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PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS PROFESSORA Esp. Érica Fernanda Lopes Quando identificar o ícone QR-CODE, utilize o aplicativo Unicesumar Experience para ter acesso aos conteúdos online. O download do aplicativo está disponível nas plataformas: Acesse o seu livro também disponível na versão digital. Google Play App Store https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/823 2 PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jd. Aclimação Cep 87050-900 - Maringá - Paraná - Brasil www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; LOPES, Érica Fernanda. Práticas Corporais Alternativas. Érica Fernanda Lopes. Maringá - PR.:Unicesumar, 2019. 132 p. “Graduação em Educação Física - EaD”. 1. Educação Física. 2. Yoga. 3. Tai Chi Chuan. 4. Meditação. 5. Biodança. EaD. I. Título. CDD - 22ª Ed. 613.7 CIP - NBR 12899 - AACR/2 ISBN 978-85-459-1925-4 Impresso por: Ficha Catalográfica Elaborada pelo Bibliotecário João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828 DIREÇÃO UNICESUMAR Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi. NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Diretoria Executiva Chrystiano Minco�, James Prestes, Tiago Stachon, Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho, Diretoria de Permanência Leonardo Spaine, Diretoria de Design Educacional Débora Leite, Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho, Head de Curadoria e Inovação Tania Cristiane Yoshie Fukushima, Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia, Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey, Gerência de Processos Acadêmicos Taessa Penha Shiraishi Vieira, Gerência de Curadoria Carolina Abdalla Normann de Freitas, Supervisão de Produção de Conteúdo Nádila Toledo. Coordenador(a) de Conteúdo Mara Cecilia Rafael Lopes, Projeto Gráfico José Jhonny Coelho, Editoração Humberto Garcia da Silva, Designer Educacional Ana Claudia Salvadego, Revisão Textual Ariane Andrade Fabreti, Fotos Shutterstock. Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos com princípios éticos e profissionalismo, não somente para oferecer uma educação de qualidade, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo- nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emocional e espiritual. Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos educadores soluções inteligentes para as necessidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter pelo menos três virtudes: inovação, coragem e compromisso com a qualidade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância. Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. Vamos juntos! Wilson Matos da Silva Reitor da Unicesumar boas-vindas Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à Comunidade do Conhecimento. Essa é a característica principal pela qual a Unicesumar tem sido conhecida pelos nossos alunos, professores e pela nossa sociedade. Porém, é importante destacar aqui que não estamos falando mais daquele conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas de um conhecimento dinâmico, renovável em minutos, atemporal, global, democratizado, transformado pelas tecnologias digitais e virtuais. De fato, as tecnologias de informação e comunicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, informações, da educação por meio da conectividade via internet, do acesso wireless em diferentes lugares e da mobilidade dos celulares. As redes sociais, os sites, blogs e os tablets aceleraram a informação e a produção do conhecimento, que não reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em segundos. A apropriação dessa nova forma de conhecer transformou-se hoje em um dos principais fatores de agregação de valor, de superação das desigualdades, propagação de trabalho qualificado e de bem-estar. Logo, como agente social, convido você a saber cada vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar a tecnologia que temos e que está disponível. Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg modificou toda uma cultura e forma de conhecer, as tecnologias atuais e suas novas ferramentas, equipamentos e aplicações estão mudando a nossa cultura e transformando a todos nós. Então, priorizar o conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância (EAD), significa possibilitar o contato com ambientes cativantes, ricos em informações e interatividade. É um processo desafiador, que ao mesmo tempo abrirá as portas para melhores oportunidades. Como já disse Sócrates, “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida”. É isso que a EAD da Unicesumar se propõe a fazer. Willian V. K. de Matos Silva Pró-Reitor da Unicesumar EaD Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, contribuindo no processo educacional, complementando sua formação profissional, desenvolvendo competências e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessários para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de crescimento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das discussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória acadêmica. boas-vindas Débora do Nascimento Leite Diretoria de Design Educacional Janes Fidélis Tomelin Pró-Reitor de Ensino de EAD Kátia Solange Coelho Diretoria de Graduação e Pós-graduação Leonardo Spaine Diretoria de Permanência autora Esp. Érica Fernanda Lopes Pós-graduada em Naturopatia pela Faculdade de Tecnologia em Saúde e Centro Integrado de Estudos e Pesquisas do Homem (Cieph) em Florianópolis e Pós-gra- duada em MedicinaTradicional Chinesa/Acupuntura pela Escola Brasileira de Medicina Chinesa (Ebramec) de São Paulo. Graduada em Educação Física pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Atualmente, é Terapeuta Naturalista com experiência nas seguintes áreas: sociedade e construção social, lazer e recreação, brinquedo e brincar, educação física, holismo, integração holística entre o desenvolvimento físico, intelectual, espiritual e artístico na Educação Física escolar. http://lattes.cnpq.br/4259272002321663 apresentação do material PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS Érica Fernanda Lopes Querido(a) aluno(a), seja bem-vindo(a) às Práticas Corporais Alternativa e Com- plementares (PACs)! Preparamos este material com o intuito de tecer um diálogo sobre o contexto das PACs no atual cenário da Educação Física e as contribuição delas para o desenvolvimento das potencialidades dos interagentes. A Educação Física oferece uma gama de experiências que enriquecem a capa- cidade de criação, de expressão e de conhecimento do próprio corpo, o influencia a interação com o meio onde vivemos. Abordaremos as PACs como recurso es- sencial nesse diálogo e nesse objetivo, contemplando a integralidade entre mente, espírito e materialidade. Aqui, ao ampliar os seus olhares para a concepção diferenciada do corpo, pro- pomos diferentes possibilidades de trabalho que podem ser desenvolvidas nessa área, para que, diante das necessidades da atual sociedade, possamos construir sujeitos com melhor domínio da inteligência emocional na inter-relação entre si. Dividimos o livro em cinco unidades e, em cada uma, estabeleceremos um diálogo sobre a configuração atual das práticas selecionadas: Yoga, Tai Chi Chuan, Meditação e Biodança. Você encontrará um leque de possibilidades de criação, pois dialogamos com a concepção de corpo sob a visão oriental, trazendo novos elementos para o nosso trabalho. As práticas citadas são oferecidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) por meio da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPICs), possibilitando ampliar o nosso campo de atuação. Convidamos você a expandir a sua visão para além das práticas convencionais, a angariar valiosos conhecimentos sobre a corporeidade e a cultura corporal, além de conhecer outras formas de trabalho e enriquecer a sua intervenção. Vamos construir, juntos, uma Educação Física que vise o desenvolvimento do ser como um todo. Contamos com você! Faça bons estudos e tenha um ótimo curso, aproveite! sumário UNIDADE I AS PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS NA EDUCAÇÃO FÍSICA 14 As Práticas Corporais Alternativas e a sua Configuração no Atual Cenário da Educação Física 18 As Práticas Corporais Convencionais e as Práticas Alternativas: Diálogo e Integração 22 O Corpo na Visão Oriental: Ampliando Conceitos 26 O Entrelaçamento entre a Cultura Oriental e Ocidental 28 Considerações Finais 34 Referências 34 Gabarito UNIDADE II YOGA 40 Os Princípios do Yoga 46 Yoga: Filosofia ou Ginástica? 