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AULA 1 ANÁLISE DE DEMONSTRATIVOS FINANCEIROS E INDICADORES DE DESEMPENHO Prof. Thiago Fernandes Antunes 2 TEMA 1 – IMPORTÂNCIA E OBJETIVOS DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS De que o processo desempenhado pela área financeira de uma empresa é fundamental, não temos dúvidas. Contudo, como podemos efetuar esse processo de análise de uma forma que se aproxime o máximo possível da realidade da instituição? A resposta se dá por meio da contabilidade. Para Marion (2009, p. 28), a contabilidade se define como um “instrumento que fornece o máximo de informações úteis para a tomada de decisões dentro e fora da empresa”. Sendo assim, uma série de normas e conceitos que são seguidos nos fornecem inúmeras informações, que são, assim, moldadas para qualquer que seja nossa finalidade. 1.1 Importância das demonstrações financeiras A utilização dos recursos contábeis, por meio das demonstrações financeiras, representa um veículo de comunicação fundamental entre as empresas e seus stakeholders, ou seja, entre todas as partes interessadas na atividade daquela instituição: clientes, governo, investidores, comunidade, fornecedores, funcionários, dentre outros. Créditos: vegefox.com/Adobe Stock Aprender a ler e escrever essas informações se assemelha a aprender um novo idioma, uma nova língua. Isso reforça sua importância, visto que diversas 3 classes atuantes, em todo o processo do ciclo econômico-financeiro, podem se beneficiar das informações que são extraídas de acordo com suas necessidades. Por exemplo, Iudicibus et al. (2010) classificam os principais usuários dessas informações e suas principais características conforme a seguir: 1.1.1 Sócios, acionistas e proprietários de quotas societárias de maneira geral Para esse grupo de pessoas, o foco se dá nas informações referentes à rentabilidade e à segurança do capital. Temos alguma outra possibilidade mais rentável e segura para nossos investimentos? Qual a perspectiva, num médio e longo prazo, de retorno versus risco desse meu capital? Como está se dando a geração de resultado da empresa? Que riscos incorrem? Essas são algumas das perguntas que os demonstrativos e relatórios financeiros, por meio de informações efetivas e resumidas, respondem e atendem a essa classe dos stakeholders. 1.1.2 Administradores, diretores e executivos dos mais variados escalões Atuando mais intimamente no dia a dia da empresa, e com uma visão mais técnica dos demonstrativos e indicadores, esse grupo demanda uma ótica de análise mais aprofundada e constante. Isso ocorre porque, na prática, são efetivamente os responsáveis pelas tomadas de decisão dentro da instituição. Analisar e entender os demonstrativos financeiros do passado e os atuais, por meio de algumas técnicas específicas que veremos no decorrer da matéria, tornam esse processo financeiro muito mais efetivo e proveitoso. 1.1.3 Bancos, capitalistas e emprestadores de dinheiro Esses entes e indivíduos utilizam os demonstrativos financeiros de forma muito semelhante ao primeiro grupo (acionistas, proprietários, dentre outros). No entanto, nesse grupo, percebe-se uma ótica mais operacional e prática, visto que números positivos indicam maior segurança e tranquilidade no empréstimo de capital. O proprietário e acionista, usualmente, possui um caráter emocional em suas atitudes. 4 Saiba mais Imaginemos, nesse cenário atual de pandemia, uma empresa que realiza eventos como casamentos, formaturas e shows. Muito provavelmente, seus demonstrativos e indicadores financeiros estarão nos mostrando um retorno financeiro negativo nesses últimos dois anos. Isso acenderá uma luz amarela para esse grupo responsável pelo empréstimo de capital, visto que não existe uma certeza de quando e como será essa retomada das atividades, além de números que não corroborem positivamente para um investimento. Por outro lado, na maior parte desses casos, os empresários continuam a aportar recursos em suas empresas, seja por razões profissionais, sentimentais ou precursionismo. 