Buscar

Resumo e Resenha Identidade, Drogas e Saúde Mental Narrativas de Pessoas em Situação de Rua

Prévia do material em texto

Identidade, Drogas e Saúde Mental: Narrativas de Pessoas em Situação de Rua 
O artigo fala sobre como se constitui a exclusão social de pessoas em situação de rua e que faz uso abusivo de drogas, como eles se reconhecem como indivíduo e como se relacionam com os outros, através de conversas e acompanhamento dessas pessoas durante 6 meses.
Essas pessoas, além de estarem sob tal condição, carregam o estigma de pessoas com pouca higiene, e podem ser chamados de “loucos” ou perigosos. Segundo estudo realizado pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (Brasil, 2009), constatou que cerca de 35,5% das pessoas em situação de rua, o estão devido ao uso abusivo de sustâncias químicas.
Numa pesquisa realizada por Barata et al (2015), constatou que devido ao alto nível de discriminação das pessoas em situação de rua, seja em serviços de saúde ou no próprio dia a dia, gera nesses indivíduos um não reconhecimento de indivíduos com direitos e parte integrante da sociedade. Nesse momento o problema torna-se um ciclo em que a sociedade e as políticas públicas não tratam esses indivíduos como sujeitos integrantes da sociedade, e os próprios, além dos que já têm uma questão com abuso de drogas, não conseguem se ver fora desse ciclo, e logo são reduzidos a essa realidade, tornando praticamente impossível alterá-la.
A entrevista realizada com os dois participantes, ambos moradores de rua, foi de forma não estruturada, apenas ouvindo a história e o que os levaram a tal situação. Foram escolhidos por estarem na Praça central de Fortaleza (CE), que estivessem em situação de rua, que tivessem histórico de abuso de drogas e que tivessem acesso à serviços de saúde mental, e que estivessem em maioridade e com disponibilidade para participar. Não foram selecionados mais participantes pois as histórias se repetiam, então os participantes foram escolhidos por terem histórias diferentes e terem se aproximado mais dos pesquisadores.
Um dos participantes mudou para Fortaleza a trabalho, de 43 anos, casou e mudou-se para a casa dos familiares da esposa, após desentendimentos com eles, decidiu por conta própria não procurar ajuda de familiares e sim, morar na rua, para não depender de ninguém. Há vinte anos está nessa condição, faz uso apenas de cigarro e álcool (que já usava antes), e não usa outras substâncias químicas “mais pesadas”. Diz que se reconhece como alguém que ajuda seus companheiros a não se envolverem em assaltos e drogas ilícitas. Ele qualificação para 5 profissões (pedreiro e eletricista são alguns deles), e atualmente estava fazendo “bico”, porém tem encontrado dificuldades para recolocar no mercado de trabalho devido estar em situação de rua. Após sua companheira insistir, ele decidiu retornar à sua casa, porém intercalava seus dias na rua e na casa, pois era na rua que ele podia ver seus amigos e ter mais possibilidade de arrumar emprego. 
O caso desse participante chama a atenção pois não ocorreu devido uso abusivo de drogas, mas praticamente uma escolha de vida, não só de morar na rua, mas como de permanecer, tendo surgido a opção e possibilidade de morar numa casa. Daí já quebra um estigma de que o indivíduo em situação de rua o está somente devido ao uso de drogas. 
O segundo participante em situação de rua informou que perdeu sua mãe com 3 anos e foi criada por sua madrasta, que faia diferença entre seus filhos e ele, recebendo nenhum afeto de sua parte e sim rejeição. Aos 23 anos experimentou cocaína em festas e então começou o uso da substância, confessou ser uma tentativa de ficar mais feliz e sentir algo novo. Após isso passou por 17 internações, iniciou e perdeu diversos empregos, e então, passou a viver em situação de rua. Atualmente faz uso de crack e está em novo processo de reabilitação. Nota-se uma diferença na narrativa dos dois, e como se enxergam durante e após estarem em condição de rua; esse sendo participante se chama de egoísta e falso pela escolha das drogas que fez pensando apenas em si próprio, já o primeiro participante diz ter escolhido a rua, porém que sente medo da violência na rua e nota que houve perda ao fazer esta escolha. Por fim, nota-se que ambos passaram por processos que o estudo chama de metamorfose, pois os sujeitos se percebiam de formas diferente de acordo com o que estava vivenciando. Isso mostra como o ambiente e os que nos cerca muda a nossa visão sobre nós mesmos, e principalmente, que o “personagem” que estamos sendo agora não determinará o futuro, mas que para cada fase ou realidade que vivenciamos, nós estamos nessa condição, e não somos, de forma a reduzir o sujeito àquilo de forma imutável.

Continue navegando