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1 Filosofia Política para Platão Objetivo Você aprenderá as diversas definições de justiça apresentadas ao longo do diálogo A República, bem como a função de cada uma das três classes que compõem a cidade justa e, por fim, a noção platônica de sofocracia, isto é, “o governo dos sábios”. Se liga Para esse conteúdo é muito importante que você saiba sobre a Teoria das Ideias de Platão. Tem alguma dúvida sobre esse conteúdo? Assista a essa aula aqui. ou, caso não seja direcionado, procure na biblioteca pela aula “Sócrates e Teoria das ideias do Platão”. Curiosidade O livro X da República termina com uma narrativa escatológica, conhecida como o mito de Er. Er era um soldado que foi dado como morto, mas que, antes de ser cremado, retorna à vida. Ele decide então, contar aos presentes tudo o que viu no mundo dos mortos, isto é, o destino das almas, sobretudo do tirano e do filósofo... Ficou curioso para saber quais são os destinos? Confere lá! Teoria A República e o projeto político de Platão Em sua obra A República, Platão nos apresenta a cidade ideal (Calípolis). É precisamente nesse diálogo que ele desenvolve, de maneira completa e bem acabada, o seu projeto político. Embora a Teoria das Ideias, que também se desenvolve no diálogo A República, sirva como o eixo central que sustenta todo o pensamento platônico, para pensar estritamente a sua concepção política, nos ocuparemos de duas noções fundamentais, a saber, a definição de justiça e a importância da educação na cidade justa. O primeiro debate se inicia na casa de Céfalo, onde ele e Sócrates discorrem sobre os bens e os males da velhice. Para Céfalo, homem financeiramente bem estabelecido, o período que corresponde à velhice é muito bom, já que, livre das paixões, ele pode se dedicar ao estudo e à filosofia, bem como oferecer muitos sacrifícios aos deuses. A primeira indagação de Sócrates a esse repeito é: “o que faz uma vida justa, o fato de ter ganho dinheiro ou a vida justa antecede qualquer outro bem? De modo que o melhor seria viver de maneira adequada, isto é, virtuosa”. Note-se que aqui a ideia de justiça é entendida como uma síntese de todas as virtudes. A partir daí temos o fio condutor que servirá de base para o desenvolvimento de todo o diálogo, qual seja, a definição da ideia de Justiça. Ao longo do Livro I, diversas respostas são apresentadas para a pergunta “o que é a justiça?”. Céfalo propõe a seguinte definição: "justiça é dar a cada um o que lhe pertence"; Sócrates aceita essa primeira definição, mas a questiona mais ou menos do seguinte modo: Se eu tenho um amigo que não está bem, isto é, que não https://descomplica.com.br/cursos/todas-as-carreiras-intensivo-basico-2020-d/aulas/ao-vivo-socrates-e-teoria-das-ideias-do-platao-22-02-2019-20h-15/videos/socrates-e-teoria-das-ideias-do-platao-20h15/?q=teoria%20das%20ideias%20de%20Plat%C3%A3o&s=false 2 Filosofia dispõe de suas faculdades mentais, porém me emprestou uma arma e a pede de volta, sabendo que de posse da arma ele poderá fazer mal a si ou a outra pessoa, é justo, nesse caso, que eu lhe restitua a arma, isto é, lhe dê o que lhe é próprio?". Dando-se conta de que essa não pode ser a definição de justiça, pois não se aplica a todos os casos, Céfalo se retira e dá a palavra a Polemarco, seu herdeiro. Para Polemarco, “justiça é fazer bem aos amigos e mal aos inimigos"; Sócrates refuta também essa definição, dizendo: "fazer o mal nunca é compatível com a ideia de justiça." Nesse momento, o sofista Trasímaco, irritado, toma parte no diálogo e diz: "justiça é a conveniência do mais forte". Note-se que, nessa definição, a justiça não se relaciona com o bem em si, mas é uma produção, uma convenção humana, exercida pelo mais forte, conforme a ocasião. Sócrates então apresenta o exemplo de um homem muito forte, lutador de pancratio (uma espécie de vale-tudo), que é capaz de devorar um boi por dia e diz: "se a justiça é a conveniência do mais forte, nós seremos justos se também devoramos um boi por dia". Trasímaco, ainda mais irritado, propõe uma nova definição: "justiça é não apenas a conveniência do mais forte, mas a máxima conveniência. Ou seja, ser injusto, mas parecer justo, pois a vida do injusto é sempre melhor". Para Trasímaco, todas