Buscar

A pequena cidade de elisio medrado e sua inserção na rede urbana

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 119 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 119 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 119 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

EDUARDO DE OLIVEIRA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A PEQUENA CIDADE DE ELÍSIO MEDRADO-BA 
E SUA INSERÇÃO NA REDE URBANA. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LONDRINA 
2010 
 
 
 
 
 
EDUARDO DE OLIVEIRA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A PEQUENA CIDADE DE ELÍSIO MEDRADO-BA 
 E SUA INSERÇÃO NA REDE URBANA. 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao 
Departamento de Geociências da Universidade 
Estadual de Londrina, para obtenção do título de 
bacharel em Geografia. 
 
Orientador: Prof. Dr. Claudio Roberto Bragueto 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LONDRINA 
2010 
 
 
 
 
 
EDUARDO DE OLIVEIRA 
 
 
 
 
 
A PEQUENA CIDADE DE ELÍSIO MEDRADO-BA 
 E SUA INSERÇÃO NA REDE URBANA. 
 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao 
Departamento de Geociências da Universidade 
Estadual de Londrina, para obtenção do título de 
bacharel em Geografia. 
 
 
COMISSÃO EXAMINADORA 
 
 
 
 
____________________________________ 
Prof. Dr. Claudio Roberto Bragueto 
Universidade Estadual de Londrina 
 
 
 
 
____________________________________ 
Profª. Me. Rosely Maria de Lima 
Universidade Estadual de Londrina 
 
 
 
 
____________________________________ 
Profª. Drª Márcia Siqueira de Carvalho 
Universidade Estadual de Londrina 
 
 
 
 
Londrina, _____de ___________de _____. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DEDICO ESTA CONQUISTA A MINHA 
FAMÍLIA, OS QUAIS AMO MAIS QUE TUDO: 
MINHA ESPOSA, MEUS PAIS E IRMÃOS. 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 A meu pai (Severino), minha mãe (Alice) exemplos de amor e dedicação; 
 
 À minha esposa, Adenildes, pelo carinho, paciência, apoio, amizade e amor; 
e que soube segurar as “pontas” enquanto eu realizava uma e outra tarefa, alheio aos 
“afazeres” familiares, estando sempre do meu lado em todos os momentos. Te amo!!!; 
 
 A meus irmãos, Carlos e Lusimara pelo carinho; 
 
 Aos meus sogros Aristides e Maria Alice por todo auxílio e apoio durante 
esta caminhada; 
 
 Aos meus cunhados, cunhadas e sobrinhos, especialmente ao meu 
sobrinho Cleison pela ajuda e prontidão no decorrer da pesquisa; 
 
 A Dilê e Rosangela Martins pela amizade e apoio, sempre que necessário e 
pelo estímulo para superar as dificuldades; 
 
 A minha amiga Meire Cristina da Silva pela amizade que conquistamos 
durante esta etapa de nossas vidas; 
 
 Ao Padre Gilberto Vaz Sampaio por ter deixado uma grande contribuição 
teórica da região (in memorian); 
 
 Ao meu orientador Prof. Dr. Claudio Roberto Bragueto pela sua 
disponibilidade e apoio ao longo do trabalho; 
 
 À professora Tania Maria Fresca, pois foi a partir de suas primeiras 
orientações que ampliei minha visão quanto ao universo da temática; 
 
 A todos os professores do curso de Geografia da UEL, que são parte ativa 
deste trabalho; 
 A todas as pessoas de Elísio Medrado que me permitiram entrevistá-las e 
que me deram valiosas informações para a elaboração deste trabalho; 
 
 Enfim, agradeço a todos que diretamente e indiretamente contribuíram para 
esta minha conquista. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
No meio da dificuldade 
encontra-se a oportunidade. 
Albert Einstein 
 
 
 
 
 
OLIVEIRA, Euardo de. A pequena cidade de Elísio Medrado-BA e sua inserção na rede 
urbana. 2010. 118 f.Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Geografia) – 
Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2010. 
 
 
RESUMO 
 
 
Analisa a dinâmica funcional da cidade de Elísio Medrado- BA e sua inserção na rede urbana 
regional. Além disso, identifica a gênese do município e as mudanças que ocorreram ao longo 
de sua história. Para a coleta das informações utiliza-se pesquisa de campo, entrevistas 
abrangendo a população tanto rural como urbana. Faz uma análise teórica mostrando o que é 
uma rede urbana e o conceito de pequena cidade dentro do conceito hierárquico. Dentro da 
análise histórica, constata que o município apresenta três pequenos núcleos urbanos que se 
formaram em períodos e contextos econômicos diferentes. Inicialmente o município era 
habitado por nativos da região, com a penetração dos bandeirantes no Recôncavo Sul surgiu 
um primeiro povoado que chegou a ser sede de município, atualmente é apenas distrito do 
município denominado Monte Cruzeiro. No ponto sul do município surgiu outro povoado na 
segunda metade do século XIX em decorrência da estrada de ferro que cortava a região, 
atualmente é um pequeno povoado conhecido como Souza Peixoto. Já, no início do século 
XX surge o povoado que é hoje a sede do município. Atualmente o município encontra-se na 
área periférica da rede urbana regional, apresentando um baixo desenvolvimento, cuja 
população não tem acesso a trabalho, poucos são empregados públicos, muitos vivem da 
aposentadoria e da agricultura de baixa capitalização. Em decorrência desses fatores os jovens 
do município migram para outras cidades em busca de melhores condições de vida. Assim, 
esse trabalho faz uma análise geral dos aspectos históricos, econômicos e geográfico do 
município, desde as primeiras ocupações até a atualidade, buscando entender as problemáticas 
econômica e social em que passa o município e finalmente são sugeridas algumas alternativas 
de melhoria social e econômica para a população local. 
 
Palavras-chave: Rede urbana, cidade pequena, Elísio Medrado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ILUSTRAÇÕES 
 
 
Figura 1 – Mapa com a localização do município de Elísio Medrado .................................. 14 
Figura 1a – Mapa com a localização dos povoados do município de Elísio Medrado ......... 35 
Figura 2 – Fazenda Estiva ..................................................................................................... 38 
Figura 3 – Casas antigas e novas – lado a lado ..................................................................... 40 
Figura 4 – Casas antigas e novas – lado a lado .................................................................... 40 
Figura 5 – Casas antigas e novas – lado a lado .................................................................... 40 
Figura 6 – Casas antigas e novas – lado a lado .................................................................... 40 
Figura 7 – Plantação de uva ................................................................................................. 41 
Figura 8 – Produção artesanal de vinho ............................................................................... 41 
Figura 9 – Produção artesanal de vinho .............................................................................. 41 
Figura 10 – Vista da Igreja de Monte Cruzeiro (Nossa Senhora de Sant’Ana) .................... 42 
Figura 11 – Aspecto interno da Igreja de Monte Cruzeiro (Nossa Senhora 
de Sant’Ana) ........................................................................................................................... 43 
Figura 12 – Aspecto interno da Igreja de Monte Cruzeiro (Nossa Senhora 
de Sant’Ana) .......................................................................................................................... 43 
Figura 13 – Aspecto interno da Igreja de Monte Cruzeiro (Nossa Senhora 
de Sant’Ana) .......................................................................................................................... 43 
Figura 14 – Aspecto interno da Igreja de Monte Cruzeiro (Nossa Senhora 
de Sant’Ana) ........................................................................................................................... 43 
Figura 15 – Povoado de Souza Peixoto................................................................................. 44 
Figura 16 – Igreja do Povoado de Souza Peixoto (São Francisco do Cajueiro) ................... 45 
Figura 17 – Aspecto das construções: antiga e mais recente ................................................45 
Figura 18 – Aspecto das construções: antiga e mais recente ................................................ 45 
Figura 19 – Aspecto das construções: antiga e mais recente ................................................ 45 
Figura 20 – Aspecto das construções: antiga e mais recente ................................................ 45 
Figura 21 – Construção antiga passando por transformação na atualidade .......................... 46 
Figura 22 – Construção antiga passando por transformação na atualidade ......................... 46 
Figura 23 – Plantação de mandioca ...................................................................................... 46 
Figura 24 – Residência e casa comercial do Sr. Vitorino Peixoto ....................................... 48 
 
 
 
 
Figura 25 – Residência e casa comercial do Sr. Vitorino Peixoto ....................................... 48 
Figura 26 – Casa Santana em destaque – residência e casa comercial do 
Sr. Vitorino Peixoto ............................................................................................................... 48 
Figura 27 – Residência no Lagedo Batista ........................................................................... 49 
Figura 28 – Cesta do Povo – proximidade do local de início da feira do município de 
 Elísio Medrado, no ano de 1928 ........................................................................................... 50 
Figura 28a – Quadro evolutivo mostrando a qual município pertenceu o território do 
atual município de Elísio Medrado......................................................................................... 52 
Figura 29 – Construção antiga feita de adobe ...................................................................... 53 
Figura 30 – Construção antiga feita de adobe ...................................................................... 53 
Figura 31 – Construções antigas que servem como moradia e comércio ............................. 54 
Figura 32 – Construções antigas que servem como moradia e comércio ............................ 54 
Figura 33 – Carros estacionados na calçada e na rua, devido à ausência de garagem, e 
uma das casas com um melhor padrão arquitetônico contendo garagem .............................. 54 
Figura 34 – Carros estacionados na calçada e na rua, devido à ausência de garagem, e 
uma das casas com um melhor padrão arquitetônico contendo garagem ............................. 54 
Figura 35 – Serviço de moto táxi oferecido a população do município de Elísio Medrado . 55 
Figura 36 – Casas populares ................................................................................................. 57 
Figura 37 – Casas populares ................................................................................................. 58 
Figura 38 – Calçamento com paralelepipedo ....................................................................... 59 
Figura 39 – Comércio da área central do município de Elísio Medrado ............................. 59 
Figura 40 – Comércio da área central do município de Elísio Medrado ............................. 60 
Figura 41 – Comércio da área central do município de Elísio Medrado ............................ 60 
Figura 42 – Comércio da área central do município de Elísio Medrado ............................ 61 
Figura 43 – Comércio da área central do município de Elísio Medrado ............................. 61 
Figura 44 – Comércio da área central do município de Elísio Medrado ............................ 62 
Figura 45 – Comércio da área central do município de Elísio Medrado ............................ 62 
Figura 46 – Comércio da área central do município de Elísio Medrado ............................ 63 
Figura 47 – Mapa da Região Econômica do Recôncavo Sul da Bahia ................................ 67 
Figura 48 – Estrutura viária da Região de Amargosa Bahia - 1960 ..................................... 71 
Figura 49 – Fazenda Estiva do Sr. Kamal Elílio Chaoul ...................................................... 72 
Figura 50 – Árvores de Flamboyants e ao fundo a Serra da Jibóia (Fazenda Estiva) .......... 73 
Figura 51 – Fazenda do povoado Limoeiro do ano de 1912 ................................................ 74 
Figura 52 – Decoração artística na parede interna da fazenda do povoado Limoeiro do ano 
 
