vez de pensar em um indivíduo como tendo alto ou baixo estado energético, o foco deveria ser no estado energético melhor possível, comparado a cenários onde isso não acontece. A com- preensão dos mecanismos subjacentes ligando nutrição, genese cérebro permitirá que se façam futuras recomen- dações para melhor nutrição e saúde cerebral possíveis. Mecanismos subjacentes: moléculas de sinalização e epigenética O estado energético durante o ciclo de vida in- fluencia diferentes hormônios e fatores de crescimento (DAUNCEY et al., 2001; DAUNCEY; WHITE, 2004). Esses atuam como sensores nutricionais que influenciam a estrutura e função cerebral, por meio de mudanças na expressão gênica. Moléculas como glicocorticoides, hor- mônios tireoidianos, insulina, fatores de crescimento in- sulin-like (IGFs) e fator neurotrófico derivado do cérebro (Brain-Derived Neurotrophic Factor - BDNF) participam de múltiplos sistemas de sinalização celular e redes neu- rais e atuam como mediadores das ações de energia na saúde cerebral (GOMEZ-PINILLA, 2008; DAUNCEY, 2009 a,b; ZHANG; MEANEY, 2010). Avanços recentes na elucidação do papel do BDNF nos transtornos neurológicos e saúde mental são parti- cularmente importantes (NAGAHARA; TUSZYNSKI 2011). Esta molécula está envolvida na neurogênese pré- -natal e no adulto, no crescimento, diferenciação e so- brevida de neurônios e sinapses, e na plasticidade sináp- tica. O BDNF desempenha um papel crítico no córtex cerebral e no hipocampo e é vital para aprendizagem, memória e cognição. Os efeitos benéficos da atividade física na saúde mental e cognição podem ser parcialmen- te explicados pela indução da expressão gênica de BNDF no hipocampo (GOMEZ-PINILLA, 2008; ERICKSON et al., 2012). Além disso, os efeitos adversos do elevado consumo energético ou exercícios extenuantes estão re- lacionados ao aumento de espécies reativas de oxigênio, redução da expressão de BDNF e comprometimento da plasticidade sináptica e cognição. A bioenergética oferece a interface entre meio am- biente e epigenoma, e há uma relação bastante estreita entre metabolismo energético e eventos epigenéticos (SY- MONDS et al., 2009; WALLACE, 2010). Resultados re- centes mostram que o exercício influencia a plasticidade cerebral induzida pelo BDNF no hipocampo, por meio do remodelamento epigenético da cromatina contendo o gene BDNF (GOMEZ-PINILLA et al., 2011). Ratos com acesso voluntário à corrida em roda apresentam queda da metilação do DNA e mudanças na acetilação de histonas na região promotora do exon IV de BNDF, uma região do gene que é altamente responsiva à atividade neuronal. Es- sas mudanças estão associadas a aumentos concomitantes no mRNA do BNDF e expressão proteica. Nesses estudos, os animais foram alimentados ad libitum, sugerindo-se que mudanças na ingestão energética associada ao exercí- cio também podem interferir na expressão de BDNF. Nu- trientes específicos conseguem intensificar os efeitos posi- tivos do exercício no cérebro. O ácido docosahexaenoico (DHA), ácido graxo poliinsaturado omega-3, acentua os efeitos do exercício na plasticidade sináptica relacionada ao BDNF e cognição (GOMEZ-PINILLA;YING, 2010). Em conjunto, evidências atuais sugerem que o me- lhor estado energético possível intensifica a saúde mental e bem-estar, em parte por meio de mudanças no metabo- lismo energético mitocondrial, regulação epigenética do gene BDNF e plasticidade sináptica. Muitas outras molécu- las de sinalização também estão envolvidas (DAUNCEY et al., 2001; DAUNCEY; WHITE, 2004; GOMEZ-PINILLA, 2008). Por exemplo, IGF-1 media as ações de BDNF, e o regulador de histona deacetilase sirtuina 1 (SIRT1) é mo- dificado pelo metabolismo energético. Glicocorticoides, hormônios tireoidianos e outros ligantes da super famí- lia de receptores nucleares também podem desempenhar um papel fundamental. Os receptores atuam como fatores de transcrição que têm impacto em múltiplos genes, por meio de mudanças epigenéticas envolvendo a acetilação da histona e o remodelamento da cromatina (DAUNCEY et al. 2001; GOMEZ-PINILLA; YING 2010). | nutrição em pauta nutricaoempauta.com.br8 Variabilidade genética: BDNF Variações de gene de várias moléculas de sinaliza- ção podem afetar a resposta individual às alterações em ingestão energética e atividade física. O reconhecimento da importância das variações genéticas na determinação de respostas individuais à nutrição está aumentando. Os SNPs estão ligados a muitos transtornos poligênicos comuns: a ação combinada de alelos de diferentes genes aumenta o risco de obesidade, diabetes, câncer, doença cardiovascular e transtornos cerebrais. Estudos sobre a associação genômica em um grande número de indiví- duos estão aumentando o conhecimento sobre o papel dos SNPs nas respostas à nutrição. Por exemplo, a ativi- dade física está associada com uma redução de 40% na predisposição genética