Buscar

Emilia Ferreiro A psicogenese da Lingua Escrita

Prévia do material em texto

Psicogênese da Língua Escrita- Emília Ferreiro 
O sujeito cognoscente é aquele que procura ativamente compreender o mundo que o rodeio e trata de
resolver as interrogações que este mundo provoca. E com isso acontece a assimilação e acomodação que gera
a equilibração.
Três princípios básicos da Psicogênese da língua escrita 
1. Não identificar leitura com decifrado ( a leitura não pode ser reduzida a puro decifrado)
2. Não identificar escrita como cópia de um modelo ( a escrita não é uma cópia passiva e sim
interpretação ativa dos modelos do mundo adulto.
3. Não identificar progressos na conceitualização com avanços no decifrado ou na exatidão da cópia.
Primeiras Hipóteses sobre a Escrita 
A- Quantidade suficiente de caracteres
Serve para ler? Ou Não serve para ler?
Para que uma palavra possa ser lida esta precisa ter pelo menos 3 letras e estas letras devem ser identificadas
como tal, por exemplo não pode ser número, pois umas das primeiras distinções que a criança faz é diferenciação
entre letras e números. É preciso uma certa quantidade de caracteres, variáveis entre dois e quatro, que, na
maioria dos casos, situa-se em três.
B- Variedade de caracteres
Se todos os caracteres são iguais, ainda que haja um número suficiente, não se pode ler. Precisa existir uma
variação da posição destes caracteres.
C- Outros critérios de classificação utilizados
Diferenciação entre cursiva ( que a criança associa a desenhos) e letra de imprensa.
Diferenciação entre letras e números (que servem para funções distintas)
Níveis de Escrita 
Ferreiro e Teberosky, propuseram 5 níveis de escrita sucessivos
• Nível 1 Pré-Silábico: escrever é reproduzir os traços típicos da escrita que criança identifica como a forma 
básica da mesma, se for imprensa teremos grafismos separados entre si, se for cursiva teremos grafismos 
ligados entre si com uma linha ondulada como forma da base.
Fonte Nova Escola
Nível 2 Intermediário: Para poder ler coisas diferentes ( isto é, atribuir significados diferentes) deve haver uma 
diferenciação objetiva nas escritas), ou seja, coisas diferentes devem ser escritas de forma diferente.
Fonte Nova Escola
Nível 3 Silábico: Este nível é caracterizado pela tentativa de dar valor sonoro a cada uma das letras que compõem a 
escrita. Cada letra vale por uma sílaba. 
Fonte Nova Escola
Nível 4 Silábico Alfabético: Passagem da hipótese silábica para alfabética. A criança abandona a hipótese silábica
e descobre a necessidade de fazer uma análise que vá “mais além” da sílaba pelo conflito e a exigência da
quantidade mínima de letras.
Nível 5 Alfabético: A escrita alfabética constitui o final dessa evolução, compreendeu que cada um dos caracteres dá
escrita corresponde a valores sonoros menores que a sílaba e realiza sistematicamente uma análise sonora dos
fonemas das palavras que vai escrever.
Fonte Nova Escola
Nome próprio
O nome próprio como modelo de escrita, como a primeira forma de escrita dotada de estabilidade. 
Atos de leitura/ Hipóteses de leitura
Cotidianamente nós, adultos, realizamos vários atos de leitura diante das crianças. A partir dessa ideia, Ferreiro e
Teberosky, questionam sobre quais seriam as chaves que as crianças utilizam para decidir se está ocorrendo o ato
de leitura ou não.
1 – Interpretação da leitura silenciosa
A. Inicialmente, a leitura não pode ser concebida sem voz.
Neste nível, para essas crianças a leitura precisa ser acompanhada do gesto e da voz.
Javier (4a.)
(Leitura silenciosa)
P - O que estou fazendo?
J- Olhando o jornal.
P- E não estou lendo?
J- Estás vendo as letras para ver o jornal e lê-lo.
P- E para ler?
J- Tem que falar.
(...)
Avançando no conhecimento
B. A leitura se faz independente da voz, se diferencia do folhear.
As crianças alegam que para ler tem que olhar, mas que olhar não é apenas suficiente.. O que caracterizou esse nível foi a
compreensão da leitura silenciosa como forma de leitura.
Maria Eugenia (4a.) p. 159 P : (Leitura silenciosa) M: -
Está lendo.
P- Como te desta conta?
M- Porque vi.
P- O que viste?
M- Que estavas lendo.
(..)
C- Os atos de leitura silenciosa se definem em si mesmo.
Num último nível, as crianças compreenderam que os atos de leitura silenciosa se definem por si mesmos, e os gestos, a
direção do olhar, o tempo e o tipo de exploração, são índices que mostram e demonstram uma atividade de leitura
silenciosa.
Avançando no conhecimento
2 - Interpretação da leitura com voz
As crianças de um primeiro nível se centram na ação de ler e não emitem juízo sobre o texto escutado. Qualquer
portador é admitido como protótipo de texto para ler, sem importar o seu conteúdo. O que pode variar nesse nível é a
exigência, por parte de algumas crianças, da existência de imagens que comprovem a possibilidade de leitura.
Num segundo nível, há a possibilidade de antecipar os acontecimentos segundo uma classificação dos distintos
portadores de texto. A classificação prévia dos portadores de texto influiu sobre a antecipação do conteúdo
correspondente. Tal fato induziu as crianças desse nível a situar os enunciados escutados, em função da classificação
estabelecida. O que é colocado em questão é o conteúdo lido.
Carlos (6 A.) p. 173
P (Com o jornal) - “Era uma vez...”
C- Estás lendo.
P- Onde?
C - Não sei.
P - Do jornal?
C- Não... porque essas coisas nunca são feitas nos jornais.
P- Que coisas são de jornal?
C- As coisas importantes, de esporte, futebol, de tudo.
Avançando no conhecimento
Vanina (6 A.) p. 178
P - (Com o jornal) - “Era uma vez...” V- Um conto! Não é o jornal!
P- Como?
V- Poderia haver um conto no jornal.
P- Onde? (mostra o jornal)
V... (olha). – Não, não em contos. Sim, estás lendo, mas não estás lendo o que diz aqui (jornal).
P- É um conto?
V- Sim, um conto de livro.
P- Como sabes?
V- Ué, porque os grandes não vão dizer de uma menina muito bondosa!
Num último nível – Começo de diferenciação entre ”Língua Oral” e “Língua Escrita”. Neste nível encontramos crianças
com condutas que evidenciaram clara centração no enunciado. Foram classificadas as crianças que decidiram que
tipos de expressões correspondiam aos tipos de portadores, ou modalidades da língua, implicando num juízo sobre
as formas concretas de língua escrita.
Avançando no conhecimento
Para as pesquisadoras, Ferreiro e Teberosky nenhum sujeito parte do zero ao ingressar na escola de primeiro grau,
nem sequer as crianças da classe desfavorecida. Aos 6 anos, as crianças ‘sabem’ muitas coisas sobre a escrita e
resolveram sozinhas numerosos problemas para compreender as regras da representação escrita. Talvez não
estejam resolvidos todos os problemas, como a escola o espera, porém, o caminho já iniciou. A criança que ingressa
na escola é um sujeito ativo, cognoscente, que sabe definir seus próprios problemas, e além disso constrói
espontaneamente os mecanismos para resolvê-los. É o sujeito que reconstrói o objeto para dele apropriar-se
através do desenvolvimento de um conhecimento e não da exercitação de uma técnica.

Continue navegando