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Prova 3 – Genética Médica – 2021/2 Medicina Ufes - Turma 107 Nome: Lucas Brumatti Setubal 09/03/2022 1) Descreva a MEN1 e MEN2: características clínicas, diagnóstico, manejo, acompanhamento e tratamento. A MEN1 é a mais comum entre as síndromes endócrinas, cujo padrão de herança é autossômico dominante, que ocasiona maior predisposição aos tumores endócrinos, denominada Neoplasia Endócrina Múltipla do Tipo 1. Nesta síndrome, tem-se três apresentações clínicas principais, são elas: o adenoma de pituitária, o hiperparatireoidismo primário e os tumores neuroendócrinos primários. Vale destacar que essa síndrome é causada por um gene supressor de tumor com o mesmo nome da síndrome, o MEN1. Primeiro, o adenoma de pituitária ocorre em cerca de 20% dos portadores da síndrome e pode ser funcional, ou seja, produzir hormônios, ou não ser funcional, isto é, não produz hormônios. Em casos de adenoma funcional, a denominação se refere conforme o hormônio produzido, como, por exemplo, ao produzir prolactina, o nome que se dá é prolactinoma. Ademais, nos casos em que ocorre indução à produção de GH e ACTH, tem-se a apresentação típica de acromegalia e Síndrome de Cushing, de modo respectivo. Segundo, o hiperparatireoidismo primário encontra-se em quase todos os casos de MEN1 sendo identificado por paratireoides hiperplásicas e alterações hormonais, tal como aumento sérico de paratormônio. Terceiro, os tumores neuroendócrinos primários ocorrem em cerca de 80% dos casos, de maneira que podem ou não ser funcionais, consoante o critério supracitado. Nesse contexto, há de se considerar a maior frequência da indução à produção de insulina (insulinoma), gastrina (gastrinoma), glucagon (glucagoma) e peptídeo intestinal vasoativo (vipoma), bem como demais características clínicas, tal como o surgimento de gastrinoma duodenal, adenoma de adrenal, angiofibromas, colagenomas e tumor neuroendócrino de pulmão e timo. Com relação ao diagnóstico da síndrome, é importante verificar se há hiperfunção de paratireoide, nos casos de hiperplasia, levando à alteração na concentração de paratormônio, cálcio e vitamina D, bem como observar se há adenomas da hipófise, por meio dos níveis de prolactina, pâncreas e paratireóide, associado ao histórico familiar de síndromes endócrinas. Nestes casos, a confirmação deve vir acompanhada de teste genético. O acompanhamento e manejo se dão por intermédio da análise sérica anual dos níveis hormonais de prolactina, vitamina D, cálcio e PTH, e, também, por ressonância magnética da hipófise a cada três anos. Ademais, em certos casos, pode-se realizar ressonância magnética do abdômen e endoscopia, de modo a rastrear possíveis tumores neuroendócrinos e gastrinomas duodenais. Sobre o tratamento, a via cirúrgica é utilizada, na possibilidade de realizar a paratireoidectomia se necessário for, assim como a utilização de medicamentos para promover o equilíbrio hormonal e, em certos casos, radioterapia. O MEN2 é uma síndrome bem mais agressiva que a citada anteriormente, também é de padrão de herança autossômico dominante, cujo gene causador é o RET, uma categoria de proto-oncogene. É importante ressaltar que esse é um dos pouquíssimos casos em que um proto-oncogene provoca uma síndrome hereditária com predisposição ao câncer. Além disso, o MEN2 se subdivide em tipo A e B. O primeiro subtipo (A) possui como características clínicas o hiperparatireoidismo em um quarto dos casos, o carcinoma medular de tireoide, que possui alto poder metastático e geralmente é fatal, assim como o Feocromocitoma que está presente em cerca de metade dos casos. O segundo subtipo (B) possui também as mesmas características do subtipo A, porém adicionalmente, o surgimento de carcinoma medular de tireóide ocorre em quase todos os pacientes ainda no primeiro ano de vida. Além disso, os pacientes com o subtipo B podem apresentar “habitus” marfanóide, isto é, a aparência vista em pessoas com Síndrome de Marfan. Cabe ainda pontuar a necessidade de realizar o acompanhamento das famílias que possuem predisposição genética a ter a síndrome, bem como realizar o diagnóstico precoce em crianças para se ter o tratamento adequado. Deve-se suspeitar no caso de famílias com dois ou mais casos de câncer medular da tireoide sem evidência de problemas na paratireoide ou em glândulas supra-renais, bem como nas situações em que há pelo menos dois ou três tumores comuns, como Feocromocitoma ou Adenoma de paratireóide em um familiar próximo. O teste genético poderá ser solicitado, buscando mutações no gene RET. 2) Explique como os tipos histopatológicos de tumores renais podem nos orientar quanto a possível síndrome associada ao tumor. Em primeira análise, é válido investigar as tumorações e verificar se estas possuem caráter hereditário, o que influenciará a conduta médica, principalmente no que tange aos demais membros de uma família, se houver a confirmação da hereditariedade. No contexto de tumores renais, pode-se destacar a relevância de investigação histopatológica referente ao diagnóstico de síndromes genéticas, já que a categoria de tumor está relacionada especificamente com a síndrome. Segue abaixo uma tabela referente aos genes, síndromes e tumores, com fotos de lâminas histopatológicas. Gene(s) envolvido(s) Síndrome Característica Tumor(es) VHL Síndrome de Von Hippel Lindau Tumor renal de células claras Met Síndrome do Carcinoma Papilar Hereditário Carcinoma papilar tipo 1 FLCN Síndrome de Birt Hogg Dube Cromófobos, oncocitomas ou híbridos, respectivamente Fumarato hidratase (FH) Síndrome da Leiomiomatose hereditária e Carcinoma de células renais Carcinoma papilar tipo 2 TFE3, TFEB ou MITF Tumor do tipo TFE3, TFEB ou MITF TSC1 ou TSC2 Síndrome da Esclerose tuberosa (tipo 1 e 2) Angiomiolipoma SDHB, SDHC ou SDHD Síndrome do Paraganglioma e Feocromocitoma hereditário Tumores renais oncocítico PTEN Síndrome de Cowden Tumor de células claras e cromófobos Portanto, existem inúmeras tumorações renais relacionadas a síndromes, ou seja, é preciso realizar o diagnóstico histopatológico para saber, de fato, a qual síndrome a tumoração está relacionada. Dessa forma, o diagnóstico correto servirá para direcionar a conduta clínica mais adequada possível para o manejo do paciente, embora seja comum o tratamento inadequado dos carcinomas renais, bem como recomendada a cirurgia de nefrectomia, ainda que não seja necessária. 