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Moura SLF de, Duarte TTP, Magro MCS et al. Gravidade e desfecho de pacientes com lesão renal... Português/Inglês Rev enferm UFPE on line., Recife, 11(11):4319-25, nov., 2017 4319 ISSN: 1981-8963 ISSN: 1981-8963 DOI: 10.5205/reuol.23542-49901-1-ED.1111201707 GRAVIDADE E DESFECHO DE PACIENTES COM LESÃO RENAL AGUDA NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA SEVERITY AND OUTCOME OF PATIENTS WITH ACUTE KIDNEY INJURY IN THE INTENSIVE CARE UNIT GRAVEDAD Y RESULTADO DE PACIENTES CON LESIÓN RENAL AGUDA EN LA UNIDAD DE CUIDADOS INTENSIVOS Samara Leopoldino Ferreira de Moura1, Tayse Tâmara da Paixão Duarte2, Marcia Cristina da Silva Magro3 RESUMO Objetivo: identificar se a presença de agravos à saúde interfere no desfecho de pacientes que evoluem com lesão renal aguda (LRA) na unidade de terapia intensiva (UTI). Método: estudo quantitativo, longitudinal, prospectivo realizado na UTI de um hospital público com amostra de 19 pacientes e coleta de dados por meio de questionário estruturado. Os dados foram analisados estatisticamente pelos testes de Kruskal-Wallis e exato de Fisher, com nível de significância de p < 0,05. Resultados: 31,6% dos pacientes evoluíram com risco para LRA e 15,8% com falência renal, segundo a classificação “risk, injury, failure, loss, end-stage kidney injury” (RIFLE). O aumento do índice de massa corporal (IMC) mostrou associação significativa (p = 0,01) com lesão renal; 68,4% dos pacientes obtiveram alta hospitalar. Conclusão: pacientes que acumularam alguma condição de agravo à saúde, como aumento do IMC, mostraram-se mais predispostos a evoluir com LRA. Os achados deste estudo contribuem por mostrar a importância do controle de peso diário de pacientes críticos como medida preventiva de agravos à saúde e medida promotora de redução da mortalidade. Descritores: Unidades de Terapia Intensiva; Lesão Renal Aguda; Avaliação em Saúde; Ganho de Peso; Mortalidade. ABSTRACT Objective: identifying whether the presence of health problems interferes with the outcome of patients who evolve to acute kidney injury (AKI) in the intensive care unit (ICU). Method: quantitative, longitudinal, prospective study conducted in the ICU at a public hospital with a sample of 19 patients and data collection through a structured questionnaire. Data was analyzed statistically by means of the Kruskal-Wallis and Fisher's exact tests, with a significance level of p < 0.05. Results: 31.6% of the patients were at risk for AKI and 15.8% had kidney failure, according to the classification “risk, injury, failure, loss, end-stage kidney injury” (RIFLE). Increased body mass index (BMI) showed a significant association (p = 0.01) with renal injury; 68.4% of the patients were discharged from hospital. Conclusion: patients who accumulated any health condition, such as increased BMI, were more predisposed to progress with AKI. The findings of this study contribute to show the importance of daily weight control in critically ill patients as a preventive measure against health problems and a measure that promotes mortality reduction. Descriptors: Intensive Care Units; Acute Renal Injury; Health Evaluation; Weight Gain; Mortality. RESUMEN Objetivo: identificar si la presencia de problemas de salud interfiere con el desenlace de pacientes que evolucionan a lesión renal aguda (LRA) en la unidad de cuidados intensivos (UCI). Método: estudio cuantitativo, longitudinal, prospectivo realizado en la UCI de un hospital público con muestra de 19 pacientes y recogida de datos a través de un cuestionario estructurado. Los datos se analizaron estadísticamente mediante la prueba de Kruskal-Wallis y la prueba