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A Leishmaniose é uma doença infecciosa – porém não contagiosa – causada por parasitos do gênero Leishmania, que vivem e se reproduzem no interior das células que fazem parte do sistema fagocitário molecular – macrófagos e derivados. Embora as infecções por esses parasitos sejam mais comuns nos roedores e canídeos, os hospedeiros vertebrados incluem uma grande variedade de mamíferos e, entre eles, o homem. Como hospedeiros invertebrados, são identificados, exclusivamente, fêmeas de insetos hematófagos conhecidos como flebotomíneos, sendo que a transmissão se dá pela picada do inseto infectado no momento da hematofagia. Entre as espécies que parasitam o homem e outros mamíferos, há dois tipos principais de tropismo do protozoário: a leishmaniose tegumentar, com várias espécies de Leishmania presentes no Brasil – Leishmania (Viannia) brasiliensis, Leishmania (Viannia) guyanensis, Leishmania (Leishmania) amazonenses, entre outros. A leishmaniose tegumentar caracteriza-se por lesões de pele, principalmente nas regiões que ficam mais expostas ao ambiente. Contudo, dependendo da espécie de parasito, em estágios mais avançados da infecção, mucosas do nariz, da boca e da faringe também podem ser afetadas. A leishmaniose visceral, por sua vez, é uma doença sistêmica, pois acomete vários órgãos internos – principalmente o fígado, baço e medula óssea. É uma doença de evolução lenta e é mais comum em crianças menores de dez anos. A leishmaniose tegumentar americana (LTA) está entre as endemias que apresentam grande preocupação para a saúde coletiva no Brasil, devido a sua ampla distribuição pelo território nacional, à ocorrência de formas clínicas graves e a dificuldade quanto ao diagnóstico e tratamento. Trata-se de uma doença com diversidade de agentes, de reservatório e de vetores, que apresenta diferentes padrões de transmissão e sobre a qual ainda há um conhecimento limitado em relação a alguns aspectos, o que a torna de difícil controle. Leishmaniose tegumentar A LTA é uma zoonose causada por várias espécies de protozoários digenéticos da Ordem Kinetoplastida, Família Trypanosomatidae e pertence ao Gênero Leishmania, que infectam o homem, animais silvestres e domésticos, atingindo pele e mucosas. Hospedeiros Hospedeiros vertebrados: Incluem grande variedade de mamíferos, roedores, edentados (tatu, tamanduá, preguiça), marsupiais (gambá), canídeos e primatas, incluindo o homem. Hospedeiros invertebrados: Os hospedeiros invertebrados das leishmanioses são insetos denominados flebotomíneos, conhecidos popularmente como mosquito palha. São insetos da ordem Diptera, Família Psychodidae, Subfamília Phlebotominae, Gêneros Lutzomya (presentes do sul dos EUA ao norte da Argentina) e Phlebotomus (na Europa, África do Norte e Ásia). As principais espécies envolvidas na transmissão da LTA são: L. intermedia, L. faviscutellata, L. whitmani, L. umbratilis, L. wellcomei e L. migonei. São insetos pequenos, corpo revestido por pelos e são de coloração clara. Na fase adulta, estão adaptados a diversos ambientes, porém na fase larvária desenvolvem-se em ambientes terrestres úmidos, ricos em máteria orgânica e de baixa incidência luminosa. Ambos os sexos necessitam de carboidratos como fonte energética, e as fêmeas alimentam-se também de sangue para o desenvolvimento dos ovos. Morfologia Amastigota: que ocorre nos vertebrados Promastigota: que ocorre no tubo digestivo dos hospedeiros invertebrados. As formas amastigotas de Leishmania sp são esféricas ou ovoides, possuem membrana citoplasmática, núcleo, vacúolos e o cinetoplasto. Não apresentam flagelo livre. As formas promastigotas são formas alongadas com flagelo livre na extremidade anterior. O cinetoplasto situa-se anteriormente ao núcleo. Leishmaniose A LTA é uma doença causada por parasitos do Gênero Leishmania. Trata-se de um protozoário digenético que