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DEFINIÇÃO Apresentação da estrutura do desenho de uma política pública a partir da compreensão de suas etapas. Análise do processo de balanceamento dos custos e benefícios envolvidos em uma política pública. PROPÓSITO Compreender a avaliação de políticas públicas, desde os seus estágios iniciais (concepção do desenho de um programa) até os desafios de uma avaliação de impacto, para a realização de análises do custo-benefício de uma política pública. OBJETIVOS MÓDULO 1 Identificar as etapas da criação de uma política pública MÓDULO 2 Reconhecer os desafios e a necessidade da avaliação de impacto de uma política pública MÓDULO 3 Descrever a análise do custo/benefício de uma política pública INTRODUÇÃO Neste tema, detalharemos como as políticas públicas são desenhadas, executadas e avaliadas, além de entendermos a importância e as dificuldades envolvidas na análise do custo-benefício delas. Para isso, apontaremos que essas políticas envolvem três grandes frases. No primeiro módulo, trataremos do desenho do programa, desde a definição do problema até a determinação do tipo de intervenção, do público-alvo e de seu impacto potencial. No segundo, estudaremos a necessidade da avaliação de impacto e as dificuldades em encontrar um grupo de controle. Por fim, no último módulo, apontaremos as maneiras de realizar uma análise de custo-benefício por meio da monetização de ambos, que são fundamentais na identificação da viabilidade de uma política pública. MÓDULO 1 Identificar as etapas da criação de uma política pública O QUE É UMA POLÍTICA PÚBLICA? Frequentemente, testemunhamos nos noticiários histórias de pessoas que recebem uma renda mensal do governo, como é o caso dos beneficiários do Bolsa Família. Mas o que seria isso? O Bolsa Família é um programa destinado a famílias que vivem em situação de pobreza ou extrema pobreza. O governo federal lhes destina recursos de forma direta (transferência de renda) com um valor considerado adequado para elas saírem dessa situação. Além disso, há fatores adicionais atrelados a esse programa. Eles estão condicionados a algumas características educacionais e de saúde, adicionando um valor extra, por exemplo, para cada criança da família que tiver uma boa frequência escolar e a vacinação em dia. Fonte: rafapress / Shutterstock.com Trata-se, enfim, de um amplo programa com diversos critérios e características. Porém, para este módulo, vamos nos ater ao fato de que o Bolsa Família é uma transferência de renda para famílias pobres. Além dele, você também já pode ter ouvido falar do projeto Tamar. Ele realiza a proteção na desova das tartarugas em algumas praias de três regiões do país: Nordeste, Sudeste e Sul. O intuito é permitir que as tartarugas marinhas fêmeas, que chegam às praias para desovar, não sejam mortas e que seus ovos permaneçam em segurança até o nascimento de seus filhotes. Como é de se esperar, tal projeto também possui muitas particularidades. No entanto, nos limitaremos a associar o Tamar à proteção das tartarugas marinhas fêmeas. Fonte: bonandbon / Shutterstock.com De forma geral, portanto, podemos perceber que o Bolsa Família é uma transferência de renda às famílias e o projeto Tamar, uma proteção às tartarugas marinhas. Conhecendo apenas essas duas características, podemos inferir que ambos possuem algo em comum? Surpreendentemente, a resposta será positiva. O Bolsa Família e o projeto Tamar são políticas, projetos e/ou programas que, quando executados pelo governo federal ou por organizações não governamentais, geram um impacto, possuindo custos e benefícios associados. Qualquer um dos termos — política, projeto ou programa — pode ser associado a um impacto com custos e benefícios. Programas executados pelo governo ou em parceira com outra entidade são usualmente considerados projetos de política pública ou projetos sociais. ATENÇÃO Nem todos os projetos sociais se originam no governo ou contam com seu aporte. Eles podem ser conduzidos e gerenciados exclusivamente por uma empresa privada. Nos exemplos acima, o Bolsa Família é gerenciado pelo governo federal, enquanto o projeto Tamar é vinculado ao Ministério de Meio Ambiente por meio do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio). Uma política pública pode ser definida como uma ação (ou um conjunto de ações) de origem ou com apoio governamental cujo objetivo é alterar uma realidade social por meio da implementação de melhorias. Tendo em vista que algumas situações raramente são alteradas, uma política pública pode ser realizada com o intuito de mitigar certos efeitos negativos desse tipo de situação. Geralmente, as políticas públicas possuem, como característica central, quatro pontos muito claros: DEFINIÇÃO DO PROBLEMA INTERVENÇÃO PÚBLICO-ALVO IMPACTO POTENCIAL Delimita a situação que se pretende enfrentar. Estipula a ação que será feita. Para quem ou onde será realizada a intervenção. Projeta o resultado esperado com a intervenção. A construção desses pontos é chamada de “desenho da política pública” ou “desenho do programa”. É importante que uma política pública tenha essas quatro etapas bem definidas antes de se realizar qualquer ação. Assista a este vídeo para compreender melhor a elaboração das quatro etapas de uma política pública fictícia. DESENHO DA POLÍTICA PÚBLICA: A DEFINIÇÃO DO PROBLEMA Analisando atentamente o exemplo ilustrado no vídeo, podemos ressaltar que a parte de conceituação da primeira etapa, ou seja, a definição do problema, é a seguinte: pior colocação no ranking das notas de matemática. Como o primeiro ponto explicita, para desenhar uma política pública, é necessário definir a situação ou o problema que desejamos mudar. No exemplo de Manjerinha, a insatisfação com as notas baixas dos alunos resultou na criação de uma política pública para resolver esta situação: pior colocação no ranking das notas de matemática. Fonte: NuPenDekDee/Shutterstock.com Sendo assim, é possível perceber que a construção da definição do problema possui três fundamentos básicos: a condição de existência, a agenda de prioridade e a não abrangência. Eles serão explicados a seguir. Para essa etapa, a condição de existência é muito intuitiva, já que a realidade com a qual se depara pode ser classificada como um problema. Como vimos, a pior colocação no ranking foi o suficiente para se desenhar uma política pública em Manjerinha. Contudo, essa característica deve ser avaliada com muita parcimônia, pois uma condição de existência pode ter um caráter presente ou futuro. Em outras palavras, é possível apontar uma situação que esteja ocorrendo (presente) ou uma que irá ocorrer (futuro) caso não seja tomada nenhuma providência. Vamos entender melhor suas diferenças. Condição de existência presente Para exemplificar essa condição, suponha que o Brasil foi identificado como o potencial exportador de uma espécie rara de peixe que é abundante no país. Por causa disso, a pesca dele aumentou de forma desenfreada até se chegar ao ponto de o animal entrar em extinção no Brasil. No momento inicial, a pesca representou uma grande oportunidade de negócios. No entanto, a ação em grande escala trouxe um problema: a extinção do peixe de espécie rara. Desse modo, a política pública para contornar essa situação precisa ser associada a uma realidade que esteja ocorrendo. Condição de ocorrência futura Trata-se da condição objetiva para a criação de políticas públicas a fim de minimizar ou impossibilitar uma situação futura de ocorrer. Suponha que uma prefeitura tenha o interesse de que grandes indústrias se instalem em um bairro de sua cidade. Sabe-se que um efeito colateral dessas novas instalações é a emissão de poluentes, resultando em problemas respiratórios nos moradores do bairro. Sendo assim, a prefeitura cria uma política pública com o intuito de contornar os problemas de saúde relacionados à emissão de poluentes por essas novas indústrias. Dessa forma,é possível perceber que os moradores ainda não apresentam problemas respiratórios, mas, ainda assim, a prefeitura já se antecipou ao criar tal política pública. Assim como uma situação pode