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S ÍFILIS Doença infectocontagiosa de evolução crônica e curável Bactéria Treponema pallidum Gram -, móvel, espiroqueta microaerófilo Movimentação de flexo e rotação -> penetração (microscópio de campo escuro) Entrada pela pele e mucosas Maior parte dos pacientes assintomáticos Homem é o único reservatório EPIDEMIOLOGIA Fatores socioeconômicos, higiene e comportamento sexual Diminuiu com o uso da penicilina (ACO -> maior permissividade -> aumento) MAIOR RISCO: 15-24 anos, migrantes, prostitutas, usuários de drogas injetáveis e homossexuais masculinos Notificação compulsória TRANSMISSÃO ● Sexual: órgãos genitais – pode haver contato e não transmitir ● Transplacentária – qualquer momento, incluindo parto vaginal ● Transfusão ● Acidente com perfurocortantes INCUBAÇÃO: 10-90 dias (21 dias) após o contato TRANSMISSIBILIDADE: precisa ter lesões (cancro duro, condiloma, placas), sendo maior nos períodos iniciais (primária e secundária) SUSCETIBILIDADE: todos os expostos IMUNIDADE: anticorpos desenvolvidos não protegem FISIOPATOLOGIA PRIMÁRIA: treponema penetra a pele -> quimiotaxia de neutrófilos -> cancro (IL-2, IL-10, IL-12 e IFN) Não tratou? Neutrófilos trocados por linfócitos -> atraem macrófagos Th1: macrófagos fagocitam e destroem microrganismos Início do cancro duro -> produção de anticorpos contra o treponema Resistencia bacteriana: bactérias se alojam em locais protegidos (SNC, aorta, ossos, olhos) SECUNDÁRIA: bactérias se multiplicam e máximo nível de anticorpos -> mudam o cancro para as lesões da sífilis secundária Lesões somem após semanas e começa a latente TERCIÁRIA: forma granulomas com poucos treponemas FORMAS CLÍNICAS PRIMÁRIA Incubação: 3 semanas (10-90 dias) Duração: 3-8 semanas Manifestações: cancro duro após 1 semana de contato (local de entrada – pênis, vagina, colo do útero, boca) Lesão única ulcerada com muitos treponemas (coloração de prata), indolor, bordas definidas e com pouca secreção Região anal pode ter dor, sangramento e fissuras Infiltrado de linfócitos, mononucleares e plasmócitos + linfadenopatia regional perto da lesão DD: cancro mole, herpes, piodermites, donovanose, câncer, leishmaniose tegumentar e úlceras Testes sorológicos positivam SECUNDÁRIA Após 6 semanas a 6 meses da cicatrização do cancro duro LESÕES: roséola (mácula eritematosa) no tórax – rosas, confluentes e não descamativas Confundidas com alergias, rubéola, sarampo, erupção por drogas Evoluem para pápulas eritematosas acastanhadas, com hiperqueratose focal DD: líquen plano (lesões roxas, pruriginosas) e psoríase (apresenta sinal do orvalho) Condilomas planos nas dobras – úmidos e vegetantes (confunde com verruga de HPV) Lesões descamativas não pruriginosas na palma da mão e planta do pé DD: psoríase, granuloma, hanseníase, ptiríase rósea Vasodilatação e espessamento dos vasos (pode ocorrer oclusão por fibrina) Infiltrado mononuclear com muitos plasmócitos Granulomas com células de Langerhans ou gigantes tipo corpo estranho Micropoliadenopatia: linfonodos epitrocleares, inguinais e axilares Sintomas: febre, mal-estar, cefaleia, depressão + ites, dores articulares e ósseas, anemia, leucocitose Alterações nas unhas – estrias, depressões e fissuras LATENTE – nenhuma sintomatologia Diagnóstico por testes treponêmicos e não treponêmicos Exame do liquor para pesquisar comprometimentos do SNC (mais chance em imunossuprimidos) TERCIÁRIA – após a latente Pode surgir até 40 anos após a infecção Inflamação provoca destruição tecidual, acometimento do sistema nervoso e cardiovascular LESÕES: gomas sifilíticas – podem causar desfiguração, incapacidade e levar a morte Profissionais da saúde -> lesões nas pontas dos dedos Nódulos granulomatosos: superficiais, ulcerativos, indolores e podem formar placas – deixam cicatriz DD: lúpus vulgar, eritema e lesões de tuberculose Placas granulomatosas: parecidas com a secundária + infiltração (pode chegar no tecido subcutâneo) Couro cabeludo, nuca, nádegas, regiões esternal e supraclavicular ● Cardiovascular Após