tem seu ciclo biológico realizado em dois hospedeiros, um vertebrado e um invertebrado (heteróxeno). L. (Viannia) brasiliensis – espécie mais prevalente no homem, pode causar lesões cutâneas e mucosas e levar à leishmaniose cutaneomucosa (LCM). L. (Viannia) guyanensis – ocorre na margem norte do rio Amazonas e está associada à presença de marsupiais. L. (Viannia) naiffi – ocorre na Amazônia, nos estados do Pará e Amazonas , e tem o tatu como reservatório natural. L. (Viannia) shawi –responsável por casos esporádicos no Amazonas e Pará e tem vários animais silvestres como reservatórios. Habitat A forma promastigota se locomove através de flagelo no trato digestivo do hospedeiro invertebrado e em meios de cultura. A forma amastigota (imóvel) pode ser encontrada no interior das células do Sistema Fagocitário Mononuclear (SFM) do hospedeiro vertebrado. Ciclo biológico A infecção do hospedeiro invertebrado ocorre quando as fêmeas, ao sugarem o sangue de mamíferos infectados, ingerem macrófagos da pele parasitados por formas amastigotas de Leishmania. No trato digestório, ocorre o rompimento dos macrófagos, liberando essas formas. Transformam-se em promastigotas, que se reproduzem por divisão binária. As formas promastigotas, por sua vez, transformam-se em formas infectantes – promastigotas metaciclícas. O ciclo do parasito no inseto se completa em torno de três a cinco dias. Após esse período, as fêmeas infectantes, ao realizarem um novo repasto sanguíneo em um hospedeiro vertebrado, liberam as formas promastigotas metacíclicas juntamente com a saliva do inseto. Na epiderme do hospedeiro essas formas são fagocitadas por células do Sistema Mononuclear Fagocitário (SMF). No interior dos macrófagos, no vacúolo parasitóforo, diferenciam-se em amastigotas, que se reproduzem intensamente até o rompimento dos mesmos, ocorrendo a liberação dessas formas que serão fagocitadas por novos macrófagos em um processo contínuo. Mecanismo de transmissão Na tentativa da ingestão do sangue para se alimentar, as formas promastigotas metacíclicas de Leishmania sp. São introduzidas no local da picada pelo inseto, e em dois dias, os parasitos flagelados são fagocitados (interiorizados) pelos macrófagos teciduais. Imunidade A resposta imune celular é a responsável pela possível destruição do parasito e evolução para a cura, assim como para a evolução da doença com manifestação de lesões mucosas (LCM), quando a resposta celular observada é exacerbada. Na LCD causada por L. (L) amazonensis, observa-se imunodepressão na resposta celular. É comum observar resposta imune celular contra antígenos de Leishmania naqueles indivíduos portadores de LTA mesmo após anos de tratamento, bem como em indivíduos com leishmaniose cutânea que evoluíram para cura espontânea. A resposta imune humoral está normalmente presente em todas as manifestações clínicas de LTA, porém os níveis de anticorpos são baixos ou discretamente aumentados quando ocorre acometimento de mucosa. Após cura clínica, os títulos de anticorpos decrescem, deixando de ser detectados alguns meses após a cura em alguns casos. Patogenia A leishmaniose tegumentar é uma zoonose caracterizada por uma variedade de lesões de pele no local onde o parasito foi inoculado pelo hospedeiro invertebrado. Essas lesões podem ser inicialmente do tipo pápula eritematosa ou erupções ulcerosas, que podem regredir naturalmente ou que persistirão por meses a anos. O período de incubação geralmente é de 2 semanas a 4 meses, dependendo da virulência do parasito. Ocorre necrose, resultando na desintegração da epiderme e da membrana basal, que culmina com a formação de uma lesão úlcero-crostosa de configuração circular e com borda proeminente e indolor. Sintomatologia Leishmaniose cutânea: forma mais frequente da doença, com lesões formadas, geralmente, no local da picada do inseto,sem disseminação à distância e com tendência de cura