à obesidade (LI et al., 2010). Este achado resultou na genotipagem de 12 SNPs em locos as- sociados à obesidade, em um estudo envolvendo mais de 20.000 indivíduos. Os transtornos cerebrais foram ligados a raras mu- tações gênicas, sendo que as mais comuns são SNPs e CNVs (DAUNCEY, 2012). Com relação ao BDNF, uma variação genética comum é o SNP Val66Met. Este polimorfismo está relacionado ao trânsito e secreção anormal de BDNF em neurônios e é associado ao funcionamento anormal do hipocampo e processamento da memória (EGAN et al., 2003). Há interesse considerável sobre a possível re- lação entre este SNP e a atrofia do hipocampo, assim como com o comprometimento da memória relacionado à idade (ERICKSON et al., 2012). Dados atuais sugerem apenas uma associação fraca e isso pode refletir intera- ções complexas com outros genes e fatores ambientais. Estudos genéticos revelaram associações con- sistentes entre variabilidade individual no gene BDNF, concentrações sanguíneas de BDNF e incidência de transtornos de alimentação (MERCADER et al., 2007). O SNP -270C/T está ligado à bulimia, enquanto o Val- 66Met está associado tanto com a anorexia quanto com a bulimia. Isso aumenta a possibilidade de os efeitos do estado energético na saúde mental e bem-estar serem significativamente afetados pelas variações em múltiplos genes que codificam as moléculas de sinalização envol- vidas no desenvolvimento e função cerebral. Estudos futuros sobre o papel crítico das variações genéticas na determinação de respostas à nutrição permitirão novas abordagens para maximizar a saúde mental e bem-estar durante a vida toda. Conclusão Esta revisão se concentra nos avanços recentes no conhecimento dos mecanismos pelos quais as interações nutrição-gene influenciam a saúde cerebral. Análise crí- tica de diversos estudos clínicos e experimentais revela que o estado energético tem grande influência no cére- bro: a melhor ingestão energética possível e atividade fí- sica têm efeitos benéficos na saúde mental e bem-estar. O impacto global da nutrição está relacionado à idade, ao estágio de desenvolvimento, às interações com outros componentes dietéticos e à variabilidade gênica indivi- dual. Está claro que a melhor ingestão alimentar possível e atividade física são essenciais para a saúde cerebral e que múltiplos genes estão envolvidos nesta resposta. En- tretanto, a definição precisa do que ‘é o melhor possível’ é extremamente difícil e será, sem sombra de dúvidas, o assunto de investigações futuras. Os efeitos da ingestão energética e atividade física na expressão gênica são modulados por nutrientes espe- cíficos, tais como o DHA, ácido graxo ômega 3. Várias moléculas de sinalização, incluindo BDNF, TrkB, IGFs e receptores hormonais nucleares, desempenham um im- portante papel, mediando ações da ingestão energética, atividade física e metabolismo energético no cérebro. Di- ferenças nas respostas individuais podem ser parcialmen- te explicadas pelas múltiplas variações gênicas envolvidas NutriçãoEM RPAUTA Novos Conhecimentos sobre Nutrição, Genes e Saúde do Cérebro nutrição em pauta | 9julho / Agosto / 2012 matéria de capa Por Margaret Joy Dauncey New Insights into Nutrition, Genes and Brain Health na sinalização celular e redes neurais. Estudos futuros sobreBDNF e milhões de outras variações genéticas de- vem sugerir novas possibilidades para maximizar a saúde mental e bem-estar e para prevenção e tratamento de do- enças cerebrais. A nutrição é apenas um dos muitos fatores ambien- tais que influenciam a saúde cerebral, sendo que o resulta- do depende da idade, sexo e experiência de vida. A figura 2 mostra que, juntamente com diversos fatores genéticos, eles compreendem uma sofisticada rede de controle, com grande impacto na saúde cerebral. Futuros estudos bene- ficiar-se-ão das novas tecnologias de biologia de sistemas para aumentar o entendimento das complexas interrela- ções entre esses fatores, para a determinação da melhor saúde cerebral durante toda a vida. Em longo prazo, essa complexa abordagem holística deverá permitir que faça- mos recomendações alvo dirigidas para se maximizar a saúde mental e bem-estar na sociedade. Avanços recentes no entendimento do papel das interações nutrição-gene na prevenção, tratamento e alívio dos devastadores trans- tornos mentais e neurológicos, tais como depressão, es- quizofrenia e doença de Alzheimer, serão discutidos em outra revisão (DAUNCEY, 2012). Agradecimentos Este artigo é baseado nas conferências apresenta- das no 4° Simpósio Internacional da Sociedade de Nutri- ção do Reino Unido sobre “Nutrição, genes e saúde: co- nhecimento atual e direções futuras”, e do 12º Congresso Internacional de Nutrição, Longevidade e Qualidade de Vida, realizados como parte do Mega Evento Nutrição, São Paulo, Brasil, em outubro de 2011. Gostaria de agra- decer aos organizadores, especialmente Cláudio