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Tratamento de Água de Abastecimento D I S C I P L I N A : CAPÍTULO 2: SISTEMA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA 2-2 Tratamento de Água de Abastecimento S IS TE M A D E A B A ST EC IM EN TO D E Á G U A 2 2�1 CONCEITOS E FUNCIONAMENTO Um SAA é composto pelas seguintes partes: 6 Manancial: fontes de água superficiais ou subterrâneas que são usadas para abastecimento humano. 6 Captação: é a primeira unidade do sistema de abasteci- mento de água responsável por coletar de modo adequado a água do manancial, também chamada de água bruta. 6 Adutora: é a tubulação de grande diâmetro usada para a condução da água do ponto de captação no manancial até a Estação de Tratamento de Água (adutora de água bruta), e da Estação de Tratamento de Água até os reser- vatórios de distribuição (adutora de água tratada). 6 Estação Elevatória: é o conjunto das instalações e equipamentos de bombeamento, destinados a transportar a água a pontos mais distantes ou mais elevados, ou para aumentar a vazão de linhas adutoras. ○ Estação Elevatória de Água Bruta (EEAB): transporta água bruta do manancial até a Estação de Tratamento de Água ○ Estação Elevatória de Água Tratada (EEAT): transporta água tratada da Estação de Tratamento de Água até os reservatórios ou pontos mais elevados da rede de distribuição. 6 Estação de tratamento: unidade industrial responsável pela purificação da água bruta coletada no manancial, se- guindo critérios de qualidade especificados na legislação. 6 Reservatório: grandes caixas de concreto onde fica re- servada a água após tratamento. 2-3 Tratamento de Água de Abastecimento S IS TE M A D E A B A ST EC IM EN TO D E Á G U A 2 6 Rede de distribuição: adutoras, tubulações e en- canamentos por onde se distribui a água tratada para a população. 2.1.1 Manancial Manancial de abastecimento é qualquer corpo d’água super- ficial ou subterrâneo utilizado para fins humanos, industriais, ani- mais ou de irrigação, sendo também uma conceituação de fonte de abastecimento de água que pode ser, por exemplo, um rio um lago, uma nascente ou poço, proveniente do lençol freático ou do lençol profundo. O Brasil está incluído entre os países de maior reserva de água doce, ou seja, 13,8% do deflúvio médio mundial, com uma disponibilidade hídrica per capita variando de 1.835 m³/hab./ano, na bacia hidrográfica do Atlântico Leste, a 628.938 m³/hab./ano, na bacia Amazônica. Porém, devido às suas dimensões geográficas e diversidade climática, algumas regiões sofrem graves problemas de escassez de água, como o Semiárido nordestino. A boa qualidade das águas do manancial de abastecimento é fundamental para a efetividade do tratamento convencional quan- to à sua capacidade de tornar a água bruta em potável. Segundo a Resolução CONAMA 357/2005, que dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadra- mento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamen- to de efluentes, e dá outras providências, as águas de Classe 2 (os padrões de qualidade desta classe são definidos no art. 15 da mesma resolução), dentre os demais usos a que se destinam, podem destinar-se ao abastecimento doméstico após tratamento convencional. À medida que a qualidade das águas do manancial tende a se deteriorar, novas etapas devem ser implementadas ao 2-4 Tratamento de Água de Abastecimento S IS TE M A D E A B A ST EC IM EN TO D E Á G U A 2 processo de tratamento para alcançar os padrões de potabilidade determinados pela portaria do Ministério da Saúde. Portanto, é fundamental proteger o manancial de abastecimento para garantir a manutenção da qualidade das águas superficiais e evitar o acrés- cimo nos custos de tratamento. A revitalização de rios, lagos e represas em muitas regiões do Brasil, especialmente no Sudeste, pode também promover estí- mulos econômicos e recuperar o ciclo hidrossocial. Nessas