 
 
 
de 1912, e piso de lajota feito de barro cozido ...................................................................... 74 
Figura 53 – Decoração artística na parede interna da fazenda do povoado Limoeiro do ano 
de 1912, e piso de lajota feito de barro cozido ..................................................................... 74 
Figura 54 – Fazenda Rio Vermelho ..................................................................................... 75 
Figura 55 – Equipamento para moagem da cana pertencente à Fazenda Rio Vermelho ...... 76 
Figura 56 – Regiôes Econômicas do estado da Bahia e seu desenvolvimento .................... 80 
Figura 57 – Preparo do terreno de forma manual para plantio de mandioca ....................... 89 
Figura 58 – Feira de roupas .................................................................................................. 93 
Figura 59 – Cesta do Povo (portas e janelas na cor azul) – local próximo de onde se iniciou 
a feira do município de Elísio Medrado no ano de 1928.......................................................94 
Figura 60 – Centro de Abastecimento Governador César Borges onde acontece a feira 
do munícípio de Elísio Medrado ...........................................................................................94 
Figura 61 – Feirante do município de Elísio Medrado, transportando suas mercadorias 
no lombo de um jegue............................................................................................................95 
Figura 62 – Barraca de um dos feirantes expondo seus produtos aos consumidores da 
Feira.......................................................................................................................................95 
Figura 63 – Barraca de um dos feirantes expondo seus produtos aos consumidores da 
feira .......................................................................................................................................96 
Figura 64 – Barraca de um dos feirantes expondo seus produtos aos consumidores da 
feira .......................................................................................................................................96 
Figura 65 – Vista de algumas barracas dos diversos feirantes da feira expondo seus 
produtos aos consumidores....................................................................................................97 
Figura 66 – Transporte oferecido aos moradores da zona rural, trazendo a população 
do campo para consumir produtos da feira............................................................................98 
Figura 67 – Sorteio de brindes, realizado no dia 31 de dezembro de 2009........................100 
Figura 68 – Mercado Municipal.........................................................................................100 
Figura 69 – Produtor expondo seus produtos na rua..........................................................101 
Figura 70 – Potencialidades econômicas de alguns municípios do Recôncavo Sul...........104 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE TABELAS 
 
 
Tabela 1 – Frota de veículos em 2009................................................................................... 55 
Tabela 2 – Movimentação financeira da empresa Estrada de Ferro de Nazaré/1931-1969 
(em réis, entre 1931-1945; 1946-1969, em cruzeiros............................................................. 70 
Tabela 3 – Rendimento médio mensal da população economicamente ativa: 1980 e 2000.. 82 
Tabela 4 – Estrutura fundiária do município de Elísio Medrado - 2006 ...............................83 
Tabela 5 – População Urbana e Rural nos períodos de 1970 a 2000 .................................... 83 
Tabela 6 – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) - 2009 ........................ 85 
 
 
LISTA DE QUADROS 
 
 
Quadro 1 – Linhas de ônibus intermunicipal ....................................................................... 64 
Quadro 2 – Dados geográficos do município de Elísio Medrado ........................................ 81 
 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
 
CEL. - Coronel 
D. - Dona 
EMTRAM – Empresa de Transportes Macaubense Ltda. 
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
IDEB – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica 
PE. - Padre 
SIDRA – Sistema IBGE de Recuperação Automática 
SPC – Sistema de Proteção ao Crédito 
SR. - Senhor 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 14 
 
2 A REDE URBANA E PEQUENAS CIDADES................................................................ 18 
2.1 REDE URBANA NA VISÃO DE ROBERTO LOBATO CORRÊA................................ 18 
2.1.1 A Hierarquia Urbana ...................................................................................................... 20 
2.2 PEQUENAS CIDADES: POR QUE ESTUDÁ-LAS? ..................................................... 24 
2.2.1 Breve Considerações Sobre a Urbanização Brasileira e Pequenas Cidades................... 26 
2.2.2 Pequenas Cidades: Seu Papel na Rede Urbana .............................................................. 28 
 
3 A HISTÓRIA DE ELÍSIO MEDRADO ........................................................................... 34 
3.1 SURGIMENTO DO POVOADO DE MONTE CRUZEIRO ........................................... 35 
3.2 SURGIMENTO DO POVOADO DE SOUZA PEIXOTO............................................... 43 
3.3 SURGIMENTO DO POVOADO PARAÍSO ................................................................... 47 
3.4 MARCAS DO PASSADO E ALGUMAS CARACTERÍSTICAS ATUAIS 
DO MUNICÍPIO ..................................................................................................................... 53 
3.4.1 Presença de Escravidão no Município............................................................................ 65 
3.4.2. O Cultivo do Café.......................................................................................................... 66 
 
4 FORMAÇÃO DA REDE URBANA E O MUNICÍPIO DE ELÍSIO MEDRADO. ..... 67 
4.1 INÍCIO DA FORMAÇÃO DA REDE URBANA E/OU O MUNICÍPIO DE 
ELÍSIO MEDRADO ............................................................................................................... 68 
4.2 A REDE URBANA E A DINÂMICA FUNCIONAL DE ELÍSIO MEDRADO 
NA ATUALIDADE ................................................................................................................ 79 
4.2.1 Alguns Dados Econômicos e Sociais de Elísio Medrado............................................... 80 
4.2.2 A Problemática dos Comerciantes Locais ...................................................................... 90 
4.2.3 A Feira Semanal ............................................................................................................. 93 
4.3 UM OLHAR GEOGRÁFICO SOBRE O MUNICÍPIO DE 
ELÍSIO MEDRADO: ALGUMAS SUGESTÕES.................................................................101 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................................108 
 
 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS....................................................................................................................110 
 
APÊNDICES.........................................................................................................................113 
APÊNDICE A – Entrevista aplicada com os comerciantes do município de 
 Elísio Medrado.......................................................................................................................114 
APÊNDICE B – Entrevista aplicada com os feirantes do município de 
Elísio Medrado........................................................................................................................115 
APÊNDICE C – Entrevista aplicada com os moradores da área urbana e rural do 
município de Elísio Medrado..................................................................................................116 
APÊNDICE D – Relação das pessoas entrevistadas...............................................................117 
 
 
 
14
 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
 
 Nas últimas décadas o mundo tem passado por muitas mudanças no âmbito 
social e econômico. A acirrada competição produtiva, comercial e financeira em escala global 
cria dificuldades para algumas regiões se adequarem às novas transformações. 
 A Geografia enquanto ciência que estuda a organização e as interações no 
espaço geográfico, passa a desempenhar um relevante papel neste cenário atual, sobretudo, na 
busca da compreensão das relações existentes entre o desenvolvimento regional e o local. 
 Neste contexto o Recôncavo Sul da Bahia, que no início da colonização 
brasileira era uma importante região exportadora de açúcar e posteriormente de café, é objeto 
de estudo deste trabalho dando ênfase para o município de Elísio Medrado (figura 1). 
 
 
 
Figura 1: Mapa com a localização do Município de Elísio Medrado. 
Fonte: MENEZES (2008, p. 16). 
Adaptação: Eduardo de Oliveira, 2010. 
 
 
 
15
 
 
 
 Tem como objetivo analisar a dinâmica funcional do município de Elísio 
Medrado e sua inserção na rede urbana regional. E como objetivos específicos a pesquisa 
buscou: 
 Identificar a gênese do município; 
 Verificar as mudanças que ocorreram e que estão ocorrendo ao longo dos anos neste 
município em função das demandas diárias de trabalho, sociais e econômicas; 
 Compreender sua importância na rede urbana regional, analisando a influência deste 
em outros municípios da região. 
 Em outras palavras, procura-se compreender os fatores que estão levando o 
município a um declínio de suas atividades econômicas já que a população local não tem 
acesso a emprego, poucos são os empregos gerados pela Prefeitura, e muitos vivem de 
aposentadoria e da agricultura de baixa capitalização. 
Com esta pesquisa foi possível descobrir as causas do fraco desenvolvimento 
municipal. Um fato que chama a atenção é a ausência de agentes produtores do espaço, visto 
que a cidade não tem promotor imobiliário, o grande capitalista, latifundiário, agente 
industrial, existindo apenas intervenção do Estado que pouco interfere na produção espacial 
urbana. 
A produção espacial por parte do Estado, se dá apenas com a construção de 
algumas casas populares que começaram a surgir a partir da última década. A negociação de 
imóveis ocorre de boca a boca, onde o comprador e o vendedor negociam diretamente. 
Em decorrência do pouco desenvolvimento do município muitos jovens se 
deslocam principalmente para Salvador para trabalhar no comércio de alguém conhecido e 
posteriormente deixa de ser comerciário e passa a ser comerciante; montando o seu pequeno 
comércio, geralmente ligados a alimentação (minimercado, padaria, lanchonete, açougue, 
entre outros). Percebe-se que a saída desses jovens faz com que a população local reduza, 
ficando apenas os mais velhos. 
Outro fato relevante, que ocorre no município, é que os moradores se 
deslocam até as cidades como Amargosa e Santo Antônio de Jesus para fazer feiras e comprar 
produtos como eletrodomésticos, serviços entre outros, mesmo que muitos destes produtos 
sejam vendidos no comércio local, porém este não oferece as variedades encontradas nestes 
dois municípios. 
Estes fatores citados, anteriormente, deixam o município ainda mais 
empobrecido, pois sai a mão-de-obra jovem e o dinheiro que poderia circular na cidade vaipara os demais municípios. 
 