1.1.4 Governo e economistas governamentais Os demonstrativos financeiros possuem dois papeis importantíssimos sobre a perspectiva desse grupo. O primeiro se dá em razão de servir como base para que o governo (federal, estadual ou municipal) cobre seus impostos, tributos e taxas. O segundo ponto nos remete à necessidade de economistas e entidades de análises globais ou setoriais pelas informações obtidas através dos demonstrativos financeiros se fazerem extremamente úteis, após um correto grupamento e aplicação de uma adequada ferramenta estatística, propiciar elementos apropriados para análises sob a ótica econômica. 1.1.5 Pessoas físicas Por fim, os demonstrativos financeiros podem ser extremamente úteis sob a ótica da ordem e controle de finanças nos patrimônios pessoais. É extremamente viável gerarmos esses documentos e aplicarmos diversas técnicas de análise e indicadores em nosso patrimônio pessoal. 1.2 Objetivos das demonstrações financeiras A confecção dos demonstrativos financeiros, conforme Horngren, Sundem e Stratton (2006), objetiva auxiliar os inúmeros usuários (dispostos no item 1.1). Para essa finalidade, as informações devem ser assimiladas de forma efetiva, visando assim prover o melhor resultado possível. 5 Saiba mais Imaginemos que o dono de uma indústria que produza facas de corte conceda a seus clientes um prazo superior ao praticado pelo mercado para pagamento de suas compras. Isso faz a demanda por seus produtos aquecer bastante. Para atender a essa procura, ele se depara com a necessidade de adquirir mais matéria-prima e mais maquinário. Visto esse exemplo, podemos nos questionar: como está a sua capacidade de compra? Ele tem fôlego para a aquisição em grande escala da matéria-prima que necessita? Teria capacidade, no longo prazo, para adquirir esse maquinário com certa tranquilidade? Como está sua liquidez? Como está seu endividamento? Esses são exemplos de perguntas que, após nossos estudos, além de uma correta disposição dos dados nas demonstrações financeiras e sua posterior análise, serão respondidos. TEMA 2 – PADRONIZAÇÃO DAS INFORMAÇÕES E A ESTRUTURA CONCEITUAL BÁSICA No Tema 1 desta aula, compreendemos um pouco mais dos objetivos e relevância que as demonstrações financeiras possuem perante toda a dinâmica empresarial e os diversos players que participam de seu dia a dia. Como em qualquer nova língua que aprendemos, temos regras, padrões, situações específicas, dentre outros pontos que devemos ter ciência para, quando nos depararmos com tal condição, sabermos como agir ou até mesmo termos uma saída alternativa, tendo sempre como foco o resultado objetivado. Posto isso, é fundamental conhecermos os padrões que são seguidos atualmente, os direcionadores e reguladores dos registros das informações contábeis e as estruturas conceituais básicas que cerceiam esse processo. 2.1 Padronização das informações contábeis Os dados auferidos nas empresas e dispostos nos demonstrativos financeiros, independente de qual deles seja, seguem algumas regras de contabilização, de conceito, de estrutura e de finalidade. Para Iudicibus et al. (2010), no Brasil, demos um grande passo em 1976 com a criação da Lei das Sociedades por Ações. Após isso, tivemos as aprovações da Lei n. 11.638/07 (que transformava a lei de 1976) e da Lei n. 6 11.941/08 (que propôs separar o forte elo entre normas tributarias e contabilidade). Mais recentemente, a criação do Comitê de Pronunciamento Contábil (CPC), somado ao direcionamento de acompanhamento das normas internacionais de contabilidade oriundas do International Accounting Standards Board (IASB), representam esse novo ciclo (Machado; Borges, 2014). Saiba mais Leia mais em sites específicos sobre o CPC e o IASB. Disponível em: <http://www.cpc.org.br/CPC>.Acesso em: 10 dez. 2021. Disponível em: <https://www.ifrs.org/>. Acesso em: 10 dez. 2021. Todas essas leis criadas, a constituição de um comitê de pronunciamento, o alinhamento às normas internacionais, dentre outras diversas medidas, envolvem da forma mais técnica possível e comprovam um padrão que nos permite da forma mais confiável possível a avaliação do desempenho de uma empresa e seus indicadores. 