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O SISTEMA MUNDIAL E A MUNDIALIZAÇÃO CAPITALISTA

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O SISTEMA MUNDIAL E A MUNDIALIZAÇÃO CAPITALISTA1
Wendell Magalhães2
Samir Amin, como teórico do chamado Sistema Mundo, diferentemente de parte dos
seus pares que são autoridades no mesmo tema3, destaca o sistema mundial capitalista como
qualitativamente diferente de todos os sistemas anteriores, na medida em que estes últimos
aparecem para o autor como “forçosamente regionais”, independente da densidade das
relações estabelecidas entre eles. Nesse sentido, a qualidade diferenciada do sistema mundial
capitalista é vista como produto do domínio do econômico, ou seja, do predomínio da lei do
valor em seu seio, diferente das demais sociedades nas quais a dominação se exercia pelo
político-ideológico. Aqui, portanto, a visão da especificidade histórica do sistema mundial
capitalista é preservada, negando a possibilidade de se confundir, num mesmo continuum, este
sistema e um sistema mundial mais antigo que remete a um passado mais distante da história
e acaba por se perder na eternidade.4
Estabelecido isso, já com base em Immanuel Wallerstein (2003), podemos diferenciar
três grandes momentos do processo de expansão e de formação do sistema mundial
capitalista. O primeiro remete ao período de sua criação original, entre 1450 e 1650. Neste
período, destaca-se a inclusão da maior parte da Europa – excetuando a Rússia e o Império
Otomano – e mais algumas partes da América pelo sistema mundial capitalista. O segundo
momento se caracteriza pela grande expansão na qual o sistema mundial incorpora os
impérios russo e otomano, a Ásia meridional, partes da África ocidental e o resto das
Américas. Este se dá entre 1750 e 1850. Por fim, o terceiro momento da expansão e formação
desse sistema compreende o período que vai de 1850 a 1900. Aqui já se encontram
incorporados nos seus domínios a Ásia oriental, várias zonas da África, o sudoeste restante da
Ásia e a Oceania, compondo para além do sistema mundial capitalista, a chamada divisão
internacional do trabalho em novo estágio.
1 Este escrito é parte adaptada de minha dissertação de mestrado, intitulada Do padrão de reprodução do
capital nas economias dependentes: a Teoria Marxista da Dependência e a construção de uma categoria de
mediação de análise (2019).
2 Bacharel e Mestre em Economia pela Universidade Federal do Pará (UFPA).
3 A teorização do capitalismo como um sistema mundial é feita por parte dos chamados teóricos do sistema-
mundo, que veem a economia capitalista mundial dividida entre centros, periferias e semi-periferias,
basicamente. Nisto se incluem figuras como Giovanni Arrighi, Immanuel Wallerstein e Beverly Silver. Um
balanço das ideias desses autores é feito no capítulo 2 da obra de Martins (2011), intitulado Moderno
Sistema Mundial e Capitalismo: origens, ciclos e secularidade.
4 AMIN, S. Os desafios da mundialização. São Paulo: Ideias e Letras, 2006.
Conforme ainda Wallerstein (2003), completados estes três momentos, podemos dizer,
a partir de então, que a chamada economia-mundo capitalista chegou pela primeira vez a ser
realmente global. Nesse sentido, o sistema mundial capitalista, concretizado tais momentos, se
evidencia como o primeiro sistema histórico a abarcar, geograficamente, o mundo inteiro.
Osorio (2014), no entanto, destaca que o fato de o sistema mundial capitalista se expandir e
fazer com que certas regiões internalizem processos que antes constituam dimensões externas
aos seus territórios, não justifica perder de vista a diferenciação e a relação dialética interno-
externo, ou totalidade-partes, que segue constituindo o sistema mundial capitalista em sua
relação com as diversas economias que o compõem.
Por sua vez, é através desse destaque epistemológico que Osorio (2014) marca sua
diferença em relação à perspectiva dos teóricos do sistema-mundo. De forma distinta,
portanto, destes últimos, que passam a enxergar todos os fatores como internos dentro da
perspectiva de um sistema mundial, Osorio (2014, p. 172) faz questão de ressaltar que
considera a “visão holística e sistêmica fundamental, mas sem desconhecer a importância das
‘partes’”.5
A diferença de perspectiva epistemológica que separa Osorio dos teóricos do sistema-
mundo acaba por implicar na também diferença de visão que aquele tem sobre o fenômeno da
mundialização (vulgarmente tratado pelo termo globalização). Enquanto os autores do
sistema-mundo, em geral, igualam a mundialização à tendência do capitalismo operar como
sistema mundial – tendência esta, em particular, com a qual Osorio concorda que exista –,
tratando a mundialização como algo intrínseco a este sistema, Osorio considera isso um
equívoco, pois vê esse fenômeno como uma nova etapa particular do processo de formação do
capitalismo como sistema mundial. Isso, porém, não impede com que Osorio rechace as
interpretações que tomam a mundialização como um fenômeno inédito do capitalismo que se
expressa ao final do século XX, ignorando o processo histórico do qual ela faz parte. 
 Desta feita, fica então estabelecido que a mundialização se refere a uma etapa do
processo que constitui o capitalismo como sistema mundial e, nesse sentido, se situa,
enquanto categoria, no mesmo nível de análise deste último, como já ressaltamos. Também no
nível de abstração do sistema mundial, segundo Osorio (2012, 2014), está a categoria que se
refere ao imperialismo, assim como as categorias de ondas longas, divisão internacional do
trabalho, e aquelas que qualificam as economias tanto dentro desta última, quanto dentro do
sistema mundial, de forma hierárquica. Estas são as categorias de centro e periferia, ou como
5 Com esta concepção, Osorio (2014) diz estar mais próximo da visão de Edgar Morin e sua noção de unitas
multiplex, na qual se destaca a capacidade de conceber o uno e o múltiplo. Por recomendação de Osorio, ver,
nesse sentido, MORIN, E. Introducción al pensamiento complejo. Barcelona: Gedisa, 1998. 
a melhor precisão teórica exige tratar o capitalismo contemporâneo, as categorias economias
imperialistas e economias dependentes.
REFERÊNCIAS
AMIN, S. Os desafios da mundialização. São Paulo: Ideias e Letras, 2006.
MAGALHÃES, W. C. Do padrão de reprodução do capital nas economias dependentes: a 
Teoria Marxista da Dependência e a construção de uma categoria de mediação de análise. 
2019. 182 f. Dissertação (Mestrado em Economia) – Programa de Pós-Graduação em 
Economia, Universidade Federal do Pará, Belém, 2019.
MARTINS, Carlos Eduardo. Globalização, dependência e neoliberalismo na América Latina.
São Paulo: Boitempo Editorial, 2011.
MORIN, E. Introducción al pensamiento complejo. Barcelona: Gedisa, 1998.
OSORIO, J. Padrão de reprodução do capital: uma proposta teórica. In: FERREIRA, Carla; 
OSORIO, Jaime; LUCE, Mathias Seibel (Orgs.). Padrão de reprodução do capital: 
contribuições da Teoria Marxista da Dependência. São Paulo: Boitempo Editorial, 2012.
OSORIO, J. O Estado no centro da mundialização: a sociedade civil e o tema do poder. 1 ed. 
São Paulo: Outras Expressões, 2014.
WALLERSTEIN, I. O fim do mundo como o concebemos: ciência social para o século XXI. Rio
de Janeiro: Revan, 2003.

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