ter o status corrente ou futuro, a prioridade na mudança também consegue variar ao longo do tempo. Retomemos o exemplo do peixe raro que era exportado até entrar em extinção. A princípio, talvez não fosse uma prioridade da prefeitura reverter essa situação. Porém, com o passar dos anos, ela tem sido priorizada ao ponto de ser criada uma política pública com este objetivo: impedir a extinção dos animais em virtude da caça ou pesca desenfreada. Além disso, lembremos que, por cinco anos consecutivos, os alunos de Manjerinha estiveram na última colocação do ranking na prova de matemática. Por conta disso, a prioridade do governo pode ter mudado de tal forma que, após vários anos com uma péssima colocação, foi desenhada uma política pública para resolver essa situação. Em alguns casos, a existência da prioridade pode vir acompanhada da impossibilidade. Sabemos que não há recursos ilimitados e que qualquer política pública envolve dispêndio de dinheiro. Nesse sentido, o governo pode ter uma agenda de prioridades que inclua uma situação específica, mas a ausência de recursos impossibilita a criação de políticas públicas. Apesar de haver outros motivos para a mudança na prioridade, é fundamental compreender que a agenda da prioridade não é fixa, variando com o passar dos anos. Como terceira e última característica central na definição do problema, existe a não abrangência dele. Definir uma situação problemática de forma exageradamente abrangente, considerando qualquer coisa como um problema, pode acabar gerando intervenções desnecessárias – e até prejudiciais. Como as demais etapas do desenho do programa partem de um problema específico, é importante ser preciso na identificação de uma situação que realmente precise de mudança para não se interferir em áreas que não necessitam dela. Retomando o exemplo de Manjerinha, no qual se definiu uma política pública para resolver o problema da última colocação no ranking de matemática, suponhamos agora que a cidade está em primeiro lugar na lista de português. Dessa maneira, melhorar todo o sistema educacional incorreria na alteração da forma do ensino de português apesar de não haver quaisquer indicativos dessa necessidade. Nessa perspectiva, ampliar a especificação do problema pode gerar a não observação de boas práticas já adotadas e, em casos extremos, piorar situações bem-sucedidas. DESENHO DA POLÍTICA PÚBLICA: A INTERVENÇÃO Diante da definição do problema apresentado na primeira etapa, deve-se estabelecer quais ações serão adotadas para contornar esse problema, ou seja, qual intervenção será escolhida para mudar a situação apresentada na definição do problema (etapa anterior). Dessa forma, o intuito da intervenção é a busca por mecanismos que possibilitem a resposta correta para esta pergunta: “Como intervir para solucionar o problema previamente apontado na etapa anterior?”. Fonte: Monkey Business Images/Shutterstock.com Se, por um lado, achamos que a definição do problema é a parte mais fácil do desenho do programa, por outro, a intervenção aparenta ser a mais difícil. Estabelecer os meios e os mecanismos a serem utilizados para enfrentar o problema previamente apontado pode ser comparado à situação na qual se define o remédio adequado para uma doença: quanto mais complexa ela for, maior será a dificuldade em achar o mais adequado. COMENTÁRIO Em alguns casos, a etapa da intervenção pode ser a mais complexa no desenho de uma política pública. Não há um manual ou um receituário previamente elaborado para se determinar a intervenção necessária diante do problema que se pretende enfrentar. Em outras palavras, não existe uma receita de bolo para se desenhar a intervenção. No entanto, percebemos que uma das estratégias é a pesquisa de experiências em outros lugares, como ocorreu com o prefeito de Manjeirinha, que copiou a intervenção de uma cidade do Chile. Consideraremos a seguir outros exemplos hipotéticos para compreendermos melhor a definição de intervenção. Suponhamos que o governo estadual deseje criar uma política pública para resolver a questão do desemprego das pessoas de baixa escolaridade que, com frequência, estão em situação de desvantagem social em termos de oportunidades. Imaginemos agora que o governador tenha decidido realizar uma pesquisa, envolvendo toda a população do estado, com a seguinte pergunta: Qual é a sua proposta de intervenção para resolver esse problema? Pensemos na quantidade de propostas apresentadas por todas as pessoas do estado. Com certeza, não seria possível apresentar aqui todas elas. Fonte: SFIO CRACHO/Shutterstock.com Essa multidimensionalidade de possibilidades de intervenção pode ser resolvida quando existe um conhecimento acerca de outras experiências de intervenção para determinado problema que se pretende enfrentar. Assim, em vez de realizar uma pesquisa com todos os moradores do estado, uma possibilidade mais eficaz seria fazê-la de forma menos abrangente e analisar a intervenção sobre o mesmo problema em outros estados e municípios – ou até em outros países. COMENTÁRIO Outras experiências podem contribuir na proposição de uma boa intervenção. O Bolsa Família, por exemplo, possui muitas similaridades com o PROGRESA, um programa de transferência de renda para famílias pobres criado no México em 1997. Retomando o exemplo do governador que busca uma intervenção para o desemprego e a baixa escolaridade, uma sugestão de intervenção seria a oferta de cursos profissionalizantes específicos para essas pessoas. Fonte: ESB Professional/Shutterstock.com No Brasil, já houve esse tipo de medida: trata-se do Plano Nacional de Formação Profissional (Planfor), que foi lançado pelo governo federal em 1995. Neste caso, o governador poderia verificar as ações dessa intervenção e possivelmente incorporá-la como política pública caso chegasse à conclusão de que ela é adequada para o estado. Ao replicar as intervenções, é necessário realizar adaptações para ajustá-las ao problema. No exemplo de Manjerinha, o prefeito não precisava copiar exatamente o que foi feito pelo Chile. Em vez de contratar mais profissionais do ensino, ele poderia, por exemplo, utilizar os mesmos professores de matemática para ministrar as aulas extras. DESENHO DA POLÍTICA PÚBLICA: O PÚBLICO- ALVO Esta etapa é o segmento para o qual as ações de um projeto se destinam com a expectativa de gerar mudanças ou impactos. É importante ressaltar que o público-alvo não é necessariamente formado por pessoas, como é o caso do projeto Tamar, cujo objetivo é preservar as tartarugas marinhas. O público-alvo engloba todos os agentes que se enquadram nos critérios para receber as ações da política pública. Suponhamos que o prefeito de uma cidade deseje resolver o problema da má nutrição das crianças que estão em vulnerabilidade social. Neste exemplo, o público-alvo é composto por elas. Argumentar que esse público é composto por tais crianças seria o mesmo que afirmar que todas aquelas da cidade em vulnerabilidade social vão receber as ações desse prefeito? Fonte: JLwarehouse / Shutterstock.com Para responder à pergunta, é necessário compreender a diferença entre o público-alvo e o grupo de pessoas que receberá uma intervenção. Em um primeiro momento, tal discrepância pode ser sutil, embora ela parta da ideia da existência de programas universais e não universais. PROGRAMAS UNIVERSAIS PROGRAMAS NÃO UNIVERSAIS Um programa que atinge toda a população é universal. Por exemplo, uma política de vacinação do governo prevê que toda a população será vacinada (o público-alvo é toda a população). Por outro lado, os não universais possuem restrições de entrada, seja por motivos financeiros ou de disponibilidade de vagas. Geralmente, eles incluem critérios de elegibilidade,ou seja, impõem restrições para uma participação. Para exemplificar, imaginemos que exista um programa para adolescentes da zona leste da cidade de São Paulo. Neste caso, o público-alvo estaria formado pelos adolescentes da região, enquanto o critério de elegibilidade seria formado por idade (adolescente), região (zona leste) e cidade (São Paulo). Adicionalmente, suponhamos que haja pouco recurso financeiro