16
 
 
 
Este estudo pode servir de base para o desenvolvimento de um planejamento 
urbano, ajudando na tomada de rumos para seu desenvolvimento, visto que a administração 
atual se mostra interessada em conhecer o resultado do trabalho. 
Outro fator de interesse pela pesquisa é de cunho pessoal, pois minha esposa 
nasceu neste município onde também nos casamos e onde vive muitos familiares, que 
despertaram em mim a curiosidade de fazer tal pesquisa, por perceber que o município não 
tem um trabalho semelhante. 
Com base em uma metodologia que parte da teoria para a prática, foi 
analisada a área de estudo com leitura mais aprofundada sobre o tema, para facilitar a 
compreensão dos fatos observados em atividade de campo. 
 Toda análise realizada foi feita através de pesquisa de campo (entrevistas, 
observação em torno do município e da região) e coleta de dados na Prefeitura do Município 
de Elísio Medrado, IBGE., biblioteca, entre outros. 
 Todas as informações obtidas foram analisadas. No decorrer de todo este 
trabalho, além do reconhecimento da área e levantamento cartográfico, foi discutida a parte 
teórica que serviu de base para a redação do presente trabalho. 
 Inicialmente foi feito um levantamento bibliográfico sobre o município e a 
área em estudo, além das teorias da Geografia Urbana com ênfase em Rede Urbana e 
pequenas cidades. Após o levantamento bibliográfico procedeu-se a elaboração de 
fechamentos e resumos. 
 Como já se tinha conhecimento prévio da localidade, não houve necessidade 
de um reconhecimento de campo para elaboração de uma entrevista. 
 Após a tabulação dos dados coletados pelas entrevistas, que foram feitas 
tanto com os comerciantes, quanto a população local, os mesmos foram analisados com base 
nas teorias estudadas. Finalmente foi montado o trabalho final, tendo como base os dados 
obtidos e o referencial teórico. 
Assim, este trabalho se subdivide em: 
Capítulo 2 é discutido o tema a rede urbana e pequenas cidades, pois para se 
entender a dinâmica funcional de um município faz-se necessário entender a rede urbana e sua 
hierarquia neste contexto. Também fez-se uma discussão sobre as pequenas cidades, 
mostrando sua importância dentro do espaço geográfico, visto que aparentemente são cidades 
com pouca dinâmica econômica, mas tem sua importância dentro da rede urbana, tanto como 
fornecedora de mão-de-obra, matéria-prima, ou alimentos, bem como consumidora final de 
produtos industrializados. 
 
17
 
 
 
Já no capítulo 3, é feita uma reconstrução histórica do município desde a sua 
gênese de formação até a situação atual, destacando aspectos geográficos e históricos. Como o 
município não conta com muito material bibliográfico para pesquisa, foi preciso buscar 
informações junto à comunidade local através de entrevistas, além de observações dos 
aspectos arquitetônicos e históricos. Mas uma obra não publicada escrita pelo padre Gilberto 
Vaz Sampaio ajudou muito nesta pesquisa, que junto à comunidade pode-se constatar a 
veracidade dos fatos relatados em seu trabalho, que certamente não foi publicado devido ao 
seu falecimento, na fase de correção gramatical. 
O capítulo 4 aborda a formação da Rede Urbana e/ou o município de Elísío 
Medrado desde o seu início até a fase atual, buscando caracterizar o município dentro do 
espaço regional econômico do Recôncavo Sul da Bahia. Com base no resultado dessa 
pesquisa, sugere-se algumas atividades que podem ser desenvolvidas no município para 
melhorar a qualidade de vida da população local. Embora sejam sugestões simples e que não 
demandam de muito recurso financeiro, eles necessitam de um grande empenho da população 
junto ao poder público local para que tais atividades se tornem viáveis a médio e longo prazo. 
Assim, esta monografia será mais um dos poucos trabalhos bibliográficos 
sobre o município que poderá servir de base para novos estudos. 
 
18
 
 
 
2 A REDE URBANA E PEQUENAS CIDADES 
 
 
2.1 REDE URBANA NA VISÃO DE ROBERTO LOBATO CORRÊA 
 
 
 Para se entender a dinâmica funcional do município de Elísio Medrado, se 
faz necessário entender a rede urbana. 
 Mas o que seria uma rede urbana? Entre vários autores e as definições que 
estes dão ao tema, o que Corrêa descreve parece mais claro para se entender como Elísio 
Medrado está inserido nesta rede. 
 Para Corrêa (1994, p. 293) 
 
 [...] a rede urbana, é um produto social, historicamente contextualizado, 
cujo papel crucial é o de, através de interações sociais espacializadas, 
articular toda a sociedade numa dada porção do espaço, garantindo a 
sua existência e reprodução. 
 
 Em forma resumida, rede urbana é uma rede de relações que permite a 
sociedade manter suas relações sociais e econômicas, através da rede de transporte, 
comunicação, entre outras. 
 Para Corrêa (1989a, p. 5), a gênese da rede urbana começa no século XVI 
com início do capitalismo. Mas foi a partir de mudanças sociais, ocorridas principalmente na 
segunda metade do século XX, que os estudos sobre rede urbana têm se intensificado no 
âmbito da Geografia. É através da crescente rede de comunicação e transporte que vários 
lugares passaram a estar interligados, estabelecendo uma economia global. 
 Entre os anos de 1920 a 1950 os estudos sobre rede urbana começavam a se 
propagar. “É deste período que aparecem, entre outras, as proposições de Christaller e de 
Maark Gefferson” (CORRÊA, 1989a, p. 9). 
 Mas no Brasil, só a partir de 1955 que se iniciam os estudos sobre rede 
urbana, pois após a Segunda Guerra Mundial ocorreu o processo de aceleração urbana. Os 
geógrafos e outros cientistas sociais têm abordado o tema a partir de diferentes vias: “[...] à 
diferenciação das cidades em termo de suas funções, dimensões básicas de variação, relações 
entre tamanho demográfico e desenvolvimento, hierarquia urbana, e relações entre cidade e 
região” (CORRÊA, 1989a, p. 10). 
 
19
 
 
 
 Dentro da classificação funcional, Corrêa (1989a, p. 10) coloca que “esta 
abordagem tem como pressuposto a existência de diferenças entre as cidades no que se refere 
às funções”. Conhecendo a função principal da cidade se torna mais fácil compreender a 
organização espacial. Mas para definir a função básica da cidade é preciso que o geógrafo 
tenha bastante cuidado com relação as técnicas estatísticas, pois elas podem não revelar a 
realidade das cidades. Como exemplo “os dados do Censo Demográfico são incapazes de 
revelar algumas funções importantes das cidades brasileiras, como aquelas ligadas à 
drenagem da renda fundiária” (CORRÊA, 1989a, p. 12). Características como: o ritmo de 
crescimento da população, a estrutura etária, a escolaridade, a proporção de homens e 
mulheres na idade ativa, as taxas de desemprego e a renda per capita podem variar 
dependendo das funções que desempenham (CAPEL apud CORRÊA, 1989a, p. 13). 
 Foi com o estudo de Moser e Scott, em 1961, que se iniciou a procura 
sistemática das dimensões básicas de variação dos sistemas urbanos (CORRÊA, 1989a, p. 
13). Vários estudos relativos a diversos países foram realizados com o objetivo de descobrir 
através da prática as dimensões básicas de variações como também sua estabilidade ao longo 
do tempo e a existência de dimensões universais de variações. Nesses estudos foram 
descobertas várias dimensões básicas de variáveis, entre elas estão às referentes ao tamanho, 
especialização funcional, características sociais e crescimento demográfico (CORRÊA, 
1989a, p. 14). 
 No Brasil, entre os anos de 1970 a 1977, devido a muitos geógrafos usaram 
as técnicas quantitativas e modelos de desenvolvimento regional, além do envolvimento do 
sistema de planejamento, isso fez com que as abordagens sobre rede urbana tenham sido 
marcadas, nessa época, pelo uso da dimensão básica de variações. 
 Esses estudos revelaram alguns tipos de centro que “[...] em sua 
espacialização,definem regiões que foram interpretadas segundo as proposições de 
Friedmann: regiões centrais, principal e secundária, e regiões periféricas” (CORRÊA, 1989a, 
p. 14). 
 Corrêa (1989a, p. 14-15), coloca que “[...] o estudo de Fredrich e Davidovich, 
mais recente, está baseado em três dimensões de variação do sistema urbano: estrutura 
sócioeconômica, ritmos de crescimento e formas de concentração espacial urbana”1. 
 Na abordagem de tamanho e desenvolvimento, Corrêa (1989a, p. 15) coloca 
que, a rede urbana é considerada um todo, estabelecendo uma relação entre o tamanho das 
 
1 FREDERICH, Olga M. B. L. & DAVIDOVICH, Fany. A configuração espacial do sistema urbano brasileiro 
como expressão no território da divisão social do trabalho. Revista Brasileira de Geografia, 44 (4), 1982. 
 