3) Descreva (características clínicas, diagnóstico, manejo, acompanhamento e tratamento). a) Von Hippel Lindau A síndrome de Von Hippel Lindau é a mais comum dentre as de predisposição ao câncer renal, sendo seu padrão de herança autossômico dominante. A sua principal característica clínica é a presença de tumorações renais, mas os portadores também apresentam angioma de retina, hemangioblastoma do cerebelo e da espinha (em até 70% dos casos), feocromocitoma (em cerca de 15% dos casos), tumor renal de células claras, tumores do saco endolinfático, cistos pancreáticos, tumores neuroendócrinos do pâncreas, cistoadenoma de epidídimo. O diagnóstico é feito conjuntamente ao verificar as apresentações clínicas e o teste genético, com foco em identificar mutações no gene VHL, no sítio do cromossomo 3p25. Com relação ao acompanhamento do paciente, deve-se realizar ressonância magnética cerebral, coluna vertebral e abdômen, com periodicidade de dois anos, assim como exame oftalmológico e audiológico. Ademais, vale citar que atualmente o diagnóstico de Von Hippel Lindau é muito simples, por meio do uso de painéis, de modo que em cerca de 90% dos casos há mutação no gene VHL, isto é, pode-se realizar o diagnóstico molecular. Em se tratando do manejo e tratamento, o paciente deve ser monitorado por exames de imagem, de modo a verificar o crescimento tumoral, já que a retirada cirúrgica do tumor depende do critério relativo ao tamanho do tumor. Neste caso, como os tumores renais são bilaterais, multifocais,de crescimento lento e baixo índice metastático, utiliza-se a regra dos três centímetros, ou seja, ao chegar nesse tamanho, retira-se apenas o tumor, preservando a maior parte possível do rim, já que o paciente precisará realizar novamente a mesma cirurgia ao longo da vida. Por fim, deve-se orientar o paciente acerca da possibilidade de ter filhos com essa síndrome, dado o padrão de herança. b) Birt Hogg Dube A Síndrome de Birt Hogg Dube é causada pelo gene Foliculina (FLCN) em praticamente 94% dos portadores, tendo o padrão de herança autossômico dominante, podendo ser uma síndrome esporádica ou hereditária, mutações com alteração do quadro de leitura, mutações e, em menor proporção, deleções. As suas principais características clínicas são: tumores renais de aspecto cromófobo, híbrido e oncocítico, com a possibilidade de haver a mistura de linhagens contendo, inclusive, células claras. Além disso, outras apresentações clínicas como fibrofoliculomas no nariz, testa e tórax, aparecem em cerca de 84% dos portadores em torno dos vinte anos. Curiosamente, também é observado pneumotórax espontâneo, episódios de dor por pneumotórax, sem causa aparente. Com relação ao diagnóstico dessa síndrome, primeiro há a análise das características clínicas e depois há a realização de testagem genética, por meio do sequenciamento do gene FLCN, encontrado na imensa maioria dos portadores da síndrome. Em se tratando de manejo e tratamento, e considerando que os tumores dessa síndrome não são tão agressivos, vale-se da regra dos três centímetros, citada anteriormente, de modo a analisar o tamanho do tumor e preservar o máximo das estruturas renais. Ademais, para acompanhamento, também é realizada a ressonância magnética do abdômen a cada dois anos, de modo a verificar se existem novos tumores e medir o tamanho dos tumores já existentes. c) Leiomiomatose Hereditária e Câncer Renal A Síndrome de Leiomiomatose Hereditária e Câncer Renal é ocasionada devido à variante patogênica do gene fumarato hidratase (FH) em 93% dos casos. É uma síndrome bem agressiva, em que os portadores apresentam leiomiomas cutâneos em várias partes do corpo, e de Leiomiomas uterinos, chamados “fibroids” em inglês e de miomas no Brasil. Além disso, outra forma de apresentação é o carcinoma renal e a hiperplasia da adrenal (em 8% dos pacientes). Outra manifestação cutânea é o piloleiomioma do eretor do pelo, ou seja, é preciso estar atento à avaliação da pele, assim como em pacientes com múltiplos miomas uterinos. O diagnóstico dessa síndrome é testagem genética, em torno do gene FH, de modo que essa busca seja realizada aos oito anos, conforme a diretriz estadunidense, ou antes, dos dezesseis anos, seguindo a diretriz europeia, visto que, geralmente, nessa idade os portadores já apresentam o tumor renal. Além disso, o acompanhamento consiste em realizar ressonância magnética anual, com maior proximidade entre as fatias de corte, para serem mais finos, com cerca de 1 mm, de modo que a identificação seja facilitada. Ademais, cabe também investigação histopatológica, em que o médico patologista deverá buscar núcleos orangeofílicos. Com relação tratamento e manejo é importantíssimo ressaltar que nessa síndrome, por ser muito agressiva e de rápida metastatização, não se utiliza a regra dos três centímetros, ou seja, é preciso operar assim que possível. Dessa maneira, pode ser recomendada a realização de histerectomia em casos de miomas no útero e de nefrectomia em se tratando de carcinomas renais. d) Feocromocitoma e Paraganglioma Hereditário A síndrome de Feocromocitoma e Paraganglioma Hereditário é autossômica dominante, causada por mutação no gene succinato desidrogenase (SDH), podendo ser do tipo A, B, C, D e AF2. É importante destacar que grande parte dos pacientes com Paraganglioma são portadores da síndrome. Ao analisar de forma um pouco mais específica, a succinate B é o gene que provoca a variante sindrômica mais agressiva se comparada às demais. Em síntese, tem-se a causada por SDHA (forma mais branda) e a causada por SDHB (mais grave), enquanto a variante SDHD e a SDHAF2 só herdam a síndrome ao receberem o gene do pai, isto é, não herdam da mãe, situação em que a genética caracteriza como imprinting. Com relação às tumorações, são