disponível para executar essa política, tendo sido decidido, por conta disso, que uma prova seria aplicada e que os mil candidatos mais bem colocados participariam do programa. Apesar da condicionalidade imposta para selecionar quem participará dele (estar entre os mil primeiros colocados da prova), o público-alvo não se alterou, sendo ainda composto por adolescentes da zona leste de São Paulo. Ou seja, o grupo de beneficiários continua fazendo parte do grande grupo do público-alvo. Fonte: Rawpixel.com/Shutterstock.com Dessa forma, podemos afirmar que nem sempre todo público-alvo recebe a intervenção da política pública, mas todos que a receberem estão dentro desse público. Vamos utilizar outra situação para exemplificar a diferença entre os dois grupos. Pensemos no público-alvo como uma casa grande cheia de pessoas; logo, todos dentro dela fazem parte desse público. Duas situações podem ocorrer: TODO MUNDO GANHARÁ UM PRESENTE APENAS UM GRUPO DE PESSOAS GANHARÁ O PRESENTE Se essa situação ocorrer, todos dentro da casa ganharão o presente; então, o público-alvo será igual ao grupo dos ganhadores dele. Em contrapartida, se isso ocorrer, apenas um grupo de pessoas da casa ficará com ele; portanto, apenas parte do público-alvo terá em mãos o presente. Um termo é amplamente utilizado para se referir de forma mais direta às pessoas que recebem a intervenção da política pública. Comumente, quem a recebe ou receberá é chamado de “tratado”. Usualmente, isso ocorre pelo fato de uma intervenção, quando posta em prática, ser denominada “tratamento”. O grupo de pessoas que recebe ou receberá a intervenção do programa (ou tratamento), por sua vez, é chamado de “grupo de tratamento”. EXEMPLO Retomando o exemplo de Manjerinha, imaginemos agora que a prefeitura não tinha recursos suficientes para contratar mais professores para todas as escolas; com isso, apenas algumas delas foram sorteadas para receber essas aulas extras. O público-alvo inclui todas as escolas da cidade, enquanto o grupo de tratamento (ou os tratados) abarca apenas as escolas com docentes a mais para ministrar aulas de matemática. Para compreendermos melhor a diferença entre público-alvo e grupo de tratamento, suponhamos que um prefeito de uma cidade pequena deseje criar uma política pública de curso profissionalizante para pessoas desempregadas que possuem somente o ensino fundamental completo. Como a prefeitura dispõe de poucos recursos, só é possível criar 200 vagas desse curso. No entanto, a quantidade de desempregados apenas com o ensino fundamental completo é de 500 pessoas. Como resolveremos o problema das 200 vagas diante dos 500 desempregados com ensino fundamental completo? Uma solução possível é a seguinte: basta a prefeitura sortear, entre os inscritos, 200 pessoas para realizar o curso. Alternativamente, ela ainda poderia aplicar uma prova para selecionar os 200 melhores candidatos ou definir outro critério de seleção. Fonte: Chinnapong/Shutterstock.com Independentemente da forma escolhida pela prefeitura para selecioná-las, claramente o grupo de tratamento será composto por essas 200 pessoas e o público-alvo, pelas 500. Suponhamos agora que a prefeitura tenha conseguido recursos suficientes para ofertar as 500 vagas de curso profissionalizante. Diante dessa nova realidade, o público-alvo será o mesmo do grupo de tratamento. DESENHO DA POLÍTICA PÚBLICA: IMPACTO POTENCIAL Quando existe uma clareza acerca do problema que será combatido, dos meios utilizados para isso e da definição do público-alvo, o desenho do programa é completamente finalizado com a explicação do impacto potencial, ou seja, aquele esperado após a execução da política pública. É como responder à seguinte pergunta: segundo (1) o problema que se pretende contornar, (2) a intervenção definida para isso e (3) o público-alvo, o que se pode esperar como resultado? Dessa forma, ao mesmo tempo em que se desenha o programa, já é definido o que se espera dele. No entanto, vale observar que o impacto esperado está associado ao problema, à intervenção e ao público-alvo, mas não reflete necessariamente o que ocorreu. Esse impacto representa a expectativa de mudança com a execução do programa. Ao desenhar todas as etapas de uma política pública, observa-se que o intuito é sempre o mesmo: resolver ou mitigar o problema definido na primeira etapa (definição do problema). O impacto potencial tem uma grande importância ao demonstrar, de forma clara e objetiva, de que forma o programa atenua a mitigação ou resolução do problema. Vamos retomar os exemplos para entendermos isso melhor. Fonte: giggsy25 / Shutterstock.com Do curso profissionalizante até os desempregados com baixa escolaridade, pode-se indicar que o impacto esperado após a execução desse programa é que essas pessoas saiam da condição de desemprego (definição do problema). Fonte: Nichcha / Shutterstock.com Já no exemplo de Manjerinha, o impacto potencial é a melhora no ranking das notas dos alunos na disciplina de matemática, já que o problema existente é a última colocação nessa disciplina. Sintetizando tudo que estudamos até aqui, podemos dizer que a política pública e o projeto social são utilizados às vezes como sinônimos, embora os projetos sociais não precisem ter obrigatoriamente uma participação do governo. Já essa política, que é de origem ou possui apoio governamental, tem como objetivo central a execução de mecanismos que possibilitem a mudança de um problema. Para isso, é necessário realizar o chamado “desenho da política pública”, que é composto pela definição do problema, da intervenção, do público-alvo e do impacto potencial. Essa definição possui três características fundamentais: a condição de existência (de caráter presente ou futuro), a agenda de prioridades (que pode se alterar ao longo do tempo) e a não abrangência do problema (não interferir em situações bem-sucedidas). A intervenção deve ser clara e objetiva, estabelecendo as ações de enfrentamento do problema. O público-alvo é composto pela população na qual se espera gerar mudança ou impacto. Alguns motivos, como a escassez de recursos, podem resultar na seleção de parte do público- alvo (grupo de tratamento) para receber as ações do programa. Por último, realizamos a definição do impacto potencial, demonstrando a mudança ou o impacto esperado com a execução de uma política pública. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. LEIA O TEXTO A SEGUIR: A QUANTIDADE DE PESSOAS QUE COMPRAM JORNAL IMPRESSO REDUZIU DRASTICAMENTE AO LONGO DOS ÚLTIMOS VINTE ANOS. A MAIOR BUSCA POR INFORMAÇÃO ESTÁ SENDO COMERCIALIZADA NOS MEIOS DIGITAIS. DIANTE DISSO, PERCEBEU-SE QUE OS DONOS DE BANCA VIRAM SUAS RECEITAS CAÍREM AO LONGO DO TEMPO. UM GOVERNADOR DECIDIU, DESSA FORMA, CRIAR UMA POLÍTICA PÚBLICA QUE PERMITIA QUE OS DO SEU ESTADO PUDESSEM MUDAR DE OCUPAÇÃO, PODENDO SER CHAVEIROS, COSTUREIRAS ETC. PARA REALIZAR TAL POLÍTICA, O GOVERNADOR FIRMOU PARCERIA COM EMPRESAS DE CONSULTORIA ESPECIALIZADAS EM TRANSIÇÃO DE OCUPAÇÃO NO MERCADO DE TRABALHO. NO ENTANTO, POR SER TRATAR DE UM GRANDE ESTADO, NÃO HAVERIA VAGAS SUFICIENTES PARA TODOS OS DONOS DE BANCA. OPTOU-SE, ASSIM, PELA REALIZAÇÃO DO PROGRAMA, EM UM PRIMEIRO PERÍODO, APENAS NA CAPITAL DO ESTADO. EM SEGUIDA, ASSIM QUE A EMPRESA DE CONSULTORIA FINALIZASSE TODO O PROCESSO NELA, UMA PRÓXIMA CIDADE SERIA ESCOLHIDA PARA QUE ESSES DONOS PUDESSEM PARTICIPAR. SELECIONE A ALTERNATIVA QUE SE RELACIONA CORRETAMENTE COM O TEXTO ACIMA. A) É obrigatório que todos os donos de banca participem da transição. B) Aempresa de consultoria selecionará o público-alvo. C) O desenho do programa estabeleceu como definição do problema a impossibilidade de todos os donos de banca poderem participar da consultoria. D) Inicialmente, o grupo de pessoas que receberá as ações do programa será composto pelos donos de banca na capital do estado. 