20
 
 
 
cidades de uma rede urbana e certos aspectos da vida econômica e social. Ao se relacionar 
tamanho e desenvolvimento é preciso considerar o dinamismo econômico e social, levando 
em conta todo conjunto de cidades. 
 O discurso dos modernistas, com relação ao tamanho e desenvolvimento das 
cidades, é que há um processo de difusão estabelecendo um equilibro entre a rede hierárquica, 
ou seja, as mudanças econômicas são disseminadas do seguinte modo: “(a) das metrópoles da 
core área para as metrópoles da periferia; (b) dos centros de mais alta hierarquia para os de 
mais baixa, num padrão de ‘difusão hierárquica’; (c) dos centros urbanos para as suas áreas de 
influência” (CORRÊA, 1989a, p. 18-19). 
 Os estudiosos tradicionalistas contrapõem as ideias modernistas 
argumentando que as condições históricas das cidades são diferentes sendo “[...] necessário 
que haja uma política explicita e dirigida para se conter o crescimento exagerado da grande 
cidade, a ‘inchação’ das grandes metrópoles primazes” (CORRÊA, 1989a, p. 19). 
 Com o aparecimento das idéias de descentralização, criando os pólos de 
desenvolvimento e a “[...] ação do Estado visando um desenvolvimento que seria equilibrado 
tanto no plano social como espacial [...]” (CORRÊA, 1989a, p. 19), passou-se a incluir a rede 
urbana. 
 Com o desenvolvimento capitalista as diferenças entre as cidades aumentam, 
com isso os estudiosos incluem a temática hierarquia urbana. Segundo Corrêa (1989a, p. 20), 
foi “[...] a partir da expropriação dos meios de produção e de vida de enorme parcela da 
população, e a industrialização levam à expansão da oferta de produtos industriais e de 
serviços”. Com esta oferta de produtos e serviços surgiu um espaço de modo desigual criado 
pelo sistema capitalista, criando assim a hierarquia urbana. 
 
2.1.1 A Hierarquia Urbana 
 
 
 A hierarquia urbana é um dos assuntos mais estudados pelos pesquisadores 
que se dedicam a estudar a rede urbana. Esses estudos se originam dos questionamentos a 
respeito do número, tamanho e distribuição das cidades, procurando entender a natureza da 
rede, a teoria das localidades centrais. “Os numerosos estudos, teóricos e empíricos, 
procuram, em realidade, compreender a natureza da rede urbana segundo um ângulo 
específico que é o da hierarquia de seus centros” (CORRÊA, 1989a, p. 20). 
 
21
 
 
 
 Os estudos de Christaller discutidos por Corrêa (1989a, p. 21-32) apontam 
que há aglomerações urbanas de todos os tamanhos e que “[...] existem princípios gerais que 
regulam o número, tamanho e distribuição dos núcleos de povoamento: grandes, médias e 
pequenas cidades, e ainda minúsculos núcleos semi-rurais, todos são considerados como 
localidades centrais” (CORRÊA, 1989a, p. 21). Ou seja, todas as localidades são dotadas de 
funções centrais, com atividades de bens e serviços destinados para uma população externa, 
formando, assim, a organização de um sistema hierárquico de cidades. Com isso “a 
centralidade de um núcleo, por outro lado, refere-se ao seu grau de importância a partir de 
suas funções centrais: maior o número delas, maior a sua região de influência, maior a 
população externa atendida pela localidade central, e maior a sua centralidade” (CORRÊA, 
1989a, p. 21). 
 Com esses modelos de Christaller foi possível o desenvolvimento teórico a 
respeito das configurações espaciais da rede urbana em geral e não apenas da rede de lugares 
centrais. Esses estudos se originaram através dos questionamentos “[...] a respeito do número, 
tamanho e distribuição das cidades, procurando compreender a natureza da rede, a teoria das 
localidades centrais” (RODRIGUES; SILVA, 2007, p. 59). 
 Ou seja, cidade como Elísio Medrado sofre influência de centros maiores 
como Amargosa, Santo Antônio de Jesus, entre outros. Sendo que sua população se desloca 
em busca de bens e serviços que o município de Elísio Medrado não oferece, ou até mesmo 
para abastecer o mercado local que, por sua vez, dentro de uma hierarquia urbana exercem 
influência nos povoados rurais. 
 Esse sistema hierárquico da rede forma “uma região homogênea e 
desenvolvida economicamente, havendo, portanto, uma hierarquia caracterizada de níveis 
estratificados de localidades centrais, nos quais os centros de mesmo nível hierárquico [...]” 
(RODRIGUES; SILVA, 2007, p. 60) atuam de maneira semelhante no que diz respeito à 
oferta de bens e serviços, tamanho da área de atuação e o número populacional. 
 Fresca (2009, p. 44) coloca que 
 
 a rede urbana apresenta uma diversidade de centros urbanos que vão desde 
aqueles com nível de centralidade muito fraco e cuja área de influência é 
bastante reduzida com alguns municípios em seu entorno, até aqueles com 
nível forte, muito forte ou máximo, dependendo da escala de análise e da 
complexidade da rede urbana em estudo. 
 
 
22
 
 
 
 Nessa perspectiva o município em estudo (Elísio Medrado) pode ser 
considerado como área de influência bastante reduzida, visto que o processo de produção, 
circulação e consumo é baixo se comparado a outras cidades da região. 
 É importante ressaltar que num processo de globalização e consequentemente 
da modernização da produção, centros com influências reduzidas “estão à espera de terem 
suas potencialidades valorizadas pela incidência de outros processos, que gerarão outras 
singularidades” (FRESCA, 2009, p. 45). 
 Na discussão feita por Corrêa (1989a, p. 21) sobre a teoria de Christaller, ele 
coloca que a rede urbana tem um alcance espacial máximo, este é referente à área 
determinada por um raio a partir da localidade central que faz com que os consumidores se 
desloquem para essa localidade central com o objetivo de obter bens e serviços, já no alcance 
espacial mínimo são englobados “[...] o número mínimo de consumidores que são suficientes 
para que uma atividade comercial ou de serviços, uma função central, possa economicamente 
se instalar” (CORRÊA, 1989a, p. 21). 
 No alcance espacial mínimo são ofertados produtos e serviços que são 
consumidos quase que diariamente pela população local, nesse caso entram os produtos de 
primeira necessidade como os produtos alimentícios, higiênicos, entre outros. É o que se 
percebe no comércio de Elísio Medrado, visto que são vendidos em sua maioria produtos de 
primeira necessidade, pois para o consumidor dificultaria sua saída quase que diariamente 
para outros centros urbanos. Já produtos como eletrodomésticos são oferecidos em pequena 
quantidade, sem opção de escolha e geralmente com preços elevados, isso faz com que a 
população se desloque para centros como Santo Antônio de Jesus que oferece mais opções de 
escolha e preços mais baixos. 
 No conceito de Christaller, discutido por Corrêa (1989a, p. 21-32), pode ser 
considerado que quanto maior for o nível hierárquico que uma cidade alcança, maior são as 
opções de bens e serviços oferecidos aos consumidores, sejam de mínimo ou máximo alcance. 
Já para Santos (1989, p. 152), nos países subdesenvolvidos as redes têm pouco 
desenvolvimento, onde “observa-se que asredes lineares ou em espinha de peixe ocorrem 
com freqüência, enquanto que as transversais são bastante raras [...]” (SANTOS, 1989, p. 
152). 
 Contudo, com as melhorias nos meios de transporte e telecomunicações o 
tempo e a distância entre os centros têm diminuído consideravelmente, revelando assim, 
mudanças significativas na rede urbana. Embora com toda essa evolução tecnológica 
permitindo diversas relações virtuais, por outro lado ainda existem necessidades básicas como 
 
23
 
 
 
serviço de saúde, educação, serviços especializados para o campo em muitas localidades 
brasileiras; demonstrando com isso que há uma hierarquia presente, sendo que os pequenos 
núcleos são dominados por uma cidade mais equipada. 
 Vale lembrar que as atividades de comércio e de serviços são processos 
sociais que contribuem para a produção do espaço urbano definido por Corrêa (1989b, p. 9) 
como “[...] fragmentado e articulado, reflexo e condicionante social, um conjunto de símbolos 
e campo de lutas. É assim a própria sociedade em uma de suas dimensões, aquela mais 
aparente, materializada nas formas espaciais.” Assim sendo, o espaço urbano é formado de 
símbolos que variam de acordo com a cultura da sociedade, período da história, faixa etária da 
população, atividades econômicas desenvolvidas entre outras. 
 Não existe um conceito de cidade que abranja “[...] as diferentes origens, 
formas, funções e estruturas resultantes do trabalho da sociedade acumulado ao longo do 
tempo nos distintos espaços urbanos da superfície terrestre” (RODRIGUES; SILVA, 2007, p. 
50). Pois toda cidade tem seu dinamismo próprio e sofre mutações ao longo do processo 
histórico, bem como a própria sociedade que elas abrigam e que a produzem. 
 Por isso, analisar o espaço urbano a partir da instalação das redes “pressupõe 
a necessidade de organização e ordenamento de determinado espaço visando atender a fins e 
interesses específicos, sejam eles engendrados por agentes econômicos, políticos ou sociais” 
(RODRIGUES; SILVA, 2007, p. 50). 
 As inovações fizeram com que as sociedades estejam cada vez mais 
interligadas formando as redes. “Com a ferrovia, a rodovia, a telegrafia, a telefonia e 
finalmente a teleinformática, a redução do lapso do tempo permitiu instalar uma ponte entre 
lugares distantes: doravante eles serão virtualmente aproximados” (DIAS, 1995, p. 141). 
Todas essas inovações facilitaram a circulação de mercadorias, pessoas e informações e 
consequentemente interligando os lugares de forma hierárquica. 
 Assim, a organização do espaço em redes tem como função principal facilitar 
a comunicação e a circulação de bens e pessoas entre um lugar e outro do espaço, isso é 
possível observar em todas as escalas de análise, desde o local ao global. 
 É através dessas funções, interligadas entre as cidades, como comércio, 
bancos, indústrias, serviços, transportes, armazenagem, educação, saúde, que a rede urbana é 
uma condição para a divisão territorial do trabalho. “É via rede urbana que o mundo pode 
tornar-se simultânea e desigualmente dividido e integrado” (CORRÊA, 1989a, p. 49-50). 
 Nesse contexto global observa-se que é através das metrópoles que são 
tomadas as decisões, são feitos os maiores investimentos e inovações, criando desta forma 
 