Agosti- ni e Sibele Agostini, por me convidarem para participar deste evento. Uma versão em inglês deste artigo foi publi- cada no Proceedings of the Nutrition Society, UK (2012). Gostaria de agradecer a vários colegas pelos conselhos como especialistas e pela valiosa discussão, principal- mente J. C. Mathers, diretor do Human Nutrition Resear- ch Centre, Institute for Ageing and Health, Newcastle Uni- versity, e G. C. M. Selby, Ministry of Justice Mental Health Review Tribunal, UK. Gostaria de agradecer à equipe da biblioteca e de computação do Wolfson College e Univer- sity of Cambridge pelo suporte. Finalmente, agradeço a Cecilia Tsukamoto pela tradução deste manuscrito para o português. Sobre a autora Profa. Dra. Margaret Joy Dauncey Cientista Sênior e Conselheira em Ciências Biomédicas e Nutrição, Professora visitante Internacional, Membro do Conse- lho Diretor - Wolfson College, Universidade de Cambridge, Rei- no Unido. Palavras-chave: saúde cerebral, ingestão energética, atividade física e metabolismo energético, genômica e epigenômica, saúde mental e bem-estar, interações nutrição-gene. Keywords: brain health; energy intake, physical activity and energy metabolism; Genomics and epigenomics; Mental health and well- -being; Nutrition-gene interactions. Recebido: 25/11/2012 – Aprovado: 23/5/2012 Referências AGUILERA O., FERNÁNDEZ A.F., MUÑOZ A. et al. Epi- genetics and environment: a complex relationship. J Appl Physiol 109, 243-251, 2010. ALVARENGA M.S. 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A glutamina parece favorável na preservação da mucosa intestinal, porém não está relacionada à melhora de parâmetros nutricio- nais e atividade da doença. Portanto, seu uso não está necessariamente indicado. The inflammatory bowel diseases are chronic conditions that affect the gastrointestinal tract, having two forms of pre- sentation: ulcerative colitis and Crohn’s disease. New possibili- ties for reducing seek intervention inflammatory activity, as an alternative, the use of glutamine, as are described benefits of its supplementation in catabolic situations. In order to present the effectiveness of glutamine in inflammatory bowel disease, this paper discusses a review that got published on the subject. Glu- tamine seems to favor the preservation of intestinal mucosa, but is not related to improvement in nutritional parameters and disease activity, therefore their use is not necessarily indicated. Introdução A doença inflamatória intestinal é uma doença crônica, de etiologia desconhecida, que acomete o trato gastrintestinal, possuindo duas formas de apresentação: a retocolite ulcerativa inespecífica e a doença de Crohn (SALVIANO; BURGOS; SANTOS, 2007; WALTER et al, 2010). Atualmente se aceita que sua origem seja multifa- torial, envolvendo agentes genéticos, imunes, ambientais (possivelmente microbiológicos), alimentares e alterações na permeabilidade da barreira do epitélio colônico (CO- HEN; BIN; FAYH, 2010). A doença de Crohn se caracteriza por inflamação com maior frequência na região terminal do íleo, enquan- to a retocolite é limitada ao comprometimento da mucosa do cólon. Esta última tem como principal manifestação diarreia sanguinolenta e, na doença de Crohn, os princi- pais sintomas são diarreia, dor abdominal e perda de peso (BALLESTEROS et al., 2010). Descritas em todo o mundo, há tendência do cres- cimento de incidência, inclusive no Brasil. Apresentam distribuição semelhante em ambos os sexos, sendo que o Crohn atinge mais a população feminina, adultos jovens, na faixa etária entre 20 a 40 anos, e um segundo pico a partir dos 55 anos (BALLESTEROS et al., 2010; MISZPU- TEN, 2002). es tu di ol um in e | nutrição em pauta nutricaoempauta.com.br12 NutriçãoEM RPAUTA Resultados do Uso de Glutamina na Doença Inflamatória Intestinal: Uma Revisão A nutrição pode funcionar como terapia primá- ria na doença de Crohn, através da diminuição da ativi- dade inflamatória; já na retocolite não ocorre o mesmo. (BALLESTEROS et al., 2010; EL-MATARY, 2009). Uma alternativa bem discutida é a utilização de nutrientes imu- nomoduladores, como a glutamina (BALLESTE- ROS et al., 2010; CAMPOS et al., 2002; EL-MATARY, 2009). Esta é considerada o principal combustível oxi- dativo da célula epitelial, especialmente do enteró- cito jejunal, e, embora não seja um aminoácido essen- cial, experimentalmente e clinicamente sugere-se que se torne essencial em esta- dos catabólicos (DOURA- DO et al., 2007). Porém, há relatos na literatura de aumento da permeabilida- de intestinal e consequente piora da atividade da doen- ça, mesmo com o uso deste aminoácido (BUCHMAN, 2001). Daí, o seu uso não estaria indicado. Essa con- tradição fundamentou o objetivo do presente traba- lho, que foi de realizar uma revisão crítica da literatura científica sobre a eficácia da utilização do nutriente imunomodulador