regiões impactadas do Sudeste, com um passivo ambiental muito alto, a revitalização pode promover geração de emprego e renda, novas oportunidades de usos múltiplos e gerar uma indústria de novas e promissoras tecnologias para gestão (monitoramento avan- çado, consultorias, formação de recursos humanos). É fundamental, entretanto, promover, em âmbito nacional no Bra- sil, um conjunto de estudos estratégicos sobre recursos hídricos e energia, recursos hídricos e economia, água e saúde humana, água e mudanças globais, com a finalidade de promover visões e cená- rios de longo prazo que estimulem políticas públicas consolidadas. A importância da preservação do manancial de captação é lembrada na Declaração Universal dos Direitos da Água, promul- gada pela ONU em 1992, em seu artigo 3º. Ela lembra que: “Os mecanismos naturais de transformação da água bruta em água potável são lentos, frágeis e muito limitados. Assim sendo, a água deve ser manipulada com racionalidade, precaução e parcimô- nia.” Deve-se usar as ferramentas da legislação ambiental para ga- rantir a proteção dos mananciais. 2-5 Tratamento de Água de Abastecimento S IS TE M A D E A B A ST EC IM EN TO D E Á G U A 2 2.1.2 Captação de água Os cursos d’água são um espelho de tudo o que se passa na bacia hidrográfica, que constitui um ente sistêmico de interação das águas com os elementos dos meios físico, biótico, socioeconô- mico e cultural, incluindo, portanto, tanto os elementos naturais quanto às atividades humanas ali existentes. Fisicamente, a bacia hidrográfica é uma área de captação natural da água de precipi- tação que faz convergir o escoamento hídrico, em geral, para um único ponto de saída. Assim, ela se compõe de um conjunto de su- perfícies vertentes e de uma rede de drenagem formada por cursos d’água que confluem até resultar num leito único. Considerando- -se este fato, tudo o que neste ocorre é consequência das caracterís- ticas naturais da bacia, das formas de ocupação do território e da utilização das águas que para ali convergem. Entende-se captação de água bruta as estruturas e disposi- tivos construídos ou montados junto ao local onde pode-se retirar a água bruta destinada ao sistema de abastecimento. Em relação à captação das águas, alguns pontos devem ser observados: 6 Na captação de águas superficiais (extração das águas nos rios, córregos, represas ou lagos) – Ga- rantia de suprimento e funcionamento contínuos, inclu- sive em épocas de estiagem; Localizar-se em ponto de maior proteção sanitária contra eventual poluição e aci- dente com produtos químicos, a fim de garantir a melhor qualidade da água bruta. 2-6 Tratamento de Água de Abastecimento S IS TE M A D E A B A ST EC IM EN TO D E Á G U A 2 6 Na captação de águas subterrâneas1 (lençol freáti- co e lençol confinado) – como via preventiva em águas presentes em áreas urbanas, sugere-se a implantação de redes de coleta de esgotos e de lixo urbano para que não comprometa a qualidade de tais águas. As captações de água de superfície destinada ao abasteci- mento humano, mesmo que cercadas de cuidados com a qualidade do manancial, estão sujeitas a fatores que comprometem a quali- dade das águas captadas, tais como: lançamento de esgoto sani- tário, despejos de resíduos industriais, destinação inadequada de lixo, atividade mineradora e presença de resíduos de agrotóxicos. Num processo de captação de água, algumas condições devem ser analisadas, tais como: 6 Quantidade de água: suficiência da vazão em proces- sos de (não) estiagem, quantidade suficiente para o con- sumo previsto; 6 Qualidade da água: livre de poluentes ou contaminan- tes atendendo as proteções sanitárias adequadas; 6 Garantia de funcionamento: evitando-se interrup- ções imprevistas no sistema e garantia do nível mínimo e máximo, evitando-se escassez e inundações. 