principalmente do tipo Paraganglioma e têm cerca de 80% de chance de surgirem, mas também Feocromocitoma e tumor renal oncocítico, bastante agressivo. Além disso, há tumores da hipófise e os tumores gastrointestinais estromal (GIST). Na síndrome SDH, a variante B é a que mais provoca tumores malignos, seguida da variante D, enquanto as demais são de menor risco. Acerca do diagnóstico, é feito por testagem genética, já que cerca de 30% dos pacientes com Feocromocitoma e Paraganglioma apresentem essa síndrome de origem hereditária, ou seja, mesmo que não haja histórico familiar significativo, a testagem é indicada nos pacientes cujos sinais e sintomas clínicos forem compatíveis com a síndrome. Sobre o acompanhamento e o manejo, deve-se monitorar os pacientes por meio da ressonância magnética anual, com fatiamento fino entre as camadas do rim, para facilitar a visualização, já que a síndrome possui variantes agressivas. Outrossim, vale destacar que o tratamento cirúrgico já é indicado desde que se identifica uma tumoração, ou seja, não se pode aplicar a regra dos três centímetros, dadas as condições de rápido crescimento e risco de metástase. 4) Descreva (características clínicas, diagnóstico, manejo, acompanhamento e tratamento). a) Doença de Cowden A Doença de Cowden é uma síndrome macrossômica autossômica dominante, causada por mutação no gene PTEN em cerca de 85% dos casos. A forma mais comum de apresentação clínica se dá na forma de tumorações renais de células claras e/ou cromófobas. Além disso, quase que 100% dos portadores apresentam macrocefalia, além de parcela significativa apresentar crescimento exagerado de partes do corpo, podendo ser um crescimento de simetria bilateral ou não. Ademais, os pacientes podem apresentar também o carcinoma de mama, carcinoma de tireóide, carcinoma de endométrio, a queratose acral e os triquilemomas faciais. Além disso, é preciso citar que existem variantes patogênicas em grande proporção nessa síndrome. Com relação ao diagnóstico, este é feito conjuntamente ao se observar os sinais e os sintomas clínicos, principalmente quando a macrocefalia se faz presente, e por testagem genética com foco em identificar mutações no gene PTEN. Sobre o acompanhamento, deve-se realizar a verificação periódica de neoplasias por meio de exames de imagem. Por fim, embora o tratamento seja controverso e não haja consenso na comunidade científica, o objetivo atual é de melhorar o aspecto estético do paciente. Nesse âmbito, busca-se tratar as manifestações muco-cutâneas com agentes tópicos, “laser” ou criocirurgia, além de remoção cirúrgica de lesões cutâneas dolorosas e com possíveis sinais de malignidade. b) Esclerose Tuberosa A Esclerose Tuberosa é uma síndrome autossômica dominante, cuja origem é a mutação no gene TSC, em que há novamente mutações, formando dois subtipos, são eles: Tipo 1 (gene TSC1- Hamartina) ou Tipo 2 (gene TSC2 - Tuberina). As principais formas de apresentação clínica são os tumores corticais, tumores renais do tipo angiomiolipoma, angiofibromas, hamartoma de retina, máculas hipomelanoides e fibromas periungueais, linfangiomatose e lesão de pele Shagreen patch. Além disso, os pacientes podem apresentar déficit intelectual, risco de surgimento de astrocitoma de células gigantes, além de rabdomiossarcoma cardíaco. O diagnóstico pode ser feito por teste molecular, com foco no gene PAP. O tratamento consiste no alívio da sintomatologia clínica do paciente, por intermédio da utilização de anticonvulsivantes e acompanhamento multiprofissional com dermatologista, nefrologista, neurologista, psiquiatra e dentista, já que não há cura. c) Neurofibromatose 1 e 2 A Neurofibromatose1 (NF1) é a genodermatose mais comum e possui expressividade variável, ou seja, pode ser mais agressiva ou mais leve, tendo padrão autossômico dominante. As principais apresentações clínicas nesse tipo são a presença de neurofibromas em toda a extensão do corpo em formas mais agressivas, embora existam também manchas por todo corpo, de coloração “café com leite”, na forma mais branda. Essa síndrome provoca maior predisposição ao desenvolvimento de gliomas ópticos, tumores da bainha de mielina, leucemias, gliomas cerebrais e neurofibroma plexiforme, sendo um tumor benigno e, embora não haja metástase, seu crescimento indolor e de difícil controle provoca grande mobilização cirúrgica, fator que leva muitos pacientes ao óbito. O diagnóstico do tipo 1 consiste na análise dos sinais e sintomas clínicos, podendo ser confirmado se houver os seguintes critérios: seis ou mais manchas “café com leite” no corpo; dois ou mais neurofibromas de qualquer tipo; um ou mais neurofibromas plexiformes. Além disso, outros sinais sugestivos importantes desta síndrome são: presença de sardas em áreas que não são comumente expostas à radiação solar, como nas axilas e na região inguinal; dois ou mais nódulos de Lisch, localizados na íris; lesões ossificantes, vistas especialmente na displasia do esfenóide e pseudoartrose tibial. É preciso verificar também se há histórico familiar de Neurofibromatose 1, facilitando em muito o diagnóstico do paciente que apresenta tais critérios diagnósticos. O acompanhamento envolve monitorar o paciente, de modo que haja o diagnóstico mais precoce possível e a realização de aconselhamento genético, ainda que não haja tratamento médico resolutivo para prevenir ou reverter as lesões características da NF1. Além disso, no que concerne ao tratamento, é possível, em determinados casos, realizar cirurgias para a remoção de tumores, radioterapia para reduzir o tamanho tumoral ou remoção por laser. Na Neurofibromatose tipo 2 (NF2) possui padrão de herança autossômico dominante, mas, diferentemente da NF1, raramente ocorrem manchas de coloração “café com leite”, caracterizada por Schwannomas vestibulares. Neste caso, o diagnóstico clínico é feito ao se encontrar um Schwannoma bilateral no meato acústico interno. Ademais, também há a confirmação da NF2 se houver a confirmação de Schwannoma unilateral associado à glioma, à neurofibroma, à meningioma ou às opacidades subcapsulares