gluta- mina nas doenças infla- matórias intestinais,mais especificamente na doença de Crohn. Para tal, foram consultados livros, artigos origi- nais e de revisão do período de 1995 a 2011, por meio das bases de dados MedLine, Scielo, Cochrane Library, Bireme e Lilacs, utilizando-se cruzamentos dos seguintes uniter- mos: glutamina/glutamine; doença inflamatória intestinal/ inflammatory bowel disease; retocolite ulcerativa/ colitis, ulcerative; doença de Crohn/Crohn’s disease e terapia nu- tricional/nutrition therapy. Doenças Inflamatórias Intestinais As doenças inflamatórias intestinais são processos inflamatórios crônicos que cursam de maneira impre- visível, com períodos de atividade e remissão variáveis. Apesar de sintomatologia clínica semelhantes, são con- sideradas doenças distin- tas (BALLESTEROS et al., 2010; GLOVER; COL- GAN, 2011). As diversas formas de terapia nutricio- nal visam corrigir os déficits e modular a resposta infla- matória, podendo, desta forma, influir na atividade da doença (FLORA, 2006; HOU; ABRAHAM; EL- SERAG, 2011; RAJEN- DRAN; KUMAR, 2009). A compreensão etiológica e patogênica melhorou nos últimos anos, provavelmente por maior entendimento do sistema imunológico in- testinal e, particularmen- te, sua reação inflamatória decorrente na flora intesti- nal normal (BAUMGART; DIGNASS, 2004). Acredi- ta-se que a doença tenha etiopatogenia multifato- rial. Estudos epidemioló- gicos vêem demonstrando a importância de fatores ambientais, genéticos, ali- mentares, psicológicos, da microbiota e imuno- lógicos (ANTJE, 2011; COHEN; BIN; FAYH, 2010; RUFFOLO, 2011). Além destes, acontece uma alteração na permeabilidade da mu- cosa intestinal e resposta imunológica anormal, que ativa uma cascata imunoinflamatória, resultando em lesão da mucosa intestinal (GLOVER; COLGAN, 2011; RAPIN; WIERNSPERGER, 2010). São comumente associadas à desnutrição proteica energética, como também à carência de micronutrientes ganep; rapin; wiernsperger acredita-se que fornecer glutamina a pacientes com alterações do sistema imu- nológico, como os com deficiências imunitá- rias, críticos, aos com patologias gastroin- testinais e oncológicos seja favorável.” marc; wu Além de ser responsável pela diges- tão e absorção de nutrientes, o trato di- gestório representa o maior tecido imune do organismo. Aliado a isso, é o principal tecido de captação e metabolismo da gluta- mina, que é consumida primariamente pelas células da mucosa intestinal.” rapin; wiernsperger Igualmente, a glutamina é o principal substrato energético para as células epite- liais e é precursora de purinas e pirimidinas, que são utilizadas em altas taxas por células de rápido turnover, como os enterócitos.” borges; rogero; tirapegui; oliveira Adicionalmente, a glutamina participa da síntese de hexosaminas, que são importantes para a manutenção da integridade intesti- nal, evitando a translocação bacteriana.” nutrição em pauta | 13julho / Agosto / 2012 clínica Por Letícia de França Ferraz Results of the use of glutamine in Inflammatory Bowel Disease: a review (CAMPOS, 2002; COHEN; BIN; FAYH, 2010; FIOCCHI, 2005; GLOVER; COLGAN, 2011; TEIXEIRA-NETO; GO- MES, 2004) causada por necessidades nutricionais aumen- tadas, anorexia, má absorção e maiores perdas gastroin- testinais (ZACHOS; TONDEUR; GRIFFITHS, 2011). Esse quadro, por sua vez, agrava o prognóstico tanto do pacien- te em tratamento clínico quanto naqueles submetidos a ci- rurgias, além de deteriorar a competência imune, aumen- tando desta forma a ocorrência de infecções (COHEN; BIN; FAYH, 2010; OLIVEIRA et al., 2010). As deficiências nutricionais manifestam-se de diversas formas, sendo as mais frequentemente apresentadas: perda de peso, hipoal- buminemia, balanço nitrogenado negativo, anemia e defi- ciência de vitaminas (folato, B12, D) e minerais (ferro, cál- cio, zinco e magnésio). Todas estas alterações dependem do grau de extensão e gravidade com que se manifestam (CAMPOS, 2002; FLORA; DICHI, 2006; TEIXEIRA-NE- TO; GOMES, 2004; ZACHOS; TONDEUR; GRIFFITHS, 2011). A terapia nutricional deve objetivar a redução da atividade da doença, das indicações cirúrgicas e das com- plicações pós-operatórias, mantendo e/ou recuperando o estado nutricional (FLORA; DICHI, 2006; RODRIGUES; PASSONI; PAGANOTTO, 2008). Glutamina A glutamina é um aminoácido não essencial do ponto de vista nutricional, cujo papel é relevante tanto em estados normais como fisiopatológicos (CRUZAT; PETRY; TIRAPEGUI, 2009). É fundamental para o crescimento e à diferenciação celular, transporte de cadeia carbônica entre os órgãos e fornecimento de energia para células de rápi- da proliferação, como os enterócitos e as células do siste- ma imune (MARC; WU, 2009; OLIVEIRA et al., 2010). Sugere-se que a baixa das concentrações plasmáticas deste aminoácido, que acontece em situações de estresse, quan- do o decaimento intracelular