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Ato ilicito

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Prévia do material em texto

RESPONSABILIDADE 
CIVIL
Luciana Tramontin 
Bonho
 
Ato ilícito: conceito 
e elementos 
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Definir ato ilícito.
  Diferenciar ato ilícito em sentido amplo de ato ilícito em sentido estrito, 
bem como as suas relações com o ato ilícito equiparado.
  Identificar as consequências provocadas pela prática de ato ilícito.
Introdução
A prática de um ato ilícito é um dos pressupostos da responsabilidade 
civil, além de dolo ou culpa do agente, dano e, por fim, nexo causal, que 
vincula o dano à conduta. O Código Civil de 1916 não conceituava ato 
ilícito, o que gerava discussão na doutrina sobre a sua teoria. Já o Código 
Civil de 2002, por sua vez, resolveu a questão ao explicitar o conceito de 
ato ilícito, apresentando as suas consequências separadamente.
Neste capítulo, você aprenderá sobre ato ilícito. Estudará a definição 
de ato ilícito em sentido amplo, em sentido estrito e o ato ilícito equipa-
rado. Além disso, você verificará as consequências resultantes da prática 
de ato ilícito. 
Ao que concerne o ato ilícito?
A responsabilidade civil nasce de uma conduta voluntária que viola um dever 
jurídico, isto é, da prática de um ato jurídico. O ato jurídico, por sua vez, é 
uma espécie de fato jurídico lícito ou ilícito. Fato jurídico em sentido amplo 
é todo acontecimento relevante ao Direito e passível de regulação pela norma 
jurídica, sendo decorrente de fato natural ou de conduta pessoal. Assim, os 
fatos jurídicos em sentido amplo se classifi cam em fatos naturais, que são os 
fatos jurídicos em sentido estrito, e fatos humanos, que são os atos jurídicos 
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em sentido amplo. Como os próprios termos já indicam, os primeiros decorrem 
da natureza; os segundos, da atividade humana. 
Os fatos humanos (atos jurídicos em sentido amplo) se dividem em lícitos 
e ilícitos. Lícitos são os atos humanos a que a lei defere os efeitos desejados 
pelo agente e são praticados em conformidade com o ordenamento jurídico, 
produzindo efeitos jurídicos voluntários. Em contraponto aos lícitos, os ilícitos 
são os atos humanos praticados em desacordo com o prescrito no ordenamento 
jurídico, possuindo, portanto, efeitos negativos e repercutindo na esfera jurídica. 
No lugar de direitos, eles criam deveres. 
Sobre os fatos humanos ilícitos, Amaral (2008, p. 551) ensina que:
O ato ilícito pode ser penal ou civil, conforme resulte da infração da norma de 
direito público penal, que visa defender a sociedade, prevenindo e penalizando 
a infração e retribuindo com a pena cominada, ou da infração de norma de 
direito privado, que tem por objetivo a defesa dos interesses particulares, de 
natureza pessoal (direitos da personalidade) ou econômica.
Assim, ocorre ato ilícito toda vez que o agente não segue os preceitos gerais 
de cuidado, conforme disposto no art. 186 do Código Civil (BRASIL, 2002), e 
quando ele descumpre a obrigação jurídico-contratual estabelecida no art. 389 do 
mesmo diploma legal. Vejamos os textos desses artigos na íntegra (BRASIL, 2002):
Art. 186 Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou im-
prudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente 
moral, comete ato ilícito. 
Art. 389 Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, 
mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente 
estabelecidos, e honorários de advogado.
Nas lições de Fiuza (2009), ato jurídico ilícito é toda atuação humana omis-
siva ou comissiva contrária ao Direito. De acordo com o professor, “[...] os atos 
ilícitos, em que se pesem doutas opiniões em contrário, são atos jurídicos por 
repercutirem na esfera jurídica, regulados pelo Direito” (FIUZA, 2009, p. 561). 
Quando falamos em ato jurídico, podemos nos referir também a todo ato 
que cria, modifica ou extingue relações ou situações jurídicas. Nesse sentido, os 
atos ilícitos são jurídicos. No campo dos atos unilaterais de vontade, o ilícito 
pode ocorrer na declaração ou na execução de uma promessa de recompensa ao 
não a pagar, por exemplo, bem como na execução de uma gestão de negócios.