2. LEIA ESTE TEXTO: UMA CIDADE NO INTERIOR DO BRASIL VIU QUE, A CADA ANO, A TAXA DE NATIMORTOS SÓ AUMENTAVA (NATIMORTO É O FETO COM MAIS DE 20 SEMANAS QUE MORRE AINDA NO ÚTERO). MUITOS SÃO OS PROBLEMAS QUE PODEM ACONTECER PARA UMA GESTAÇÃO SER INTERROMPIDA, MAS O PREFEITO OBSERVOU QUE AS GRÁVIDAS NÃO ESTAVAM TENDO ACESSO AO PRÉ-NATAL. TENDO ISSO EM VISTA, ELE CRIOU UM CONSULTÓRIO COM UMA EQUIPE DE SAÚDE ESPECIALIZADA NO ATENDIMENTO DE GRÁVIDAS. DESSA FORMA, TODAS ELAS TERIAM O ACOMPANHAMENTO DO PRÉ- NATAL FEITO POR UMA EQUIPE DE SAÚDE. SELECIONE A ALTERNATIVA QUE SE RELACIONA CORRETAMENTE COM O TEXTO ACIMA. A) A taxa crescente de natimortos representa o impacto potencial no desenho da política pública. B) Grávidas não queriam realizar o pré-natal após as 20 semanas de gestação. C) As grávidas da cidade representam a definição do problema no desenho da política pública. D) A taxa crescente de natimortos e o consultório com uma equipe de saúde especializada no atendimento de grávidas representam, respectivamente, a definição do problema e a intervenção executada pela política pública. GABARITO 1. Leia o texto a seguir: A quantidade de pessoas que compram jornal impresso reduziu drasticamente ao longo dos últimos vinte anos. A maior busca por informação está sendo comercializada nos meios digitais. Diante disso, percebeu-se que os donos de banca viram suas receitas caírem ao longo do tempo. Um governador decidiu, dessa forma, criar uma política pública que permitia que os do seu estado pudessem mudar de ocupação, podendo ser chaveiros, costureiras etc. Para realizar tal política, o governador firmou parceria com empresas de consultoria especializadas em transição de ocupação no mercado de trabalho. No entanto, por ser tratar de um grande estado, não haveria vagas suficientes para todos os donos de banca. Optou-se, assim, pela realização do programa, em um primeiro período, apenas na capital do estado. Em seguida, assim que a empresa de consultoria finalizasse todo o processo nela, uma próxima cidade seria escolhida para que esses donos pudessem participar. Selecione a alternativa que se relaciona corretamente com o texto acima. A alternativa "D " está correta. No desenho do programa, o público-alvo pode ser diferente do grupo de pessoas que receberá as ações do programa. Para o programa do enunciado, o grupo de tratamento (no período inicial) será composto pelos donos de banca na capital do estado. 2. Leia este texto: Uma cidade no interior do Brasil viu que, a cada ano, a taxa de natimortos só aumentava (natimorto é o feto com mais de 20 semanas que morre ainda no útero). Muitos são os problemas que podem acontecer para uma gestação ser interrompida, mas o prefeito observou que as grávidas não estavam tendo acesso ao pré-natal. Tendo isso em vista, ele criou um consultório com uma equipe de saúde especializada no atendimento de grávidas. Dessa forma, todas elas teriam o acompanhamento do pré- natal feito por uma equipe de saúde. Selecione a alternativa que se relaciona corretamente com o texto acima. A alternativa "D " está correta. A definição do problema é a taxa crescente de natimortos; a intervenção, o consultório para a realização de pré-natal. MÓDULO 2 Reconhecer os desafios e a necessidade da avaliação de impacto de uma política pública COMO SABER QUAL É O IMPACTO EFETIVO DA POLÍTICA? Estudamos no módulo anterior que o governo cria uma política pública com o objetivo de mitigar ou mesmo resolver um problema na sociedade (ou em parte dela). Para isso, é fundamental ter um desenho do programa que permita a estipulação de um planejamento de ações diante da realidade que se pretende alterar. Fonte: WHYFRAME/Shuterstock.com Como vimos, não há uma receita de bolo para se definir a intervenção, pois essa definição varia de acordo com a situação que se pretende alterar. Em alguns casos, certas experiências internacionais ou até mesmo nacionais podem auxiliar no desenho do programa. Ainda assim, resta a dúvida sobre o fato de o desenho do programa conseguir (ou não) mitigar ou resolver a situação. Sendo assim, é importante observar qual é o real impacto dele, isto é, avaliar se o impacto efetivo corresponde ao potencial (definido no desenho do programa). Conhecida como “avaliação de impacto”, a busca pela identificação e análise do impacto efetivo pretende verificar se a execução do desenho do programa realmente obteve o impacto previamente esperado. Desse modo, ela permite identificar se a expectativa (impacto potencial) é igual à realidade (impacto efetivo). Somente a avaliação de impacto pode demonstrar a mudança realmente causada pela execução de uma política pública. CORRELAÇÃO E CAUSALIDADE Denominamos “efeito causal” a mudança ocasionada pela execução da política pública. Analisar a causalidade de uma política é primordial para se assegurar de que a mudança ocorrida se deve, de fato, à execução do programa. Fonte: Monkey Business Images/Shuterstock.com Às vezes, observamos que, após a execução de uma política pública, ocorre a mudança em uma situação. De forma ingênua e errônea, interpretamos isso como o efeito causal, enquanto, na verdade, trata-se apenas de uma “correlação”. Antes de compreendermos melhor o conceito de correlação e causalidade no âmbito da política pública, precisamos ler atentamente a seguinte sentença: “O aumento dos gastos do governo foi acompanhado por um o aumento no número de formigas”. A conotação desta frase está relacionada a uma causalidade ou a uma correlação? Se você associou a frase a correlação, acertou. Os gastos do governo nada têm a ver com o número de formigas. O único fator comum é o aumento apresentado por ambos. Termo estatístico, a correlação se refere à força e à direção que duas variáveis se relacionam, o que pode ser provocado por uma mera coincidência — talvez os dados tenham sito coletados em um período no qual um formigueiro novo apareceu e o governo aumentou os gastos. De outro modo, se fosse argumentado que há uma relação causal entre os gastos do governo e o número de formigas, assim diríamos: “O aumento dos gastos do governo causa o aumento no número de formigas”. Logicamente, tal frase não é verdadeira, porém é importante compreender que correlação pode haver mesmo em situações sem lógica, como, por exemplo, formigas e gastos do governo. ATENÇÃO No âmbito da avaliação de impacto, a relação causal surge quando uma ação é responsável por um efeito, ou seja, a execução do programa causou o impacto efetivo observado (mudança observada). Para exemplificar a relação de causalidade, consideremos a seguinte premissa como a conclusão de uma avaliação de impacto: “O aumento da poluição leva ao incremento da incidência de doenças respiratórias”. O que podemos concluir disso? É possível inferir que o aumento da incidência de doenças respiratórias foi causado pelo incremento da poluição. Não foi dito que toda doença respiratória é causada pela poluição, e sim que o aumento dela influenciou a quantidade de doenças respiratórias. Fonte: Thannaree Deepul/Shutterstock.com Como essa premissa foi baseada em uma avaliação de impacto, mesmo que outras situações influenciem doenças respiratórias, é possível enxergar o impacto causado nelas pela poluição. Dessa maneira, para conhecer o impacto efetivo (mudança ocorrida), é crucial indicar qual é o causado pela execução do programa. COMPARAÇÕES ANTES E DEPOIS E DE PARTICIPANTES E NÃO PARTICIPANTES Voltemos ao exemplo do prefeito que fornecia 200 vagas de curso profissionalizantes a pessoas desempregadas que possuíam apenas o ensinofundamental completo. A cidade tem um público-alvo de 500 pessoas, mas a prefeitura selecionou 200 candidatos para fazerem parte do grupo de tratamento, ou seja, somente eles puderam realizar o curso profissionalizante. O impacto potencial dessa política pública era que, ao final do treinamento, essas pessoas ingressassem no mercado de trabalho. Imaginemos que, ao finalizarem o curso, todas as 200 tenham conseguido uma vaga de emprego. Fonte: fizkes/Shuterstock Diante dessa realidade, alguém poderia argumentar que a política pública foi responsável pela empregabilidade das pessoas, ou seja, a conquista do emprego foi causada pela aprovação no curso. Esta afirmativa estaria correta? Precisamos perceber que estamos comparando o mesmo indivíduo em dois períodos diferentes: 1) era desempregado antes do curso; e 2) depois de concluir o curso, ele