50 O Yoga na Educação Física 57 Considerações Finais 62 Referências 64 Gabarito UNIDADE III TAI CHI CHUAN - A ARTE MILENAR 70 Tai Chi Chuan: História e Filosofia 74 Tai Chi Chuan: Arte Marcial, Meditação e Saúde 78 A Prática do Tai Chi Chuan 83 Considerações Finais 88 Referências 88 Gabarito UNIDADE IV A MEDITAÇÃO 94 A Meditação: os Caminhos para uma Prática Integral no Campo da Educação Física 100 O Corpo e a Mente: o Desafio da Integralidade 102 Como Meditar? O Desafio da Prática 104 Considerações Finais 109 Referências 109 Gabarito UNIDADE V BIODANÇA 114 Biodança: Origem e História 118 Definição e Prática da Biodança 122 Biodança e Educação Física: Aproximações e Complementaridades 124 Considerações Finais 130 Referências 131 Gabarito 132 CONCLUSÃO GERAL Professora Esp. Érica Fernanda Lopes Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • As Práticas Corporais Alternativas e a sua configuração no atual cenário da Educação Física • As Práticas Corporais Alternativas e as Práticas Convencionais: diálogo e integração • O corpo na visão oriental: ampliando conceitos • O entrelaçamento entre as culturas oriental e ocidental Objetivos de Aprendizagem • Definir o conceito das Práticas Corporais Alternativas na Educação Física e dialogar sobre as abordagens atuais. • Identificar as diferenças entre as PACs e as práticas convencionais. • Dialogar sobre as diferenças entre as visões oriental e ocidental na construção do conceito de corpo e de movimento, bem como o reflexo desse conceito na construção do sujeito social mediante os seus aspectos culturais. • Discutir sobre a popularização das Práticas Corporais Alternativas no Brasil e a sua expansão no campo da Educação Física. AS PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS NA EDUCAÇÃO FÍSICA unidade I INTRODUÇÃO Olá! Seja bem-vindo(a), aluno(a)! Nesta unidade, falaremos sobre o conceito das Práticas Corporais Alternativas (PACs) e a sua configuração na Educação Física, tendo em vista que essa disciplina encontra as suas origens na concepção higienista médica, a qual visava a educação do corpo, o que promoveu uma visão dualista do sujeito, dividindo-o entre corpo e mente. Vivemos, porém, em tempos em que essa visão já não mais se susten- ta, ela necessita ser ampliada para moldes que acompanhem a evolução social, que contribuam com a vivência além dos moldes tradicionais e potencializem as capacidades inatas humanas em todos os seus aspectos. Para tanto, qual o papel da Educação Física nesse contexto? Como nós, profissionais da área, podemos contribuir nesta tão importante forma- ção? Estando ela intimamente associada aos conceitos de corpo e movi- mento, tornam-se essenciais determinados questionamentos, tais como: Qual a concepção de corpo? Como se dá a sua caracterização diante do meio onde vivemos? Sendo esse corpo físico dotado de sentimentos e emoções, seria possível uma prática que desvincule tais conceitos? As Práticas Corporais Alternativas buscam embasamentos nas filoso- fias orientais, as quais possuem um aparato milenar e profundo que nos ajuda a elucidar esses questionamentos de forma diferenciada. Assim, buscamos vivências que evidenciem a capacidade de criação, de autodo- mínio, de autopercepção, de compreensão das suas sensações corpóreas e o diálogo destas com as suas emoções e os seus sentimentos, expandindo tais aspectos para o convívio social. Além do que, o entrelaçar de culturas tão distintas, a oriental e a oci- dental, pode apontar diferentes paradigmas na autoconstrução e na for- mação de nossos alunos, de modo a enriquecer a sua cultura corporal. Por que não ousar, transformar a sua aula e enriquecer a vivência dos alunos e praticantes? Por que não buscar novas soluções para antigos pro- blemas que abarcam a Educação Física e a sociedade em geral? Vamos dialogar sobre o assunto? 14 PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS Olá, querido(a) aluno(a)! Iniciaremos este tópico examinando como as Práticas Corporais Alternativas se inserem no con- texto da Educação Física. Tendo em vista que esse termo é utilizado por várias áreas do conhecimento, como a Antropologia, a Sociologia e a Saúde, isto volta os nossos olhares para a complexidade dele, também pela possibilidade de diálogo que ele ense- ja, uma vez que a Educação Física se insere tanto no campo da educação quanto no da saúde, o que nos dá a possibilidade de amplo e complexo diálogo. De acordo com Lazzarotti Filho et al. (2010, p. 6): No campo da Educação Física, o termo “prá- ticas corporais” vem sendo valorizado pelos pesquisadores que estabelecem relação com as ciências humanas e sociais, pois aqueles que dialogam com as ciências biológicas e exatas, operam com o conceito de atividade física. A Educação Física, por ter o corpo humano como objeto de estudo, apropria-se desses conteúdos como complemento que enriquece as práticas con- vencionais, tais elementos buscam levar as aulase vivências para além de sua utilidade pragmática, As Práticas Corporais Alternativas e a sua Configuração no Atual Cenário da Educação Física EDUCAÇÃO FÍSICA 15 integralizando e agrupando as suas dimensões bá- sicas (pensamento, sentimento, emoção, movimen- to), que são parte da completude do ser, atribuindo sentido para o cotidiano dos praticantes, levando-os à reflexão sobre o seu modo de vida e os desdobra- mentos dele em próprio corpo. Diante dessa possibilidade, abrimos o campo para a construção da sensibilidade do corpo como um todo, que interprete o sujeito na sua completu- de, dotado de emoções, sentimentos e sensações. Ao aguçar os sentidos, estabelecemos uma relação mais humanizada e proporcionamos experiências mais ampliadas de autopercepção e de conexão com o meio. A experiência que prima por esses aspectos visa quebrar os paradigmas sociais dos relacio- namentos humanos, do indivíduo com si e com o próximo de modo que o autoconhecimento leva à construção de um novo padrão mental de aceita- ção, autorrespeito e amor próprio. Tais virtudes se estendem à convivência em sociedade, de modo que os sujeitos com maior potencial de autodomí- nio têm mais empatia e tolerância com o próximo, interferindo na construção de ambientes mais sau- dáveis ao seu redor. Nesse contexto, Freire (2003, p. 35) aponta-nos que o “desenvolvimento dos aspectos puramente intelec- tuais é muito pouco para uma sociedade que, além de raciocínios lógicos, deveria se alimentar de soli- dariedade, de cooperação e de amor”. É importante verificarmos que tais práticas não se contrapõem àquelas convencionais, mas pro- põem diferentes objetivos, como o relaxamento, o autoconhecimento, a sensibilização, o contato con- sigo e a sua natureza individual. Para isso, tivemos, no século XX, o Movimento da Contracultura, que serviu de parâmetro para questionarmos o modo de vida mecanicista desenvolvido pelo Ocidente com o alavanque tecnológico. A esse respeito, Coldebella (apud IMPOLCETTO et al., 2013, p. 271) “indica que o movimento da con- tracultura reivindica a liberdade e autonomia dos indivíduos, defendendo a espontaneidade, o resgate do habitat rústico, a vida em comunidade e a recon- ciliação com o corpo”. O termo alternativo leva-nos a refletir sobre uma prática fora dos moldes preestabelecidos e nos faz observar aspectos mais complexos da nossa existên- cia e do nosso papel na sociedade e nos coloca dian- te de novas possibilidades de experiências e diálogos com culturas diferentes. Estamos convidados a sair do pensamento linear e a explorar novos campos. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 2000, p. 1) “para viver de- mocraticamente em uma sociedade plural é pre- ciso respeitar os diferentes grupos e culturas que a constituem”, fato que possibilita a ampliação e a construção de novos conhecimentos e, assim, transformar as experiências com a prática da Edu- cação Física, no decorrer da história, de acordo com a necessidade de cada tempo. Como podemos trabalhar o desenvolvimento da autopercepção e do autoconhecimento para auxiliar no nosso crescimento e na nossa atuação consciente no mundo? REFLITA 16 PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS Reflita comigo, querido(a) aluno(a): Se tais teorias indicam que há a necessidade de resgate da autonomia do corpo/indivíduo, é porque, em algum momento, ela foi sobrepujada. Desse modo, a Educação Física, em suas diferentes competências de atuação sobre o corpo, se configura como elemento de grande relevân- cia na formação social dos indivíduos. Portanto, tais questionamentos se tornam fundamentais nesse meio. Sendo a Educação Física a área de estudo responsá- vel por tratar do movimento e da Cultura Corporal nos seus diferentes campos de atuação, considera- mos que: [...] a área de Educação Física hoje contempla múltiplos conhecimentos produzidos e usufruí- dos pela sociedade a respeito do corpo e do mo- vimento. Entre eles, se consideram fundamen- tais as atividades culturais de movimento com finalidades de lazer, expressão de sentimentos, afetos e emoções, e com possibilidades de pro- moção, recuperação e manutenção da saúde (BRASIL, 1997, p. 23). EDUCAÇÃO FÍSICA 17 Diante disso, temos em nossas mãos grandes possibilidades de traba- lho em um vasto campo de atuação, não é mesmo? 