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APG 14 – Viagem do êmbolo Objetivos: Compreender etiologia, epidemiologia, fatores de risco, prevenção e fisiopatologia da trombose venosa. Entender as manifestações clínicas, diagnóstico e tratamento da trombose venosa e descrever a farmacodinâmica dos anticoagulantes. Descrever as consequências e complicações da trombose venosa, tendo em vista embolia pulmonar. Compreender as classificações da trombose venosa diferenciando TVP e TVS. Trombose venosa As anormalidades básicas que levam à trombose são (1) lesões endoteliais, (2) estase ou fluxo sanguíneo turbulento e (3) hipercoagulabilidade do sangue (conhecidas como tríade de Virchow). A maioria dos trombos venosos ocorre nas veias superficiais ou profundas das pernas. A trombose de veias superficiais geralmente ocorre nas dilatações varicosas das veias safenas. Esses trombos podem causar congestão local, edema, dor e sensibilidade, mas eles raramente embolizam. No entanto, o edema associado e a drenagem venosa deficiente predispõem a pele sobrejacente ao desenvolvimento de infecções e úlceras (ditas úlceras varicosas). A trombose venosa profunda (TVP) envolvendo uma das grandes veias da coxa, ao nível ou acima do joelho (p. ex., veias poplíteas, femorais e ilíacas), é mais grave, pois, com maior frequência, esses trombos causam embolia pulmonar e consequente infarto pulmonar. Epidemiologia e Fatores de risco A TVP é a terceira causa de doença vascular mais prevalente no mundo, atingindo 2/1000 indivíduos a cada ano, com taxa de recorrência de 25%. O local mais comum é nos membros inferiores (80- 95% dos casos). As principais complicações são: insuficiência venosa crônica/ síndrome pós trombótica e embolia pulmonar (EP). Aproximadamente 5-15% de indivíduos não tratados da TVP podem morrer de EP. Os principais fatores de risco estão diretamente ligados a gênese dos trombos: estase sanguínea, lesão endotelial e estados de hipercoagulabilidade. Assim, a idade avançada, câncer, procedimentos cirúrgicos, imobilização, uso de estrogênio, gravidez, distúrbios de hipercoagulabilidade hereditários ou adquiridos, são os principais fatores de riscos relacionados. A incidência aumenta proporcionalmente com a idade. Em pacientes não gestantes, a TVP geralmente se origina em uma das veias distais ou da panturrilha, na qual ela tem pouco ou nenhum potencial de causar êmbolos pulmonares clinicamente significativos. Segundo estudos, acientes sintomáticos com suspeita de TVP, cerca de 10% a 25% de fato têm uma TVP diagnosticável, dos quais cerca de 15% têm TVP isolada da panturrilha. Aproximadamente um quarto destes trombos que são inicialmente isolados a uma veia da panturrilha irá, subsequentemente, estender-se para as veias proximais, geralmente em uma semana da manifestação, nas quais eles têm, então, o potencial de causar êmbolos pulmonares. Na gestação, a maioria dos trombos (∼90%) ocorre nas veias profundas da perna esquerda e frequentemente envolve as veias ílio-femorais, mas não as veias da panturrilha nem as veias poplíteas. Esses achados sugerem uma predisposição anatômica para a TVP ílio-femoral da perna esquerda, o que pode ser resultado da compressão da veia ilíaca esquerda pelo feto, uma exacerbação da “obstrução” que ocorre onde a artéria ilíaca direita cruza a veia ilíaca esquerda, e um aumento na rede venosa na veia ilíaca esquerda (síndrome de May-Thurner). Essas observações sugerem fortemente que a maior parte, se não todo o aumento de incidência de TEV na gestação, é atribuível ao aumento de TVP ilíaca esquerda. Nayara Viana, 3 período, unifipmoc Etiologia - ALTERAÇÕES DO FLUXO (estase): idade, imobilização ≥3 dias ou inatividade física como em pós-operatório, acidente vascular encefálico, fratura de quadril ou joelho, cirurgia geral de grande porte (>45min, aumentando o risco quanto mais longo for o procedimento), traumatismo grave, lesão da medula espinal com paresia de membro, imobilização de extremidades com aparelhos gessados ou órteses, viagem prolongada em área confinada, gravidez, insuficiência