pode chegar a até 50%, se não for suprida pela dieta (frequentemente reduzida devido à anorexia), favorece a ocorrência de um estado de imunos- supressão. Por isso, acredita-se que fornecer glutamina a pacientes com alterações do sistema imunológico, como os com deficiências imunitárias, críticos, aos com patologias gastrointestinais e oncológicos seja favorável (GANEP, 2005; RAPIN; WIERNSPERGER, 2010). Além de ser responsável pela digestão e absorção de nutrientes, o trato digestório representa o maior tecido imune do organismo. Aliado a isso, é o principal tecido de captação e metabolismo da glutamina, que é consu- mida primariamente pelas células da mucosa intestinal (MARC; WU, 2009). Igualmente, a glutamina é o princi- pal substrato energético para as células epiteliais e é pre- cursora de purinas e pirimidinas, que são utilizadas em altas taxas por células de rápido turnover, como os enteró- citos (RAPIN; WIERNSPERGER, 2010). Adicionalmente, a glutamina participa da síntese de hexosaminas, que são importantes para a manutenção da integridade intestinal, evitando a translocação bacteriana (BORGES; ROGE- RO; TIRAPEGUI, 2008; OLIVEIRA et al., 2010; LI et al., 2004). Trabalhos experimentais têm demonstrado a ação desse aminoácido sobre a parede colônica, com potencial aplicabilidade clínica em situações de estresse, através da modulação da resposta inflamatória (DEN et al., 1999; FIOCCHI, 2005; OLIVEIRA et al., 2010; RODRIGUES; PASSONI; PAGANOTTO, 2008). Utilização na Terapia Nutricional O tratamento nutricional objetiva recuperar e/ou manter o estado nutricional, proporcionar o crescimen- to em crianças, fornecer aporte adequado de nutrientes, contribuir para o alívio de sintomas, reduzir as indica- ções cirúrgicas e diminuir a atividade da doença (BAU- MGART; DIGNASS, 2004; DEN et al., 1999; BORGES; ROGERO; TIRAPEGUI, 2008; FLORA; DICHI, 2006; HOU; ABRAHAM; EL-SERAG, 2011). O uso de nutrien- tes com propriedades farmacológicas, como a glutamina, em terapia nutricional, tem sido abordado intensamente na literatura (BORGES; ROGERO; TIRAPEGUI, 2008; BUCHMAN, 2001; CAMPOS, 2002; OLIVEIRA et al., 2010; RAPIN; WIERNSPERGER, 2010). Há alguns mecanismos propostos para explicar de que forma esse aminoácido regularia a resposta inflama- tória originada no intestino com a presença de alguma anormalidade. Dentre os propostos, estão: aumento da ca- pacidade antioxidante do intestino, por meio do aumento da síntese de glutationa - um dos principais antioxidan- tes corporais que diminui a ação dos radicais livres, res- ponsáveis pela aceleração dos danos às células da mucosa intestinal -, diminuição da apoptose de células intestinais, preservação da integridade da barreira intestinal e mo- dulação direta da resposta inflamatória (CAMPOS, 2002; DEN et al., 1999; FIOCCHI, 2005; OLIVEIRA et al. 2010). Outro mecanismo sugerido para a modulação da inflama- ção pela glutamina refere-se à manutenção da integridade | nutrição em pauta nutricaoempauta.com.br14 NutriçãoEM RPAUTA Resultados do Uso de Glutamina na Doença Inflamatória Intestinal: UmaRevisão das junções intercelulares, visto que alterações na barreira paracelular podem permitir a passagem de antígenos que estimulariam a resposta inflamatória (RAJENDRAN; KU- MAR, 2009; RAPIN; WIERNSPERGER, 2010). Não existe consenso sobre a melhor dosagem de glutamina a ser oferecida nem qual seria a melhor for- ma a ser utilizada. Em estado normal, o organismo utiliza diariamente cerca de 19 a 23 g (BUCHMAN, 2001). Uma recomendação sugerida para adultos é de 0,57 g/ kg por dia (SCHULMAN et al., 2005). A literatura é escassa e o que há parece contradi- tório no que se diz respeito à utilidade da suplementação de glutamina nas doenças inflamatórias intestinais, quer por via enteral ou parenteral. Os resultados dos estudos relacionados encontram-se condensados na tabela abaixo. Tabela 1. Resultados obtidos com a suplementa- ção de glutamina na doença de Crohn. Referências Data Desfechos Buchman e col 1995 Manutenção da morfologia e funções intestinais. Savy e col 1997 Redução da atividade da doença e da permeabilidade intestinal. Akobeng e col 2000 Sem alterações em relação à remissão da doença, contagem plaquetária e peso corpóreo. Bourreille e col 2004 Sem alterações em relação à remissão da doença e parâmetros nutricionais. Ockenga e col 2007 Sem diferenças nutricionais. ESPEN 2009 Não há comprovações suficientes. Buchman et al. (1995) realizaram um experimento com indivíduos que receberam nutrição enteral padrão ou fórmula suplementada com glutamina. Concluíram que a suplementação de glutamina pode contribuir na manuten- ção da morfologia e funções intestinais. Savy et al. (1997) demonstraram também que a suplementação de glutami- na em pacientes com doença de Crohn resultou em redu- ção da atividade da doença e da permeabilidade intestinal. No entanto, resultados