Da mesma maneira, a “[...] responsabilidade decorrente de ato ilícito 
baseia-se na ideia de culpa, e a responsabilidade sem culpa funda-se no 
Ato ilícito: conceito e elementos2
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risco” (DINIZ, 2012, p. 56). Sem consciência da ilicitude não há ato ilícito. 
Assim, se o comportamento, apesar de antijurídico, não pode ser imputado 
à conduta consciente do agente, não se caracteriza ato ilícito. Por exemplo, 
nos casos de um agente que deixa de pagar uma conta por acreditar que ela 
já esteja paga ou de um indivíduo que toma posse de um bem de propriedade 
de um terceiro, acreditando-o seu pela semelhança.
Portanto, evidencia-se que, para a aplicação da responsabilidade por ato 
ilícito carece, exige-se a análise do aspecto subjetivo da atuação do agente, 
pois a imputabilidade do comportamento lesivo somente lhe será atribuída 
caso se demonstre que ele deveria ou poderia ter agido de outra maneira.
Para você compreender melhor a aplicação do ato ilícito em um caso concreto, vejamos 
a seguir alguns exemplos (RIO GRANDE DO SUL, 2017a, 2017b):
RESPONSABILIDADE CIVIL. EMPRESA CONCESSIONÁRIA. 
FUNCIONÁRIO. SINDICÂNCIA. AÇÃO PENAL. DANO MATE-
RIAL. DANO MORAL. ATO ILÍCITO. AUSÊNCIA.
A responsabilidade civil baseada no art. 186 do Código Civil pressu-
põe a demonstração dos requisitos legais: ação ou omissão voluntária 
ou culposa, ilicitude, nexo de causalidade e dano. A ausência de ato 
ilícito ou de abuso de direito pela empresa em relação a autora afasta 
o dever de indenizar. No caso, a prova não sustenta o acolhimento do 
pedido indenizatório formulado pelo autor. Ausência de prova sobre o 
agir ilícito da ré. O autor foi alvo de sindicância e de ação penal, com 
origem em fato vinculado à prestação de serviço de energia elétrica. 
Sentença de improcedência. Apelo não provido.
APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS. ATO 
ILÍCITO. ABUSO DE DIREITO. NEGATIVA DE CONCESSÃO DE 
CRÉDITO E AVAL. AÇÃO JUDICIAL ANTERIOR. PRELIMINAR 
DE IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO.
O pedido que não encontra óbice em nosso sistema legal é juridicamente 
viável. Preliminar rejeitada.
DANOS MORAIS. O consumidor possui direito à igualdade nas contra-
tações, não podendo haver qualquer restrição ao livre acesso à Justiça. A 
instituição financeira pratica ato ilícito — abuso de direito —, quando 
excede a liberdade de contratar. A recusa quanto à concessão de crédito 
ou aval ao correntista sob a simples justificativa de que ele ajuizou ação 
judicial anterior contra o banco configura verdadeiro ato de represália, o 
que acarreta dano moral indenizável. No caso concreto, a recusa foi abu-
3Ato ilícito: conceito e elementos
C07_Ato_ilicito.indd 3 16/04/2018 16:29:54
Ato ilícito: em sentidos amplo e estrito, 
e relacionado ao ilícito equiparado
O ato ilícito pode se subdividir em uma análise objetiva e outra subjetiva. 
O ato ilícito em sentido estrito se caracteriza no seu aspecto subjetivo, exi-
gindo o elemento da culpa para a sua confi guração. Há, ainda, o ato ilícito 
não culpável (em sentido amplo) que se fundamenta na teoria objetiva, 
conforme o art. 927, parágrafo único, do Código Civil (BRASIL, 2002). Tal 
ato acontece independentemente do elemento subjetivo (culpa). Ademais, 
o ato abusivo, previsto no art. 187 (BRASIL, 2002), traduz-se quando o 
titular de um direito que excede manifestamente os limites impostos pelo 
seu fi m econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes, exerce o 
denominado ato ilícito equiparado.
