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Geovana Sanches, TXXIV HEMOGRAMA HEMATOPOIESE OU HEMATOPOESE Hematopoiese ou hematopoese é o processo de formação das células sanguíneas (ou elementos figurados do sangue) a partir de uma célula tronco. Dentre as diversas linhagens, no hemograma identificamos hemácias, linfócitos, e células granulares e agranulares (neutrófilos, basófilos, eosinófilos, monócitos). Hemácias O processo de fabricação de hemácia é regido pela eritropoietina, hormônio glicoproteico produzido pelos rins. As concentrações do receptor de transferrina também é fundamental para esse processo. Em condições não patológicas, um adulto produz cerca de 200 bilhões de hemácias ao dia. A sobrevida média dessas células é de 120 dias, mas isso não é uma regra absoluta. Caso a sobrevida das hemácias diminua em até 30 dias e a medula óssea esteja em pleno funcionamento, ela é capaz de repor essa perda, de forma que o indivíduo não tenha anemia clínica. A perda de flexibilidade da célula é um dos fatores que indica ao baço que a hemácia está senescente e deve ser removida da circulação. Entre o momento de expulsão do núcleo e formação da hemácia madura (disco bicôncavo), há uma célula de transição arredondada e que ainda apresenta muito RNA em seu citoplasma (produção de proteína). Esta célula recebe o nome de reticulócito, o qual, apesar de ser encontrado fisiologicamente no sangue periférico, tem suas concentrações aumentadas ou diminuídas de acordo com a produção da medula e as necessidades do organismo. O eritroblasto, durante o processo de amadurecimento, fica cada vez mais eosinofílico. Nas imagens, identificamos uma coloração arroxeada do reticulócito pois ele é corado em azul de cresil brilhante para permitir a identificação do RNA em seu citoplasma; caso ele fosse corado em Giemsa, veríamos uma célula eosinofílica. Reticulócitos No sangue periférico, em situações fisiológicas, encontramos uma grande quantidade de hemácias e pequena de reticulócitos. Para que o reticulócito sofra maturação e se transforme em hemácia, é necessário cerca de 1 dia. Em situações de grande destruição eritrocitária, os rins são capazes de identificar a situação e respondem com a liberação de eritropoietina. Quando encontramos um número elevado de reticulócitos no sangue periférico, é indicativo que a medula óssea está produzindo essas células em maior quantidade. Nesses casos, apesar de ser muito raro, podem ser encontramos eritroblastos ortocromáticos no sangue. Quando há poucas hemácias circulantes e eritropoietina normal, caso não haja aumento de reticulócitos, é indicativo de falta de substrato para essa produção ou alteração na medula óssea. Cálculo de reticulócitos O cálculo de reticulócitos se baseia em um estudo que verificou que o tempo de vida dos reticulócitos no sangue periférico varia de acordo com o hematócrito. Geovana Sanches, TXXIV Para um hematócrito normal (45), os reticulócitos tem 1 dia de vida. Já para um hematócrito de 35, eles têm 1,5 dia de vida. Þ Pelo grau de anemia • Ht/40 x % de ret ou • Hb/15 x % de ret Þ Índice de produção reticulocitária- IPR (exclui shift cels) • Ht/40 x % ret/2 ou • Hb/15 x % ret/2 Quando identificamos os reticulócitos em porcentagem, faz-se necessária uma correção, a qual sempre puxa o valor para baixo. Todavia, atualmente, muitos laboratórios mandam os laudos de exames com a porcentagem já associada ao número absoluto (fórmula corrigida). Além de serem precursores da hemácia, os reticulócitos indicam o índice de proliferação celular da medula óssea. Sendo assim, sempre que um indivíduo apresenta anemia, é necessário solicitar a contagem dos reticulócitos para definir se é um hipoproliferativo ou hiperproliferativo. Nos casos de anemia presente, não consideramos um valor de normalidade para contagem de reticulócitos; é utilizado o valor corte de 100.000. • Reticulócitos abaixo de 100.000: anemia hipoproliferativa. Indica que a medula não está funcionando adequadamente, tendo em vista que não respondeu à anemia. • Reticulócitos acima de 100.000: anemia hiperproliferativa. Indica que a medula