1 Como regra geral, a água subterrânea não necessita ser tratada para ser consumida, como acontece com as águas dos rios, tendo em vista ser naturalmentefiltrada e puri- ficada, muito além do que se poderia obter por meio do processo usual de tratamento. Como resultado, a utilização do manancial subterrâneo é relativamente muito mais barata, sobretudo quando 90% dos esgotos e 70% dos efluentes industriais são lan- çados sem tratamento nos rios. Portanto, as exigências de qualidade das empresas, que estão sendo feitas pelo “Mercado Global” (ISO 9000, ISO 14000), inclusive das empresas de saneamento, e a Lei Federal N o. 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, re- presentam boas perspectivas de incremento no uso do manancial subterrâneo para abastecimento urbano no Brasil. 2-7 Tratamento de Água de Abastecimento S IS TE M A D E A B A ST EC IM EN TO D E Á G U A 2 6 Economia das instalações: menor curso e maior fun- cionalidade possível. 6 Localização: aquela que possibilite o menor percur- so possível de adução e menores alturas de transposição para caminhamento. 2.1.3 Adutoras Adução é a etapa onde a água é transportada de uma uni- dade do sistema à outra. Esse transporte é feito nas adutoras. O transporte da água pode dar-se de duas formas: utilizando ener- gia elétrica ou energia potencial (gravidade). A utilização de uma ou de outra forma está intrinsecamente ligada ao relevo da região onde se encontra a captação, a ETA e os reservatórios. Sempre que possível irá se optar pelo transporte pela gravidade. Assim, caso a captação ou a ETA estejam em uma cota superior aos reservató- rios, far-se-á uso da gravidade para o transporte. Já, nos casos em que a ETA ou os reservatórios encontrem-se em uma cota acima da captação ou da ETA, é necessário o emprego de equipamen- to de recalque (conjunto motor-bomba e acessórios). Ainda existe a possibilidade, devido ao relevo, da necessidade de utiliza- ção de adutoras mistas, ou seja, até determinado ponto se utiliza a força da gravidade e, daí em diante, emprega-se equipamentos de recalque. As adutoras podem ainda ser classificadas como: 6 Adutora por gravidade em conduto livre: nes- se tipo de adutora, a água escoa sempre em declive, mantendo uma superfície livre sob o efeito da pressão 2-8 Tratamento de Água de Abastecimento S IS TE M A D E A B A ST EC IM EN TO D E Á G U A 2 atmosférica. Os condutos não funcionam com seção plena (totalmente cheios). 6 Adutora por gravidade em conduto forçado: nesse tipo de adutora, a pressão interna permanentemente supe- rior à pressão atmosférica permite à água mover-se, quer em sentido descendente, quer em sentido ascendente. 6 Adutora de recalque: quando, por exemplo, o local da captação estiver em um nível inferior, que não possibilite a adução por gravidade, é necessário o emprego de equi- pamento de recalque (conjunto moto-bomba e acessó- rios). Nesse caso, diz-se que a adução é feita em condutos forçados por recalque. A Figura 2-1 apresenta os tipos de adução aplicados à água baseados na linha piezométrica. a) b) Reservatório Reservatório Linha piezométrica coincidente com o nível d’água Reservatório Reservatório Linha piezométrica 2-9 Tratamento de Água de Abastecimento S IS TE M A D E A B A ST EC IM EN TO D E Á G U A 2 c) Figura 2-1: Sistemas de adução (a) gravidade por conduto livre, (b) gravidade por conduto forçado e (c) por recalque. (FONTE: VERAS, 2017) 2.1.4 Estações Elevatórias As estações elevatórias são partes essenciais dos sistemas públicos de abastecimento de água, sendo utilizadas durante todo o processo de captação, tratamento, reservação e distribuição de água. Elas compreendem o conjunto de edifícios, máquinas, equi- pamentos e aparelhos necessários para elevação de água, bruta ou tratada, de um ponto para outro, com pressão e em quantidade adequada, a qualquer momento. Para a escolha do local adequado à construção de uma esta- ção elevatória, devem ser