de Fisher, con un nivel de significación de p < 0,05. Resultados: 31,6% de los pacientes tenían riesgo de LRA y 15,8% tenían insuficiencia renal, según la clasificación “risk, injury, failure, loss, end-stage kidney injury” (RIFLE). El aumento del índice de masa corporal (IMC) mostró una asociación significativa (p = 0,01) con lesión renal; 68,4% de los pacientes tuvieron alta hospitalaria. Conclusión: pacientes que acumularon alguna condición de salud, como un IMC aumentado, estaban más predispuestos a progresar con LRA. Los hallazgos de este estudio contribuyen a mostrar la importancia del control diario del peso de pacientes críticamente enfermos como una medida preventiva contra los problemas de salud y una medida que promueve reducción de la mortalidad. Descriptores: Unidades de Cuidados Intensivos; Lesión Renal Aguda; Evaluación de Salud; Aumento de Peso; Mortalidad. 1Enfermeira graduada pela Universidade de Brasília (UnB). Brasília (DF), Brasil. E-mail: emanuelgregoriosam@hotmail.com; 2Enfermeira, mestre em Ciências da Saúde, professora na UnB. Brasilia (DF), Brasil. E-mail: taysepaixao@unb.br; 3Enfermeira, doutora em Enfermagem, professora na UnB. Brasília (DF), Brasil. E-mail: marciamagro@unb.br ARTIGO ORIGINAL mailto:emanuelgregoriosam@hotmail.com mailto:taysepaixao@unb.br mailto:marciamagro@unb.br Moura SLF de, Duarte TTP, Magro MCS et al. Gravidade e desfecho de pacientes com lesão renal... Português/Inglês Rev enferm UFPE on line., Recife, 11(11):4319-25, nov., 2017 4320 ISSN: 1981-8963 ISSN: 1981-8963 DOI: 10.5205/reuol.23542-49901-1-ED.1111201707 A lesão renal aguda (LRA) é considerada uma condição abrupta que ocorre em 7 dias ou menos, potencialmente reversível, cuja realidade clínica é observada com frequência em unidades de terapia intensiva (UTI).1,2 Caracteriza-se pela rápida queda no ritmo de filtração glomerular e pode ser acompanhada pela retenção de produtos nitrogenados e distúrbios hidroeletrolíticos. Atualmente, sua identificação e estadiamento são habitualmente guiados pelas classificações “risk, injury, failure, loss, end-stage kidney injury” (RIFLE), “Acute Kidney Injury Network” (AKIN) ou “Kidney Disease Improving Global Outcomes” (KDIGO), que adotam para esse fim os critérios creatinina sérica e débito urinário.3 Dados epidemiológicos mostram que a LRA é menos frequente na comunidade dita “sadia” (0,4% a 0,9%), do que em pacientes hospitalizados (4,9% a 7,2%). O acúmulo e a gravidade das comorbidades tornam os pacientes cada vez mais vulneráveis a LRA. Além disso, esses fatores, combinados a idade avançada, diabetes mellitus e hipertensão, muitas vezes se sobrepõem e aumentam a complexidade do paciente e, consequentemente, a mortalidade.2 Dada essa realidade, os pacientes com LRA grave podem alcançar 80% de mortalidade. Entretanto, entre os sobreviventes e os dependentes de diálise, esse percentual é estimado em torno de 13%. É relevante destacar que 5% a 20% dos pacientes hospitalizados em UTI apresentam pelo menos um episódio de LRA associado à insuficiência de múltiplos órgãos e sistemas.4-5 A LRA é uma doença grave associada à elevada morbidade e mortalidade. O ambiente hospitalar pode predispor e agravar essa condição, contribuindo diretamente para o aumento da prevalência e gravidade dos casos. O uso de drogas vasoativas, o estresse, a ansiedade e a depressão são fatores que podem contribuir à ocorrência de comorbidades e, por sua vez, aumentar a incidência de LRA.3 Evidências sinalizam a sepse e os processos inflamatórios sistêmicos como os principais causadores de LRA, principalmente quando combinados a faixa etária avançada e morbidades impactam de maneira negativa na sobrevida de