18 PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS Neste tópico, convidamos você à seguinte reflexão: Diante do escopo teórico/prático nas diferentes áre- as de atuação que a Educação Física propõe-nos, de acordo com as bases nas quais ela foi fundada, como conciliaremos uma proposta nova e tão abrangente com um conhecimento há tanto tempo difundido, mas que necessita de reformulação condizente com o nosso contexto sociocultural? Primeiramente, consideramos que a Educação Física, dentre as suas atuações, tem a possibilida- de explorar as diferentes manifestações da Cultura Corporal, sendo o termo cultura “entendido como produto da sociedade, da coletividade à qual os in- divíduos pertencem, antecedendo-os e transcenden- do-os” (BRASIL, 1997, p. 23). Isso implica no fato de que a cultura está em constante transformação e construção no fazer diá- rio da sociedade, na manutenção da vida e dos hábi- tos por ela desenvolvidos, o que nos leva a crer que a prática educacional que prima pela seleção de con- As Práticas Corporais Convencionais e as Práticas Alternativas: Diálogo e Integração EDUCAÇÃO FÍSICA 19 teúdos relevantes e coerentes deve estar em conso- nância com o dinamismo desse processo. De acordo com Soares et al. (1992, p. 33): Educação Física é uma prática pedagógica que, no âmbito escolar, tematiza formas de ativida- des expressivas corporais como: jogo, esporte, dança, ginástica, formas estas que configuram uma área de conhecimento que podemos cha- mar de cultura corporal. Desse modo, podemos, então, admitir que o corpo é um meio de manifestação e expressão da nossa cul- tura, ao passo que adquire também, na sua indivi- dualidade, aspectos peculiares que interagem com a cultura de modo geral. Podemos, também, defini-la por sua interven- ção nas práticas relacionadas à manutenção da saú- de e à melhora da qualidade de vida, bem como nas atividades vinculadas ao lazer, ao tempo livre e à ludicidade. No que compete à saúde, o profissional da Educação Física tem a possibilidade de dialogar com demais áreas afins trabalhando na complemen- taridade que abrange o conceito de saúde, dado pela OMS como “o estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença” (BRASIL, 1993, p. 65). Segundo esse conceito de saúde, podemos refle- tir sobre a gama de atuação da Educação Física nesse contexto, tendo em vista que o profissional da área pode levar tais conhecimentos para diversas áreas, desde a formação educacional de base até a manu- tenção e a promoção da saúde, do lazer e da qualida- de de vida, sendo um importante interventor nesse processo. Cada vez mais nos deparamos com espaços de lazer e práticas de atividades voltadas para a manu- tenção e a promoção da saúde, diante disso, o pro- fessor e profissional da Educação Física destaca-se ao se deparar com maiores campos de atuação devi- do à busca crescente por hábitos mais saudáveis, que incluem a prática de esportes, as ginásticas, as dan- ças e uma gama de novas possibilidades que surgem em espaços privados ou públicos. Nesse contexto, pelo aprimoramento e pela bus- ca por atividades diferenciadas, as PACs encontram forte campo de atuação, tendo em vista o crescente número de adeptos de atividades até pouco tempo desconhecidas. Diante do avanço da comunicação do mundo globalizado, é de fundamental importân- cia considerar que as diferentes culturas dos dife- rentes povos do globo estão em constante interação, que este fazer social e cultural ultrapassou as barrei- ras geográficas e estabeleceu um constante e valioso diálogo entre as diferentes civilizações.Tal diálogo estabelecido trouxe nova visão do corpo e do modo de se expressar e interagir com o mundo, oportunizando o avanço em conteúdos além dos convencionais, avanço esse necessário para a evolução do ensino e para a construção de uma nova realidade educacional, de uma nova forma de se relacionar com o corpo e os seus meandros, e de práticas que abranjam aspectos além daqueles pura- mente biológicos e que atendam às necessidades do momento atual. Soares et al. (1992) apontam que os exercícios físicos na forma cultural de jogos, ginástica, dança e equitação surgem na Europa, no final do século XVIII e início do século XIX. Este é o tempo e o es- paço de formação dos sistemas nacionais de ensino, marcando a consolidação da Educação Física como disciplina obrigatória, seguindo os moldes sociais da época e as características da sociedade burguesa daquele período. Deve-se ter em vista que, de início, a Educação Física se fazia nos moldes higienistas: 20 PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS utilizada como ferramenta para a obtenção de um corpo saudável e forte para o trabalho no momento da Revolução Industrial. Com isso, observamos que, desde o princípio, essa disciplina surge pela necessidade social vigen- te no momento histórico em que ela está inserida, a “construção” de um novo indivíduo para nova socie- dade que surgia, com novas necessidades e deman- das sociais, econômicas e morais. Querido(a) aluno(a), desde então, muito se pas- sou, grandes transformações ocorreram em nossa sociedade. A Educação Física vem se transformando sob a influência de áreas do conhecimento, como a Antropologia, a Sociologia e a Psicologia, ampliando as suas possibilidades de atuação numa visão mais integralizada do ser, na tentativa de romper com a dicotomia corpo-mente até então estabelecida. Desde então, os novos rumos que a Educação Física tem buscado perpassam o âmbito da Cultu- ra Corporal para, assim, encontrar uma definição que amplia a visão do corpo para além do desen- volvimento exclusivo das habilidades físicas. Busca a visão integral do ser no âmbito psicológico-men- tal, social, moral e também biológico, mas não so- mente. Partimos do princípio de que o aprendizado é um fator inerente a cada indivíduo, assim como di- fere para cada um as vivências corpóreo-sensoriais, o tempo de se apropriar do conhecimento e de de- senvolver as potencialidades. Estamos de acordo que, de modo geral, o nosso corpo possui desenvolvimento semelhante na cone- xão entre neurônios e formação de sinapses, porém, no trato de suas relações, o indivíduo se coloca à prova diante de suas emoções, e isso influencia di- retamente a sua forma de aprender, de valorar, de se apropriar dos conteúdos adquiridos, de se expressar no mundo e de se relacionar com a sua saúde e o seu bem-estar, características estas que nos diferem e nos tornam únicos. Com isso, termos como cooperação, autoper- cepção, autoconhecimento, autonomia física e mental, valorização das diferenças, liberdade, cria- tividade, aceitação, holismo, visão global de saúde e bem-estar, serão comuns na literatura que abran- ge essa nova prática, que tira a ênfase antes dada à competitividade, ao enaltecimento da técnica, ao higienismo, à racionalização e à instrumentali- zação do movimento, uma vez que, quando pen- samos no corpo, pensamos, simultaneamente, no indivíduo em si. De certo modo, as PACs provocam a descons- trução de um movimento pré-moldado, racionali- zado, em que não existem ideais de perfeição nas performances, em que o fazer se encerra por si mesmo no sentido de não haver comparativos de resultados. O movimento torna-se a consequência da expressão da individualidade de cada corpo, dentro de suas proporções e possibilidades, de seus sentimentos e emoções, segundo os seus costumes, crenças e objetivos, na busca pelo prazer na execu- ção, no relaxamento e na integralização do corpo e da mente. A exemplo disso, temos práticas como a Yoga e o Tai Chi Chuan, que produzem movimentos com lentidão, leveza e introspecção, em que não há es- tímulos competitivos ou comparativos, mas sim, expressões de si mesmo, do corpo e da mente fundi- dos, formando o contexto único de cada praticante cujo grande desafio dá-se consigo mesmo. EDUCAÇÃO FÍSICA 21 Nessas técnicas, temos a observação contínua de si mesmo, em que se mesclam os aspectos puramente físicos e emocionais, partindo do princípio de que o pensamento é a origem de tudo que nos acontece, assim, tais práticas direcionam-se para o controle da mente. De acordo com esses princípios, a mente si- lenciosa é capaz de ouvir, perceber, captar a realida- de de maneira mais eficiente e de nos ajudar a sentir de maneira mais precisa e a interagir com o meio de maneira mais equânime. A esse respeito, Marin (2010, p. 210) aponta que: Quando acalmamos nossa mente, liberamos mais energia para nossa vida emocional. Por mente entendo a mente racional, que resol- ve problemas, justifica e julga, em oposição à mente como um todo, que abrange não somen- te pensamentos, mas também sentimentos, in- tuição, praticidade e sonhos. Assim, a visão do corpo estende-se para outras di- mensões, a prática física ganha finalidades diferen- ciadas e peculiares. A performance torna-se a resul- tante, e não a causa primária da atividade, e a união entre esses dois aspectos pode resultar no maior aproveitamento do trabalho realizado, na autossatis- fação e na realização pessoal. 22 PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS Para compreender a visão da cultura oriental so- bre o corpo, é necessário compreender que este conhecimento e toda a sua filosofia derivam do modo de vida desenvolvido por essa cultura de acordo com a necessidade de cada geração. Nos primórdios das civilizações, segundo a visão oriental, a filosofia, a religião e a ciência provi- nham da mesma fonte, não existindo separação entre elas de maneira holística. Era hábito dos antepassados orientais a cons- tante observação da natureza, de maneira que as suas teorias provêm da interação com ela. É muito comum, principalmente na cultura chinesa, que os processos fisiológicos sejam comparados e equipa- rados a fenômenos naturais. De acordo com as suas tradições, há uma ener- gia que é fonte primária de todos os elementos e criações, tudo no universo está permeado de uma substância vital denominada Qi ou Prana, ou como é chamado no Ocidente, de Energia Vital. Segundo as tradições, essa substância é a causa primária de toda a vida. Sionneau (2014, p. 201) diz que O Corpo na Visão Oriental: Ampliando Conceitos Fonte: Thomas Barrat / Shutterstock EDUCAÇÃO FÍSICA 23 na China Antiga, o Qi é o sopro da vida, o dina- mismo fundamental que dirige todas as mani- festações do universo, incluindo os seres vivos. É ele que está na origem de todas as coisas, de todos os seres. É a força primordial que anima a criação. O Qi é dinâmico e se transforma para dar forma aos diferentes estados da matéria. Sionneau (2014, p. 202) aponta que “ao se concentrar, ele se consti- tui em matéria e gera a multiplicidade dos homens e das coisas”. em que vive, o corpo influencia e sofre influência desse meio a todo momento, a interação com a na- tureza, com os demais e consigo mesmo mesclam-se em um único ser. Por isso, temos uma gama de atividades nessa área que primam pela auto-observação e pelo auto- conhecimento, que buscam mais a superação de si mesmo do