Por um viés literal dos dispositivos legais que regem a matéria, Cavalieri 
Filho (2012, p. 11-13) concluiu que o ato ilícito, genericamente considerado, é 
o resultado final da união dos pressupostos da responsabilidade civil. Assim, 
a noção de duplo aspecto da ilicitudemotivaria uma dualidade de atos ilícitos 
(conjunto dos pressupostos) no nosso Código Civil de 2002 (BRASIL, 2002): 
  o ato ilícito stricto sensu, previsto no art. 186, que requer conduta 
objetiva e subjetivamente ilícita, o dano e o nexo causal para a sua 
configuração; 
  o ato ilícito lato sensu, previsto no art. 927, parágrafo único, que dispensa 
a culpa e, logo, requer tão somente a conduta objetivamente ilícita, o 
dano e o nexo causal para a sua conformação.
siva na medida em que a autora preenchia os requisitos para a concessão 
do aval e não inadimpliu suas obrigações junto à instituição financeira.
VALOR INDENIZATÓRIO. O quantum indenizatório, atendido o prin-
cípio da razoabilidade, deve ser fixado considerando as circunstâncias 
do caso, o bem jurídico lesado, a situação pessoal do autor, inclusive 
seu conceito, o potencial econômico do lesante, a ideia de atenuação 
dos prejuízos do demandante e o sancionamento do réu a fim de que 
não volte a praticar atos lesivos semelhantes contra outrem.
MAJORAÇÃO DOS HONORÁRIOS. Ao julgar o recurso, o Tribunal 
deve majorar os honorários fixados anteriormente ao advogado do vence-
dor, devendo considerar o trabalho adicional realizado em grau recursal 
(art. 85, § 11, do Comitê de Pronunciamentos Fiscais [CPC]/2015).
APELAÇÃO DA RÉ DESPROVIDA.
RECURSO ADESIVO DA AUTORA PARCIALMENTE PROVIDO.
Ato ilícito: conceito e elementos4
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Isso também se daria no art. 187 (BRASIL, 2002), em que o dano não 
integra esses pressupostos, sendo ato ilícito por equiparação.
Stoco (2007, p. 120) não concorda com o autor e assevera que o Código Civil 
de 2002 cometeu um grave equívoco redacional no art. 186 ao incluir o dano 
no conceito legal de ato ilícito. Para o autor, o dano nunca esteve contido no 
conteúdo do ato ilícito, como se a violação ao direito estivesse condicionada 
à existência de dano ou de um prejuízo (STOCO, 2007).
Assim, são atos ilícitos em sentido estrito ou delitos na medida em que 
causam danos ressarcíveis, como lesão corporal, batida de carro etc. Pode-se, 
ainda, nomeá-los como atos ilícitos aquilianos, por força da Lex Aquilia Damno 
(FIUZA, 2009, p. 357).
A respeito da subjetividade do conceito de ato ilícito, Cavalieri Filho (2003, 
p. 36) propõe que:
Esse conceito de ato ilícito é subjetivo, porque tem como elemento integrante a 
culpa. E onde está a culpa? Na parte em que o Código expressamente se refere 
à negligência e à imprudência. Esse é um conceito, diria, de ato ilícito estrito 
senso; ato ilícito típico, cheio, com todos os seus requisitos, não só objetivos, 
mas também subjetivos. Esse é o ato ilícito tradicional, que a doutrina sempre 
conceituou como sendo o fato gerador da responsabilidade civil.
Portanto, ato ilícito é, obrigatoriamente, ação humana. A norma violada pelo agente há 
de ser das que conferem direitos absolutos e unilaterais. Ao infringi-la, o agente lesa o 
direito subjetivo do outro. Contudo, quem viola deve ter discernimento da sua ação. 
Ou seja, a violação há de ser intencional ou resultar de imprudência ou negligência. 
Por fim, é preciso que resulte prejuízo indenizável da violação, pois, caso contrário, é 
irrelevante ao Direito Privado (GOMES, 2011, p. 58).
Sob os ditames da teoria do risco, ilícito objetivo ou lato sensu decorre 
quando o sujeito que desempenha atividade intrinsecamente perigosa viola o 
dever jurídico preexistente de segurança e incolumidade recaído sobre si. Tal 
dever existe explícita ou implicitamente sempre que a atividade é perigosa por 
natureza. Eis que segurança e risco se contrapõem.