2.2 Estrutura conceitual básica Todos os documentos que abrangem o leque de demonstrativos financeiros, além de um padrão estrutural, possuem também um padrão de conceito. Nesse tópico 2.2, veremos os principais conceitos que abarcam os mais eminentes demonstrativos financeiros. O ativo, o passivo e o patrimônio líquido são os principais grupos dispostos no balanço patrimonial e as receitas, custos e despesas são os principais conceitos por trás do demonstrativo do resultado do exercício. 2.2.1 Ativo De acordo com Marion (2009, p. 57), ativo “é o conjunto de bens e direitos controlado pela empresa. São os itens positivos do patrimônio; trazem benefícios, proporcionam ganho para empresa”. 7 Créditos: Cozyta/Adobe Stock. Dessa forma, podemos deduzir que todos os bens, que podem ser definidos como qualquer instrumento que seja capaz de gerar resultados positivos para empresa, sendo eles tangíveis (físicos, como dinheiro em caixa, aplicação financeira, uma máquina, um caminhão, um computador, dentre outros) ou intangíveis (não físicos, como uma marca, uma patente de produção, um processo inovativo), compõem o ativo de uma instituição. Além dos bens, o ativo também é composto pelos direitos. Esses são definidos como o poder de reivindicar algo, em outras palavras, o direito de ter ou receber alguma coisa. Podemos citar como exemplo uma venda que será paga de forma parcelada (a empresa tem o direito de receber esses valores), aluguéis de bens imóveis ou móveis, utilização de alguma patente, enfim, tudo que se possa receber em uma data futura. 2.2.2 Passivo Passivo pode ser definido como “basicamente as obrigações a pagar, isto é, as quantias que a empresa deve a terceiros [...] assumidas normalmente por uma entidade” (Ludicibus et al., 2010, p. 18). A compra de matéria-prima para seu processo produtivo (fornecedores), salários dos funcionários, parcelas de financiamentos de máquinas ou capital de 8 giro, uma provisão, impostos e dentre outros são exemplos do que compõe o passivo de uma empresa. 2.2.3 Patrimônio líquido Marion (2009) define que a riqueza liquida (patrimônio líquido) pode ser determinada se subtraindo as obrigações (passivo) dos bens e direitos de uma empresa (ativo). Logo: Patrimônio Líquido = Ativo – Passivo ou Ativo = Passivo + Patrimônio Líquido Saiba mais Imaginemos um amigo nosso que mora em uma grande casa, num bairro considerado de alto padrão, que possui dois carros zero em sua garagem e um apartamento de frente para praia onde passa suas férias de verão. Você deve estar pensando o quanto de patrimônio esse camarada possui, correto? Errado. Existe uma probabilidade desse raciocínio estar equivocado. E se essa casa, o apartamento e os dois veículos estão financiados, por exemplo? Podemos dizer que o real patrimônio desse camarada seria o valor desses bens que ele possui menos sua dívida. Esse é o conceito de patrimônio líquido. 2.2.4 Receitas O conceito de receita nos remete a um incremento dos ativos, que são oriundos das vendas das mercadorias produzidas ou prestação de serviços, que podem ser recebidas em dinheiro ou em direitos a receber (Ludicibus et al., 2010). Saiba mais Vamos retomar o exemplo da indústria da faca de corte. Imaginemos que essa empresa venda uma média de 10.000 facas por dia. Com esse processo, ela está gerando receita e, em razão disso, receberá um pagamento. Tal pagamento poderá ficar disponível em conta corrente, ser aplicado ou até mesmo ser efetuado de forma parcelada. Em todas essas situações, observamos que a um incremento no ativo da empresa. 9 No entanto, vale frisarmos duas situações nesse caso. Toda geração de receita representa um aumento do ativo. Isso ocorre pois será representado por entrada em dinheiro (saldo em caixa de uma venda à vista) ou em direitos a receber (duplicatas a receber de uma venda a prazo). No entanto, nem todo aumento de ativo retrata vai significar que houve um incremento de receita. 