24
 
 
 
constantes desigualdades. Portanto “[...] a rede urbana dos países subdesenvolvidos constitui-
se, em parte, na extensão de uma ampla rede urbana com sede nos denominados países 
centrais, em metrópoles mundiais como New York, Londres, Tóquio e Paris” (CORRÊA, 
1989a, p. 50). Sendo assim o Brasil dentro de uma escala global se situa na base periférica da 
hierarquia. 
 Mas vale lembrar que diante das múltiplas realidades brasileiras, onde a 
materialização do meio técnico científico se faz apresentar com maior ou menor intensidade, é 
necessário enfatizar que a análise geográfica varia de lugar para lugar, de acordo com sua 
realidade sócio-econômica e política, sendo que existem cidades estagnadas e outras com 
dinamismo muito grande dependendo de vários fatores sócio-econômicos. 
 Outro aspecto a ser considerado, refere-se à distribuição de bens, serviços e 
infra-estruturas que ainda são precárias ao se afastar dos centros maiores, distanciando em 
quantidade e qualidade as funções desempenhadas. Com isso esses núcleos distantes dos 
centros maiores ficam estagnados tendo remotas chances de desenvolvimento. Mas vale 
lembrar que esses pequenos núcleos desempenham um papel importante dentro da rede 
urbana, sejam como consumidores dos produtos oriundos dos centros maiores, seja como 
fornecedores de matéria prima e até mesmo mão-de-obra barata. 
 No ítem a seguir, será feita uma discussão sobre pequenas cidades mostrando 
os vários conceitos existentes, sua importância dentro da rede urbana bem como os problemas 
existentes. Visto que esse trabalho tem como lugar de estudo o município de Elísio Medrado, 
que dentro dos argumentos discutidos por autores como Milton Santos e Roberto Lobato 
Corrêa o espaço urbano deste município apresenta características de uma pequena cidade. 
 
 
2.2 PEQUENAS CIDADES: POR QUE ESTUDÁ-LAS? 
 
 
 Na década de 1970, com o êxodo rural, muitas pequenas cidades tiveram sua 
população em declívio, pois grande parte desses municípios tinham maior parte da população 
concentrada no campo. 
 
 Posteriormente, o declínio populacional no campo foi esvaziando, também 
os numerosos e pequenos núcleos urbanos sob o aspecto funcional, 
promovendo uma outra mobilidade oriunda das pequenas cidades 
 
25
 
 
 
estagnadas em direção, sobretudo, a centros maiores (ENDLICH, 2006, p. 
24). 
 
 Com isso, percebe-se que uma cidade por menor que seja, ela estará sempre 
articulada em uma rede hierárquica, onde a população está sempre em constante movimento 
buscando sempre melhores condições de vida. 
 É comum a presença de vários problemas nas grandes cidades brasileiras, 
aquelas que estão no topo da rede urbana, que no processo migratório regional são as mais 
procuradas, onde essa população que se desloca enfrenta problemas como: pobreza, violência, 
poluição, desemprego, entre outros. 
 No entanto, vale lembrar que as pequenas cidades apresentam outros tantos 
problemas como: falta de hospitais, universidades, transportes, entre outros. 
 Outro tipo de migrante responsável, em parte, pelo “crescimento demográfico 
dos centros urbanos intermediários compõem-se de fluxos humanos, hora procedentes de 
cidades maiores, constituindo um contingente em busca de tranqüilidade e qualidade de vida” 
(ENDLICH, 2006, p. 29). Esses são disputados, várias são as ofertas de serviços e habitação. 
Já o grupo procedente de pequenas cidades é rejeitado pela população local, pois não tem alto 
poder aquisitivo. Pelo contrário, necessitam de ajuda financeira do Estado para ter as mínimas 
condições de vida. Porém, é essa população rejeitada que vai suprir as necessidades de falta 
de mão-de-obra não especializada, como faxineira e serviços ligados a construção civil.
 Se por um lado essa população oriunda de pequenas cidades traz incômodo 
para a população urbana já estabelecida nos centros médios e grandes, é ela que compõe 
grande parte dos trabalhadores da construção civil, serviços gerais, entre outros. 
 Grande parte das pequenas cidades brasileiras tem a atividade agrícola 
formada por pequenas propriedades, tendo como mão-de-obra a própria família. Com a 
mecanização, principalmente na Região Sul, o pequeno produtor deixa de ter importância no 
cenário agrário brasileiro. Esse fenômeno causa a decadência dessas cidades, sendo que não 
possui outras atividades econômicas para incentivar os moradores a permanecerem no próprio 
município, tornando assim geradores de mão-de-obra não especializada para as médias e 
grandes cidades. 
 Como não existem centros educacionais como faculdades e universidades e 
mesmo cursos técnicos, essa populaçãodas pequenas cidades não tem condições mínimas de 
se especializarem em determinada área, restando apenas ficar no campo produzindo para 
vender seus produtos, a preços irrisórios, para atravessadores ou na feira livre do próprio 
 
26
 
 
 
município. Outra opção para essa população é migrar para centros urbanos maiores em busca 
de um serviço braçal. 
 Por isso 
não contemplar as pequenas cidades é esquecer uma parte da realidade 
urbana. Não se deixa apenas de estudar uma parte concreta da espacialidade 
brasileira, como também essa falta de estudo compromete uma 
compreensão mais ampla da rede urbana, até mesmo das questões tratadas 
num domínio dos centros urbanos maiores, bem como das possibilidades de 
intervenção (ENDLICH, 2006, p. 31). 
 
 
 Assim sendo, o município em estudo enfrenta os mesmos problemas de 
outros pequenos núcleos brasileiros, ou seja, a falta de infra-estrutura, emprego, entre outros. 
 
 
2.2.1 Breve Considerações Sobre a Urbanização Brasileira e Pequenas Cidades 
 
 
 Por volta do século XVI, o processo de urbanização teve início com as 
primeiras aglomerações próximo ao litoral, que tinha como principal função a ligação entre a 
Metrópole e a Colônia (ASSUNÇÃO; MELO; SOARES, 2010, p. 2). 
 No decorrer da história econômica da sociedade brasileira, novos 
povoamentos foram surgindo em outras áreas do território, impulsionando a urbanização de 
outras localidades. Mas vale lembrar que esses novos povoamentos surgiram, em grande 
parte, em decorrência de ciclos econômicos cujo objetivo esteve sempre voltado para o 
mercado externo. 
 Dentro desta sucessão de ciclos se destacam os engenhos de cana-de-açúcar, 
tendo como mão-de-obra o escravo que desencadearam vários povoados. Com a abolição da 
escravatura entraram em decadência. 
 É importante ressaltar que esses agentes sociais dominantes – os fazendeiros 
– tiveram importância considerável na formação de núcleos urbanos no período colonial. 
Como coloca Deffontaines (apud ASSUNÇÃO; MELO; SOARES, 2010, p. 3) 
 
pela iniciativa de um fazendeiro ou um grupo de fazendeiros vizinhos que 
faz doação do território, ele o constitui em patrimônio, patrimônio oferecido 
à igreja ou antes a um santo, ao qual será dedicado o novo núcleo e do qual 
ele levará o nome. 
 
 
27
 
 
 
 Esses patrimônios tiveram seu ponto de partida para se tornarem cidades com 
o passar dos anos. Além disso, destaca-se nesse período a formação de núcleos nos caminhos 
das tropas pela constituição de ponto de pouso que, com o passar do tempo, foram 
transformando-se em cidades. 
 Com o desenvolvimento industrial do século XX, o processo de urbanização 
tornou-se mais complexo, compondo-se de novos agentes, conteúdos e articulação de forma 
mais complexa. 
 A implantação das ferrovias e outros incrementos na infra-estrutura foram de 
grande importância para o desenvolvimento industrial e consequentemente à formação de 
muitas cidades, pois as mesmas possibilitavam uma maior articulação entre outros povoados 
ou cidades da região em que estas ferrovias interligavam. 
 Apesar de todo este dinamismo e surgimento de várias cidades no decorrer 
dos ciclos do “ouro, cana-de-açúcar, café, entre outros”, até meados do século XX, “o Brasil 
ainda contava com a maior parte de sua população residindo no meio rural” (ASSUNÇÃO; 
MELO; SOARES, 2010, p. 4). 
 Após a segunda metade do século XX, a população rural começou a deixar o 
campo e “as cidades, sobretudo, aquelas onde havia algum tipo de desenvolvimento industrial, 
passaram a crescer imensamente” (ASSUNÇÃO; MELO; SOARES, 2010, p. 4). 
 Esse crescimento trouxe, consequentemente, vários problemas sociais nas 
grandes e médias cidades e no outro extremo, encontram-se, em maior número, as pequenas 
cidades que estagnaram ou entraram em decadência. Elas estão inseridas 
 
[...] em graus menores na economia globalizada, atendendo as necessidades 
primárias da sua população, com ou sem crescimento demográfico; outras 
enfrentam sérios problemas para reter sua população, sobretudo, as pessoas 
jovens, e acabam tendo fortes dependências de transferência de verbas 
públicas (MELO apud ASSUNÇÃO; MELO; SOARES, 2010, p. 5). 
 