cardíaca congestiva, varizes, DPOC e queimaduras, entre outras. - LESÃO DE ENDOTÉLIO (traumatismo): idade avançada (a partir dos 40 anos, dobrando o risco a cada década), tabagismo, antecedente trombembólico conhecido, traumatismos, cirurgias e cateteres venosos, entre outras. - HIPERCOAGULABILIDADE: neoplasias e/ou seus tratamentos, trombofilias hereditárias ou adquiridas, obesidade, uso de contraceptivos orais contendo estrogênio e reposição hormonal, gravidez, tabagismo, doenças infecciosas agudas, síndrome nefrótica e doença inflamatória intestinal, entre outras. Fisiopatologia A tríade de Virchow sugere que há três componentes importantes na formação do trombo: • Lentidão do fluxo sanguíneo; • Hipercoagulabilidade sanguínea; • Lesão da parede vascular. Na trombose venosa, o aumento de coagulabilidade do sangue e a estase são mais importantes, pois a estase permite que a coagulação do sangue seja completada no local de início do trombo. O trombo inicial aumenta e progride em direção distal e proximal, atingindo veias cada vez maiores e alcançando finalmente os troncos coletores principais da região. Esse trombo, geralmente misto, é constituído por camadas de elementos figurados do sangue misturados em uma rede de fibrina. • O trombo é descrito como tendo: • Cabeça, parte inicial aderente à parede da veia; • Corpo, aderente lateralmente, parcial ou completamente, à parede da veia; • Cauda, parte flutuante, livre na corrente sanguínea, distal e proximal, e unida ao corpo. O trombo inicialmente está livre na corrente sanguínea, preso apenas pela cabeça; a irritação da parede da veia desencadeia um reflexo simpático que determina venospasmo, o qual fixa o trombo, com consequente bloqueio da circulação. A parede da veia, irritada, torna-se sede de um processo inflamatório. Formam-se capilares de neoformação que, atravessando a parede da veia, penetram no trombo, organizando-o. A veia e o trombo se transformam num cordão fibroso e duro. Com isso, a parte livre do trombo, isto é, a que flutua na corrente sanguínea, pode desprender-se parcial ou totalmente, ocasionando a embolia pulmonar. Quanto mais rápida for a organização, menor será o fragmento do trombo que se destaca, menor por conseguinte a gravidade da embolia. Quanto mais lento for o fluxo sanguíneo nas veias atingidas, maior é o crescimento do trombo, possibilitando a formação de caudas compridas e grossas que, quando se destacam, ocasionam embolias mais graves. Pode-se separar as alterações da fisiopatologia da TVP em alterações regionais e sistêmicas: Alterações regionais: • Efeito mecânico: Obstrução de uma ou mais veias por trombo ocasiona bloqueio do retorno venoso, cuja gravidade depende do calibre e extensão das veias trombosadas. O bloqueio do retorno venoso provoca um a série de alterações nas veias e tecidos Nayara Viana, 3 período, unifipmoc distais à trombose, tais como: hipertensão venosa, dilatação e insuficiência valvular das veias profundas, comunicantes e ramos superficiais. • Reação inflamatória: Desenvolve-se um processo inflamatório nas veias afetadas, que se estende nos tecidos vizinhos, inclusive artérias e nervos. • Efeito reflexo: A irritação da parede da veia pelo trombo e a reação inflamatória atingem os filetes nervosos e desencadeiam um reflexo vasoespástico que compromete artérias e veias. Alterações sistêmicas: Podemos dividi-las em três fases: • Fase aguda - Marcada por dores, edema, reações inflamatórias nos capilares linfáticos, febre, leucocitose, aumento do tempo de hemossedimentação, diminuição do tempo de coagulação. • Fasede defesa - Caracteriza-se por diminuição súbita do edema, diurese abundante, retorno da temperatura ao normal, aumento do número de eosinófilos e maior sensibilidade à heparina. • Fase de esgotamento - Nesta fase o organismo se mostra incapaz de se defender contra as substâncias trombogênicas. As embolias ou novas localizações do processo podem aparecer. Classificação A TVP nos membros inferiores é dividida, simplificadamente, segundo sua localização: Proximal - quando acomete veia