2.2.5 Custos versus despesas É zeloso conceituarmos e abordarmos a sútil diferença entre os conceitos de custo e despesa. Quando falamos de custo, referimo-nos a todos os gastos que são utilizados no processo produtivo do bem final (numa indústria), no processo de prestação de um serviço (numa empresa de serviços) ou no processo de comercialização de um bem (no comércio). Podemos citar como exemplo salários dos funcionários da fábrica (que participam do processo de comercialização ou na prestação direta do serviço), depreciação de máquinas utilizadas no processo produtivo do bem final, dentre outros. Por outro lado, despesas são todos os gastos que não estão atrelados ao processo do produtivo, comercialização do bem ou prestação do serviço final. Podemos citar como exemplo salários da área administrativa, depreciação dos bens de escritório, serviços de limpeza (caso não seja uma empresa desse setor), dentre outros (Marion, 2009). TEMA 3 – DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS VIGENTES NO BRASIL As demonstrações financeiras que são exigidas por Lei1 atualmente no Brasil são: Balanço Patrimonial (BP), Demonstração do Resultado do Exercício (DRE), Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC), Demonstração dos Lucros e Prejuízos Acumulados (DLPac), Demonstração de Valor Adicionado (DVA), Demonstração de Mutação do Patrimônio Líquido e Notas Explicativas. (Machado; Borges, 2014) 1 As leis e normas que regem as demonstrações vigentes são: Normas do Conselho Federal de Contabilidade, Resolução n. 1.185/2009 (NBC TG 26), alterada pela Resolução n. 1.376/2011; Legislação do Imposto sobre a Renda no Decreto n. 000/1999; Lei Societária n. 6.404/1976 e a deliberação CVM n. 676/2011. 10 No entanto, em razão dos objetivos almejados, associados às ferramentas e indicadores que utilizaremos futuramente, aprofundar-nos-emos somente em dois: o Balanço Patrimonial (BP) e o Demonstrativo do Resultado do Exercício (DRE). 3.1 Balanço patrimonial Stickney (2001, p. 56) define o balanço patrimonial como sendo a demonstração da posição financeira. Em outras palavras, pode-se dizer que se trata de uma foto de: I) Investimentos (ativo); e II) Suas respectivas fontes de financiamento (passivo somado ao patrimônio líquido). Situação hipotética Fantasiemos que você e mais três amigos queiram abrir uma empresa para produzir cerveja artesanal, a “Cervejaria dos Brothers”. Para isso, cada um dispende de R$ 125.000,00, totalizando um montante de R$ 500.000,00. Além disso, efetuamos uma linha de financiamento no valor de R$ 400.000,00 e uma de capital de giro no valor de R$ 100.000,00. Com esses valores, adquirimos um galpão, duas máquinas para realizar o processo produtivo e mais uma máquina para realizar o envase da cerveja. Negociamos também com inúmeros fornecedores e obtivemos a matéria-prima para sua produção (malte, lúpulo, fermento, latas e garrafas para a bebida, dentre outros), além de deixarmos a quantia de R$ 50.000,00 disponível em nossa conta corrente para eventuais demandas futuras. A partir disso, iniciamos a fabricação da cerveja para sua posterior comercialização. Ao final desse exercício inicial, temos: Nesse processo padrão de criação de um negócio, gostaria de chamar a atenção para uma reflexão. Descrição 20xx Descrição 20xx ATIVO PASSIVO Caixa e Equivalentes de Caixa R$ 50.000,00 Empréstimos e Financiamentos R$ 500.000,00Contas a Receber R$ - PATRIMÔNIO LÍQUIDO Estoques R$ 150.000,00 Capital Social Realizado R$ 500.000,00 Imobilizado R$ 800.000,00 Lucro/ Resultado R$ - BALANÇO PATRIMONIAL CERVEJARIA DOS BROTHERS S/A 11 Notemos a integralização de recursos próprios dos sócios (patrimônio líquido) somados a linha de empréstimos e financiamentos (Passivos) que são totalmente utilizados para a aquisição de máquinas, terrenos, matéria-prima e criação de caixa (Ativos). Após isso, a empresa inicia sua produção gerando estoque para viabilizar o início das vendas de seu produto (ou seja, gerar benefícios futuros). 3.2 Demonstração do resultado do exercício O outro demonstrativo que conceituaremos é a demonstração do resultado do exercício (DRE). Ela pode ser definida como “o resultado das operações durante certo período [...]