que a competição. A ideia é a de que se somos capazes de vencer os nossos próprios desa- fios, podemos lidar melhor com os aspectos exterio- res que nos cercam. As suas práticas corporais utilizam a respiração como forma de concentração e tomada de consciên- cia, fazem o uso correto da postura, do foco e da au- topercepção, partindo do interior para o exterior. Os movimentos são mais lentos e ritmados, com foco na consciência de si mesmo, traçando, desse modo, a interação com o meio. Aqui, caro(a) aluno(a), temos umavisão holista do corpo, que nos traz grandes reflexões sobre o tra- balho de revalorizar conceitos e de reelaborar a vi- são fragmentária que ainda nos marca. Para Ribeiro (apud CREMA; BRANDÃO, 1991, p. 137): A ideia holística é aquela da integração harmo- niosa parte-todo-parte. Quando se sai da ideia para a prática, da prática para a ideia, a educa- ção acontece, porque parte e todo, todo e parte se integram e convergem dialeticamente na sín- tese, na totalidade existencial. Esse conceito holístico traz ao indivíduo uma visão mais harmoniosa do próprio corpo, levando em consideração a sua individualidade ao trabalhar a despadronização imposta pela mídia e pelo merca- do, trazendo à luz da reflexão esse conceito de corpo materializado e objetificado em performances e for- mas perfeitas. Temos, pois, nesses moldes, que o nosso corpo é formado e composto por Qi, em uma das diferen- tes manifestações de sua forma, o que ultrapassa o conceito apenas médico do corpo, sendo também filosófico, sociológico e espiritual. Dentro da cultura oriental, o corpo humano é visto como parte integrante e atuante com o meio 24 PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS Ao contrário disso, a prática das PACs, dentro dessa visão, propõe vivências que ampliam a criatividade e a expressividade de sentimentos e emoções, res- significando o conceito de saúde ao abranger o ser como o todo que o compõe, tirando o foco do cará- ter puramente estético e competitivo. Devemos ter como objetivo, aqui, trabalhar a ideia de que o nosso corpo é a “casa” onde habita- mos, casa esta que alimentamos, cuidados, intera- gimos, porém essa habitação repleta de potenciali- dades também tem limitações dentro das diferentes particularidades que abrangem cada indivíduo, e estas, por sua vez, devem ser tratadas naturalmente, como parte da nossa humanidade, superando as ne- gações e rejeições. EDUCAÇÃO FÍSICA 25 26 PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS O Entrelaçamento Entre a Cultura Oriental e Ocidental Fonte: atiger/Shutterstock EDUCAÇÃO FÍSICA 27 Por outro lado, temos a sociedade ocidental, com método científico desenvolvido e pautado no prin- cípio racionalista, em que o pensamento cartesia- no teve grande influência ao dividir mente e corpo, atribuindo valores diferentes ao trabalho mental e ao trabalho manual, após a Idade Média. Em essência, a sociedade ocidental e a oriental são construções socioculturais de regiões diferentes do globo, porém isso não impede o diálogo e a inte- ração entre elas, ao contrário, abre campo para a in- tegração de conceitos e ideias, enriquecendo ambos os lados. As diferenças entre elas se encerram em as- pectos religiosos, filosóficos e científicos, os quais de- terminam as suas características sociais e vice-versa. Nesse sentido, nós o(a) convidamos a trazer o termo construção cultural para um movimento di- nâmico entre o “fazer-se” e o “construir-se”, coletiva e individualmente, elaborado por suas experiências pessoais e/ou compartilhadas. “Afinal de contas, cul- tura é - ou era - um valor considerado recomendável para todos os seres humanos, e ser culto significa exatamente ser cultivado” (SOUZA, 1998, p. 227). Pensamentos diferentes, porém ambos dentro das necessidades sociais do seu contexto e que, quando se inserem, hoje, em nossa realidade social, nos dão a possibilidade de utilizarmos ambos os conheci- mentos para engendrar experiências significativas para o seu campo de atuação, caro(a) aluno(a). Diante de tantas proposições diferentes, podemos nos perguntar: Como trazemos para a minha re- alidade atividades tão diferenciadas em grau de complexidade e execução, bem como em princípios culturais? Devemos ter em mente que nenhuma prática, seja ela educacional seja social, deve se contrapor. Ela faz parte do escopo de nossa construção cultural como um todo. Dessa forma, propomos, aqui, ca- ro(a) aluno(a), a leitura atenta dessa proposta: captar os princípios e os direcionar para a nossa realidade. De um lado, temos a sociedade oriental e, aqui, neste material, enfatizamos o extremo Oriente, uma das mais antigas civilizações do globo, que possui medicina milenar. Os seus estudos foram, basica- mente, postulados pelo método intuitivo, ligado às tradições da época e que perduram até os dias de hoje, por meio da observação da relação do indi- víduo com o meio e a sua influência mútua. Nesse contexto, o corpo e a mente são indivisíveis no pen- samento holístico. Qi é um termo bastante utilizado na expres- são das práticas orientais, ele é a base de toda contextualização feita em Medicina Oriental. Porém o seu real conceito diverge: alguns textos antigos dizem que a definição do conceito do que é o Qi ainda está longe do nosso entendimento, que ele não pode ser definido, mas apenas sentido, em sua expressão mais pura, nas interações e cria- ções da vida. Curioso, não? Como o termo mais utilizado pode não ter uma descrição devidamente definida? Vamos procurar sa- ber mais sobre esse tal de Qi? Fonte: a autora. SAIBA MAIS 28 considerações finais Nesta unidade, tivemos o breve relato sobre as PACs, o seu conceito no âmbito da Educação Física, a diferença entre os seus objetivos e os das práticas conven- cionais, bem como a visão oriental sobre corpo e movimento mediante os seus aspectos culturais, correlacionando-os com os aspectos ocidentais. Diante de tal discussão, lembre-se de que não estamos conferindo menor im- portância aos conteúdos e às práticas convencionais, que são parte do currículo da Educação Física e das intervenções em saúde e lazer e têm extrema relevância. O que elas propõem é a ampliação das possibilidades das vivências do corpo e do movimento, sob outra perspectiva, devidamente correlacionada e adequada ao meio de atuação, segundo determinadas necessidades e especificidades. Não podemos nos esquecer da miscigenação que compõe a nossa sociedade e a nossa capacidade de criação e adaptação. Vivemos num país com grande diver- sidade, fruto da combinação de várias etnias, isto nos dá grandes possibilidades de ampliar o nosso campo investigativo, enriquecendo, assim, nossas vivências. Lembre-se sempre dessa diversidade e da potencialidade que ela pode pro- mover. Quantos alunos diferentes podem se apresentar em uma mesma turma, com capacidades físicas e personalidades diferenciadas? Assim como pessoas com vivências e origens diferentes, com dimensões e potencialidades peculiares, enfim, cada um se torna um universo, com construções próprias. Objetivamos, nesta unidade, apresentar uma proposta de trabalho diferen- ciada, que incite a busca de novos conhecimentos e vivências que enriqueçam as práticas, que permitam o desenvolvimento de cada um dentro do seu tempo, de modo que todos encontrem o prazer e o autoconhecimento em atividades enriquecedoras. Buscamos apresentar um breve relato sobre a possibilidade de buscar saúde física e mental em uma única atividade, que vise a desenvolver o bem-estar de modo geral, sem fragmentações, levando em conta a ludicidade, a auto-observação e o autocontrole físico e emocional. 29 atividades de estudo 1. De acordo com a discussão apresentada nesta unidade, vimos que a Educação Física possui um direcionamento para a sua prática. Direcio- namento esse que a norteia, a caracteriza e a configura tal como ela se apresenta hoje. Dessa maneira, qual dos temas a seguir você identifica como o objeto central de estudo da Educação Física? a) Cultura Corporal. b) Corpo humano. c) Corpo humano e movimento. d) Cultura corporal e corpo humano. e) Corpo e mente. 2. De acordo com a proposta das PACs, leia as afir- mativas a seguir: I - As PACs contrapõem-se às práticas con- vencionais à medida em que estabelecem objetivos diferentes de trabalho. II - Dentre os objetivos que as PACs propõem, destacam-se relaxamento, autopercep- ção, autoconhecimento, competitividade, liberdade e criação. III - As PACs não devem se misturaràs práti- cas convencionais, tendo em vista que a concepção de corpo entre ambas são di- ferentes. IV - As PACs provocam a desconstrução de um corpo pré-moldado, em que não exis- tem ideais de perfeição nas performan- ces, em que o fazer encerra por si mesmo, no sentido de não haver comparativos de resultados. É correto o que se afirma em: a) Apenas I e II. b) Apenas II e III. c) Apenas IV. d) Apenas II, III e IV. e) I, II, III e IV. 3. Em relação à cultura oriental e à sua concepção sobre o corpo e a mente, assinale verdadeiro (V) ou falso (F): ( ) Era de hábito dos antepassados orientais a constante observação da natureza, de modo que as suas teorias provêm da interação com ela. É muito comum, principalmente na cultu- ra chinesa, que os processos fisiológicos se- jam comparados e equiparados a fenômenos naturais. ( ) De acordo com as tradições orientais, há uma energia que é fonte primária de todos os elementos e todas as criações, tudo no uni- verso está permeado de uma substância vital denominada Qi, Prana, ou como é chamada no Ocidente, Energia Vital. ( ) Os movimentos, nas atividades propostas pela cultura oriental, são mais lentos