as atividades humanas são realizadas visando a utilidade; assim, o médico cuida do paciente porque quer ganhar dinheiro, não por se preocupar com a saúde; o mesmo acontece com o pastor que cuida das ovelhas para tosquiá-las. Ao que Sócrates refuta, dizendo: cada atividade cumpre uma finalidade própria, a medicina visa a saúde, e o pastoreio visa o bem das ovelhas". Nessa perspectiva, o bem é a realização de uma finalidade que já está inscrita na própria atividade, sendo a arte de ganhar dinheiro uma outra arte. No livro II, apenas Glauco e Adimanto continuam o diálogo com Sócrates. Glauco provoca Sócrates fazendo uma apologia (defesa) da injustiça. Diz ele: "a experiência nos mostra que as pessoas que agem segundo a sua própria conveniência são sempre bem-sucedidas. Além disso, nós não somos justos por natureza, mas sim por sermos coagidos." Para ilustrar a sua tese, Glauco narra o primeiro mito da República, conhecido como o Mito do Anel de Giges. Conta-se que Giges era um pastor, que após um terremoto, encontrou, numa das fendas abertas na terra, o cadáver de um homem que usava um belíssimo anel. De posse do anel, Giges percebeu que, ao girá-lo no dedo, ele lhe conferia o poder da invisibilidade. Invisível, ele armou um plano para seduzir a rainha, de modo que ambos terminam por assassinar o rei. Assim, Giges se torna o maior tirano da região. Glauco conclui, portanto: "se todos nós tivéssemos o poder de Giges, agiríamos da mesma maneira". Ao que Sócrates responde dizendo: "é necessário ler em letras grandes, para depois entender as letras pequenas". Ou seja, para definir o que é a justiça na alma do homem, é preciso definir o que é a justiça num plano mais amplo, a cidade. Segundo eles, os homens formam a cidade para satisfazer as suas necessidades básicas. A cidade justa é, portanto, constituída por três classes: a classe dos artesãos e comerciantes (responsáveis pela produção dos bens materiais, bem como de tudo o que é necessário à manutenção da cidade); a classe dos guerreiros (responsáveis pela defesa da cidade, seja de ataques externos, seja de conflitos internos); e, por fim, a classe dos guardiões (ou magistrados, a depender da tradução), responsáveis pelo governo da cidade, bem como pela elaboração das leis. Passa-se então à discussão de como deve ser a educação nessa cidade. Note-se que a educação é fundamentada em dois pilares: a ginástica e a música ("musiqué" se refere às artes das musas e engloba não só o canto e a harmonia, mas também a poesia). Vale lembrar que a poesia é a base educacional no contexto em que vivia Platão. É pela poesia que as crianças aprendem a ler, assim como aprendem os mais diversos mitos da tradição. É aqui que surge a primeira crítica platônica à poesia. Para Platão, a poesia, tal como era ensinada no seu tempo, não poderia fazer parte da cidade justa, pois os deuses são apresentados como modelos para os jovens, porém esses modelos, nas poesias de Homero e Hesíodo, são ambíguos, ora são deuses, ora agem de maneira passional, isto é, se vingam, traem, seduzem etc. Por isso, é necessário reformar ou banir a poesia da cidade. A segunda crítica é de natureza ontológica, isto é, referente à realidade do ser e 3 Filosofia se estende à arte de modo geral. De acordo com Platão, o artista faz cópias das coisas do mundo sensível, que já são cópias do mundo inteligível. Portanto, a arte está a três graus de distância da Verdade. Os livros III e IV aprofundam a discussão acerca da cidade ideal, até que Sócrates possa finalmente definir a justiça: “a justiça é a harmonia entre as partes da cidade, cadaqual cumprindo a sua função”. Nesse sentido, a função é dada pela aptidão de cada cidadão exercer as suas tarefas na cidade. Desse modo, assim como a cidade é dividida em três classes, a alma do homem também tem três partes, são elas: a parte apetitiva ou concupiscente (alma de bronze, relativa à classe dos artesãos e comerciantes), a parte irascível ou impetuosa (alma de prata, relativa à classe dos guerreiros) e a parte racional (alma de ouro, relativa à classe dos guardiões). Disso decorre que a justiça na alma também corresponde a uma harmonia entre as partes, preservando-se a ideia de que a razão realiza uma função de comando, de coordenação e de educação das outras