Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Echinococcus granulosus – Hidatidose: MORFOLOGIA: Parasito adulto: é um cestoide muito pequeno (3-6 mm). O escólex, órgão de fixação, é globoso ou piriforme, com 4 ventosas musculares e um rostro com 30 a 40 acúleos ou ganchos dispostos em duas fileiras. O colo (região de crescimento) é curto, seguindo-se pelo estróbilo constituído por 3 a 4 proglotes. - 1ª. Proglote: é imatura, com órgãos genitais não totalmente desenvolvidos; - 2ª. Proglote: é madura, com órgãos genitais masculinos, órgãos genitais femininos e poro genital; - 3ª. Proglote: encontra-se o útero, contendo em seu interior 500 a 800 ovos. Ovos: ligeiramente esféricos. São constituídos por uma membrana externa espessa, denominada de embrióforo, contendo em seu interior a oncosfera ou embrião hexacanto, com seis ganchos ou acúleos. Cisto hidático (metacestoide): forma arredondada; constituídos por uma única cavidade, com dimensões variadas (depende da idade, localização do cisto). Externamente encontra-se envolvido por uma camada espessa de tecido fibroso (resultante de uma reação do hospedeiro à presença da larva e seus metabólitos), conhecida como membrana adventícia (obs.: essa membrana não faz parte do cisto). As estruturas do cisto , iniciando-se pela parte externa são as seguintes: (a) Membrana anista ou hialina: é formada a partir da membrana germinativa, é elástica e acelular; constituída principalmente por mucopolissacarídeos e proteínas; sua espessura aumenta com a idade do cisto; (b) Membrana germinativa ou prolígera: é uma membrana celular, com a superfície rugosa. É o elemento fundamental do cisto, pois a partir dela serão formados todos os demais componentes do cisto (membrana anista, vesículas prolígeras e protoescólices); (c) Protoescólex ou escólex invginado: apresenta forma ovoide com 4 ventosas e rostro armado com duas fileiras de acúleos; (d) Líquido hidático: líquido cristalino composto por mucopolissacarídeos, colesterol, lecitinas e diversos aminoácidos; grande capacidade antigênica; (e) Areia hidática: constituída por vesículas prolígeras, fragmentos de membrana prolígera e protoescólices que se soltam e ficam livres dentro do cisto. Em situações adversas (traumatismo, envelhecimento, alterações bioquímicas) pode ocorrer a formação de cistos hidáticos secundários endógenos ou exógenos: Cistos hidáticos secundários endógenos: são formados por vários cistos localizados no interior do cisto hidático primário, produzindo suas próprias vesículas prolígeras e protoescólices; Cistos hidáticos secundários exógenos: são originados principalmente em casos de Echinococcus granulosus, na fase adulta localiza- se no ID de cães e canídeos silvestres e a forma larval, ou metacestoide é conhecida como cisto hidático, localizado principalmente no fígado e pulmões, causando a enfermidade conhecida por hidatidose ou equinococose cística ou unilocular que tem como hospedeiros intermediários ovinos, bovinos, suínos, caprinos e, acidentalmente os humanos. ruptura de cistos primários, podendo ser encontrados em vários tecidos. HABITAT: Parasito adulto: mucosa do ID de cães (HD); Cisto hidático: fígado e pulmões de ovinos, bovinos, suínos, caprinos e cervídeos (HI); Obs.: Em humanos (hospedeiros acidentais), as localizações preferenciais do cisto são fígado, pulmões, além de órgãos como cérebro, ossos, baço, músculos, rins, etc. CICLO BIOLÓGICO: os ovos eliminados com as fezes de cães (ovos isolados ou dentro das proglotes) chegam ao meio ambiente e contaminam pastagens, peridomicílio e domicílio. e podem permanecer viáveis por vários meses em locais úmidos e sombrios. Os ovos são ingeridos e, no estômago o embrióforo é semi- digerido pelo suco gástrico. No duodeno, em contato com a bile, liberam a oncosfera que por meio de seus ganchos, penetra na mucosa intestinal, alcançando a circulação sanguínea/venosa ou linfática, chegando principalmente ao fígado e pulmões. Após 6 meses da ingestão do ovo, o cisto hidático estará maduro, permanecendo viável por vários anos no HI. Nos HD a infecção ocorre quando da ingestão de vísceras (de bovinos, ovinos) com cisto hidático fértil (contendo protoescólices); estes cistos sob ação da bile, evaginam-se e fixam-se à mucosa intestinal, atingindo a maturidade entre 35 