e ritma- dos, com foco na consciência de si mesmo, tra- çando, desse modo, a interação com o meio. A sequência correta é: a) V; V; F. b) F; F; V. c) V; F; V. d) F; F; F. e) V; V; V. 30 atividades de estudo 4. Sobre o pensamento holístico que compõe as PACs, assinale verdadeiro (V) ou falso (F): ( ) Essa visão holística pode trazer ao indiví- duo uma visão mais harmoniosa do próprio corpo, levando em consideração a sua indivi- dualidade ao trabalhar a despadronização do corpo cuja padronização é imposta pela mídia e pelo mercado. ( ) Essa visão traz uma análise concreta, que difere os indivíduos em suas habilidades e po- tencializa o pensamento em detrimento do corpo. ( ) O holismo propõe uma visão unilateral, que prima pelo desenvolvimento do corpo em detrimento das habilidades mentais, emocio- nais e comportamentais. ( ) Essa visão traz um conceito mais harmo- nioso do próprio corpo, levando em consi- deração a sua individualidade ao trabalhar a despadronização do corpo cuja padronização é imposta pela mídia e pelo mercado e, con- sequentemente, coloca o foco nas performan- ces perfeitas. A sequência correta é: a) V; V; F; F. b) F; V; V; V. c) V; F; F; F. d) V; F; F; V. e) F; V; F; V. 5. Reflita sobre tudo o que estudamos nesta uni- dade e faça um breve relato sobre como você, professor(a) de Educação Física, poderia utilizar os princípios das PACs em sua aula, utilizando, como base, uma atividade convencional, alteran- do-a de acordo com tais princípios. 31 LEITURA COMPLEMENTAR O pensamento oriental parte do princípio básico da uni- dade entre o homem, natureza e divindade, sendo um, expresso no comportamento do outro. Por meio de uma filosofia milenar, tomamos como base as tradições chinesas que retratam esses princípios dentro de uma lógica própria. Segundo os chineses o homem vive entre o céu e a terra, mas o que isso quer dizer? De acordo com suas teorias, o céu significa aquilo que ainda não foi manifestado, tudo o que está em harmonia, é o Yang absoluto, enquanto que a terra é o Yin absoluto, ambos são puros e estão em equilíbrio dinâmico e interação constante. Entre essas trocas e modificações incessantes surge o homem, fruto das transformações entre o céu e a terra surgindo, assim, a tríade que compõe a vida que conhe- cemos. Para Sionneau (2014, p. 19): “Céu, Terra e Homem constituem um conjunto chamado “as três potências”. Nesse contexto, temos talvez a expressão chinesa mais conhecida no ocidente e mais propagada pelo mundo, a teoria do Yin e do Yang, que desenvolveu e embasou toda a Medicina e Filosofia daquele povo. Baseada na interação das forças contrárias que geram forças resultantes como a alternância entre o Sol e a Lua gerando a luz e a escu- ridão, o ciclo das estações e sua ação sobre o ambiente, o alto e baixo, o grande e o pequeno e assim por diante. Temos o Yin representando a força mais densa, escura, condensada, que age em movimento de introversão, de natureza feminina, a resultante dessas forças geram a noite, a chuva, a escuridão, a lua, os sentimentos e emo- ções mais introspectivos e internalizados. Em oposição temos o Yang que é uma força de movimento, centrífuga, dilatada, de natureza masculina, que resulta no dia, no sol e claridade, potencializando as emoções mais explo- sivas e expansivas. Dentro da tradição Chinesa, entender a teoria do Yin e do Yang é compreender toda a manifestação da vida, seus ciclos de transformação e interdependência em que a manifestação de uma dessas forças é potência para a geração da outra, incluindo o homem. Enquanto uma condensa a outra expande, uma acelera a outra lentifi- ca e, assim, todas as forças da natureza se colocam em equilíbrio. Para os Chineses, no nosso corpo, o Yin e Yang mani- festam-se em menor escala, na expressão de nossas emoções e nossos sentimentos, no desenvolver de nos- sa personalidade e, também, nos processos fisiológicos como o ciclo circadiano, a entrada e saída de ar nos pul- mões, o movimento de sístole e diástole dos batimentos cardíacos, que representam a contrariedade das forças agindo entre si, respectivamente, no estado de repouso e alerta, entrada e saída, contração e relaxamento. Dentro desta cosmogonia, os chineses conseguem classi- ficar todos fenômenos conhecidos no universo, por meio da ação contrária das forças que têm como resultante a manifestação da vida. Toda essa filosofia vem da cons- tante observação da natureza e de seus movimentos, para Sionneau (2014, p. 61) o chinês “observa o universo, tira suas conclusões e tenta se adaptar da melhor forma.” Essa observação constante das forças inerentes à natureza inclui também a observação de si mesmo, como parte inte- grante que se inter relaciona com o meio já que o homem é fruto da interação das forças entre o céu e a terra. Daí surgem as atividades de meditação e das artes marciais, que visam à busca do equilíbrio em si mesmo, da saúde orgânica e mental como um todo indissociável, observan- do, compreendendo e se adaptando ao contexto que está inserido ao passo que também o modifica e constrói. Fonte: Sionneau (2014). 32 material complementar A Educação Física cuida do corpo e… “Mente” João Paulo S. Medina Editora: Papirus Sinopse: nesta obra, o autor procura refletir sobre as questões que envolvem o corpo, os interesses das pessoas acerca do corpo e a crise social brasileira, ao passo que aponta para novas possibilidades de compreender o corpo e as suas práticas numa perspectiva ampla, denominada, por esse autor, de conscientiza- ção (pedagogia revolucionária), cujo referencial fora extraído do pensamento re- volucionário de Paulo Freire. Comentário: esta obra de Medina gerou grande impacto e fervilhou discussões acerca da Educação Física, mas ela é importante para todos nós, profissionais da área, no sentido de ampliar os nossos horizontes no que tange a levá-la para ou- tros ambientes da prática social. Indicação para Ler Tao Te Ching: o livro que revela Deus Lao-Tsé Editora: Martin Claret Sinopse: o Tao Te Ching, de Lao Tsé, é um clássico da literatura Taoísta da China antiga, foi escrito por volta do século VI a. C. e é composto por 81 poemas ou capítulos que transcrevem a essência da filosofia oriental. Inspirou vários líderes políticos e religiosos ao longo dos séculos, assim como diversas correntes filosó- ficas e religiosas. Comentário: mergulhar na leitura do Tao Te Ching é iniciar uma imersão em si mesmo, é olhar com mais profundidade para o exercício de nossa existência. Indicação para Ler 33 material complementar “O Mistério do Chi” é um episódio da série Healing and the Mind, organizada pelo jornalista premiado Bill Moyers, que explora diversas questõesno campo da medicina alternativa. A série é dividida em sete partes, que explica o Qi, ou Chi, o nome chinês para a “força vital” que afeta e anima todos os seres. O episódio também explica as práticas corporais desenvolvidas pelos chineses mediante as suas teorias. Web: https://www.youtube.com/watch?reload=9&v=FQwVyKl7F7w Indicação para Acessar Esta é uma entrevista com a Dra. Denise Benucci de Santana, doutora em His- tória pela Universidade de Paris, autora do livro História da Beleza no Brasil. Ela relata a temática de sua obra, contextualizando os diferentes padrões de beleza adotados ao longo do tempo e as suas influências sociais e culturais. Web: https://www.youtube.com/watch?v=-r5BoCXPHuM Indicação para Acessar Artigo publicado na revista da FAEEBA, que nos traz reflexões sobre como a fi- losofia ocidental vem desenvolvendo o conceito do autocuidado ao longo da nossa história. Web: http://www.uneb.br/revistadafaeeba/files/2011/05/numero10.pdf Indicação para Acessar 34 referências gabarito BRANDÃO, D.; CREMA, R. Visão Holística em Psi- cologia e Educação. Brasília: Summus, 1991. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâme- tros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC; SEF, 1993. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Pa- râmetros Curriculares Nacionais: Educação Física. Brasília: MEC; SEF, 1997. BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: apre- sentação dos temas transversais e ética. Rio de Janei- ro: DO&A, 2000. LAZZAROTTI FILHO, A. et al. O termo práticas corporais na literatura científica brasileira e sua re- percussão no campo da Educação Física. Movimen- to, Porto Alegre, v. 16, n. 1, p. 11-29, jan./mar. 2010. FREIRE, J. B. et al. Educação como Prática Corpo- ral. São Paulo: Scipione, 2003. IMPOLCETTO, F. et al. As práticas corporais alter- nativas como conteúdo da Educação Física escolar. Pensar a Prática, Goiânia, v. 16, n. 1, p. 268-281, jan./mar. 2013. MARIN, G. Os cinco elementos e as seis condi- ções: uma abordagem Taoísta à cura emocional, à psicologia e à alquimia interna. São Paulo: Cultrix, 2010. SIONNEAU, P. A Essência da Medicina Chinesa: retorno às origens. São Paulo: Editora Brasileira de Medicina Chinesa, 2014. Livro I. SOARES, C. L. et al. Metodologia do Ensino da Edu- cação Física. São Paulo: Cortez, 1992. SOUZA, J. C de. “Cuidado de si” e as virtudes: o pa- radigma “terapêutico” da Filosofia. Revista da FAE- EBA, Salvador, n. 10, jul./dez.1998. 