partes. Nesse ponto, os interlocutores de Sócrates percebem que muitas coisas ficaram para trás e passam a discutir sobre três problemas fundamentais para a cidade, conhecidos como três ondas. A primeira onda diz respeito à comunhão de bens entre os governantes, onde se estabelece que os governantes não devem ter nem propriedade privada, nem família. A segunda onda diz respeito à igualdade entre homens e mulheres, no que se refere tanto ao governo da cidade quanto à participação na guerra, em que se estabelece que ambos podem exercer as duas funções. A terceira onda diz respeito à seguinte frase de Sócrates: "a cidade não será justa enquanto os reis não forem filósofos ou os filósofos não forem reis", em que se estabelece a chamada sofocracia, isto é, o governo dos sábios. Nessa perspectiva, aquele que tem aptidão para governar deve receber uma educação adequada para tal. Essa educação só pode ser uma educação filosófica, porque só a filosofia capacita o governante a contemplar a ideia do Bem, que é a ideia máxima no plano das ideias. 4 Filosofia Exercícios de fixação 1. Em que consiste o mito do Anel de Giges? 2. Explique a relação que Platão estabelece entre a alma humana e a cidade justa. 3. Explique a importância da educação para a cidade justa. 4. Em que consistem as chamadas “três ondas” presentes na República de Platão? 5. Por que a educação do governante deve, necessariamente, ser filosófica? 5 Filosofia Exercícios de vestibulares 1. “A massa popular é assimilável por natureza a um animal escravo de suas paixões e de seus interesses passageiros, sensível à lisonja, inconstante em seus amores e seus ódios; confiar-lhe o poder é aceitar a tirania de um ser incapaz da menor reflexão e do menor rigor. Quanto às pretensas discussões na Assembleia, são apenas disputas contrapondo opiniões subjetivas, inconsistentes, cujas contradições e lacunas traduzem bastante bem o seu caráter insuficiente.” PLATÃO. Citado por: CHATELET, F. História das Ideias Políticas. Rio de Janeiro: Zahar, 1997, p. 17. Os argumentos de Platão, filósofo grego da antiguidade, evidenciam uma forte crítica à: a) Oligarquia b) República c) Democracia d) Monarquia e) Plutocracia 2. “– Mas escuta, a ver se eu digo bem. O princípio que de entrada estabelecemos que devia observar-se em todas as circunstâncias, quando fundamos a cidade, esse princípio é, segundo me parece, ou ele ou uma das suas formas, a justiça. Ora nós estabelecemos, segundo suponho, e repetimo-lo muitas vezes, se bem te lembras, que cada um deve ocupar-se de uma função na cidade, aquela para qual a sua natureza é mais adequada.” PLATÃO. A República. Trad. de Maria Helena da Rocha Pereira. 7 ed. Lisboa: Calouste-Gulbenkian, 2001, p. 185. Com base no texto e nos conhecimentos sobre a concepção platônica de justiça, na cidade ideal, assinale a alternativa correta. x a) Para Platão, a cidade ideal é a cidade justa, ou seja, a que respeita o princípio de igualdade natural entre todos os seres humanos, concedendo a todos os indivíduos os mesmos direitos perante a lei. b) Platão defende que a democracia é fundamento essencial para a justiça, uma vez que permite a todos os cidadãos o exercício direto do poder. c) Na cidade ideal platônica, a justiça é o resultado natural das ações de cada indivíduo na perseguição de seus interesses pessoais, desde que esses interesses também contribuam para o bem comum. d) Para Platão, a formação de uma cidade justa só é possível se cada cidadão executar, da melhor maneira possível, a sua função própria, ou seja, se cada um fizer bem aquilo que lhe compete, segundo suas aptidões. e) Platão acredita que a cidade só é justa se cada membro do organismo social tiver condições de perseguir seus ideais, exercendo funções que promovam sua ascensão econômica e social. 6 Filosofia 3. “- Mas a cidade pareceu-nos justa, quando existiam dentro dela três espécies de naturezas, que executavam cada uma a tarefa que lhe era própria; e, por sua vez, temperante, corajosa e sábia, devido a outras disposições e qualidades dessas mesmas espécies. - É verdade. - Logo, meu amigo, entenderemos que o indivíduo, que tiver na sua alma estas mesmas espécies, merece bem, devido a essas mesmas qualidades, ser tratado pelos mesmos nomes que a cidade”. PLATÃO. A república. Trad. de Maria Helena da Rocha Pereira. 