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PRIMEIROS ATENDIMENTOS EM EDUCAÇÃO FÍSICA Pedro Bulgarelli Conceito de primeiros socorros Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Identificar os conceitos de primeiros socorros. � Reconhecer as possibilidades e as limitações do professor de educação física na prestação dos primeiros socorros. � Relacionar a prática esportiva e as diferentes lesões. Introdução Neste capítulo, você vai estudar sobre os conceitos de primeiros socorros e a sua aplicação na educação física, compreendendo qual é o papel do profissional de educação física em situações de risco e acidentes. Um acidente pode ocorrer em diversas ocasiões e de diversas formas, inde- pendentemente do local onde as pessoas se encontram. Esses acidentes podem apresentar também diferentes níveis de gravidade. Durante o exercício da profissão, o professor de educação física poderá se encontrar em diversas situações de risco, seja em uma aula escolar ou em aulas em outros ambientes e com diferentes públicos. A estrutura e o local onde as aulas são aplicadas, a alternância da intensidade dos exercícios propostos, a utilização de implementos, a característica da atividade, seja coletiva ou individual, são aspectos que também poderão influenciar nas situações de risco. Você deverá estar preparado para prestar os primeiros socorros caso ocorra algum acidente enquanto você está aplicando suas aulas, pois a responsabilidade do zelo pelos alunos é do professor. Identificação interna do documento UY6K7J81L6-90ECJ31 O que são primeiros socorros? Imagine uma situação na qual você está andando pela rua e, repentinamente, a pessoa que está a sua frente tropeça em um buraco e cai no chão, gritando e com muita dor. Você, sem pensar duas vezes, presta apoio a essa pessoa, verificando o motivo do grito de dor, perguntando a ela se está tudo bem, se precisa que chame algum socorro ou se quer que chame alguém da família para auxílio. O ato que você acaba de executar é um ato de primeiros socorros, não que esse exemplo seja a maneira ideal e correta de prestar um atendimento de primeiros socorros, porém, a ideia e os objetivos são muito parecidos. Karren e outros autores (2014, p. 63) classificam como primeiros socorros o “[...] atendimento temporário e imediato de uma pessoa que está ferida ou que adoece repentinamente”. Essa classificação nos remete a um pensamento sobre as diversas vezes em que já prestamos atendimento de primeiros socor- ros. Será que nessas vezes em que realizamos esse atendimento o fizemos de maneira correta e coerente? Apesar da definição anterior estar colocada de forma simples e objetiva, a realidade que cerca o atendimento de primeiros socorros é bem mais complexa, sendo essa complexidade relativa à gravidade do acidente e às particularidades dele. É importante saber identificar a complexidade que envolve o acidente para que a assistência inicial preserve a vida da vítima, colocando-a na melhor situação possível para receber o atendimento especializado. Prestar o atendimento de primeiros socorros não faz de você um médico. É importante reconhecer suas funções e seus limites! É importante que durante a prestação de atendimento de primeiros socorros você mantenha a calma e a concentração, mesmo se a condição em que se encontrar o coloque sob pressão, pois essa postura trará mais clareza na hora de realizar o atendimento, assim como para orientar as pessoas que estiverem ao redor. A seguir, são apresentados os principais objetivos do atendimento de primeiros socorros, de acordo com Andrade (2020, p. 3): Conceito de primeiros socorros2 Identificação interna do documento UY6K7J81L6-90ECJ31 1. Contactar o serviço de atendimento emergencial do Corpo de Bombeiro (193) ou SAMU (192). 2. Fazer o que deve ser feito no momento certo, a fim de: a. Salvar uma vida. b. Prevenir danos maiores. 3. Manter o acidentado vivo até a chegada deste atendimento. 4. Manter a calma e a serenidade frente a situação inspirando confiança. 5. Aplicar calmamente os procedimentos de primeiros socorros ao acidentado. 