. A demonstração do resultado indica o lucro líquido para o período em foco – a diferença entre receitas e despesas” (Stickney, 2001, p. 27). Continuação da situação hipotética Após instalada, com as máquinas prontas para uso no galpão, a “Cervejaria dos Brothers” continua seu processo de produção e inicia a comercialização dos seus produtos já prontos e disponíveis em seu estoque. No decorrer do período, efetuam-se vendas desse estoque na casa dos R$ 100.000,00 e se obtém um lucro líquido de R$ 20.000,00, conforme o demonstrativo a seguir: O DRE é responsável por nos mostrar, detalhadamente, se a operação da empresa gerou lucro ou prejuízo num dado período. Quanto tivemos de receita? Qual foi nosso custo? Quanto tivemos de despesas no processo produtivo? São essas as informações que esse demonstrativo nos traz. No caso da cervejaria dos brothers, notamos que sua operação resultou em R$ 100.000,00 de receitas, com um custo de produção de R$ 60.000,00, Receita de Venda de Bens e/ou Serviços R$ 100.000,00 Imposto sobre as vendas -R$ 10.000,00 Receita Líquida R$ 90.000,00 Custo dos Bens e/ou Serviços Vendidos -R$ 60.000,00 Lucro Bruto R$ 40.000,00 Despesas/Receitas Operacionais -R$ 10.000,00 Lucro Antes dos Juros e IR (Lajir ou Ebit) R$ 30.000,00 Despesas Financeiras -R$ 4.000,00 Lucro Antes do IR (LAIR) R$ 26.000,00 Imposto de Renda e Contribuição Social sobre o Lucro -R$ 6.000,00 Lucro Líquido R$ 20.000,00 DRE CERVEJARIA DOS BROTHERS S/A 12 despesas operacionais e financeiras somadas na casa de R$ 14.000,00 e, como ela não distribuiu dividendos, um lucro líquido na casa dos R$ 20.000,00. 3.3 A relação entre o Balanço Patrimonial e a Demonstração do Resultado do Exercício Se o balanço patrimonial pode ser determinado como uma foto da situação patrimonial de uma instituição, podemos classificar o DRE como o caminho percorrido entre a primeira e a segunda foto tirada. Essa situação pode ser ilustrada conforme a seguir: Notemos que o lucro/resultado do BP do período 20xx, que até então era de zero reais, somado ao lucro líquido disposto no DRE 20xx que foi de R$ 20 mil reais representou esse incremento no ativo entre os dois períodos. Essa trajetória ratifica o exposto por Stickney (2001), de que o Demonstrativo do Resultado é o responsável por conectar os balanços patrimoniais do início e do final de um mesmo ciclo. Percebamos também que há uma dinâmica entre os players da tabela. Sócios e/ ou acionistas da cervejaria se uniram, tomaram mais um recurso junto aos credores e montaram sua empresa. Após o processo de produção da cerveja, começaram a vender seus produtos a seus clientes, diminuindo assim seu estoque, mas aumentando, em contrapartida, seu caixa e contas a receber. Isso porque alguns clientes os pagavam à vista (caixa e equivalentes de caixa) e outros a prazo (contas a receber), o que, por consequência, demandou a compra de mais matéria-prima para produção e continuidade desse ciclo que se retroalimenta. Esse movimento é justamente o que explica esses dois demonstrativos e representa a relação entre eles. Descrição 20x1 Descrição 20x1 ATIVO TOTAL 1.020.000,00R$ PASSIVO TOTAL 500.000,00R$ Caixa e Equivalentes de Caixa R$ 30.000,00 Empréstimos e Financiamentos R$ 500.000,00 CREDORES Contas a Receber R$ 20.000,00 PATRIMÔNIO LÍQUIDO 520.000,00R$ Estoques R$ 170.000,00 Capital Social Realizado R$ 500.000,00 SÓCIOS - ACIONISTAS Imobilizado R$ 800.000,00 Lucro/ Resultado R$ 20.000,00 BALANÇO PATRIMONIAL CERVEJARIA DOS BROTHERS S/A CLIENTES 13 TEMA 4 – DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS MAIS UTILIZADAS: O BALANÇO PATRIMONIAL Nos Temas 2 e 3, conceituamos os principais grupos do balanço patrimonial e descrevemos, sob uma ótica geral, a dinâmica entre esse documento e o demonstrativo de resultado. No Tema 4, detalharemos algumas características desse demonstrativo e elucidaremos todo o conteúdo abordado analisando o balanço patrimonial da empresa VaX do ano de 2020. 