conseguiu o emprego. Será que a estratégia que adotamos ao avaliar o antes e o depois foi suficiente para reproduzir uma relação de causalidade e, portanto, ser considerada uma avaliação de impacto? Antes de respondermos a tal pergunta, devemos abordar uma estratégia de comparação adicional: se quem participou do curso está empregado, o que aconteceu com os não participantes? Poderíamos checar se eles ainda estão desempregados: ao compará-los com os 200 que fizeram o curso (e estão empregados), afirmaríamos que ele foi determinante para a conquista do emprego. Ao analisarmos os não participantes, deparamo-nos com a seguinte informação: uma grande empresa se instalou na cidade e empregou todos os desempregados, ou seja, as 500 pessoas. Até as que realizaram o curso foram empregadas por ela. Fonte: Robert Kneschke/Shuterstock Nesse sentido, ter realizado o curso não contribuiu para a pessoa conseguir um emprego. COMENTÁRIO A comparação entre o antes e o depois não é um indicador correto para a verificação do impacto efetivo de uma política pública, já que a empregabilidade foi ocasionada por um fator externo (grande demanda por trabalhadores de uma empresa instalada na cidade). De forma semelhante, a comparação entre participantes e não participantes também não constitui uma boa estratégia para a verificação do impacto efetivo. Buscamos (erroneamente) encontrar o impacto prático analisando a situação antes e depois do programa. Ou seja, a pessoa era desempregada antes dele, fez o curso e foi empregada. No entanto, a ocorrência de fatores externos ao curso contribuiu para a empregabilidade, pois, como a empresa precisava de muitos trabalhadores, todos que se candidataram para as vagas de emprego conseguiram um trabalho. Portanto, essa comparação demonstrou apenas uma correlação entre “fazer o curso” e “conseguir o emprego”. Lembre-se de que, na busca pelo impacto efetivo (a mudança que de fato ocorreu), é necessário observar que “fazer o curso” foi determinante para “conseguir o emprego”, isto é, o programa foi responsável pela mudança observada. Abordamos até aqui uma situação hipotética realizada corriqueiramente. Contudo, por diversas vezes, também nos deparamos com uma intervenção governamental (ou até mesmo uma política pública) sobre a qual realizamos comparações do tipo antes e depois ou participantes e não participantes. Assim, partindo de uma comparação completamente equivocada, tiramos conclusões acerca do fracasso ou do sucesso da intervenção governamental ou política pública. O que se deve fazer então para identificar o impacto efetivo de um programa? Em outras palavras, como se pode encontrar relações causais para conhecer o impacto efetivo? COMENTÁRIO O motivo para as duas escolhas estimarem erroneamente o impacto efetivo foi a impossibilidade de afirmar o que aconteceria com os participantes do programa caso não tivessem participado dele. As alternativas que (erroneamente) adotamos incorrem na busca pelo conhecimento de uma situação hipotética. Trata-se da chamada situação contrafactual. IMPOSSIBILIDADE DE ENCONTRAR O CONTRAFACTUAL A situação contrafactual pode ser definida como a busca por conhecer o que aconteceria caso outra situação ocorresse. Apesar de soar como uma definição abrangente, por ser uma situação hipotética, vale a pena compreendê-la. Começaremos isso com algumas abordagens corriqueiras. Suponhamos que, após terminar a faculdade, você recebesse duas propostas de emprego: a primeira, para trabalhar no Rio de Janeiro; a outra, em São Paulo. Você optou pela empresa do Rio de Janeiro. Depois de dez anos, lembra-se da outra proposta e naturalmente se pergunta: “Se eu tivesse ido a São Paulo, como seria a minha vida?”. Olhamos situações ao nosso redor em diversas oportunidades, o que naturalmente suscita o surgimento de perguntas como “Se eu tivesse... o que teria acontecido?” ou “Se eu não tivesse... o que teria acontecido?”. Elas envolvem um impasse: a incapacidade de conhecermos a situação contrafactual, ou seja, o resultado alternativo, por estar atrelada a uma escolha que não pode mais ser feita. Fonte: Roman Samborskyi / Shutterstock A possibilidade de mudar para São Paulo, depois de trabalhar por dez anos no Rio de Janeiro, nunca vai representar o que aconteceria com a sua vida se você tivesse se mudado para lá há dez anos. Poderíamos pensar nas pessoas que conhecemos no Rio de Janeiro e nas experiências vividas, além das diversas situações que ocorreram e que nos impossibilitam de assumirmos, caso tivesse ocorrido uma escolha diferente, um determinado resultado por hipótese. Dessa forma, nunca será possível saber como estaria a sua vida se você tivesse ido a São Paulo há dez anos em vez de ter optado pelo Rio de Janeiro. Apesar dos muitos cenários que a situação contrafactual pode ter, as estratégias utilizadas para uma avaliação de impacto recaem na busca por se contornar o contrafactual, ou seja, conhecer o que aconteceria caso a política pública não fosse executada. Se isso fosse possível, seria fácil distinguir o impacto causado por ela. Para se estabelecer o cenário contrafactual, deveria ser possível identificar o resultado para a mesma pessoa ao mesmo tempo, admitindo ambos os cenários: o de ter participado e o de não ter participado do programa. Para compreendermos isso melhor, analisaremos a seguinte história hipotética: Simaia está desempregada. Em sua cidade, foi ofertada uma política pública de mentoria para se conseguir um emprego. As ações do programa envolvem dicas, estratégias e conhecimentos de oportunidades para se conquistar um trabalho na cidade. Ela finalizou o curso no dia 12 de fevereiro de 2020 e, no dia seguinte, já conseguiu um emprego. Fonte: fizkes/Shutterstock Para construirmos o contrafactual, deveríamos observar as duas versões de Simaia: Versão 1: Dia 13 de fevereiro de 2020: ela não fez o curso de mentoria; Versão 2: Dia 13 de fevereiro de 2020: ela fez o curso de mentoria. Considerando a ocorrência da versão 2, poderíamos indicar que o impacto efetivo seria a comparação da versão 1 com a 2. Nessa perspectiva, trata-se do que teria acontecido com ela caso não tivesse participado do programa. Claramente, é impossível termos as duas situações, dado que ela, de fato, finalizou o curso no dia 12. Com isso, só conseguimos observar sua versão 2, ou seja, aquela em que Simaia realizou o curso. A situação contrafactual sempre recai na mesma dúvida “e se”. Essa impossibilidade de conhecer uma realidade alternativa (o que não ocorreu) gera a impossibilidade da construção do contrafactual. Retomemos o exemplo do curso profissionalizante para os 200 desempregados: Versão 1: Após a finalização do curso, mas a pessoa não fez o curso; Versão 2: Após a finalização do curso, mas a pessoa fez o curso. Caso as versões 1 e 2 fossem comparadas, conseguiríamos observar que, após a finalização do curso, a pessoa conseguiria o emprego da mesma forma, já que a empresa instalada na cidade precisava de mão de obra. Sendo assim, poderíamos observar que fazer o curso não impactou efetivamentena obtenção do emprego. Com essa análise, concluiríamos que o programa não obteve um efeito causal relevante, ou seja, ele não foi o fator determinante para a empregabilidade. Observamos até aqui que as comparações entre antes e depois e entre participantes e não participantes não conseguem indicar o impacto do programa. O motivo para isso é que não conseguimos recuperar a situação contrafactual diante dessas duas formas de comparação. Diante dessas impossibilidades, qual estratégia deve ser adotada para se contornar o contrafactual e se estabelecer o impacto efetivo de uma política pública? GRUPO DE CONTROLE Neste vídeo, demonstramos, por meio de um exemplo, a importância do grupo de controle. GRUPO DE CONTROLE A estratégia adotada para tentar recuperar o contrafactual artificialmente é encontrar um grupo que represente adequadamente os participantes do programa na ausência de participação nele. Retomemos o exemplo da Simaia: a solução, neste caso, é encontrar uma pessoa tão parecida com ela que a única diferença entre ambas seja a participação no