considerados vários aspectos, a exemplo dos seguintes: Reservatório intermediário Estação elevatória Reservatório de distribuição Linha piezométrica (recalque) Linha piezométrica (gravidade) 2-10 Tratamento de Água de Abastecimento S IS TE M A D E A B A ST EC IM EN TO D E Á G U A 2 6 As dimensões do terreno deverão satisfazer às necessida- des presentes e à expansão futura 6 Baixo custo e facilidade de desapropriação do terreno 6 Disponibilidade de energia elétrica 6 Facilidade de extravasão do esgoto em condições de even- tuais paralisações dos conjuntos elevatórios 6 Facilidades de acesso 6 Menor desnível geométrico 6 Trajeto mais curto da tubulação de recalque 6 Influências nas condições ambientais 6 Harmonização da obra com o ambiente circunvizinho As estações fornecem energia ao fluído, através das bombas hidráulicas, e permitem que ocorra o escoamento de um ponto ao outro, sendo possível, assim, vencer distâncias e desníveis. Toda- via, estas estações estão sujeitas ao desperdício de água e de ener- gia, por razões como falhas de projeto, formas de operar inadequa- das, manutenção precária, formas contratuais indevidas ou ainda fazendo uso de equipamentos que não otimizam sua operação. As estações elevatórias são mais utilizadas em sistemas em baixa devido às exigências topográficas. Porém, esta situação é pouco comum, já que se beneficia da elevação da água pela compo- nente em alta, de modo a conseguir um sistema em baixa do tipo gravítico. Assim, são minimizados custos relacionados ao projeto, concepção e exploração. Nos subcapítulos seguintes são descritos os principais constituintes de um SAA. 2-11 Tratamento de Água de Abastecimento S IS TE M A D E A B A ST EC IM EN TO D E Á G U A 2 2.1.5 Estações de Tratamento As Estações de Tratamento de Água (ETA’s) têm a finali- dade de transformar a água denominada bruta (sem tratamen- to e imprópria ao consumo humano) em água denominada potável (tratada e adequada ao consumo humano). Nesse processo, a qualidade da água do manancial abastecedor exerce in- fluência direta no tipo de tratamento a ser adotado pelas ETA’s, a fim de que a mesma, ao final do processo, esteja dentro dos pa- drões de potabilidade adequados ao consumo humano, conforme legislação específica. A NBR 12216:1992 fornece diretrizes e estabelece valores para o dimensionamento de estações de tratamento de água po- tável para abastecimento público. Ela faz referência aos seguintes processos hidráulicos: mistura rápida, mistura lenta, decantação, filtração rápida e filtração lenta. Para cada um desses processos hidráulicos, a norma define diversos valores de parâmetros e de dimensões que devem ser respeitados, como forma de otimizar a operação da ETA. Porém, caso sejam realizados testes em labo- ratórios que comprovem que os resultados encontrados experi- mentalmente são mais eficientes, é possível a não utilização dos parâmetros definidos na norma. Além disso, a mesma NBR define e fornece diretrizes de outros processos do tratamento convencio- nal, como a desinfecção, coagulação e correção de pH. Para realizar o tratamento completo da água, a mesma deve passar por diversos procedimentos nos quais eventuais falhas po- dem ocorrer, resultando em custos operacionais. Assim, o trata- mento de água é dividido nas seguintes etapas: Antes do tratamen- to: comprometimento dos mananciais, necessidade de busca de mananciais mais distantes exigindo maior consumo de energia, in- fraestrutura para adução, bombeamento, entre outros. Durante o 2-12 Tratamento de Água de Abastecimento S IS TE M A D E A B A ST EC IM EN TO D E Á G U A 2 tratamento: consumo de produtos químicos, controle operacional, perda de água, consumo de energia elétrica e geração de resíduos. Após o tratamento: qualidade da água tratada, análise de resíduos gerados e seu destino final. O controle de qualidade em cada etapa possibilita à estação