está respondendo à anemia. Para indivíduos não anêmicos, a taxa de normalidade está entre 40.000 e 100.000, mas isso não tem grande valor prático. HEMOGRAMA Ao analisarmos um hemograma, podemos dividí-lo em três porções: série vermelha, série branca e plaquetas. Para a série vermelha, devem constar índices quantitativos e hematimétricos. ITEM REFERÊNCIA Eritrócitos (106/mm3) 4,5 – 6,1 Hemoglobina (g/dl) 12 – 17 Hematócrito (%) 40 – 54 VCM 80 – 100 HCM 26 – 34 CHCM 31 – 36 RDW 12 – 15 Leucócitos: 4000 – 10000 Bastonetes 0 – 8% Segmentados 40 – 70% Eosinófilos 1 – 5% Basófilos 0 – 3% Linfócitos 20 – 50% Monócitos 2 – 10% Plaquetas 150,000 – 450,000 ERITROGRAMA Componentes Básicos • Eritrócitos (106/mm3) • Hemoglobina (g/dl) • Hematócrito (%) • Índices hematimétricos o Volume Corpuscular Médio- VCM (fl) o Hemoglobina Corpuscular Média- HCM (pg) o Concentração de Hemoglobina Corpuscular média- CHCM (g/dl) o Índice de Anisocitose- RDW (%) Eritrócitos ou Total de hemácias Estima o número total de hemácias do indivíduo. A hemácia é a célula do organismo responsável pelo transporte de hemoglobina na corrente sanguínea. Consequentemente, é responsável pelo transporte de O2 ao organismo. Morfologicamente, a hemácia é um disco bicôncavo, mas diversas patologias podem alterar suas características. Esse formato permite que a célula seja flexível, de forma que ela se espreme pelos capilares sanguíneos e atinge todos os locais necessários para liberar o oxigênio. Essa morfologia é essencial para o correto funcionamento de célula. Quando a hemácia fica senescente), ela perde a flexibilidade e não passa mais adequadamente pelos capilares sinusóides. Assim, há destruição pelos macrófagos teciduais, sobretudo os esplênicos. O processo fisiológico de destruição de hemácias senescentes é denominado hemocaterese, o que é diferente de hemólise Geovana Sanches, TXXIV (processo patológico). Ele ocorre após um período médio de 120 dias, dando continuidade ao ciclo da hemoglobina (reaproveitamento dos componentes da hemácia destruída). Hemoglobina (Hb) A hemoglobina é a molécula responsável pelo transporte de oxigênio dentro da hemácia. Esse gás é tóxico quando solto, de forma que caso não tivéssemos uma célula especializada para seu transporte, o organismo sofreria por estresse oxidativo. Essa proteína é formada por quatro cadeias de globina, cada uma combinada ao heme (ferro em estado ferroso, no qual se liga o O2). Essas cadeias recebem o nome com as letras gregas alfa, beta, gama e delta. • HbA1: 2 alfas + 2 betas o 97% das hemácias de um adulto saudável • HbA2: 2 alfas e 2 deltas o Cerca de 2% das hemácias de um adulto saudável • HbF: 2 alfas e 2 gamas o Cerca de 1% das hemácias de um adulto saudável (a partir de 6 meses de vida) Hematócrito (Ht) O sangue contém hemácias, leucócitos, plaquetas e outros componentes diluídos no plasma. Para identificar o hematócrito, retiramos um tubo de sangue do indivíduo e levamo-lo para a centrífuga. A partir disso, de acordo com o peso, os componentes do sangue se separa. O hematócrito consiste na fração (porcentagem) que as células vermelhas ocupam no tubo após centrifugação. A soma de todos os componentes é 100%. Alguns fatores podem interferir na porcentagem de hemácias no plasma, como o aumento de plasma ou aumento de leucócitos. Vale ressaltar que isso não necessariamente significa uma menor quantidade de hemácias no organismo, pois como o hematócrito é medido em porcentagem, caso haja diminuição de um elemento, aumentará o outro. • Anemia: diminuição do Ht • Retenção de líquido/hemodiluição: como há aumento do plasma, parece haver diminuição da quantidadede eritrócitos, mas isso não é uma verdade à anemia dilucional. • Desidratação: há hemoconcentração, de forma que as células vermelhas ocupam porcentagem maior do que o habitual no hematócrito. o Dengue: há perda de líquido para o terceiro espaço. Os valores normais de hematócrito giram em torno de 45%. Valores menores que 40% classificam anemia, enquanto valores maiores que 50% caracterizam policitemia (ou poliglobulia). Algumas situações em que pode haver policitemia