programa. Desse modo, a ideia por trás da formação desse grupo representativo da Simaia é buscar pessoas com as mesmas características dela, ainda que não tenham feito o curso. Para o caso em questão, esse grupo seria o seguinte: mulher, desempregada, mesmo nível educacional, mesma motivação para conseguir o emprego e outras características importantes que influenciam na conquista dele, mas com a diferença de que ela não fez o curso. fizkes/shutterstock fizkes/shutterstock Caso encontrássemos alguém tão similar a Simaia, poderíamos assumir que a única diferença entre ambas seria o curso. Dessa forma, compararíamos adequadamente o efeito da mentoria sobre a situação de emprego. Essa outra pessoa representaria o controle para Simaia, ou seja, alguém em uma situação de não realização do curso, mesmo podendo ser comparada a ela (que fez o curso). Portanto, devido à impossibilidade de encontrarmos o contrafactual, utilizamos a seguinte estratégia: buscamos um grupo de controle, ou seja, definimos um grupo de pessoas com características similares às de Simaia que possa representar o que aconteceria com ela sem a participação no programa. A partir desse grupo representativo, conseguiremos fazer comparações artificiais com o grupo de pessoas que recebeu o programa. Encontrar um grupo de controle não é uma tarefa fácil, embora existam muitas técnicas complexas e desenhos específicos de programas que permitem isso. COMENTÁRIO É fundamental a compreensão de que conhecer a realidade das pessoas que participam do programa não significa necessariamente compreender o impacto dele. Somente uma adequada comparação com o grupo de controle permite realmente conhecê-lo. Outra aplicação muito comum de grupos de controle e tratamento ocorre em testes de medicamentos e vacinas na área da saúde. Pessoas são alocadas entre o grupo de tratamento (que recebe a medicação) e o de controle (que toma um remédio placebo sem nenhum efeito). Fonte: Coryn/shutterstock Fonte: Irik Bik/shutterstock Ao final do tratamento, os dois grupos são comparados para se conhecer o impacto efetivo do medicamento. COMENTÁRIO Essa estratégia é adotada porque não é possível conhecer o contrafactual do grupo de tratamento, ou seja, o que teria acontecido com as pessoas que tomaram o medicamento caso elas não o tivessem tomado. Será que elas melhorariam por causa de uma resposta imunológica natural? Para conseguir conhecer o real efeito do medicamento, é fundamental que o grupo de controle (que toma o placebo) tenha as mesmas características do que realmente está tomando o medicamento. IMPORTÂNCIA DE SE CONHECER O IMPACTO EFETIVO Poderíamos nos perguntar: qual é a importância da avaliação de impacto efetivo das políticas públicas? . A primeira resposta seria a validação da teoria. Uma das razões para a importância da avaliação de impacto é que, ao conhecer os efeitos do programa, é possível indicar se o desenho dele precisa de ajustes ou deve ser extinguido. Fonte: create jobs 51/Shutterstock Outra razão muito importante tem relação com os custos. Como veremos adiante, os recursos gastos em políticas públicas são públicos; portanto, o ideal seria evitar que muitos deles fossem gastos em um programa que apresenta baixos benefícios. Uma avaliação de impacto permitiria ajustes no desenho do programa de tal forma que, com a mesma quantidade de recursos, seria possível obter um impacto efetivo maior. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. A PREFEITURA DE UMA CIDADE DO INTERIOR DESENVOLVEU UMA POLÍTICA PÚBLICA CUJO PROPÓSITO É O DE OFERECER UM TREINAMENTO VOLTADO PARA A ÁREA DE TRABALHO DE CADA TRABALHADOR. O OBJETIVO DO CURSO É QUE AS PESSOAS FIQUEM MAIS QUALIFICADAS NO TRABALHO E RECEBAM UM AUMENTO SALARIAL. AO FINAL DELE, O PREFEITO PEDIU A UMA EQUIPE DA PREFEITURA QUE FOSSE FEITA A AVALIAÇÃO DE IMPACTO DO PROGRAMA. O RESULTADO APRESENTADO PELA EQUIPE FOI O SEGUINTE: COMPAROU-SE OS SALÁRIOS DOS PARTICIPANTES DO PROGRAMA ANTES E DEPOIS DO CURSO. OS TRABALHADORES QUE REALIZARAM O TREINAMENTO GANHAVAM R$1.000 POR MÊS ANTES DELE. DEPOIS DE O REALIZAREM, PASSARAM A OBTER GANHOS MENSAIS DE R$1.500. DESSA FORMA, INDICAMOS QUE A ADIÇÃO DE R$500 NO SALÁRIO DAQUELES QUE PARTICIPARAM DO PROGRAMA PODE SER IDENTIFICADA COMO A AVALIAÇÃO DE IMPACTO DELE. APÓS LER ATENTAMENTE O TEXTO E A EXPLICAÇÃO DA EQUIPE, SELECIONE A ALTERNATIVA CORRETA. A) A equipe está correta, porque o incremento salarial depois do programa representa claramente que o treinamento atingiu o objetivo de aumentar o salário dos trabalhadores. B) A equipe está errada. A comparação do salário antes e depois do treinamento não reflete a avaliação de impacto, já que pode haver outras situações que influenciaram esse aumento salarial. C) A equipe está errada, pois esse aumento salarial representa o impacto potencial do treinamento. D) A equipe está correta, já que comparar o salário das pessoas que fizeram o treinamento com o dos que não o realizaram é a forma correta de se conhecer o impacto efetivo do programa. 2. UMA EMPRESA DESENVOLVEU UM ALGORITMO INOVADOR QUE É CAPAZ DE ANALISAR UM GRANDE BANCO DE DADOS COM MUITAS INFORMAÇÕES REFERENTES A CARACTERÍSTICAS DAS PESSOAS. COM ESSE ALGORITMO, É POSSÍVEL INDICAR UMA PESSOA QUE POSSUA AS MESMAS CARACTERÍSTICAS QUE VOCÊ. CONSIDERANDO QUE ESSE ALGORITMO REALMENTE EXISTA, SELECIONE A ALTERNATIVA QUE DEMONSTRA QUAL PROBLEMA ELE ESTARIA RESOLVENDO PARA A POLÍTICA PÚBLICA. A) De posse desse algoritmo, seria possível prever qual seria as reações das pessoas quando o governo implementasse a política pública. B) Com a execução do algoritmo, seria possível haver a adequada criação do grupo de controle. C) Com toda essa informação, a política pública poderia ser aperfeiçoada, já que, ao conhecer as características das pessoas, seria possível avaliar a preferência que elas possuem quanto à execução de política pública. D) Esse algoritmo não contribui em nada para a política pública. GABARITO 1. A prefeitura de uma cidade do interior desenvolveu uma política pública cujo propósito é o de oferecer um treinamento voltado para a área de trabalho de cada trabalhador. O objetivo do curso é que as pessoas fiquem mais qualificadas no trabalho e recebam um aumento salarial. Ao final dele, o prefeito pediu a uma equipe da prefeitura que fosse feita a avaliação de impacto do programa. O resultado apresentado pela equipe foi o seguinte: Comparou-se os salários dos participantes do programa antes e depois do curso. Os trabalhadores que realizaram o treinamento ganhavam R$1.000 por mês antes dele. Depois de o realizarem, passaram a obter ganhos mensais de R$1.500. Dessa forma, indicamos que a adição de R$500 no salário daqueles que participaram do programa pode ser identificada como a avaliação de impacto dele. Após ler atentamente o texto e a explicação da equipe, selecione a alternativa correta.A alternativa "B " está correta. A adequada comparação para se conhecer o impacto efetivo do programa é feita com o grupo de controle. 