Buscar

DIREITO CIVIL CONSTITUCIONAL - RESUMO

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

A princípio, quando analisamos tanto o Direito Civil quanto o Direito Constitucional, é impossível não chegarmos à conclusão de que ambos se tratam de diferentes ramos do Direito, responsáveis por tratar de diferentes matérias, em diferentes esferas do universo jurídico. Isso principalmente porque enquanto um se presta ao cuidado das questões relativas ao Direito Privado propriamente dito, principalmente as patrimoniais, o outro trata de questões mais relativas ao Direito Público, comum entre todos os indivíduos do país. 
Entretanto, com o movimento da constitucionalização no Brasil, sobretudo após a promulgação da Constituição de 1988, não se pode olvidar que o Direito Constitucional exerce uma forte influencia em todo o restante do ordenamento jurídico brasileiro. Ora, o processo de constitucionalização se trata de um processo por meio do qual passou-se a haver uma sincronia entre as normas infra-constitucionais e as normas constitucionais, o que atingiu também o Direito Civil, na medida em que a Constituição passou a influenciar e reger algumas relações típicas do Direito Privado.
No contexto brasileiro a constitucionalização do Direito Civil ganhou ainda mais enfoque quando observadas as diferenças abissais e conflitos ideológicos encontrados entre a Constituição de 1988 e o Código Civil de 1916. Era clara a necessidade de se fazer mudanças dentro do âmbito privado, de modo que a sociedade idealizada pela Constituição Federal estivesse mais próxima ao alcance. 
Nesse sentido, destaco a seguinte passagem: 
Fruto de um amplo debate democrático, a Constituição brasileira de 1988 elegeu como valores fundamentais da sociedade brasileira a dignidade da pessoa humana, a solidariedade social, a redução das desigualdades, a erradicação da pobreza, entre outros valores de cunho fortemente social e humanista. Ao mesmo tempo, permanecia em vigor o Código Civil de 1916, que, inspirado na filosofia liberal e individualista, seguira, qual servo fiel, a cartilha das codificações europeias dos séculos XVIII e XIX. O conflito de valores entre Código Civil e Constituição tornou-se flagrante em diversos setores do direito privado. No direito de família, por exemplo, a Constituição consagra a igualdade entre homens e mulheres (art. 226, § 5º), enquanto nossa codificação civil continuava a apontar o marido como “chefe da sociedade conjugal” (art. 233). Em outros exemplos marcantes, a Constituição reconhece expressamente a união estável (art. 226, § 3º) e afirma que “os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação” (art. 227, § 6º). Bem ao contrário, o Código Civil de 1916 diferenciava expressamente os filhos “legítimos” dos “ilegítimos” e só reconhecia como família aquela decorrente do vínculo matrimonial, chancelado pelo Estado (arts. 180 e 355). Para além das colisões específicas, todo o Código Civil permanecia ancorado na ampla liberdade de contratar, no livre exercício da propriedade privada, na responsabilidade civil por culpa, enquanto a Constituição de 1988 funda-se no valor social da livre iniciativa, na função social da propriedade, na socialização dos riscos. A falta de sintonia era brutal[footnoteRef:1]. [1: KONDER, Carlos Nelson; SCHREIBER, Anderson. Direito Civil-Constitucional. São Paulo: GEN, 2016. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9788597005172/epubcfi/6/18[%3Bvnd.vst.idref%3Dchapter1]!/4/34/5:50[egi%2Cmes]. Acesso em 11 de abril de 2022] 
Por isso, o Código Civil de 2002 representa um marco no direito civil-constitucional brasileiro. 
Mas, enfim, porque os autor, na frase demonstrada, indica que o direito civil-constitucional pode ser um esvaziamento do conteúdo do direito civil? A princípio, nota-se que, em decorrência desse processo de constitucionalização, a própria CF passou a tratar de temas típicos do Direito Privado, como a questão acerca da propriedade e da família num geral. Mas, entendo que o direito civil constitucional representa bem mais do que isso. Explico. 
Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, como já explicado, o Direito Civil brasileiro passou por diversas mudanças, ensejando na criação do Código Civil vigente atualmente. Entretanto, em que pese a própria CF tratar de assuntos típicos do Direito Privado acredito ser importante ter cautela ao analisar o termo “esvaziar” contida na frase em destaque. Ora, o direito acerca da propriedade e da família permanece no âmbito privado, cuidado pelo Direito Civil. O Direito Constitucional, por sua vez, apenas passou a delimitar princípios gerais que visam a garantia dos preceitos constitucionais fundamentais, como a dignidade humana e a igualdade. Assim, a principal função do direito civil constitucional seria a interpretação do Direito Civil à luz dos preceitos constitucionais, como pretende o próprio processo de constitucionalização.
Tal ponto de vista é extremamente importante quando um fator relevante acerca da Constituição é reconhecido: muito além da sua função de regulamentar a estrutura estatal, a Constituição Federal, nos moldes atuais, também serve como um Norte para a criação de um ordenamento jurídico que busque mais igualdade e garanta de forma mais clara a dignidade da pessoa humana. Tais preceitos, inevitavelmente, atingem também o direito privado, pelo qual a discussão acerca dos conceitos, metodologias de estudo, funções e implicações do direito civil-constitucional representam elementos tão importantes a serem estudados na atualidade.

Outros materiais