mais de 10 anos da infecção Treponemas entram no vaso aórtico causando inflamação crônica com necrose e cicatriz do tecido e músculos Manifestações: aneurisma de aorta, estenose com angina, insuficiência cardíaca, lesões gomosas e calcificação aórtica DD: tuberculose, leishmaniose, aneurismas, tumores, linfomas, hanseníase, sarcoidose NEUROSSÍFILIS – após 5-35 anos da infecção Pode ocorrer em qualquer fase Envolvimento ocular, auditivo, cognitivo, SNC e cutâneo Bactéria invade o SNC e pode levar a meningite ● Meníngea: meningite aguda, hidrocefalia, convulsão, afasia, hemiplegia ● Envolvimento basilar: tinido, surdez e paralisia de Bell ● Paquimeningite espinhal: dor cervical, atrofia muscular, paraplegia MENINGOVASCULAR ● Cerebral: hemiplegia, hemiparesia, afasia, convulsões ● Espinhal: meningomelite (parestesia, fraqueza) e meningite transversa (paraplegia, hemiparesia, retenção urinária) PARENQUIMATOSA Paralisia geral e tabes dorsalis (degeneração neuronal) – parestesia, dor, ataxia, sinal de Romberg, pupila de Argil-Roberts Diagnóstico: achados clínicos + alterações no LCR (linfócitos e monócitos) + VDRL no LCR Indicações de punção lombar: sintomas neurológicos ou oftalmológicos, evidencia de sífilis terciária e falha no tratamento sem reexposição DD: neurotoxoplasmose e neurocriptococose Tratamento: todos os casos com VDRL reagente no LCR 1ª escolha: Benzilpenicilina potássica/cristalina 3-4 milhões UI – EV 4-4h por 14 dias 2ª escolha: ceftriaxona 2g – EV 1x/dia por 10-14 dias SÍFILIS E HIV Nos HIV+ e CD4 muito baixo pode haver aceleração dos estágios Úlceras de sífilis facilitam transmissão de HIV Cancros múltiplos e profundos com resolução mais lenta Maior frequência de sobreposição de estágios Formas nodulares, perfuração do palato, comprometimento ocular e neurossífilis mais frequentes Manifestações neurológicas podem preceder lesões de pele Maior falha terapêutica Diagnóstico mais difícil pela ativação das células beta que produzem FP em testes não treponêmicos Maior necessidade de exames de LCR DIAGNÓSTICO DIRETOS : pesquisa do treponema em amostras da lesão ● Microscopia de campo escuro: treponema em lesões primárias e secundárias – visualização de treponemas móveis em exsudato seroso ● Pesquisa direta com material corado: esfregaço em lâmina -> menor sensibilidade IMUNOLÓGICOS : pesquisa de anticorpos no sangue, plasma ou soro ● Não treponêmicos (VDRL): detectam IgG e IgM contra lipídeos liberados pelas células lesadas Indicam sífilis ativa Fenômeno de prozona: sífilis secundária pode formar complexos de anticorpos -> falso-negativo Resposta adequada: queda da titulação em pelo menos 2 diluições em 1 ano para tardia (titulação baixa) Cicatriz: fica dando positivo mesmo depois de tratar Diagnóstico e monitoramento da resposta ao tratamento e controle de cura ● Treponêmicos: FTA-abs: imunofluorescência indireta ELISA: muito sensíveis e capacidade de automação Teste rápido: imunocromatografia de fluxo lateral ou plataforma de duplo percurso Amostra de sangue por punção digital ou venosa Mais indicados para início do diagnóstico Não são úteis para verificar se o tratamento está certo 2 reagentes: diagnóstico de sífilis Cicatriz: queda da titulação em pelo menos duas diluições Tratar, notificar e monitorar com teste não treponêmico 1 reagente: realiza-se outro treponêmicos com metodologia diferente do primeiro Reagente -> diagnóstico ou cicatriz Não reagente -> exclui diagnóstico Não disponível -> avaliar exposição de risco, sinais e sintomais Tratar, notificar e monitorar comteste não treponêmicos 0 reagente: se suspeita persistir, solicitar nova amostra em 30 dias GESTANTES: assintomática com pelo menos 1 teste reagente FREQUÊNCIA DE TESTAGEM SEMPRE : exposição sexual sem uso de preservativos Violência sexual Diagnóstico de outras ISTs Parceiros sexuais diagnosticados Gestante na primeira consulta, início do 3º trimestre e no parto Pessoas com úlcera anogenital, linfadenopatia generalizada e sinais de sífilis secundária ANUALMENTE : < 30 anos com vida sexual ativa