são nos tabagistas, população de grandes altitudes e portadores de DPOC. O total de hemácias, a hemoglobina o hematócrito são marcadores de anemia. Todavia, dentre eles, a hemoglobina é o indicadore mais sensível. Volume corpuscular médio (VCM) É o tamanho médio do total da massa de hemácias. Isso é visto com base na comparação do tamanho da hemácia com o tamanho do núcleo de linfócitos maduros. Esse índice classifica as anemias em normocítica (entre 80 e 100 fl), microcítica (< 80 fl) e macrocítica (> 100 fl). Geovana Sanches, TXXIV Hemoglobina Corpuscular Média (HCM) É o peso (massa) da hemoglobina médio do total de hemácias (em pictogramas). O normal é de 26 a 34 pg. Concentração da Hemoglobina Corpuscular Média (CHCM) É a média da concentração da hemoglobina dentro da massa de hemácias. O normal é de 32 a 35 g/dl. O HCM e o CHCM são utilizados em conjunto para medir a cromia da hemácia, ou seja, qual o grau de coloração. Com isso, classifica as anemias em hipocrômica (pobre em Hb), normocrômica e hipercrômica (excesso de Hb). Índice de anisocitose (RDW) Indica a variação de tamanho das hemácias em porcentagem, sendo o valor normal entre 10 e 14%. O RDW está aumentado quando há grande diferença de tamanho entre as hemácias analisadas. Exemplo: • Conjunto de hemácias pequenas: VCM microcítico, porém RDW normal; • Conjunto de hemácias de diversos tamanhos: VCM possivelmente normal, mas com RDW aumentado. Apesar do índice ser dado por uma máquina, é necessário estudar o esfregaço de sangue periférico (hematoscopia). Para tal, pingamos uma gota de sangue na lâmina, raspamo-la e analisamos a parte mais fina no microscópio óptico. A partir dessa análise, podemos confirmar a anisocitose (variação no tamanho das hemácias) e verificar a presença de poiquilocitose (variação no formato das hemácias). Muitas vezes ambas as características são vistas em conjunto, de forma que denominamos anisopoiquilocitose. Avaliação das outras séries Ao vermos o hemograma, nunca devemos esquecer de avaliar as demais séries, o que auxilia no entendimento do quadro do paciente. • Bicitopenia: 2 séries diminuídas o Anemia + plaquetopenia o Anemia + leucopenia o Plaquetopenia + leucopenia • Pancitopenia: três séries acometidas • Plaquetose: aumento da produção de hemácia por causa secundária ou policitemia (doença hematológica) • Poliglobulia • Leucocitose • Linfocitose: aumento dos linfócitos Diversas combinações.... O HEMOGRAMA NAS ANEMIAS A diminuição da hemoglobina é o parâmetro mais fidedigno para identificação da anemia, tendo em vista que sua concentração é a primeira a se alterar e a que mais se correlaciona com a clínica. É de extrema importância que, ao identificarmos a anemia, peçamos a dosagem de reticulócitos, classificando a anemia em hipoproliferativa ou hiperproliferativa. Valores de referência Os valores se alteram de acordo com a etnia, idade, sexo, fase da vida e população estudada, mas variam em torno dos valores de referência demonstrados abaixo: • Mulheres o Hb: 12 a 15g/dl o Ht: 36% a 44% § Normalmente, o valor do Ht é 3x o valor da Hb • Homens o Hb: 13,5 a 16,5 g/dl Geovana Sanches, TXXIV § Considera-se normal até 17 g/dl o Ht: 39 a 50% Como investigar? • Tempo de sintomas o Agudo o Crônica • Sintomas associados • História clínica completa o Menstruação Laboratório • Classificar nos índices hematimétricos • Outras séries acometidas? • Reticulócitos • Esfregaço de sangue periférico Classificação à Índices hematimétricos à Reticulócitos • Hipoproliferativa o Anemias carenciais o Anemia de doença crônica o Doenças medulares § Primária ou Secundária • Hiperproliferativa o Sangramento agudo o Hemolíticas § Adquiridas ou hereditárias à Resumo Micro/Hipo Macro Normo/normo Anemia Feropriva Folato ou B12 Ferropriva Talassemia SMD Multicarencial Doença crônica Anemia aplasica Doença crônica Anemia sideroblástica Etilismo, AZT, MTX Endocrinopatias Associada ao hipertireoidismo Associada ao hipotireoidismo Anemias hemolíticas Sangramento agudo Sangramento agudo Anemias hemolíticas Anemia do hepatopata
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