lenticulares. Com relação ao manejo e tratamento, deve-se realizar exames de imagem, majoritariamente por ressonância magnética cerebral, a fim de verificar a presença de tumores. Caso haja tumoração, é possível realizar a retirada do tumor, por via cirúrgica ou “laser”, dos neurofibromas sintomáticos e realizar quimioterapia para tumores malignos, embora não haja tratamento específico para a neurofibromatose. d) Síndrome de Gorlin A Síndrome de Gorlin é caracterizada em situações em que o paciente apresenta centenas de tumores basocelulares na pele, de modo que essa síndrome é frequentemente denominada síndrome do carcinoma basocelular. A principal causa está relacionada à mutação no gene PTCH, um dos principais genes relacionados ao crescimento de importantes partes do corpo. Nessa síndrome, os portadores possuem alta probabilidade de desenvolverem câncer de pele do tipo basocelular, assim como do tipo espinocelular. Além disso, parcela significativa pode apresentar macrocefalia, vista em cerca de 60% dos casos, bem como a testa voltada para frente, por conta da calcificação da foice do cérebro, e calcificação das fossas palmares, chamada palma pits, em que existem pequenos pontos brancos na palma do paciente. Outros sinais ou sintomas, como a polidactilia, a fenda palatina, espinha bífida, anomalias nas vértebras e costelas, e presença de cistos mandibulares também são encontrados em portadores da Síndrome de Gorlin. O diagnóstico pode ser realizado de maneira clínica, por meio da verificação da calcificação da foice do cérebro, por exame de imagem, e das fossas palmares, associadas ao carcinoma basocelular, sem que haja a necessidade de realizar a testagem genética. Por outro lado, se esses achados não forem conclusivos, pode-se valer do teste genético para a confirmação diagnóstica. O acompanhamento e manejo do paciente consistem na biópsia cirúrgica semestral das tumorações basocelulares da pele e posterior análise histopatológica, com o intuito de verificar possíveis alterações malignas. Já o tratamento, abrange a atenuação dos sinais e sintomas clínicos, necessário o acompanhamento multiprofissional e, nos casos em que o número de lesões é limitado, pode-se remover cirurgicamente os carcinomas basocelulares a cada seis meses. 5) Quais as consequências esperadas e como adequar a dose do medicamento no caso de: a) Metabolizador lento/pobre tomando pró-droga; No caso de um metabolizador lento recebendo uma pró-droga, esta não será convertida em metabólito ativo na velocidade adequada, ou seja, terá baixa eficiência. Neste caso, o usuário não se beneficiará plenamente do efeito da droga, já que a substância pode até mesmo não ter efeito algum sobre o usuário. Diante disso, é possível adequar a dose do medicamento, aumentando a dosagem ao paciente e, assim, potencializando o efeito da medicação. Todavia, essa alternativa é um pouco arriscada, visto que a quantidade da substância que provocaria o efeito desejado poderia ser tóxica e prejudicar o usuário, ou seja, mais vale a troca da medicação que arriscar a integridade do usuário. Como exemplo, pode-se citar a codeína que, ao depender a dor do paciente, não é suficiente para resolvê-la. b) Metabolizador lento/pobre tomando droga ativa; Se a droga ativa for administrada a um metabolizador lento, pode ocorrer intoxicação, já que esta droga permanece ativa por muito tempo, o que seria ainda pior no caos de um metabolismo lento, afinal o indivíduo teria esse amplo efeito num grande intervalo de tempo, devido à lentidão em metabolizar a droga. Dessa forma, deve-se reduzir a dose da droga ativa a uma quantidade suficiente para que o efeito terapêutico seja adequado durante o tempo de efeito, de modo a evitar intoxicação. c) Metabolizador ultrarrápido tomando pró-droga; Na situação em que um metabolizador ultrarrápido utiliza uma pró-droga, há grande risco de falha terapêutica, já que a conversão da pró-droga em droga ativa acontecerá em rápida velocidade, no primeiro momento do catabolismo que visa eliminar a droga. Desse modo, o organismo armazenará enorme quantidade de droga, fator que pode resultar em intoxicação. Portanto, é preciso adequar a dose do medicamento, isto é, reduzir a dose, de modo a evitar o acúmulo excessivo da droga no organismo. d) Metabolizador ultrarrápido tomando droga ativa. No caso da utilização de uma droga ativa por um metabolizador ultrarrápido, haverá a perda de função da droga, já que o metabolismo acelerado tende a eliminar a droga antes que haja o efeito terapêutico desejado. Assim, já que a droga ativa é rapidamente inativada, necessita-se de uma dosagem mais alta e/ou em maior frequência para compensar a perda da droga pelo organismo. 6) Como são desenhados os primers para diagnóstico molecular de Covid por RTPCR? Os testes diagnósticos do tipo RTPCR para a COVID-19 possuem a capacidade de identificar a presença do vírus no organismo, por meio da detecção direta de seu ácido nucleico. Nessa forma de exame, a reação em cadeia precisa ser realizada em diferentes locais no mesmo vírus, a fim de evitar resultados falsos positivos e falsos negativos, e de aumentar a sensibilidade do teste. Isso deve ser feito em pelo menos três locais diferentes, ou seja, em três pares de primers diferentes. Além disso, vale destacar que as empresas têm colocado esses primers ou sondas de Taqman, em regiões que identificam variantes do Coronavírus, conseguindo até mesmo detectar quais são as de maior virulência. É importante considerar que, no cenário em que surgemnovas variantes, os testes RTPCR precisam ser modificados constantemente. Essa técnica se vale da amplificação do material genético, mas não consegue amplificar o RNA, isto é, o material genético do vírus. Diante disso, produz-se DNA a partir do RNA viral, por meio da transcriptase reversa. Vale destacar que o RNA viral possui uma cauda poli A, a qual é uma sequência de adeninas em sua extremidade 3`. Assim, o iniciador deve ser complementar a essa distribuição, fator que direcionou o desenvolvimento de primers poli T, já que esses nucleotídeos são complementares àqueles. Ademais, uma