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PAPER - O BIBLIOTECÁRIO NA ERA DA TECNOLOGIA - Módulo III - Turma FLC4191BIB - Com correções

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O BIBLIOTECÁRIO NA ERA DA TECNOLOGIA:
As Competências e Desafios do Profissional da Biblioteconomia Frente aos Novos Paradigmas Tecnológicos
Beatriz Blank Kruger¹
César Augusto Weber¹
Jaqueline Duarte Zoltowski¹
Naides Fabiane Specht Kafer¹
Raimundo Manaia Matos¹
Professora Mônica Valério Barreto²
1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
“A palavra ‘biblioteca’ tem sua origem do grego, biblíon (livro) e teke (caixa, depósito), portanto um depósito de livros” (HOUAISS, 2001). Desde o início, as bibliotecas têm sido usadas como um local onde se armazenam livros. Mas nem sempre foram somente livros os materiais que preenchiam as bibliotecas - já foram usados materiais como placas de argila, rolos de papiro, pedra e pergaminho. Os bibliotecários realizavam o papel de meros guardiões destes suportes, sem uma real preocupação com o conhecimento que eles continham.
No passado, as atividades dos bibliotecários voltavam-se para o acervo da biblioteca como única fonte de informação. Hoje, elas estão centradas na informação, independente do suporte em que esteja registrada. As tecnologias facilitam a reprodução da informação nessa variedade de formatos, ocasionando uma grande avalanche informacional. Nessa nova configuração, a biblioteca apresenta-se como um centro dinâmico da informação. (MORIGI, SOUTO, 2005, p. 203).
Para Cury, Ribeiro e Oliveira (2001), com a evolução das bibliotecas, o bibliotecário, que antes atuava como um mero censor de leituras, passou a entender-se como um elo de ligação entre o usuário e a informação, e cuja principal função seria a de facilitar o acesso do usuário ao material bibliográfico disponível no acervo da biblioteca. Já em relação aos usuários remotos, todavia:
[...] o usuário remoto possui independência de recursos tecnológicos e conhecimentos suficientes que lhe permitem ter acesso à informação desejada. Com o advento da Internet, cada vez mais o usuário é colocado em contato com a interface amigável isto quase sempre na forma de softwares facilitadores de busca e acesso à informação. O universo de mídias e informação estão à disposição dos usuários no conforto de sua casa. Desta forma necessitam cada vez menos do bibliotecário para conduzi-los pelos caminhos e sendas dos catálogos, redes, bancos de dados, etc. enfim, daquele que conecta o usuário ao mundo informacional [...] (CURY, RIBEIRO, OLIVEIRA, 2001, p. 94).
Segundo as reflexões de Morigi e Souto (2005), as recentes tecnologias de comunicação têm influenciado nas formas de sociabilidade entre os bibliotecários e os seus leitores e trouxeram impactos significativos para as bibliotecas, já sendo entendidas por alguns bibliotecários como elementos facilitadores na execução das tarefas cotidianas do seu trabalho. Por seu lado, os frequentadores tanto de bibliotecas físicas quanto virtuais veem nas tecnologias de informação e comunicação um elemento imprescindível no processo de busca das informações e do conhecimento, tornando-os mais independentes nas suas leituras e investigações.
Essa passagem para era digital fez com que as bibliotecas se transformassem em centros dinâmicos de informação. Os bibliotecários passaram a atender melhor as necessidades dos leitores, mantendo-se em constante atualização e acompanhando a evolução das tecnologias. Assim, proporcionam aos seus frequentadores serviços de qualidade, através de um acesso atualizado e democrático da informação, como comentaremos neste texto.
Assim, o trabalho ora apresentado busca entender a relação entre o bibliotecário e as tecnologias da informação em constante desenvolvimento, traçando um paralelo entre os novos espaços de trabalho para este profissional e as novas competências necessárias à sua atuação diante dos novos cenários tecnológicos.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
Como procedimento metodológico, foi realizada uma pesquisa bibliográfica, utilizando como referencial a literatura já publicada acerca do assunto. É importante ressaltar que as referências utilizadas são de suma importância ao tema escolhido neste trabalho, uma vez que buscam fortalecer as discussões aqui apresentadas de forma a dialogar com diversos autores sobre o tema pesquisado. Cervo, Bervian e da Silva (2007, p.61) afirmam que a pesquisa bibliográfica “constitui o procedimento básico para os estudos monográficos, pelos quais se busca o domínio do estado da arte sobre determinado tema”.
