fichamento o universo de Platão

Prévia do material em texto

FICHAMENTO: O UNIVERSO DE PLATÃO
Capítulo 1 – Os Gregos descobrem o Cosmos
Francisco Alvarenga
“Em inglês cosmos é um órfão linguístico, um substantivo sem um verbo apresentado. Não se dá o mesmo em grego, que tem um verbo ativo, transitivo, Kosméo: colocar em ordem, arranjar, arrumar.” (P. 11)
“Em grego a afinidade com o sentido primário é perspícua, já que Komos denota uma ordem criada, composta, ralçadora da beleza. Ora, para os gregos o sentido moral se funde com o estético: eles frequentemente dizem Kalos , “bonito”, ou aischrós, “feio”, para moralmente admiravel ou moralmente repugnante.” (P.11)
”Este cosmos, o mesmo para todos , nenhum deus ou homem o fez, mas foi, é e será para sempre: um fogo constantemente ardendo, acendendo-se de acordo com as medidas e sendo extinto de acordo com as medidas. (Heráclito. Fragmento B308).” (P. 12)
“Como sabemos fogo era a substância universal para Heráclito.” (P.12)
“As outras duas massas do mundo que devem ser acrecentadas para dar conta da totalidade do seu universo material, água e terra, devem ser, então, fogo (extinto), a água é o fogo liquefeito e a terra fogo solidificado. Considerando que tudo está em constante mudança, ele admite que o processo do mundo consiste de intertransformações contínuas destes três componentes. Em cada uma destas trocas, um elemento assegura sua própria existência ao destruir o outro; em sua própria linguagem (B76) “cada um vive a morte do outro.) (P.12)
“É destes três que se compõe toda matéria que existe, sua distribuição entre fogo, água e terra permaneceria invariável e o Universo como um todo seria eterno, apesar das mudanças incessante em seu comprimento e largura.” (P. 13)
“Heráclito quebra a tradição cosmogônica que vinha desde Tales, Anaximandro e Anaxímenes: a teoria física centrada na questão, “Qual é a fonte e a origem do nosso mundo? A partir de que começou o nosso mundo e para o que ele eventualmente retornará?.” (P. 13)
“Isso mostra como o mundo poderia ser infinito, sem inicio nem fim em seu todo, já que nascimento e morte se mantêm equilibrados dentro de suas partes. Aqui temos pela primeira vez na história grega uma cosmologia sem cosmogonia.” (P. 13)
“Cosmos não pode significar, simplesmente, ordem, organização, mas aquilo que tem essa ordem, esta organização; deve significar o mundo em seu aspecto de ordem.” (P.13)
“A ordem que Heráclito pensa, não é a ordem estática do padrão arquitetônico, mas a ordem dinâmica que caracteriza as transformações de seus elementos.” (P.13)
“Em Heráclito as simetrias são exclusivammente temporais: elas são sequências causais. A ordem de seu mundo revela-se na cosntância das “medidas” de suas ignições e extinções quilibradas.” (P.13)
“Fogo, água e terra estão em oposição mortal. Estão em guerra. Estão se aniquilando uns aos outros. Mas as simetrias dinâmicas de suas intertransformações harmonizam os oponentes em guerra, fazem-nos perpetuarem-se mutuamente através da sua própria luta e, assim, formarem um mundo, que é eterno porque em todo ele a vida é perpetuamente renovada pela morte.” (P.14)
“Embora o logos seja comum, a maioria vive como se estivesse um conhecimento particular.” (P.14)
“Alega que seus ensinamentos sobre o cosmos transmitem uma cuja apreensão mudara seu modo de conhecimento, suas próprias vidas – que, se eles conpreensem aquilo de que falas, suas percepções, suas falas, suas ações se alterariam tão drasticamente comose alterariam as de um sinâmbulo que fosse repentinamente despertado.” (P. !5)
“O que faz do mundo um cosmos é a existência de tais regularidades de tão alto nível e absolutamente inquebráveis.” (P. 15)
“Para responsabilizar um homem por um ato, este deve ser ser – deve ser a ação escolhida por alguém com sua vontade, suas percepções do munso e de si mesmo, suas lembranças, seus desejos e aspirações atuais.” (P.18)
“Mas o que a sua linguagem tem equivalentes – na realidade os originais verdadeiros – de um dos componentes desse termo: as palavras para natural e natureza, physikós, physis. E isto me dá tudo que preciso, pois physis é o termo chave na transição do mundo de Homero, Hesíodo, Arquíloco, Safo, Ésquilo, Sófocles, Aristófanes, Heródoto e dos oradores – ou seja, do mundo da crença comume da imaginação dos períodos arcaicos e clássico – para o mundo dos physiológoi e de alguns intelectuais duros e flexiveis como Tucídides e os hipocráticos – o mundo que era do cosmos.” (P.21)
“Que a physis é ainda a mais básica que o cosmos torna-se evidente no fato de os descobridores do cosmos serem chamados de physiológoi e não kosmológoi, e que “natureza” ocorre muito mais frequentemente nos títulos de seus tratados do que “cosmos”. A beleza da physis é que ela mostra o que havia na concepção tradicional do mundo que deu aos physiológoi os materiais para sua nova construção. O cosmos eles tiveram de inventar. A physis eles já encontraram pronta no esquema conceptual que herdaram; tudo o que precisavam fazer com a physis era dar-lhe um novo uso.”(P.21)
“Assim, é da physis de um crocodilo rer um rabo, mas não se segue daí que este crocodilo o terá; ele pode tê-lo perdido em uma briga ou de qualquer outra maneira.” (P.22)
“O que os physiológoi fazem é abandonar essa exceção. Eles fazem do mundo um cosmos, conservando o que lá já estava em forma de physis e eliminando o resto.” (P.22)
“Anaxágoras e Diógenes de Apolônia, que postulavam uma inteligência que é a responsável maior pela ordem que faz do mundo um cosmos; o último fala explicitamente dessa inteligência de ordem cósmica como “deus”. No outro extremo temos o rigoroso materialismo dos atomistas, segundo o qual a ordem é inerente à matéria e uma inteligência de ordem cósmica é uma noção tão imprópria que nem merece contra-argumentação.” (P.24)
“Pela primeira vez na história o homem alcançou uma percepção de um Universo racional que deixa que seu próprio destino seja determinado apenas pela physis – a sua e a do mundo.” (P.24)
CONCEITO DE HOMOLOGIA: a razão estar ligada à ordem.
Vlastos, G. O Universo de Platão. Trad. Maria Luiza Monteiro Salles Coroa. Editora Universidade de Brasília. Brasília, 1987.