ilíaca e/ou femoral e/ou poplítea. Distal - quando acomete as veias localizadas abaixo da poplítea. O risco de embolia e a magnitude da síndrome pós- trombótica na TVP proximal são maiores. O risco de progressão de trombose distal para segmentos proximais é de 20%, assim, é importante essa classificação para guiar as estratégias de tratamento. A síndrome pós-trombótica é caracterizada por trombos que persistem e destroem as valvas venosas, prejudicando o retorno venoso. Há hipertensão venosa, responsável pelo acúmulo de líquido no espaço extravascular, com edema e, a longo prazo, atrofia da pele e pigmentação melânica. Em casos mais graves, há ulceração cutânea. Manifestações clínicas Em alguns pacientes, a TVP pode ser assintomática, mas o paciente se apresentará com embolia pulmonar. Em contraposição, embolia pulmonar ocorre em 50% dos pacientes com trombose objetivamente documentada das veias proximais da perna, mas muitos dos êmbolos são assintomáticos. Em geral, só uma parte do trombo se emboliza, de modo que 50% a 70% dos pacientes com êmbolos pulmonares angiograficamente documentados têm TVP detectável nas pernas no momento da avaliação inicial. A dor pode ser indeterminada, localizada ou tromboembolítica. No tipo indeterminado, o paciente não apresenta qualquer sintoma característico. Geralmente o paciente é acamado, podendo apresentar taquicardia, taquipnéia e mal-estar geral. No tipo localizado, além dos sintomas gerais, iguais aos do tipo indeterminado, surgem, no local da trombose ou no território drenado pela veia comprometida, dor, edema, alteração da temperatura e da cor da pele e ingurgitamento das veias superficiais. A dor é de intensidade variável e súbita, que piora com a movimentação e melhora com repouso e elevação do membro comprometido. O edema é o sinal mais característico da trombose venosa aguda, aparecendo na maioria dos casos. Localiza-se na região imediatamente abaixo da trombose, e, quando esta acomete ambas as veias ilíacas ou a veia cava inferior, o edema chega ao períneo, à região glútea e aos membros inferiores. Nas Nayara Viana, 3 período, unifipmoc primeiras horas após a instalação da trombose, ocorre diminuição da temperatura da pele em virtude de vasoespasmo reflexo; no entanto, com o desaparecimento deste e o desenvolvimento de processo inflamatório no local do trombo há aumento da temperatura no membro ou no local comprometido. A alteração de cor mais frequente é a cianose, em razão da estase venosa. Quando ocorre trombose em veias profundas, o retorno venoso passa a ser feito pelas veias superficiais, as quais ficam muito ingurgitadas. No tipo tromboembólico, fragmentos do trombo se desprendem e se alojam no pulmão, ocasionando a embolia pulmonar. Paciente pode indicar: dor, edema assimétrico, e parestesia. Diagnóstico Deve se basear na anamnese, exame físico, combinados com a realização de testes laboratoriais e exames de imagem. O sistema de predição clínica mais utilizado é o escore de Wells. Nenhuma avaliação clínica isoladamente é suficiente para diagnosticar ou descartar a TVP, pois os achados clínicos se relacionam com a doença em apenas 50% dos casos. Exame físico: Análise do quadro clínico, podendo consistir de dor, edema, eritema, cianose, dilatação do sistema venoso superficial, aumento de temperatura, empastamento muscular e dor à palpação. Durante o exame físico alguns testes clínicos podem auxiliar no diagnóstico, entre eles: • Sinal de Homans: caracterizado por dor ou desconforto na panturrilha após dorsiflexão passiva do pé. • Sinal da Bandeira: menor mobilidade da panturrilha quando comparada com o outro membro. • Sinal de Bancroft: dor à palpação da panturrilha contra estrutura óssea. Nayara Viana, 3 período, unifipmoc Exame laboratorial O exame utilizado é o Teste D-dímero. Apresenta alta sensibilidade, mas pouca especificidade para o diagnóstico da TVP. O D-dímero é um dos produtos da degradação da fibrina. Está presente em qualquer situação na qual haja formação e degradação de um trombo, não sendo, portanto, um marcador específico de