6. Impedir que testemunhas removam ou manuseiem o acidentado, afastando- -as do local do acidente, evitando assim causar o chamado “segundo trauma”. 7. Ser o elo de ligação (sic) das informações para o serviço de atendimento emergencial. 8. Agir somente até o ponto de seu conhecimento e técnica de atendimento. Saber avaliar seus limites físicos e de conhecimento. Não tentar transportar um acidentado ou medicá-lo. Entre os itens apresentados no quadro anterior, providenciar assistência médica especializada é algo que devemos ter atenção especial. No Brasil, temos duas principais maneiras de acionar essa assistência, uma é o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) e o outro é o Serviço de Emergência do Corpo de Bombeiros. O SAMU deve ser acionado pelo telefone por meio do número 192, enquanto o Corpo de Bombeiros deve ser acionado pelo número 193. Porém, em qual momento devemos acionar o atendimento especializado é outro detalhe importante no momento em que se presta o atendimento de primeiros socorros. De certa forma, Karren e outros autores (2014) e o Ministério da Saúde (BRASIL, 2006) concordam que o apoio especializado deverá ser chamado em ocasiões de urgência, ou seja, quando realmente a vida da vítima estiver em risco ou em condições de risco de perda funcional. O que determinará se o acionamento será imediato ou se poderá levar alguns minutos é a avaliação do acidente e das condições das vítimas. Muitas vezes, chamar a assistência especializada sem a necessidade, ou para acidentes com baixa gravidade, o qual você poderá conduzir a vítima ao atendimento especializado, poderá interferir em outros acidentes e em outras vítimas que realmente necessitam de um apoio de urgência. Procedimentos gerais É pouco provável que você saia de casa preparado para realizar diversos aten- dimentos de primeiros socorros. Porém, quando menos esperar, você pode se ver em uma situação na qual é a única pessoa capaz de oferecer apoio a uma vítima. Nesses casos, é necessário que você tenha um mínimo de preparo para 3Conceito de primeiros socorros Identificação interna do documento UY6K7J81L6-90ECJ31 efetuar de forma correta e responsável o atendimento de primeiros socorros. De uma forma geral, é importante que você identifique inicialmente o local em que se encontra a vítima e verifique se é um acidente ou um caso de doença repentina. É importante que, com essas informações, você tome cuidados para que a sua vida também não seja colocada em risco e, assim, você possa prestar o socorro com segurança (KARREN et al., 2014). Após identificar a situação em que você se encontra, é necessário iniciar o atendimento à vítima. Em relação ao atendimento, o guia Atendimento Pré- -hospitalar ao traumatizado (2020), uma das obras mais conceituadas na área dos primeiros socorros, utiliza um protocolo de atendimento que pode ser ado- tado como padrão. Inicialmente, é necessário realizar a avaliação primária do paciente. Essa avaliação determinará quais os caminhos a serem seguidos para um atendimento de qualidade e, principalmente, um atendimento responsável. A avaliação primária da vítima é dividida em seis avaliações, no mne- mônico conhecido como XABCDE, já padronizado na ordem de urgência da avaliação. No entanto, antes de realizar a avaliação primária da vítima, é necessário observar o local onde o acidente ocorreu e agir apenas se for seguro o suficiente para prestar o atendimento. Lembre-se: a intervenção não pode colocar você em risco, transformando uma vítima em duas. Caso seja seguro, deve-se iniciar o protocolo de avaliação primária – nesse caso, X significa hemorragia exsanguinante, isto é, uma hemorragia externa grave, que em pouco tempo faz o acidentado perder muito sangue (é a causa de morte mais frequente em traumas graves). Ao observar uma hemorragia externa, deve-se realizar um torniqueteao redor do corte, visando reduzir significativamente (ou interromper totalmente) a perda de sangue. O segundo item a ser observado são as vias aéreas (A). Deve-se cuidar que o acidentado não tenha nenhum tipo de obstrução das vias aéreas, responsáveis por um grande percentual de