4.1 O ativo, o passivo e a liquidez Um conceito interessante e que facilita a nossa leitura e interpretação do balanço patrimonial se deve ao fato de convencionalmente suas principais contas (ativo, passivo e patrimônio líquido) estarem dispostas de forma decrescente de acordo com a liquidez da rubrica analisada. Mas o que isso quer dizer? Retomemos o nosso exemplo da “Cervejaria dos Brothers”. Notemos que a primeira conta do ativo é “Caixa e equivalentes de caixa”, seguido pelo “contas a receber”, “estoques” e, por fim, o “imobilizado”. O que ocupa uma posição mais acima em nosso balanço representa justamente o que possui mais liquidez. Em outras palavras, é muito mais fácil, mais rápido, transformarmos um dinheiro que está numa conta corrente (em “caixa”), por exemplo, do que vendermos uma mercadoria e recebermos (estoque) ou negociarmos a venda de um terreno (imobilizado). Vale ressaltar que essa disposição serve também para rubricas do passivo e do patrimônio líquido. Descrição 20xx Descrição 20xx ATIVO PASSIVO Caixa e Equivalentes de Caixa R$ 50.000,00 Empréstimos e Financiamentos R$ 500.000,00 Contas a Receber R$ - PATRIMÔNIO LÍQUIDO Estoques R$ 150.000,00 Capital Social Realizado R$ 500.000,00 Imobilizado R$ 800.000,00 Lucro/ Resultado R$ - BALANÇO PATRIMONIAL CERVEJARIA DOS BROTHERS S/A 14 4.2 Ativo circulante e não circulante Conforme abordado no tópico anterior, a liquidez nos remete à ideia de facilidade para se ter dinheiro em mãos. Na dinâmica empresarial, esse fator é tão relevante que dividimos o ativo em circulante e não circulante. O ativo circulante, de acordo com Marion (2009), pode ser estabelecido como os itens que podem transformados em moeda de forma simples e rápida. O autor complementa que esse grupo representa a classe dos recursos disponíveis no curto prazo, em outras palavras, o capital de giro da empresa. Já o ativo não circulante podemos concluir que representa a classe dos ativos de longo prazo. Segundo Assaf (2010), existem quatro grandes subgrupos no passivo não circulante, a saber: I) Ativos realizáveis de longo prazo; II) Investimentos; III) Imobilizações; IV) Ativos intangíveis. Saiba mais Para entender um pouco mais sobre ativos intangíveis, acesse a reportagem a seguir. Disponível em: <https://www.examcontabil.com.br/noticias/empresariais/2019/03/19/ativo- intangivel-o-que-e-e-porque-se-preocupar-com-isso.html>. Acesso em: 10 dez. 2021. 4.3 Passivo circulante e não circulante Essa distinção entre circulante e não circulante também pode ser observada na categoria dos passivos. Assaf (2012, p. 70) define passivo circulante como “todas as obrigações a curto prazo da empresa, isto é, aquelas cujos vencimentos ocorrerão até o final do exercício social seguinte ao do encerramento do balanço”. Por outro lado, o passivo não circulante pode ser determinado como as obrigaçõesque a instituição possui. Porém, isso se dá num prazo que seja superior ao do encerramento do exercício seguinte (Assaf, 2012). 15 Após a solidificação de toda base teórica e estrutural por detrás desse demonstrativo, exploraremos a seguir o balanço patrimonial de uma empresa do setor de comércio listada em nossa bolsa de valores e que nos acompanhará por todo nosso estudo: a VaX S.A. BALANÇO PATRIMONIAL VaX S/A 31/12/2020 Descrição 2020 (em milhões de R$) Descrição 2020 (em milhões de R$) Ativo Total 24647 Passivo Total 24647 Ativo Circulante 16799 Passivo Circulante 13416 Caixa e Equivalentes de Caixa 1681 Obrigações Sociais e Trabalhistas 360 Aplicações Financeiras 1222 Fornecedores 8501 Contas a Receber 4762 Obrigações Fiscais 401 Estoques 5927 Empréstimos e Financiamentos 1667 Tributos a Recuperar 717 Outras Obrigações 2487 Outros Ativos Circulantes 2490 Ativo Não Circulante 7848 Passivo Não Circulante 3906 Ativo Realizável a Longo Prazo 1851 Empréstimos e Financiamentos 20 Investimentos 387 Outras Obrigações 2180 Imobilizado 3723 Tributos Diferidos 25 Intangível 1887 Provisões 1380 Lucros e Receitas a Apropriar 301 Patrimônio Líquido Consolidado 7325 Capital Social Realizado 5952 Reservas de Capital -213 Reservas de Lucros 1575 Outros Resultados Abrangentes 11 Fonte: BmfBovespa (2021). Nessa “foto” financeira de 31 de dezembro 2020 da VaX S.A., constatamos um ativo total na casa dos 24,647 bilhões de reais, que é o mesmo valor da soma do passivo (17,322 Bi) e do patrimônio líquido (7,325). Notamos estruturalmente seus bens e direitos (ativo) à esquerda e suas obrigações (passivo + patrimônio líquido) à direita, ambos em ordem decrescente de liquidez. Constatamos também 1,575 bilhões em lucros acumulados (reservas de lucros), rubrica que detalhamos no DRE, visto se tratar diretamente de resultado. Alguns valores nos chamam a atenção de forma isolada, como o valor a receber no curto prazo (4,762 bi), o valor dos estoques (5,927 bi) e do imobilizado (3,723) do lado do ativo. 