TVP, podendo estar elevado em situações fisiológicas ou patológicas diversas, como: O D-dímero não deve ser utilizado de forma isolada. Ele NÃO exclui doença tromboembólica em pacientes com alta probabilidade clínica de TVP ou EP. Escore de Wells É baseado em sinais e sintomas, fatores de risco e diagnósticos alternativos, estimando a probabilidade pré-teste para TVP. Interpretação: • -2 a 0: baixa probabilidade; • 1 a 2: média probabilidade; • > 3: alta probabilidade. O escore de Wells apresenta melhor resultado para avaliação de pacientes jovens sem comorbidades ou história prévia de tromboembolismo venoso, que em outros pacientes, idade avançada, puerpério, gestação, cirurgia, trauma, neoplasia e processos inflamatórios e/ou infecciosos. Diagnóstico de imagem: • Eco doppler colorido: O método diagnóstico mais frequente é o Eco doppler colorido venoso. Apresenta menor acurácia em veias distais, de membros inferiores e em pacientes assintomáticos. É o exame de escolha para o diagnóstico de TVP, com sensibilidade de 96% e especificidade de 98- 100%. • Venografia/ Flebografia: É considerado o exame padrão-ouro. É realizado com contraste e indicado apenas quando os outros testes são incapazes de definir o diagnóstico, pois possui custo elevado, risco de reações adversas ao contraste, é desconfortável para o paciente e contraindicado para pacientes com insuficiência renal. • Tomografia computadorizada: Útil para pacientes com suspeita de TVP, em que o Eco não pode ser realizado, seja por limitação técnica ou suspeita de anomalia venosa. • Ressonância magnética: Indicado em situações em que o Eco seja inconclusivo. Apresenta acurácia similar ao Eco no diagnóstico de TVP do segmento ilíaco-caval. • Angiografia pulmonar: Padrão ouro para diagnóstico de EP. Metodo invasivo, possui alto custo e utiliza contraste. • Cintilografia pulmonar com mapeamento de ventilação-perfusão: Boa opção para diagnóstico de EP. Muito específica, porém pouco sensível. Resultado normal exclui EP, porém se positivo necessita de exame adicional. Tratamento Farmacológico Para pacientes com alta suspeita clínica de TVP, recomenda-se iniciar o tratamento com anticoagulantes enquanto se aguarda a confirmação do diagnóstico. O objetivo é evitar a extensão do trombo e dar tempo para o sistema fibrinolítico fisiológico degrade a rede de fibrina e normalizar o fluxo. O tratamento inicial deve ser realizado com: Heparina de Baixo peso molecular (HBPM), Heparina não fracionada (HNF), fondaparinux ou anticoagulantes orais em longo prazo. Recomenda- se a duração do tratamento inicial por pelo menos 5 dias. Associado aos antagonistas da vitamina K (AVK) desde o primeiro dia de tratamento. A terapia estendida é recomendada para: pacientes com primeiro episódio de TVP proximal idiopática, sem fatores de risco para hemorragias e que possam ser submetidos a uma boa monitorização da anticoagulação; pacientes com segundo episódio de TVP idiopática. Durante a terapia anticoagulante estendida,recomenda-se a reavaliação periódica para cada paciente, sobre os riscos e benefícios da continuidade do tratamento. Nayara Viana, 3 período, unifipmoc Fibrinolíticos: Dentre os agentes fibrinolíticos disponíveis, estreptoquinase e ativador tecidual de plasminogênio são os mais usados para lisar trombos recentes. No entanto, possuem certas restrições clínicas. Tratamento não farmacológico Meias elásticas medicinais de compressão gradual: As meias compressivas possuem o objetivo de melhorar a função da bomba da panturrilha, reduzindo o edema e otimizando a microcirculação cutânea. Filtro de veia cava: Não é recomendado como tratamento de rotina. O filtro reduz a ocorrência de EP, porém não é efetivo em reduzir a mortalidade e aumentam o risco de recorrência de TVP em longo prazo (entre 2-8 anos), quando comparados à não utilização ou com terapia anticoagulante. É indicado para pacientes com TEV que possuem contraindicação para anticoagulação, ineficiência e/ou complicações da anticoagulação; e indicação relativa para pacientes com risco alto de complicações hemorrágicas, EP