espontânea. As lesões podem ser nodulares ou ulceradas. Leishmaniose cutâneo-mucosa (LCM): Lesões tanto na pele quanto na mucosa das vias aéreas superiores, com intensa atividade imunopatológica e metastização das lesões. Leishmaniose cutânea difusa (LCD): forma mais rara da doença, com inúmeras lesões nodulares disseminadas por todo o tegumento, ricas em parasitos. Observa-se no local da inoculação, forma-se uma mácula, pápula ou nódulo que, ao contrário do que geralmente ocorre na leishmaniose cutânea, não ulcera. Os pacientes apresentam lesão inicial localizada nodular que, posteriormente, em espaço variável de tempo, dissemina-se acometendo principalmente face, extremidades superiores e inferiores. Diagnóstico O diagnóstico clínico da LTA é fácil nas formas típicas, principalmente nos casos em que o paciente vem de área endêmica. Ele pode ser feito com base na característica da lesão e da história clínica que o paciente apresenta, porém há necessidade de confirmação laboratorial. Epidemiologia A LTA é primariamente uma enzootia de animais silvestres, que passa a ter caráter zoonótico quando o homem invade áreas onde a infecção ocorre e é picado pelo inseto, tornando-se também um hospedeiro. Várias espécies de mamíferos, como roedores, marsupiais, primatas entre outros, agem como reservatório de Leishmania sp. E, nestes casos a depender da espécie de Leishmania, ocorrerá ou não a doença, o que indica que em alguns casos, há uma equilibrada relação parasito-hospedeiro. Contudo, em hospedeiros acidentais, como é o caso do homem e de alguns animais domésticos, a infecção normalmente produz lesões na pele. Tratamento O regime terapêutico de primeira escolha para o tratamento das leishmanioses é baseado na utilização dos antimoniais pentavalentes, como o antimoniato de meglumina e estibogluconato de sódio. Leishmaniose visceral É uma doença crônica grave, potencialmente fatal para o homem, cuja letalidade pode alcançar 100% quando não tratada adequadamente. É causada por Leishmania (Leishmania) infantum. Esses protozoários estão adaptados a viver a 37ºC, o que lhes permite infectar as vísceras e estruturas profundas. As apresentações clínicas variam de formas assintomáticas até o quadro clássico da doença, que é caracterizado pela presença de febre, anemia, hepatoesplenomegalia e manifestações hemorrágicas, taquicardia e tosse seca. Hospedeiros Hospedeiros vertebrados: Envolvem canídeos silvestres, cães domésticos e o homem. Os reservatórios do parasito são animais mamíferos, principalmente canídeos, sendo os mais importantes a raposa (no ciclo silvestre e rural) e o cão (no ciclo rural e, particularmente, nas áreas urbanas). Hospedeiros invertebrados: São insetos da ordem Diptera, família Psychodidae, subfamília Phlebotominae, gênero Lutzomyia e Phlebotomus. No Brasil, duas espécies estão relacionadas com a transmissão de LVA, Lutzomyia longipalpis e Lutzomyia cruzi. A primeira é considerada a principal espécie transmissora da Leishmania (L.) infantum. Há indícios de que o período de maior transmissão da LVA ocorre durante e logo após a estação chuvosa. Morfologia As formas amastigotas da Leishmania são arredondadas ou ovoides, elas possuem membrana delgada e núcleo acêntrico, situando-se próximas ao cinetoplasto. As formas promastigotas (flageladas) são alongadas, com cinetoplasto anterior ao núcleo e flagelo livre. Agentes etiológicos A leishmaniose visceral é causada por Leishmania (Leishmania) infantum. Hábitat No hospedeiro vertebrado, as formas amastigotas de L. chagasi parasitam células do sistema fagocitário mononuclear (SFM), principalmente macrófagos. No hospedeiro invertebrado, os parasitos são encontrados no intestino médio e anterior. No homem, os parasitos são encontrados em órgão linfoides, como medula óssea, baço, fígado e linfonodos. Ciclo biológico A infecção do hospedeiro invertebrado ocorre quando as fêmeas, ao sugarem o