Durante a pesquisa, foram consultadas diversas fontes, entre livros, artigos e periódicos, a fim de comparar as opiniões de seus autores. Foi perceptível, já numa primeira inspeção às fontes consultadas, que o próprio objeto-suporte da informação sofreu importantes mudanças ao longo da história, desde as rudimentares placas de argila da antiguidade até os modernos ipads e smartphones dos dias atuais. Da mesma forma, houve uma importante mudança no perfil dos seus usuários, e por consequência, na forma como o profissional da biblioteconomia atua, tanto em relação aos suportes da informação, quanto na sua relação com estes usuários. A figura a seguir retrata bem essa evolução.
Figura 1: A evolução do livro
	
Fonte: Blog Aliança Francesa Belo Horizonte, 2018.
Disponível em: https://aliancafrancesabh.com.br/blog/2018/10/22/a-evolucao-do-livro/
Além de retratar a evolução geral do suporte físico da informação, a figura acima também nos leva à reflexão, ainda que de forma inconsciente, sobre o momento da ruptura entre o suporte físico e a informação propriamente dita. Esta ruptura é expressa na figura acima através da imagem do leitor segurando um ipad, o qual pode facilmente ser substituído hoje em dia por um smartphone ou outra tecnologia similar.
Antes do advento das mídias removíveis, o conhecimento estava fortemente atrelado ao seu suporte físico: para obter o conhecimento contido em um livro, pergaminho ou placa de argila, era necessário ter acesso à obra original, ou uma reprodução da mesma. Essa realidade se manteve mesmo após a invenção do computador, pois ainda não era possível transferir a mesma obra (ou uma cópia exatamente idêntica à original) de um suporte para outro (neste caso, de um computador para outro). Com o surgimento das mídias removíveis – disquetes, fitas cassete, CDs, DVDs, pendrives e outros, essa reprodução fidedigna e intercambiável tornou-se possível. Todavia, a mídia removível não poderia ser considerada como um suporte da informação, uma vez que necessitava de uma máquina para efetuar a reprodução do seu conteúdo, seja um computador, um aparelho de DVD ou até mesmo um aparelho de som automotivo, no caso de músicas, por exemplo.
A internet, por sua vez, permitiu que a informação fosse transplantada diretamente de um suporte eletrônico para outro, sem a necessidade de uma mídia removível intermediária. Na verdade, quase isso, uma vez que mesmo a mais moderna tecnologia de armazenamento em nuvem ainda necessita de servidores físicos para armazenar as gigantescas quantidades de informação que são transmitidas e intercambiadas a cada instante. Estes servidores, por sua vez, servem como um substituto eficiente às mídias removíveis.
Nesse contexto, é necessário que o profissional da biblioteconomia entenda e esteja sempre em sintonia com essas mudanças, para que possa atuar como mediador entre o usuário e a informação que ele busca, a despeito de onde ela se encontra. “A informação não é avaliada pelo suporte físico, mas sim pela sua utilidade, e ela agora pode ser reprocessada ao gosto do freguês.” (SILVA; ABREU 1999, p. 102 apud MORIGI; SOUTO 2005 p. 194). Este entendimento é reforçado por Rodrigues (2009), ao afirmar que:
Não mais importa a que suporte físico a informação encontra-se vinculada, o que importa agora é a rapidez e exatidão que o usuário conseguirá satisfazer suas necessidades informacionais. Quanto mais rápido a informação for disponibilizada, maior será o grau de satisfação do cliente e essa agilidade é atingida com a inserção da informática nos serviços bibliotecários. Hoje, o objetivo da biblioteca é disponibilizar a informação, não importa o suporte que ela esteja(RODRIGUES, 2009, p. 4).
Quanto à trajetória histórica e os limites do campo de atuação do profissional bibliotecário, Guimarães (1997) nos leva à seguinte reflexão:
O bibliotecário tem sua trajetória marcada por estereótipos, não tendo sua importância reconhecida pela sociedade, sendo conhecido apenas por organizar os livros na estante, não tendo sua função social destacada. Se antes a atividade do bibliotecário podia ficar restrita aos limites físicos de uma biblioteca e de uma coleção, agora o uso difundido da tecnologia a serviço da informação transpõe barreiras físicas e institucionais (GUIMARÃES, 1997, p. 126).