pacientes com LRA em UTI.3-6 A redução da incidência, do agravamento clínico e da mortalidade dos pacientes acometidos por LRA relaciona-se à adoção de medidas preventivas e ao diagnóstico precoce. Assim, identificar fatores relacionados ao aumento da gravidade pode ser fundamental e fazer diferença no desfecho dos pacientes. Nessa direção, uma condição fundamental a ser considerada relaciona-se à competência de profissionais da área dasaúde, especialmente do enfermeiro, para identificar de forma precoce esses fatores, a fim de mediar intervenções específicas e singulares voltadas às necessidades desses pacientes.6-7 ● Identificar se a presença de agravos à saúde interfere no desfecho de pacientes que evoluem com lesão renal aguda na unidade de terapia intensiva. Estudo quantitativo, longitudinal, prospectivo realizado em uma UTI geral adulta de um hospital público da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal (SES DF). A coleta de dados ocorreu de janeiro a junho de 2016. A amostra foi de conveniência e constituída de pacientes que evoluíram com LRA após internação na UTI. Foram incluídos os pacientes com idade superior a 18 anos e foram excluídos aqueles com história prévia de insuficiência renal (taxa de filtração glomerular < 60 mL/min) e estadiamento de risco para LRA pela classificação RIFLE.8 A classificação RIFLE se baseia na definição de 3 estágios de LRA (risk, injury e failure), que têm como referência alterações da creatinina sérica combinada ou não a alteração dos valores do débito urinário, configurando os estágios de disfunção renal.8 A coleta de dados ocorreu por meio do preenchimento de um instrumento estruturado contendo dados de identificação, sociodemográficos, clínicos, cirúrgicos, hemodinâmicos e laboratoriais, obtidos no prontuário eletrônico disponibilizado pelo sistema Trakcare da SES DF. Todos os 19 participantes do estudo assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Os valores de referência adotados nos exames laboratoriais e medidas hemodinâmicas seguiu o protocolo da SES DF. Por exemplo: leucócitos = 3.800-9.800/mm3; ureia = 20-40 mg/dL; sódio = 138 ou 135 mEq/L; potássio = 3,5 a 5,0 mEq/L; creatinina sérica masculina = 0,7-1,2mg/dL e feminina = 0,5-1,1mg/dL; frequência cardíaca (FC) = 60- 100 bpm/min; pressão arterial sistólica (PAS) = 120-80 a 139-89 mmHg; pressão arterial média (PAM) = 60-80 mmHg; frequência respiratória (FR) = 12-20 ciclos/min; saturação periférica de oxigênio (SPO²) = 95-100%; temperatura = 35,8-37°C. INTRODUÇÃO OBJETIVO MÉTODO Moura SLF de, Duarte TTP, Magro MCS et al. Gravidade e desfecho de pacientes com lesão renal... Português/Inglês Rev enferm UFPE on line., Recife, 11(11):4319-25, nov., 2017 4321 ISSN: 1981-8963 ISSN: 1981-8963 DOI: 10.5205/reuol.23542-49901-1-ED.1111201707 Para a realização do estudo, foi construído um banco de dados no programa computacional Epi Info, versão 7. Foram calculadas as frequências relativas e absolutas, média, desvio padrão e mediana (percentis 25 e 75). Para a comparação entre grupos foi aplicado o teste de Kruskal-Wallis e exato de Fisher. O resultado foi considerado significativo quando p < 0,05. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde da SES DF (FEPECS/SES DF), sob o Parecer n. 1.399.410 e o Certificado de Apresentação para Apreciação Ética (CAAE) n. 51515515.0.0000.5553 – em cumprimento à Resolução CNS n. 466/2012. Foram acompanhados 19 pacientes que evoluíram com LRA durante o período de internação na UTI. A idade média desses pacientes foi de 58,8 ±20 anos. A maioria (52,6%) se declarou de raça branca, 26,3%, negros e 21,0% pardos. Entretanto, daqueles que evoluíram com LRA, a maioria (64,2%) era negra (p = 0,02). A escala de coma de Glasgow e o índice APACHE médios (9 ±4; 21 ±7,5), respectivamente, revelaram a condição de gravidade dos pacientes. A exemplo disso, a maioria dos pacientes (78,9%) permaneceu em ventilação mecânica na modalidade assistida controlada por 18,7 ±13,3 dias. Apenas 10,5% permaneceram na modalidade ventilatória espontânea ou controlada. A pressão positiva no final da expiração (PEEP) da maioria dos pacientes (68%) apresentou tendência a se elevar durante o acompanhamento (9 a 12 cm/H2O). Contudo, 21% manteve a PEEP de 5 a 8 cm/H2O. A condição de gravidade dos pacientes pode ser fundamentada pela necessidade majoritária de noradrenalina por 68% dos pacientes. O tempo médio de administração de vasopressor (noradrenalina) foi de 9,4 ±4,9 dias. Tanto a hipertensão arterial como sequela de infarto agudo do miocárdio foram as condições patológicas mais frequentes (57,8%) que acometeram os pacientes. Apesar da alta hospitalar ter sido obtida pela maioria (68,4%) dos pacientes, 26,3% evoluíram ao óbito e 5,2% permaneceram internados. A sepse foi diagnosticada em 47,3% e a pneumonia em 42,1%, complicações clínicas mais frequentes entre os pacientes durante o período de internação. Além disso, daqueles que evoluíram com LRA, em 50% diagnosticou- se sepse. A maioria dos pacientes (31,6%) evoluiu com risco para LRA, mas 21,1% deles apresentaram lesão renal durante a hospitalização na UTI. Um percentual menor (15,8%) evoluiu com falência renal, condição de maior gravidade segundo a classificação RIFLE. De forma geral, os pacientes evoluíram com quadro de acidose. A creatinina sérica inicialmente se mostrou na faixa de normalidade (1 ±0,22 mg/dL), mas a partir do segundo dia de internação apresentou alteração no valor basal/de referência. Entretanto, no percurso do acompanhamento, esse valor tendeu a normalização, como mostra a Tabela 1. Tabela 1. Variação dos valores de exames biológicos de pacientes durante a hospitalização na UTI. Ceilândia (DF), Brasil, 2016. Exames (nível sérico) (n = 19) Média ± desvio padrão Gasometria (pH) 6,97±1,69 Potássio (mEq/L) 3,56±0,75 Ureia (mg/dL) 56±43,09 Creatinina 1_dia (mg/dL) 1±0,22 Creatinina 2_dia (mg/dL) 1,66±2,31 Creatinina 3_dia (mg/dL) 1,35±0,79 Creatinina 4_dia (mg/dL) 1,28±0,75 Creatinina 5_dia (mg/dL) 1,59±1,963 Creatinina 6_dia (mg/dL) 1,53±1,96 Creatinina 7_dia (mg/dL) 1,10±0,8 Sódio (mEq/L) 140,79±7,54 RESULTADOS Moura SLF de, Duarte TTP, Magro MCS et al. Gravidade e desfecho de pacientes com lesão renal... Português/Inglês Rev enferm UFPE on line., Recife, 11(11):4319-25, nov., 2017 4322 ISSN: 1981-8963 ISSN: 1981-8963 DOI: 10.5205/reuol.23542-49901-1-ED.1111201707 A gravidade verificada segundo o APACHE II foi menor nos sobreviventes do que naqueles não sobreviventes. O sobrepeso caracterizou o grupo de pacientes não sobreviventes, assim como a elevação da creatinina sérica. Isso pôde ser confirmado principalmente nos dias 3 e 4 de acompanhamento da creatinina sérica (p = 0,04; p = 0,02), respectivamente. A gasometria arterial, a pressão arterial média e a saturação periférica de oxigênio não mostraram diferença entre os grupos. Entretanto, o uso de noradrenalina foi elevado em ambos os grupos (Tabela 2). Tabela 2. Associação das variáveis clínicas e desfechos de pacientes durante a hospitalização na UTI. Ceilândia (DF), Brasil, 2016. Variável Sobrevivente (n = 13) Não sobrevivente (n = 5) Valor p Mediana (25- 75) N (%) Mediana (25- 75) N (%) Idade (anos) 62(42-72) - 46 (39-65) - 0,8* APACHE II (1ª semana) 18(13-28) - 25 (22-25) - 0,45* Índice massa corporal (kg/m2) 22(20-28) - 27 (22-30) - 0,35* Escala de coma de Glasgow 10(8-14) - 6 (3-6) - 0,01* Tempo de