7 ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1993. p. 190. Com base no texto e nos conhecimentos sobre a justiça em Platão, é correto afirmar: a) As pessoas justas agem movidas por interesses ou por benefícios pessoais, havendo a possibilidade de ficarem invisíveis aos olhos dos outros. b) A justiça consiste em dar a cada indivíduo aquilo que lhe é de direito, conforme o princípio universal de igualdade entre todos os seres humanos, homens e mulheres. c) A verdadeira justiça corresponde ao poder do mais forte, o qual, quando ocupa cargos políticos, faz as leis de acordo com os seus interesses e pune a quem lhe desobedece. d) A justiça deve ser vista como uma virtude que tem sua origem na alma, isto é, deve habitar o interior do homem, sendo independente das circunstâncias externas. e) Ser justo equivale a pagar dívidas contraídas e restituir aos demais aquilo que se tomou emprestado, atitudes que garantem uma velhice feliz. 4. Segundo Platão, as opiniões dos seres humanos sobre a realidade são quase sempre equivocadas, ilusórias e, sobretudo, passageiras, já que eles mudam de opinião de acordo com as circunstâncias. Como agem baseados em opiniões, sua conduta resulta quase sempre em injustiça, desordem e insatisfação, ou seja, na imperfeição da sociedade. Em seu livro A República, ele, então, idealizou uma sociedade capaz de alcançar a perfeição, desde que seu governo coubesse exclusivamente a) aos guerreiros, porque somente eles teriam força para obrigar todos a agirem corretamente. b) aos tiranos, porque somente eles unificariam a sociedade sob a mesma vontade. c) aos mais ricos, porque somente eles saberiam aplicar bem os recursos da sociedade. d) aos demagogos, porque somente eles convenceriam a maioria a agir de modo organizado. e) aos filósofos, porque somente eles disporiam de conhecimento verdadeiro e imutável. 7 Filosofia 5. Mas a faculdade de pensar é, ao que parece, de um caráter mais divino do que tudo o mais; nunca perde a força e, conforme a volta que lhe derem, pode tornar-se vantajosa e útil, ou inútil e prejudicial. Ou ainda não te apercebeste como a deplorável alma dos chamados perversos, mas que na verdade são espertos, tem um olhar penetrante e distingue claramente os objetos para os quais se voltam, uma vez que não tem uma vista fraca, mas é forçado a estar a serviço do mal, de maneira que, quanto mais aguda for sua visão, maior é o mal que partica?" Platão. A República. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1987. A partir da leitura do texto acima, é correto afirmar que, para Platão: a) a faculdade de pensar necessita da educação, para que, assim, a vista mais penetrante alcance, pelaluz, a visão do que deve ser conhecido. b) o conhecimento para este filósofo só depende da capacidade visual daquele que conhece. c) a natureza, favorecendo alguns, diferencia os mais aptos, e é unicamente por esta distinção que se devem estabelecer os governantes das cidades. d) os homens com maior capacidade de pensar jamais praticam o mal, pois descobrem, por si mesmos, a diferença entre o justo e o injusto. e) o homem é dotado de razão e de linguagem e, portanto, é um animal racional e um animal político. 8 Filosofia 6. O tema da expulsão dos poetas da ‘cidade ideal’, proposto pelo personagem Sócrates, na República, tem gerado discussão e perplexidade ao longo da história da filosofia. O fundamento conceitual dessa expulsão é a hipótese das Ideias ou Formas. Por um lado, as Ideias são entidades eternas, que se constituem como verdadeiro ser, ser pleno, instaurando o âmbito ontológico do inteligível; por outro lado, tudo que pertence ao âmbito do imediato, circundante – o ‘nosso mundo’, âmbito do Sensível – é ‘menos ser’. A Ideia do Um, por exemplo, tem plenitude de ser, ao passo que todas as unidades dos seres (objetos, seres humanos etc.) dependem de sua participação na Ideia do Um, para vigorar como unidades. As Ideias são eternas; os entes sensíveis são temporais, efêmeros e somente subsistem enquanto se dá a participação. A polis ideal construída por Sócrates deverá ser governada pelos filósofos, porque esses concentram-se na atenção ao Inteligível, sem se perder nos apelos do Sensível; e, ao imaginar esse governo, uma das exigências para