2. Uma empresa desenvolveu um algoritmo inovador que é capaz de analisar um grande banco de dados com muitas informações referentes a características das pessoas. Com esse algoritmo, é possível indicar uma pessoa que possua as mesmas características que você. Considerando que esse algoritmo realmente exista, selecione a alternativa que demonstra qual problema ele estaria resolvendo para a política pública. A alternativa "B " está correta. Conseguir um algoritmo que seja capaz de indicar a similaridade de duas pessoas em relação às suas características permite a construção do grupo de controle. MÓDULO 3 Descrever a análise do custo/benefício de uma política pública CUSTO-BENEFÍCIO DE POLÍTICAS PÚBLICAS COMO CALCULAR O CUSTO-BENEFÍCIO? Quando se completa esse desenho e é realizada sua implementação, parte-se para uma segunda fase: a avaliação do impacto efetivo do programa. A importância de se conhecer o impacto efetivo após a realização do programa representa duas possibilidades: avaliar se é preciso realizar ajustes no desenho dele e contrabalancear os custos envolvidos com os benefícios gerados. Em muitos casos, fazer o levantamento financeiro dos custos e benefícios de uma política pública não é uma tarefa simples. Diante disso, o intuito deste módulo é estudar algumas estratégias adotadas e estabelecer considerações importantes para o cálculo dos custos e dos benefícios. Antes de iniciarmos a análise de custo-benefício da política pública, precisamos, contudo, nos familiarizar com o contrabalanceamento dos custos e benefícios. EXEMPLO Queremos comprar um carro, podendo ser uma Lamborghini ou uma Ferrari. Se a escolha da compra de algum deles estiver ligada somente ao conforto e à potência, talvez qualquer um dos modelos das duas fabricantes seria suficiente para satisfazer tais benefícios. No entanto, existe uma questão muito importante associada à escolha de um automóvel produzido por ambas: o custo envolvido. O valor monetário desses carros pode ser a explicação de não ser tão comum vê-los nas ruas e estradas apesar dos benefícios propiciados por seu conforto e potência. Assim como ocorre no exemplo da compra dos carros, os custos também são importantes na tomada de decisão para se executar uma política pública. Apesar da análise do custo-benefício ser realizada após a implementação do programa, a decisão pela continuação do programa ou a replicação em outra região é feita considerando seus resultados. Analisar somente o impacto que o programa está gerando seria o mesmo que considerar apenas os benefícios que um carro de luxo pode lhe proporcionar. Dessa forma, pode-se investir em políticas sociais com um impacto cujos custos são tão elevados que as tornam economicamente inviáveis. Com a análise do custo-benefício, é possível indicar se a política pública deve continuar ou se as propostas do desenho do programa precisam ser reformuladas para a busca de outro programa com um melhor nível dele.. Fonte: Andrey_Popov/Shutterstock COMO CONTRABALANCEAR OS CUSTOS E OS BENEFÍCIOS? Para compreendermos como ocorre a busca pelo cálculo do custo-benefício, analisaremos um exemplo hipotético adaptado de Gruber (2015). EXEMPLO Você foi requisitado pelo governador de seu estado para trabalhar no setor de transportes. Como as estradas estaduais estavam em mau estado de conservação, ele desenhou uma política pública para solucionar esse problema. Como resultado, esperava-se que as pessoas sofressem menos acidentes nessa estrada. Após a execução da política pública, chegou-se à conclusão de que o impacto efetivo dela eliminou dois acidentes por dia. Você é a pessoa encarregada de fazer a análise de custo-benefício considerando os gastos com a política e os benefícios que ela traria em um mês. Diante dessas informações, como poderia fazer a análise do custo-benefício? O primeiro passo é avaliar a magnitude dos custos que a ação governamental adotou. Fonte: Indypendenz/Shutterstock Consideremos que as ações foram realizadas em um mês ao custo de R$100 mil. Esse montante é chamado de custo contábil, ou seja, o valor gasto com a execução da política pública. A análise de impacto efetivo indicou que a execução dessa política eliminou dois acidentes. Como podemos monetizar (quantificar financeiramente) a ausência deles? Se estimarmos que o custo de cada acidente era de R$2.000, pode-se concluir que, em um mês (31 dias x R$2.000 x 2), o benefício ao se evitar dois acidentes com a política pública foi de R$124 mil mensais. Dessa forma, podemos relacionar o custo e o benefício dessa política utilizando a razão custo- benefício, ou seja, a estatística que informa o valor do retorno para a sociedade de cada real investido no projeto. Para isso, basta dividir o benefício total da política pelo seu custo, estando ambos representados (em valor presente) pelo mesmo período de tempo. Fonte: momoforsale/Shutterstock No nosso exemplo, o governador quer conhecer a análise no espaço de um mês; então, calcula-se a razão custo-benefício dividindo este por aquele: R$124 mil (benefício) dividido por R$100 mil (custo) é igual a 1,24. O resultado da razão custo-benefício indica que, para cada real investido, o benefício gerado é de um real e vinte e quatro centavos. Portanto, como o retorno obtido é maior que o custo envolvido, o projeto é considerado viável economicamente. MONETIZAR OS BENEFÍCIOS E OS CUSTOS DA POLÍTICA PÚBLICA Observamos neste vídeo o cálculo da razão custo-benefício de um exemplo hipotético. AS DIFICULDADES EM MONETIZAR OS BENEFÍCIOS E OS CUSTOS Realizamos dois exemplos hipotéticos em que mensuramos os custos e os benefícios do projeto. No entanto, monetizar esses valores pode representar uma tarefa muito mais complexa do que pensamos. Diante disso, devemos recorrer a algumas estratégias que serão aprofundadas nos próximos exemplos. Fonte: Wor Sang Jun/Shutterstock Até o momento, só utilizamos exemplos hipotéticos com o intuito de exercitar as habilidades de associação dos diversos benefícios de uma política pública. Agora, porém, precisamos conhecer um caso real: trata-se de um programa implementado em Minas Gerais cujo custo- benefício foi analisado por Peixoto (2010). No ano de 2002, uma política pública foi implementada nas favelas mais violentas de Belo Horizonte, capital de Minas Gerais. Conhecida como projeto “Fica Vivo”, o objetivo era reduzir o número de homicídios utilizando ações que combinavam o policiamento ostensivo com práticas de cunho social. Dessa forma, a avaliação de impacto efetivo – calculado após a execução do programa – revelou que ele foi o responsável por evitar 15 homicídios. Os custos estimados por Peixoto (2010) eram de R$244 mil por homicídio evitado. Para transformar o impacto efetivo em benefício, este autor considerou os fatores multidimensionais de se evitar um homicídio e propiciar um ganho no bem-estar social. O resultado do benefício estimado foi um ganho de R$490 mil ao se evitar um homicídio. Em outras palavras, tal valor representa a perda que a sociedade deixou de sofrer com essa morte. Fonte: Pranch/Shutterstock A razão custo-benefício, portanto, foi de 1,99 (para cada real investido no programa, houve uma economia de R$1,99). Já compreendemos que, com os valores do custo e do benefício, a razão entre ambos retorna o valor revertido à sociedade para cada real investido no programa. Apresentaremos agora outra política pública implementada no Brasil cujo custo-benefício foi objeto de análise de Camelo Júnior e demais autores (2011). Em 2006, o estado de São Paulo implementou um programa que visava a detectar precocemente uma doença chamada galactosemia nas crianças. O diagnóstico tardio dela pode desencadear infecções generalizadas, insuficiências hepáticas, podendo evoluirainda para cirrose, catarata, hipertensão, edema cerebral, retardo mental e morte. O diagnóstico precoce é possibilitado apenas pelo acompanhamento médico. Dessa forma, os autores avaliaram o impacto da inclusão dessa doença no diagnóstico conhecido como “teste de pezinho”. Com o intuito de estimar os benefícios, eles consideraram que o benefício de se realizar um diagnóstico precoce equivale à diferença entre a perda social do diagnóstico tardio e a causada pela doença quando ele é precoce. Fonte: TaTae THAILAND/Shutterstock Após calcularem todos esses efeitos, os autores chegaram à conclusão de que a razão custo- benefício era de 1,33. Dessa forma, para cada real investido no programa, houve um retorno à sociedade de 1,33. Com esses dois trabalhos apresentados, percebemos que o cálculo dos benefícios não é tão fácil quanto o apresentado no exemplo hipotético das estradas estaduais. Essa realidade ocorre para a maioria dos projetos sociais; por isso, é indispensável conhecer estudos que mencionem os impactos que uma situação pode desenvolver em uma sociedade. Dessa maneira, podemos concluir que, se quisermos utilizar uma análise detalhada dos custos e dos benefícios de uma política pública, é necessário ter um certo domínio do assunto que nos permita chegar ao cálculo completo dos custos e benefícios. DIFICULDADE DE REALIZAÇÃO DA ANÁLISE DE CUSTO-BENEFÍCIO NA PRÁTICA Para promovermos uma melhor compreensão sobre a análise de custo-benefício, observaremos agora outro exemplo hipotético. Consideremos um