controversos mais recen- tes foram demonstrados por Akobeng et al. (2000). Não foram observadas alterações em relação à remissão da doença, contagem plaquetária e peso corpóreo. A equi- pe concluiu que a dieta suplementada com nutrientes imunomoduladores não ofereceu vantagens sobre a dieta polimérica padrão. Nessa mesma linha, quatro anos de- pois, Bourreille et al. concluíram, através dos dados ob- tidos, que não há exigência óbvia da utilização do ami- noácido nessa patologia, por não influenciar no curso da doença. Ockenga et al. (2007) não acharam diferenças significativas nos parâmetros nutricionais, atividade da doença e tempo de permanência hospitalar nos pacientes suplementados com glutamina, quando comparados ao grupo-controle. Em síntese, nenhum desses estudos de- monstrou vantagens para os grupos suplementados com a glutamina. A European Society for Clinical Nutrition and Metabolism (ESPEN), 2009, divulgou em consenso que ainda não há evidências suficientes para recomendar a sua utilização no tratamento das doenças inflamató- rias intestinais. Considerações Finais Como observado com esta revisão, são conflitan- tes os escassos dados existentes sobre a eficácia da suple- mentação de glutamina. Estudos mais recentes não apre- sentam resultados vantajosos de sua utilização (melhora de parâmetros nutricionais e remissão ou diminuição da atividade da doença) e, sendo assim, seu uso não está ne- cessariamente indicado no tratamento das doenças infla- matórias intestinais. Sobre a autora Dra. Letícia de França Ferraz Nutricionista Clínica do Hospital Guilherme Álvaro Aprimo- ramento em Nutrição Hospitalar - Hospital Guilherme Álvaro; Espe- cialista em Nutrição Clínica e Terapia Nutricional – GANEP. Palavras-chave: glutamina, colite ulcerativa, doença de crohn, terapia nutricional. Keywords: glutamine, colitis ulcerative, crohn’s disease, nutritional therapy. Recebido: 19/12/2011 – Aprovado: 22/5/2012 Referências AKOBENG, A. K.; MILLER, V.; STANTON, J.; ELBADRI, A. M.; THOMAS, A. G. Double-blind randomized controlled trial of glutamine-enriched polymeric diet in the treatment of active Crohn’s disease. J. Pediatr. Gastroenterol. Nutr., v. 30, p. 78–84, 2000. nutrição em pauta | 15julho / Agosto / 2012 clínica Por Letícia de França Ferraz Results of the use of glutamine in Inflammatory Bowel Disease: a review BAUMGART, D. C.; DIGNASS, A. U. Current biological thera- pies for inflammatory bowel disease. Curr. Pharm. Des., v. 10, p. 4127- 47, 2004. BALLESTEROS, P. M. D.; VIDAL, C. A.; CALLEJA, F. A.; LÓ- PEZ, G. J. J.; URIOSTE, F. A.; CANO, R. I. Impacto de la nutrición en la evolución de la enfermedad inflamatoria intestinal. Nutr. Hosp., v. 25, n. 2, p. 181-192, 2010. 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A comissão científica do Fórum de Nutrição irá selecionar e premiar o Melhor Trabalho Apresentado em cada local. Profissonais e Estudantes das áreas de Nutrição Clínica, Nutrição Hospitalar, Nutrição Esportiva, Saúde Pública, Suplementos Nutricionais, Ali- mentos Funcionais, Alimentos Fortificados, Food Service e Gastronomia Serão apresentadas palestras de renomados palestrantes nacionais e regionais em Nutrição Clínica, Nutrição Hospitalar, Nutrição Esportiva e Saúde Pública. PALESTRANTES PÔSTERES PARTICIPANTES Veja a programação completa no site: www.nutricaoempauta.com.br Mais informações: eventos@nutricaoempauta.com.br | Tel 11 5041-9321 Divulgação Realização Quinta-Feira 9h às 12h - Curso de Nutrição Esportiva • 13h30 às 16h30 - Curso de Nutrição Clínica • 16h30 às 19h30 - Curso de FoodService. Sexta-Feira Palestras do Fórum de Nutrição: 8h às 11h30 - Nu- trição Clínica • 11h30 às 12h30 - FoodService • 14h às 16h - Nutrição Esportiva • 16h15 às 17h30 - Saúde Pública. nutrição em pauta | 17julho / Agosto / 2012 Proteína do Soro do leite e sua Utilização por Praticantes de Atividade Física Whey Protein and its Use for Physical Activity Practitioners esporte Por Tamara Stulbach, Andrea Matarazo Carraro, Thaís Suzana Kocsis e Rogério Eduardo T. Frade O uso de suplementos alimentares está em ascendência, acometendo principalmente prati- cantes de atividade física. Estima-se que, dentre esses, a proteína do soro do leite tem se destacado no mercado de suplementos alimentares. Objeti- vo: Revisão bibliográfica da proteína do soro do leite e a sua utilização por praticantes de ativi- dade física. Método: Revisão bibliográfica basea- da em livros, sites, artigos originais e de revisão, pesquisados por meio de descritores Mesh/ DeCS nas bases de dados Scielo, Bireme, Lilacs, Pubmed, nos idiomas português e inglês. Resultados: Os estudos indicaram que a proteína do soro do lei- te fornece todos os aminoácidos essenciais para o organismo, atuando na construção muscular, síntese hormonal, melhora do sistema imunológi- co, entre outras funções para o bom desempenho físico. Conclusão: A proteína do soro do leite é um suplemento alimentar seguro, que proporcio- na ao organismo benefícios comprovados. Entre- tanto, faz-se necessária uma gama mais extensa de estudos relacionados ao tema. The use of dietary supplements is on the rise, affecting mainly physical activity practitioners. It is estimated that among these, the whey protein has been outstanding in the market for dietary supplements. Objective: Literature review of the whey protein and its use by mainly physical activity practitioners. Method: Literature review based on books, websites, original and review articles, browsed through the MeSH / DeCS in the databases SciELO, BI- REME, LILACS, Pubmed, in Portuguese and English. Results: The studies indicate that whey protein provides all essential amino acids for the body, acting on muscle building, hormone synthesis, improves the immune system among other functions for the good physical performance. Conclusion: Whey protein is a safe dietary supplement that provides benefits to the body, however, it is necessary to a wider range of studies related to the topic. Introdução A Associação Brasileira de Academias (ACAD) estima existirem atualmente 7.000 academias em todo o país, onde 2,8 milhões de brasileiros realizam seus programas de exercícios (BERGALLO, 2004). O uso de suplementos é significante pelos alunos de academias, ficando clara a necessidade de estudos sobre o consu- mo desses produtos e seus efeitos, enfocando aspectos dantas; williams Historicamente, o homem tem bus- cado recursos que propiciem o aprimora- mento da performance, encontrando em suplementos alimentares recursos ergogê- nicos que podem auxiliar na performance, como meio de atingir esse fim, sem os indese- jáveis efeitos colaterais das drogas.” dantas Surgem cada vez maisevidências de que a ingestão de nutrientes no perío- do posterior ao treinamento pode influen- ciar na resposta dos músculos e de outros tecidos, permitindo uma adaptação mais eficaz às sessões de treinamento. Estraté- gias especiais de alimentação e ingestão de líquidos antes, durante e após os exercí- cios físicos podem ajudar a reduzir a fadi- ga e melhorar o desempenho.” | nutrição em pauta nutricaoempauta.com.br18 NutriçãoEM RPAUTA Proteína do Soro do Leite e sua Utilização por Praticantes de Atividade Física de educação nutricional do consumidor de suple- mentos, para aumentar o nível de informação so- bre os mesmos e garantir segurança na sua utili- zação (PEREIRA, 2003). Na busca incessante pelo corpo perfeito ou pela obtenção de melhoria na performance, os frequentadores de academias, mais es- pecificamente os praticantes de musculação, têm se sub- metido ao consumo de produtos, muitas vezes de forma abusiva, com o intuito de atingir objetivos a curto prazo (SANTOS, SANTOS; 2002). As proteínas estão entre os suplementos ali- mentares mais consumidos no mundo, (MORAIS, 2008; SGARBIERI,2008). O estado de saúde é fortemente influenciado pela predisposição genética e pelos hábitos, principalmente atividade física apropriada e dieta balanceada (WILLIA- MS, 2002). Historicamente, o homem tem buscado recursos que propiciem o aprimoramento da performance, en- contrando em suplementos alimentares recursos ergogê- nicos que podem auxiliar na performance, como meio de atingir esse fim, sem os indesejáveis efeitos colaterais das drogas (DANTAS, 2005; WILLIAMS, 2005). Todos os dias, a alimentação deve fornecer ao atle- ta o combustível e os nutrientes necessários para otimizar o desempenho durante as sessões de treinamento, além de garantir recuperação rápida posteriormente. Surgem cada vez mais evidências de que a ingestão de nutrien- tes no período posterior ao treinamento pode influenciar na resposta dos músculos e de outros tecidos, permitindo uma adaptação mais eficaz às sessões de treinamento. Es- tratégias especiais de alimentação e ingestão de líquidos antes, durante e após os exercícios físicos podem ajudar a reduzir a fadiga e melhorar o desempenho (MAUGHAN, BURKE; 2007). Os suplementos alimentares priorizam aumentar o tecido muscular, ofertar e produzir energia para o mús- culo, minimizar os efeitos da fadiga, aumentar o alerta mental, reduzir gordura corporal e diminuir a produ- ção e aceleração da remoção de metabólicos tóxicos do músculo (DANTAS, 2005). Dentre esses suplementos, há uma grande gama de atletas utilizando suple- mentos protéicos, como é o caso da proteína do soro do leite (POWERS; HO- WLEY, 2005). Este artigo tem como objetivo uma re- visão bibliográfica da proteína do soro do leite (whey protein) e a sua utilização por praticantes de ati- vidade física. Metodologia Estudo de revisão bibliográfica baseado em livros consultados, sites, artigos originais de revisão, dos últimos 7 anos, pesquisados por meio dos escritores Mesh/DeCS nas bases de dados Scielo, Bireme, Lilacs, Pub Med e Goo- gel acadêmico®, nos