 
 Dentro desta perspectiva faz-se necessário o estudo sobre as pequenas 
cidades, para entender-se o processo da urbanização brasileira. 
 
 
 
 
 
 
28
 
 
 
2.2.2 Pequenas Cidades: Seu Papel na Rede Urbana 
 
 
Na discussão sobre pequena cidade e o seu papel na rede urbana brasileira, é 
preciso entender o que é considerado uma pequena cidade. Muitos autores usam 
denominações diferentes: Milton Santos (1982) usa o termo cidade local, já Corrêa (1989a) 
prefere chamar de pequeno núcleo. Por isso, alguns estudos sobre o conceito de pequena 
cidade podem variar. 
Segundo Ferreira (2010, p. 2), o IBGE estabelece como critério o número de 
habitantes, sendo que até 100 mil habitantes, pequena cidade, de 100 mil a 500 mil, cidade 
média, acima de 500 mil, cidade grande. 
Ainda segundo a autora (2010, p. 1), o IBGE diz que das 5.507 cidades 
brasileiras, 4.646 estavam na categoria pequena e tinham com menos de 100 mil habitantes. 
Com essa predominância, é importante que em um estudo se tenha a compreensão do papel 
das pequenas cidades, dentro da rede local, regional e até mesmo nacional. Percebe-se com 
esses dados do IBGE que no Brasil há cidades com idade, tamanho, contexto e formações 
diferentes. Porém a maioria é pequena cidade. 
Já os pequenos municípios brasileiros ocupam grandes extensões do 
território, embora não contenham grande proporção da população. “Quase sempre compõem 
áreas pouco densas, o que oferece condições para que constituam cidades confortáveis à vida 
das populações” (MOURA, 2009, p. 18). 
Segundo a contagem da população, feita pelo IBGE em 2007, dos 5.565 
municípios brasileiros, 78% têm menos que 25 mil habitantes, ocupando uma área de 59,9% e 
abriga apenas 22,3% da população (MOURA, 2009, p. 18). 
Sobre estes dados Moura (2009, p. 35) esclarece que 
 
 os dados analisados demonstraram que os pequenos municípios constituem 
uma parcela significativa do território nacional e estadual voltada à 
produção agropecuária, que abrigam elevado contingente da população, e 
que têm importante papel na inserção do País e do Estado na divisão social 
do trabalho. 
 
Mas para a pesquisadora é importante tomar alguns cuidados para não cair na 
generalização, pois o Brasil tem uma grande extensão territorial com formações culturais, 
econômicas e sociais distintas e uma cidade com poucos habitantes pode ter uma dinâmica 
maior que outra com mais habitantes. 
 
29
 
 
 
É claro que se uma cidade tem um bom dinamismo certamente atrairá mais 
habitantes. Como mostra Corrêa (1989a, p. 15) “[...] o tamanho das cidades aparece então 
como uma expressão do desenvolvimento”. Ou seja, segundo o autor, se uma cidade tem 
poucos habitantes é porque tem pouco desenvolvimento. Mas vale frisar que Elísio Medrado, 
cidade em estudo deste trabalho, se comparada com outra com o número de habitantes 
semelhante, localizada no Sul do Brasil, certamente as cidades do Sul têm um melhor 
desenvolvimento econômico e tecnológico. 
Milton Santos afirma que a pequena cidade é cidade local com “[...] 
aglomeração capaz de responder às necessidades vitais mínimas, reais ou criadas de toda uma 
população, função esta que implica uma vida de relações” (SANTOS, 1982, p. 71). 
Ainda refletindo sobre as pequenas cidades, (SANTOS, 1981, p. 15) afirma 
que “as estatísticas internacionais estabelecem um marco de 20.000 habitantes para esse tipo 
de cidade [...]”. “Só a partir de um certo estágio de desenvolvimento e dinamismo é que a 
cidade se define” (SANTOS, 1981, p. 15). Nesse contexto o autor deixa claro que além do 
número de habitantes é preciso compreender o dinamismo que a cidade tem dentro de uma 
rede urbana. 
Para Santos (1981, p. 15), 
 
 a cidadezinha constituia célula-máter que atende às necessidades de uma 
população; tais necessidades variam em função da densidade demográfica, 
das comunicações e da economia da região, bem como do comportamento 
sócio-econômico de seus habitantes. 
 
Porém, cada pequena cidade se constitui um caso específico, levando sempre 
em consideração sua função principal, seja na área de serviços, agricultura, pecuária, entre 
outros. 
Milton Santos (1982, p. 71) define as pequenas cidades como cidades locais 
que para ele “é a dimensão mínima a partir da qual as aglomerações deixam de servir às 
necessidades inadiáveis da população com verdadeira <<especialização do espaço>>”. Com 
isso, Milton Santos usa a denominação de cidade local, para não cair na classificação de 
pequena cidade que utilizam número populacional, e para ele seria “[...] incorrer no perigo de 
uma generalização perigosa”. (SANTOS, 1982, p. 69). 
Com isso, percebe-se que não há um consenso na definição de pequenas 
cidades, mas considerando os argumentos estudados, pode-se identificar como pequena 
cidade aquela que tem baixo estágio de desenvolvimento, com baixo dinamismo social, 
 
30
 
 
 
econômico e cultural. Geralmente essas cidades são pacatas, com alguns comércios e serviços 
locais capaz apenas de oferecer tão somente condições mínimas vitais para seus habitantes. 
Mas é importante ressaltar que, com a globalização, essas cidades pacatas 
estão deixando de existir, pois cada vez mais a poluição, violência, fome vão se alastrando 
nos pequenos núcleos urbanos do interior. 
Para Santos (1982, p. 74), “a cidade local facilita o acesso da população aos 
bens e serviços, embora isto se faça a um preço mais elevado que nos centros de nível 
superior”. Ela vai estar sempre na periferia da rede urbana, com isso os habitantes estarão 
sempre tendo problemas tanto como produtor, como consumidor, pois seus produtos são 
vendidos a preços irrisórios e os que não são produzidos no município são comercializados 
com altos preços. 
Corrêa (1989a, p. 59) afirma que “o atacadista coletor, da pequena cidade 
encravada em plena zona rural, tem uma margem de lucro ao vender a produção ao atacadista 
reexpedidor ou a uma usina de beneficiamento localizada em uma cidade regional.” Com isso, 
os produtores destas cidades vendem seus produtos para os intermediários, estes asseguram 
uma parte do lucro da produção e o produtor que tem as despesas para produzir, além da mão-
de-obra, não consegue um preço justo. Sendo assim, o lucro fica para os intermediários e 
industriais. Nessa cadeia de comercialização os pequenos núcleos pagam preços elevados 
pelos produtos industrializados e recebem preços baixos pelos produtos cultivados. 
Com isso “as cidades locais desempenham um importante papel junto às 
zonas de produção primária, às quais permitem um consumo mais próximo daquele do resto 
da população do país, provocando, como feedback, a expansão da economia urbana”. 
(SANTOS, 1982, p. 74). São as pequenas cidades que fazem articulação entre a população 
rural e as outras cidades mais desenvolvidas, permitindo o acesso desta população a outros 
bens e serviços, além da comercialização dos produtos do campo, mesmo conseguindo apenas 
preços irrisórios. 
A cidade, por menor que seja, desempenha um papel importante dentro de 
um espaço, mesmo que seja como consumidora ou criadora de mão-de-obra não especializada 
e até mesmo como produtora de alimento para consumo interno do país. Mesmo para toda 
cidade que tenha sua gênese num pequeno núcleo, que se estagnou, entrou em decadência ou 
evoluiu até tornar-se uma metrópole. Daí a importância de se entender a pequena cidade e 
reconstruir a sua história. 
Dentro desse contexto histórico é possível entender porque há cidades 
centenárias menos dinâmicas que outras com algumas décadas de emancipação, mas mesmo 
 
31
 
 
 
com pouco dinamismo, em alguns dias da semana a cidade passa a ser centro de encontro e 
comércio, como as feiras que acontecem semanalmente em muitas pequenas cidades. Como 
afirma Corrêa (1989a, p. 35), alguns “[...] núcleos de povoamento, pequenos, via de regra 
semi-rurais [...]” de uma a duas vezes por semana transformam-se em centros comerciais, mas 
os demais dias voltam a ser pacato com a maioria da população voltada para a atividade 
primária. 
 
 Nos dias de mercado o pequeno núcleo transforma-se em um centro de 
mercado. Vendedores dos mais variados produtos, artesões e prestadores de 
diversos serviços amanhecem no centro com suas mercadorias e 
instrumento de trabalho (CORRÊA, 1989a, p.35). 
 