mortes evitáveis após acidentes. O terceiro item da sequência é a avaliação da ventilação (B, de breathing), que pode ser avaliada no aspecto visual (observação de movimentos respirató- rios/torácicos) e/ou no aspecto auditivo/sensorial (pela ausculta da respiração e por sentir o ar saindo dos pulmões). Essa avaliação é fundamental para verificar se o paciente apresenta boa frequência respiratória e se está bem oxigenado. O quarto item da sequência a ser avaliado é C, de circulação sanguínea, além de observar também o controle de hemorragias – nesse caso, as hemorragias são internas, isto é, aquelas em que não há extravasamento de sangue para fora do corpo. Isso pode ser verificado ao identificar no corpo os principais pontos de hemorragia interna, como pelve, abdome e membros inferiores, além de constatar alguns sintomas típicos da hemorragia interna, como pele fria, enchimento capilar lento e comprometimento da consciência. Conceito de primeiros socorros4 Identificação interna do documento UY6K7J81L6-90ECJ31 O quinto item da lista é a avaliação sobre o estado neurológico da vítima, visando encontrar alguma disfunção neurológica (D), ou seja, se ela apresenta sinais de coma ou estado de choque. O último item da lista leva em consideração a exposição (E) total do pa- ciente, o que envolve a exposição do corpo do indivíduo buscando encontrar novas lesões ou ferimentos. Nesse ponto, há um famoso ditado que diz que “a parte do corpo não exposta será sempre a parte mais severamente lesionada”, o que nem sempre é verdade, embora seja importante examinar e inspecionar o corpo todo do paciente em busca de novas lesões. Ainda, há a preocupação com o controle do ambiente onde o acidentado se encontra, evitando, por exemplo, uma hipotermia, sendo necessário cobrir a pessoa com uma roupa aquecida ou um cobertor. Portanto, nesse ponto, são necessários cuidado e bom senso. Ao final da avaliação, é preciso fazer a ligação ao serviço de emergência solicitando o socorro especializado. No momento da ligação, haverá questio- namentos sobre o estado da vítima, por isso é necessária a avaliação primária. Essa é a sequência de avaliações que ocorre no caso de a vítima estar responsiva. Quando temos uma situação inversa, na qual, após a primeira avaliação, detectamos que a vítima não está responsiva, é necessário seguir um protocolo diferente. Caso a vítima não responsiva também não apresente movimentos respiratórios e pulso central, é necessário iniciar o protocolo de ressuscitação cardiopulmonar (RCP). Em casos extremos, como o da vítima não responsiva, é necessário solicitar o auxílio de mais uma pessoa no local, para que esta possa chamar o atendimento especializado enquanto você realiza os primeiros socorros. Por isso, é importante manter a calma, avaliar o local do acidente e as condições das vítimas. O Código Penal brasileiro aponta sobre a omissão de socorro: Art. 135. Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada ou à pessoa inválida ou ferida, em desamparo ou em grave e eminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública: Pena – detenção de um a seis meses, ou multa. Parágrafo único. A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta em morte (BRASIL, 1940, documento on-line). 5Conceito de primeiros socorros Identificação interna do documento UY6K7J81L6-90ECJ31 Vale ressaltar que prestar atendimento de primeiros socorros de forma irresponsável, colocando a vida da vítima em risco, ou causando uma le- são permanente, também poderá ser considerado crime. É importante que você tenha consciência de sua capacidade e suas limitações para realizar um atendimento de primeiros socorros. Em caso de dúvidas, esquecimento ou incapacidade, chamar o socorro especializado é considerado também como atendimento de primeiros socorros. Qual é o papel do professor de educação física em situações de urgência e emergência? De acordo com o que está disposto no art. 3º da Lei nº 9.696, de 1º de setembro de 1998 (BRASIL, 1998, documento on-line): [...] compete ao profissional de Educação Física coordenar, planejar, progra- mar, supervisionar, dinamizar, dirigir, organizar, avaliar