alternativa à utilização do primer poli T é justamente utilizar hexâmeros randômicos, que se anelam em locais do DNA viral aleatoriamente, servindo como ponto inicial para iniciar a transcriptase reversa. Ainda, é possível citar que a diferença entre as duas formas de iniciação é ao se utilizar o primer poli T, tem-se a certeza de que a extremidade máxima do RNA viral será transcrita, o que não ocorre ao se utilizar a técnica de primers randômicos, haja vista que não se sabe especificamente onde iniciou a síntese da primeira fita de cDNA. Então, tem-se, ao final da transcriptase reversa, a primeira fita simples de cDNA, que poderá ser utilizada para a síntese de demais fitas. Entretanto, em se tratando do desenvolvimento da segunda fita para a utilização de um DNA complementar, deve-se realizar o recorte do RNA molde em pequenos fragmentos e, após isso, utilizá-lo como primer para o desenvolvimento de demais fitas. 7) Descreva os sintomas clínicos ou histórias familiares que te chamam atenção para um possível Erro Inato do Metabolismo. Descreva também como fazer o diagnóstico de um EIM e como tratar. Escolha 3 EIM e descreva as doenças. As doenças relacionadas aos erros inatos do metabolismo possuem ampla representação clínica, já que provocam defeitos específicos, justamente por afetar, por exemplo, proteínas em reações no mapa metabólico, de modo que seus efeitos cursam de maneira variada conforme a mutação. Nesse sentido, os erros possuem grande espectro de gravidade, ou seja, o quadro clínico pode ter início em diferentes estágios da vida, bem como pode ser agudo ou crônico. Vale ressaltar que o diagnóstico é de grande complexidade, mas existem características clínicas ou histórico familiar sugestivo para uma série de doenças relacionadas aos erros inatos do metabolismo, tais como: relações consanguíneas entre os pais; história familiar de morte precoce, sem causa definida; encefalopatia inexplicável, independentemente da idade, cuja apresentação pode ser recorrente e/ou intermitente, e também ocasionar perda momentânea de consciência; hipoglicemia episódica, acidose metabólica e desequilíbrio hidroeletrolítico; regressão neurológica e retardo (típico da fenilcetonúria, em que a criança nasce normal e passa a regredir neurologicamente durante a adolescência); hepatomegalia e esplenomegalia; déficit de crescimento e alterações osteoarticulares; hipotonia. O diagnóstico de uma EIM inicia-se a partir da suspeita clínica, dado que devem ser observados os achados clínicos, associado, aparentemente, à história familiar do paciente. A partir disso, cria-se uma suspeita diagnóstica a ser investigada a partir dos critérios sugestivos de determinada doença. Depois, realiza-se a testagem simples de triagem, geralmente com testes de alta sensibilidade e baixa especificidade, tais como exames sanguíneos e de urina. Com isso, obtêm-se os resultados preliminares, o que pode direcionar uma busca de maior especificidade, por meio de exames complementares, a fim de analisar áreas mais específicas do metabolismo, tais como testes funcionais e moleculares. Ainda nessa linha de raciocínio, podem ser realizadas análises quantitativas, ensaios enzimáticos, bem como aferições moleculares, a fim de delinear o possível diagnóstico do paciente. Assim, torna-se possível a detecção precoce de novos casos e portadores, bem como se facilita o aconselhamento genético e, também, a realização do diagnóstico pré-natal em membros de uma determinada família com a doença genética. Cabe ainda dizer que o diagnóstico é de extrema importância, já que determina a chance de um filho(a) ser afetado por determinada doença, impactando diretamente no futuro da família. Além disso, cerca de 40% dos erros inatos são tratáveis, e os outros possuem aconselhamento genético. Com relação ao tratamento, as doenças por erros inatos do metabolismo possuem diferentes condutas, a depender do grupo em que se inserem. Primeiro, as doenças que cursam com intoxicação são tratadas pela restrição do substrato não-metabolizado, seja pela não ingestão, seja por detoxificação, medicamentosa ou por procedimentos extra-corpóreos. Segundo, as doenças do metabolismo energético são categorizadas conforme as três maneiras principais conforme o tratamento, são elas: doenças tratáveis por via dietética; doenças tratáveis pela reposição do cofator deficiente e por prevenção do jejum prolongado; doenças não tratáveis. Terceiro, nos casos que envolvem o acúmulo de moléculas complexas, pode-se realizar a reposição enzimática, o transplante de células e de medula óssea, a terapia gênica, a redução do substrato acumulado e, também, a terapia com proteínas chaperonas. A Adrenoleucodistrofia é uma EIM de herança recessiva ligada ao cromossomo X, que se apresenta clinicamente com retardo mental, disfunção na glândula adrenal, deterioração neurológica, convulsões, hipertrofia do fígado, degeneração da retina, anomalias faciais e fraqueza muscular. Essa doença está relacionada à atividade dos peroxissomos e ocasiona o acúmulo de ácidos graxos de cadeia muito longa no cérebro e nas glândulas adrenais, provocando a destruição da bainha de mielina e, assim, dificultando a transmissão do estímulo nervoso. A respeito do diagnóstico dessa síndrome, é possível analisar os sinais e sintomas clínicos do paciente, citado anteriormente. Entretanto, não há tratamento disponível em se tratando de evidência científica, apenas a evidência anedótica sobre um óleo com a mistura de trioleína e trierucina ter ajudado um único paciente. A Doença de Gaucher é uma síndrome de depósito lisossômico e de herança autossômica recessiva, em que o caráter é progressivo. Essa doença é uma mucopolissacaridose, relacionada à deficiência de glucocerebrosidase, o que afeta o metabolismo de esfingolipídeos. A falta dessa enzima impede a digestão de glicocerebrosídeos no meio intracelular, de modo que as manifestações clínicas são: hepatomegalia, esplenomegalia, nefromegalia, plaquetopenia, osteopatia. Por conta disso, o tratamento é feito a partir da reposição enzimática com Imiglucerase, de nome comercial