 
Geralmente, essas pessoas, vendem seus produtos em várias cidades da 
região em dias alternados, outros vêm da zona rural, de onde vão ao comércio local vender 
seus produtos colhidos no campo e comprar outros bens que não produzem. Usa-se como 
meio de transporte animais como cavalo, burro, carroça ou transporte público como caminhão 
ou ônibus. Nesses centros de comércio das pequenas cidades “são ainda os dias em que as 
pessoas se encontram, sabem das novidades e vários eventos sociais, culturais e políticos se 
realizam” (CORRÊA, 1989a, p. 35). “[...] Mesmo pequenos núcleos organizam-se para a 
vivência coletiva e, ao seu modo, para a política e para a cidadania.” (MOURA, 2009, p. 17). 
Vale lembrar que, embora os pequenos municípios estejam em nível de 
subordinação, não significa que estão à margem desse processo hierárquico. Mas “os 
pequenos municípios têm uma dinâmica de crescimento bastante reduzida” (MOURA, 2009, 
p. 22). Muitos deles perdem população e não atraem novos moradores pela falta de atrativos. 
Somando a essa estagnação dos pequenos municípios, ocorreu “o processo de 
desmembramento de novos pequenos municípios” (MOURA, 2009, p. 24). 
Porém, característica comum nas pequenas cidades é ser receptora de 
indústrias rejeitadas nas cidades maiores. Como coloca Corrêa (1989a, p. 65) “as pequenas 
cidades, e às vezes o próprio campo, transformam-se em locais de implantações de indústrias 
poluentes que não podem, por força de interesses urbanos, permanecer na grande cidade”. 
Essas empresas se localizam em lugares pequenos e não desenvolvidos devido a pouca 
fiscalização das leis ambientais, além de encontrar mão-de-obra barata, o que constitui mais 
lucro para essas empresas. 
Partindo do ponto de vista de que toda cidade nasce pequena e que, qualquer 
que seja o núcleo urbano ela estará sempre interligada a uma rede urbana no mundo 
 
32
 
 
 
globalizado, vale lembrar que “aos pequenos municípios é fundamental o apoio e 
fortalecimento das atividades existentes, como também o adensamento das cadeias 
produtivas” (MOURA, 2009, p. 36). Com isso, percebe-se a necessidade cada vez maior de 
planejamento voltado para esses pequenos núcleos. 
Alves et al (2008, p. 2) argumenta que 
 
 mesmo diante da grande importância do planejamento urbano nas pequenas 
cidades, verifica-se que há uma maior dificuldade em realizar medidas 
públicas de organização do espaço, isso devido à falta de obrigatoriedade 
desse mecanismo para municípios com população inferior a 20 mil 
habitantes. 
 
Aliado a essa não obrigatoriedade está à falta de comprometimento dos 
políticos locais que, muitos deles têm baixa escolaridade, dificultando dessa forma a 
contratação de uma equipe preparada para fazer um bom planejamento urbano voltado à área 
ambiental e social, oferecendo uma melhor qualidade de vida aos seus habitantes. 
Com isso, é preciso entender que “a urbanização como processo, e a cidade, 
forma concretizada desse processo, marcam tão profundamente a civilização contemporânea, 
que é muitas vezes difícil pensar que em algum período da História as cidades não existiam, 
ou tiveram um papel insignificante” (SPOSITO, 1989, p. 11). 
Para entender a cidade pequena, sua organização espacial, é preciso voltar a 
origem do povoamento, descobrindo sua gênese, ainda que de forma sintética. 
Desta forma,o espaço concretizado em cidade é história e 
 
 [...] nesta perspectiva, a cidade de hoje, é o resultado cumulativo de todas 
as outras cidades de antes, transformadas destruídas, reconstruídas, enfim 
produzidas pelas transformações sociais ocorridas através dos tempos, 
engendradas pelas relações que promovem estas transformações (SPOSITO, 
1989, p. 11). 
 
Dessa forma, no decorrer desse trabalho serão descritos e analisados todos os 
acontecimentos julgados importantes, ocorridos no decorrer da história do município em 
estudo, para a partir daí compreender a dinâmica atual do município. Vale lembrar que como 
o município tem sua base rural é preferível estudar o município como um todo não separando 
o rural do urbano, pois “[...] a delimitação do urbano de muitos municípios é apenas uma lei 
que identifica um núcleo em um território ainda preso à base produtiva e ao modo de vida 
rural” (MOURA, 2009, p. 16). Sendo assim, “ toda a nossa história é a história de um povo 
agrícola, é a história de uma sociedade de lavradores e pastores. É no campo que se forma a 
 
33
 
 
 
nossa raça e se elaboram as forças íntimas de nossa civilização” (OLIVEIRA VIANNA apud 
SANTOS, 2008a, p.19). 
 
34
 
 
 
3 A HISTÓRIA DE ELÍSIO MEDRADO 
 
 
Esta reconstrução histórica é necessária dentro deste trabalho, pois através 
dela é possível compreender os signos existentes na espacialidade do município, signos que 
trazem um significado histórico e cultural de um passado mais remoto. É através da 
compreensão da história, que se torna possível compreender muitos fatos presentes na 
atualidade. Como argumenta Lins (2007, p. 34), que “[...] em uma perspectiva regional é 
necessário uma reconstrução histórica para entender traços do momento atual”. 
Oficialmente, a gênese de Elísio Medrado ocorre no início do século XX, nos 
primeiros anos de 1900, quando a cidade era chamada de Paraíso. No entanto, antes desse 
fato, já havia uma ocupação desse espaço. Primeiro por indígenas, depois no período da 
colonização no século XVI, por intermédio dos bandeirantes que penetravam à região. O mais 
conhecido foi Gabriel Soares, que construira “[...] uma fortaleza para se proteger dos ferozes 
índios Cariris e Sabujás que povoaram o território e para armazenar mantimentos, armas e 
munições” (ELÍSIO MEDRADO, [2009?], p. 22). 
Foi ainda no Brasil colonial que surgiu o primeiro povoado dentro do 
domínio do atual município de Elísio Medrado: onde hoje é o atual distrito do município 
denominado de Monte Cruzeiro (figura 1a), outrora foi chamado de Jibóia, chegando por duas 
vezes ser sede de município. Outro povoado que surgiu antes do povoado Paraíso foi São 
Francisco do Cajueiro (figura 1a), posteriormente Acaju e atualmente povoado de Souza 
Peixoto, este teve seu início do povoamento nas imediações da estação ferroviária da 
localidade. E, no início do século XX, formou-se outro povoado denominado de Paraíso 
(figura 1a), que hoje é a sede do município. 
 
35
 
 
 
 
Figura 1a: Mapa com a localização dos povoados do município de Elísio Medrado. 
Fonte: IBGE (2009, p. 1). 
Adaptação: Eduardo de Oliveira, 2010. 
 
 
3.1 SURGIMENTO DO POVOADO DE MONTE CRUZEIRO 
 
 
 Fazer uma contextualização histórica do município em estudo faz-se 
necessário nessa abordagem sobre a dinâmica funcional, visto que é através de vários 
períodos da história que o espaço geográfico vai se concretizando e se transformando. 
 
 Por isso, o momento passado está morto como ‘tempo’, não porém como 
‘espaço’; o momento passado já não é nem voltará a ser, mas sua objetivação 
não equivale totalmente ao passado, uma vez que está sempre aqui e participa 
da vida atual como forma indispensável à realização social” (SANTOS, 1986, 
p. 10). 
 
 Sendo assim, o tempo passado se foi, mas o espaço concretizado no passado 
continua no presente, cristalizado como objeto geográfico indispensável para o geógrafo 
entender o espaço atual. 
 Elísio Medrado foi emancipado em 20 de julho de 1962, desmembrando-se 
de Santa Terezinha, com isso aparentemente é um núcleo recente, mas a sua gênese histórica é 
 
36
 
 
 
bem mais antiga. A cidade fica a 224 km de Salvador. Essa distância da capital baiana 
demonstra que não fica tão distante dos primeiros núcleos fundados pelos portugueses. Esse 
fato facilitou a penetração dos aventureiros pelo interior, chegando às terras onde hoje fica o 
município de Elísio Medrado. 
 A região era inicialmente habitada por indígenas Cariris e Sabujás, mas 
aventureiros bandeirantes, chefiados por Gabriel Soares de Souza, penetraram na região na 
segunda metade do século XVI com o objetivo de “[...] construir uma fortaleza na região para 
se proteger dos índios Cariris e Sabujás e para armazenar mantimentos e munições” 
(PEDREIRA apud SANTOS, 2003, p. 12). “O seu objetivo era localizar as minas descobertas 
por seu irmão de nome João, que lhe deixara roteiro delas” (SANTA TEREZINHA, 1958, p. 
291). A fortaleza plantada por Gabriel Soares de Souza “[...] foi nas imediações da localidade 
de Pedra Branca” (SAMPAIO, [200-], p. 2). Vale lembrar que Pedra Branca é um povoado 
pertencente ao município de Santa Terezinha que faz limite ao atual município de Elísio 
Medrado. Pela proximidade da região pode-se concluir que Gabriel Soares de Souza e sua 
bandeira foram os primeiros brancos a pisarem na região. 
 Com o crescimento populacional no Recôncavo Baiano surgiram muitos 
problemas, entre eles lutas com os indígenas, assassinatos e roubos. O rei de Portugal 
autorizou o Governador da província, Dom João de Lencastro que criasse vilas e povoados 
para que houvesse justiça para atender a população. Uma das vilas criadas foi a de Vila de 
Nossa Senhora do Rosário do Porto da Cachoeira fundada em 1698, “[...] que tinha por termo 
uma grande área que ia do Rio Subaúna ao Rio Inhambupe, cortando direto pela praia e daí 
até intestar com o Rio Real. Nessa área surgiu, 3 séculos e meio depois, o município de Elísio 
Medrado” (SAMPAIO, [200-], p. 2 ). 
 Evidências mostram que o atual município de Elísio Medrado começou a ser 
povoado pelo lado norte, onde fica o atual município de Santa Terezinha. Sendo que ao leste 
estende-se a Serra do Guariru, hoje conhecida por Serra da Jibóia. Ali habitavam os povos 
indígenas que, segundo a literatura pesquisada, entraram em vários confrontos com os 
colonizadores dificultando a penetração em direção a Serra do Guariru. Como afirma Sampaio 
([200-], p. 3), “a paz em que viviam foi interrompida quando a civilização foi adentrando, 
quando os colonos, já no primeiro século da colonização, sonhando com a existência de minas 
de ouro e de prata [...]”. Com isso, o leito do Rio Paraguaçu foi seguido para que os 
aventureiros alcançassem o sertão, evitando as densas matas da Serra do Guariru (atual serra 
da Jibóia). 
 