e executar traba- lhos, programas, planos e projetos, em como prestar serviços de auditoria, consultoria e assessoria, realizar treinamentos especializados, participar de equipes multidisciplinares e interdisciplinares e elaborar informes técnicos, científicos e pedagógicos, todos nas áreas da atividade física e do desporte. Sendo assim, as possibilidades de atuação do profissional de educação física são amplas, levando em consideração as funções que ele pode exercer, os espaços físicos em que ele pode atuar e os diferentes públicos que ele poderá atender. O Conselho Federal de Educação Física (CONFEF, 2015) publicou em 2003 o Código de Ética dos Profissionais de Educação Física, documento que norteia a atuação dos professores de educação física e também dispõe sobre seu deveres e direitos; sua última atualização ocorreu em 2015. Entre os artigos dispostos no Código de Ética, alguns chamam a atenção em relação à preservação da vida. Compõe os princípios éticos do profissional de educação física o “[...] respeito à vida, à dignidade, à integridade e aos direitos do indivíduo” (CONFEF, 2015, documento on-line), bem como também é uma diretriz da profissão o “[...] comprometimento com a preservação da saúde do indivíduo e da coletividade, e com o desenvolvimento físico, intelectual, cultu- ral e social de beneficiário de sua ação” (CONFEF, 2015, documento on-line). É dever do professor no exercício de sua profissão: Conceito de primeiros socorros6 Identificação interna do documento UY6K7J81L6-90ECJ31 [...] assegurar a seus beneficiários um serviço profissional seguro, competente e atualizado, prestado com o máximo de seu conhecimento, habilidade e experiência; elaborar o programa de atividades do beneficiário em função de suas condições gerais de saúde; [...] manter o beneficiário informado sobre eventuais circunstâncias adversas que possam influenciar o desenvolvimento do trabalho que lhe será prestado; [...] promover o uso adequado dos materiais e equipamentos específicos para a prática da educação física (CONFEF, 2015, documento on-line). Os trechos anteriores do referido Código de Ética deixam claro os seus princípios em relação ao cuidado com a saúde dos alunos. É muito importante que você tenha esse conhecimento, pois é sua a responsabilidade de promover as atividades de forma segura e responsável. Portanto, não importa a popu- lação, a modalidade de exercício, a intensidade do exercício, os implementos utilizados e o local em que a atividade será realizada, é responsabilidade do professor os cuidados necessários para evitar colocar a sua vida e a vida de seus alunos em risco, assim como é sua responsabilidade realizar os primeiros socorros caso ocorra algum acidente. Independentemente do tipo de acidente que ocorra, é necessário que o pro- fissional de educação física, mesmo que na ausência de preparo adequado para prestar o primeiro atendimento, não perca o controle emocional nas situações de acidentes, pois é possível que ocorram situações graves de acidentes, como fraturas, concussões e paradas cardíacas, e manter-se calmo fará com que suas decisões se tornem mais assertivas, principalmente porque os casos graves exigirão um nível de preparo melhor do professor, bem como de uma estrutura que preveja isso, o que não é uma realidade comum a todos os professores. No ambiente escolar não é diferente, o acidente podeocorrer em diversos momentos, porém, nas aulas de educação física, temos uma probabilidade um pouco maior de ocorrer acidentes, em razão da dinâmica das aulas e da intensidade com a qual os alunos as realizam. Tendo essa preocupação, o Con- selho Regional de Educação Física de São Paulo (CREF/SP) lançou, em 2013, uma cartilha com algumas recomendações sobre a conduta do profissional de educação física no ambiente escolar. Um aspecto que chama a atenção nesse documento é o destaque dado aos cuidados com as medidas de segurança, propondo que: 7Conceito de primeiros socorros Identificação interna do documento UY6K7J81L6-90ECJ31 Como profissional da área da saúde, o único obrigatoriamente