e 45 dias quando proglotes grávidas e ovos começam a aparecer nas fezes. Os parasitos adultos vivem ~4 meses. TRANSMISSÃO: Hospedeiros definitivos (cães): desenvolvem o parasito adulto ao ingerirem vísceras dos HI contendo cistos hidáticos férteis; Hospedeiros intermediários: adquirem a hidatidose ao ingerirem ovos eliminados no ambiente pelos cães infectados; Nos humanos, a infecção muitas vezes ocorre na infância, quando as crianças, ao brincarem com cães, podem ingerir diretamente os ovos, que podem estar aderidos ao pelo, ou através da ingestão de alimentos contaminados. PATOGENIA E SINTOMAS: Como a evolução dos cistos é lenta, as lesões e os sintomas desencadeados podem levar anos para serem percebidos, ocorrendo somente quando o cisto atinge grades dimensões. Cistos pequenos, bem encapsulados e calcificados, podem permanecer assintomáticos por anos ou toda vida do hospedeiro. A patogenia da hidatidose humana dependerá dos órgãos atingidos, locais, tamanhos e número de cistos. HIDATIDOSE HEPÁTICA: o fígado geralmente é o órgão primário da infecção. O embrião, através da circulação atinge o fígado, onde pode ficar retido nos capilares sinusais, causando uma reação inflamatória. O cisto, quando localizado profundamente, pode comprimir o parênquima, vasos e vias biliares. Os sintomas são distúrbios gástricos, sensação de plenitude pós-prandial e em casos mais graves, congestão portal e estase biliar, com icterícia e ascite. Quando há ruptura do cisto hepático, existe grande possibilidade da formação de cistos-filhos em vários órgãos da cavidade abdominal e peritoneal. HIDATIDOSE PULMONAR: o pulmão é o segundo órgão mais afetado pela hidatidose. O cisto pode comprimir brônquios e alvéolos. Manifestações clínicas incluem: cansaço ao esforço físico, dispneia e tosse com expectoração. Rupturas de cistos neste órgão são mais frequentes. HIDATIDOSE CEREBRAL: esta localização é rara. O tecido cerebral apresenta pouca resistência e os cistos evoluem rápido, com sintomas neurológicos de acordo com a localização do cisto. HIDATIDOSE ÓSSEA: também rara, mas de longa duração. No tecido ósseo, os cistos não apresentam membrana adventícia, e a medida que crescem, formam hérnias com exteriorização da membrana germinativa, formando cistos exógenos secundários. Embora os cistos neste tecido fiquem ativos por até 20 anos, o paciente conserva bom estado geral, sendo que o diagnóstico muitas vezes é realizado no momento de fraturas do osso, que está fragilizado pela destruição do tecido. Também podem ser observadas reações alérgicas, devido ao extravasamento de pequenas quantidades de líquido hidático para os tecidos. No caso de ruptura do cisto, após punção, cirurgia ou acidentes, o líquido hidático ao cair na cavidade peritoneal e/ou abdominal pode desencadear choque anafilático, muitas vezes fatal. EPIDEMIOLOGIA: A manutenção da hidatidose em áreas endêmicas está relacionada aos hábitos da população rural de abater os animais na propriedade e utilizar suas vísceras para alimentar os cães; A hidatidose é uma zoonose rural com ampla distribuição geográfica, presente em todos os continentes. As regiões de maior prevalênciatêm tradição na criação de ovinos associado à presença de cães de pastoreio; No mundo há cerca de 2-3 milhões de pessoas infectadas com cisto hidático, destes cerca de meio milhão, encontram-se principalmente nas áreas rurais do Chile, Argentina, Uruguai, Peru e Brasil. Ovinos são considerados os mais importantes hospedeiros intermediários do E. granulosus na região endêmica do Brasil; A hidatidose permanece endêmica no RS, com transmissão ativa, estando o habitante do meio rural continuamente exposto a essa parasitose, principalmente devido a grande quantidade de cães presentes nas propriedades rurais; ao hábito dos camponeses de alimentar os cães com vísceras cruas dos animais abatidos nas propriedades; a ausência de tratamento anti- helmíntico aos cães; e a precária educação sanitária da população de risco; Casos de hidatidose em bovinos têm sido registrados em outros Estados: SC, PR, MS, GO, MG e MT – isto é preocupante, visto a possibilidade de surgirem novas áreas de transmissão dessa parasitose, principalmente pela comercialização de animais de áreas endêmicas para áreas livres dessa doença. DIAGNÓSTICO: Clínico: as manifestações clinicas quando presentes, são geralmente causadas pelo crescimento expressivo do cisto, que leva à compressão e aderência do órgão parasitado e das estruturas adjacentes. Nos exames físicos, dependendo da localização e do tamanho do cisto, podem ser detectadas massas palpáveis. Em áreas endêmicas, estes achados, associados a manifestações hepáticas e pulmonares crônicas são sugestivos de hidatidose. Laboratorial: são usadas tanto no diagnóstico primário quanto no acompanhamento após o tratamento. Os métodos de imunodiagnóstico (imunodifusão, hemaglutinação, imunofluorescência e ELISA) são utilizadas na busca de Acs específicos e proteínas do líquido hidático (principais: Ag-5/arco-5 e recombinante B/EgB). É indicado o uso de duas técnicas na confirmação do diagnóstico. As técnicas apresentam boa sensibilidade e especificidade, no entanto, ainda existem problemas com as reações cruzadas. No caso de suspeita de rompimento do cisto pulmonar, deve-se solicitar exame do material de expectoração para a pesquisa de protoescólices. Métodos de imagem: radiografia – amplamente utilizada. Existem também outras técnicas que permitem uma visualização mais detalhada do cisto: ecografia, ultrassom, cintilografia, TC e ressonância magnética. Problema: semelhança com outras patologias, como tumores, por exemplo. Laparoscopia: esta técnica cirúrgica é utilizada quando não se tem uma confirmação exata da abrangência e das condições em que se encontra o cisto hidático. Diagnóstico em animais: - Cães: exame de fezes não fornece um resultado específico; em estudos epidemiológicos, o diagnóstico é feito através do exame morfológico do parasito adulto, obtido através da expulsão do cestoide íntegro, após a administração de bromidato de arecolina, ou por necropsia e exame de raspado da mucosa intestinal; - Hospedeiros intermediários (bovinos, ovinos, suínos): o diagnóstico é obtido pela presença de cistos no exame post-mortem, no momento de abate destes animais. PROFILAXIA: Objetivo: romper a transmissão dessa parasitose para os animais de produção e prevenir a infecção humana. Isto pode ser conseguido, tendo o cuidado: - De não alimentar cães com vísceras cruas de ovinos, bovinos e suínos; - De incinerar as vísceras parasitadas dos animais abatidos; - De tratar periodicamente, com anti-helmínticos, todos os cães da propriedade; - Com higiene pessoal, lavando as mãos antes de ingerir alimentos e depois do contato com cães; - De impedir o acesso de cães em hortas e reservatórios de água; - De lavar frutas e verduras com água corrente; - De evitar o contato direto com cães não tratados; - De realizar o controle de insetos (moscas e baratas) que podem carrear ovos; - De construir abatedouros domiciliares para ovinos e suínos, impedindo o acesso dos cães ao local de abate; - De manter somente o número necessário de cães as atividades da propriedade; VACINAS: a profilaxia da hidatidose através de vacinas nos HI tem mostrado resultados animadores. TRATAMENTO: Hidatidose humana: o tratamento da hidatidose é realizado através de medicamentos, cirurgias e PAIR; - Medicamentos: a administração de fármacos é utilizada como primeira conduta no tratamento de hidatidose e como auxiliar nos tratamentos cirúrgicos e da PAIR. O que é utilizado: albendazol; albendazol+praziquantel; - PAIR (Punção, Aspiração, Injeção e Reaspiração do cisto): este tratamento consiste na punção do líquido hidático através de aspiração e inoculação de uma substância protoescolicida (salina hipertônica, etanol,) e reaspiração após 10 min. Este tratamento é recomendado nos casos de cistos simples e múltiplos com tamanho entre 5 e 15 cm de diâmetro. - Tratamento cirúrgico: é método mais utilizado no tratamento da hidatidose no Brasil. È recomendado em casos de localizações acessíveis e cistos volumosos, sendo necessário a dessensibilização prévia do paciente para evitar processos alérgicos ou anafiláticos. Tratamento nos cães: o praziquantel tem bons resultados sobre a forma adulta de E. granulosus em cães, tanto no tratamento como na profilaxia desta parasitose. Após a administração do medicamento é recomendado prender os animais por 24h e todas as fezes eliminadas devem ser incineradas para evitar a contaminação do ambiente com ovos deste parasito.
Compartilhar