ventilação mecânica (dias) 17(8-24) - 17 (16-19) - 0,9 Creatininas séricas (mg/dL) Creatinina sérica (dia 1) 0,9 (0,8-1,1) - 1,2 (0,8-1,2) - 0,8* Creatinina sérica (dia 3) 0,9(0,7-1,1) - 2,5 (2,0-2,6) - 0,04* Creatinina sérica (dia 4) 0,9(0,7-1,2) - 1,9 (1,8-2,4) - 0,02* Creatinina sérica (dia 7) 0,9(0,8-1,0) - 1,9 (0,6-3,1) - 0,6* Gasometria (pH) 7,3(7,3-7,4) - 7,4 (7,3-7,5) - 0,1* Pressão arterial média (mmHg) 87(81-97) - 85 (75-110) - 0,9* Saturação periférica de oxigênio (%) 96(95-98) - 98 (96-99) - 0,2* Uso de noradrenalina - 8 (100,0)5 (61,5) 0,2ʇ *Teste de Kruskal Wallis; ʇTeste de Fisher; Acute Physiology and Chronic Health disease Classification System (APACHE II). A maioria dos pacientes evoluiu com LRA. Logo, a gravidade, ou seja, o risco de morte verificado a partir do APACHE II, foi menor nos pacientes sem LRA. O valor mediano da escala de coma de Glasgow indicou maior gravidade nos pacientes acometidos pela LRA. O IMC foi significativamente superior no grupo de maior gravidade, ou seja, com LRA (p = 0,01) (Tabela 3). Moura SLF de, Duarte TTP, Magro MCS et al. Gravidade e desfecho de pacientes com lesão renal... Português/Inglês Rev enferm UFPE on line., Recife, 11(11):4319-25, nov., 2017 4323 ISSN: 1981-8963 ISSN: 1981-8963 DOI: 10.5205/reuol.23542-49901-1-ED.1111201707 Tabela 3. Associação de variáveis clínicas e a ocorrência de lesão renal aguda segundo a classificação RIFLE em 19 pacientes durante a hospitalização na UTI. Ceilândia (DF), Brasil, 2016. Variável clínica LRA (lesão e falência) (n = 14) Não LRA/risco (n = 5) Valor p Mediana (25-75) N (%) Mediana (25-75) N (%) Idade 49,5 (40-79,5) - 78 (74,5-82) - 0,1* APACHE II (1ª semana) 20 (15,5-22) - 18 (17,5-23) - 0,6* Índice massa corporal 24,3 (21,9 29,8) - 19 (18,4-21,5) - 0,01* Escala de coma de Glasgow 8,5 (7-14,5) - 6 (6-9) - 0,2* Tempo de ventilação mecânica (dias) 18 (13,5-19) 7 (7-8) 0,15* Raça parda e negra - 9 (64,2) - 0 (0,0) 0,02ʇ Uso de noradrenalina - 10 (71,4) - 4 (80,0) 0,6ʇ Sepse - 7 (50,0) - 2 (40,0) 0,5ʇ *Teste de Kruskal Wallis; ʇTeste de Fisher. Cerca de 5% das hospitalizações gerais e até 30% das internações em UTI são determinadas pela LRA. A prevalência dessa patologia oscila de acordo com os valores de referência da creatinina sérica, condições geográficas locais e definição assumida pelas equipes de saúde na prática clínica.7 Estudos mostram que a completa e sustentada reversão da LRA em 48 a 72 horas de seu início está associada a melhores desfechos. Em nosso estudo os pacientes foram acometidos pela LRA por um período superior, o que ratifica uma condição de gravidade.9-10 A classificação RIFLE tem demonstrado que pacientes predispostos a LRA necessitam de um período mais prolongado de assistência hospitalar, condição que predispõe a maior taxa de mortalidade.11 Nessa direção, pacientes que acumulam gravidade, em nosso estudo, caracterizada pelo elevado índice APACHE II (21 ±7,5) estão mais predispostos a LRA. O APACHE II elevado se traduz em um índice que representa probabilidade aproximada de 40% de risco de morte. Evidências científicas sinalizam que esse índice, quando acima de 16, tem uma relação estreita com a ocorrência de LRA.12 Situação presente nos resultados deste estudo. A condição de gravidade expressa neste estudo, pode ser identificada entre algumas características dos pacientes, a saber o avanço da idade, condição suscetível a redução da taxa de filtração glomerular. Essa situação é estabelecida fisiologicamente pelo processo de envelhecimento natural do organismo e pode ser agravado pela combinação de patologias.13-4 O sobrepeso também esteve presente entre os pacientes que evoluíram com LRA. Sabidamente, a sobrecarga