presente em todas as escolas, o Professor de Educação Física deve zelar pela saúde e integridade de seus educandos. Desta forma, deve estar permanentemente atendo situações que possam eventualmente trazer prejuízo para o desenvol- vimento dos educandos. Para tanto, é necessário que esteja permanentemente buscando atualizar e aprimorar seus conhecimentos, principalmente os que aumentem a segurança das atividades que propõe aos educandos. Alguns cuidados devem ser tomados: - Verificar as condições das instalações, equipamentos e materiais que serão utilizados nas aulas, não utilizando equipamentos que ponham em risco a integridade física dos educandos e de outros; - Não permitir ao educando traje inadequado à prática da atividade física; - Educandos que, durante o ano, apresentem problemas de saúde que requei- ram dispensa das aulas práticas de Educação Física devem trazer, assim que possível, o atestado médico, contendo nome legível, carimbo e assinatura do médico, data, período e motivo da dispensa; - Exigir do educando que obtiver dispensa médica que assista normalmente às aulas de Educação Física, pois será dispensado somente da prática, não da aula; - Utilizar ferramentas para conhecer melhor seu educando (anamnese, ava- liações, testes, etc.); - Utilizar material e instalações adequadas à faixa etária dos educandos; - Verificar com a direção da escola quais os procedimentos em caso de acidente; - A direção e os pais devem ser imediatamente comunicados em caso de acidente; - Estabelecer junto à Direção da Unidade Escolar os procedimentos de emer- gência em caso de ocorrência de acidente com os educandos, determinando a rotina e a responsabilidade pelos procedimentos de primeiro atendimento (CREF/SP, 2013, p. 12-13). Percebe-se que o profissional de educação física deverá ter um cuidado que vai além da prescrição de exercícios ou da elaboração de aulas. Isso se deve ao fato de que dentro de cada atividade proposta podem ocorrer diferentes tipos de lesões. Para alguns esportes, existem lesões mais comuns, enquanto que para outras atividades, os acidentes podem ocorrer de formas diferentes. É possível também ter um preparo específico para os acidentes que possam ocorrer de acordo com as condições em que as atividades propostas são realizadas. Acidentes durante a realização de atividades físicas O profissional de educação física deve estar preparado para as mais diversas adversidades durante o exercício de sua profissão. Prever os riscos aos quais seus alunos podem estar sujeitos é importante em casos de acidentes e neces- sidade em prestar os primeiros socorros. Conceito de primeiros socorros8 Identificação interna do documento UY6K7J81L6-90ECJ31 É fundamental que o professor de educação física conheça bem seus alunos e suas condições de saúde antes de prescrever alguma atividade física. O aluno poderá apresentar alguma patologia que possa ser influenciada negativamente pela prática de exercício, ou que exija adaptações específicas. Estamos falando do caso de idosos, hipertensos, diabéticos, pessoas com necessidades espe- ciais (PNE) e lesionados, além das demais condições específicas que podem acometer qualquer indivíduo. É importante estar preparado para as adversidades comuns que acome- tem essas pessoas, como no caso dos diabéticos, em que o seu aluno poderá apresentar casos de hipoglicemia e hiperglicemia e o cuidado no controle do índice glicêmico e como fazer esse controle são importantes e deverão ser de conhecimento do professor. Já os idosos apresentam maior desequilíbrio em razão das alterações fisiológicas que o organismo sofre no decorrer dos anos, como a diminuição da força, da flexibilidade e da mobilidade, levando a quedas que resultam em fraturas. Há também os indivíduos com hipertensão, que devem ter um cuidado especial ao serem colocados para realizar atividades físicas, sendo importante o acompanhamento da pressão arterial antes, durante e após a realização da atividade, com o objetivo de evitar esforço excessivo do coração, o que poderia levar a uma parada cardíaca ou a um derrame. Tais casos e condições devem ser