Cerezyme, medicamento de alto custo e difícil acesso. A Alcaptonúria é uma doença autossômica recessiva ocasionada pela falta da enzima oxidase do ácido homogentísico, subproduto tóxico da tirosina, cuja responsabilidade é a conversão do ácido homogentísico em ácido maleilacetoacético. O efeito disso é o acúmulo do ácido homogentísico, cuja oxidação ocorre perifericamente em benzoquinonas, o que forma polímeros escuros que se acumulam no tecido conjuntivo. As manifestações clínicas dessa doença são: urina escurecida, pigmentação ocular e cutânea, artropatia e acometimento cardiovascular. O tratamento atual é controverso, com baixa evidência científica e pequeno poder de melhora. Este envolve a suplementação de altas doses de ácido ascórbico em crianças, a fim de proteger a mucosa estomacal e evitar gastrite. Em adultos, embora haja poucos sinais de melhora, recomenda-se a restrição de fenilalanina e da tirosina. 8) Descreva: a) Porfiria Aguda Intermitente A Porfiria Aguda Intermitente configura-se como um distúrbio metabólico raro, causado pela mutação no gene HMBS, de padrão autossômico dominante, e a proteína alterada é a porfobilinogênio deaminase. Esse distúrbio está relacionado à produção do grupamento Heme na hemoglobina,sendo que sua forma mais comum está relacionada aos sintomas neurológicos. Com relação à distribuição na população, pode-se afirmar ser mais frequente em mulheres, sendo que a sintomatologia nesse grupo específico se faz presente por meio da forte dor abdominal no período da segunda parte do ciclo menstrual, fator que confunde os profissionais da saúde que não estão familiarizados com o distúrbio, podendo levá-los a acreditarem se tratar de inflamações agudas no apêndice vermiforme (apendicite), vesícula biliar (colecistite) e pâncreas (pancreatite). Outros sinais característicos da Porfiria Aguda Intermitente são náuseas, vômitos, fraqueza muscular, dor muscular aguda no abdômen, constipação, neuropatia, histeria e até mesmo a distensão do abdômen. Vale dizer que os episódios de dor aguda ocorrem devido à toxicidade no sistema nervoso, por conta dos altos níveis de porfirinas no organismo e que, durante a crise, a coloração da urina fica muito escura, apresentando colúria. Sobre o diagnóstico, é possível analisar primeiramente os sinais e sintomas clínicos, embora os achados sejam pouco específicos, ou seja, devem ser utilizados outros meios para diagnosticar a Porfiria Aguda Intermitente. Para isso, recorre-se ao uso de testes laboratoriais, geralmente no momento em que há crise, por intermédio da análise da urina, em que os níveis de porfobilinogênio estarão elevados, se o paciente for, de fato, portador desse distúrbio metabólico. Além disso, ainda com relação ao exame laboratorial, pode-se valer da análise sérica de ácido delta-aminolevulínico e porfobilinogênio. Ademais, com auxílio do diagnóstico molecular, pode-se fazer o sequenciamento do gene HMBS e verificar se há algum erro genético. Acerca do manejo e tratamento, sabe-se que nesse distúrbio existem fatores que desencadeiam uma crise, como a exposição ao álcool, medicamentos, cigarro, carência nutricional e até mesmo medicamentos. Portanto, uma das formas de lidar com o distúrbio é evitar o contato do paciente com esses agentes irritantes. Em situações de maior gravidade, como na paralisia do tronco e em momentos de dor absurda, sem haver outra forma de conduta médica, recorre-se à intubação. b) Alfa e Beta Talassemias A talassemia α é um distúrbio quantitativo na produção de hemoglobina, cuja herança é autossômica recessiva, especificamente nos genes HBA1 e HBA2, afetando as subunidades proteicas α-1 e α-2 da hemoglobina. Com relação a esse distúrbio, existem quatro alelos diferentes para a hemoglobina α, sendo que os efeitos variam conforme a distribuição desses alelos. Dessa forma, a perda da função de um único alelo faz com que o paciente seja assintomático, enquanto a perda de dois alelos configura o traço talassêmico, em que o indivíduo apresenta anemia microcítica, sem fortes sintomas. Em situações de maior gravidade, em que há perda de três alelos, caracteriza-se a doença da hemoglobina H, em que o paciente apresenta anemia hemolítica, alterações esqueléticas, ligadas à eritropoetina aumentada, e esplenomegalia. No pior cenário, em que há a perda dos quatro alelos, o distúrbio é incompatível com a vida, chamado Hidropisia fetal de Hb Bart. O diagnóstico da talassemia α pode ser feito via eletroforese de hemoglobinas, bem como pode ser feita via diagnóstico molecular, através do sequenciamento genético, já que em 90% dos casos ocorreu deleção, enquanto os outros 10% são fruto de mutação. Acerca do tratamento e manejo, existem algumas alternativas, como, por exemplo, a realização de transfusões de sangue, suplemento de ácido fólico e alguns medicamentos usados com a quimioterapia e ajudam o organismo a produzir a hemoglobina normal. Em alguns casos, também pode-se realizar a esplenectomia. Por outro lado, a talassemia β, também de padrão autossômico recessivo, é uma das formas menos graves, já que em nenhuma das variações há incompatibilidade com a vida. Neste caso, se houver a falta de um alelo, tem-se o traço β-talassêmico, geralmente assintomático, enquanto a perda dos dois alelos provoca a talassemia clássica, também chamada anemia mediterrânea de Cooley. Esse distúrbio provoca uma série de alterações, como o aumento do número de outras hemoglobinas, para suprir a carência de hemoglobina β, isto é, com eritropoiese errônea, hemólise e esplenomegalia, levando até mesmo à necessidade de transfusão por conta da sobrecarga de ferro no sangue e quelação do ferro como possível forma de tratamento e reduzir a sobrecarga do organismo. No diagnóstico desse distúrbio, pode-se verificar a dosagem sérica de hemoglobina, sendo possível observar anemia microcítica, assim como realizar a eletroforese e confirmar a diminuição da hemoglobina β. Ademais, é possível sequenciar mutações, ou seja, visualizar-se-á a ausência da cadeia β, ratificando o diagnóstico. Após o diagnóstico, há melhora da qualidade de vida