SEMESTRALMENTE : homossexuais, prostitutas, travesti, drogas injetáveis e pessoas com HIV TRIMESTRALMENTE : pessoa em uso de PrEP e último teste há mais de 3 meses TRATAMENTO BENZILPENICILINA BENZATINA Opção segura e eficaz para gestantes Tratar após 1 teste reagente, independente de sintomas, em: ● Gestantes, vitimas de violência sexual, chance de perda de seguimento, sinais e sintomas É necessário fazer outro teste e tratar os parceiros Pacientes sintomáticos que não da para fazer o teste, tratar empiricamente Via IM em ventro-glúteo (ou vasto lateral/dorso glúteo) Reação de Jarish-Herxheimer : pode ocorrer 24h após primeira dose, principalmente na primária e secundária Exacerbação das lesões: eritema, dor, prurido, mal-estar, febre, cefaleia e artralgia Somem espontaneamente e podem ser controladas por analgésicos Gestantes podem ter parto prematuro (libera muitas prostaglandinas) Alergia: urticária e exantema pruriginoso OUTRAS OPÇÕES DOXICICLINA (não gestantes) CEFTRIAXONA Primária e secundária: Benzilpenicilina 2,4 milhões UI IM – dose única OU doxiciclina 100 mg 12/12h VO por 15 dias Teste não treponêmico trimestral Terciaria e latente: Benzilpenicilina 2,4 milhões UI IM 1x/semana por 3 semanas OU doxiciclina 100 mg 12/12h VO por 30 dias Teste não treponêmico trimestral Neurossífilis: benzilpenicilina potássica/cristalina 18-24 milhões UI 1x/dia EV OU ceftriaxona 2g IV 1x/dia por 10-14 dias Doses de 3-4 milhões a cada 4h ou infusão contínua por 14 dias Exames de LCR de 6/6 meses até normalizar MONITORAMENTO Testes não treponêmicos mensais em gestantes Testes não treponêmicos trimestrais até 1 ano Classificação da resposta: imune adequada ou reativação G ESTANTES Testar, no mínimo na primeira consulta pré-natal Testar no início do 3º trimestre Testar na internação para o parto ou aborto ou exposição Tratar antes dos resultados de exames complementares Pós-parto: seguimento trimestral até 1 ano PARCEIROS SEXUAIS Podem estar infectados mesmo com imunológico não reagente Desenvolvem em até 30 dias do contato sexual Tratamento presuntivo: 1 dose de benzilpenicilina benzatina IM Teste reagente -> tratar conforme a fase PREVENÇÃO E CONTROLE SÍFILIS ADQUIRIDA • Informar a pessoa sobre a chance de fazer prevenção combinada para IST, HIV e hepatites virais • Oferecer testes rápidos para HIV, sífilis, hepatite B e hepatite C • Oferecer vacina para hepatite A, hepatite B e HPV (meninas de 9-14 anos; meninos de 11-14 anos) • Orientar que o paciente finalize o tratamento mesmo sem sinais e sintomas e agendar retorno para seguimento e controle de cura • Tratar, acompanhar e orientar os parceiros sexuais • Oferecer preservativos e orientar sobre o uso em todas as relações sexuais • Notificar e investigar o caso SÍFILIS EM GESTANTES • Diagnosticar e tratar imediatamente, bem como seus parceiros sexuais • O controle deve abranger os momentos antes de engravidar, durante a gravidez, internação para o parto ou curetagem por abortamento • A SÍFILIS CONGÊNITA É TOTALMENTE PREVENÍVEL CASO A GESTANTE RECEBA TRATAMENTO ADEQUADO • ANTES DA GRAVIDEZ: Testagem para sífilis em mulheres com intenção de engravidar e dos parceiros sexuais Inicia tratamento imediato em mulher e parceiro após diagnóstico • DURANTE GRAVIDEZ: Testagem para sífilis na primeira consulta do pré-natal, no 3º trimestre, no momento do parto e em caso de aborto Vacina contra hepatite B Orientar seguimento do tratamento mesmo sem sinais e sintomas Agendar retorno para seguimento e controle de cura Tratar, acompanhar e orientar os parceiros sexuais Oferecer preservativos e orientar sobre o uso em todas as relações sexuais Notificar e investigar o caso • DURANTE A INTERNAÇÃO PARA O PARTO OU CURETAGEM POR ABORTAMENTO Testagem para sífilis, independentemente se fez no pré-natal. Preferir teste não treponêmico em situação que a gestante já foi diagnosticada e tratada Tratar a puérpera, parceiro sexual e RN Encaminhar mãe, parceiro sexual e RN para seguimento ambulatorial Notificar e investigar
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