considerados com atenção, pois a prescrição será mais eficiente e os alunos serão colocados em condições seguras para a prática de exercícios. Atualmente, os profissionais de bacharelado em educação física têm como principais locais de atuação a área da saúde e da estética e as academias, desenvolvendo trabalhos em grupos ou individualizados. Nesse ambiente de trabalho, apesar de parecer muito seguro, podemos ter diversos acidentes, sendo os principais acidentes causados por trauma. Casos como quedas de anilhas e halteres nos pés e lesões ligamentares e musculares por excesso de sobrecarga ou pela má execução dos movimentos estão entre os mais comuns. Porém, outros tipos de acidentes podem ocorrer nesses ambientes; no caso das academias de ginástica, lesões por torções, principalmente de joelho e de tornozelo, podem ocorrer. Em alta no mercado da prática de atividades físicas, o treinamento funcional tem apresentado também alguns riscos de acidentes e lesões, principalmente se não orientados corretamente. Outro campo da educação física em que é muito comum encontrar situações de acidentes é a prática esportiva, em modalidades coletivas ou individuais e em diferentes níveis de rendimento. 9Conceito de primeiros socorros Identificação interna do documento UY6K7J81L6-90ECJ31 No caso das modalidades individuais, temos como as mais praticadas a natação e as corridas. Nesses esportes, os acidentes mais comuns são os afogamentos e as quedas, respectivamente. As lesões que podemos encontrar na natação são as musculares e ligamentares, enquanto nas corridas podemos ter entorses, fraturas e concussões (caso, durante a queda, o indivíduo bata com a cabeça no chão). Durante a prática de modalidades esportivas coletivas, principalmente nos esportes de invasão, como futebol, basquete e handebol, os acidentes mais comuns são os de contato, uma vez que em diversos momentos os jogadores disputam a posição no campo ou na quadra. As lesões durante as práticas esportivas podem estar relacionadas a contusões, entorses, distensões musculares, rupturas de cartilagem e ligamentos, luxações e fraturas, variando o nível de gravidade de acordo com a intensidade do acidente. No futebol, é mais comum que as lesões citadas ocorram nos membros inferiores, com algumas exceções para os membros superiores, principalmente cabeça e ombro. No caso do basquete e do handebol, em razão de o jogo ser mais disputado por posição, as lesões mais comuns acabam sendo as de tornozelo, joelho e ombros. Em esportes coletivos de não invasão e que são muito praticados pela população em geral, temos o voleibol, que também apresenta riscos, sendo que os principais ocorrem no tornozelo, em razão da grande quantidade de saltos, e no ombro, em razão da grande quantidade de ações de ataque realizadas. É fato que essas lesões podem ocorrer em qualquer momento durante a prática de atividades físicas, porém, em algumas atividades com características es- pecíficas, podem elevar o risco para traumas específicos. Muitas pessoas têm buscado também a realização de esportes e atividades físicas de aventura, como caminhadas ecológicas,corridas de aventura, ma- ratonas aquáticas, rapel, escalada, entre outras atividades, e todas as lesões citadas anteriormente também podem ocorrer com esse público. O importante é compreender os riscos para evitar o acidente. Conceito de primeiros socorros10 Identificação interna do documento UY6K7J81L6-90ECJ31 No caso do ambiente escolar, as preocupações e precauções listadas também devem ser levadas em consideração, pois, com exceção de idosos, jovens e ado- lescentes podem apresentar as mesmas complicações de saúde e são expostos a atividades físicas iguais, podendo ter os mesmos acidentes e devendo ter os mesmos cuidados. Esse ambiente também é um local de prática de exercícios que pode proporcionar diversas situações de risco aos alunos. No Brasil, não costumamos ter escolas com espaços adequados para a prática de atividades física, normalmente as quadras são pequenas, a área de segurança é mínima ou inexistente e as arquibancadas e os alambrados ficam muito próximos