metabólica ocasionada pelo excesso de lipídio na clínica configura-se como sobrepeso ou obesidade. Essas condições, quando combinadas a hipertensão arterial sistêmica e diabetes mellitus, elevam o risco de morte de pacientes acometidos com LRA, hospitalizados principalmente no cenário de UTI.15-6 A escala de coma de Glasgow é um instrumento adotado para avaliação de pacientes em situação crítica de risco e comatosos. É comprovado cientificamente que valores de 4 a 9 pontos indicam gravidade, dada pelo estado de inconsciência e drive respiratório prejudicado, condições que indicam necessidade de suporte ventilatório.17 Identificou-se essa gravidade entre os pacientes do presente estudo, fato que pode ter contribuído para o agravo da função renal da maioria deles. Outro fator de gravidade dos pacientes no presente estudo foi o tempo de ventilação mecânica prolongado, logo, estudos mostram que o uso de ventilação mecânica invasiva se associa ao aumento de três vezes a chance de LRA em pacientes críticos. Além disso, a PEEP associada à ventilação mecânica também é um importante fator de risco para disfunção renal. Isso se deve aos efeitos hemodinâmicos e bio-humorais, distúrbios de gases sanguíneos e biotrauma decorrentes da ventilação mecânica invasiva, bem como ao aumento da pressão intra-abdominal advinda da instituição de valores elevados da PEEP.18-9 Pautado nessa teoria, os pacientes deste estudo acumulam condições para evoluir com LRA. A noradrenalina, administrada aos pacientes em situação crítica de risco, otimiza DISCUSSÃO Moura SLF de, Duarte TTP, Magro MCS et al. Gravidade e desfecho de pacientes com lesão renal... Português/Inglês Rev enferm UFPE on line., Recife, 11(11):4319-25, nov., 2017 4324 ISSN: 1981-8963 ISSN: 1981-8963 DOI: 10.5205/reuol.23542-49901-1-ED.1111201707 a pressão arterial, favorecendo a melhor perfusão de órgãos e menor necessidade de volume para manter a função renal.20 Neste estudo, 68% dos pacientes usaram noradrenalina, com um tempo médio de 9,4 ±4,9 dias. Na contramão, a hipertensão arterial sistêmica, presente em mais da metade dos pacientes do presente estudo, causa lesão nas unidades filtrantes dos rins, como consequência esses órgãos podem interromper a remoção de resíduos e excesso de líquido do sangue, o que acarreta instabilidade na pressão arterial sistêmica e ocasiona piora no quadro clínico do paciente, predispondo à LRA.21 Situação identificada na maioria dos pacientes deste estudo. Evidências científicas mostraram que a raça negra está associada ao risco aumentado de LRA quando comparado à raça branca. Em nosso estudo, a raça negra associou-se significativamente (p = 0,02) à LRA. Vários fatores são postulados para explicar o aumento do risco de nefropatia em pessoas negras, como a própria diabetes mellitus, incluindo fatores biológicos, comportamentos de risco individuais e contextos físicos, sociais e de saúde.22 No estudo ARIC, o risco elevado de LRA entre os negros foi atenuado após ajuste das diferenças de renda, sugerindo que fatores socioeconômicos e acesso aos cuidados de saúde podem estar mediando a disparidade racial na LRA.23 Pacientes que acumularam alguma condição de agravo à saúde, como o aumento do IMC, mostraram-se mais predispostos a evoluir com LRA. Os achados deste estudo contribuem por mostrar a importância do controle de peso diário de pacientes críticos como medida preventiva de agravos à saúde e promotora de redução da mortalidade. 1. Kane-Gill SL, Sileanu FE, Murugan R, Trietley GS, Handler SM, Kellum JA. Risk factors for acute kidney injury in older adults with critical illness: a retrospective cohort study. 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