sangue de mamíferos infectados, ingerem macrófagos de sua pele parasitados por formas amastigotas da Leishmania. No trato digestivo do flebotomíneo ocorre o rompimento dos macrófagos, liberando, assim, tais formas. Elas transformam-se rapidamente em formas promastigotas, que se reproduzem por processos sucessivos de divisão binária e migram para a porção anterior do tubo digestivo, diferenciando-se em formas infectantes – promastigotas metacíclicas. O ciclo do parasito se completa em torno de três a quatro dias. Após esse período, as fêmeas dos flebotomíneos, ao realizarem um novo repasto sanguíneo em um vertebrado, liberam as formas promastigotas metacíclicas juntamente com sua saliva. Na epiderme do hospedeiro, essas formas são fagocitadas por células do sistema fagocitário mononuclear (SFM). No interior dos macrófagos no vacúolo parasitóforo, diferenciam- se em amastigotas e multiplicam-se intensamente até o rompimento dos macrófagos, ocorrendo então, sua liberação. Tais formas serão fagocitadas por novos macrófagos em um processo contínuo. Na LV, as amastigotas disseminam-se utilizando o sistema vascular e linfático, no interior de monócitos, infiltrando-se nos tecidos ricos em células do SMF, como linfonodos, fígado, baço e medula óssea. Mecanismos de transmissão Os flebotomíneos são infectados quando sugam o sangue de pessoas ou animais parasitados e ingerem macrófagos com amastigotas. O compartilhamento de seringas e agulhas contaminadas durante o uso de drogas injetáveis é considerado mecanismos de transmissão da LV. Múltiplas transfusões de sangue também são meios para a transmissão dessa parasitose. Imunidade Quando o inseto inocula parasitos no indíviduo, é desencadeado um processo inflamatório local, que resulta em pápula ou nódulo de base endurecida. Esse processo pode evoluir para a cura, assegurando certa imunidade ao paciente, ou regredir localmente depois da disseminação da infecção. A imunidade humoral, com formação de anticorpos, não é protetora. Patogenia No local da picada do flebotomíneo, os parasitos são fagocitados. Pode haver formação de um nódulo local, que é transitório e pode passar despercebido. Os parasitos no interior de células do SFM das vísceras se reproduzem e levam à lise celular. Ocorre, então, hipertrofia e hiperplasia do SFM, causando hepatoesplenomegalia. Sintomatologia Pode apresentar desde manifestações clínicas discretas a moderadas e graves, manifestações estas que, se não tratadas, podem levar o paciente à morte. No início da infecção, a sintomatologia inclui febre, palidez cutâneo-mucosa e hepatoesplenomegalia e, em área endêmica, pode evoluir para cura espontânea. Na ausência de tratamento, observa-se febre contínua e comprometimento do estado geral, com desnutrição e edema dos membros inferiores. Ocorre também hemorragias, icterícia e ascite. Diagnóstico Baseia-se inicialmente nos sinais e sintomas clínicos, aliados ao histórico de residência do paciente, observando-se se este residiu em área endêmica. A confirmação do diagnóstico é dada quando se encontra o parasito em amostras biológicas de tecidos do paciente. Profilaxia e tratamento Em focos antroponóticos, em que o homem é o reservatório, a principal estratégia de controle é o tratamento dos indivíduos infectados, reduzindo assim, a transmissão da doença. Outra medida bastante importante é o controle do vetor por meio da utilização de inseticidas, porém, grandes dificuldades vêm sendo apresentadas pela resistência dos insetos aos inseticidas. A profilaxia do calazar humano tem como base a tríade: 1. Diagnóstico e tratamento dos doentes 2. Eliminação dos cães com sorologia positiva 3. Combate às formas adultas do inseto vetor Dentre os fármacos de primeiraescolha estão os antimoniais pentavalentes orgânicos representados pelo antimoniato de meglumina e pelo estiboglucanato de sódio.
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