das laterais do espaço. Tudo isso contribui para aumentar o risco de acidentes, levando em consideração apenas a estrutura física. Quando somamos isso à dinâmica das aulas, temos que levar em consideração a intensidade do exer- cício proposto, a divisão da turma, a vontade e a energia com que os alunos executam as atividades e também a falta de noção espacial e temporal, no caso das idades mais novas, aumentando o número de acidentes por colisão. É muito importante que o professor de educação física tenha conhecimentos básicos de primeiros socorros para que possa, em caso de acidentes, prestar o atendimento correto aos alunos. Porém, é importante também reconhecer a condição como socorrista e seu preparo, para que a vítima do acidente não seja colocada em risco. Nesse ponto, é interessante avaliar a vítima de um acidente para saber a real necessidade do socorro imediato. Às vezes, durante uma aula de educação física escolar, por exemplo, uma torção ou uma contusão por contato podem não ser graves, dispensando a necessidade de acionar os serviços especializados, podendo ser feito o encaminhamento ao atendimento médico especializado em um segundo momento. É necessário sempre estar atento às condições em que as aulas e atividades são propostas, além de haver atenção aos principais riscos e lesões que podem ser causadas nessas condi- ções. Assim, o professor poderá se preparar melhor para as eventualidades que podem ocorrer. ANDRADE, G. F. Noções básicas de primeiros socorros. Apostila. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, 2020. Disponível em: https://portal.ufrrj.br/wp-content/uplo- ads/2020/12/Cartilha-Nocoes-de-Primeiros-Socorros-e-Principais-Emergencias.pdf. Acesso em: 22 fev. 2022. 11Conceito de primeiros socorros Identificação interna do documento UY6K7J81L6-90ECJ31 BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Especializada. Regulação médica das urgências. Brasília: Editora MS, 2006. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/regulacao_medica_urgencias.pdf>. Acesso em: 17 jul. 2018. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Protocolos de intervenção para o SAMU 192 - Serviço de Atendimento Móvel de Urgência. Brasília: Ministério da Saúde, 2016. BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Brasília, DF, 1940. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/Decreto-lei/Del2848compilado.htm>. Acesso em: 18 jul. 2018. BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Lei n. 9.696 de 1 de Setembro de 1998. Dispõe sobre a regulamentação da Profissão de Educação Física e cria os respectivos Con- selho Federal e Conselhos Regionais de Educação Física. Brasília, DF, 1998. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/sileg/integras/104896.pdf>. Acesso em: 18 jul. 2018. CONSELHO FEDERAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA – CONFEF. Resolução Confef n. 307/2015. Dispõe sobre o Código de Ética dos Profissionais de educação Física registrados no Sistema CONFEF/CREFs. Rio de Janeiro, RJ, 2015. Disponível em: <http://www.confef. org.br/confef/resolucoes/381>. Acesso em: 18 jul. 2018. CONSELHO REGIONAL DE EDUCAÇÃO FÏSICA DA 4ª REGIÃO – CREF 4/SP. Recomendações sobre condutas e boas práticas do profissional de Educação Física na escola. São Paulo, SP, 2013. Disponível em: <https://issuu.com/crefsaopaulo/docs/manual-recomendacoes- profissional-e>. Acesso em: 12 maio 2018. KARREN, K. J. et al. Primeiros socorros para estudantes. 10. ed. Barueri: Manole, 2014. National Association of Emergency Medical Technicians NAEMT. PHTLS: atendimento pré-hospitalar ao traumatizado. 9. ed. Burlington: Jones & Bartlett Learning, 2020. Leituras recomendadas CONSELHO REGIONAL DE EDUCAÇÃO FÏSICA DA 4ª REGIÃO – CREF 4/SP. Código de ética. Disponível em: <https://www.crefsp.gov.br/acesso-a-informacao/institucional/ codigo-de-etica/>. Acesso em: 12 maio 2018. FLEGEL, Melinda J. Primeiros socorros no esporte. 4. ed. Barueri: Manole, 2012. Conceito de primeiros socorros12 Identificação interna do documento UY6K7J81L6-90ECJ31 Conteúdo:
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