1. B. 2. C. 3. E. 4. C. 5. Procure absorver em seu relato a ideia central da proposição das PACs, que é o foco na autopercepção, no autoconhecimento e na criação de novas pos- sibilidades, respeitando sempre a individualidade de cada praticante, sem comparações de resultados e/ou foco na competitividade. UNIDADE II Professora Esp. Érica Fernanda Lopes Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Os princípios do Yoga • Yoga: Filosofia ou Ginástica? • O Yoga na Educação Física Objetivos de Aprendizagem • Apresentar os princípios fundadores do Yoga. • Conceitualizar os aspectos filosóficos e práticos do Yoga, discutir o entrelaçamento dos conceitos. • Discutir os métodos da prática do Yoga na Educação Física. YOGA unidade II INTRODUÇÃO Olá, querido(a) aluno(a)! Nesta unidade, dialogaremos um pouco sobre uma prática da cultura oriental bastante difundida no Ocidente, o Yoga. Essa prática, que surgiu na Índia, inseriu-se na cultura ocidental e se in- corporou ao seu modo de vida. Ela traz consigo aspectos religiosos, filo- sóficos e corporais, solidificando o princípio das terapias holísticas, que partem da ideia de que nós somos o fruto da interação do todo, ou seja, o corpo, o pensamento e as ideias do indivíduo são o próprio indivíduo, e ele está em contato com a natureza a todo o momento, interagindo e atuando sobre ela, ao passo que ela interage e atua sobre ele. Na prática do Yoga, verificamos a possibilidade de domínio sobre a mente e de contato com a divindade, segundo as teorias, por meio de mo- vimentos pré-determinados, os Ásanas, que são posturas próprias de cada estilo. Em conjunto com os Ásanas, são executados diferentes tipos de res- piração que: ou acompanham o movimento ou são executados separada- mente, e também os mantras, que são cantos pronunciados no idioma raiz do Yoga, o sânscrito, além de práticas de aprimoramento da conduta moral. A vinda do Yoga para o Ocidente trouxe-nos possibilidades de co- nhecer uma nova visão sobre nós mesmos. Os seus praticantes dizem que ele se torna um estilo de vida, que engloba desde a alimentação até a maneira de observar os fatos ao nosso redor. A resposta positiva manifesta-se no número crescente de praticantes a cada ano, no Brasil, de acordo com a Revista Exame (BAGDADI, 2011). Temos em torno de 500 mil praticantes dessa modalidade, que buscam, principalmente, o alívio do estresse, a melhora na qualidade de vida e a conexão entre o corpo e a mente. Nesse contexto, como nós poderemos inserir o Yoga em nossas ati- vidades? Quais os benefícios que ela nos traz? Convido você a refletir conosco sobre isso e a pensar em possibilidades de ampliar e enriquecer a prática do dia a dia na Educação Física. 40 PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS Olá, querido(a) aluno(a)! Vamos iniciar os nos- sos estudos sobre o Yoga? Esta é uma prática que surgiu na Índia antiga a cerca de 5 mil anos e se desenvolveu ao longo dos séculos, criando uma tradição extensa e complexa, sendo um ramo das vertentes espirituais do Hinduísmo. O seu sur- gimento deu-se junto com a cultura dos povos Védicos, que possuem as escrituras sagradas mais antigas já descobertas, os Vedas. Inicialmente, a prática surge como técnica de controle mental e de respiração, incluindo o canto dos mantras com o objetivo de adoração e contato com as suas divindades. Com o passar dos tem- pos, surgiram os Ásanas, que compõem a prática corporal do Yoga. Segundo os seus princípios, a união desses elementos promove a elevação espi- ritual do ser, colocando-o em contato com as di- vindades por meio da disciplina da prática. Os Princípios do Yoga EDUCAÇÃO FÍSICA 41 Existem vários estilos diferentes de Yoga de- pendendo da cultura espiritual em que ele se inse- re, sendo dividido, segundo Feuerstein (2005), em três grandes formas: o Yoga Hindú, o Yoga Budista e o Yoga Jaina, e dentro de cada uma dessas culturas espirituais, a prática assumiu sete principais estilos, definidos por sua finalidade: 1. Raja-Yoga Também chamado de Pâtanjala- -Yoga ou Yoga Clássico (Yoga Real). 2. Hatha-Yoga (Yoga da força). 3. Karma-Yoga (Yoga da ação). 4. Jnâna-Yoga (Yoga da sabedoria). 5. Bhakti-Yoga (Yoga da devoção). 6. Mantra-Yoga (Yoga dos sons poderosos). 7. Tantra-Yoga (Yoga da continuidade) que in- clui o Kundalinî-Yoga (Yoga do poder da ser- pente) e o Laya-Yoga (Yoga da dissolução). No transcorrer dos séculos, contudo, o Yoga foi se de- senvolvendo em teoria e prática, seguindo a evolução de seus mestres. Segundo Barros et al. (2014), Patan- jali, um dos principais mestres yogues, sistematizou, no século II a. C., os oitos passos seguidos até hoje: 1. Yama, as abstinências (não violência, vera- cidade, honestidade, não perversão do sexo, desapego). 2. Niyama, as regras de vida (pureza, harmonia, serenidade, alegria, estudo). 3. Ásanas, as posições do corpo. 4. Pranayama, o controle da respiração. 5. Pratyahara, o controle das percepções senso- riais orgânicas. 6. Dharana, a concentração. 7. Dhyana, a meditação. 8. Samadhi, a identificação. 42 PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS do Yoga é recente se comparado aos seus 5 mil anos de história documentada. No Ocidente, ele surge em 1983, com a chegada do Swami Vivekananda aos Estados Unidos, quando ele proclamou os méritos do Yoga no Parlamento do Mundo das Religiões, em Chicago, Illinois. Desde então, grandes nomes do Yoga começaram a chegar e a se destacar nesse país, trazendo as suas técnicase os seus ensinamentos. Também podemos citar Pa- ramhansa Yogananda, em Boston, nos anos 20, e a “primeira dama do Yoga” das Américas, Indra Devi, na Califórnia, em 1947 (SIEGEL; BARROS, 2013). No Brasil, a chegada do Yoga deu-se oficialmen- te em 1936, com a vinda do francês Swami Asuri Ka- pila a Porto Alegre. Desde então, a prática caminha a passos largos, se adequando e se refazendo na cul- tura ocidental. A formação de um yogue, na Índia, dá-se por meio de um mestre, com anos de estudos/ prática, transmitindo os ensinamentos para o seu discípulo, que também, após anos de formação, está apto a se tornar mestre. Figura 1 - Swami Asuri Kapila Fonte: Escuela Internacional de Yoga ([2019], on-line)2. Todas essas vertentes têm como princípio a discipli- na da prática e o conceito de que o indivíduo pos- sui mais do que um corpo, mas também tem uma consciência infinita capaz de realizar grandes ações, desde que ela seja submetida à disciplina do autoco- nhecimento. As práticas são as ferramentas para que esta transcendência ocorra. Atualmente, o Hatha-Yoga é o estilo mais difun- dido no Ocidente e abrange a prática dos Ásanas, que é a parte física do Yoga. A grande crítica dos yogues tradicionais em torno deste fato é a de que o Yoga passa a ser puramente um método de ginás- tica, não adentrando a sua dimensão espiritual, que abrange o ser como um todo. A esse respeito Feuers- tein (2005, p. 19), ainda nos aponta que: O mais importante é que as posturas são so- mente a “pele” do Yoga. Por trás dela se ocultam a “carne e o sangue” do controle da respiração e das técnicas mentais, que são ainda mais difí- ceis de se aprender, além de práticas morais que exigem toda uma vida de perseverante aplica- ção e correspondem ao esqueleto do corpo. As práticas superiores da concentração da medita- ção e do êxtase unitivo (Samâdhi) são análogas ao sistema circulatório e nervoso. Dentro desse contexto, podemos compreender o Yoga como um sistema complexo que perpassa, em sua proposta, as condições físicas para um estilo de vida, integralizando o conceito holístico que tanto citamos nesta obra. Porém devemos compreender que vivemos em uma sociedade com hábitos cultu- rais diferentes, os quais não dão, em maior parte, as condições de dedicar uma vida ao Yoga, como fazem os mestres hindus. Por essa razão citada anteriormente, podemos adequar os benefícios dessa prática ao nosso cotidia- no, até porque, em nossa civilização, o surgimento EDUCAÇÃO FÍSICA 43 Aqui no Brasil, e no Ocidente como um todo, esse processo foi acelerado com o surgimento das escolas de Yoga que ministram cursos para a formação de professores ou instrutores. Hoje existem federações e associações que regulamentam e norteiam a práti- ca pelo país. Na literatura, temos como pioneiros o professor José Hermógenes de Andrade Filho e o ge- neral Caio Miranda, ambos de vertente militar, que iniciaram a produção literária no país. Desde então, o número de adeptos cresce cada vez mais. Diante desse crescimento expressivo, podemos nos questionar: O que as pessoas têm buscado com a prática do Yoga? A provável resposta a essa pergunta pode estar nos hábitos de vida desenvolvidos com a modernidade que, apesar de nos proporcionarem maior conforto, trazem consigo problemas, como: o aumento do índice de estresse e de ansiedade, de- vido ao ritmo de vida mais intenso e ao excesso de ocupações que nos são impostas. Nesse sentido, deparamos-nos, no Yoga, com uma filosofia avessa a essa vivida por nós. A filoso- fia yogue prega a mudança de hábitos insalubres e de estilo de vida, desde a alimentação até condutas morais. De acordo com o livro sagrado Bhagavad Gita (2009, p. 47), “aquilo que se chama renúncia é o mesmo que yoga, ou união com o Supremo, pois somente pode tornar-se um yogi quem renuncia ao desejo do gozo dos sentidos”. Aqui, vemos que, dentre os seus princípios, o domínio da mente é o agente principal, pois, aprendendo a controlá-la, dominamos as nossas paixões e conquistamos o equilíbrio em nossa existência. De acordo com o mestre yogue Pra- bhupada (2012, p. 35), “Enquanto a pessoa não puder controlar a mente, fica afastada qualquer hipótese de elevação. O corpo é como uma carru- agem, a mente é o cocheiro”. Assim, o sistema yogue destina-se ao controle dos sentidos: se a mente está acima deles, ela está controlada, e todo o restante também estará. O ver- dadeiro yogue controla as suas atividades sensuais e as coloca a seu favor, de modo a potencializar as suas atividades essenciais, pois consegue limpar a mente das distrações. Figura 2 - José Hermógenes de Andrade Filho Fonte: Alimento e você (2015, on-line)3. Figura 3 - General Caio Miranda Fonte: Skoob ([2019], on-line)4. 