Segundo a lição de Cavalieri Filho (2012, p. 155), “[...] quem se dispõe a 
exercer alguma atividade perigosa terá de fazê-lo com segurança, de modo a 
não causar dano a ninguém, sob pena de ter de por ele responder independen-
5Ato ilícito: conceito e elementos
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temente de culpa”. Trata-se da responsabilidade civil objetiva, na qual não se 
investiga o elemento da culpa. Nela, o ilícito se resume à sua feição objetiva, 
isto é, à mera contrariedade da conduta ao ordenamento jurídico expressa 
pela violação de um dever jurídico preexistente sem se perquirir se a vontade 
do agente fora maculada pelo dolo ou pela culpa stricto sensu. Eles indicam 
apenas a ilicitude do ato, a conduta humana antijurídica, contrária ao Direito, 
sem qualquer referência ao elemento subjetivo ou psicológico. Também é uma 
manifestação de vontade, ou seja, uma conduta humana voluntária, embora 
contrária à ordem jurídica.
Ao lado da culpa enquanto elemento caracterizador da ilicitude do ato, da 
conduta em si, tem-se a previsão da ilicitude decorrente do abuso de direito, 
prevista no art. 187 do Código Civil (BRASIL, 2002): “Art. 187 Também comete 
ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente 
os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos 
bons costumes”.
São situações excepcionais nas quais a conduta em si, objetivamente con-
siderada, não representa a violação de um dever legal de cuidado. No entanto, 
o titular do direito atua de modo contrário à boa-fé, aos bons costumes ou 
aos fins econômicos e sociais da norma, incorrendo em ato abusivo. É a 
materialização da ideia da inexistência de direitos absolutos, que permite a 
relativização concreta do direito exercido se não verificado. Considera-se o fim 
pretendido ou os limites sociais concretos e objetivos, esperados de qualquer 
titular da mesma posição jurídica, assim como a obediência a uma previsão 
de comportamento geral imposta pelo sistema.
Esses são os chamados ilícitos por equiparação e se caracterizam quando 
o seu titular extrapola os limites da boa-fé, da função social ou dos bons 
costumes ao exercer um direito. É o exato sentido do art. 187 do Código Civil 
de 2002 (BRASIL, 2002). Também comete ato ilícito o titular de um direito 
que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim 
econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. Ao comparar ato 
ilícito e ilícito equiparado, Silva (2010, p. 55) expõe que:
A mencionada equiparação de ambos os conceitos, para os fins da respon-
sabilidade civil, consta do art. 927, caput, do atual Código Civil brasileiro, 
que assim enuncia: “Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187) causar dano a 
outrem, fica obrigado a repará-lo”. Como se pode perceber, quando o dispo-
sitivo menciona o ato ilícito, traz entre parênteses o ato ilícito propriamente 
dito ou padrão e o ato ilícito equiparado, decorrente do exercício irregular de 
um direito. Em ambos os casos, surge o dever de reparação, conforme prevê 
a parte final da norma.
Ato ilícito: conceito e elementos6
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Observemos que o abuso de direito não requer a intenção de causar dano 
para constituir ato ilícito, bastando que o direito ultrapasse os limites esta-
belecidos ao ser exercido. De acordo com Cavalieri Filho (2003, p. 45), “[...] 
todos os autores estão se manifestando no sentido de que temos no art. 187 
um conceito objetivo de ato ilícito (ato ilícito em sentido lato), que serve de 
embasamento para o abuso do direito”.
Vejamos algumas citações que exemplificam casos de abuso de direito:
  Dias (2006, p. 359) menciona:
Requerer o credor arresto de bens que sabia não pertencerem ao deve-
dor; requerer busca e apreensão sem necessidade; requerer falência de 
alguém quando as circunstâncias e as relações entre ele e o requerente 
não o autorizem; provocar prejuízos que excedam os incômodos ordi-
nários da vizinhança etc. 
  Por sua vez, Rodrigues (1975, p. 47) expressa:
Abusa de seu direito aquele que, para eliminar concorrência, requer 
a busca e apreensão, preliminar de queixa-crime, por suposta contra-
fação de patente de utilidade; o mandante que revoga a procuração 
sem nenhuma outra razão senão a de ser israelita o mandatário; o 
proprietário de fontes que, movido por emulação,as esgota em seu 
terreno, sem qualquer utilidade para si, mas com grave prejuízo para 
seus vizinhos etc.