16 Já da ótica do passivo, temos o montante de fornecedores (8,501 bi) e outras obrigações (2,487 bi) no curto prazo. Já no passivo não circulante, a quantia de outras obrigações (2,180). Desse modo, esses valores das obrigações parecem elevados, não? Mas será que isso é perigoso para a VaX S.A.? Ela tem capacidade para arcar com isso? Será que não é um valor baixo de ativo? Esses são alguns exemplos de perguntas que responderemos futuramente. TEMA 5 – DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS MAIS UTILIZADAS: DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO Nesse último tema da aula, discutiremos o demonstrativo do resultado da VaX S.A. Como será que foram suas receitas frente aos seus custos e despesas no ano de 2020? Descrição 2020 (em milhões de R$) Receita de Venda de Bens e/ou Serviços 29177 Custo dos Bens e/ou Serviços Vendidos -21658 Resultado Bruto 7519 Despesas/Receitas Operacionais -6695 Resultado Antes do Resultado Financeiro e dos Tributos (LAJIR ou EBIT) 824 Resultado Financeiro -410 Resultado Antes dos Tributos sobre o Lucro (LAIR) 414 Imposto de Renda e Contribuição Social sobre o Lucro -22 Resultado Líquido das Operações Continuadas 392 Fonte: Bovespa (2021). Notamos uma receita no ano de 2020 de 29,177 bilhões. Subtraindo o custo tido na produção dos bens e/ou serviços vendidos, chegamos ao resultado bruto (7,519 bi). Ao se subtrair as despesas comerciais e administrativas, alcançamos o LAJIR, que se trata do resultado das operações da empresa, que foi de 824 bilhões em 2020. A partir desse momento, subtraímos o resultado financeiro (juros dos credores; -410 mi) e o imposto de renda e a contribuição social sobre o lucro (IR e CSSL; -22 mi), atingindo o resultado líquido daquele período (392 bilhões). Esse é o valor de seu resultado e que pertence totalmente aos acionistas. Por fim, a maioria das empresas tem uma política de distribuição dos dividendos. Isso faz com que a reserva de lucros acumulada de um ano para outro não seja o mesmo montante do resultado líquido, conforme a fórmula a seguir: 17 Reserva de lucro do ano anterior + Resultado líquido – Dividendos = Reserva de Lucro do ano atual Exemplifiquemos através da representação do patrimônio líquido consolidado da VaX S.A. presentes nos balanços patrimoniais dos anos de 2019 e 2020: Descrição 31/12/2020 31/12/2019 Patrimônio Líquido Consolidado 7325 7565 Capital Social Realizado 5952 5953 Reservas de Capital -213 199 Reservas de Lucros 1575 1410 Outros Resultados Abrangentes 11 3 Fonte: Bovespa (2021). Se somarmos o resultado líquido de 392 milhões às reservas de lucros do ano de 2019, chegamos ao valor de reservas de lucros do ano de 2020. Porém, a empresa distribuiu dividendos (que, no ano de 2020, foi da ordem de 227 mi), o que resultou no incremento observado 165 milhões (1575-1410) nas reservas de lucros do ano de 2019 para 2020. 18 REFERÊNCIAS ATIVO intangível: o que é e porque se preocupar com isso. Exam Contábil, [S.d.] Disponível em: <https://www.examcontabil.com.br/noticias/empresariais/2019/03/19/ativo- intangivel-o-que-e-e-porque-se-preocupar-com- isso.html#sthash.VMcd358g.dpuf>. Acesso em: 10 dez. 2021. BRASIL. Lei n. 6404, de 15 de dezembro de 1976. Planalto, 1976. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6404consol.htm>. Acesso em: 10 dez. 2021. HORNGREN, C. T.; SUNDEM, G. L.; STRATTON, W. O. Contabilidade gerencial. 12. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2006 IUDICIBUS, S. de; MARTINS, E.; KANITZ, S. et al. Contabilidade introdutória. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2010. MACHADO, M. V.; BORGES, A. P. A importância da análise das demonstrações contábeis para as micro, pequenas e médias empresas. 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