44 PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS O domínio da mente, segundo os princípios da filo- sofia yogue, liberta-nos do controle das necessida- des físicas, em que somos dominados pelos nossos ímpetos, pelas vontades e emoções desregradas, como a raiva e a euforia, que nos tornam reféns de nossos próprios impulsos, afastando-nos do nosso verdadeiro propósito de evolução. O mestre Prabhupada (2012, p. 107) ainda nos aponta que “a pessoa sóbria que pode tolerar a von- tade de falar, as exigências da mente, as ações da ira e as exigências da língua, do estômago e dos órgãos genitais está qualificada para fazer discípulos no mundo inteiro”. EDUCAÇÃO FÍSICA 45 Dessa maneira, estamos diante de uma tradição mi- lenar que se espraia para as dimensões físicas, no sentido de manutenção e desenvolvimento do cor- po, a dimensão mental, no sentido de dominar a mente e as paixões que nos desviam do verdadeiro propósito de vida, e a dimensão espiritual, que nos conecta com a divindade, ao passo que ganhamos autonomia do materialismo que nos prende. O Yoga torna-se uma ferramenta importante dentro das PACs, pois ele traz arraigado, em sua fi- losofia, os conceitos mencionados na unidade ante- rior: o holismo na visão do meio e do ser como um todo integrado. 46 PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS Yoga: Filosofia ou Ginástica? EDUCAÇÃO FÍSICA 47 Atualmente, no Ocidente, deparamos-nos com a crescente procura pela prática do Yoga, assim como o considerável aumento no número de escolas de formação de professores e/ou instrutores e também o intercâmbio entre os dois hemisférios. Quando trazido ao Ocidente, inicialmente, nos Estados Unidos, o sistema yogue teve que passar por transformações para se adequar à realidade cultu- ral aqui existente. A sua complexidade em relação à prática física foi bem assimilada, porém, no tocante às questões espirituais, há algumas diferenças con- sideráveis. Definir o que é o Yoga pode ser uma tarefa difícil para nós, ocidentais, em razão da diferença cultural, tendo em vista que a Índia antiga tem o misticismo espiritual como princípio norteador de suas condu- tas morais desde os primórdios da formação de sua civilização. A palavra Yoga, que se origina do sânscrito an- tigo, significa “união”, referindo-se à união entre a consciência individual e a suprema. Dessa forma, a prática, na visão hinduísta, é o caminho para que essa união se concretize. Todos aqueles que desejam buscar a união com o supremo devem integrar-se à prática, vivenciando todos os seus aspectos. É im- portante, nesse sentido, considerar a complexidade religiosa que aquela região possui. Em sua origem, o Yoga torna-se uma filosofia de vida, em que o praticante se reconhece como par- te integrante de um Ser (energia) supremo, com o objetivo da satisfação do todo completo. De acordo com os seus escritos, estamos separados de nossa origem divina, pois a nossa mente está ocupada de- mais nos afazeres, como a aquisição de conforto e bens materiais. Seria, então, necessário nos libertar das falsas necessidades que possuímos e nos alinhar com a verdadeira potencialidade do ser, revelada pe- las escrituras sagradas. Em sua origem, o Yogatornou-se um caminho para esse encontro transcendental para libertar a mente de todo o obscurecimento na busca da reali- zação de si mesmo, por meio da união com o todo (espiritualidade). Os seus caminhos denotam a forte conotação espiritual, filosófica e terapêutica, pois o equilíbrio da mente manifesta-se também no corpo físico, equilibrando-o igualmente. No Ocidente, porém, encontramos fins diferen- ciados para a prática. A sua finalidade principal está atrelada à melhora na qualidade de vida, promo- vendo a união da filosofia com a saúde, relacionada tanto a fatores físicos como psíquicos. Estes aspectos são amparados por inúmeras pesquisas na área da saúde em que se comprovam a melhora de doenças por meio da prática. 48 PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS Um estudo realizado por Siegel e Barros (2013) revelou-nos os diversos benefícios que a prática regular do Yoga pode trazer, benefícios esses que perpassam os aspectos bio-psico-sociais, a saber: Contribuições sociais: associadas à constru- ção de uma nova so- ciabilidade. Contribuições filosóficas: o desenvolvi- mento da capacidade contemplativa e a expansão da percepção da totalidade, que constituem a base do movimento holístico, assim como a noção do cuida- do integral (dimensões biológica, psico- lógica, sociológica e espiritual). Contribuições físicas: o enco- rajamento a dietas mais sau- dáveis e o estímulo à consci- ência corporal, especialmente em relação ao envelhecimento e às doenças crônicas. Reeducação de hábitos associa- dos aos vícios legais (medicação, alimento, álcool, tabaco, traba- lho, sexo etc.) e ilegais (drogas ilícitas, jogo etc.). Desenvolvimento de cultu- ra de paz (prática da não violência) e de estilos de vida e valores que promo- vem a maior tolerância en- tre grupos étnicos, gêneros e classes sociais. EDUCAÇÃO FÍSICA 49 Assim, a prática dos Ásanas, no Hatha Yoga, o estilo mais difundido no Ocidente, ganha especial desta- que no meio terapêutico em função dos inúmeros benefícios que ela traz. Além de seus fundamentos morais que, por sua vez, norteiam, filosoficamente, a vida do praticante. Estamos diante de um sistema milenar que se ade- quou às necessidades sociais de cada época e que é de grande valia nos dias atuais, assim como foi nos seus primórdios. Os seus ensinamentos atravessa- ram o tempo, oportunizando a harmonia entre o corpo e a mente. Ele serve tanto para aqueles que o praticam como método ginástico quanto para aque- les que buscam a influência espiritual mais profunda em diferentes tempos da história e em diferentes lo- cais do globo. 50 PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS Caro(a) aluno(a), diante dos aspectos já discutidos sobre a Educação Física em seu cenário atual, refle- tiremos um pouco sobre como podemos entrelaçar aos seus conteúdos um sistema milenar com carac- terísticas e princípios próprios, os quais antecedem, em termos de história, a nossa disciplina em pauta. Iniciaremos pelas semelhanças entre ambas. O sistema Yogue, como dito anteriormente, propõe, em sua essência primária, a busca pela transcendên- cia da consciência puramente material, unindo-nos ao divino que há em nós e nos levando ao encontro da divindade suprema, tendo os componentes espi- ritual e filosófico fortemente presentes. O caminho para essa transcendência, contudo, tem como veículo principal o corpo e, consequen- temente, as suas manifestações. Inserido na cultura ocidental, este caráter religioso do Yoga perde um pouco a sua força, tendo em vista o modus operandi de nossa sociedade. Aqui, o Yoga modifica-se na sua forma de se apresentar diante de novas necessidades, porém, a sua essência espiritual deve ser mantida para não haver descaracterização. O corpo, aqui, é a ferramenta para essa busca, o “instrumento” pelo qual o indivíduo dá abrigo à sua consciência que, por sua vez, alberga a nossa mente, e ela, por sua vez, se manifesta segundo cada indivi- O Yoga na Educação Física EDUCAÇÃO FÍSICA 51 dualidade. A mente em questão tem uma ação direta sobre o nosso corpo, que responde a seus estímulos, executando as emoções manifestadas por ela. Para Dethlefsen e Dahlke (2007, p. 17, grifos dos autores): A doença é um estado do ser humano que indi- ca que, na sua consciência, ela não está mais em ordem, ou seja, na consciência, registra que não há harmonia. Essa perda de equilíbrio interior se manifesta no corpo como um sintoma. Sen- do assim, o sintoma é um sinal e um transmis- sor de informação, pois, com seu aparecimento, ele interrompe o fluxo de nossa vida e nos obri- ga a prestar-lhe atenção. Dentro dessa perspectiva, o corpo é a ferramenta pela qual nos manifestamos e interagimos com o mundo material. Dessa forma, corpo e mente estão contidos um no outro, sob mútua influência, o cor- po somatiza em si os desequilíbrios da mente, e esta responde às necessidades biológicas do corpo, e toda essa teia complexa de relações formam o indivíduo. Esse indivíduo, por mais que possua característi- cas semelhantes oriundas de hábitos e aspectos bio- lógicos, faz-se também um ser único e diferenciado no que tange às questões íntimas de sua personalida- de e de sua mente. Os seus desejos, emoções, anseios e reações diante de determinadas circunstâncias, os seus apegos e relações com os demais são próprios do desenvolvimento de cada um. Esse desenvolvimento tem origens em questões sociais, familiares, hereditárias e educacionais, assim como na sua personalidade. É desse aspecto pessoal e íntimo que o Yoga e as demais práticas alternativas tratam, desse aspecto único de cada um e que não pode ser ignorado na formação dos indivíduos. Na formação de valores individuais e coletivos, no desenvolver da relação do indivíduo consigo mes- mo por meio do autoconhecimento, na relação com meio no qual ele está inserido e na sua manifestação com esse meio, bem como o encontro da satisfação pessoal, fazem parte dessa busca que essas práticas tanto preconizam. Na harmonia interna e no equilí- brio de suas paixões é que encontramos a verdadeira paz manifesta, de acordo com tal filosofia. Assim, a Educação Física, que também tem o corpo como objeto de estudo, possui a possibilida- de de espraiar a sua atuação. Ao longo dos últimos anos, ampliou-se a discussão, dentro desse campo, sobre as