idiomas português e inglês, relacio- nados ao tema proteína do soro do leite (whey protein) e a sua utilização por praticantes de atividade física. Alguns estudos clássicos da literatura publicados anteriormente aos últimos 7 anos foram incluidos neste estudo. Foram utilizados na metodologia de pesquisa operadores bole- anos (and, or, not) para busca com as seguintes palavras- -chave: proteína do leite, exercícios, suplementos dietéti- cos, suplementação, treinamento. Resultados/Discussão Consumo de suplementos Segundo a diretriz da Sociedade Brasileira de Me- dicina do Esporte (2009), a recomendação da ingestão de proteínas no treinamento de resistência é de 1,2 a 1,6 g/ kg/dia e no treinamento de força, 1,6 a 1,7 g/kg/dia (HER- NANDEZ, NAHAS, 2009). Excessos na ingestão de proteínas podem, contudo, proporcionar efeitos negativos no metabolismo hepático e renal (SGARBIERI,2008). Proteína do soro do leite No artigo de Campbell et.al (2007) foram re- lacionadas 7 questões sobre a ingestão de proteína para indivíduos saudáveis e ativos: 1) indivíduos pra- ticantes de exercício regularmente requerem mais proteína na dieta do que indivíduos sedentários. 2) dantas Os suplementos alimentares priori- zam aumentar o tecido muscular, ofertar e produzir energia para o músculo, minimi- zar os efeitos da fadiga, aumentar o alerta mental, reduzir gordura corporal e dimi- nuir a produção e aceleração da remoção de metabólicos tóxicos do músculo.” nutrição em pauta | 19julho / Agosto / 2012 Estudo da utilização da proteína do soro do leite em exercício de resistência O exercício de resistência é fundamentalmente anabolizante, estimulando o processo de síntese de pro- teína do músculo esquelético a quebra da proteína do músculo esquelético. No entanto, o efeito somente do exercício de resistência acarreta uma mudança no balan- ço de proteína líquida para um valor mais positivo. No entanto, na ausência de alimentação, este balanço perma- nece negativo. Quando combinados exercícios de resis- tência e alimentação sinergeticamente identificou-se um resultado de balanço de proteína líquida maior do que se encontra só com a alimentação. Esta alimentação e a es- timulação do exercício induzem o aumento da proteína que, embora lentamente, resulta na hipertrofia muscular (STUART, 2005). A pesquisa feita por Tracy et al. (2006) comparou a resposta inicial da síntese de proteína múscular esque- lética e a tradução após o início da ingestão de diferentes fontes de proteína após o exercício de resistência. Neste experimento foram utilizados ratos tanto como grupo controle como grupo esforço, sendo alimentados só de carboidratos (CE), carboidratos e proteína de soja (ES) ou carboidratos e proteínas do soro do leite (EW). Con- centrações séricas de aminoácidos de cadeia ramificada no ES e EW foram maiores do que no CE, mas, no soro, A ingestão de proteína de 1,4-2,0 g/kg/dia para indi- víduos fisicamente ativos não é apenas segura, mas pode melhorar as adaptações de treinamento para exercício de treinamento. 3) Quando parte de uma equilibrada ingestão de proteína, não há prejuízo à função renal ou metabolismo ósseo em pessoas sau- dáveis e ativas. 4) Embora seja possível para indiví- duos fisicamente ativos obter sua necessidade diária de proteínas através de uma dieta variada e regular, a utilização de suplementação proteica, em várias for- mas, é uma maneira prática de garantir a ingestão ade- quada de proteínas e de qualidade para os atletas. 5) Diferentes tipos e qualidade de proteínas podem afetar a biodisponibilidade de aminoácidos na suplementa- ção de proteína. A superioridade de um tipo de pro- teína em relação à outra em termos de otimização da recuperação e/ou adaptação ao treinamento continua a ser convincentemente demonstrada. 6) A ingestão de proteína em determinados horários é um componente importante no treinamento, essencial para que haja a recuperação adequada, função imunológica, cresci- mento e manutenção da massa corporal magra. 7) Em determinadas circunstâncias, suplementos de aminoá- cidos específicos, como o de cadeia ramificada de ami- noácidos (BCAA), podem melhorar o desempenho e recuperação do exercício. (CAMPBELL, 2007). Whey Protein and its Use for Physical Activity Practitioners esporte Por Tamara Stulbach, Andrea Matarazo Carraro, Thaís Suzana Kocsis e Rogério Eduardo T. Frade St oc k. xc ha ng e | nutrição em pauta nutricaoempauta.com.br20 leucina e isoleucina na EW foram superiores no ES. No entanto, tanto ES quanto EW promoveram a taxa fracio- nal de síntese de proteína do músculo esquelético signi- ficativamente maior do que o grupo CE. Em conclusão, a síntese de proteínas em geral é promovida comparavel- mente por proteína de soja e proteína de soro no múscu- lo esquelético de ratos exercitados. Estudo da utilização da proteína
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