Consequências da prática do ato ilícito 
O ato ilícito é fonte de obrigação e se encontra expresso no art. 927 do Código 
Civil (BRASIL, 2002):
Art. 927 Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, 
fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de 
culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente 
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os 
direitos de outrem.
7Ato ilícito: conceito e elementos
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No ato ilícito, o efeito independe da vontade do agente, que, ao agir com 
dolo ou culpa e ocasionar dano a outrem, ocasiona efeitos jurídicos sujeitos a 
sanções legais. Para que se institua a responsabilidade civil, exige-se algum 
prejuízo, não bastando a violação de um dever jurídico mesmo que haja culpa 
e até mesmo dolo por parte do infrator.
Dessa forma, a associação frequentemente estabelecida entre ilícito civil 
e responsabilidade civil não é exata, pois existem ilícitos civis que não 
provocam necessariamente a obrigação de indenizar, ou seja, culminam 
em outros efeitos possíveis, nem todos indenizatórios. Portanto, a ilicitude 
não está automaticamente atada à consequência indenizatória, podendo 
receber outras consequências jurídicas, como a nulidade do ato, a perda 
de um direito material ou processual e assim por diante (CAVALIERI 
FILHO, 2012, p. 19).
Para Stoco (2007), a violação do direito já caracteriza o ato ilícito, inde-
pendentemente de haver dano, pois o ato ilícito infringe um dever legal ou 
contratual. Logo, violar direito é cometer ato ilícito. Contudo, segundo o 
autor, o dispositivo diz que só comete ato ilícito quem viola direito e causa 
dano, o que ele considera um equívoco redacional, pois o art. 927, caput, que 
tem relação direta com o art. 186, constituindo resultado lógico desse, dispõe 
que “[...] aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, 
fica obrigado a repará-lo” (STOCO, 2007, p. 120-121). Dessa forma, o art. 
186 (BRASIL, 2002) caracteriza apenas uma cláusula geral de ilicitude, a 
qual ocorrerá quando o agente praticar a conduta descrita e executar, assim, 
o ato ilícito. Entretanto, para que haja responsabilidade civil e surja o dever 
de indenização, um dano deve aderir à ilicitude do ato.
Assim, somente existe responsabilidade civil caso o ato ilícito seja passível 
de indenização, ou seja, quando a conduta praticada conjugar ilicitude e dano, 
conforme nitidamente expresso no art. 927, caput (BRASIL, 2002). A esse 
respeito, Rodrigues (1975, p. 192) defende que:
Indenizar significa ressarcir o prejuízo, ou seja, tornar indene a vítima, co-
brindo todo o dano por ela experimentado; esta é a obrigação imposta ao autor 
do ato ilícito, em favor da vítima, e que a ideia de tornar indene a vítima se 
confunde com o anseio de devolvê-la ao estado em que se encontrava antes 
do ato ilícito.
Ato ilícito: conceito e elementos8
C07_Ato_ilicito.indd 8 16/04/2018 16:29:55
Acesse o link a seguir ou o código ao lado para ler o artigo 
Categorias da antijuridicidade: o ato ilícito e o ato abusivo. 
Assim, você aprofundará os seus conhecimentos acerca 
de ato ilícito. 
https://goo.gl/jc6Rg7 
Sobre os efeitos do ato ilícito, analisemos as espécies indicadas por Braga 
Netto (2014, p. 19-20):
I. Ilícito Indenizante: é todo ilícito cujo efeito é o dever de indenizar. O efeito 
prático do ilícito é a reparação do dano, assim, se o efeito é reparar, in natura 
ou in pecúnia, o ato ilícito praticado, estaremos diante de um indenizante. 
Os ilícitos apresentam, como eficácia preponderante no direito civil, o dever 
de reparar os danos causados. 
II. Ilícito Caducificante: é todo ilícito cujo efeito é a perda de um direito. 
Exemplos: a) o art. 1.638 do Código Civil: “Perderá por ato judicial o poder de 
família o pai ou mãe que: I — castigar imoderadamente o filho; II — deixar 
o filho em abandono [...]”; b) O herdeiro que sonegar bens da herança, não 
os descrevendo no inventário quando estiverem em seu poder, ou, com o 
seu conhecimento, no de outrem, ou que os omitir na colação, a que os deva 
levar, ou que deixar de restituí-los, perderá o direito que sobre ele lhe caiba, 
conforme art. 1992 do Código Civil.