limitações de tratar um corpo puramente orgânico. É crescente a busca pela ampliação desse conceito, considerando todos os aspectos que per- meiam o indivíduo ao tratar de seu corpo. A visão holística tem ganhado espaço dentro da Educação Física, ao passo que verificamos a força desse movimento na área da saúde. Hoje, o conceito de ampliar os olhares sobre o indivíduo é forte nesse campo, pois percebemos a necessidade de integrali- zar os aspectos mentais, sociais e biológicos na bus- ca da desfragmentação e da construção de uma nova visão sobre o todo que permeia a vida do indivíduo. Atualmente, o Yoga é aceito pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e está incluso na Política Nacional de Práticas Alternativas e Complementa- res (PNPIC). Este fato tem popularizado cada vez 52 PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS mais a prática e levado os seus benefícios para uma vasta gama de pessoas em toda a sociedade. No Brasil, temos políticas públicas que adotam a prática no Sistema Único de Saúde (SUS), obtendo satisfatórios resultados na prevenção de doenças e na melhora da qualidade de vida, por meio da redu- ção do estresse e da ansiedade em seus pacientes. No âmbito educacional, tem sido comum, nas escolas, a adoção da prática da Yoga como estratégia de atu- ação, principalmente no trato de questões compor- tamentais. A esse respeito, Moraes e Balga (2007, p. 60) apontam que: A Yoga, nesse sentido, não vem resolver todo o problema da indisciplina e relacionamento interpessoal, e sim, buscar a integração corpo- -mente como forma de harmonizar seus senti- mentos, buscando uma transformação em seucomportamento, a fim de ser menos agressivo, ansioso, mais consciente de si, de sua impor- tância no mundo, aumentando sua auto-estima e tornando o indivíduo um ser mais sereno e estruturado. vida agitada e à carência de afetividade em meio aos problemas sociais em todas as classes, aspectos esses que nos colocam em derrocada. O Yoga, nesse caso, não deve ser pontuado como uma visão salvacionista para tais questões, mas sim, como um recurso de forte influência, que tem al- cançando resultados cada vez mais satisfatórios ao promover a melhora no controle emocional e no co- nhecimento de si mesmo, e que também promove transformações internas nos indivíduos, fato que se reflete, consequentemente, na vida em conjunto. COMO INSERIR O YOGA NA PRÁTICA DIÁRIA? Desse modo, vemos que a integralização entre as questões psíquicas e físicas é uma boa ferramenta para alcançarmos os nossos objetivos de vida. Depa- ramos-nos cada vez mais com problemas relaciona- dos à conduta emocional, ao estresse do dia a dia, à Neste momento, você deve estar se perguntando: Como inserir toda essa gama de conteúdos e con- ceitos na minha prática diária? Primeiramente, devemos pensar que, no ambiente de intervenção onde estamos, seja ele na escola, no clube, nos even- tos, nas academias, nas praias, nos parques, dentre outros, independentemente de qual seja o local, os conteúdos devem ser selecionados de acordo com o nível de maturidade e de preparação do público-alvo para que, dessa forma, os seus benefícios sejam me- lhor aproveitados. EDUCAÇÃO FÍSICA 53 Nesse contexto, que tal iniciar com uma boa con- versa, explorando o conhecimento que eles já pos- suem sobre o tema, ao passo que expõe aquilo que eles verão de novo? As curiosidades e particularida- des da prática? Obviamente, nos aprofundaremos no assunto de acordo com o interesse e o grau de com- preensão do grupo. Podemos iniciar com a realização de posturas básicas, com Ásanas de fácil execução. A seguir, ci- tamos alguns exemplos dentre tantas possibilidades que podemos encontrar, de acordo com cada estilo e com o objetivo pretendido com a prática. 1. Tadasana ou Postura da Montanha: o praticante se coloca em pé, ajustando a sua postura, distribuindo o peso igualmente sobre ambos os membros, sem for- çar, buscando a naturalidade da disposição do corpo, ao passo que inicia a respiração fluída e suave, com entrada e saída de ar pelas narinas. Os braços ficam paralelos ao corpo, a coluna alongada, os ombros rela- xados, e pode-se fechar os olhos. É uma ótima postura para trabalhar o equilíbrio físico e mental e observar o fluir da energia pelo corpo. 2. Ardha Uttanasana ou Postura de Meia Flexão para a Frente: nesta posição, recomenda-se manter o abdome em contração para proteger a coluna lombar, flexionar o tronco para frente, levando ambas as mãos em dire- ção ao solo, recuando os ombros para trás e mantendo a tração na musculatura das pernas, o olhar se volta para o chão e leva o foco para a respiração. Aqui se bus- ca a resignação por meio da flexibilidade para se curvar diante da vida. 54 PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS 5. Virâsana ou Postura do Herói: nesta postura, o pratican- te senta-se sobre os calcanhares, mantendo a extensão das pernas na parte anterior, e o tronco ereto, apoiando o dorso dos pés no chão, as mãos são sobrepostas aos jo- elhos, mantendo os ombros relaxados. Ela alonga a parte frontal das pernas, fortalece o abdome inferior e trabalha a tranquilidade e o equilíbrio. 3. Adho Mukha Svanasana ou Postura do Cachorro de Ca- beça para Baixo: esta é uma postura bem tradicional na prática do Yoga, considerada uma postura de transição, é executada várias vezes durante a prática do modo Vinya- sa. Neste Ásana, o peso do corpo deve ficar bem distribu- ído ao longo das mãos e do pé, com os dedos afastados, os calcanhares podem, ou não, tocar o solo. O pescoço deve estar relaxado, e o olhar direcionado para a região do umbigo. Esta postura permite concentrar maior flu- xo de energia (Qi ou Prana) para a cabeça, acalmando e trazendo serenidade, além de fortalecer e alongar toda a musculatura da região posterior do corpo. 4. Ardha Bhujangasana ou Meia Postura da Cobra: esta posição deve ser executada em decúbito ventral, com os braços flexionados, os antebraços apoiados no chão e paralelos ao corpo. Eleva-se o tórax do chão, promoven- do a flexão posterior do tronco, enquanto os glúteos se mantêm contraídos, e as pernas, ligeiramente afastadas, mantendo os pés em flexão plantar. Esta postura abre a região da garganta, abrindo a comunicação e liberando o fluxo de energia da região, ao passo que alonga o peitoral e fortalece a região lombar. EDUCAÇÃO FÍSICA 55 Para a execução da prática, o uso de tapete de Yoga ou de colchonetes e almofadas adequadas também é recomendado. Porém cada professor/instrutor deve- rá adequar a sua prática de acordo com o espaço e o material que possui, pois o elemento mais importan- te para a prática é o próprio praticante. Na prática do Yoga, observamos que cada Ásana trabalha aspectos físicos, emocionais e mentais ao mesmo tempo. Existem gru- pos de Ásanas que, quando praticados em conjunto, formam sequências com nomes e funções específicas, por exemplo, a Saudação ao Sol ou Surya Namaskara, que se refere ao simbolismo entre o sol e a alma, celebrando o nascer de cada dia. Fonte: a autora. SAIBA MAIS Muitos associam as posturas do Yoga a movimen- tos de animais, como o alongamento do cachorro, o andar do crocodilo, a respiração do gato e assim por diante, tudo o que a imaginação possibilitar. O ambiente também deve ser pensado, de preferência, um local limpo, tranquilo e bem ventilado e, além disso, os alunos devem estar à vontade, com roupas confortáveis para não inibirem o movimento e com os pés descalços. Deste modo, outro aspecto a ser considerado é que, ao abordar, principalmente crianças ou adoles- centes, o elemento lúdico deve se fazer presente a todo momento, principalmente na primeira infân- cia. Ele torna a aula mais atrativa e divertida, pois, por meio dele, expressamos os valores contidos em nosso modo de vida. Para Laville e Dionne (1999, p. 94), as atividades lúdicas “são representações men- tais, representações do que é bom, desejável, ideal, de como as coisas deveriam ser ou procurar ser, são preferências, inclinações, disposições, para um esta- do considerado desejável”. Não se deve cobrar a perfeição na execução dos mo- vimentos, o praticante deve estar à vontade dentro do Ásana, respeitando os seus limites físicos e men- tais. A complexidade deve ser inserida ao longo da prática segundo as limitações de cada um. Os exercícios respiratórios ou Pranayamas são de grande importância, já que o contato com a res- piração acalma, desacelera a pulsação cardíaca e melhora a concentração, reconectando-nos conos- co. Técnicas meditativas de visualização também são bastante utilizadas, esse meio explora a capacidade imaginativa e de criação, além de facilitar a condu- ção da mente para o relaxamento mais profundo. 56 PRÁTICAS CORPORAIS ALTERNATIVAS Existem diferentes maneiras de abordar o Yoga e manter a fidelidade ao método é de grande impor- tância para que a sua essência não se perca, porém cabe a cada profissional orientar de acordo com a realidade apresentada e direcionar a prática para a finalidade útil aos participantes, lembrando sempre que o Yoga é uma importante ferramenta de autoco- nhecimento e de descobertas das novas potenciali- dades. Utilize-a com sabedoria! Para Marin (2010, p. 88): “Nossa respiração é a ponte interna que conecta todos os ní- veis da consciência em nosso interior.” Isto nos estimula a refletir sobre a importância da respiração na prática do Yoga e de outras modalidades. Fonte: a autora. SAIBA MAIS 57 considerações finais Nesta unidade, discutimos brevemente sobre o Yoga, tendo em vista que este é um assunto extenso,
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