do paciente, podendo viver cerca de 20 anos a mais se comparado a um portador de talassemia β não diagnosticado. c) Síndrome de Di George A Síndrome de Di George ou, em outras palavras, a deleção 22q11 consiste na deleção de parte do cromossomo 22 em que há grande perda no braço longo do cromossomo, visualizada ao se realizar o cariótipo. Além disso, existem outros nomes para essa síndrome, como Velocardiofacial e Shprintzen. Embora não se saiba exatamente quais genes são os responsáveis por ocasionar a doença, há indícios de que o gene TBX1 contribui em muito para isso. Com relação à apresentação clínica, tende-se principalmente sinais e sintomas do aparelho cardiovascular, tais como: cardiopatia congênita, tetralogia de Fallot, anomalia conotruncal, interrupção de arco aórtico, hipocalcemia. Para diagnosticar essa síndrome, utilizam-se testes genéticos moleculares do tipo FISH ou MLPA, importantes quando existem grandes deleções. Sobre o tratamento e o manejo, por ser uma síndrome ainda pouco conhecida, a atuação dos profissionais de saúde possui empenho em aliviar os efeitos clínicos do paciente, atuando majoritariamente frente aos problemas cardíacos. Nesse contexto, podem ser realizadas cirurgias para o reparo de anomalias cardíacas, reposição de cálcio, reparo do palato, e, em alguns casos, evitar determinadas vacinas se houver imunodeficiência. d) Alagille A síndrome de Alagille em parcela significativa dos casos é uma síndrome de novo, provocada por defeitos nos genes JAG1 e NOTCH2, de padrão autossômico dominante. A apresentação clínica se faz por escassez de ductos biliares, contribuindo em muito para o diagnóstico correto, mas existe também displasia artério-hepática, hipoplasia biliar intra-hepática colestase crônica, defeitos oculares, anomalias esqueléticas, certo grau de retardo no desenvolvimento e déficit de crescimento. Outros sinais e sintomas importantes são os efeitos cardíacos, geralmente causadores da morte do indivíduo. Com relação ao diagnóstico, há a possibilidade de realizar biópsia hepática para analisar a ausência dos ductos biliares, feita por um médico patologista, mas também pode ser feita via teste molecular e sequenciamento do gene JAG1 ou NOTCH2, embora o JAG1 seja o responsável pela maioria dos casos. Ainda, é válido citar que mutações em JAG1 o tornam insuficiente para se ligar às membranas celulares, o que cursa com haplo insuficiência renal. Com relação ao tratamento, deve-se monitorar o paciente, conduzir as anomalias cardíacas e renais pela via medicamentosa, verificar o crescimento do paciente, assim como, se necessário, realizar o transplante de fígado. 9) Descreva: a) Brugada A Síndrome de Brugada é uma desordem cardiovascular e hematológica, devido a alterações no gene SCN5A, cuja distribuição é maior na população de ascendência asiática. A apresentação clínica geralmente ocorre em torno dos 40 anos, em que há rápida inativação dos canais de sódio voltagem dependente, ocasionando falhas na bomba cardíaca, de modo que há arritmia, síncope, respiração agonizante noturna e morte súbita, geralmentedurante o sono noturno. Com relação ao diagnóstico, a primeira suspeita ocorre em situações de morte súbita de um familiar durante o sono, já que, embora existam sinais e sintomas cardiovasculares, estes são pouco específicos, ou seja, deve-se buscar outros fatores condizentes com a doença para se fazer o diagnóstico. A partir disso, pode-se realizar um eletrocardiograma, importante com relação às arritmias e ao desnivelamento do segmento ST. Depois, ao suspeitar da Brugada, deve-se sequenciar o gene SCN5A para verificar as suas possíveis alterações. O tratamento consiste na implantação de um desfibrilador, de modo a evitar a fibrilação atrial, que desorganiza o tempo de contração e relaxamento do coração, podendo levar ao choque cardiogênico e a morte. Além disso, é preciso evitar o uso de meditações arritmogênicas, justamente para que a bomba funcione da maneira menos problemática possível, assim como utilizar a medicação isoproterenol. b) Leopard A síndrome Leopard é provocada por mutações no gene PTPN11 ou do RAF1, da via da MAP-quinase. As proteínas envolvidas são a SHP2 e a RAF e locus 12q24 e 3p25, cujo padrão de herança é autossômico dominante. Com relação à apresentação, é interessante citar que cada letra representa um achado referente aos sinais e sintomas da síndrome, no idioma inglês, formando o seguinte anagrama: L - Sardas (lentigo); E - Alterações eletrocardiográficas (electrocardiographic changes); O - Hipertelorismo ocular (ocular hypertelorism); P - Estenose da valva pulmonar (pulmonary valve stenosis); A - Anormalidade da genitália (abnormality of the genitalia); R - Retardo de crescimento (growth retardation); D - Surdez sensorial (sensory deafness). Com relação ao diagnóstico, pode ser feito via eletrocardiograma, ecocardiograma e audiograma, assim como deve ser solicitado o teste molecular, através do sequenciamento dos genes PTPN11 e RAF1. Além disso, o tratamento consiste em atenuar manifestações clínicas, ou seja, intervindo nas anomalias cardíacas e na surdez. c) Noonan A Síndrome de Noonan é de padrão autossômico dominante, causada por mudanças no gene PTPN11 e demais genes da mesma via, como o SOS1, KRAS, RAF1, NRAS, CBL e SHOC2, cujo mecanismo é o ganho de função na via Map Kinase. A apresentação clínica envolve geralmente fáscies características, cardiomiopatia hipertrófica e malformação renal, podendo haver também estenose da valva pulmonar, distúrbios de sangramento e baixa estatura. O diagnóstico é feito via ultrassonografia renal, análise dos sangramentos e ecocardiograma, já o tratamento é voltado para monitorar a parte cardiológica do paciente, principalmente com intervenção precoce, e uso de GH para o crescimento. d) Hemofilia A e B. A Hemofilia A é um distúrbio coagulativo, cujo padrão de herança é recessivo ligado ao sexo, causado por uma mutação no gene do F8, resultando na ausência do fator VIII da coagulação, necessário na cascata de coagulação para haver ativação por parte da trombina. A apresentação desse subtipo de