III. Ilícito Autorizante: é todo ilícito cujo efeito é uma autorização. Assim, 
em razão do ato ilícito o sistema autoriza que a parte prejudicada pratique 
determinado ato, geralmente em detrimento do ofensor. No ilícito autorizante 
o ordenamento relaciona ao ato ilícito uma autorização, que sem o ilícito 
não existiria, nascendo para o ofendido a possibilidade de praticar certo ato. 
Exemplo: a) a ingratidão do donatário é um ilícito civil cujo efeito consiste 
na possibilidade que o ordenamento faculta ao doador, de revogar a doação, 
nos termos do art. 557, tais como: I — se o donatário atentou contra a vida do 
doador; II — se comete contra ele ofensa física [...] a revogação surge como 
eficácia do ato ilícito praticado, pois aqui o ilícito é exatamente a ingratidão 
do donatário. b) Outra hipótese ocorre quando uma pessoa tem sua residência 
invadida por desconhecidos. Ela poderá expulsar à força os invasores, desde 
que o faça sem excessos. Tudo nos termos do art. 1.210, § 1º: O possuidor 
turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força 
(atos de defesa/desforço). Trata-se então de uma autorização face ao ilícito.
IV. Ilícito Invalidante: é todo ilícito cujo efeito é a invalidade. São casos onde 
o ordenamento dispõe que a reação pelo ato ilícito ocorre através da negação 
dos efeitos que o ato normalmente produziria, em virtude da invalidade, que 
9Ato ilícito: conceito e elementos
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https://goo.gl/jc6Rg7
engloba tanto nulidade quanto a anulabilidade. Ou seja, o ordenamento inibe o 
ato de produzir efeitos, ou os limita. Assim, a invalidade é sanção imposta pela 
norma. Exemplo: um contrato no qual o firmamento de um dos contraentes 
foi viciado pela coação de um terceiro, a qual configura causa de anulação 
do negócio jurídico. Nesse caso, a sanção aqui será a possível neutralização 
dos efeitos produzidos pelo contrato. Nos inválidos apenas ocorre a negativa 
da produção dos efeitos do ato ilícito realizado.
AMARAL, F. Direito Civil: introdução. 7. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2008.
BRAGA NETTO, F. P. Teoria dos ilícitos civis. 2. ed. Salvador: Juspodivm, 2014.
BRASIL. Lei nº. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Brasília, DF, 2002. 
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso 
em: 15 abr. 2018.
CAVALIERI FILHO, S. Programa de responsabilidade civil. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2012.
CAVALIERI FILHO, S. Responsabilidade civil no novo código civil. Revista da EMERJ, v. 
6, n. 24, 2003. 
DIAS, J. A. Da responsabilidade civil. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006.
DINIZ, M. H. Curso de Direito Civil brasileiro: responsabilidade civil. 26. ed. São Paulo: 
Saraiva, 2012. v. 7.
FIUZA, C. Direito Civil: curso completo. Belo Horizonte: Del Rey, 2009.
GOMES, O. Responsabilidade civil. Rio de Janeiro: Forense, 2011. 
RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Apelação cível nº. 70.073.834.244. Relator: 
Desembargador Marco Antonio Angelo. TJRS, 07 dez. 2017a.
RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Apelação cível nº. 70.074.544.644. Relator: 
Desembargador Marcelo Cezar Müller. TJRS, 14 dez. 2017b.
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SILVA, F. M. T. Teoria do risco concorrente na responsabilidade objetiva. 2010. Tese (Dou-
torado) — Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010. Disponível em: <http://www.
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STOCO,R. Tratado de responsabilidade civil: doutrina e jurisprudência. 7. ed. São Paulo: 
Revista dos Tribunais, 2007.
Leitura recomendada
GONÇALVES, C. R. Direito Civil brasileiro: responsabilidade civil. 12. ed. São Paulo: 
Saraiva, 2017. v. 4.
Ato ilícito: conceito e elementos10
C07_Ato_ilicito.indd 10 16/04/2018 16:29:56
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm
http://teses.usp.br/teses/disponiveis/2/2131/tde-30042013-151055/publico/Flavio_Mu-
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