massiva, trombo flutuante no segmento ilíaco-caval e em pacientes com reserva cardiopulmonar limitada. Deambulação: Recomenda-se a deambulação precoce, pois está associada a uma diminuição dos sintomas agudos de TVP. Exercícios físicos regulares não aumentam os sintomas nos membros inferiores na existência de TVP prévia e pode prevenir ou melhorar a síndrome pós-trombótica. Profilaxia Indicado para pacientes em pós-operatório de grandes cirurgias, traumas e lesões graves, cirurgias de lesões medulares, insuficiência cardíaca congestiva, acamados, história prévia de TVP ou EP. Os métodos de profilaxia podem ser mecânicos ou farmacológicos. Dentre as medidas mecânicas, incluem: deambulação e a utilização de meias de compressão graduadas. A ativação do mecanismo da bomba da panturrilha é um meio efetivo de profilaxia e reduz a incidência de TVP em pacientes cirúrgicos. Sugere que seja devido à prevenção da estase venosa. A profilaxia farmacológica inclui a utilização de anticoagulantes em doses baixas, alguns autores relatam como “minidoses” fixas de heparina. A dose tradicionalmente utilizada é de 5000 unidades de heparina não fracionada, a cada 8 ou 12 horas. Tromboembolismo pulmonar Define-se o TEP como a obstrução de uma ou mais artérias pulmonares. Na maioria dos casos, é causado por coágulos sanguíneos que chegam às artérias pulmonares vindo, mais comumente, de TVP das extremidades inferiores. Os sinais clínicos de TEP são inespecíficos, como dispneia, dor torácica, hemoptise, síncope ou pré-síncope. Em alguns casos, pode ser assintomática e descoberta incidentalmente. A síncope parece estar presente em cerca de 17% dos casos e está associada a alta prevalência de instabilidade hemodinâmica e falência do ventrículo direito. O TEP que apresenta instabilidade hemodinâmica não é frequente, mas indica um comprometimento maciço da circulação pulmonar. Quando suspeito, o TEP deve ser confirmado ou refutado para evitar os riscos de super e subtratamento. Habitualmente, utilizam-se os escores de risco clínico de Wells. A maioria dos êmbolos pulmonares se origina de TVP das pernas. De fato, a TVP e a embolia pulmonar são geralmente consideradas manifestações clínicas diferentes de uma mesma doença, tromboembolismo venoso (TEV), uma vez que até 50% dos pacientes que se apresentam com TVP proximal (veia poplítea ou mais proximal) possuem cintigrafias pulmonares anormais sugestivas de êmbolos pulmonares clinicamente silenciosos, além do que até 90% dos pacientes com êmbolos pulmonares comprovados têm TVP, apesar de apenas 15% destes apresentarem sintomas nas pernas. Na sua maior parte, os fundamentos do tratamento da TVP e do Nayara Viana, 3 período, unifipmoc embolismo pulmonar são os mesmos, anticoagulação imediata e a longo prazo. Tromboflebite superficial consiste em trombose e inflamação de uma ou mais veias superficiais. Contanto que o trombo associado não tenha se estendido para as veias profundas, os pacientes acometidos têm um risco desprezível de desenvolvimento de êmbolos pulmonares e podem, muitas vezes, ser eficazmente tratados de maneira conservadora com gelo, elevação das pernas e medicação anti-inflamatória. A EP, representa a terceira causa mais comum de morte cardiovascular depois do infarto do miocárdio e do AVC. O primeiro episódio de TEV ocorre em cerca de uma pessoa a cada 1.000 por ano, nos EUA. A incidência aumenta exponencialmente com a idade, com cinco casos por 1.000 pessoas aos 80 anos. A EP geralmente envolve os dois pulmões, e os lobos inferiores são afetados com mais frequência que os superiores. Os êmbolos maiores tendem a se alojar na artéria pulmonar principal ou suas ramificações, enquanto os menores ocluem as artérias mais periféricas. A EP periférica pode levar ao infarto pulmonar, que é caracterizado pela hemorragia intra-alveolar e à necrose possivelmente baseada na pleura. Uma vez que a circulação para os pulmões se origina nas artérias bronquiais e também nas pulmonares, o infarto pulmonar ocorre em apenas cerca de 10% dos pacientes sem doença cardiopulmonar