hemofilia se faz por meio de hemartrose, principalmente em articulações que suportam muito peso, como nos joelhos, hemorragia intracranial, hematomas profundos, hemorragia pós-operatória prolongada, hemorragia nasal e hemorragia persistente após trauma mecânico. O diagnóstico desse distúrbio se faz por meio da avaliação do tempo de tromboplastina parcial ativada prolongada, de protrombina e de coagulação. Além disso, pode-se fazer o diagnóstico molecular por um teste de inversão do íntron 22 de F8. Ademais, para analisar a intensidade da hemofilia, faz-se necessária a análise laboratorial do fator VIII, em que o resultado normal geralmente é em torno de 5% a 35%, de modo que a hemofilia é grave se o resultado for abaixo de 1% e leve se estiver entre 1% e 5%. Portanto, acerca do tratamento e manejo, é preciso justamente administrar um concentrado de fator VIII no período de crise, de forma intravenosa, a fim de compensar a queda sérica dessa substância. A Hemofilia B é bem semelhante ao subtipo citado anteriormente no que tange ao padrão de herança, porém a mutação ocorre no gene F9, isto é, a falta do fator coagulativo IX, cuja responsabilidade é de ativar o fator X e fazer a regulação da produção de trombina. Com relação ao padrão de apresentação, tem-se muita similaridade, permanecendo a hemartrose, hemorragia intracraniana, hematomas profundos e sangramento prolongado no período pós-cirúrgico ou traumático. Além disso, o valor sérico normal é entre 6% e 30%, de modo que quando está abaixo de 1% configura nível baixo e entre 1% e 5% grau leve. De maneira semelhante, o diagnóstico é o mesmo citado para o tipo A, porém relacionado ao fator IX, exceto com relação à inversão do íntron 22, que geralmente não se faz presente no tipo B. Quanto ao tratamento, é realizado por meio da administração intravenosa do fator IX em momentos de crise. Por fim, em ambos os subtipos de Hemofilia, é preciso evitar o contágio com HIV, hepatite (B e C), já que combinados, esses quadros são de difícil cuidado, podendo haver complicações. 10) Descreva o processo de produção de anticorpos monoclonais humanizados usando hibridomas (células B fusionadas com mielomas) de camundongos. Como seria possível usar essa tecnologia para produzir anticorpos contra o Covid? Essa é única questão que não foi discutida em aula e dependerá do aluno buscar fontes de informação por conta própria. Em primeira análise, é preciso entender que a produção de anticorpos por meio de animais é feita da seguinte maneira: os anticorpos são produzidos por inoculação da proteína de interesse em um animal, com posterior isolamento dos anticorpos específicos, através do soro extraído do animal. No entanto, essa técnica possui certas limitações com relação não apenas à quantidade de anticorpos obtida de um único animal, mas também à mistura heterogênea de anticorpos para diferentes sítios antigênicos que é extraída conjuntamente aos anticorpos de interesse. Naturalmente, os linfócitos B possuem curto tempo de vida, porém ao serem fusionados com células de linhagens celulares transformadas, ou seja, os mielomas (câncer meta-plasmático de alta taxa mitótica) , tem-se um híbrido com capacidade tanto de sintetizar anticorpos específicos como se multiplicar abundantemente em meio de cultura. Assim, cada anticorpo monoclonal reconhece um único sítio antigênico, isto é, possui altíssima especificidade e, com isso, muitos propósitos. Dessa forma, houve a possibilidade de tratar inúmeras doenças, como o câncer e a artrite reumatoide. No contexto da COVID-19, entende-se hoje que a doença possui como patogênese duas fases diferentes, uma inicial em que ocorre ampla replicação viral do SARS-CoV-2 e uma tardia que cursa com estado hiper-inflamatório, devido à liberação de IL-1, IL-6, “interferon” (IFN-y) e TNFα, assim como a hiperativação da cascata de coagulação, de maneira inadequada, ocasionando um estado pró-trombótico. Nesse sentido, os anticorpos monoclonais, à luz do conhecimento atual, devem ser utilizados em tratamentos cujo paciente está em quadro leve, mas possui grandes oportunidades de evoluir para a forma grave da doença. Aliás, esta é a recomendação dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA (NIH), para pacientes ambulatoriais não graves, porém, com grande chance de evoluírem mal. Diante disso, uma das possíveis formas de atuação contra o Coronavírus é a seguinte: utilizam-se anticorpos monoclonais que possuem como domínio alvo de ligação o receptor RBD da proteína Spike do SARS-CoV-2, limitando a interação deste domínio com a enzima conversora de angiotensina 2 e se conectando a um epítopo não sobreposto da proteína de pico de superfície do SARS-CoV-2. Assim, ocorre a inibição da replicação viral, evitando a progressão da doença para a forma grave em que há estado hiper-inflamatório. Outrossim, pode-se desenvolver anticorpos monoclonais com a capacidade de se ligar à proteína Spike e impedira entrada do material genético viral na célula, diminuindo as chances de infecção e também de desenvolver a forma grave da doença. Embora já se tenha um número significativo de anticorpos monoclonais aprovados pela Food and Drug Administration (FDA) nos EUA, esse tipo de tratamento ainda não se faz presente no Brasil em razão da contraindicação de, por exemplo, dois desses remédios, Casirivimabe e Imdevimabe pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sus (Conitec), cuja justificativa foi dificuldade logística e falta de dados sobre a eficácia contra as variantes. Outro ponto em que há certo conflito é no que tange aos possíveis efeitos colaterais, já que, não se sabe aos certo seus efeitos adversos a longo prazo na COVID-19, por se tratar de uma doença ainda recente, apesar de a maioria dos pacientes sob tratamento com anticorpos monoclonais terem tolerado a terapia sem haver reações graves, com exceção de poucos casos, cujas reações foram imunomediadas, como no choque anafilático, um tipo de choque distributivo em que há resposta de hipersensibilidade. Referências: Aleem A, Slenker AK. 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