a plenitude de justiça dessa cidade é a expulsão dos poetas, os ‘imitadores’. Levando-se em conta essa base conceitual, tal como aqui apresentada, assinale a alternativa que explica CORRETAMENTE a expulsão dos poetas. a) Sócrates redigiu a República com base na teoria das Ideias e chegou à conclusão de que poetas são politicamente perigosos e socialmente improdutivos. Assim, somente cientistas e construtores podem permanecer em atividade, na polis ideal, porque são os únicos a lidar com o Inteligível. b) A expulsão dos poetas, propugnada por Sócrates, personagem da República, tem origem em sua afirmação de que a poesia está inteiramente fundada no Inteligível. c) Platão redigiu a República com base na teoria das Ideias e chegou à conclusão de que poetas são politicamente perigosos e socialmente improdutivos. Assim, somente cientistas e construtores podem permanecer em atividade, na polis ideal, porque são os únicos a lidar com o Inteligível. d) As Ideias são entidades eternas, que vigoram no âmbito Inteligível, ou seja, elas são a inteligibilidade ou sentido de tudo que ‘existe’; sem Ideias, as coisas não têm sentido. Os poetas, em lugar de atentar ao sentido inteligível dos entes, imitam, reproduzem, copiam – afastando-se, assim, das Ideias e desviando a polis de suas tarefas prementes. Este é o motivo de sua exclusão. e) Sem uma análise do contexto, é impossível entender uma tese tão radical como a da expulsão dos poetas. Sócrates propõe essa medida extrema devido à mistura entre poesia e sofística, que se verificava em todas as grandes cidades da Grécia antiga. Os poetas, mesmo Homero e Hesíodo, já se deixavam influenciar pelas teses dos sofistas, inimigos da filosofia, com o que Sócrates e seus discípulos não podiam concordar. Poetas que louvassem os deuses e a filosofia, porém, poderiam permanecer na cidade ideal. 9 Filosofia 7. Para Platão, no livro IV da República, a Justiça, na cidade ideal, “Baseia-se no princípio em virtude do qual cada membro do organismo social deve cumprir, com a maior perfeição possível, a sua função própria. Tanto os guardiões’ como os ‘governantes’ e os industriais’ têm a sua missão estritamente delimitada, e se cada um destes três grupos se esforçar por fazer da melhor maneira possível o que lhes compete, o Estado resultante da cooperação destes elementos será o melhor Estado concebível.” JAEGER, W. Paideia: a formação do homem grego. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999. p. 556. Com base no texto e nos conhecimentos sobre o pensamento de Platão, assinale a alternativa correta. a) A cidade, de origem divina, encontra sua perfeição quando reina o amor verdadeiro entre os homens, base da concórdia total das classes sociais. b) A justiça, na cidade ideal, consiste na submissão de todas as classes ao governante que, pela tirania, promove a paz e o bem comum. c) A cidade se torna justa quando os indivíduos de classes inferiores, no cumprimento de suas funções, ascendem socialmente. d) A justiça, na cidade ideal, manifesta-se na igualdade de todos perante a lei e na cooperação de cada um no exercício de sua função. e) Na cidade ideal, a justiça se constitui na posse do que pertence a cada um e na execução do que lhe compete. 8. No livro VII de A República, Platão ilustra o seu pensamento com o famoso mito da caverna. A análise do mito pode ser feita sob dois pontos de vista: o epistemológico e o político. Pensando na dimensão política, marque a alternativa INCOMPATÍVEL com o ponto de vista de Platão. a) A família e a propriedade devem ser mantidas, pois representam um bem para o Estado. b) A família e a propriedade devem desaparecer e o Estado deve incumbir-se da educação das crianças. c) O fim da família e da propriedade colocam fim à cobiça e aos interesses decorrentes dos laços familiares. d) As pessoas são diferentes e devem ocupar lugares diferentes na sociedade. e) A cidade será justa quando reis forem filósofos ou os filósofos forem reis. 9. Segundo Platão, na sequência de Sócrates, a sociedade nasce do homem, isto é, de sua condição natural. O Bem e a Justiça se realizam no exercício da cidadania. (PEGORARO, Olinto. Ética dos maiores mestres através da história, Petrópolis, 2006, p. 31) Sobre esse assunto, está CORRETO o que se afirma na alternativa a) Compreender o que são o Bem e a Justiça proporciona subsídios para julgar melhor a concepção de cidadania. b) O Bem e a Justiça são categorias indiferentes para o entendimento e a prática da cidadania. c) O campo da justiça se configura como secundário para subsidiar o exercício da cidadania. d) O Homem é um animal social, apenas dotado de individualidade. Isso se constitui questão singular no exercício da cidadania e) A sociedade é a base de toda forma de existência humana. Nela, o Bem tem um coeficiente ínfimo para o efetivo exercício da cidadania. 