subjacente. Por outro lado, o infarto pulmonar ocorre em até 30% dos pacientes que têm a oxigenação comprometida das áreas afetadas do pulmão, devido a distúrbios preexistentes como doença das vias aéreas ou aumento da pressão venosa pulmonar por causa de uma disfunção ventricular esquerda. O impacto clínico da EP depende da extensão da redução no fluxo sanguíneo pulmonar, o período de tempo em que a obstrução vascular ocorre e a ausência ou presença de uma doença cardiopulmonar subjacente. Na EP aguda, a maioria dos pacientes desenvolve taquipneia e um certo grau de hipoxemia. A maioria dos pacientes com EP terá uma ou mais das seguintes características clínicas: dispneia, muitas vezes de início repentino; taquipneia com frequência respiratória de mais de 20 respirações/minuto; e desconforto no peito, que geralmente é subesternal e frequentemente tem natureza pleurítica. A cianose central e periférica pode ocorrer e o ritmo de galope pode se desenvolver como consequência da insuficiência cardíaca. As veias jugulares podem ficar distendidas se a insuficiência cardíaca direita se desenvolver. Anticoagulantes via parenteral Os anticoagulantes inibem a ação dos fatores de coagulação (p. ex., hepari- na) ou interferem com a síntese dos fatores de coagulação (p. ex., antagonis- tas da vitamina K, como a varfarina). Heparina e heparinas de baixo peso molecular A heparina é um anticoagulante injetável de ação rápida, usado com frequência para interferir agudamente na formação de trombos. A heparina atua em inúmeros alvos moleculares, mas seu efeito anticoagulante é consequência da ligação à antitrombina III, com a rápida inativação subsequente dos fatores de coagulação. A antitrombina III é uma α-globulina que inibe serinoproteases da trombina (fator IIa) e fator Xa. Na ausência de heparina, a antitrombina III interage lentamente com a trombina e o fator Xa. Quando a heparina se liga à antitrombina III, ocorre uma alteração conformacional que catalisa a inibição da trombina cerca de mil vezes. A heparina e as HBPMs limitam a expansão dos trombos, prevenindo a formação de fibrina. Esses fármacos são usados no tratamento do tromboembolismo venoso agudo. A heparina e as HBPMs são usadas também na profilaxia da trombose venosa pós- cirúrgica em pacientes que serão operados (p. ex., substituição de bacia) e naqueles com IAM. A heparina e as HBPMs são os anticoagulantes de escolha para o tratamento da gestante, pois não atravessam a placenta, devido ao grande tamanho e à carga negativa.A principal complicação da heparina e das HBPMs é o sangramento Possíveis reações adversas in- cluem calafrios, febre, urticária e choque anafilático. A trombocito- penia induzida por heparina (TIH) é uma condição grave na qual o sangue circulante tem uma quantidade anormalmente baixa de pla- quetas. Essa reação é imunomediada e traz risco de embolismo venoso e Nayara Viana, 3 período, unifipmoc arterial. A heparina e as HBPMs são contraindicadas em pacientes que têm hipersensibilidade à heparina, distúrbios de coagulação, alcoolismo ou que foram recentemente operados no cérebro, nos olhos ou na medula espinal. Argatrobana A argatrobana é um anticoagulante sintético parenteral derivado da Larginina. É um inibidor direto da trombina. A argatrobana é usada preventivamente no tratamento da trombose em pacientes com TIH e aprovada para uso durante ICP em pacientes que apresentam ou estão sob risco de TIH. A argatrobana é biotransformada no fígado e tem meia-vida de 39 a 51 minutos. A monitoração inclui TTPa, hemoglobina e hematócrito. Como a argatrobana é biotransformada no fígado, pode ser usada em pacientes com disfunção renal, mas deve ser usada com cautela nos que apresentam insuficiência hepática. Como com os outros anticoagulantes, o principal efeito adverso é a hemorragia. Bivalirudina e desirudina São análogos à hirudina, um inibidor da trombina derivado da saliva de sanguessuga. Assim, atuam como inibidores reversíveis diretos seletivos das trombinas, agindo tanto nos centros catalíticos dessas enzimas livres, como naquelas ligadas ao