de tratamento de água (ETA) atender a crité- rios de qualidade e legislações pertinentes. A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo– SABESP (Figura 2-2) é uma sociedade anônima de economia mista fundada em 1973 e atualmente é responsável pelo forneci- mento de água, coleta e tratamento de esgotos de 367 municípios do Estado de São Paulo. Ela é considerada uma das maiores em- presas de saneamento do mundo em população atendida. São 27,7 milhões de pessoas abastecidas com água e 21,4 milhões de pesso- as com coleta de esgotos. Figura 2-2: Foto da Sabesp (Fonte: www.sabesp.com.br) No Brasil, a legislação que regulamenta o padrão de potabi- lidade de água para consumo humano é a Portaria nº 2.914, de 12 de dezembro de 2011, do Ministério da Saúde. Esta Portaria “es- tabelece os procedimentos e responsabilidades relativos ao con- trole e vigilância da qualidade da água para consumo humano 2-13 Tratamento de Água de Abastecimento S IS TE M A D E A B A ST EC IM EN TO D E Á G U A 2 e seu padrão de potabilidade, e dá outras providências”. Adicio- nalmente, tem-se o Decreto nº 5440, de 04 de maio de 2005, da Presidência da República. Este decreto “estabelece as definições e procedimentos sobre o controle de qualidade da água de siste- mas de abastecimento e institui mecanismos e instrumentos para divulgação de informação ao consumidor sobre a qualidade da água para consumo humano”. Por meio deste Decreto, os dados relativos à qualidade da água tratada e distribuída são disponibili- zados à população sob a forma de um relatório anual denominado “Relatório Anual da Qualidade da Água”. 2.1.6 Reservatórios São unidades destinadas a compensar as variações horárias de vazão. Os reservatórios de distribuição nas redes de água potável (Figura 2-3) destinam-se a garantir a quantidade de água necessá- ria para atender as variações de consumo. Eles evitam interrupções do fornecimento de água, no caso de acidentes no sistema da adu- ção, na estação de tratamento e em certos trechos do sistema de dis- tribuição, além de oferecerem maior segurança ao abastecimento, quando a demanda de emergência se destina a combate de incêndio. Figura 2-3: Foto de um reservatório de distribuição nas redes de água potável (Fonte: https://www.passeidireto.com/arquivo/48330936/ rede-de-distribuicao-de-agua) 2-14 Tratamento de Água de Abastecimento S IS TE M A D E A B A ST EC IM EN TO D E Á G U A 2 Segundo a Fundação Nacional de Saúde (2001), os reser- vatórios são sempre um ponto fraco no sistema de distribuição de água. Para evitar sua contaminação, é necessário que sejam pro- tegidos com estrutura adequada, tubo de ventilação, impermeabi- lização, cobertura, sistema de drenagem, abertura para limpeza, registro de descarga, ladrão e indicador de nível. Reservatórios não produzem água, portanto é importante entender o momento de sua construção para não gerar falsas ex- pectativas e desperdício de recursos erroneamente. Dependendo da sua configuração em relação à rede de distribuição, podem ser classificados como enterrados, semienterrados, apoiados, eleva- dos, de montante e/ou de jusante. Em relação ao seu dimensiona- mento, devem respeitar as seguintes condições: 6 Funcionar como volantes de distribuição, atendendo à va- riação horária do consumo; 6 Assegurar uma reserva de água para combate a incêndios; 6 Manter uma reserva para atender a condições de emer- gência (acidentes, reparo nas instalações, interrupções da adução e outras); 6 Manutenção de pressão na rede de distribuição. A Tabela 2-1 apresenta as especificações mais importantes de um reservatório em relação às suas cotas de níveis característicos: 2-15 Tratamento de Água de Abastecimento S IS TE M A D E A B A ST EC IM EN TO D E Á G U A 2 Tabela 2-1: Especificações mais importantes de um reservatório em relação às suas cotas de níveis característicos Tipo de Nível Características