10 Filosofia 10. No pensamento ético-político de Platão, a organização no Estado Ideal reflete a justiça concebida como a disposição das faculdades da alma que faz com que cada uma delas cumpra a função que lhe é própria. No Livro V de A República, Platão apresentou o Estado Ideal como governo dos melhores selecionados. Para garantir que a raça dos guardiões se mantivesse pura, o filósofo escreveu: “É preciso que os homens superiores se encontrem com as mulheres superiores o maior número de vezes possível, e inversamente, os inferiores com as inferiores, e que se crie a descendência daqueles, e a destes não, se queremos que o rebanho se eleve às alturas”. Adaptado de: PLATÃO. A República. 7. ed. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1993, p.227-228. Com base no texto e nos conhecimentos sobre o pensamento ético-político de Platão é correto afirmar: a) No Estado Ideal, a escolha dos mais aptos para governar a sociedade expressa uma exigência que está de acordo com a natureza. b) O Estado Ideal prospera melhor com uma massa humana difusamente misturada, em que os homens e mulheres livremente se escolhem. c) O reconhecimento da honra como fundamento da organização do Estado Ideal torna legítima a supremacia dos melhores sobre as classes inferiores. d) A condição necessáriapara que se realize o Estado Ideal é que as ocupações próprias de homens e mulheres sejam atribuídas por suas qualidades distintas. e) O Estado Ideal apresenta-se como a tentativa de organizar a sociedade dos melhores fundada na riqueza como valor supremo. Sua específica é humanas e quer continuar treinando esse conteúdo? Clique aqui para fazer uma lista extra de exercícios. https://dex.descomplica.com.br/enem/filosofia/exercicios-politica-para-platao 11 Filosofia Gabaritos Exercícios de fixação 1. Em dado momento do diálogo, Glauco provoca Sócrates fazendo uma apologia (defesa) da injustiça. Diz ele: "a experiência nos mostra que as pessoas que agem segundo a sua própria conveniência são sempre bem-sucedidas. Além disso, nós não somos justos por natureza, mas sim por sermos coagidos." O Mito do Anel de Giges consiste, portanto, numa narrativa utilizada por Glauco para ilustrar essa afirmação. Conta-se que Giges era um pastor, que após um terremoto, encontrou, numa das fendas abertas na terra, o cadáver de um homem que usava um belíssimo anel. De posse do anel, percebeu que, ao girá-lo no dedo, ele lhe conferia o poder da invisibilidade. Invisível, armou um plano para seduzir a rainha, de modo que ambos terminam por assassinar o rei. Assim, Giges se torna o maior tirano da região. Glauco conclui, portanto: "se todos nós tivessemos o poder de Giges, agiríamos da mesma maneira". 2. Sócrates define a justiça como “a harmonia entre as partes da cidade, cada qual cumprindo a sua função”. Nesse sentido, a função é dada pela aptidão de cada cidadão exercer as suas tarefas na cidade. Desse modo, assim como a cidade é dividida em três classes, a alma do homem também tem três partes, são elas: a parte apetitiva ou concupiscente (alma de bronze, relativa à classe dos artesãos e comerciantes), a parte irascível ou impetuosa (alma de prata, relativa à classe dos guerreiros) e a parte racional (alma de ouro, relativa à classe dos guardiões). Disso decorre que a justiça na alma também corresponde a uma harmonia entre as partes, preservando-se a ideia de que a razão realiza uma função de comando, de coordenação e de educação das outras partes. 