coágulos. Por inibirem a trombina, acabam aumentando o TTPa, sendo recomendado sua monitorização. São administrados por via IV. A bivalirudina é uma alternativa à heparina em pacientes que são submetidos: à ICP, que tem risco ou podem desenvolver TIH; à angioplastia, tendo histórico de angina instável. Geralmente, tem meia- vida de 25 minutos, necessitando de ajuste em dosagem se o paciente apresentar disfunção renal. Já a desirudina é indicada como prevenção de TVP em pacientes acamados após cirurgia de substituição de bacia. O efeito adverso principal desses inibidores direto de trombina é o sangramento. Fondaparinux Esse anticoagulante é um inibidor seletivo do fator Xa. Ao se ligar a ATIII, o fondaparinux potencializa a inibição natural do fator Xa pela ATIII. É usado como tratamento de TVP e TEP, além de servir como profilaxia de trombose venosa em pacientes acamados após cirurgias ortopédicas e abdominais. É administrado por via SC e tem farmacocinética previsível e, por isso, não necessita de monitorização de mesma magnitude que a HNF. Possui meia-vida de 17-21 horas e é eliminada, praticamente inalterado, por via urinária. Seus efeitos adversos são: sangramento e trombocitopenia (menos acentuada que a causada pela heparina). Não existe antídoto para fondaparinux. É contraindicado em pacientes submetidos a punção lombar ou cirurgia de medula espinhal. Anticoagulantes via oral Dabigratana Esse anticoagulante consiste num inibidor direto de trombina de ação lenta, aumentando a velocidade na ação inibitória da ATIII na trombina livre e na ligada ao coágulo. Seu uso terapêutico é recomendado na profilaxia de AVE e tromboembolismo nos pacientes com fibrilação atrial não valvar. É uma alternativa à enoxaparina na profilaxia de trombose em cirurgia ortopédicas por possuir farmacocinética previsível, não precisando de monitorização. É administrado por via oral e é bastante hidrolisado, sendo necessário ser ingerido com cápsulas para evitar redução na potência desse fármaco. É bastante absorvido pelo trato GI e em pH ácido (o uso de inibidor de bomba de próton pode reduzir sua absorção), na sua forma pró-fármaco (etexilato de dabigatrana), não havendo interação com alimentos. Sua ação tem início após 2 horas e meia-vida de 12 a 17 horas. Sua eliminação é, predominantemente, pelo rim. Seus efeitos adversos consistem em: hemorragia; dispepsia; dor abdominal; esofagite. Deve-se evitar interrupção abrupta de sua terapia. Já suas contraindicações são mais relevantes: pacientes com válvulas cardíacas prostéticas mecânicas (C.I. absoluta) ou bioprostéticas (C.I. relativa). Deve-se ter cautela com seu uso, principalmente em pacientes com insuficiência renal, pois há, neles, um maior risco de sangramento. Rivaroxabana e apixabana Ambos anticoagulantes são inibidores do fator Xa, se ligando ao centro ativo dessa enzima e impedindo a conversão de protrombina em trombina. Da mesma forma que dabigatrana, para eles não há exigência de uso de monitoramento. O Nayara Viana, 3 período, unifipmoc rivaroxabano é recomendado para a profilaxia tromboembólica (TEP, TVP e AVE) em pacientes com fibrilação atrial não valvar. É bem absorvido pelo trato GI principalmente quando há ingestão de alimento, se ligando facilmente à proteína plasmática, sendo biotransformado por via hepática, formando metabólitos inativos que serão eliminados pela urina e fezes. Cerca de 1/3 do medicamento original é excretado via urinária. O apixabano é indicado como profilaxia de AVE na fibrilação atrial não valvar. Também é bem absorvido pela mucosa gastrointestinal, sendo metabolizado no fígado. 