programa de aumento de escolaridade cujo impacto efetivo seja a taxa de jovens com nível superior completo. A literatura econômica mostra que uma escolaridade alta resulta, entre outros efeitos, em maiores salários, menores probabilidades de recorrer a programas sociais e probabilidades de encarceramento mais escassas. Dessa forma, ao transformarmos o impacto efetivo em benefício (o valor monetário resultante do aumento da taxa de jovens com ensino superior completo), teremos de considerar todos esses efeitos apresentados pela literatura econômica: Fonte: Puckung/Shutterstock Os ganhos salariais devido ao aumento da escolaridade. Fonte: Puckung/Shutterstock A probabilidade de os jovens que participaram do programa buscarem ofertas de novas oportunidades e a média dos custos de se prover os programas que seriam acessados caso eles não tivessem aumentado sua escolaridade. Fonte: Puckung/Shutterstock A probabilidade de os jovens tratados serem presos e o custo das prisões que teriam acontecido se a escolaridade não tivesse aumentado. Não seria possível conhecer os efeitos multidimensionais do aumento da escolaridade de jovens se não fosse realizado um estudo aprofundado dessa literatura. Tendo isso em vista, algumas análises de custo-benefício são complexas por dois motivos: Dificuldade de monetizar os benefícios; Efeitos multivariados em que o impacto da política pública pode resultar. No caso de políticas públicas relacionadas à área de saúde, por exemplo, para prevenir a incidência de diabetes, monetizar o impacto (valor do benefício) também se baseia em uma série de hipóteses relacionadas a essa diminuição da taxa de incidência da doença na população. Vejamos quatro delas a seguir: Diminuição dos dispêndios com o sistema de saúde para tratamento das doenças correlatas a diabetes; Melhoria na condição de vida das pessoas devido a hábitos saudáveis adquiridos pela política; Redução de número de doentes caso não houvesse a política; Contenção dos gastos com previdência social destinados a doentes e inválidos. Diante desses exemplos, é possível indicar que o cálculo do custo-benefício deve considerar todos os custos e benefícios sociais que envolvam os agentes diretamente envolvidos, além daqueles relacionados aos efeitos indiretos sobre o restante da sociedade. Dessa forma, mesmo diante da evidência de que um programa tem algum impacto, é crucial estimar sua magnitude para ser possível verificar se o valor dos benefícios produzidos supera os custos incorridos. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. O QUADRO A SEGUIR É APRESENTADO A UM PREFEITO QUE IMPLEMENTOU UMA POLÍTICA PÚBLICA CUJO OBJETIVO ERA AUMENTAR O SALÁRIO DAS MULHERES: DESCRIÇÃO MULHERES QUE PARTICIPARAM DO PROGRAMA ANTES DA EXECUÇÃO DO PROGRAMA R$1.500 DEPOIS DA EXECUÇÃO DO PROGRAMA R$2.500 AO VER O QUADRO ACIMA, O PREFEITO DISSE A SEGUINTE FRASE: “ESTE PROGRAMA É UM SUCESSO. ELE FOI O RESPONSÁVEL PELO AUMENTO EM R$1.000 NO SALÁRIO DAS MULHERES”. CONSIDERE QUE A EQUIPE ECONÔMICA ESTAVA PRESENTE NA REUNIÃO, TENDO FALADO EM SEGUIDA. QUAL É A FALA ESPERADA DE ALGUÉM QUE SABE REALIZAR UMA AVALIAÇÃO DE IMPACTO EFETIVO? SELECIONE A ALTERNATIVA QUE DEMONSTRA CORRETAMENTE A ANÁLISE DA EQUIPE ECONÔMICA. A) Este programa deve ser continuado sem a realização de nenhuma alteração, pois esse impacto efetivo é a prova de que o desenho dele está correto. B) Com o valor de R$1.000 de impacto efetivo, podemos calcular o custo-benefício e apresentar ao senhor. C) Apenas com essas informações, não é possível afirmar que o programa é um sucesso, pois ainda é necessário realizar uma avaliação de impacto antes da análise do custo-benefício envolvido. D) A próxima turma deve começar logo; do contrário, esse impacto não continuará a acontecer. 2. AO CALCULAR OS CUSTOS E OS BENEFÍCIOS DE UMA POLÍTICA PÚBLICA, ANA PERCEBEU QUE A PREFEITURA TEVE UM CUSTO DE R$20 MIL APENAS. AFINAL, O PREFEITO EMPRESTOU O CAMINHÃO, CUJO ALUGUEL ERA DE R$30 MIL, UTILIZADO NAS AÇÕES DELA, QUE GERARAM UM IMPACTO EFETIVO COM BENEFÍCIO DE R$55 MIL. SELECIONE A ALTERNATIVA QUE SE RELACIONA CORRETAMENTE COM O TEXTO ACIMA. A) Os custos do projeto são de R$20 mil e os benefícios, de R$85 mil, já que o caminhão emprestado pelo prefeito representou um benefício para o projeto. B) A razão custo-benefício do projeto é de 1,1. C) O impacto desse programa demonstrou que o projeto opera em prejuízo. D) Uma recomendação que Ana pode fornecer ao prefeito é que esse projeto gera benefícios para a sociedade que são inferiores aos custos. GABARITO 1. O quadro a seguir é apresentado a um prefeito que implementou uma política pública cujo objetivo era aumentar o salário das mulheres: Descrição Mulheres que participaram do programa Antes da execução do programa R$1.500 Depois da execução do programa R$2.500 Ao ver o quadro acima, o prefeito disse a seguinte frase: “Este programa é um sucesso. Ele foi o responsável pelo aumento em R$1.000 no salário das mulheres”. Considere que a equipe econômica estava presente na reunião, tendo falado em seguida. Qual é a fala esperada de alguém que sabe realizar uma avaliação de impacto efetivo? Selecione a alternativa que demonstra corretamente a análise da equipe econômica. A alternativa "C " está correta. Somente uma avaliação de impacto consegue indicar se a participação no programa foi determinante no aumento do salário e concluir se a política está gerando os resultados esperados. A partir dessa avaliação do impacto efetivo, é possível realizar a análise do custo- benefício e tomar decisões sobre o rumo do programa. 2. Ao calcular os custos e os benefícios de uma política pública, Ana percebeu que a prefeitura teve um custo de R$20 mil apenas. Afinal, o prefeito emprestou o caminhão, cujo aluguel era de R$30 mil, utilizado nas ações dela, que geraram um impacto efetivo com benefício de R$55 mil. Selecione a alternativa que se relaciona corretamente com o texto acima. A alternativa "B " está correta. Deve-se somar o custo contábil de R$20 mil com o não pago (custo de oportunidade) do caminhão de R$30 mil. Dessa forma, o valor de R$55 mil (benefício) dividido por R$50 mil (custos somados) é igual a 1,1. Isso indica que, para cada um real gasto no projeto, o retorno à sociedade é de R$1,10. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Aprendemos neste tema que uma política pública envolve três grandes frases. Aprimeira é o desenho do programa, no qual ocorre a definição do problema, da intervenção, do público-alvo e do impacto potencial. Na segunda fase, verificamos a avaliação de impacto, em que é necessário encontrar um grupo de controle que represente artificialmente os participantes do programa, de forma que a única diferença entre eles seja essa participação. Isso decorre da necessidade de haver uma relação causal (e não uma correlação) e da incapacidade de existir um contrafactual (o que aconteceria com os participantes se não houvesse o programa). Na última grande fase, apresentamos a análise do custo-benefício. Quantificamos monetariamente nela o custo contábil, o custo de oportunidade e os benefícios de um programa para a análise de sua viabilidade. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS CAMELO JUNIOR, J. S. et al. Avaliação econômica em saúde: triagem neonatal da galactosemia. In: Cadernos de saúde pública. v. 27. n. 4. 2011. p. 666-676. CARVALHO, A. X. et al. Custos das mortes por causas externas no Brasil. In: Texto de discussão. Brasília: Ipea, 2007. GRUBBER, J. Public finance and public policy. 5. ed. New York: Macmillan, 2015. p. 219- 240. PEIXOTO, B. Avaliação econômica do projeto Fica Vivo: o caso piloto. In: Orçamento público: II Prêmio SOF de Monografias — coletânea. Brasília, 2010. PEIXOTO, B. et al. (Org.). Avaliação econômica de projetos sociais. v. 1. 1. ed. São Paulo: Fundação Itaú Social, 2012. EXPLORE+ Se você estiver interessado em métodos para a avaliação de projetos sociais, dê uma olhada no curso Avaliação econômica de projetos sociais oferecido pelo Itaú Social. CONTEUDISTA Rhayana Holz Vieira CURRÍCULO LATTES javascript:void(0);
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