Nível d’água mínimo operacional É o nível mínimo necessário para a operação adequa- da do reservatório. Normalmente este nível é definido acima do limite superior da estrutura de tomada d’água (tomada d’água para casa de força, por exem- plo) de modo a evitar a formação de vórtices nesta entrada e evitar o ingresso de ar no conduto forçado Volume morto Corresponde à parcela do volume total do reservatório inativa ou indisponível para fins de captação de água. Corresponde ao volume do reservatório compreendi- do abaixo nível mínimo operacional. Nível d’água máximo operacional Corresponde ao nível máximo permitido para opera- ção normal do reservatório (sem vertimento). Este nível normalmente corresponde à cota da crista do vertedor ou à borda superior das comportas vertedor. Este nível define o limite máximo do volume útil do reservatório. Volume útil É o volume disponível para operação do reservatório, ou seja, ao atendimento das diversas demandas de água, sendo este volume compreendido entre os níveis máximo e mínimo de operação do reservatório. Volume de espera É o volume para controle de cheias. Corresponde à parcela do volume útil do reservatório destinada ao amortecimento de ondas de cheia, visando ao aten- dimento das restrições de vazão à jusante do barra- mento. Estas restrições são, em geral, adotadas em função da capacidade de escoamento do canal à ju- sante e pelo não comprometimento de infraestruturas existentes, como pontes, rodovias ou áreas urbanas em zonas de inundação. O volume de espera pode ser variável de acordo com a época do ano, uma vez que a probabilidade de ocorrência de vazões intensas varia ao longo do ano. 2-16 Tratamento de Água de Abastecimento S IS TE M A D E A B A ST EC IM EN TO D E Á G U A 2 Tipo de Nível Características Nível d’água máximo maximorum Corresponde à sobrelevação máxima do nível d’água, medida a partir do máximo operacional, disponível para a passagem de cheias. Esta sobrelevação con- siste em um free-board definido entre o nível da crista do vertedor e da crista do barramento que garante que as ondas formadas pela ação dos ventos não passem por sobre o barramento, fato este que poderia ser danoso à estrutura. 2.1.7 Redes de Distribuição Diferente das unidades localizadas, as redes de distribuição de água são compostas por tubulações, conexões, válvulas e hi- drantes, que abrangem toda a área do sistema de abastecimento e funcionam como elemento logístico do sistema encarregado da distribuição em escala ininterrupta. Sua função é a distribuição de água potável para cada usuário do sistema, geralmente por con- duto forçado. Ou seja, onde a água é conduzida à seção plena e sob pressão maior que a atmosfera e considerando-se que todos os seus componentes devem ter resistência suficiente para suportar as pressões internas estáticas, dinâmicas e ocasionadas por transi- tórios hidráulicos operacionais, além dos esforços externos devido ao peso do solo sobre a tubulação e carga de veículos na superfície. A partir desta rede geral, são alimentados, por meio de ra- mais de ligação (define-se ramal de ligação como a tubula- ção que assegura o abastecimento predial de água, desde a rede pública até ao limite da propriedade a servir), os diversos edifícios ou instalações. Em relação à rede de distribuição, distinguem-se dois tipos de condutos: 2-17 Tratamento de Água de Abastecimento S IS TE M A D E A B A ST EC IM EN TO D E Á G U A 2 6 Os condutos principais, também chamados troncos ou mestres, são as canalizações de maior diâmetro respon- sáveis pela alimentação dos condutos secundários. A eles interessa, portanto, o abastecimento de extensas áreas. 