27% do fármaco original é excretado por via renal. O efeito adverso principal desses inibidores direto de trombina é o sangramento. Assim, se o paciente possuir disfunção renal, pode haver prolongamento da hemorragia (menor eliminação renal do fármaco). Não há antídotos para ambos. Por fim, sua contraindicação consiste em pacientes com disfunção renal grave, apresentando clearence de creatina < 15 mL/min. Varfarina A varfarina consiste no antagonista de vitamina K mais difundido, clinicamente, quando comparado com outros anticoagulantes cumarínicos. Deve ser administrada juntamente com monitoramento das funções hemostáticas, tendo o INR como padrão, por conta de seu índice terapêutico estreito. Sendo assim, o objetivo de seu tratamento é manter, para a maioria dos pacientes, um INR entre 2 e 3. Com exceção dos pacientes que possuam válvulas mecânicas, em que seu INR deve estar entre 2,5 e 3,5. Ela é indicada: na prevenção e no tratamento de TVP e TEP; na prevenção de AVE em paciente com/sem FA e/ou válvulas cardíacas prostéticas; na deficiência de proteína C e S; na síndrome antifosfolipídica; na profilaxia de TVP após procedimentos cirúrgicos ortopédicos ou ginecológicos. O mecanismo de ação desse antagonista consiste na inibição da enzima que reduz a vitamina K em cofator necessário para produção dos fatores de coagulação. Essa enzima é conhecida como vitamina K-epóxido-redutase. Sendo assim, após essa vitamina sofrer a oxidação durante a produção do resíduo de γ- carboxiglutamila, a varfarina inibe a redução, produzindo menos vitamina K reduzida para formação de mais fatores de coagulação. Trombose Venosa dos Membros Superiores A TVP dos braços (incluindo a veia braquial e a axilar, subclávia e jugular interna, bem como a veia cava superior) é muito menos comum do que a TVP das pernas, mas não é rara. Os fatores associados à TVP do braço incluem cateter venoso central, trombofilias adquiridas ou hereditárias e compressão anatômica (costela cervical) e fisiológica (indivíduos musculosos) da veia. Venografia contrastada é o padrão-ouro para o diagnóstico de TVP dos membros superiores, mas a ultrassonografia venosa é acurada e menos invasiva. Tromboflebite superficial A tromboflebite superficial comumente se manifesta com dor, edema, rubor e hipersensibilidade das veias superficiais (veias superficiais palpáveis e endurecidas com todos os sinais de inflamação que são: Dor, edema, calor e rubor). As veias varicosas podem ser vermelhas, quentes e estar agrupadasem uma área circunscrita. Quando a tromboflebite superficial ocorre nas veias safenas parva ou magna, em geral há vermelhidão, dor à palpação e, muitas vezes, endurecimento linear que acompanha o trajeto da veia comprometida (panturrilha ou coxa mediais). Tromboflebite superficial também pode ocorrer no local de inserção de um cateter intravenoso. Invariavelmente, tromboflebite superficial está associada à trombose da veia correspondente, e particularmente quando a veia safena magna está comprometida, a ultrassonografia venosa deve ser efetuada para excluir extensão para as veias profundas, o que ocorre em até 19% dos pacientes. Tratamento: aliviar sintomas com analgésicos + anti-inflamatórios + compressa quente. E uso de anticoagulantes profiláticos: enoxapamina 40 mg/1x ao dia ou HNF 5000 UI 12/12h por até 3 meses. Risco de TVP: Paciente com a trombose superficial que acometa a junção safenofemoral ou safenopoplítea; Trombose superficial de veias não varicosas do terço superior da coxa; Nayara Viana, 3 período, unifipmoc Síndrome pós-trombótica A dor e edema iniciais em muitos pacientes com TVP são decorrentes de obstrução venosa ou processo inflamatório mediado pelo trombo agudo. Uma vez iniciada a terapia anticoagulante, a obstrução aguda, em geral, se resolve em um período de vários meses conforme ocorre recanalização e desenvolvimentos de veias colaterais, levando desse modo a uma melhora inicial da dor e do edema. Entretanto, a longo prazo, provavelmente por causa da incompetência valvular venosa produzida quando os segmentos venosos trombosados recanalizam e algumas vezes por causa de obstrução crônica residual, hipertensão venosa e às vezes dor e edema podem recidivar. Essa síndrome pós-trombótica se desenvolve em até 50% dos pacientes com TVP proximal, em geral nos primeiros um a dois anos após a TVP. A síndrome é frequentemente uma doença progressiva crônica com dor, edema e ocasionalmente ulceração da perna em pacientes com TVP prévia.
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