3. A discussão sobre como deve ser a educação ocupa uma parte significativa do diálogo, tamanha a sua importância para a cidade justa idealizada por Platão. Note-se que a educação é fundamentada em dois pilares: a ginástica e a música ("musiqué" se refere às artes das musas e engloba não só o canto e a harmonia, mas também a poesia). Vale lembrar que a poesia é a base educacional no contexto em que vivia Platão. É pela poesia que as crianças aprendem a ler, assim como aprendem os mais diversos mitos da tradição. É através da educação que é possível determinar qual parte da alma é predominante em cada indivíduo e, portanto, a qual das três classes ele deve pertencer. 4. Em dado momento do diálogo, Sócrates e seus interlocutores percebem que muitos detalhes importantes a respeito da cidade ficaram para trás. Passa-se então à discussão acerca de três problemas fundamentais, conhecidos como três ondas. A primeira onda diz respeito à comunhão de bens entre os governantes, em que se estabelece que eles não devem ter nem propriedade privada, nem família. A segunda onda diz respeito à igualdade entre homens e mulheres, no que se refere tanto ao governo da cidade quanto à participação na guerra, em que se estabelece que ambos podem exercer as duas funções. A terceira onda diz respeito à seguinte frase de Sócrates: "a cidade não será justa enquanto os reis não forem filósofos ou os filósofos não forem reis", em que se estabelece a chamada sofocracia, isto é, o governo dos sábios. 5. A partir da famosa frase de Sócrates: "a cidade não será justa enquanto os reis não forem filósofos ou os filósofos não forem reis", se estabelece a chamada sofocracia, isto é, o governo dos sábios. Porém, aquele que tem aptidão para governar deve receber uma educação adequada para tal. Essa educação só pode ser uma educação filosófica, porque só a filosofia capacita o governante a contemplar a ideia do Bem, que é a ideia máxima no plano das ideias. 12 Filosofia Exercícios de vestibulares 1. C Devemos reconhecer a importância de Sócrates para o pensamento platônico, sobretudo no que se refere ao seu pensamento político. Isso ocorreu, sobretudo, por conta da injusta condenação sofrida por Sócrates, que foi obrigado a tomar veneno, após sofrer um processo e observar a maior parte das pessoas votarem a favor de sua condenação. A acusação de corruptor dos jovens atenienses escondia o repúdio que as classes mais poderosas tinham por Sócrates, por ter mostrado a eles que nada sabiam daquilo que pensavam saber. Com a morte de seu grande mestre, Platão faz uma profunda crítica à democracia grega, regime que foi capaz de condenar aquele que, segundo ele, era o mais sábio dos homens. 2. D Usualmente, nós entendemos a justiça como uma forma de igualdade, de tratamento igual para todos. Segundo Platão, isso está errado. Para ele, a justiça não consiste em todos terem os mesmos direitos e deveres, mas sim em que cada um cumpra aquilo que lhe é devido, uma tarefa específica, segundo as suas aptidões, para o bem de toda a comunidade. 3. D Toda filosofia política platônica se constrói a partir dos paralelos entre a alma ideal e a cidade ideal. De fato, antes de ser uma virtude da sociedade, a justiça é uma virtude do indivíduo, que lhe permite ordenar sua alma, de modo que cada uma de suas partes cumpra a sua respectiva tarefa, para o bem do todo. 4. E A República de Platão, pensada como a cidade ideal, divide-se em três classes. A primeira classe é a dos comerciantes e artesãos (responsável pelas atividades econômicas). A segunda é a dos guerreiros (responsável pela defesa da cidade). A terceira, a dos guardiões ou magistrados (responsável pelo governo da cidade). A cada uma dessas classes corresponde um tipo de alma. Aos comerciantes e artesãos, a alma de bronze; aos guerreiros, a alma de prata; aos magistrados, a alma de ouro. Note-se que, para Platão, os filósofos são sempre os mais aptos a governar e, portanto, estão na classe dos magistrados (alma de ouro). 5. A Para Platão, a educação tem um caráter eminentemente político e social: trata-se de preparar os guerreiros e governantes, os quais têm funções específicas e que exigem formação diferenciada, para o reto uso da razão. A educação dos guerreiros com ênfase na ginástica e no aprimoramento do corpo, e a educação dos governantes com ênfase na filosofia e no aprimoramento da razão, de modo que eles sejam capazes de contemplar as ideias do Bem e da Justiça. 