6 Os condutos secundários, de menor diâmetro, são os que estão imediatamente em contato com os prédios a abaste- cer e cuja alimentação depende diretamente deles. A área servida por um conduto deste tipo é restrito e está nas suas vizinhanças. O traçado dos condutos principais deve tomar em consideração, de preferência: 6 Ruas sem pavimentação; 6 Ruas com pavimentação menos onerosa; 6 Ruas de menor intensidade de trânsito; 6 Proximidadede grandes consumidores; 6 Proximidade das áreas e de edifícios que devem ser prote- gidos contra incêndio. As redes de distribuição são formadas por dois tipos de canalizações: 6 Principal: São as canalizações de maior diâmetro que tem a finalidade de levar água às canalizações secundá- rias. Estas canalizações também são conhecidas como ca- nalização mestra ou conduto tronco. 6 Secundária: São as canalizações de menor diâmetro e tem a finalidade de abastecer os pontos de consumo no sistema de distribuição. 2-18 Tratamento de Água de Abastecimento S IS TE M A D E A B A ST EC IM EN TO D E Á G U A 2 Com característica do tipo de traçado destes condu- tos, classifica-os como: 9 Rede ramificada: Esta configuração é característica de áreas que possuem um desenvolvimento linear em que as ruas não se conectam entre si devido a problemas na to- pografia local ou de traçados urbanos. Estas redes podem ter traçados do tipo “espinha de peixe” ou “em grelha”. A Figura 2-4 apresenta esses tipos de traçados. 9 Rede malhada: Esta configuração de rede é típica de áreas com ruas formando malhas viárias. As tubulações principais formam blocos ou anéis, permitindo o abaste- cimento do sistema por mais de um caminho, favorecen- do a manutenção na rede com o mínimo possível de inter- rupção no abastecimento de água. 9 Rede mista: a rede mista nada mais é do que a combina- ção da rede ramificada com a rede malhada. Rede em Grelha Rede Espinha de Peixe Figura 2-4: Tipos de traçados aplicados às redes de distribuição. (Fonte: Autor) A Figura 2-5 apresenta os tipos de redes aplicados ao proces- so de distribuição de água. 2-19 Tratamento de Água de Abastecimento S IS TE M A D E A B A ST EC IM EN TO D E Á G U A 2 Figura 2-5: Tipos de redes aplicados ao processo de distribuição de água (Fonte: https://www.eosconsultores.com.br/sis- tema-de-distribuicao-de-agua/ 2021) Sob o ponto de vista hidráulico, nas redes de distribuição de água malhadas, o escoamento é bidirecional, enquanto que nas redes ramificadas é, normalmente, unidirecional, salvo se existir mais do que um ponto de alimentação do sistema (reservatório ou estação elevatória). Nas redes mistas, o escoamento é, si- multaneamente, bidirecional e unidirecional. Os volumes de água perdidos em um determinado espaço de tempo, ou seja, a Vazão (Q) no sistema de distribuição de água é uma função da raiz quadrada da carga hidráulica (H), ou seja, Q=- f(H½) (Equação 2-1), no caso de tubulações rígidas. No caso de tubulações plásticas, a função é praticamente linear. As perdas de água se configuram também como um grave problema ambiental, onde medidas urgentes devem ser tomadas no sentido de minimizar tais perdas, na tentativa de evitar proble- mas futuros de disponibilidade hídrica. Segundo o Sistema Nacional de Informações sobre Sanea- mento - SNIS (2015), atualmente, o Brasil tem, em média, perda de 37% a 42% de água tratada em seus sistemas de abastecimento, um índice consideravelmente acima do adequado. Ciente disso, o 2-20 Tratamento de Água de Abastecimento S IS TE M A D E A B A ST EC IM EN TO D E Á G U A 2 Plano Nacional de Saneamento, em junho de 2013, definiu que o país diminua esse índice de perdas na distribuição de água para 31% até 2033. Se forem comparados a outros países, como a Alemanha e o Japão, que tem este índice de apenas 11%, ou a Austrália, que passou por um período histórico de secas e atualmente apresenta 16% de perda, o objetivo do Brasil é muito modesto. A manutenção correta do sistema de distribuição de água é um investimento alto e de longo prazo que interfere de forma direta em uma conta de água menos custosa para o consumidor e benefícios futuros imensos.