37
 
 
 
 Nessa região houveram diversas lutas entre colonos e indígenas, o rei de 
Portugal buscou solucionar o problema e os tranquilizar colocando os jesuítas para catequizar 
os indígenas da região. No ano de 1667 chega o primeiro jesuíta para assumir a missão e “o 
local escolhido para a implantação do Aldeamento foi o sopé da Serra do Guariru, local fértil, 
ameno, e onde, na ocasião se concentrava maior número de Índios que ali buscavam refúgio” 
(SAMPAIO, [200-], p. 5). Nesse aldeamento foram construídas igreja, escola, casas para os 
indígenas, para os padres, para o juiz de paz-diretor, para o comandante da guarda e para toda 
a tropa. 
 Com essas informações é possível afirmar que o município de Elísio 
Medrado teve seu primeiro povoado com base nas missões religiosas e o local escolhido está 
nas proximidades do atual distrito de Elísio Medrado chamado de Monte Cruzeiro. “A apenas 
alguns quilômetros de Pedra Branca, bem ao pé da Serra, encontravam-se duas aldeias, a de 
Caranguejo e a da Jibóia também aos cuidados dos educadores” (SAMPAIO, [200-], p. 5).Jibóia foi o povoado que deu origem ao atual distrito de Monte Cruzeiro. 
 Esses indígenas catequizados por jesuítas tornaram-se úteis ao ponto de servir 
como guarnecedores de estradas, além dos “fazendeiros e autoridades da região exploravam a 
mão-de-obra barata dos índios” (SAMPAIO, [200-], p. 5). 
 Os jesuítas não aceitavam esse tipo de exploração feita aos povos indígenas e 
“os governantes passaram a perseguir os Jesuítas. A luta passa também a seguir nas 
povoações de Jibóia e Caranguejo” (SAMPAIO, [200-], p. 6). A partir de 1720 suas terras 
passaram a ser invadidas pelos colonos que buscavam cultivar cana-de-açúcar, fumo e criar 
gado e com a formação religiosa dos indígenas aos poucos eles foram ingressando na cultura 
dos colonos. 
 Com a chegada dos negros para trabalhar na lavoura de cana-de-açúcar, a 
região foi sendo ocupada cada vez mais por fazendeiros que buscavam fixar-se nas terras 
férteis. Com os castigos severos dos fazendeiros muitos negros fugiram para o Aldeamento 
localizado ao pé da Serra da Jibóia. “A tradição revela ter havido na região conhecida por 
Palmeira, a pequena distância de Pedra Branca, um Quilombo, no futuro município de Elísio 
Medrado” (SAMPAIO, [200-], p. 7). Com isso no século XIX quase toda população da região 
de Monte Cruzeiro já era descendente de escravos ou indígenas. 
 Nas imediações de Monte Cruzeiro, Distrito de Elísio Medrado, encontra-se a 
fazenda Estiva (figura 2) pertencendo atualmente ao proprietário Kamal Elílio Chaoul. Nela 
há evidências de escravidão no passado. Relatos de moradores da localidade e netos de 
 
38
 
 
 
escravos afirmam que seus antepassados trabalhavam na fazenda e eram castigados 
severamente, muitos chegavam a ser mortos e sepultados no fundo da fazenda. 
 
 
 
Figura 2: Fazenda Estiva. 
Autor: Eduardo de Oliveira, 2010. 
 
 
 O povoado de Jibóia, que atualmente pertence ao município de Elísio 
Medrado, conhecido atualmente como Monte Cruzeiro, devido ao seu desenvolvimento, no 
dia 17 de janeiro de 1834 passou a ser sede municipal, porém “Jibóia teve vida efêmera, pois 
através da Lei Provincial nº 07 de 02 de Maio de 1835, foi extinto, passando a ser anexado ao 
de Cachoeira” (SAMPAIO, [200-], p. 19). Porém continuava como Freguesia, que era “a 
principal divisão eclesiástica e abrangia várias Capelas, além do Vigário, várias autoridades 
constituídas, sendo a mais destacada o Juiz de Paz” (SAMPAIO, [200-], p. 20). 
 Este povoado que pertence ao atual município de Elísio Medrado, em 03 de 
agosto de 1892 passou a ser sede do município de Tapera. No dia 05 de abril de 1893 ocorre a 
solenidade onde é “[...] empossado como seu Intendente o Cel. Ápio Vaz Medrado” 
(SAMPAIO, [200-], p. 37). A partir desta data a povoação que antes era chamada de Jibóia, 
passa a ser a sede do município de Tapera e em 1º de agosto de 1899 através da Lei estadual 
nº 321 passa a ser intitulado de Monte Cruzeiro. 
 No ano de 1908 a freguesia de Monte Cruzeiro já se destacava entre as mais 
importantes do estado. Mas desde a data em que Tapera deixou de ser sede do município 
proporcionou fortes revoltas dos líderes políticos da povoação. “Não mais suportando a 
 
39
 
 
 
humilhação, os líderes de Tapera lutam por retornar a sede para a sua povoação” (SAMPAIO, 
[200-], p. 42). Esses líderes políticos marcaram um encontro com Macionílio Souza, que era 
famoso líder político e chefe de jagunços no sertão da Bahia. 
No dia 02 de fevereiro de 1920, o Pe. Gustavo Adolfo Marinho das Neves, 
que era Presidente da Câmara de Monte Cruzeiro, além de ser senador do Estado, e dominava 
a política do município, celebrava a festa de Nossa Senhora de Brotas de Milagres, quando o 
povoado de Milagres é cercado pela tropa de jagunços sob o comando de Macionílio Souza 
(SAMPAIO, [200-], p. 43). “Macionílio se dirige ao Padre e lhe apresenta documento através 
do qual a sede do município deixará de ser Monte Cruzeiro (Jibóia), passando para o povoado 
de Tapera” (SAMPAIO, [200-], p. 43). 
Temendo sofrer violência por parte do chefe dos jagunços o padre não teve 
alternativa e assinou o documento. Com isso, no dia 29 de julho de 1921, Tapera passou a ser 
novamente sede do município. 
No Diário Oficial do Estado da Bahia, do ano de 1923 (apud SAMPAIO, 
[200-], p. 46), o município de Monte Cruzeiro é descrito como 
 [...] Município, na sua maior extensão territorial, possuidor de um clima 
salubérrimo, cuja sede é a Vila de Tapera, admirável sanatório, onde rara e 
perfunctoriamente se registra um óbito, está situada entre os municípios de 
Amargosa, São Miguel e Castro Alves. Sua área se aproxima de 108 
quilômetros de extensão, cujo terreno adapta-se, com ótimos resultados, à 
agricultura e à pecuária . 
 
 
 Completa ainda que o município de Monte Cruzeiro, no ano de 1923, tinha 
cerca de 350 fazendas que se dedicavam à pecuária com a criação de gado bovino, suíno, 
caprino, ovino e eqüino, além da prática da agricultura que era destinada à cultura do fumo, 
mandioca, café, aipim, milho, feijão e cana-de-açúcar. 
 
A exportação de café, fumo em folha e em rolo, cereais, gado em geral, 
peles, couros, etc., é considerável. Existem vários curtumes e salgadeiras, 
aparelhos modernos para descascar café, destiladores, engenhocas para o 
fabrico de açúcar e raspadura, etc (O DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO 
DA BAHIA apud SAMPAIO, [200-], p. 46). 
 
 Com essas informações percebe-se que o município de Monte Cruzeiro era 
dominado por um poder religioso, porém o poder político sobressaia na tomada de decisões 
do município, beneficiando sempre um grupo de interessados, geralmente quem tinha maior 
poder aquisitivo. Nas entrevistas com os moradores do atual povoado de Monte Cruzeiro, hoje 
 
40
 
 
 
pertencente ao município de Elísio Medrado, os entrevistados comentaram se lembrar quando 
a vila era sede de município com prefeitura, escolas e cartório funcionando na localidade. 
 Hoje o povoado possui construções antigas, do início do século XX, e atuais 
(figuras 3 a 6) pequenos proprietários de terra, que cultivam principalmente a uva (figura 7) e 
alguns produzem vinhos de forma artesanal (figuras 8 e 9). 
 
 
 
Figuras 3 e 4: Casas antigas e novas - lado à lado. 
Autor: Eduardo de Oliveira, 2010. 
 
 
 
Figuras 5 e 6: Casas antigas e novas – lado à lado. 
Autor: Eduardo de Oliveira, 20010. 
 
 
 
41
 
 
 
 
Figura 7: Plantação de uva. 
Autor: Eduardo de Oliveira, 2010. 
 
 
 
Figuras 8 e 9: Produção artesanal de vinho. 
Autor: Eduardo de Oliveira, 2010. 
 
 
No povoado ainda se encontra uma antiga igreja do século XIX (figuras 10 a 
14), que segundo moradores foi tombada pelo Patrimônio Histórico da Bahia. É uma obra 
bem rudimentar, nas paredes foram usadas adobes2 na sua construção e se encontra bem 
deteriorada devido a má conservação. Percebe-se que ali se concentrava o poder religioso da 
região no século XIX. Moradores mais antigos relatam que havia várias fazendas com 
 
2 Espécie de tijolos usados nas construções antigas da região, feito manualmente com barro amassado e depois 
exposto ao sol para secar. 
 
42
 
 
 
engenho de cana-de-açúcar na região. Porém, muitas delas foram demolidas pelos atuais 
donos, restando apenas a fazenda Estiva situada nas proximidades do povoado. 
Nos levantamentos de campo, feitos através de observações nas construções, 
entrevistas, conclui-se que esse povoado pertencente ao atual município de Elísio Medrado é 
o mais antigo do município, sendo possível afirmar que a região foi colonizada pelo lado 
norte do município, onde predominavam as grandes fazendas com o cultivo da cana-de-açúcar 
e engenhos tendo como mão-de-obra a escravatura de negros e índios. 
Já na primeira metade do século XX predominavam as fazendas de café na 
região. Atualmente, com a decadência dessas fazendas, predominam os pequenos produtores 
que em grande parte

Continue navegando