6. D Platão apresenta duas críticas à poesia. A primeira corresponde à ideia de que a poesia, tal como era ensinada no seu tempo, não poderia fazer parte da cidade justa, pois os deuses são apresentados como modelos para os jovens, porém esses modelos, nas poesias de Homero e Hesíodo, são ambíguos, ora são deuses, ora agem de maneira passional, isto é, se vingam, traem, seduzem etc. Por isso, é necessário reformar ou banir a poesia da cidade. A segunda crítica, mais contundente, é de natureza ontológica, isto é, referente à realidade do ser e se estende à arte de modo geral. De acordo com Platão, o artista faz cópias das coisas do mundo sensível, que já são cópias do mundo inteligível. Portanto, a arte está a três graus de distância da Verdade, o que afasta a cidade das suas atividades principais. 13 Filosofia 7. E Sócrates define a justiça como “a harmonia entre as partes da cidade, cada qual cumprindo a sua função”. Nesse sentido, a função é dada pela aptidão de cada cidadão exercer as suas tarefas na cidade. Desse modo, assim como a cidade é dividida em três classes, a alma dohomem também tem três partes, são elas: a parte apetitiva ou concupiscente (alma de bronze, relativa à classe dos artesãos e comerciantes), a parte irascível ou impetuosa (alma de prata, relativa à classe dos guerreiros) e a parte racional (alma de ouro, relativa à classe dos guardiões). Disso decorre que a justiça na alma também corresponde a uma harmonia entre as partes, preservando-se a ideia de que a razão realiza uma função de comando, de coordenação e de educação das outras parte. 8. A A ideia de manter a família e a propriedade é incompatível com o ponto de vista de Platão. Segundo ele, tanto a família quanto a propriedade devem desaparecer, como forma de pôr fim à cobiça proveniente dos laços familiares. Além disso, Platão acredita que a educação pública (conduzida pelo Estado) é fundamental para a construção de uma sociedade justa, uma vez que, por meio da educação, é possível identificar qual a parte da alma prevalece em cada indivíduo, o que irá determinar qual a sua função e a qual classe social ele irá pertencer (dos artesãos, dos guerreiros ou dos magistrados). 9. A Para Platão, compreender o que é o Bem e a Justiça é fundamental para julgar melhor a concepção de cidadania. Por isso, aquele que tem aptidão para governar deve receber uma educação adequada para tal. Essa educação só pode ser uma educação filosófica, porque só a filosofia capacita o governante a contemplar a ideia do Bem, que é a ideia máxima no plano das ideias. 10. A Platão faz uma analogia em A República entre a alma e a cidade. A alma humana possui três partes principais que correspondem às três classes sociais existentes na cidade. As três partes da alma são: a parte apetitiva (alma de bronze), a parte irascível (alma de prata) e a parte racional (alma de ouro). A parte apetitiva diz respeito aos desejos e paixões que todo ser humano possui, a parte irascível, à sua força, energia, sua coragem, e a parte racional tem a ver com a sua inteligência, a sua sabedoria. Platão acredita que a educação é fundamental para a construção de uma sociedade justa. A educação é que vai identificar qual a parte da alma prevalece em cada indivíduo. Caso a maior parte da alma daquele indivíduo seja dominada pelos apetites, ele deverá ser incluído na classe dos produtores, que devem realizar tarefas ligadas à agricultura, ao artesanato e ao comércio. Caso a parte irascível seja a dominante, o indivíduo será incluído na classe dos guerreiros, que devem proteger a cidade e defendê-la de ataques inimigos. Por fim, aqueles que são dominados pela parte racional da alma devem ser os governantes, pois são os únicos que, após décadas de estudo, sabem verdadeiramente o que é a justiça, podendo aplicá-la com sabedoria na cidade. Esse tipo de governo é chamado de sofocracia. Note-se que o enunciado cobra conhecimentos sobre o pensamento ético-político de Platão, relacionando-se, portanto, à ideia de governo e à divisão da sociedade em classes, que se dá de acordo com a natureza da alma dos indivíduos. Por isso, a alternativa A responde à questão de maneira mais completa do que a alternativa D, que trata apenas das ocupações próprias a homens e mulheres e que são atribuídas de acordo com as suas qualidades.
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