Partindo desse pressuposto, percebemos que o bibliotecário está muito além de um mero guardião da memória documental ou da preservação de acervo. O profissional Bibliotecário é aquele que precisa acompanhar, dominar, e ter uma postura de eterno aprendiz, renovando seus conhecimentos além daqueles referentes à biblioteconomia. Afinal, de acordo com as definições de Silva e Pinheiro (2008), a produção do conhecimento é uma atividade dinâmica e evolutiva, direcionada pela produção e pelo fluir de informação, até que esta se transforme em conhecimento. Assim, o bibliotecário torna-se uma peça fundamental no girar da grande roda do conhecimento, pois é ele quem impulsiona, incentiva e direciona a busca pela informação e a sua transformação em conhecimento.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os diversos autores pesquisados convergem em suas opiniões para uma visão em comum: o perfil do profissional de biblioteconomia vem mudando, na prática, diante da nova tecnologia na realidade atual, visto que esse novo paradigma possibilita ao bibliotecário processar as informações com mais agilidade e rapidez, substituindo trabalhos que eram feitos de forma manual por sistemas mais avançados e muito mais rápidos e precisos.
Diante desse novo padrão, o bibliotecário necessita estar atento para essas mudanças e desenvolver habilidades múltiplas em tempos curtos, exigindo assim, um perfil mais ativo e dinâmico. Ele precisa ser flexível às mudanças, apropriando-se das novas tecnologias para reinventar as práticas bibliotecárias, com maior preocupação para com o usuário e suas necessidades. A falta de atualização deste profissional frente ao novo paradigma tecnológico incorrerá, fatalmente, na sua obsolescência e na incapacidade de tornar-se um gestor eficiente de informação e de contribuir para a disseminação do conhecimento. O bibliotecário que não acompanha as mudanças tecnológicas do mundo contemporâneo estará fadado a passar seus dias como um mero guardião de livros empoeirados.
Muitos ainda são os desafios enfrentados pelo profissional da Biblioteconomia, não apenas com relação à sua adaptação e evolução frente aos novos cenários tecnológicos, mas também à forma como atualmente são vistos e representando perante a sociedade em geral. Assim como os suportes de informação sofreram importantes e decisivas atualizações ao longo da história, do mesmo modo, o estigma do velho bibliotecário, ultrapassado, mero guardião de livros, precisa ser superado, atualizado, substituído, para encaixar-se nestes novos paradigmas tecnológicos.
Finalmente, para que obtenha êxito em sua missão, o Bibliotecário também precisa estar ciente das suas limitações: ele não é, nunca foi, e nunca deverá ser visto como um detentor de conhecimentos e verdades absolutas, cujas orientações infalíveis devem ser seguidas à risca. Em vez disso, ele, deve ver a sim mesmo como um tutor, um mentor, e acima de tudo, um eterno incentivador do usuário na sua busca pelo conhecimento.
4. REFERÊNCIAS
AMARAL, João J. F. Como fazer uma pesquisa bibliográfica. 2007. Disponível em:<http://www1.eeg.uminho.pt/economia/caac/pagina%20pessoal/Disciplinas/disciplinas%202009/ecp/ECP%202009/TRABALHOS/bibliografia.pdf >. Acesso em: 15 mai. 2009.
CERVO, Amado Luiz; BERVIAN, Pedro A.; SILVA, Roberto. Metodologia Científica. 6. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007.
CURY, Maria Catarina; RIBEIRO, Maria Solange Pereira; OLIVEIRA, Nirlei Maria. Bibliotecário Universitário: representações sociais da profissão. Informação & Sociedade, João Pessoa, v. 11, n. 1, p. 86-98, 2001.
GUIMARÃES, J.A.C. Moderno Profissional da Informação: elementos para sua formação no Brasil. Transiformação, Campinas, v.9 n. 1, p. 124-137, 1997.
HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
MORIGI, Valdir José; SOUTO, Luzane Ruscher. Entre o Passado e o Presente: As Visões de Biblioteca no Mundo Contemporâneo. Rev. ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, v.10, n.2, p. 189-206, jan./dez., 2005.
RODRIGUES, Anielma Maria Marques. Automação: a inserção da biblioteca na tecnologia da informação. Biblionline, João Pessoa, v. 5, n. 1/2, 2009.
SILVA, Edna Lúcia da; PINHEIRO, Liliane Vieira. A Produção do Conhecimento em Ciência da Informação no Brasil: Uma Análise a Partir dos Artigos Científicos Publicados na Área. Intexto, Porto Alegre: UFRGS, v. 2, n. 19, p. 1-24, julho/dezembro 2008.
1 Acadêmicos do Curso de Graduação em Biblioteconomia
2 Professora tutora externa do Curso de Graduação em Biblioteconomia
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI - Curso FLC4191BIB – Prática do Módulo III - 27/05/2021

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